Dolo ferox -- Capítulo 47


                   Um vento frio soprava as cortinas finas e brancas que protegiam o interior do pequeno lugar dos olhares curiosos. Tudo estava em seu perfeito lugar. As poltronas gastas, as xícaras de café sobre o centro de vidro. O silêncio que era maculado pela respiração do único que restara naquela sala.
                    Rick lia mais uma vez o diário que fora lhe entregue logo que retornara do acidente que quase matou Natasha. Observava com atenção a caligrafia bonita de Verônica que narrava cada um dos fatos com verdadeira precisão. A filha do conde parecia ter um interesse grande em relatar os detalhes, talvez prevendo não estar ali para que pudesse contar a história para todos. Havia duas brochuras e naquela era possível perceber o tom de crítica que ela usava diante dos atos cruéis das Hanmintons. Os Brancamontes mantiveram aquele caderno de anotações muito bem guardado, sabendo que poderiam manipular a poderosa matriarca através dele.
                    Novamente focou em seu nome...
                    Devia ter contado para a Valerie aquele fato.
                    Levantou-se em agonia, enquanto seguia até a janela e buscava respirar o ar poluído que era produzido pelos veículos que passavam por ali.
                    Olhou sobre os ombros e observou o celular sobre uma das poltronas. Poderia ligar para Natasha naquele momento e lhe relatar todo acontecimento.
           Todos tinham saído do apartamento, mas ele ainda não tinha partido. Ainda imaginava ter um pouco de tempo, imaginava que pudesse raciocinar sobre todos os labirintos que lhe traçavam seu caminho. 
                    Seguiu até a geladeira, pegou uma cerveja e voltou para a cadeira.
                  Onde estariam as páginas que faltavam naquele diário? O que elas poderiam revelar ainda?
                   Os dedos longos tamborilavam no tampo de madeira. Sentia-se em uma verdadeira agonia, angustiado com suas indagações sem respostas. 
                      Voltou a leitura e novamente seguiu até a página que falava sobre o nascimento da arquiteta.
              A duquesa não era apenas o ser obcecado pelo poder, era também a alma mais insensível que já conhecera em toda a sua vida, mas qual a razão de tanto ódio?
              Quando seu destino cruzara com a Valerie e decidiu ajudá-la, chegara a pensar que se tratasse apenas de uma simples briga de família, mas agora entendia o quão perigosa era a matriarca dos Hanmintons e ela não descansaria enquanto não se livrasse da neta odiada.
                Apoiou as mãos no tampo da mesa, levantando-se.
                Ouviu os gemidos no quarto e lentamente seguiu até ele.
                Os olhos tão verdes se abriram, mirando-o intensamente.
                Nathália!
                A amada de Isadora, sua cúmplice em quase todas as maldades estava acordada.
                        -- Mais uma vez ajudando a minha irmã... -- A voz rouca falou.
                        Ela estava presa no leito e não pareceu se importar em estar algemada.
                        -- Você é o anjo da guarda da única culpada por ter sido abandonado a própria sorte.
                        O maxilar do detetive enrijeceu.
                        -- Acho que sua participação nessa história vai ser concluída na cadeia... Hoje mesmo serão denunciadas e começarão a pagar por tudo o que fizeram.
                        Um sorriso brincou nos lábios cheios de dentes alvos. Observou o diário que ele trazia em uma das mãos.
                       -- Então fora entregue a você... -- Mordiscou a lateral do lábio inferior. -- Já contou para Natasha que vocês dividiram o mesmo pai? Porém, ela foi a única amada pelo viking Valerie, você foi jogado fora, talvez se sua mãe não tivesse levado a frente a gravidez desafiando o monstro de cabelos ruivos, você não estivesse aqui agora...
                         Rick assentiu.
                         -- Não tenho tempo para ouvir suas besteiras, tenho coisas para resolver. -- Já girava nos calcanhares para deixar os aposentos, mas a voz baixa e controlada lhe deteve.
                         -- Nem para saber quem é a sua mãe?
                         Nathália esperou que ele lhe fitasse, sabia que ele o faria. Antes de um dos irmãos da máfia ser acometido por uma doença, ele lhe contara que já sabia quem era o irmão perdido da arquiteta. Esperara pacientemente para usar aquela informação.
                          Quem diria que mais uma vez a maldita ruiva escaparia da morte!
                          -- Não há nada que me interesse ouvir de você, hoje mesmo as Hanmintons pagarão caro por tudo o que fizeram.
                    A bela mulher apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
                            -- Vá, denuncie-nos, seja mais uma vez o herói da minha irmã... Condene a duquesa a morrer em uma prisão fria... -- Encarou-o. -- Condene a mulher que te deu a vida a um fim tão trágico.



                    O carro sedã preto seguia pela avenida movimentada. O motorista do conde Vallares usava seu uniforme oficial preto com seu kepe.
              O dia parecia frio, mesmo o sol aparecendo por entre as nuvens, buscando seu espaço naquele céu cinza. O rádio estava sintonizado em uma emissora e uma música latina, em uma impecável voz feminina invadia o ambiente.
               A bela Valerie seguia acomodada no banco de trás e ao seu lado, praticamente colada à porta, seguia a neta de Nicolay. Talvez o couro que revestia todo o veículo não fosse tão glacial quanto a atmosfera entre elas.
         Valentina observou quando o semáforo fechou e um palhaço apareceu fazendo malabarismo para conseguir uns trocados.
            Esboçou um sorriso e baixou o vidro. A figura colorida se aproximou e fez algumas palhaçadas o que lhe arrancou uma gargalhada.
               Há algum tempo ela se via ali. Um pouco menor, toda pintada ao lado de Pepi.
                      Deus, nem conseguira vê-lo com a correria que se passou. Assim que tudo se resolvesse levaria o filho para conhecê-lo, devia tanto ao simples homem que a acolheu quando ficara sozinha no mundo. De repente a imagem de Nícolas surgiu em seus pensamentos. Não voltara a vê-lo depois que fora preso, sabia que agia de forma cruel, mas ainda se sentia magoada por tudo que ele fez.
              Natasha observava tudo com curiosidade.
              Viu em segundos a expressão sisuda se transformar naquela aura encantada. Observou-a abrir a bolsa que carregava e dar uma quantia generosa ao cômico personagem. Imaginou-a assim já que não havia lembranças dela antes de encontrá-la na fazenda.
              Por que ela não estava entre sua memória recuperada? O que se passava consigo?
              Valentina…
              De repente os olhos negros se voltaram para si.
              Eles pareciam acusadores naquele momento. Tão negros e intensos…
              Sabia que ela estava brava e havia todos os motivos para aquela atitude, afinal, não tinha se comportado bem, na verdade nem sabia como se portar com a jovem.
          Isadora, com certeza, riria naquele momento e a chamaria de selvagem e no fundo a odiosa avó estava certa. Não sabia como agir diante de emoções, não sabia o que dizer ou o que fazer, apenas agia com o cinismo e sarcasmo que fazia parte dos seus anos de vida. Poderia ser vista como uma insensível, alguém desprovido de sentimentos, de emoções, porém não era assim.
                Desviou o olhar. Inclinando a cabeça para trás, fechou os olhos.
              A única coisa que deveria pensar era em poder livrar o mundo das maldades da duquesa e da irmã.
                Por que Nathália se prestou em fazer tudo aquilo?
             Nunca parou para pensar sobre isso, mas agora era uma questão que se mostrava o tempo todo em seu cérebro.
           A irmã fora criada com todo o amor que um ser humano desejaria. Teve as melhores escolas, estava sempre cercada de amigos, comparecia a festas badaladas, tirava férias em países exóticos… Pode-se dizer que ela teve tudo o que seria necessário para ser feliz… Sem falar que a circense se apaixonara por ela… A Verônica…
                 Óbvio que se encantaram, quem não se encantaria?
                 Uma lady em seus modos mais afetados…
                 Então por que ela se prestara a participar de um jogo tão perigoso e cruel?
               Lembrou-se da época que desejara que fossem unidas, que pudessem dividir segredos, mesmo que brigassem como fraternos costumavam fazer.
          Via-se ali, uma criança de cabelos avermelhados a observar a irmã, desejando se aproximar, desejando que fossem amigas.
                 Soltou um suspiro e isso chamou a atenção da morena.
                Fitaram-se novamente, mas dessa vez a voz baixa de Valentina indagou:
               -- Para onde estamos indo?
               -- Vamos para a cobertura, te deixarei lá e logo seguirei ao encontro de Rick.
               -- E o meu filho?
               -- Helena e Rebeka estão com ele, protegerão o Victor.
              -- Acha mesmo que elas teriam alguma chance contra a Isadora? -- Questionou cruzando os braços. -- Quero voltar agora mesmo.
             Natasha entendia o temor da bela mulher, entretanto, tudo fazia parte do plano. Havia homens disfarçados na casa, seguranças que também estariam o tempo todo alertas diante de algo suspeito.
               -- Vamos até a cobertura e você ficará lá, não a quero correndo riscos.
            -- Eu não ficarei trancafiada em seu apartamento, enquanto a Isadora e a Nathália não estiverem presas.
              -- Não seja teimosa!
              -- Teimosa? -- Arqueou a sobrancelha esquerda. -- Não acho que seja eu a teimosa aqui.
                 A ruiva mordiscou a lateral do lábio inferior.
               -- O que você quer então? Enfrentar as duas, mulher maravilha?
               Valentina tentava manter a calma, mas já estava exaltada.
             -- Diga-me apenas uma coisa: Por que essas duas não estão presas ainda? O que falta? Ela matou a minha tia, foi responsável pelo atentado a sua vida… Isso já é suficiente para um mandado de prisão.
             A Valerie não respondeu de imediato, pois sabia que ela estava certa em suas colocações, entretanto o detetive pedira mais tempo para que as provas não pudessem ser contestadas.
               -- Eu irei ao encontro de Rick e terminarei com tudo de uma vez por todas.
         A Vallares fez um gesto de assentimento com a cabeça, voltando a prestar atenção ao percurso.
            Estava preocupada com toda aquela história, temendo que algo terrível pudesse acontecer naquele intervalo de tempo.



              Rebeka observava o garoto a dormir.
              Aproximou-se do berço.
              Ele era tão lindo quanto a Valerie. Os cabelos afogueados, o rosto corado.
              Estendeu a mão e lhe acariciou a face.
           Precisava tentar esquecer os sentimentos que floresciam em seu interior pela Natasha. Estava mais que claro que a arquiteta jamais se envolveria consigo. Não havia dúvidas do amor que ela sentia pela neta do conde.
              Sorriu de forma triste.
           Ainda conseguia visualizar o olhar dela para a morena. Mesmo que as memórias vividas estivessem escondidas em alguma parte daquela mente, o coração não esquecera da circense.
           Seguiu até a janela e ficou a observar o extenso e bem cuidado jardim. Havia as mais variadas formas de flores. Recordou-se da mãe, ela adorava a natureza.
           Apertou forte o batente ao se recordar das poucas vezes que viu Briana depois que os pais se divorciaram.
          Uma mulher tão bonita fora transformada em nada devido a uma paixão obsessiva por uma adolescente.
              Não queria passar por tudo aquilo também.
              Fechou os olhos fazendo uma oração silenciosa.
              O toque do telefone móvel a tirou dos seus pensamentos conflituosos.
              Pegou o objeto e viu o nome do detetive piscar. Teria acontecido alguma coisa?



           A cobertura estava bem cuidado, mesmo com a ausência da Valerie tudo estava em seu lugar.
           A ruiva permaneceu parada na entrada, mirando cada parte do único espaço mais parecido com um lar que chegara perto.
           Seguiu ao seu canto preferido e lá estava seu velho companheiro. Limpo, brilhando em sua madeira usada.
             Puxou a banco e sentou, enquanto, levantava a tampa.
         Primeiro retirou sons aleatórios do teclado, mas logo a costumeira música invadia o espaço. 
                      Forte, destemida…
              Fechou os olhos, enquanto a melodia tomava a forma.
              Valentina ouviu-a e foi como a primeira vez que escutara.
                   Via-se deitada naquele sofá no primeiro dia que fora obrigada a ficar ali. Quando pensava estar lidando com a Nathália.
             Aproximou-se lentamente e ficou ali parada, vendo-a se entregar aos acordes. Parecia tão a Natasha daquela manhã que sentiu o coração acelerar.
               Deus, como podia amar tanto uma mulher e também odiá-la?
             Mas a raiva maior era de si por não conseguir controlar a vontade de tê-la ao seu lado, por não conseguir aceitar que não houvesse lembranças suas em suas memórias.
               -- Já me viu tocar essa música quantas vezes?
             A morena estava tão distraída em seus pensamentos que não tinha visto que a ruiva lhe fitava.
                     Era tão difícil fitá-la, ainda mais quando não lidava com seu sarcasmo.
             -- Muitas vezes… -- Respondeu em um fio de voz.
            A ruiva esboçou um sorriso e era como se iluminasse tudo ao redor.
            -- Eu tenho a impressão que sou um pouco daquele fantasma da ópera…
          Valentina chegou mais perto dela. Parando na lateral, olhava as partituras com expressão ponderativa. Via o porta retrato que fora colocado lá. Estava com Victor nos braços. Antonini tinha tirado aquela fotografia.
            -- Se acha cruel como ele?
         A Valerie negou com um movimento de cabeça e depois usou o dedo maior para brincar nas teclas.
          -- Perdida talvez… Buscando algo para dar sentido a tudo isso. -- Falou simplesmente. -- Eu nunca consegui me sentir encaixada nesse mundo… Acho que apenas Leonardo e Helena significaram algo para mim em todos aqueles anos vividos sem propósito…
        A morena observou os olhos verdes. Naquele momento não havia a expressão de deboche que sempre ela usava.
          -- E a minha tia? -- Indagou curiosa.
         A ruiva não respondeu de imediato, parecia pensativa e só depois de alguns segundos falou:
         -- A Verônica nunca fora nada em minha vida… Eu apenas sonhava com um casamento, uma família, eu desejava ter uma família, então esse foi o único motivo da minha relação com ela… Hoje eu percebo isso muito bem. Talvez se ela não tivesse sido assassinada, eu continuasse ao lado dela…
         Natasha viu a expressão confusa e voltou a falar:
         -- Se você pensar bem, ela tinha o interesse dela e eu o meu… Eu estava chegando ao topo, meu sobrenome estava se tornando moeda de poder… Eu só precisava de uma família e um lugar para construir um lar… Sentia-me vazia, sempre me senti assim… --  Encarou os olhos negros. -- Estranho quando olho para ti, há uma confusão em minha cabeça, não sei explicar…
        A circense nada disse, apenas assentiu e já se afastava, mas a arquiteta lhe segurou a mão, trazendo-a para perto de si, sentando-a em seu colo.
           -- Não quero brigar contigo…
           Valentina a encarava, sentindo o hálito refrescante falando tão perto de si.
        -- Desejo que fique em segurança… -- Soltou um longo suspiro. -- Tenho certeza de que você é a pessoa certa para cuidar do meu filho… nosso filho vai ter alguém para protegê-lo, sou testemunha do sacrifício que fez para mantê-lo seguro…
           -- Pensei que achasse que tinha sido um ato de estupidez da minha parte.
            Os dentes alvos da neta de Isadora se abriram em um sorriso.
            -- Bem, levando em conta que eu apareci para te salvar de um destino trágico… -- Brincava com a alça da camiseta que ela usava.
          -- Trágico? -- Arqueou a sobrancelha. -- E contigo não foi? -- Umedeceu os lábios. -- Afinal, você consumou o casamento sem nem lembrar de mim…
                      A ruiva umedeceu os lábios demoradamente.
             -- Realmente não me recordo… mas meu corpo sim… Desde a fazenda que eu queimava de vontade de te ter… -- Observou o decote da camiseta, depois a fitou. -- Agora mesmo estou me segurando para não te arrancar as roupas e fazer tudo o que senti vontade hoje pela manhã quando te dei banho.
           Valentina sentiu aquela conhecida pressão bem abaixo do seu abdome e tentou se afastar, mas a ruiva não permitiu. Levantou-se, deixando-a ainda mais presa entre seu corpo e o piano.
             -- Não vá ainda… -- Pediu bem perto dos lábios dela. -- Quero que converse comigo… -- Segurou-lhe a nuca. -- Gosto da sua voz, acho ela aveludada… -- Gosto do seu cheiro...
           -- Gosta? -- A morena indagou estreitando os olhos em deleite pela massagem no pescoço.
          -- Sim… Gosto de muitas coisas em ti… Menos essa sua língua afiada que me desafia...Prefiro ela de outro jeito…
              -- Prefiro não saber que jeito é esse. -- Tentou empurrá-la, mas sua tentativa foi vã e só serviu para a ruiva gargalhar.
            -- Chega, Valerie! -- Disse irritada. -- Acha mesmo que irei cair nesse seu jogo de safada? -- Empurrou-a e dessa vez conseguiu se livrar. -- Esteja ciente que não haverá mais nada entre a gente! -- Apontou-lhe o indicador em riste. -- Não transarei com alguém que não lembra de mim.
               A arquiteta parecia se divertir com a situação.
               Apoiou-se no piano, cruzando os braços sobre os seios.
             -- Eu não me importaria de fazer sexo com alguém que não lembrasse de mim… Acho desnecessário esses detalhes se o desejo existe.
               -- Ah, sim, óbvio, você é a maior cachorra que já conheci em minha vida.
           -- Cachorra? -- Indagou com um arquear cínico de sobrancelha. -- Não deveria me chamar de “meu amor”? Estamos casadas, nossos nomes estão lindos e escrito no papel, parece que esqueceu isso.
                 -- Cínica!
                Natasha a viu deixar a sala e já pensava em ir até ela quando sentiu o celular vibrar no bolso da calça.
          Rick avisava para ela se manter na cobertura até que ele resolvesse um pequeno contratempo.
              A ruiva relia a mensagem e tinha a impressão que algo estava errado, mas o quê? Estava paranóica depois da conversa que teve com a Valentina.
           Tentou discar o número do amigo, mas a ligação foi encaminhada para caixa de mensagem.
               Respirou fundo, depois seguiu para fora do recinto e para sua surpresa, Valentina estava ali, mirava a porta como se estivesse a cogitar uma possível saída. Ela se virou para a arquiteta.
            -- Quero falar com a Rebeka, não sinto que meu filho está seguro naquela casa com a Isadora lá.
             Valentina esperou que a esposa debochasse das suas preocupações, mas na mesma a hora viu discar para a loira, esperou ansiosamente uma resposta, sentindo aquela  pressão em seu peito como se algo de terrível estivesse para acontecer.




              Rick lia as páginas que tinham sido retiradas do diário de Verônica. Seus olhos focavam em cada letra, em cada sentença... Havia as cartas que seu pai enviara a Isadora...
              Nathália observava tudo com atenção. Não estavam mais no apartamento, seguiram para a mansão Hanminton.
             -- Está vendo? -- Instigou. -- Agora deve entender todo o ódio que a minha avó tem por sua adorada Natasha…
               Os olhos claros do rapaz choravam, via tudo aquilo e não conseguia acreditar.
               -- Mentira! -- Rick se levantou. -- É tudo mentira!
              Nathália sorria internamente, pois sabia que tinha chegado o momento da sua vingança e daquela vez a Valerie não sairia com vida.




            Valentina tinha saído do banho e fazia alguns minutos que buscava o contato com Helena, mas o telefone não chamava.
                 Sentou-se sobre o leito, enquanto levava os dedos à boca, roendo as unhas que tinham sido feitas para o casamento.
                Algo não estava certo, disso tinha certeza.
                A porta abriu e a ruiva entrou com expressão preocupada.
               -- Aconteceu alguma coisa? -- Questionou se levantando.
               -- Não, apenas o Rick me ligou há alguns minutos, deseja que vá ao encontro dele.
               -- Mas você não tinha falado que iria lá? -- Cruzou os braços.
               -- Sim, mas eu achei estranho o local. -- Entregou-lhe o pedaço de papel onde anotara o endereço.
                A morena lia a caligrafia bonita, depois a fitou.
                -- É o circo onde eu trabalhava… Eu nem sabia que ele estava na cidade.
                -- Pois é… -- A Valerie colocou as mãos no bolso da calça. -- Irei até lá e verei o que se passa. -- Soltou um longo suspiro. -- Também irei à polícia e farei a denúncia de uma vez, você está certa, não temos por que esperar.
               -- Leve-me contigo! -- Pediu aproximando-se. -- Estou inquieta, preocupada e sinto um aperto no meu peito.
              A Valerie estendeu o braço e com a as costas da mão lhe acariciou a face.
              -- Calma, palhacinha, não vai acontecer nada, prometo que tudo vai acabar bem.
            Mesmo que não desejasse ceder, a circense nada fez quando viu os lábios vindo em sua direção, apenas aceitou o toque, fechando os olhos e se entregando ao momento.
               Não durou muito e logo se encaravam.
           -- Então não há problemas em beijar alguém que não lembra de você? -- A empresária indagou com um piscar de olhos.
               Valentina apenas deu de ombros.
                -- Por favor, não deixe de me ligar, não me deixe mais aflita do que estou.
                -- Está bem! -- Tomou-lhe as mãos. -- Tenha calma que tudo vai acabar bem.
               A neta do conde observou a ruiva ir embora e novamente sentiu aquele aperto no peito. Fechou os olhos e fez uma prece.
                        



               Natasha estacionou o veículo diante da lona colorida. Não desceu do carro logo, apenas ficou lá sentada no banco a observar tudo. Havia trailers ao redor do terreno,então ficou a imaginar qual fora o ocupado pela esposa quando vivera naquele lugar. 
            Era  cedo, então deveria ser normal não haver pessoas por ali. Tudo parecia tão deserto. Não havia casas por perto, nem comércios, só o grande circo armado.
              Esboçou um sorriso.
          Então fora ali que a Valentina crescera, onde aprendera a ser a mulher determinada e desafiante que sempre lhe enfrentava a altura. Teria a visto alguma vez em seu show?
              Por que não havia lembranças dela em suas memórias? Seria um castigo, mais um para os tantos que já recebeu.
              Bateu com o punho fechado contra a direção do carro.
             As coisas pareciam acontecer pela metade em sua vida, talvez fosse a maldição que tanto a duquesa falava.
          Arrumou os cabelos por trás das orelhas e logo deixava o carro. Observou que mais a frente o do detetive se encontrava.
           Olhou tudo ao redor e se aproximou do sedan. Observou dentro e quando tocou na maçaneta, percebeu que estava aberto. Abriu-o e olhou por dentro e ficou surpresa ao encontrar o diário de Verônica, mas aquele não era o que conhecia, era outro.
                Estendia a mão para pegá-lo quando sentiu o cano de uma arma encostar em sua nuca. Sentiu-a tão fria.
                -- Então você está realmente viva!
                A voz de Isadora lhe chegou aos ouvidos.
              -- Pintou os cabelos, deve ter usado lentes e conseguiu me enganar direitinho dessa vez.
              -- Olá, vovó! -- Lentamente se virou.
            A duquesa não estava sozinha. Uma morena com aparência indígena estava consigo e nos braços trazia seu filho. Sentiu as forças deixarem seu corpo naquele momento. Não poderia reagir, não com a criança ali, sabia que aquela mulher não se importaria de feri-lo.
               -- O seu filhinho veio para o circo.  
            A ruiva prendeu a respiração, enquanto via o garotinho se agitar no braço da jovem, desejando ir para seus braços.
                -- Leve-o! -- Isadora ordenou.
                Ambas ficaram sozinhas novamente.
              -- Se quiser armar um escândalo e tentar me tomar a arma é a sua chance, porém saiba que não é só a Nathália que está lá dentro, então seu filhinho morreria rapidinho.
               -- Eu não irei fazer nada, irei contigo e farei o que desejar, mas deixe meu filho, deixe-o.
               A matriarca dos Hanminton esboçou um cruel sorriso.
               -- Entre que o espetáculo vai começar.
              A ruiva seguia pelo caminho cheio de mato e ficava a pensar se avó atiraria nela naquele momento, mesmo que em seu interior ela soubesse que não seria tão simples assim, antes a duquesa iria fazê-la sofrer, feri-la com todas as armas possíveis e só no final a mataria.
              Ao passar pela abertura das lonas ficou surpresa ao ver Rick em uma das cadeiras, Rebeka em outra, enquanto Nathália parecia reinar no meio do picadeiro.
               A arquiteta viu o filho mais acima, ele estava sentado junto com a morena em um dos lugares da arquibancada.
               Não passou despercebido ao seu olhar os dois brutamontes armados que davam suporte a todos.
               Encarou a loira por alguns segundos, depois o detetive e nesse viu desprezo.
             -- Ora, ora se não é a minha irmã que voltou dos mortos… -- A morena fez um gesto para que ela se acomodasse em uma cadeira.
               A Valerie não o fez.
               -- Acho desnecessário essa reunião longa… Podemos acabar com isso rapidinho.
               A duquesa se aproximou e novamente lhe apontou a arma.
             -- Eu poderia acabar contigo agora mesmo, assim, livraria o mundo de uma vez por todas da sua presença miserável. -- Gesticulava o revólver. -- Você é uma maldita amaldiçoada… Só veio a esse mundo para destruir a vida dos outros.
                  Natasha soltou um longo suspiro.
              -- Acho que a gente pode pular essa parte, afinal, todo mundo já decorou essa história toda.
                Um dos seguranças se aproximou, tomou-a pelo braço, jogando-a longe.
                -- Respeite a duquesa!
                A ruiva gemeu ao sentir o ombro bater forte no chão batido. Era mesmo necessário aquilo?
                         Apoiou-se no cotovelo.
                Rick observava tudo e parecia perdido, enquanto mirava as folhas que tinha sobre a mesa.
         Natasha o fitou, buscava em seu olhar algo que a fizesse entender o que estava acontecendo naquele momento, mas ele parecia distante, frio. Por que a tinha traído?
                 Lentamente se levantou.
               -- É, irmanzinha, acho que dessa vez vai ser quase impossível que você saia viva dessa.
               O choro do filho foi ouvido.
          -- Cuida desse pirralho, Rebeka, ou eu mesma darei um fim nele. -- Nathália falou aborrecida.
                A arquiteta tomou a irmã pelo braço.
                -- Se você tocar em meu filho eu te corto em pedaços!
                Isadora se aproximou.
                -- Parece que você ainda não entendeu a situação… -- Fez um gesto para os homens. -- Podem bater, mas ainda a quero respirando, preciso que ouça tudo o que tenho para falar.
              A loira se aproximou de Heloísa e logo tinha nos braços o pequeno ruivo. Tentou distraí-lo para que ele não visse o que se passava com a mãe naquele momento.



               Valentina tentou falar com Helena, mas ninguém atendia, depois discou para a esposa e nenhuma resposta obteve.
            Sem mais paciência, chamou um táxi e seguia em direção a casa dos Antoninis, mas antes que chegasse recebeu uma ligação de Leonardo.
               -- O que se passa? -- Indagou assim que atendeu. -- Meu filho tinha ficado com Helena, mas tentei falar com ela várias vezes e não obtive resposta.
             Um silêncio grande se fez do outro lado e a neta do conde já se preparava para questionar quando ouviu a voz baixa e nitidamente preocupada.
            -- A minha esposa foi drogada, estou com ela aqui no hospital… Não sei o que se passou, apenas a encontrei assim quando cheguei.
              Na mesma hora a trapezista sentiu uma apreensão forte em seu peito. Sabia que algo de ruim tinha acontecido, tivera essa impressão durante todo o dia.
               -- Onde está a Valerie? -- Leonardo indagou. -- Preciso falar com ela.
            Em poucos segundos Valentina narrou tudo o que se passou e o convite estranho do detetive para que a ruiva o encontrasse no circo.
                -- Estou indo para lá! -- ela terminou dizendo.
                -- Não, filha, não deve, algo deve ter acontecido, tentei falar com Rick desde cedo, pois tinha falado com o delegado e nenhuma denúncia tinha sido feita, estranhei, por isso tentei falar com ele.
                 -- Onde fica o apartamento dele? Vou até lá.
                 -- Não há ninguém lá, acabei de falar com o porteiro.
                 -- Mas e a Nathália?
                 -- Não sei e por isso não deve ir até o circo, está me ouvindo?
                 A morena olhou para a rua, o carro estacionava em frente a mansão do arquiteto, fez um gesto para o motorista esperar.
                  Precisava pensar, precisava manter a calma.
               -- Valentina, vá para um lugar seguro, estou indo até a polícia, depois seguirei para o local atrás da Natasha, por favor, não faça nada, não deve se envolver niss…
                A morena nem esperou para que ele terminasse a última frase, sabia com quem deveria falar, uma luz pareceu iluminar seu cérebro.



               Natasha sentiu o líquido frio sobre a face e teve dificuldade para despertar, tinha a impressão que um trator tinha passado por cima de si. Lentamente conseguiu focar nos presentes. 
                          Um dos capangas de Isadora ria com o balde que lhe jogara água nas mãos.
                  Com certeza tinha desmaiado com a surra que levou. Lembrou-se das vezes que acontecera o mesmo quando era apenas uma criança.
                           Um dos brutamontes a levantou do chão, sentando-a bruscamente em uma cadeira.
                           Observou a todos.
               Nathália, Isadora e Rick estavam juntos, unidos naquele momento. Procurou o filho e lá estava ele na arquibancada nos braços de Rebeka. Fitou os olhos da loira, mas não demorou, voltando a encarar os outros.
              -- Você sabe que merece muito mais que isso, né? -- A duquesa se aproximava. -- Toda a desgraça da minha família foi sua culpa!
              A ruiva a viu se aproximar do detetive, segurando-lhe a mão e trazendo-o para perto.
           A arquiteta o encarou demoradamente, mas não encontrou nenhum tipo de sentimento naquele olhar.
            Então era isso, fora traída pela pessoa que confiara tanto, pelo que chegara mais perto de considerar como um amigo.
            -- Veja, filho, fora culpa dela, só dela… -- A matriarca dizia em lágrimas. -- Seu pai me amava, o Valerie estava apaixonado por mim…
             Os olhos verdes da ruiva se abriram em espanto.
             -- Eu o conheci, nos apaixonamos…  Eu estava disposta a deixar o duque para fugir com ele… -- Alisou a face do detetive. -- Eu tinha acabado de descobrir que estava grávida… Eu teria um filho do seu pai… Ele ficou encantado… Tive que passar um tempo longe, imagina o escândalo, eu na minha idade estando grávida e eu não teria como enganar o meu marido, há tempos que não tínhamos relações sexuais.
            -- Quê? -- Natasha conseguiu questionar.
           -- Sim, maldita! -- A velha bateu com força na face da ruiva. -- A miserável da Elizabeth aproveitou minha ausência para seduzir o homem que eu amava, engravidou e tudo teria sido perfeito se você não tivesse nascido, foi por sua culpa que o Valerie me deixou, foi por sua maldita culpa… -- Chorava copiosamente. -- Então eu tive que abandonar meu filho… E só agora você voltou para mim.

Comentários

  1. Gente do céu, pelo amor de god, que raiva! Acabei de fazer a leitura vociferando horrores para a Isadora e Nathália, não acabe aqui os impropérios, mas foram muitos viu kkkkkkkk. Sabia que não seria fácil destruí-las, imaginei que ainda teriam uma última carta nas mangas, dito e feito, é por isso que a sua escrita me encanta, nada é previsível, tem sempre uma novidade, parabéns vc arrasou no capítulo!
    Só não deixa machucarem mais a Natasha, a bichinha já sofreu tanto, pleaseeeee!
    Diante do exposto, kkkkkkk eu EXIJO uma pena a altura para essas víboras, fechou? 🤜🤛
    Super beijo.

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    1. Olá, meu bem, realmente foi um capítulo tenso e que mostra que o fim está próximo, agora é ver como essas mulheres pagarão pelo mal que fizeram... Afinal, a justiça deve ser feita ... Quanto aos machucados de Natasha, eu não pude fazer muito kkkkkkkkkkkkkkkk
      Beijão,linda!

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  2. Uauuuu! Chocada , perplexa , petrificada , estupefata! Nossa mulher maravilha está indo salvar nossa ruiva, né Please! Fantástico , autora parabéns! Bjs

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    1. hun... Olá, eis que voltei para postar o seu capítulo e para vc não ir me me ameaçar a cada vinte quatro horas kkkkkkkkkkkkkkk
      Beijão grande!

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  3. Olá autora! Só lhe faço um pedido,quero todos mortos,inclusive esse otário do detetive.
    Como pode só a Natacha ser filha do ruivo e a Nathalia não,se são gêmea,s?
    Só espero que a Valentina cheguei com a polícia e meta uma bala no meio da cara dessa "veia"kkk.
    To muito ansiosa pelo próximo capítulo.
    Beijão autora.

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    1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Essas duas merecem um fim trágico né, afinal, são terríveis, cruéis e não há perdão para as coisas que elas fizeram no decorrer de toda a história, acho que passaram dos limites...
      Beijão grande!

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  4. Quando volta?desculpa,mas estou um pouco ansiosa.

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    1. Sei que demorei, meu bem, mas estive um pouco desconcentrada diante de todas essas coisas que estão acontecendo.
      Beijão.

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  5. Gente pára vou ter um treco, autora pf pf, estou ansiosa qse chorando rsrsr😭😭😭😭😂😂🙏🙏🙏🙏 ! Continuação! E amo tuas histórias melhor autora q já li ...

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    1. Olá, querida, demorei, mas retornei, já trouxe o novo capítulo, desculpe a demora...
      Um beijo.

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  6. Xenteeeeeeeeeee ! Pfavozinho querida autora o capítulo 🙏😭😂🥰

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