A tutora -- Capítulo 15


                     -- Você só pode ter enlouquecido! – Exclamou a jovem.
                  --Eu nunca estive tão sã, minha querida. – Amanda pegou uma pasta que estava sobre a cabeceira da cama e entregou a pupila. – Vou me vestir, enquanto deixo que você observe o teor desses papéis. – Seguia para fora do quarto, quando se virou. – Vista-se! Porque realmente a lua de mel não faz parte do acordo. -- Piscou safada.
                  Alice jogou um copo na porta, porém a arquiteta já tinha saı́do. Apenas o som do vidro sendo despedaçado pode ser ouvido.
                 Aquela mulher era o ser mais insuportável que existia no mundo, em todo universo. Não conseguiria passar quatro anos da sua vida ao lado dela. Não resistiria. De onde ela tinha tirado aquela ideia de casamento, só podia ter perdido o juízo.




               A arquiteta estava confortavelmente sentada na poltrona, da sala de estar. Totalmente vestida. Usava roupa de trabalho, o costumeiro estilo de calça, camisa de mangas cumpridas e o colete sobre a mesma.
              Mexia no aparelho celular, quando a bela pupila adentrou o espaço e jogou a pasta fortemente sobre seu colo. 
                   Amanda riu! 
            Sabia que aqueles papéis não eram uma boa leitura logo de manhã, não fora nada fácil consegui-los, porém, seus empregados não dormiam no ponto quando o quesito era cumprir as ordens da Dervelux.
                 -- Bem, meu amor, imagino que isso seja um sim? – Gracejou irônica.
                 -- Quanto tempo você ficou planejando isso? – A jovem indagou indignada.
                 -- Depois de te fazer gozar loucamente...
              A tutora levantou-se, preferia ficar de pé, pois a cara de Alice não era muito boa. Viu a jovem respirar fundo.
                 -- Eu te odeio com todas as forças do meu coração.
                 -- Certo, meu amor. Mas agora eu quero saber do casamento.
              A pupila sabia que a outra a estava provocando propositalmente, decerto estava esperando uma explosão. Mas não queria nesse jogo, estava cansada das provocações, dos deboches, das ironias daquela mulher.
                --Deixa ver se eu entendi... Se eu não me casar contigo o John e o pai dele irão para prisão porque, de acordo com esses papéis, eles são estelionatários e para piorar me sequestraram e levaram-me contra a minha vontade para fora do paı́s...
                -- Isso! Vejo que você não é só um corpo bonito, é também muito inteligente.
                -- A sua ambição é tão grande que você casaria comigo para não perder o controle sobre meu dinheiro?
                Amanda preferiu assentir. Não adiantava dizer que estava querendo protege-la, tinha certeza que ela não acreditaria. Porém, fora essa a única forma de poder coibir que a pupila casasse com qualquer aproveitador e acabasse se dando mal.
                 -- Eu aceitarei a sua proposta suja. – Encarou-a. – Mas nunca haverá contato entre nós, nunca seria realmente nada sua e assim que eu assinar esses malditos papéis, irei embora para bem longe de ti.
                  -- Eu também não tenho nenhum interesse em nada mais que isso. E quanto a ser minha mulher...—Olhou-a com desdém. – Você não se encaixa nesse papel.



              A cerimônia fora feita rapidamente. O poder de Amanda lhe dava muitos privilégios e nem ao menos precisará de muito tempo para resolver isso.
          Casaram-se num dia de chuva, na parte da manhã, num cartório da cidade. Não havia convidados, apenas a presença do fiel advogado e as testemunhas. Alice fizera tudo que lhe propusera a tutora e antes do sol esconder-se no horizonte já estava embarcando para bem longe da arquiteta.
              Sabia que a decisão tomada poderia ter muitas consequências no futuro, porém não permitiria que outras pessoas pagassem por terem tentado ajudá-la. Não amava o namorado, mas não o entregaria aos lobos, ou melhor, a loba. Viveria longe durante esses quatro anos e quando esse tempo acabasse, retornaria, terminaria aquele casamento e, aı́ sim, nunca mais iria querer saber nada sobre a tutora.





                Dias atuais...
                 -- Alice...
              Amanda sabia que brevemente veria a pupila, mas nunca passara por sua cabeça que seria naquele dia.
              A garota não parecia mais aquela jovem de olhos doce, antes ela era linda, mas agora não era mais uma menina. Era uma mulher maravilhosa.
              A jovem levantou-se e arquiteta sentiu velhos sentimentos batendo na porta para sair.
            A pupila usava uma calça jeans colada ao corpo, uma camiseta e uma jaqueta de couro. Os cabelos flamejantes estavam soltos, porém agora pareciam mais escuros e ondulados nas pontas.
               -- Olá, Amanda Dervelux. – Alice levantou-se e estendeu a mão em gesto de cumprimento.                   A arquiteta relutou, a segurança que a jovem exibia lhe desconsertava.
                -- Olá! – Segurou demoradamente a mão da outra.
             A bela mulher preferiu ignorar todas as sensações que se manifestaram em seu corpo desde que viu a herdeira de Arthur. Mas ao sentir o toque dela, um arrepio passou por sua espinha. Não permitiria que depois de todos esses anos, sua tutora lhe usasse novamente. Fizera um juramento a si mesma: Não seria mais o instrumento de prazer daquele ser arrogante e esses quase quatro anos lhe ajudaram muito nessa promessa.
             -- Não pensei que chegaria antes do próximo mês. – A tutora soltou-lhe a mão e sentou-se na cadeira. Fez um gesto para que a outra também se acomodasse.
            -- Sei que não. Mas preferi antecipar minha volta. Quanto antes resolvermos tudo, melhor será.
              A Dervelux a olhava com atenção, enquanto fitava-a.
                -- Só  quando você completar vinte e um anos isso será  possıv́el.
               -- Não estou falando disso, mas disso aqui. – Mostrou-lhe a mão esquerda, onde uma aliança repousava em seu dedo anelar.
             -- Nossa! Você não se sente bem em ser uma mulher casada? Deveria se sentir honrada por ser minha esposa. – Piscou, sedutora.
              -- Você sabe que esse casamento só aconteceu porque eu não tinha outra escolha.
              -- Você tinha várias escolhas.
            -- As únicas que vi tinha a ver em continuar sendo um fantoche nas suas mãos, então preferi está presa a você, porém distante.
              Amanda não gostou daquelas palavras.
             -- E foi muito conveniente esse casamento para ti. Afinal, foi para longe e contou com todas as mordomias.
             -- Levando em conta que o dinheiro é meu.
            Amanda  levantou-se. Sua paciência já tinha se esgotado por hora.
          -- Me nego a falar contigo enquanto você não atingir a idade necessária. E quanto ao casamento, eu também não vejo a hora de livrar-me dele.
                A pupila também se levantou.
              -- Não estou aqui para brigar, achei que esses anos tinham deixado claro isso, desejo apenas que conversemos como pessoas civilizadas.
             A arquiteta riu e voltou a sentar-se.
               -- Vejo que os anos lhe fizeram muito bem. – Mirou-a de cima baixo para provocá-la.
           -- Bem, você já sabe que estou de volta. – Ignorou-a, colocou um cartão sobre a mesa da tutora. – Quando você estiver com tudo pronto, peça ao Ricardo para procurar-me, não será preciso nem que nos encontremos novamente.
               Alice acenou com a cabeça e saiu, deixando a arquiteta pasma e completamente fascinada.








             Alice seguiu para um restaurante, estava faminta e não tinha gostado muito da comida do hotel.
              Sentou-se em uma das mesas e começou a folhear o cardápio. Sentiu uma batida e um lı́quido molhando a frente da sua blusa.
                   -- Me desculpe...
               A pupila observou a bela mulher que tropeçou e praticamente lhe deu um banho com alguma espécie de suco. 
                  A jovem levantou-se.
           -- Não se preocupe. – Riu. – Isso pode acontecer com qualquer pessoa.—Tentou não constranger a outra. 
                 A mulher lhe ofereceu um lindo sorriso em agradecimento.
                 Era realmente uma bela mulher.
           -- Olha, vamos ao toalete, deixa eu tentar consertar um pouco da estrago que fiz. – A desconhecida pediu.
                 -- Não precisa, é verdade.
                 -- Por favor! – A mulher insistiu.
                -- Ok, então.
                As duas seguiram para o banheiro.
              A mulher molhou um pedaço de papel e começou a passar pela blusa de Alice, onde havia manchado.
              -- Se você quiser, posso te comprar outra blusa. Alice riu.
               -- Eu já disse que não precisa se preocupar. 
              Os olhares se cruzaram.
                Alice percebeu que a outra era uma bela loira.
               -- Não deu para fazer muito.
                 -- Tudo bem. – A pupila segurou as mãos da jovem e levantou-a.
                 -- Nossa, eu nem me apresentei. – Estendeu-lhe a mão. – Me chamo Lara.
                -- É um prazer, Lara. Me chamo Alice.


                Amanda pediu que Ricardo fosse a sua sala.
             -- O que houve? – O advogado indagou, sentando-se. – Sua secretária falou que você queria me ver com urgência.
              -- O que você sabe de Jonh?
              -- Como assim? – O senhor parecia confuso. – Por que quer saber sobre ele agora?
          -- Porque Alice está de volta e uma das condições do nosso casamento foi que ela se mantivesse afastada dele.
               -- Alice voltou? – O advogado sorriu. – Onde ela está? Quero tanto vê-la. 
              Amanda deu de ombros.
                --Não sei! Esteve aqui hoje.
               -- Como não sabe onde sua própria esposa está? – Gracejou. – O que você acha que ela vai pensar dos seus casos extraconjugais? – Piscou.
                -- Será que você pode me responder o que te perguntei?
                -- Não tenho ideia de onde esse rapaz possa está.
                -- Mas por que se preocupa? Ele não pode casar com ela, porque ela já está casada contigo.
               -- Eu sei, mas em breve esse casamente vai ser dissolvido e foi por esse motivo que ela esteve aqui hoje.
                 -- Eu vou pedir para o detetive ver que fim o rapaz levou. – Informou ao ver a preocupação estampada no rosto da patroa.
                 -- Ok!
                Ricardo deixou a sala.
            Amanda permaneceu pensativa. Pegou o cartão onde tinha um número, não havia endereço, nunca sabia como agir quando se tratava daquela garota, sabia que em breve todos os laços que as prendiam seriam dissolvidos, porém aquela ideia não parecia tão tentadora agora.
             Girou a aliança no dedo. Sempre usara aquele anel, mesmo que o compromisso tenha sido uma forma de proteger Alice, sempre gostara de se sentir casada com ela. Não negava que no quesito fidelidade, tinha nota zero. Porém sempre mostrara para todos que havia alguém na sua vida. Pietra sabia do casamento, mas não conhecia toda história, porém ela não se importava de se relacionar com uma mulher que já tinha uma esposa.
              -- Minha esposa!

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