A tutora -- Capítulo 23

Amanda conseguiu livrar-se do detetive da polícia, tinha inventado que a esposa já tinha aparecido, que na verdade fora fazer uma viagem urgente e não teve tempo de avisar a ninguém.
-- Isso é uma loucura. – Ricardo protestava. – Não entende que estará arriscando a vida de Alice e a sua também. Deixe que a polícia assuma as investigações, eles têm competência para isso.
-- Não vou arriscar a vida da mulher que amo.
O advogado não sabia mais o que fazer. Ele não estava de acordo com os planos da arquiteta. Temia pela segurança dela, sabia muito bem o risco que a jovem estava correndo. Mas como convencê-la disso? Sabia que Amanda estava loucamente apaixonada pela pupila e logo agora que tudo tinha se resolvido entre elas acontece algo assim. Se sentia culpado por não ter prestado atenção ao tal do Jhon, porém, não imaginava que o ex- namorado de Alice pudesse tomar atitudes tão drásticas. Na verdade, eram apenas cogitações de tutora, não tinham provas do envolvimento do mesmo. Afinal, poderia ser outra pessoa, sequestros são frequentes, ainda mais sabendo da riqueza que as jovens possuem.
O celular do advogado tocou.
O senhor atendeu e ficou em silêncio durante alguns segundos.
-- Ok! Estou indo.
A arquiteta estava usando o computador, estava fazendo transferências bancárias.
Estava disposta a pagar o que fosse para ter a esposa de volta.
-- Marco Assunção já está com nossos homens.
-- Onde?
-- Acho melhor deixarmos isso para nossos profissionais.
Ricardo temia, sabia que a arquiteta estava descontrolada, tinha medo do que ela poderia fazer com o homem.
-- Onde? – Gritou.
-- No antigo depósito de construção.
Amanda nem titubeou, pegou as chaves do carro e seguiu em busca de respostas. Ricardo teve que correr para alcançar a jovem.

-- Já disse que não sei de nada.
O pai de Jhon estava amarrado a uma cadeira. Fora encontrado no aeroporto, estava com passagem comprada para outro estado.
-- Diga onde está o seu filho. Marco continuou calado.
Sabia que cedo ou tarde seria libertado, aqueles homens não iriam mata-los. Sabia que seria questão de tempo livrar-se daquele problema. Era um bom ator, os convenceriam facilmente.

Não apoiara a ideia idiota do filho de sequestrar Alice, fora informado dos passos do moleque e ainda tentara dissuadi-lo daquele ato insano, mas fora inútil. Pedira que ele tivesse paciência, cedo ou tarde conseguiriam tirar uma boa grana da garota, mas o idiota agira por instinto e agora estavam com aquele problema. Porém, ele já estava decidido, iria se livrar daqueles homens, logo, logo eles se cansariam e assim o deixariam ir e nesse momento ele seguiria para bem longe, não queria se envolver naquela loucura.
A porta do depósito abriu.
Marco mirou a bela mulher que entrava no recinto. Ela ostentava segurança no andar, aquele porte de rainha, o nariz arrebitado.
Amanda Dervelux era a imagem de uma vingadora, a roupa preta, composta de calça justa, bota cano alto, camiseta lhe davam essa imagem sensual. Os longos cabelos estavam soltos, contrastava com a pele branca, os olhos azuis estavam mais escuros do que de costume.
-- Onde está o miserável do seu filho?
Parou próxima a ele e indagou entre os dentes.
-- Já disse aos seus capangas que não sei, agora mande eles me soltarem ou entrarei com um processo contra a senhora. —Falou autoritário.
A arquiteta sorriu. Tirou a pistola da cintura para a cabeça do homem.
-- Eu não tenho medo das suas ameaças. – O encarou. – Acredite, não estou com paciência para os seus jogos. Sinto um desejo, quase animal, de disparar contra você.
O homem riu debochado.
Amanda acompanhou o sorriso e atirou.
Ela sabia o que fazia, a bala passou raspando pela coxa dele. Marco começou a gritar, chorava, soluçava implorando piedade. Ricardo tentou intervir, mas o olhar da tutora o impedira.
-- Poupe-me do seu showzinho. – Apontou a arma para a cabeça do homem. – Ou você me diz o que desejo saber, ou vou te encher de furos. Creio que vai ser muito doloroso.
-- Você será presa. – Marco falou entre soluços.
-- E você acha que eu me importo? – Arqueou a sobrancelha em desafio.
O pai de Jhon encarou aqueles olhos felinos em busca de clemência, deveria ter algo ali que pudesse o fazer crer que ela estava blefando.
Baixou os olhos.
O que vera naquele imenso oceano fora uma frieza e uma fúria desconhecida, ela, decerto, o mataria se não recebesse o que desejava.


Já era madrugada.
Lara não conseguira dormir naquele colchão. Jhon ressonava alto. Parecia estar muito tranquilo com tudo o que estava acontecendo.

A jovem pensara muito e decidira que não iria levar esse plano a frente. Assim que o rapaz saísse no dia seguinte para entrar em contato com Amanda, libertaria Alice. Sabia que isso era o certo a ser feito. Anos atrás cometera um grave erro ao brincar com o coração da Dervelux. Infelizmente, depois do que fizera descobrira estar apaixonada por Amanda. Fora obrigada pelo marido a entrar naquele plano. Tivera a chance de viver um amor verdadeiro ao lado daquela linda mulher e estragara tudo. Talvez, estivesse envolvida naquele plano sujo movida pela raiva, no fundo se sentia triste por outra ocupar o lugar que um dia fora seu, nunca imaginara que alguém derrubaria as barreiras que a arquiteta construíra em torno de si, por isso nunca se preocupou. Até surgir a bela Alice, aquele jeito doce e meigo foi premiado, quem não cairia de amores por aquele sorriso lindo?


Alice não conseguira fechar os olhos um só minuto. Temia que Jhon tentasse algo consigo, lhe atacasse ou fizesse algo pior. Estava assustada. Aquele homem que lhe batera mais cedo não parecia com o homem que um dia confiara. Ele parecia perturbado e isso a fazia temer, não por si, mas por Amanda. Sabia que a esposa era o alvo que ele queria, rezava com toda sua alma para que a tutora não fosse a sua procura, que acreditasse que ela fugira mais uma vez.
Lágrimas começaram a lavar seu rosto.
Não queria que Amanda a encontrasse, sabia que Jhon a mataria na primeira chance que tivesse.
Precisava convencê-lo a não machucar a mulher, lhe daria qualquer coisa, estava disposta a fazer qualquer sacrifício, contanto que sua amada pudesse ficar sã e salva. Tentaria um diálogo no dia seguinte, rezaria fervorosamente para ter sucesso naquele plano.


O ex-namorado despertou cedo. Naquele dia mandaria uma nova mensagem para a arquiteta e diria quais eram as condições para libertar sua querida pupila. Estava tudo pronto, armaria uma emboscada. Quando ela pensasse que estava tudo resolvido, a mataria. Faria tudo bem feito. Cometeria o crime e armaria o cenário para que todos pensassem que Alice cometera o ato. Não seria difícil de fazer isso, não era segredo a guerra que viviam  as duas mulheres. Todos pensariam que tudo aquilo acontecera devido a ambição desmedida da Dervelux, com a proximidade do aniversário e libertação de Alice a mulher surtara e para defender-se a pupila a matara e como se não conseguisse viver com aquela culpa acabara com a própria vida.
Sim! Ele era um verdadeiro gênio.


A loira esperara pela saída do cumplice e correu para o cômodo onde Alice estava
presa.


A pupila assustou-se com aquela entrada brusca. Pensou que era o Jhon. Mas quem apareceu toda afobada, foi Lara.
Alice temeu quando viu a faca na mão da mulher, mas outra pôs-se a cortar as cordas, libertando-a.
-- Temos pouco tempo, vamos sair daqui o mais rápido possível.

Amanda já tinha a localização e seguia para lá.
Não fora fácil fazer aquele canalha falar, mas conseguira seu intuito e o melhor foi que não tivera que matar o desgraçado. Não desejava levar uma morte na consciência, poderia ser fama da má, mas tirar a vida de alguém era algo que estava fora de cogitação. Espera apenas salvar a esposa. Estava com o dinheiro no carro, não tudo, mas com uma boa parte. Ricardo fora buscar o resto e em pouco tempo se encontraria com ela. Não se importava de entregar tudo ao Jhon, faria qualquer coisa para que Alice saísse bem e não fosse ferida. Desejava com todo coração que aquele moleque não tivesse feito nada de mau a mulher, sabia que não controlaria seu gênio diante de algo assim.
Viu a cabana.
Teve que adentrar uma pequena mata, deixou o carro na estrada e prosseguiu a pé. Prometera a Ricardo que não faria nada, enquanto ele não chegasse, mas não tinha como cumprir aquilo. Dois seguranças estavam com ela, tentaria se aproximar sorrateiramente para não assusta o louco a assim causar um acidente.


Alice não entendia o motivo de Lara está fazendo aquilo.
Assim que as amarrar foram tiradas, ela levantou e sentiu uma tontura. Com certeza a falta de comida e água a deixaram muito fraca.
-- Senta, vou pegar alguma coisa para você comer.
Antes que a outra saísse do cômodo a porta se abriu com um estrondo. Amanda entrava no cômodo seguida de dois seguranças.
-- Alice, meu amor. – Abraçou a amada.
A pupila não acreditou na visão que estava sua frente.
Sua esposa estava ali e a tomava nos braços entre lágrimas. Alice beijou-a apaixonadamente, esquecendo o perigo iminente. Pensara que não a veria mais e tê-la junto a si era um sonho.
Amanda afastou-se um pouco para olhá-la, e foi aí que viu a loira.
Afastou a esposa de si e apontou a arma para a mulher que lhe traíra um dia. Ficara sabendo por Marco do envolvimento daquela mulher em todo o plano.
Puxou a arma da cintura e apontou para ela.
-- Sua maldita. Não basta o que me fez no passado, ainda se envolveu nesse jogo
sujo.
Lara estremeceu diante daquele olhar carregado de ódio. Sabia que era merecedora
daquilo, porém não queria ser morta por aquelas mãos. Sabia que Amanda não era aquele ser que tentava aparentar. Um dia conhecera uma mulher de um coração maravilhoso e sabia que ela não cometeria um crime tão bárbaro.
-- Por favor, amor, não faça isso. – Alice segurou-lhe a mão e tirou a arma da esposa, colocando-a sobre a cama. – Ela erou muito, mas foi ela quem estava tentando me ajudar. Quando você chegou, ela tinha acabado de me soltar para que saíssemos daqui.
A arquiteta estreitou os olhos.

-- Tem certeza?
-- Sim. – Alice afirmou com um gesto de cabeça. A loira soltou a respiração, a tinha prendido.
Amanda abraçou a esposa novamente.
Queria sentir que ela estava bem, que nada de mal tinha acontecido, que ficariam juntas e seriam verdadeiramente felizes.
Ouviram tiros.
Jhon entrou no quarto e encontrou a cena.
Amanda pôs-se em frente a esposa, como um escudo.
-- Vi que você chegou antes da festa começar. Eu nem tinha mandado os convites ainda. – Riu apontando a arma para a arquiteta. – Seus amigos estão mortinhos lá fora.
-- Não precisa disso. – Amanda começou. – Eu trouxe o dinheiro, está no carro.
Pode ir pegar, é todo seu. O rapaz gargalhou.
Amanda buscou ver onde Alice tinha colocado a arma. Não dava para pegá-la.
Qualquer movimento, poderia ser perigoso.
-- Que bom que trouxe, mas antes tenho uma conta para acertar com vossa majestade.
Jhon apontou a arma para arquiteta.
Alice assustou-se e tentou ficar na frente, mas foi detida pela esposa. Lara puxou Alice para si. Precisava protege-la.
-- Jhon, por favor, não precisa fazer isso. – Alice implorou. – Ninguém irá atrás de ti, fuja e leve o dinheiro.
O rapaz mais uma vez riu, parecia descontrolado.
-- Vamos ver o quanto a sua querida esposa lhe ama. – Apontou a arma para Alice.
Amando agiu instintivamente, percebeu quando os dedos do homem tremeram e foi nesse momento que ela agiu. Jogou-se em frente a esposa e sentiu o impacto da bala entrar- lhe na carne.
Nesse momento a porta foi aberta e a polícia atirou no bandido.
Alice parecia não ter se dado conta no que tinha acontecido. Virou para a esposa e viu que ela estava com a mão no peito. Encarou-a. Os olhos azuis pareciam estar perdendo a vida, uma lágrima desceu dos seus olhos.
-- Te amo mais que a minha vida.
Essas foram as palavras que precederam queda da esposa, Alice a segurou em seus braços. Não acreditava no que estava acontecendo.


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