Dolo ferox -- Capítulo 48
As lonas coloridas impediam que o ar circulasse dentro do espaço circular.
Os cabos que sustentavam os trapézios estava preso no alto. As cadeiras para o público vip bem organizadas. Era possível também ver curiosamente a roda onde se atirava os punhais. A cartola usada pelo mágico estava caída pelo chão. A rede de proteção estava lá, vez e outra a ouvia ranger, como se as almas de trapezistas do passado estivesem a pular nela.
Natasha ouvia a voz da duquesa e chegou a imaginar se desmaiaria novamente naquele momento. Sentia-se fraca e por alguns segundos fechou os olhos e ao abri-los, viu-se no dia que completaria quinze anos. Fora presa no porão da grande mansão Hanminton, enquanto uma comemoração a níveis luxuosos ocorria em homenagem as primaveras da irmã. Ao final daquela noite, fora espancada pela avó até não conseguir respirar e fora a partir desse momento que aprendera que sempre deveria esperar o pior da mãe de Elizabeth.
O tapa em sua face a trouxe de volta ao presente, ardia, sentia-o queimar e tentou não gemer.
Fitou a pomposa duquesa.
Os trajes ainda continuavam impecáveis como se estivesse em um daqueles bailes que costuma ir, o penteado e a maquiagem ainda não borrara.
Os olhos eram tão idênticos aos seus, sua avó... Ouvia a voz perversa esbravejar.
-- Veja, miserável, foi sua culpa eu não ter meu filho ao meu lado. -- A velha gritava. -- Me arrependo de não ter te jogado do alto daquele convento... Deveria ter morrido quando saiu do maldito ventre da prostituta da sua mãe.
A ruiva conseguiu focar no detetive. Mirou-lhe e por alguns segundos, conseguiu ver nele o bom amigo que sempre a protegera. Seria realmente verdade toda aquela história? Ele era filho do seu pai, um irmão, seu irmão...
Com dificuldade inclinou a cabeça para o lado e viu o filho nos braços de Rebeka. Desejou ir até lá e abraçá-lo, precisava pensar em algo para salvá-lo.
-- Leia!
A cabeça da arquiteta foi puxada com brusquidão por Isadora. Os olhos verdes observavam o papel envelhecido, cujas letras já se encontravam borradas.
-- Leia! -- A velha repetiu aos gritos. -- Leia, maldita!
Natasha não obedeceu. Conseguiu cuspir bem na face dela, sentindo a pancada no rosto lhe tirando o ar. Não se importava em ser agredida, já fora tantas vezes que não havia muita novidade nos atos.
Nathália fez um gesto para que Rebeka trouxesse a criança. Sabia que aquela seria a única forma de fazer a irmã se submeter aos caprichos da avó.
-- Não será necessário, ela vai ler.
Foi só naquele momento que o detetive falou, aproximando-se.
A arquiteta o encarou, estreitando os olhos de forma ameaçadora. Mesmo o rosto ensanguentado podia mostrar a fúria que estava a sentir.
Ele chegou mais perto ignorando o olhar perscrutador da jovem Hanminton.
-- Leia, Valerie, ou a sua irmã trará o Victor aqui… Tenho certeza de que você não deseja isso. Faça a vontade da minha mãe, não seja tola!
A ruiva viu o olhar de triunfo da sua gêmea e foi naquele momento que percebeu que não havia apenas os dois brutamontes que a espancaram. Observou os outros surgirem e apontarem as armas para seu filho.
-- Afastem-se dele! -- Disse por entre os dentes. -- Afastem-se! -- Ordenava.
Sentiu a pancada ao ser atingida com o cano de arma. Sentia o sabor do sangue e imaginou se conseguiria se manter acordada ainda.
-- Se deseja castigá-la, deve bater menos ou vai desacordá-la, assim, não haverá prazer em tudo isso. -- Rick advertiu a mãe.
Isadora o encarou desonfiada.
-- Sim, está certo, ainda a quero para o show final. -- Aproximou-se, segurando-lhe os cabelos. -- Leia, querida netinha,estou apenas te pedindo algo simples... sei que aprendeu a ler...
O maxilar da ruiva enrijeceu, enquanto fitava a todos desdenhosamente.
Tentou segurar o papel, mas as mãos tremiam demasiadamente. O fluxo carmim parecia jorrar das feridas, provavelmente tinha quebrado alguns dedos quando tentou se proteger dos socos.
-- Tome! -- A duquesa lhe estendia praticamente diante dos seus olhos.
Mais uma vez a arquiteta tentou, mas oscilava descontroladamente.
-- Eu não consigo…
Nathália se aproximou com um sorriso sádico.
-- Que dó! Minha maninha não consegue segurar um simples papel. -- Fitou Rebeka. -- Traz o garotinho, acho que a Nath vai conseguir ter mais forças diante dele.
A loira mais uma vez se condoeu diante do temor que via presente nos olhos verdes.
Deus, como ela ainda estava viva?
A blusa de seda branca que ela usava estava suja. Havia uma mistura de sangue com terra. A calça de corte justo, jeans azul, tinha perdido a elegância. havia um corte no lábio inferior, estava inchado,os olhos tinham hematomas e o supercílio jorrava o líquido da vida.
Lentamente se aproximou, sabendo que não poderia se negar a fazer o que lhe mandavam.
Sabia que nada poderia ser feito naquele momento e mesmo não sendo religiosa rezava a Deus para que um milagre acontecesse e salvasse aquela mulher que admirava e amava.
Teve vontade de rir da ironia do destino. Como sua mãe, apaixonara-se pela rejeitada neta da duquesa.
Receosa, aproximou-se.
Nathália pegu uma das armas e apontou para Victor. Fazia com tanta crueldade sem se importar de se tratar de uma indefesa criança.
O menino dormia inocentemente com a cabeça encostada no ombro da loira.
-- Deixe-o! -- A Valerie exigiu.
-- Segure a carta e leia! -- A preferida da matriarca ordenou engatilhando o revólver.
Isadora com um riso maligno sacudia a missiva diante da odiosa neta.
Natasha fitou o filho que parecia tão tranquilo em seu sono. Os cabelos avermelhados caiam em sua testa. As bochechas rosadas pareciam ainda mais coradas. Ele chupava o polegar ruidosamente.
Valentina tinha feito um ótimo trabalho. Sua criança crescia linda e forte.
Lembrou-se da morena de olhos negros e agradeceu aos céus por ela não estar ali. Seria terrível se a machucassem.
-- Já disse para ler!
Todos olhavam a cena, fitavam o espetáculo como os torneios de gladiadores que ocorriam no antigo Coliseu, vibravam com as atrocidades cometidas e torciam para que a ruiva resistisse para que a diversão não terminasse rapidamente.
Mais uma vez a empresária tentou, fitou os dedos machucados, cerrou os dentes para não gritar de dor, ofegava quando segurou o papel envelhecido.
A folha balançava como as das árvores na época do outono antes de cair nos quintais.
Isadora bateu palmas.
-- Eu sabia que conseguiria. -- Disse sorridente. -- Agora, leia!
A arquiteta assentiu, mas não começou imediatamente a executar as ordens.
Observava as letras, a forma delicada de escrever, os traços familiar daquela escrita.
Seu pai tinha redigido o texto do próprio punho. Sentiu um arrepio em sua espinha, fitou novamente os presentes e depois começou com voz firme:
“ Isa, peço por tudo o que vivemos que me deixe ser feliz com a Elizabeth, ninguém manda nos sentimentos, nem no coração. Entendo a sua raiva, mas precisa reagir, precisa entender que não tivemos culpas do que se passou, foi uma brincadeira do destino, um ato simplesmente dele.”
A Valerie via os resmungos da avó e continuava.
“ Beth está grávida, em breve teremos nossa família. Imagina, uma criança para podermos amar, para podermos ver crescer e correr pelas terras verdejantes da Irlanda. Você será avó, terá alguém com seu sangue para herdar seu orgulho, a cultura que tanto deseja repassar. Com certeza nascerá com os cabelos vermelhos, será um anjo ruivo”
Natasha teve que se segurar para não gargalhar diante daquele trecho, mas diante do olhar irado, prosseguia.
“ Sei que a perda do nosso filho representou algo terrível para você, eu entendo e também sofro… “
-- Onde está o resto? -- A jovem indagou ao fim percebendo que o texto estava incompleto.
-- Isso não é da sua conta, idiota! -- Aproximou-se de Rick. -- Veja, foi por culpa dela e da Elizabeth, seu pai nos amava, ele desejava ficar ao nosso lado.
-- Eu acho que ele percebeu como você era uma sociopata perigosa e decidiu fugir…
Dessa vez fora Nathália quem lhe bateu com o cabo da arma.
A ruiva ainda se levantou para revidar ao ataque, mas os capangas das Hanmintons a fizeram sentar fortemente.
-- Acho que esquece que estamos com teu filho aqui.
O garotinho despertou diante dos brados. Fitou a mãe e começou a se debater no colo da loira para ir até ela e como lhe fora negado, seu choro alto se fazia eco naquele lugar.
-- Faça-o calar antes que o mate! -- Ordenou a Rebeka.
-- Deixe-o ir, ele não tem nada a ver com isso, é comigo o problema de vocês e não com ele! É apenas um bebê.
-- Sim, eu sei, mas depois que você estiver morta vou usá-lo para atrair minha futura esposa e sua viúva… Ela vai ter que aceitar meus termos ou terá um fim trágico.
Valentina conseguiu encontrar Pepi e para sua surpresa na casa do avô. Tinha seguido para lá em busca de algo que informasse onde o palhaço poderia ter ido.
-- Filha, o que se passa? -- Nicolay indagou preocupado ao vê-la com a expressão consternada.
-- A Natasha, meu filho… -- Passou a mão pelos cabelos. -- Isadora e Nathália estão com eles. -- O pranto já saia em descontrole.
O conde a abraçou, depois fê-la sentar em uma das poltronas do escritório, fez um sinal para a empregada trazer algo para a neta beber.
-- Mas como? -- Pepi indagou. -- Seu avô me disse que tudo estava quase resolvido.
A morena fez um gesto negativo com a cabeça, enquanto limpava as lágrimas com as mãos.
-- Eu preciso que venha comigo, o circo, estão lá, tenho quase certeza que estão lá.
-- Mas como? -- O palhaço indagou duvidoso. -- Cézar liberou a todos, pois disse que o terreno seria dedetizado. Não há ninguém lá.
Uma das subordinadas do conde chegou com uma xícara, entregando a jovem.
-- Eu não quero, preciso apenas que venha comigo até lá.
O conde se levantou.
-- Está louca? Não pode simplesmente ir até esse lugar, acha mesmo que se realmente as duas estiverem com eles, vão estar sozinhas? A polícia que deve ir.
-- Vovô, se a polícia for não haverá salvação para eles, o senhor sabe como a duquesa odeia a Natasha. Vai matá-la.
-- E se você for, será mais uma na lista delas.
O aristocrata não permitiria que a neta corresse esse risco, entendia o desespero dela, mas não poderia ceder, não poderia perdê-la. Seguiu até o telefone:
-- Falarei com o delegado agora mesmo!
-- Não, vovô, por favor não faça isso!
O velho hesitou diante da súplica, Pepi se aproximou pensativo.
Nunca na vida viu sua menina tão desesperada. A face bonita estava corada das lágrimas que derramavam em sua tristeza e desespero.
-- Podemos ir até lá como palhaços. Veríamos se há fundamentos nas suas suspeitas e se assim o for, falaremos com a polícia.
O olhar de Nicolay era de total reprovação.
-- Você está louco também? Não permitirei isso.
Valentina se levantou com olhar desafiador.
-- E vai me trancar em meu quarto como meu pai fez? É isso? -- Afrontou-o de cabeça erguida. -- Vai me manter lá até que o meu filho e a Valerie estejam em caixões? -- Cerrou os dentes. -- Vai ter que colocar todas as grades do país, pois eu não descansarei até me livrar de todas.
Nicolay soltou um longo suspiro.
Sabia que não a deteria e se o fizesse, teria para toda a eternidade a mágoa da bela circense. Conhecia-a suficiente para saber que ela não aceitaria um não, mas como poderia deixá-la se arriscar numa missão praticamente suicida?
-- Por Deus, meu bem, eu só quero te proteger, entenda o risco que está correndo.
-- Eu não sou tão burra como deve pensar, não irei aparecer para Isadora e Nathália, sei que eu seria mais uma peça a ser usada na maldade delas, porém não posso deixar que a polícia tome a frente, pois pode ser ainda pior.
-- Então irei com vocês, lavamos alguns homens, vamos fazer isso juntos!
A morena sorriu e abraçou o avô.
-- O Pepi não vai me deixar fazer nenhuma loucura. -- Tocou-lhe a face. -- Não me impeça, por favor.
-- Eu a protegerei, senhor! -- Pepi tentava mostrar confiabilidade,mesmo temendo os resultados daquele ato.
O conde voltou a apelar:
-- Irei com vocês, prometo que apenas ajudarei no seu plano, nada mais que isso…
-- Não podemos ser vistos, vovô, se formos vestidos de palhaços seria mais fácil, então por favor, fique aqui, levarei o celular e te deixarei informado de tudo, prometo.
Nicolay não desejava permitir que ela partisse, mas sabia que não poderia fazer muito naquele momento a não ser rezar.
Aproximou-se de Pepi, apertando-lhe a mão.
-- Cuide dela, não a deixe fazer nenhuma loucura.
O aristocrata viu-os deixarem apressadamente a mansão e mesmo sabendo que não deveria, telefonou para o delegado.
Dois carros seguiam em alta velocidade, levantando a poeira pela estrada de barro.
Ao longe as lonas já apareciam envelhecidas pelo sol.
O delegado estacionou bastante afastado, dentro de uma antiga construção abandonada que em outrora devera ter servido como a uma fábrica.
Os blocos de concreto apresentavam tonalidade esverdeada dos musgos que se apossavam. O telhado tinha cedido em muitas partes.
Os policiais seguiam com arma em punho e observavam os movimentos, averiguando se realmente estavam sozinhos.
Leonardo deixou o carro aflito.
Seguira direto até a delegacia e falara com um delegado que Rick tinha lhe apresentado antes de tudo aquilo acontecer.
-- Temos que ter certeza de que a Valerie está lá dentro. -- O chefe de polícia dizia. -- Mas não devemos ser vistos, pois não sabemos o número de homens que podem estar a fazer a guarda da duquesa.
-- O rastreamento do celular da arquiteta leva para outra parte. -- Um dos colaboradores falou. -- Não há carros, apenas a vã da dedetização parada diante do circo.
Antonini passou a mão pelos cabelos, enquanto olhava para o céu. Estava preocupado, pois não havia nenhuma forma de contato com Natasha.
-- Ela disse que vinha para cá! -- Falou firme. -- Precisamos nos certificar disso.
-- Pelo que vejo só a dedetização, o carro está parado lá na frente. -- O delegado disse. -- Mas se acha que temos que ter certeza, iremos até lá e nos certificamos, só não devemos perder tempo quando Isadora pode estar fazendo atrocidades longe daqui.
O celular do comissário tocou, ele pediu licença e atendeu. Ouvia o Vallares lhe narrar rapidamente um fato que logo era comprovado quando um automóvel preto estacionava ao lado do seu.
Irritado, encerrou a ligação.
Leonardo observava indignado quando Valentina deixava o interior do veículo.
-- O que faz aqui? -- o arquiteto questionou preocupado. -- Disse para que ficasse em segurança.
-- Não iria ficar diante do que está acontecendo. Estamos falando do meu filho…
O delegado se aproximou.
-- Vamos manter a calma, se realmente eles estiverem lá vamos descobrir.
Valentina fez um gesto com as mãos.
-- Não, claro que não podemos ir até lá, precisamos de um plano, pois se formos é bem capaz de Isadora fazer algo terrível.
Os policiais se entreolhavam.
-- Não estou enlouquecendo, temos quase certeza de que o dono do circo, Cézar, aceitou participar de tudo isso, pois ele fez questão de inventar a história de dedetização e liberar todos os profissionais do circo. -- Arrumou os óculos pretos. -- A Valerie corre sérios perigos estando nas mãos daquelas duas psicopatas.
-- Tem provas disso? -- O delegado questionou com ceticismo.
Valentina já abria a boca para falar sem esconder sua exaltação, mas Pepi se adiantou.
-- Senhor, chegamos aqui há apenas dois dias, o circo foi armado, tudo colocado no lugar. Estivemos aqui muitas outras vezes e em nenhum momento houve a ideia de exterminar os insetos ou os ratos. Digo isso porque estou há muito tempo trabalhando aqui e garanto que algo está errado nessa história... Nossa estreia foi adiada quando um carro de som já tinha nos anunciados, panfletos foram entregues e de uma hora para outra, ele cancelou tudo.
Mais uma vez os policiais trocaram olhares, depois miraram ao longe a lona colorida. Se realmente houvesse algo de errado não poderiam agir de qualquer jeito, pois colocaria em riscos a vida da empresária.
-- Qual o seu plano? -- O detetive questionou com um suspiro.
Leonardo a enviou um olhar de advertência. Ele sabia que Natasha ficaria possessa se soubesse que a morena estava correndo perigo.
-- Consigam encontrar Cézar. -- Entregou-lhe um cartão. -- Tenho quase certeza de que ele está envolvido. Quanto a mim, vestirei-me de palhaça junto com Pepi e entraremos lá.
-- Você só pode estar louca! -- Exclamava Antonini. -- Valentina, eu ordeno que retorne para casa, óbvio que não irá até lá.
-- Eu não irei para casa! -- A Vallares retrucou com firmeza.
O delegado fez um gesto para que mantivessem calma.
-- Eu posso planejar um pouco melhor… -- Disse com um suspiro. -- Mas se eu perceber que você está correndo perigo, na mesma hora invadiremos o local... Deve seguir as minhas recomendações, nada mais que isso.
A jovem assentiu, enquanto todos ouviam o plano.
Natasha tinha desmaiado novamente após uma nova sessão de espancamento. Isadora e Nathália discutiam afastadas, enquanto Rick estava ao lado de Rebeka e Heloísa.
-- Temos que ir embora, não podemos ficar por muito tempo aqui! -- A neta amada dizia. -- Vamos matá-la de uma vez e incendiarmos esse circo, assim não haverá provas.
A duquesa olhava para o detetive.
-- Ele quem irá matá-la. Quero que ele o faça, quero que ela veja que a pessoa que a defendeu e protegeu lhe tirou a vida.
-- Sim, a senhora já me disse, mas estamos demorando bastante, entenda que estamos correndo riscos. -- Arrumou as roupas. -- Nos livramos dela e em seguida iremos até a Valentina, ela não se negará a ficar comigo, não quando sabe o perigo que o filho está correndo.
Isadora viu a ruiva desmaiada e pareceu se regozijar com a cena.
-- Quero que ela sofra mais, quero que pague por tudo o que nos fez esse tempo todo. Você foi desonrada quando a maldita assumiu o seu lugar no casamento, vai ser motivo de piadas para todos.
-- Não temos muito tempo, a Valentina…
-- Chega! -- Interrompeu-a. -- Está obcecada pela miserável neta do conde, uma desgraçada circense que te trocou pela Natasha. Por mim, acabaria com ela também… Por mim, ela queimaria aqui, ao lado do filho e dessa vagabunda.
O celular de Nathália tocou e ela observou no visor o nome conhecido.
-- O que será que esse idiota quer? -- Indagou atendendo.
A jovem Hanminton ouvia com atenção o que lhe era dito pelo aparelho, enquanto fazia gestos para os bandidos ficarem atentos a qualquer coisa estranha.
Fitou a ruiva caída e desejou que ela já estivesse morta, só assim tudo se resolveria.
Não via a hora de ir ao encontro da neta de Nicolay. Ela teria que ceder ou mataria o garoto. Não haveria mais brincadeiras, queria a Vallares e não desistiria dela de forma nenhuma, mesmo que depois deixasse a avó fazer o que desejasse com ela.
Fitou o detetive, esse teria o mesmo fim que o da Valerie.
Idiota!
Nem imaginava que a duquesa se desfez dele quando nasceu e só o trouxe ao mundo porque fora obrigado pelo ruivo desgraçado.
A duquesa a viu encerrar a ligação e se aproximou da neta.
-- O que ele queria?
-- O maldito Cézar mandou um palhaço aqui para que nos livremos dele também, pelo que me falou, esse sabe um pouco mais. -- Torceu a boca. -- Mais um corpo para ser difícil de identificar quando o fogo lhe queimar os ossos.
-- Acha que isso é seguro? -- Fez um sinal para que um dos homens investigassem para ver se havia pessoas por perto. -- Poderíamos ter ido para outro lugar.
-- Porque aqui é o melhor lugar para nos livrarmos dos corpos, isolado, afastado de tudo e não haverá testemunhas.
-- Como não? Primeiro envolve esse homem depois temos que matar um palhaço.
-- Teremos muito dinheiro para mantê-lo calado, então acabaremos logo com isso.
-- Está bem! -- Fez um gesto para os capangas. -- Vamos terminar logo essa situação, pois quero jantar na mansão do conde essa noite.
A Vallares conseguiu se livrar do policiais e lá estava diante do lugar onde passara grande parte da sua vida.
Observou os troncos fincados no chão e os cabos que mantinha as lonas montadas.
Soltou um longos suspiro ao recordar como tudo ali era passageiro. Viviam a rodar o país, apegando-se e desapegando-se de tudo rapidamente.
Mais a frente viu o trailer que ocupara e se recordou que fora lá que viu pela primeira vez a ruiva que mudara toda a sua vida.
Um homem armado apareceu e fez um gesto para que ela entrasse, ela o fez, tentando não demonstrar o medo que estava a sentir, temor de ser reconhecida.
Entrou e foi como se voltasse no tempo ao observar o interior das grandes lonas.
Seus passos eram inseguros, ainda mais agora que já tinha a confirmação que a duquesa se encontrava lá.
Tentava manter a calma, não se desesperar diante do que estaria por acontecer.
Teria sido Isadora e Nathália tão cruéis a ponto de ferirem seu filho?
Levou a mão ao peito e sentiu o colete por baixo da roupa de palhaço. O delegado estava lá fora, mantinha uma boa distância, ela usava escutas e uma câmera no nariz de palhaço. Precisara burlar a segurança e ainda ouvia no ponto a ira do detetive.
Observou todos os lados em busca da Valerie, mas com certeza ela deveria estar no palco diante de todos.
Outros homens se aproximaram.
Tentava manter a calma.
-- O que você quer? -- Um dos brutamontes questionou.
Valentina não respondeu com palavras, apenas fazia mímicas.
Os bandidos olhavam com desconfiança, mas pareceram se interessar pelo número circense.
Leonardo esbravejava no interior do veículo.
-- Como a deixaram ir até lá?
O delegado observava um dos policiais que tinha vestido a roupa de palhaço.
-- Tínhamos combinado tudo! -- Bateu forte no volante. -- Mas a neta do conde foi irresponsável e agiu como uma inconsequente.
Pepi ouvia tudo e ficava pensando se fora uma boa ideia permitir que sua menina participasse daquilo tudo, mas sabia que seria quase impossível dissuadi-la daquele intuito.
-- Chefe, ela entrou! -- Um dos detetives se aproximou com o celular. -- Está diante de um dos homens. -- Entregou-lhe o aparelho.
Olhavam com atenção, enquanto uma ruga se formava na testa do chefe do departamento.
-- Agora o senhor tem a prova! -- Antonini deixou o carro. -- O que faremos agora? Meu Deus, o que será feito?
-- Precisamos manter a tranquilidade, não podemos invadir, iremos estudar tudo pelo vídeo e quando vermos que poderemos entrar mantendo a segurança de todos, faremos. -- Pediu o celular ao policial. -- E a neta do conde se sair viva, vou mandá-la direto passar uma noite na cadeia, assim ela aprende a agir com responsabilidade.
-- O palhaço está lá fora, senhora! -- Um dos homens veio avisar. -- Não entendi nada, não fala, acho que é mudo ou surdo, sei lá!
Nathália trocou olhares com a avó.
-- Já está aqui, já sabe que não está havendo dedetização nenhuma, melhor colocá-lo para dentro e deixar que morra junto quando incendiarmos tudo. -- A mais jovem disse. -- Só não podemos perder mais tempo, não me sinto segura aqui.
A duquesa parecia ponderar.
-- Imagino que esteja ansiosa para ir atrás da maldita Valentina e obrigá-la a ficar contigo.
-- Claro, para todos eu serei a Natasha e ela vai ter que aceitar, pois não ousaria arriscar a segurança do filho. -- Segurou o braço da avó. -- Nós temos o plano perfeito, vovó, desta vez conseguiremos tudo o que planejamos a vida inteira. A partir de hoje Nathália será vista como morta, nenhum crime será imputado a mim.
-- Não esqueça que ainda preciso me livrar de todas as acusações.
-- No vídeo eu assumi tudo, nada sobrará para a senhora. -- Tocou-lhe a face. -- Acredite em mim, vamos triunfar, mas deve aceitar o que estou propondo.
A Hanminton parecia descrédula, mesmo assim sabia que sua única salvação seria a neta, afinal, todos iriam contra ela, mas tinha certeza de igual a todos os outros crimes que fora cometidos, esses também sairiam impunes.
A duquesa jamais seria punida, pois ela nascera com a missão de salvar o mundo de seres inferiores.
Com um gesto de mão comandou:
-- Deixe que o palhaço entre, mas não o deixe sair mais!
Nathália sorriu, enquanto seguiam de volta ao picadeiro.
Valentina sentiu a arma em suas costas e foi empurrada até o local onde aconteciam os shows noturnos.
Era naquele espaço que os artistas esqueciam suas tristezas e produziam os risos. Naquele lugar não se levava problemas, não se tinha angústias, apenas o desejo de trazer um momento de felicidade aos que viviam em rotinas massacrantes.
A neta do conde sempre teve em sua mente que todas as pessoas deveriam pelo menos uma única vez na vida experimentar a magia do circo, sentar em um daqueles bancos e mergulhar na leveza do palhaço que com suas arlequinadas faziam a todos engasgar com as pipocas, ou a tensão que se vive quando olha os trapezistas voando por aqueles ares, desafiando a gravidade e agindo como se fossem imortais.
Os olhos negros que antes apresentavam um brilho saudosos, agora fitava a bela Valerie desmaiada ao chão de terra batida.
Cerrou os dentes quando viu Nathália lhe jogar um balde de água.
Deus, como podiam ser tão cruéis?
Viu-a ser arrastada e sentada violentamente em uma das cadeiras de alumínio que costumava ser usada na área vip.
Mirou a face toda ferida, havia sangue por todas as partes, mas os olhos verdes continuavam vivos, fortes impetuosos.
Fechou as mãos ao lado do corpo, tentando manter a tranqulidade, tentando ver uma forma para que pudessem salvar a todos.
Havia mais bandidos do que imaginara e todos usavam armamentos pesados.
Como a polícia invadiria? Pior, nem mesmo poderiam pedir rendição, pois tinha certeza de que a duquesa antes acabaria com Natasha e com o filho.
Observou a criança nos braços de Rebeka e não soube de onde tirou forças para não ir até ele.
Victor dormia tranquilamente, em sua inocência não imaginava o que estava a acontecer naquele momento.
-- Está olhando o quê?
Seus pensamentos foram interrompidos por um dos capangas que a empurrou.
-- A patroa não gosto de curiosos, então melhor parar de observar as coisas.
A Vallares fez um truque antigo, em suas mãos enluvadas, fez gestos e logo tirava uma rosa, entregando ao homem.
Eles pareceram se divertir com os truques e pediram mais.
Natasha sentiu a cabeça ser puxada com violência para trás. Abriu os olhos com dificuldade e mais uma vez retornava ao pesadelo.
-- Não trouxemos você aqui para dormir, irmanzinha!
A ruiva trincou os dentes diante do sorriso da sua gêmea.
-- Ah, sim, pensei que seria acordada com um delicioso café da manhã e um banho de hidro.
-- Acha mesmo que vai sair daqui com vida? -- A duquesa se aproximou. -- Quero ver se continuar com seu deboche quando eu cortar cada parte do seu corpo para não correr o risco que volte novamente do inferno para infernizar nossas vidas.
A Valerie esboçou um riso, depois gemeu, pois sentia cada célula do corpo doer ao mínimo movimento.
-- Sim, você está certa, avozinha, dessa vez precisa se certificar que estarei morta, porque imagina a cena de eu retornando novamente e a neta do conde deixando a Nathália para se entregar a mim mais uma vez…
A herdeira da duquesa em maldades, estapeou a irmã, mesmo assim a ruiva parecia não se importar mais, pois continuava a rir.
-- Não tem medo que eu mate seu filho? -- Indagou, enquanto lhe segurava pelos cabelos.
-- Se você o fizer não vai ter como chantagear a Valentina, então eu acho que você não seria tão idiota a esse ponto, afinal, se o Victor existir, ela vai se entregar, caso contrário, nem com reza braba ela aceitaria ser tocada por ti.
Rick tentou não gargalhar diante das palavras, então ela tinha ouvido o que lhe sussurrou quando a afastou no chão.
-- Vamos matá-la de uma vez, vovó, não vejo razões para deixar essa miserável continuar a respirar.
-- Ah, sim… -- Natasha falou com dificuldade. -- Faça o que ela diz, acabe logo com isso, eu mesma já estou ansiosa para descansar no céu. -- Debochou. -- Acho que minhas asas já estão prontas...
A neta de Nicolay estava perplexa diante do que via, pois em nenhum momento Natasha se mostrava assustada, ao contrário, desafiava ainda mais as Hanmintons, mesmo sabendo como era odiada pelas duas.
Teve ganas de ir até ela e fazê-la raciocinar pelo menos uma vez na vida.
Viu Rick e ficou a pensar o que ele fazia ao lado de Isadora, então fora ele quem traíra a arquiteta, fora uma emboscada, mas por que ele agiu de forma tão traiçoeira?
Ouviu a voz no ponto que trazia na orelha.
-- Valentina, se você estiver me ouvindo, arrume um jeito para sair daí, teremos que agir e você pode se machucar.
A circense sabia que se isso acontecesse não haveria chances para Natasha. Precisava pensar em algo, alguma coisa que fosse capaz de salvar a arquiteta e o filho, não poderia de forma alguma permitir que a polícia entrasse ali.
Inclinou a cabeça de um lado a outro para que o delegado tivesse noção de quantas pessoas estavam ali dentro e como usavam armas pesadas. Seria um verdadeiro assassinato se eles invadissem.
-- Como vão entrar aí? -- Leonardo questionava estupefato ao ver a situação no interior do circo.
-- Meu Deus, como a Isadora está sendo cruel, ela vai matar a Nath, não acredito que ela aguente por mais tempo.
O arquiteto andava de um lado para o outro. Sentia-se de mãos atadas, sabendo que nada poderia fazer naquele momento, sentindo que falhou ao proteger a Valerie, que subestimou a duquesa em sua maldade.
Agachou-se ali, baixou a cabeça e deixou que as lágrimas caíssem.
Não deveria ter aceitado trazê-la para a cidade, deveria ter seguido os planos da Vallares e tê-la deixado naquelas terras isoladas até que estivesse segura.
Observou o terreno deserto, os carros parados tão longe, pois sabiam que se chegassem perto seria bem pior, e qual seria a solução?
Isadora não cederia. se algo a ameaçasse, provavelmente ela agiria impulsivamente e mataria a neta que tanto odiava.
Levantou a cabeça e olhou o céu por entre as frestas do telhado destruído. Estava cheio de nuvens brancas.
Leonardo ficou a pensar na existência de Deus, sempre fora cristão e naquele momento apenas se segurava em sua fé, orando para que a Valerie não fosse tão castigada por culpas que nunca teve.
O delegado se aproximou, soltando um longo suspiro.
Não negava que chegara realmente a duvidar da veracidade das acusações que fizeram a duquesa, afinal, quem desconfiaria de uma mulher tão respeitosa quanto à Hanminton?
Piedosa, vista sempre nos eventos beneficentes, aclamada como uma verdadeira dama pelos jornais de todo o país, conhecida por sua idoneidade, por seu caráter imaculado. Quais as razões para agir daquele jeito?
-- Senhor Antonini, vamos negociar com a duquesa, com certeza ela não vai querer que invadamos lá e a matemos… Seria burrice trocar tiros, poderia sair ferida.
A arquiteto meneou a cabeça negativamente, enquanto se levantava.
-- O senhor ainda não entendeu a dimensão do problema… -- Suspirou -- Ela vai matar a Natasha assim que se ver encurralada.
-- Se ela o fizer sua pena ainda ser pior!
-- Delegado, com todo respeito, mas o senhor não tem ideia de como Isadora odeia a neta, acha mesmo que cinquenta ou cem anos dentro de uma prisão vai trazer uma vida de volta?
O chefe de polícia colocou as mãos no bolso da calça, chutou uma pedrinha com o sapato social e fez sinal para que lhe trouxessem o celular.
Estudava tudo com atenção, precisa se apressar, pois sabia que a empresária talvez não resistisse muito.
Segurou o pequeno microfone.
-- Valentina, eu preciso que tome cuidado, não devem sonhar quem está aí…
-- Senhor, Pepi sumiu.
O policial veio rápido avisar.
O delegado jogou o microfone no chão, enquanto praguejava alto.
-- Acho que a Natasha ainda não sentiu na pele tudo o que precisa para pagar pelo que fez. -- O detetive interferiu. -- Acho que tudo foi pouco.
-- Eu ia te chamar de filho da puta… Mas lembrei que nem para isso a duquesa serve.
Isadora a esbofeteou com tanta força que a derrubou da cadeira.
-- Levantem essa miserável! -- Ordenou.
Os homens fizeram com brusquidão, mas a ruiva parecia não ter mais forças para se manter ereta.
-- Acho que ela não vai aguentar muito, que pena, irmanzinha! -- Nathália sorria perversa. -- Não vai demorar para se encontrar com sua esposinha. -- Arrumou-lhe a cabeça, fazendo-a encará-la. -- Eu transava com a Verônica na sua caminha, ela gemia gostoso para mim…
A Valerie umedeceu os lábios, estavam com muita sede, mas a única coisa que encontrou foi o sabor do sangue.
-- Ah, querida… -- Dizia com dificuldade -- eu transei com a trapezista na sua lua de mel… Nossa, como ela é maravilhosa.
Nathália já levanta a mão para feri-la, mas o detetive a deteve.
-- Como ousa? -- A herdeira da Hanminton questionou.
-- Se você bater nela, ela não vai acordar mais, está muito fraca e já foi muito espancada.
Isadora via tudo com desagrado.
-- Eu acho que um castigo grande para a Natasha é morrer queimada, mas consciente. -- Rick fitou a duquesa. -- Pense como será perfeito, ela sendo consumida pelas chamas.
Os olhos da matriarca brilhavam diante da ideia.
-- Está certo, filho, vamos deixá-la se recuperar um pouco. -- Falou com um sorriso. -- Deem água a ela e tragam o palhaço, vamos fazê-la despertar um pouco.
O detetive viu o olhar de ódio de Nathália. Ele sabia que por ela, a ruiva já teria sido executada.
Observou o palhaço se aproximando. Todo colorido, usava peruca azul, roupas amarelas com bolinhas celestes, um sapato vermelho maior que os pés. Observou a maquiagem perfeita.
Valentina se aproximou da Valerie.
Agora via como fora judiada, como a cabeça pendia para o lado. O sangue seco estava por toda parte.
Sentiu vontade de chorar ao vê-la daquele jeito, mas não podia agir de forma impensada naquele momento.
Natasha não pareceu se interessar pelas palhaçadas do cômico personagem, nem mesmo o olhou, apenas se importando em localizar o filho que parecia despertar nos braços de Rebeka.
Viu-o fazer manha, com certeza estava em busca da mãe.
Era uma criança tão linda, desejou ir até ele a tomá-lo nos braços.
Viu os risos do capangas de Isadora, então fitou o palhaço que parecia um idiota em meio a tudo aquilo.
Isadora e Nathália bebiam vinho um pouco afastada. Rick tinha ido se juntar a elas.
Qual era o jogo do detetive?
Observou a rosa que lhe foi oferecida pelo bufão.
Fitou-o e foi naquele momento que viu os olhos tão negros a lhe mirar.
Com certeza já estava delirando, pois começava a imaginar coisas.
Viu o saltimbanco se agachar e tomar delicadamente sua mãe que manchou as luvas brancas de sangue. Fitou-o tocá-las com cuidado, com simpatia.
Voltou a mirá-la, então viu o sorriso e os buraquinhos que se formavam nas bochechas.
Os lábios feridos se moveram e mesmo que o som não saísse, era fácil saber o que fora dito:
“Palhacinha!”
Deus, ela estava ali, estava lá e se a duquesa descobrisse seria terrível.
Com dificuldade, sentiu-a colar os dedos aos seus para que flor não se soltasse.
Esboçou um sorriso, enquanto uma lágrima solitária lhe deixava a segurança dos olhos.
Valentina!
Como ela pôde ir até ali?
-- Acho que já chega! -- Nathália se aproximou. -- Afaste-se!
A Vallares se afastou alguns centímetros.
-- Acho que não temos mais que perder tempo, vovó! -- Fez um sinal para um dos capangas. -- Espalhe gasolina por toda área, ah, banhe a minha irmanzinha, ela deve estar com calor, a gasolina vai deixá-la ainda mais bonita.
-- Acho que vai combinar com meus cabelos afogueados…
A circense olhava para os lados e buscava uma alternativa, mas não sabia o que aconteceria agora, então viu Pepi no alto, estava escondido na parte onde os trapezistas costumavam ficar.
Já seguia quando Rick passava por perto de si ficando praticamente colado ao seu lado. Sussurrando ao seu ouvido:
-- Arrume uma forma de tirar a Natasha do chão assim que o fogo começar.
Os olhos negros fitaram o homem sem entender o que se passava.
-- Irei distraí-los e você vai voar por aquele trapézio e vai pegar a Valerie. -- Sussurrava. -- Mexa-se assim que eu começar o show... Não se preocupe com Victor, ele estará em segurança.
Antes que a neta do conde pudesse falar algo, viu Rick se aproximar de um dos capangas e pegar uma das armas, mas antes que eles reagissem, o detetive apontou a pistola para a cabeça da ruiva.
Isadora fez um gesto para que os homens não atirassem, mas mesmo assim, eles continuaram lhe apontando as armas.
-- Maldita seja,mil vezes maldita! -- Apontava a arma para a cabeça da arquiteta. -- Foi tudo sua culpa,miserável, culpa sua eu não ter uma família… -- Falava aos gritos. -- Sua culpa meu pai ter nos abandonado!
A duquesa parecia ter gostado da explosão.
-- Isso, filho, essa desgraçada foi a culpada por tudo.
A amada herdeira da aristocrata observava tudo com ceticismo.
-- Isso é mesmo raiva? -- Nathália indagou incrédula. -- Ainda não me convenceu da sua raiva pela minha irmanzinha. -- Aproximou-se. -- Afinal, você veio até aqui obrigado e em muitos momentos defendeu a Natasha, então realmente não estou acreditando muito nesse teatro. -- Fez um gesto para que os capangas se aproximassem. -- Atire nela!
Rick viu que aquele era o momento perfeito para que a neta de Nicolay agisse. Sabia que Nathália seria imprudente a ponto de esquecer de tudo apenas para realizar seu desejo de ferir a irmã.
Sentiu-a aliviado ao ver que Rebeka tinha conseguido sair. Discretamente viu que Valentina não se encontrava mais por perto. Precisava apenas arrumar uma forma de colocar Natasha no lugar certo.
Fora tolo o suficiente para ser pego na armadilha da jovem Hanminton, então mesmo que lhe custasse a vida, salvaria a da Valerie.
-- Não acredita em mim? -- Indagou em um sorriso de perplexidade. -- Então enfileire seus homens aqui e mandem me matar, pois você não dividiria a sua amada avó comigo.
Os homens fizeram idiotamente o que a futura duquesa disse.
Isadora se aproximou.
-- Vamos acabar logo com isso!
-- Sim, nós vamos, mas apenas quando o seu filhinho atirar na Nath, quero ver se realmente ele tem coragem para isso. -- Aproximou-se da irmã, segurando-lhe os cabelos com força, obrigando-a a levantar a cabeça.
A ruiva sabia que estava perdendo as forças, naquele momento só queria deitar em algum lugar e descansar, mas ainda não era o momento.
-- Atire aqui! -- Nathália apontou para a têmpora da irmã. -- Quero ver o buraco que vai ficar nessa pele tão bonita.
A respiração da arquiteta estava pesada,ofegava, mas ainda conseguiu forças para falar:
-- Eu só acho que vocês deveriam… -- Cerrou os dentes. -- Decidam logo como vou morrer porque eu juro que não aguento mais.
O detetive se aproximou, agarrando-a pela gola da blusa, levantando-a da cadeira, enquanto encostava o cano frio na parte apontada pela querida da matriarca Hanminton.
Todos pareciam ansiosos para aquele desfecho.
A duquesa vibrava, Nathália o olhava em desafio, os capangas pareciam seguros que ninguém tentaria contra aquela paz e se divertiam como se estivessem a assistir a um espetáculo circense.
-- Atira nela, você consegue encontrar um canto que só vai deixá-la sangrar, sem matá-la, porque meu desejo é que o fogo a consuma viva.
O detetive mirou Natasha.
Era uma mulher muito forte, a melhor com toda certeza daquela família, a mais forte e a mais inteligente.
Aproximou-se um pouco dela, sussurrando em seu ouvido para que os outros não ouvissem.
-- Levante os braços, sei que vai ser difícil, meu bem, mas pense no seu filho… Faça pela Valentina… mesmo que não lembre dela, você a ama… E eu amo você, me perdoe… Me perdoe… Eu falhei...
-- Atire ou atiramos em você!
O rapaz inclinou a cabeça para trás e seus olhos focaram na morena que já estava pronta.
-- Agora! -- Gritou.
Antes que os presentes pudessem entender o que acontecia, Valentina voava em seu trapézio, esticando-se ao máximo e tomando em seus braços a bela ruiva que logo desfalecia.
No alto se ouvia os tiros, mas a neta do conde não sabia mais o que se passava, pois lutava para não permitir que a amada caísse. Viu o fogo se alastrar rapidamente e agradeceu a Deus por Rebeka ter conseguido deixar o circo antes de toda aquele desenrolar das ações.
Vc é espetacular...Amo sua escrita!!!! Muito obgda!! Mega ansiosa!!!!🌹
ResponderExcluirOlá boa tarde, vc escreve muito bem amo tuas histórias ....ansiosa... e o bom é saber q o detetive não traiu ela 😊...será se a palhacinha vai fik ferida? Ñ pf kkķ
ResponderExcluirQuerida Geh boa noite, capítulo espetacular amei
ResponderExcluirVolte logo... Por favor.
ResponderExcluirOlá autora queridíssima.
ResponderExcluirTenso DEMAIS,quase morro de aflição com essa situação,mas a Valentina com certeza daria seu jeito.
Essas duas tem que morrer queimadas,principalmente essa "veia" e essa irmã invejosa tem que morrer nas mãos dos compassas dela. Elas não podem ser só presas,porque presas ainda podem fazerem maldades,só a morte para esses demônios.
Volte logo por favor.
Oiê..Boa noite..qdo teremos atualização...adoro suas histórias, essa quarentena me deixa mais ansiosa esperando por vc!!! Ta TD bem por aí com vc e sua família?
ResponderExcluirQueria ver essa cena no cinema ou Netflix. É desafiadora
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