A tutora -- Penúltimo capítulo
Amanda Dervelux fora levada ao hospital.
Ocorrera uma verdadeira luta para trazê-la de volta. A persistência da equipe médica fora de suma importância, mas nada se comparava a luta travada por Alice, a jovem em nenhum momento desistiu ou permitiu que tudo terminasse assim. Seu imenso amor e sua fé foram os combustíveis fundamentais naquela batalha pela vida.
A pupila sentou ao lado da cama da esposa. Há uma semana ela estava naquele hospital.
Passara por uma complicada cirurgia para retirada do projétil que se instalara muito próximo ao coração. Uma hemorragia interna por pouco não lhe tirara todas as chances de sobrevivência. Mas tudo fora controlado, só faltava que a tutora abrisse os olhos.
Segurou-lhe a mão.
Apesar de pálida, continuava muito linda. A mais bela de todas.
Como desejava ver aquele olhar intenso, tantas vezes irônicos, outras tão apaixonado voltados para si novamente.
Os médicos diziam que tudo agora dependia da arquiteta. E que poderia acordar a qualquer momento ou em muitos anos.
Isso não importava para a pupila, ela esperaria por toda eternidade pela amada. Jonh estava morto.
Nunca desejara nada de mau para ele, porém quando pensava que ele quase tirara a vida da mulher que amava, isso lhe causava uma mágoa intensa e desejava libertar-se daquilo. Sabia que aquele sentimento não lhe faria nenhum bem.
-- Está na hora de você acordar, meu amor. – Beijou-lhe os dedos. – Depois de amanhã é o meu aniversário. Logo, logo, oficialmente, não serei mais sua pupila. – Riu. – Fico pensando no peso que fui na sua vida, sei que não gostou de ser a babá de uma pirralha. Quem diria que viverı́amos em guerra por tanto tempo? Quem poderia imaginar que acabarı́amos casadas. – Fechou os olhos. – Quem imaginaria que um amor tão intenso nasceria entre nós?
Ouviu o bip do celular. Lara!
Não fez nenhuma denúncia contra ela.
O antigo amor da esposa erra muito, mas talvez merecesse uma nova chance. Ela fora vı́tima das próprias ações, no final tentara ajudar. Amanda arriscara a vida para salvá-la. Quase morrera por isso, então ela não iria agir de forma diferente. Não iria contra a decisão que fora tomada uma semana antes.
Observou os inúmeros equipamentos que estavam ligados ao corpo da tutora. Ela ainda necessitava deles, precisava que para respirar, precisava porque seu coração ainda estava fraco para seguir sozinho.
Amanda abriu lentamente os olhos.
Tentou focar seu olhar, mas a luz lhe feria a visão. Fechou várias vezes e em seguida os abriu novamente. Nesse momento sente uma emoção intensa quando, o consegue decifrar a pessoa que está dormindo na cadeira, com a cabeça sobre a cama.
Alice!
Lágrimas começaram a se formar, mas não eram de dor e sim de felicidade por dar-se conta que continuava viva. E não havia visão mais perfeita do que a da esposa dormindo tão inocentemente.
Tentou mover a mão e sentiu-a rı́gida, precisou de um esforço maior para realizar o ato. Lentamente, tocou-lhe as madeixas ruivas.
A pupila sentiu os carinhos e pensou que estava sonhando, mas ao levantar a cabeça deparou-se com os mais belos olhos que já viu na sua vida.
Ambas se olharam, era como se nada mais importasse no mundo. Era como se tudo a partir daquele momento deixasse de existir, a única coisa que importava era elas.
-- Meu amor. – Alice pronunciou, após abraça-la. A arquiteta gemeu e a jovem afastou-se.
-- Desculpe! Te machuquei? – Indagou emocionada.
-- Não!
Amanda precisou se esforçar mais para pronunciar aquela palavra.
-- Vou chamar o médico. Ele precisa te examinar. – Falou sorrindo. A arquiteta segurou-lhe a mão.
-- Te amo. – Sussurrou.
-- Eu te amo muito mais, minha tutora. – Tocou os lábios delicadamente com um selinho.
Apertou o comunicador e em poucos segundos o quarto estava cheio de especialistas. Todos felizes por presenciarem o retorno daquela bela mulher a vida.
Alice protestou quando a pediram para sair um pouco, mas acatou a ordem. Teria muito tempo para ficar com a
esposa.
Os médicos começaram um exame minucioso com a paciente. Precisavam checar todos os sinais vitais, os reflexos, precisavam constatar que não havia tido nenhuma sequela.
A arquiteta observava a equipe trabalhando e mais uma vez sentiu sono. Queria se manter acordada, mas se sentia muito cansada.
Passava da meia noite quando o médico foi falar com Alice.
-- E então, doutor? – Indagou a jovem, ansiosa.
-- Tenho ótimas notı́cias.
O médico era um senhor de meia idade, ele fora o responsável por todo processo de recuperação da jovem Dervelux.
-- Nossa paciente já está de volta a vida. Está um pouco fraca, mas posso dizer que não corre nenhum risco de morte. – Sorriu. – Os aparelhos já foram desconectados, ela não necessita mais deles.
-- Isso é maravilhoso. – Falou emocionada, com lágrimas nos olhos. – Posso vê-la?
-- Sim, mas ela voltou a dormir. Está cansada. Fique com sua esposa, ela vai adorar acordar e te ver. A pupila abraçou o homem e voltou para o quarto.
Alice voltou a sentar ao lado da cama. Pegou o celular e ligou para Ricardo, para a governanta e também para Lara.
Sabia que eles precisavam receber essa boa notı́cia, afinal todos sofreram com toda essa situação.
Lembrou de Pietra, ela estivera no hospital durante três dias. Desejava ver a ex-amante, até mesmo acusara Alice de ser culpada por toda aquela situação. Jogara na cara da jovem que nada disso teria acontecido se ela não tivesse voltado e usado todos os meios para conquistar a arquiteta.
Respirou fundo!
Mandou uma mensagem para a jornalista também.
No dia seguinte, Maria e Ricardo praticamente madrugaram pelo hospital.
Ambos queriam poder ver a jovem, mas não seria possível porque ainda era muito cedo para liberar as visitas.
Alice observou o momento exato em que as pálpebras tremeram e lentamente os lindos olhos foram se abrindo. A menina sorriu e a esposa retribuiu o gesto de forma singela.
-- Pensei ter sonhado com um anjo ruivo. – Estendeu a mão e tocou a da esposa. – Parece que faz uma eternidade que não te vejo.
-- Senti o mesmo. – Tocou-lhe a face. – Cheguei a pensar que não veria mais esse olhar.
-- Você acha que depois de tudo que passamos e logo agora que estávamos nos entendendo, eu te deixaria? – Piscou sedutora.
A pupila riu.
-- Realmente! Seria muita burrice sua, levando em conta que sou especialista em te fazer umas coisinhas bem gostosas. – Gracejou.
Ambas riram.
-- Hun! Que atrativo isso. – Segurou-a pela nuca e aproximou de si.
-- Não acredito que já está nessa safadeza!
Maria entrou, deixando Alice corada e arrancando risos de Amanda.
A governanta abraçou e beijou a patroa. Estava muito emocionada. Pensara que não a veria mais com vida, rezara tanto para que sua menina sobrevivesse.
A tutora gemeu e Maria a soltou.
-- Você vai me quebrar, mulher.
-- Não faça gracinhas, você deveria levar uma boa lição, uns puxões de orelha. Ninguém te mandou atravessar em frente a uma bala. – Reclamou colocando as mãos nos quadris. – Está achando que é o super-homem é?
-- Foi puro instinto!
-- Sei! E você. – Encarou Alice. – Deveria dar uma bronca nessa mocinha, afinal você quase ficou viúva porque a poderosa Dervelux decidiu proteger a vida daquela safada da Lara.
-- Maria, você não deveria dizer que me ama, que está muito feliz por eu ter voltado da morte, ao invés de ficar jogando minha linda esposa contra mim?
Todos riram!
Parecia que toda a aflição dos últimos dias tinha passado. O medo que se apossara de todos, agora era substituído pela esperança de dias melhores.
As visitas foram embora, agora só as duas estavam no quarto.
Amanda fora praticamente obrigada a se alimentar, Alice não permitiu que a esposa deixasse um único grão no prato.
-- Você, quer me engordar é?
A pupila deu de ombros e foi colocar o prato no carrinho.
A enfermeira veio ainda pouco e levara a tutora para tomar banho, ela não podia fazer esforços devido ao ferimento
-- Pronto, amor. – Sentou ao lado da cama. – O que quer fazer agora?
-- Eu adoraria que você tirasse toda a roupa e deixasse que me deliciasse nessa sua pele.
Alice desviou o olhar. Sentira tanta saudade daquela cara de safada, daquele jeito sedutor. Mas não podia nem cogitar a possibilidade daquele pedido acontecer, estavam num hospital e a esposa não poderia fazer movimentos bruscos.
-- Amanda, por favor.
-- E qual é o problema? – Levou a mão da pupila aos lábios. – Não preciso negar a ninguém que além de te amar loucamente, também tenho um desejo insano por ti.
A jovem não resistiu e tocou-lhe os lábios com os seus.
De inı́cio fora um toque sublime, os lábios pareciam desejar ficar colados para sempre. Aos poucos, a arquiteta foi aprofundando o contato, tocando-a com sua lı́ngua ávida por aquele carinho.
Alice sentiu as mãos da esposa buscando um maior contato entre os corpos, porém a pupila afastou-se.
-- Não!
-- Por que? Não estava fazendo nada de mal.
-- Sei!
-- Amor que dia é hoje?
-- Bem, amanhã é o dia da minha independência. – Sorriu.
-- Seu aniversário?
Alice apenas assentiu.
-- Eu preciso sair dessa cama, preciso resolver inúmeras coisas. – Falou desesperada.
-- Você, não vai a lugar nenhum.
-- Mas, Alice, preciso...
A pupila a calou com um intenso beijo.
Amanda estava encostada na cabeceira. Conseguiu induzir a jovem a sentar na cama, ao seu lado. Agora não precisava fazer tanto esforço.
Alice usava um vestido florido.
A tutora aproveitou que a mulher parecia embriagada com aquele beijo e baixou as alças do vestido.
-- Nunca vi seios tão lindo. – Tocou-os com as mãos.
Passou os dedos por toda aquela extensão, circulando os mamilos, apertando-os.
-- Não podemos. – Falou relutante.
-- Prometo não fazer nada que me prejudique.
-- Mas pode chegar alguém...
-- Fecha a porta e assim ninguém virá nos incomodar. Alice sorriu.
Ouviram batidas na porta.
A pupila ajeitou a roupa e desceu da cama.
Lara estava ali, havia chegado o momento de se reconciliar com o passado e construir uma nova história.
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