A tutora -- Capítulo 16
Naquele dia, Amanda saiu cedo da construtora, tinha passado grande parte daquele período em reuniões, enquanto seus pensamentos pareciam distantes.
Pietra ligou convidando-a para jantar, porém a arquiteta não aceitou. Sabia onde esse refeição iria terminar e sinceramente não estava nenhum pouco interessada e com paciência para encontros amorosos.
Passara todo dia com um péssimo humor. A volta da pupila não era algo que estivesse pronta para lidar naquele momento.
Quando estava subindo as escadas, foi interceptada pela governanta que vinha da direção oposta.
-- Ora, se não é a poderosa Dervelux que lembrou o caminho de casa.
A empresária sorriu.
Maria sempre estava presente na sua vida. Desde a morte dos pais, era essa senhora que vivia sempre a presar por seu bem-estar. Não poderia negar que, na maioria das vezes, a governanta lhe tirava do sério, na época que Alice morou com elas isso acontecia constantemente, depois que a outra foi embora, as reclamações se focaram no casamento e no fato da pupila ter partido e na libertinagem de Amanda.
-- Boa noite para você também.
Maria colocou as mãos na cintura, sinal de que viria mais broncas.
-- Você deveria ter vergonha na cara. Obrigou a menina Alice a casar-se contigo, uma pouca vergonha, mas o pior de tudo é que você vive para cima e para baixo com um monte de mulheres. Independente dessas modernidades que vocês inventaram, acho que a fidelidade deve ser respeitada. – Tomou fôlego. – Para que esse casamento? Uma vive num paı́s e você aqui indo para cama de todas as saias da cidade.
Amanda balançou a cabeça e seguiu para o quarto. Não iria perder tempo discutindo com a empregada.
Deitou-se na cama.
Pegou o cartão da bolsa e ficou observando.
Não estava acreditando que esses quase quatro anos tinham sido insuficientes para matar aquele sentimento que tinha se enraizado dentro si.
Levantou-se, irritada rasgou o cartão, fazendo pedacinhos dele. Ela não perderia o controle novamente. Era dona e senhora de suas vontades e não era a volta da pupila que mudaria isso.
Alice tinha voltado para o hotel, tinha adorado conhecer Lara. Ela era uma mulher muito divertida, pela conversa da outra percebera que ficara interessada na sua pessoa. Não podia negar que a mulher era um espetáculo, parecia aquelas atrizes de TV. Era uma verdadeira tentação.
Quando estava fora do paı́s, adorava sair para se divertir, porém nunca conseguira se envolver com ninguém, mesmo que o casamento tenha acontecido apenas no papel, não conseguia agir diferente. Se sentia na obrigação de honrar aquele compromisso. Alguns beijos rolaram, entretanto nunca foi para cama com qualquer uma.
Assim que o divórcio saı́sse iria poder viver. Relacionar, encontrar alguém que a amasse e respeitasse. Um relacionamento saudável.
Tomou banho e deitou-se. Estava cansada de ficar sem fazer nada.
Talvez devesse começar a assumir suas ações na construtora. Era formada em administração e gostaria muito de poder trabalhar no lugar que fora fundado por seu pai. O problema era Amanda permitir isso. Porém, não iria desistir do intuito, no dia seguinte iria voltar na empresa e falaria novamente com a tutora.
Respirou fundo!
Era uma pena que a empresária continuasse tão arrogante quanto antes, não mudara nada, continuava com aquele ar insuportável de puro sarcasmo. Porém, o pior era que estava muito mais linda que antes. Era uma mulher que deixava todos de quatro, aqueles olhos tinham esse poder, aquela boca...
Balançou a cabeça.
Tinha tido sua cota de sofrimento pelo resto da vida. Nunca mais permitiria ser ferida novamente por ela. Há tempos se convencera que Amanda Dervelux era um caso perdido.
Amanda amanheceu nos braços de Pietra. Não aceitara ficar em casa pensando na pupila. Correu para o apartamento da amante e ocupara suas energias em coisas mais gostosas.
Foram juntas para a construtora. A amante cuidava do departamento de marketing e vez e outra estava por lá. Os funcionários sabiam do romance que unia as duas mulheres, porém ninguém comentava nada. Sabiam que não deveriam afrontar a chefe.
Ingrid observou as duas mulheres seguirem para sala da arquiteta, não teve tempo de avisar que a esposa estava no escritório, esperando-a.
-- Hoje, podemos sair para dançar, amor e depois... – Pietra falava.
-- Bom dia!
As mulheres viraram para a voz.
Alice estava confortavelmente sentada, folheando uma revista.
-- Como ousa invadir a sala da presidente da empresa? – A amante falou arrogante.
A pupila a encarou.
-- Talvez por eu ser a dona de cinquenta por cento disso tudo, ou talvez por ser a esposa da presidente. – Completou sorrindo.
A jornalista encarou Amanda perplexa.
-- Estou esperando uma explicação.
-- Pietra, depois conversamos. Por favor, deixe-nos a sós. – A arquiteta pediu.
A amante a encarou mostrando sua raiva com aquela situação, porém decidiu sair, mas antes deu um beijo na boca da empresária.
A pupila observava toda cena e sentia uma revolta crescer dentro de si. Enquanto, passara esses anos todos sendo fiel a uma relação sem sentido, a esposa se esbaldava com qualquer uma.
-- O que faz aqui?
-- Não preciso de permissão para vir aqui. Sou tão dona disso aqui, quanto você.
-- Isso não está em discussão. – Segurou-lhe delicadamente o braço. – Nunca disse que você não era dona ou qualquer coisa do tipo, administrei tudo depois da morte dos meus pais e pode ter certeza que suas ações, hoje, valem mil vezes mais do que antes graças a mim.
Alice desvencilhou-se do toque.
A arquiteta preferiu sentar em sua cadeira. Está tão próximo da tutelada era um perigo.
-- Mas, sente-se. Sinta-se em sua própria casa. – Apontou a poltrona para jovem se acomodar.
A pupila sentou-se e cruzou as pernas.
-- E então? O que você deseja agora?
-- Quero começar a trabalhar aqui.
-- Por que? O dinheiro que é depositado em sua conta todo mês não é suficiente para seus gastos? Posso aumentar o valor.
-- Não tem nada a ver com isso. Sou formada em administração e quero poder acompanhar de perto o que é meu.
Era a última coisa que a arquiteta queria. Ter a presença da pupila ali.
-- Ok!
-- Então na próxima semana estarei aqui. – Levantou-se. – Obrigada pela sua atenção. – Estava saindo, quando voltou para a outra.
Tirou a aliança e colocou sobre a mesa da esposa.
-- Tá aqui sua aliança. Pode colocar no dedo da sua amante. Porque eu não uso mais isso. Alice saiu.
Amanda ficou sem reação mais uma vez. Pegou a joia e ficou observando-a.
Lara insistira e acabou convencendo Alice de irem a uma boate. Afinal, era sexta-feira e não tinha nada para fazer A pupila colou um vestido preto que chegava no meio das coxas torneadas. Ele parecia uma segunda pele, o decote generoso mostrava algumas sardas e a deixava com um ar mais sensual. Deixou o cabelo solto, cacheou as pontas para causar um efeito mais rebelde.
Alice encontrou Lara no térreo do hotel. Ela ficou boquiaberta. A mulher que veio busca-la estava de matar, usava um vestido vermelho muito curto, os cabelos loiros estavam presos num coque, com alguns fios soltos emoldurando o belo rosto.
-- Você está perfeita. – A pupila comentou, cumprimento a mulher.
-- Não mais do que você. – Deu um beijo rápido em seus lábios.
A garota fora pega de surpresa, mas não poderia negar que gostara daquilo. Precisava namorar um pouco, ainda mais agora que constatara que fora traı́da durante todo o casamento, era hora de tirar o atrasado.
Amanda tinha aceitado o convite da amante para sair para dançar. Pietra estava insuportável, reclamava o tempo Elas estavam sentadas no primeiro andar da casa de show. Dali dava para ver as pessoas dançando e se divertindo lá embaixo.
-- Eu exijo que você termine esse casamento o mais rápido possível. – A jornalista tagarelava.
-- Estou a um passo de me levantar daqui e te deixar sozinha. – Amanda tomou um pouco de água. Não estava bebendo naquela noite. – Vim aqui para me divertir e você não para de falar na Alice.
-- Quem diria. – Pietra observava as pessoas dançando. – A poderosa Amanda Dervelux estava literalmente sendo traı́da pela esposa. – Riu debochada.
A arquiteta olhou na direção que a outra apontava e sentiu seu coração falhar uma batida. No meio daquela multidão estava a esposa dançando e se pegando com uma mulher.
Amanda levantou, mas a amante a segurou.
-- Não acredito que você vai dar um show?
-- Solte-me!
-- Não, deixe-a se divertir, você está aqui comigo.
A arquiteta desvencilhou-se da mão dela e seguiu atrás de Alice.
A pupila estava se divertindo muito, tinha bebido um pouco e se sentia mais leve. Dançava com Lara, quando foi surpreendida por um beijo intenso da acompanhante. No inı́cio achou estanho, mas decidiu aproveitar o momento, afinal, estava com uma bela mulher e não tinha porque não ficar com aquela beldade.
-- Vou ao banheiro. – A loira falou-lhe ao ouvido. – Vem comigo?
-- Não! Vou te esperar aqui. – Continuou a se movimentar.
A mulher assentiu.
A pupila continuou dançando, quando sentiu alguém colar as suas costas, dançando coladinha, sussurrar em seu ouvido.
-- Uma mulher casada não deveria estar num lugar desses, ainda mais se pegando com outra mulher.
Aquele perfume e aquela voz a deixara tonta.
Amanda!
Aquela mulher tinha um poder sobre seu corpo, mas dessa vez ela também iria jogar.
Alice continuou dançando, se esfregando na outra.
A empresária sentiu aquele corpo colado ao seu e sentiu-se molhadinha. Virou a esposa para si. Ambas continuaram com a dança erótica.
-- Vamos sair daqui! – Amanda passou a mão pelo decote da esposa. – Quero ficar contigo. Alice lhe mordiscou a orelha e sussurrou.
-- E quem disse que eu quero ficar com você?
-- Vamos conversar, então. – Amanda apelou. – Temos coisas para acertar.
-- Esse não é o lugar para isso. E eu estou acompanhada. – Começou a descer ao ritmo da música.
A arquiteta usava um vestido azul, curto. Colado naquelas curvas lindas. A vestimenta tinha uma pequena abertura, logo abaixo dos seios. Dava para ver um pouco do abdome definido da tutora.
Alice lambeu aquela parte, deixando a empresária em fogos.
A arquiteta levantou-a.
-- Você é minha esposa e não vou permitir que saia por aı́ com qualquer uma.
-- Eu estou apenas retribuindo os chifres que que você pôs em mim. – Tentou se afastar, mas Amanda a trouxe para si. Colando os corpos novamente.
Alice se arrependeu da brincadeira, seu corpo estava clamando por aquele contato.
A arquiteta levou-a para um lugar afastado, onde estava escuro. Encostou-a na parede e começou a passar as mãos por seu corpo.
-- Você está muito linda! – Sussurrou-lhe. – Estou morrendo de desejo por ti.
A pupila segurou-lhe a mão, antes que chegasse no meio de suas pernas.
-- Não sou sua amante e nem estou interessada no seu charmezinho. Não esqueça que te conheço muito bem.
--Alice, por que não tentamos nos entender?
A pupila balançou a cabeça.
-- Eu sei que muito bem o que você quer, mas dessa vez não sou uma adolescente com os hormônios em ebulição, sou uma mulher e não cairei nesse seu joguinho infernal.
A tutora esboçou aquele sorriso perigoso.
-- Somos casadas. – Beijou a parte exposta do decote.
Alice respirou fundo.
-- Daqui a pouco menos de um mês não seremos mais. – Empurrou-lhe a cabeça.
-- Veremos!
Lara observava a cena de longe. Não estava acreditando no que via. Era Amanda Dervelux que dançava com sua acompanhante. Há tempos não a via. Desde que a arquiteta descobrira que o relacionamento de ambas fora apenas um jogo. Não podia aproximar-se, não enquanto ela estivesse com Alice. Pagou muito caro pelo que tinha feito com aquela mulher. Fora perseguida e levada a falência. Seu casamento terminara e realmente a última coisa que queria era bater de frente com ela novamente.
Contornou a boate. Infelizmente teria que ir embora. Não queria arriscar um encontro com a toda poderosa.
Amanda segurou Alice pela mão e saiu com ela da boate. Mesmo que a menina protestasse. Não a deixaria ali, sua mulher não seria seduzida por ninguém, só por ela.
Ambas entraram carro.
-- Por que me trouxe para cá?
-- Eu só quero conversar contigo. – A arquiteta tentou não a irritar. – Quero apenas explicar o que aconteceu hoje de manhã no escritório.
-- E quem disse que eu quero saber? – A pupila indagou irritada. – Só quero poder me divertir.
-- Alice. – Segurou-lhe o queixo e virou aquele rosto para si.
Tentou beijá-la, porém a pupila desviou a carı́cia.
Amanda estava frustrada. Sabia que Alice não era mais a menina que ela podia impor a própria vontade, mas eram casadas e isso deveria valer alguma coisa. A única coisa que tinha certeza naquele momento é que não iria permitir que nenhuma outra mulher tirasse o que era seu. Não sabia como segurar aquele desejo que a consumia. Quando viu a pupila dançando com aquela desconhecida quase lhe causou um infarto, não conseguiria vê-la sendo tocada por outra.
-- Deixe-me levar-te para o hotel.
-- Não vim contigo e não posso deixar a minha amiga sozinha.
-- Amiga? – Levantou a sobrancelha. – Com certeza ela já deve ter procurado por ti e percebido que não estavas mais.
Alice soltou um suspiro impaciente.
-- Ok. Aceitarei a carona.
Amanda ligou som do carro e quando virou de lado percebeu que a esposa dormia tranquilamente. Depositou um beijo em seus lábios, despertando a jovem.
-- Preciso do endereço do hotel.
Alice o colocou no GPS e indicou a rota.
-- Vai ficar morando num hotel até quando?
-- Estou vendo se alugo um apartamento. Na segunda verei alguns.
-- Pode ficar em um dos meus.
-- Não! Quero ter algo meu.
-- Tem a casa dos seus pais...
-- Fica em outra cidade, não me interessa ficar vindo de tão longe já que irei trabalhar aqui.
O celular da arquiteta começou a tocar. Alice pegou-o e viu o nome da amante da esposa. Amanda pegou o aparelho e o desligou.
-- Você não se cansa de usar as pessoas? – A pupila olhou a paisagem pela janela. – Pode passar mil anos e você continua sendo a mesma.
-- Alice, eu não quero discutir contigo.
Alguns minutos se passaram, até o carro estacionar em frente ao grande edifício.
A pupila soltou o cinto de segurança.
-- Posso te acompanhar?
-- Não! – Tentou abrir a porta, mas estava travada. – Vai me deixar presa aqui? – Encarou a tutora.
-- Eu só queria poder conversar. – Virou-se para esposa.
-- Estou cansada.
-- Então, posso passar aqui amanhã?
-- Só se a conversa for sobre o nosso divórcio.
Amanda apenas acenou e destravou a porta.
A arquiteta continuou parada, observando-a entrar. Precisava pensar em algo para que Alice não saı́sse por aı́ com acompanhantes. Por muito pouco conseguiu controlar a raiva e não agir impulsivamente. Quando a viu com aquela loira, teve vontade de sair arrastando-a, entretanto algo lhe dizia que precisaria usar de muita diplomacia ou perderia aquela guerra.
A arquiteta sorriu.
Lógico que queria ter sido convidada para entrar. Estava louca de desejo pela esposa. Estava muito pior do que antes, porém não estava mais lidando com uma adolescente, sua pupila era uma mulher e parece que teria um pouco de trabalho para tê-la novamente.
Teria pouco menos de um mês para aproveitar os benefı́cios de ser uma mulher casada, iria seduzir a esposa e saciaria aquele tesão que a consumia, depois disso voltaria a sua vida normal.
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