A tutora -- Capítulo 1



                 O dia amanheceu ensolarado na grande metrópole.
                 Carros e pessoas seguiam rapidamente, atrasados para seus destinos. Jovens, crianças e idosos se misturavam em um mesclado de cores e nacionalidades.
                 Amanda Dervelux adentrou o grande prédio espelhado e seguiu direto até o elevador.
                As pessoas a observavam com curiosidade e relutância, percebiam que não estavam mais a lidar com o antigo presidente do grande império.
               A bela jovem passou pela mesa da secretária e antes que a mulher pudesse lhe passar a agenda, ela caminhou até sua sala.
                Soltou um longo suspiro a observar o local bem arrumado. Havia uma mesa bem talhada que tinha vindo de Roma, uma cadeira de couro preto pomposa.
                  Fechou a porta e ficou a olhar e foi como se o tempo tivesse voltado e tudo continuasse igual, mas ela sabia que tudo tinha ficado em um sofrido passado.
                Não tinha se recuperado da grande perda. Seus pais eram o que de mais valioso tinha na vida e já se passaram seis meses do trágico acidente que os tiraram de si.
                  Caminhou até a panorâmica janela. Espalmou as mãos nela como se estivesse a lidar com o ser mais delicado ao tocar o espelhado.
              Observou a correria do grande centro comercial pelos vidros de sua enorme sala. Era dona de uma grande fortuna. Tornara-se uma grande empresária ainda com seus dezoito anos. Fora treinada a vida toda para assumir os negócios da família e sabia que nunca decepcionara seus amados genitores.
              Nos dias atuais, Amanda era muito conhecida, mas não por ser filha de Arthur Dervelux, era conhecida por ser a mulher mais arrogante e poderosa na área de grandes construções. Não havia dias ruins ou negócios perdidos, ela ultrapassava todas as barreiras, jogava todas as fichas e sempre conseguia o que queria.
                Umedeceu os lábios demoradamente. Sabia que teria inúmeras reuniões com a diretoria naquele dia e precisaria mostrar sua liderança diante dos mais velhos.
                    A porta fora aberta abruptamente chamando a atenção.
                    Ela fuzilou o advogado com um olhar mortal.
               Ricardo, mesmo conhecendo aquela menina a tanto tempo, sentiu-se intimidado. Poucos desafiavam a fera e ele não o fez por querer, mas agora já tinha feito.
                   Engoliu em seco, enquanto se aproximava diante da postura inflexível.
               -- Por favor, Amanda, desculpe-me. Não quis irritá-la tão cedo, mas as notícias que trago não são as melhores.
                  A empresária cruzou os braços sobre os seios e com um arquear de sobrancelha falou:
                   -- O que houve agora? 
                  O homem mais velho ponderou se fora uma boa ideia ter ido até ali. Sabia que ela ficaria irritada diante das notícias que trazia, porém se não a comunicasse, com certeza as consequências seriam ainda piores.
                   -- Fale logo, pois não tenho o dia todo para ficar esperando. -- Disse impaciente.
                   Ricardo fez um gesto afirmativo com a cabeça.
                   -- A sua tutelada fugiu do colégio interno novamente.
                Amanda não respondeu nada de imediato. Parecia analisar a situação.
                Caminhou lentamente e sentou em sua poltrona. O semblante tranquilo escondia uma fúria a ponto de explodir. Praguejou mentalmente. Não entendia o porquê de seu pai ter lhe entregado um fardo tão pesado. Junto com a herança recebida, também lhe fora entregue a tutela de uma garota. Sim! Ela, a orgulhosa e poderosa Dervelux era tutora de uma irresponsável que não fazia outra coisa a não ser tirar a empresária do sério. Nunca viu pessoalmente a menina, mas tomara todas as medidas para que ela ficasse segura até completar seus vinte e um anos.
                 Mirava o advogado, enquanto tamborilava as unhas bem feitas contra a madeira da mesa.
                 --Bem, espero que você já tenha resolvido isso.
                 Ricardo chegou mais perto.
        Não era segredo de ninguém que a herdeira de Arthur odiava tudo relacionado à responsabilidade sobre a adolescente.
              -- Infelizmente não, Amanda. – O homem temeu pela explosão e se antecipou. – Mas um detetive já está em busca da menina e tudo indica que ela fugiu com o namorado.
                A empresária pegou um dos lápis que estava perfeitamente arrumado e começou a girá-lo entre os dedos, parecia uma espécie de terapia fracassada, pois ao final ela o quebrou.
               --Não acredito que isso está acontecendo. Parece que você esquece que essa menina precisa estar sob minha tutela para que os negócios não desandem, mas tudo que vejo é ela enganar meus seguranças, driblar um colégio que deveria ser seguro o suficiente para coibir esses atos e fugir com o namoradinho. -- Ironizou.
                -- Não temos culpa.
          -- Eu não quero mais saber dessas fugas. Encontre-a e traga para mim. Vou cuidar pessoalmente dessa peste de menina.
                  Ricardo não desejava que aquilo acontecesse, pois temia a forma que Amanda resolveria aquela situação. Gostava dela se manter distante da garota, mas agora não haveria mais saída, só rezar a Deus para que a empresária tivesse um coração dentro daquele peito.






                    Alice estava deitada no sofá, abraçada com seu namorado, Jhon. 
           Sabia que não deveria tê-lo envolvido nessa história, porém estava cansada de viver trancafiada naquele colégio. Antes, sua vida era perfeita, todavia depois que seu tutor morreu tudo virou um inferno. Fora tirada da sua casa, da sua vida normal, dos seus amigos para viver presa dentro de uma instituição de freiras. Não aguentava mais isso. Nunca se sentira tão perdida nos seus quase dezessete anos.
                    -- Está pensando em quê, pequena? -- O rapaz indagou acariciando as madeixas ruivas.
                    Ela o fitou por alguns segundos antes de responder.
                    Conhecera-o através de uma amiga e desde esse dia começaram a relação. Ele era sempre muito gentil, doce e engraçado. Não costumava forçá-la a nada e parecia respeitar o fato de ainda não se sentir pronta para ter ralações sexuais.
                    -- Não queria que o senhor Arthur tivesse morrido... Tudo mudou depois disso, parece que a filha dele deseja se livrar de mim.
                     -- Princesa -- Tomou-lhe a mão e levou-a aos lábios -- seu pai era sócio da empresa do Dervelux, você é a herdeira dele, então são suas as ações.
                      A jovem mordiscou o lábio inferior demoradamente.
                     -- Sim, mas só quando eu tiver vinte e um anos poderei assumir, enquanto isso não ocorre, terei que aceitar ser trata como um incômodo a toda poderosa.
                      -- Amor, já está tudo pronto. Comprei as passagens. Vamos de ônibus, assim evitamos desconfianças... 
                    Antes mesmo de terminar a frase, homens invadiram o apartamento. Quatro brutamontes usando terno e gravata.
                    Jhon levantou assustado e postou-se em frente de sua namorada, em posição de defesa.
                    -- Como ousam invadir minha casa. Vou chamar a polícia agora mesmo.
                    -- Chame... e você mesmo será levado por eles.
                A adolescente sentiu um arrepio ao ouvir aquela voz forte e rouca. Sentiu seu coração falhar ao se dar conta de quem saia de trás dos seguranças e a encarava sarcasticamente. 
                     Amanda Dervelux, sua tutora!
                     Sentiu o olhar forte lhe fuzilar implacavelmente.
                     Deus, não havia dúvidas de que estava diante da filha de Arthur.
                 Alice nunca imaginara que a mulher que lhe tratava como um simples negócio, fosse um ser tão bonito. Alta, um corpo perfeito mostrado através de um vestido preto e colado a suas curvas de modelo, pele bronzeada, cabelos da cor de ébano e olhos tão azuis que lembravam os de uma gata.
                     Desviou o olhar, pois tinha a impressão que estava sendo invadida por ela.
                       -- Quem é você? – O rapaz indagou.
                       A empresária desdenhosamente observou lugar simples, depois fitou a jovem ruiva e viu o desafio brilhar no olhar de adolescente inconsequente.
                    --Eu sou a tutora da sua namoradinha. Então seja prático e antes que a situação fique pior, aconselho-te a deixa-la em paz para vir comigo.
                      -- A senhora não vai me obrigar a nada. Não irei a lugar nenhum. – A tutelada saiu de trás do namorado e encarou a mulher desafiadoramente. -- Vá embora daqui e leve seus cães de guarda.
                      Pela primeira vez, Amanda pôde ver direito a garota.
                  Os cabelos acobreados lhe davam um ar selvagem, os olhos verdes pareciam faiscar de raiva. Ela não era uma garota, como imaginava, era uma mulher que com certeza seduzia inúmeros corações.
                 -- Eu não tenho para suas chatices, pirralha. Tenho uma reunião dentro de duas horas.--Observou os seguranças. – Façam o que paguei para ser feito.
                  Sem mais palavras, virou-se a ponto de ouvir os gritos da menina e o namorado tentando impedir o ato, logo foi silenciado. Mais uma vez sua vontade prevaleceu. Precisava se apressar, pois ainda tinha que se arrumar para a reunião.



Comentários

  1. Essa é a primeira história que li sua,e foi ai que me apaixonei por seu trabalho. Você é uma autora apaixonante,talento impressionante.
    Adoro essa história,marcante.

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  2. GEH VC É ANJO EM NOSSAS VIDAS,OBRIGADA.DEUS TE ABENCOE

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