A tutora -- Capítulo 14

                        Quase quatro anos depois...

                     Alice tirou os óculos escuros, depois de tanto tempo retornava ao seu paı́s. Tivera muitos anos para refletir sobre sua vida, ganhara uma liberdade que tanto desejara.
                  Fora livre, pôde seguir por um caminho desconhecido, misterioso, mas fora feliz, saíra uma adolescente e agora retornava uma adulta, dona das suas ações e dos seus sentimentos.
                 Observa a cidade pela janela do carro, o taxista, por enquanto, andava sem rumo. Ela queria apenas olhar os lugares e sentir-se novamente em casa.
                   A jovem sentada no banco traseiro não era mais uma garotinha, tinha se tornado uma linda mulher. Frequentara uma das melhores universidades da Europa, formara-se em administração. Tivera uma vida intensa. Ia a boates, teatros, conhecera muitas pessoas interessantes. Fora livre durante esse tempo.
                         Riu!
                   Às vezes tinha a impressão de ter barganhado o direito de viver com o próprio demônio, porém agora estava de volta, antecipara o retorno, pois dentro de um mês completaria vinte e um anos. Seria Alice Albuquerque, a sócia das empresas Dervelux.
                     Pegou o celular dentro da bolsa e ficou a observá-lo.
                Perdera o contato com todos. Não recebera e não deu um único telefonema, nenhum e-mail, nenhuma mensagem.
                 No inı́cio não acreditara que isso daria certo, mas arriscara todas as fichas e, de certa      forma, saı́ra vitoriosa.
               Fechou os olhos e cenas daquela noite vieram-lhe à mente, aquele dia sua vida fora decidida.



                   Amanda estava maravilhosamente sensual. Usava um vestido azul, longo, que combinava com a tonalidade dos seus olhos. A roupa moldava as curvas perfeitas. Os longos cabelos estavam presos numa trança que se estendia e pousava sobre seu decote generoso. Alguns fios soltos formavam uma espécie de franja.
                 Todos presentes naquele salão de festas desejavam aquela mulher poderosa, porém poucos poderiam ter essa chance. Felipe estava fora de cena há tempos, a arquiteta conseguira fazer a fusão das empresas sem precisar subir ao altar e isso fora uma de suas maiores vitórias.
                 Hoje, havia muitos casos na sua vida, não era de ferro, então o que não faltava era um bom caso, não faltavam mulheres para saciar seus desejos. Tinha muitas, podia se considerar uma devassa, mas fora esse o único jeito de manter-se longe de um par de olhos verdes. Havia momentos que não conseguia acreditar que tomara aquela decisão, porém tinha sido o melhor a fazer. Naquela época perdera o controle sobre a própria vida e isso ela não poderia suportar.
                  Suas divagações foram interrompidas por uma bela loira.
                   -- Você está muito sexy, não vejo a hora de ficarmos a sós.
              Pietra era uma de suas amantes mais ociosa. Ela era uma famosa jornalista e também cuidava das relações públicas da sua empresa. Ela era mulher muito bonita, sua inteligência e ambição eram atrativos a mais. Há quase três anos estavam juntas e isso era proveitoso e gostoso para ambas.
                 Precisara se ocupar muito nos últimos anos. Trabalhara desde cedo da manhã até quase as últimas horas da noite. Precisara de muita força de vontade para não ligar, não ir atrás de Alice. A jornalista lhe ajudara muito nesse quesito. Era para os braços dela que voltava de madrugada.
                   Olhou para mão esquerda.
                Já tinha conseguido recuperar o autocontrole. Tinha se livrado dos arroubos de paixões e ataques de ciúmes. Em alguns momentos, pensava no que ocorrera há quase quatro anos, na explosão de raiva e nos fatos que desencadearam tudo aquilo. Agira sem pensar, porém, estava chegando o momento de dar o fim naquela história.
                   O trato era que quando ela completasse seus vinte e um anos aquele enlace fictício terminasse.
                 Observou Ricardo se aproximar lhe entregando uma taça.
                  -- Ao seu sucesso!
                  Os dentes alvos se abriram em um sorriso misterioso.
                  -- Acho que nasci para isso! -- Falou orgulhosa.
                  O advogado viu-a seguir para falar diante de tantos investidores e ficou a pensar se toda aquela segurança não fazia parte de um teatro que há tempos ela vinham usando para se proteger.



                 A pupila dormira num hotel. Não tinha para onde ir naquela imensa cidade. Na verdade não tinha ninguém, perdera o contato com Ricardo e Maria, as únicas pessoas que lhe inspiravam carinhos. Lembrou-se do ex-namorado, uma das condições que lhe fora imposta foi manter-se longe dele até completar a idade de vinte e um anos. Ela cumprira todos os quesitos do contrato.
                  Levantou-se da enorme cama, espreguiçou-se. Precisava arrumar-se para sair.



               A arquiteta seguiu para a construtora. Passara a noite com a amante, não dormira quase nada, Pietra estava insaciável.
                Chegando a empresa, seguiu para sua sala. Parou na porta ao ouvir uma pequena discussão.
              -- A senhorita não pode ficar aqui. Não entende que a presidente da empresa não recebe estranhos, ainda mais sem marcarem hora. – A secretária protestava.
                -- Eu não sou uma estranha!
                -- Mas, então quem é você?
              -- Alice Alcântara de Albuquerque, sócia dessa companhia e também esposa da sua patroa, Amanda Dervelux.
              A tutora entrou na sala. Olhou para a jovem sentada numa das cadeiras. Sentiu algo dentro de si querer se manifestar.
                 Mirou os olhos tão verdes,tão vivos...
                 -- Deixe-nos, Ingrid.
                  A secretária saiu.



                Aproximadamente quatro anos antes... Alice assentiu.
                -- Essa era a resposta que eu esperava.
                A tutora passou a lı́ngua pelos lábios da garota, até invadir a boca com sofreguidão.
              A pupila quisera não ceder, mas sua força já tinha lhe abandonado há tempos. Aquelas mãos passeavam atrevidamente pelo seu corpo. Ora apalpava os seios, em seguida as mãos deslizavam pelo meio de suas pernas, forçando a entrada.
            -- Vamos ver se sua raiva já passou... – Fez a tutelada sentar-se na cama, encostada na cabeceira.
               Alice ficou apreensiva com a posição, ainda mais quando a empresária lhe dobrou os joelhos e afastou-lhe as pernas. Se sentia totalmente exposta. Tentou sair da posição, porém fora impedida pela arquiteta.
                  -- Não! – Acomodou-se ao seu lado. – Quero provar desse mel.
                  Dedos hábeis começaram a penetrar-lhe. Primeiro, um... este entrava e saia lentamente.
               A pupila se sentia incomodada com aqueles olhos que não abandonava os seus. Desviou a vista.
                -- Não! – Amanda a forçou a olhar para si. – Veja bem quem está te tocando...—Deu um sorriso safado. – Te comendo bem gostoso. – Assim, deslizou mais um dedo. – Você está tão apertadinha...
                Alice gemeu alto. Sentira uma mistura de dor com prazer. Instintivamente começou a mover os quadris ao ritmo daqueles dedos.
               -- Você gosta quando eu te toco... – Começou a chupar-lhe os seios. – É louca pelas minhas carı́cias. – Piscou debochada.
              A jovem ficou furiosa com aquele olhar irônico e convencido estampado na cara da arquiteta. Tentou soltar-se, mas fora impedida pela tutora, que a puxou bruscamente, deitando-se sobre ela.
                   -- Me solta!
                Amanda posiciounou-se sobre seu sexo e começou a rebolar. A tutelada ainda tentou lutar, porém ao sentir seu clitóris colado com o da outra, a delı́cia da fricção daqueles movimentos, foi impossível resistir.
                A arquiteta pretendia apenas mostrar-lhe sua superioridade, entretanto estava louca de tesão. Cada dia que passava era mais difı́cil resistir àquela menina.
               Continuou com o impulso dos movimentos, até ambas gritarem pelo poderoso orgasmo que se apossou dos seus corpos.
                A pupila caiu num pesado sono, enquanto uma desesperada ficou desperta sem saber o que fazer.
              Sabia que não poderia continuar nessa situação, mas também não poderia dar a liberdade a pupila. Sabia que se ela ficasse livre, seria presa fácil para o interesseiro do Jonh. Deveria pensar numa forma de coibir essas ações, pelo menos até que ela completasse seus vinte e um anos.
               Pegou o telefone, sabia que já era muito tarde, entretanto discou o número de Ricardo. Só ele poderia resolver esse problema.


                Alice despertou lentamente, espreguiçava-se quando se deparou com a tutora observando-a.
Amanda vestia apenas um roupão, estava sentada na poltrona, com as pernas cruzadas. Percebia-se que havia tomado banho, os cabelos estavam úmidos.
                 A pupila puxou o cobertor até o pescoço.
                -- Bom dia! – A arquiteta cumprimentou-a.
                -- Bom dia. – Bocejou. – Algum problema?
                 -- O que você estaria disposta a fazer para livrar-se de mim?
                 -- O quê? – Alice se surpreendeu. – Não estou entendendo. 
                Amanda levantou-se.
               -- Não se faça de boba! Sei que você não gosta nenhum pouco de mim, até mesmo já fugiu com seu namoradinho. – Disse com escárnio.
               Alice apenas assentiu. Mais uma vez se sentia decepcionada com a tutora. Depois da noite de amor que tiveram, pensara que algo mudaria entre elas, porém mais uma vez tudo que ocorrera não significava nada. Tudo tinha sido apenas sexo.
                -- Por que não me deixou lá? Poderia ter se livrado de mim.
                -- Com aquele moleque? – Moveu a cabeça. – Nunca! 
                 A pupila mordeu o lábio inferior.
                -- O que eu devo fazer para poder ficar livre desse inferno que você transformou minha vida? – A menina indagou com raiva.
                 A arquiteta sorriu sarcasticamente.
               “Como eu odeio esse sorriso”. Pensou à garota.
             -- Deixarei que você viva sua vida. Que vá para bem longe. Faça seu caminho do jeito que desejar. 
                 A pupila não estava acreditando naquelas palavras que ouvia.
                -- Imagino que para que eu consiga algo assim, eu precise vender minha alma ao demônio.
               -- Não! – Os olhos azuis mirou os verdes. – Deve simplesmente casar comigo. – Completou com um sorriso triunfal.




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