A tutora -- Capítulo 13


                     A pequena capela tinha poucas pessoas, todos pareciam curiosos com a presença da empresária que exibia um perigoso sorriso.
                      No dia anterior, praticamente ameaçara a empresa de telefonia para conseguir saber de onde tinha sido feita a ligação que Maria recebera. Usara toda sua influência e conseguira descobrir. Depois disso, tudo fora mais simples. Chegara no hotel de beira de estrada e ficara sabendo sobre o casalzinho que ocupara um dos quartos de casais daquela hospedaria. Em seguida, ficara sabendo sobre o frete do avião e por último estava ali.
                        A arquiteta mirou o casal. 
                Teve sorte de chegar a tempo para impedir que aquela palhaçada se concretizasse. Observou a surpresa presente na cara dos presentes e percebera algo a mais no olhar da pupila. Desejou se aproximar e torcer o pescoço bonito, mas havia outros planos para a jovem ruiva.
                  -- Não acredito que iriam começar a festa sem a minha presença. – Caminhou lentamente e postou-se ao lado dos noivos. -- Cruzou os braços. -- Nem um convite... -- Mirou os olhos verdes. -- Eu gosto de bolo de casamento... Acho delicioso.
                   Alice sentiu o vermelho tingir sua face diante do olhar desavergonhado.
              -- Deixe-nos em paz! – Jhon manifestou-se ficando entre as duas mulheres. – Nós nos amamos e queremos ser felizes. – Abraçou a noiva de forma protetora.
                 -- Meu filho está certo. – O sogro aproximou-se com ar de desafio. – Agora, saia e deixe que a cerimônia termine.
             -- Não lembro de ter pedido a opinião de vocês. – Falou friamente, encarando- os. – Enquanto Alice não completar vinte e um anos, eu decido sobre a vida dela.
               A pupila olhava a cena e não sabia o que fazer. Parecia que todos podiam falar, menos a própria jovem.
                  -- Você não pode... – Alice arriscou-se.
                -- Cale a boca! – A arquiteta interrompeu-a bruscamente. Olhou para ela, fulminando-a com o olhar. – As minhas contas contigo, acerto depois.
               A tutelada assustou-se, a raiva, estampada nos olhos da tutora, pareciam a ponto de explodir.
               -- Não tenho medo de você! -- A menina disse por entre os dentes.
               A empresária esboçou um sorriso de canto, enquanto arqueava a sobrancelha esquerda em desafio.
                -- Você não irá leva-la daqui. – O velho gritou agressivamente.
                -- Eu acho desnecessário esse escândalo. -- A Dervelux tirou o celular do bolso. -- Acho que estão se arriscando bastante por nada. -- Observou-os. -- Esse casamento não vai acontecer, sinto muito!
                   Nesse momento, Ricardo entrou no recinto acompanhado de cinco seguranças.
                    -- Levem-na, por bem ou por mal.
               Amanda caminhou determinada para fora da capela. Ouviu os gritos de protestos e continuou seguindo para o carro.
                    Ninguém a faria de boba novamente, ninguém desafiaria seu orgulho e sairia ileso.



            Naquele mesmo dia, retornaram para casa. Amanda preferiu manter distância da pupila. Preferiria guardar sua raiva para quando estivesse sozinha com ela. Não tinha certeza se conseguiria segurar sua fúria por mais tempo, desde que ficara sabendo que Alice dormira com aquele miserável, tinha ganas de matá-la.


              A pupila ainda tremia, tinha sido tirada à força para o carro e de lá fora levada, sob protestos, para o avião particular. Contra sua vontade, tivera que abandonar Jonh e seu pai na capela, se desesperava só de imaginar o que aqueles brutamontes poderiam ter feito com os dois.
             -- Acalme-se, minha jovem, ou terá um ataque. – Ricardo segurou-lhe a mão.
             -- Por que ela não me deixa em paz? – Encarou-o.
            O advogado estava muito preocupado com a menina, temia o momento em que a tutora ficasse sozinha com a garota. Conhecia bem a jovem Dervelux, já presenciara várias vezes seus momentos de raiva, porém daquela vez era diferente. Ele sabia que algo acontecera entre as duas e isso era, com certeza, algo que complicava tudo.
          -- Tente ter paciência. Entenda que você não deveria ter fugido. Isso não resolveu nada, só complicou ainda mais.
          -- Então, o que resolve? Ninguém contesta as ordens da toda poderosa. Somos todos marionetes nas suas mãos. – Falou, irritada.
                Alice viu quando Amanda voltava da cabine do comandante. Elas não trocaram uma única palavra, chegara até a imaginar que a briga começaria, mas a outra nem mesmo se aproximara.
               Os olhares se cruzaram por um momento, numa batalha silenciosa. A pupila desviou o olhar ao ver a outra arquear a sobrancelha de forma debochada.
             Como poderia lutar contra os próprio sentimentos, mesmo estando irritada com a tutora, Alice não podia negar as sensações que seu corpo tivera desde o momento em que a viu na capela. Desejou abraçá-la, beijá-la, senti-la e isso era inconcebível. Precisava afastar esses desejos de si.


             Quando o avião pousou no aeroporto eram quase seis da tarde. A empresária seguiu na frente no próprio carro, levando Ricardo consigo. Alice seguia no outro veı́culo  com o motorista e os seguranças.
           -- Amanda! – O advogado chamou-a relutante. – Por que você não deixa Alice sob minha responsabilidade?
              A arquiteta acelerou ainda mais o carro.
              -- Para quê? Para ela fazer o que quiser contigo?
               -- Você sabe que seria...
               -- Chega! – Cortou. – Não quero ouvir mais besteiras. 
                Alguns minutos se passaram e o silêncio pairou entre eles. O advogado não desejava permitir que ela se aproximasse da pupila, mas nada poderia fazer para detê-la, ela tinha o poder, fora nomeada diante de um juiz.
                -- Já sabes de onde o tal do Jonh e o pai arrumaram dinheiro para fretar a aeronave?
             -- Não! O que posso dizer é que eles não tinham dinheiro para esses luxos. 
                A arquiteta bateu com força na direção do carro.
               -- Aquela idiota estava fazendo tudo pensando em pagar com o dinheiro que eu administro.
                -- Bem, levando em conta que o dinheiro é dela. 
                 Amanda a fuzilou com um olhar frio.
                -- Eu não acho que Alice tenha planejado tudo isso.—Ricardo discordou.
                -- Lógico que foi ela. Mas os três vão pagar caro por terem me desafiado.
             O advogado balançou a cabeça negativamente. Sabia que não podia argumentar em favor de Alice.


          A pupila não fora levada para mansão, tinha sido escoltada pelos guardas costas até um apartamento, num hotel de luxo. Não sabia por que a tinha levado para lá, achou que voltaria para a casa da arquiteta.
               O lugar era muito luxuoso, tinha uma decoração pomposa.
             Um dos homens que a acompanhou, ordenou que ela ficasse sentada no carı́ssimo estofado que circulava a sala.
               -- Estou com fome! – Encarou-os.
               O homem permaneceu em silêncio.
               -- Mas que merda!


            Amanda deixou o advogado em casa e seguiu para o lugar onde mandara levar a tutelada. Decidira leva-la para o apartamento que comprara recentemente, não queria que Maria interferisse na conversa que teria com a jovem. Precisava fazer isso sozinha, afinal, a mocinha precisa acertar as contas consigo.


            Alice estava irritada, se sentia suja, cansada. Nem mesmo a roupa do casamento lhe fora permitido trocar e agora estava ali, sendo obrigada a permanecer sentada sem ter direito a um copo de água. Sem mais paciência, levantou-se.
                -- Eu me nego a ficar aqui. Não vou me submeter a essa tirania...
                -- Você não sabe ficar calada mesmo, né?
                Amanda a interrompeu, entrando no apartamento.
                Falou algo a um dos guardas e logo em seguida os dispensou, ficando sozinha com a pupila.
              -- Te aconselho a ficar calada, ao menos que queira arcar com as consequências. – A arquiteta seguiu para o bar e preparou um drinque, parecia pensativa ao misturar as bebidas e finalizar com cubos de gelo. -- Sua voz está me dando nos nervos. -- Bebeu um pouco do líquido.
            -- Eu não tenho medo de você! – Alice aproximou-se. – Achas que sou um dos teus empregados que tremem diante das tuas ordens? Tenho pena de você. Pena!
             Alice caminhava para o outro cômodo quando ouviu o som de vidros sendo quebrados, em poucos segundos, já estava sendo puxada pelo braço por uma Amanda descontrolada.
                  Chegando no quarto, jogou-a na cama.
                 -- Te disse para não me provocar, sua garota do inferno. – Amanda a fitou perigosamente.
                A pupila fora pega de surpresa. Mas quando se recuperou, levantou-se.
                 -- Eu repito. – Falou pausadamente. – Você me dá pena, Amanda Dervelux. 
                A tutora chegou bem próximo, praticamente colando seus corpos.
            -- O branco não cai bem em você. – Rasgou o vestido da jovem, deixando-a apenas de lingerie. – Não lembro de você ser virgem ou pura para casar-se com essas cores.
              Alice tentou fechar o vestido em volta do corpo, mas a vestimenta tinha sido totalmente destruı́da. Agora, a bela ninfa usava apenas um conjunto de sutiã e calcinha também nas cores brancas.
                -- Vai para o inferno, Amanda.
           A arquiteta teve ganas de bater-lhe, estava sendo incitada a praticar a  violência. A pupila continuava lhe desafiando.
             -- Você não tem ideia da raiva que está  me queimando, aqui dentro. – Apontou  o dedo para o peito. – Quando penso que você me fez de besta, sinto vontade apertar seu lindo pescocinho até que toda a vida abandone seu corpo.
             -- Então, mate-me! – A jovem cruzou os braços, encarando-a. -- Não estranharia se você o fizesse, afinal, gostas de causar dor nas pessoas.
              Amanda passou a mão pelos cabelos.
               -- Como pode ir para a cama com aquele desgraçado? Você não presta.
            A pupila percebeu que havia um mal-entendido ali, a tutora devia ter sabido que o casal ocupara apenas um quarto e tirou suas próprias conclusões.
                -- Ele é mil vezes melhor do que você. – Falou para feri-la. 
                -- Vagabunda!
                Alice acertou um tapa bem na face da empresária, fazendo-a cambalear. A pupila imaginou que ela revidaria, que lhe espancaria sem piedade, mas nos olhos azuis só conseguia ver a raiva sendo contida.
             -- Vou  matar aquele miserável e depois acabo contigo. 
                 A arquiteta deixou o quarto, trancando a porta por fora.
             A pupila jogou-se na cama e começou a chorar. Odiava aquela mulher, queria matá-la, fazê-la sentir a mesma dor que sentia. Não deveria ter falado aquilo, mas  tivera um desejo imenso de ferir a tutora no seu ego. Quisera rebaixá-la, fazê-la sentir- se um lixo, mas agora percebeu que não fora uma boa ideia. A vida do Jonh e a sua própria corriam perigo.


             Amanda voltou para sala, pegou uma garrafa de whisky e sentou-se no sofá. Sentiu lágrimas quentes correrem livres por seu rosto. Encheu o copo e bebeu tudo de uma vez. Sentia dor ao lembrar as palavras de Alice. Pensar que ela fora tocada, amada por outro era impossıvel suportar.
                Se sentia pior ainda por não ter conseguido bater nela, revidar a bofetada, porém não conseguiria, mesmo que desejasse.
              Levou o gargalho de bebida à boca, acabou engasgando-se com o álcool. Jogou  a garrafa contra a parede.



                 A pupila banhou-se e decidiu deitar-se. Não tinha como fazer nada, estava trancada naquele quarto. Lembrou o olhar da arquiteta ao ouvir suas últimas palavras. Parecia que ela estava perdida, os olhos azuis tinham perdido totalmente o brilho, dor? Fora isso que viu neles? Não, ela se irritara apenas porque não aceitava  ser inferior a ninguém. Mas a quem Amanda Dervelux poderia ser inferior?
               Ela era a mulher mais linda que já conhecera e para piorar as coisas estava totalmente apaixonada por ela. Amava-a com loucura, porém não aceitaria ser usada e maltratada por aquela arrogante.


                  Duas horas depois, a tutora seguiu para o quarto da pupila. Estava tonta, mas não bêbada. Em sua cabeça palavras se repetiam o tempo todo. Sua raiva não esfriara, mas a frieza parece que tinha assumido o controle.
                 Abriu a porta.
              Alice se revirava na cama, não conseguia pegar no sono. Então ouviu o som da porta sendo aberta e Amanda pareceu. Sentiu a frieza do olhar dela.
             Amanda seguiu para o banheiro, sem olhar para a cama. Precisava de um banho. Desejava refrescar a cabeça.
           Pareceu demorar uma eternidade até que a pupila ouviu passos vindo em direção a cama. Estava com os olhos fechados, não estava pronta para mais uma batalha. Não tinham forças para brigar naquele momento. Então, Amanda posicionou- se sobre ela, assustando-a.
            A tutelada abriu os olhos e estava diante do sorriso mais sarcástico que um dia teve o desprazer de cruzar.
                  -- Vamos se seu namoradinho é melhor do que eu...
               Tentou beijá-la, porém a outra virou o rosto e o carinho feito na face. Isso não desencorajou a arquiteta, que agora lhe mordiscava o pescoço.
                 A garota tentou empurrá-la, mas suas mãos foram presas sobre a cabeça.
                 -- Você pode tornar isso agradável ou uma coisa muito dolorosa... Escolha. – Encarou-a.
                 -- Por favor, Amanda. – Implorou.
                 -- Isso, implora. Pede, eu quero ver essa sua rebeldia indo para bem longe.
                 -- Eu te odeio por tudo que está me fazendo...
               Amanda aproveitou a distração e a beijou, de inı́cio a boca da menina a repelia, lhe mordeu o lábio, chegara a sentir até o sabor do sangue, porém pouco a pouco a arquiteta vencia as barreiras.
               Alice estava nua por baixo das cobertas e a tutora grudara seu corpo igualmente despido ao dela. Como poderia resistir quando aquela boca abocanhava seu seio, chupava-o com vigor.
A arquiteta soltou-lhe, desceu as mãos e a depositou no meio de suas coxas.
              -- Isso tudo é ódio. – Levou os dedos a boca, chupando-os. – Você fica molhadinha por alguém que não gosta? – Piscou debochada.
                  A pupila tentou soltar-se, mas foi contida e subjugada pela outra.
                  -- Você não cansa de me torturar? – Alice desviou a boca de mais um beijo. -- Eu te odeio!
                   -- Entregue-se para mim. – Sussurrou no seu ouvido.
                  A garota tentou soltar as mãos que ela prendia e acabou arranhando a face da empresária.
                  -- Você gosta de bater... -- Encarou-a. -- Eu tenho um jogo divertido...
                 Alice mais uma vez esperou a reação que não veio, mas preferia mil vezes ser espancada que miseravelmente seduzida. Senti-a esfregar o corpo no seu, ouvia as fricções e não aguentava mais resistir.
             A jovem estava perdida, seu corpo implorava pelas carı́cias, porém sua cabeça se negava a participar daquele jogo novamente, não aguentava mais aquela guerra injusta.
                 A menina apenas assentiu.
                 Era o que Amanda precisava...

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