A fera ferida -- Capítulo 27

                 Elizabeth pegou o seu jatinho particular e em menos de meia hora chegou no lugar. Já tinha um motorista lhe esperando, seguiu direto para a casa dos Wasten.
                   Observou a rua tranquila, poucos carros trafegavam e era possível ver crianças brincando, corriam de um lado para o outro atrás de um bola que parecia bastante usada.
                    O carro estacionou em frente a casa e mais uma vez conferiu o endereço para não haver erros.
                    Ainda não entendia o motivo de ter ido até lá, ainda mais depois que tiveram a discussão mais cedo.
                  Por que era tão difícil se manter afastada da doutora? Era como se não conseguisse seguir sem se certificar antes que ela estava bem.
                   O motorista a fitou pelo espelho.
                   -- Deseja que eu vá até lá e me certifique da presença da jovem que procura?
                   A Terzak meneou a cabeça negativamente, então o condutor do veículo desceu, em seguida abriu a porta para que ela saísse.
                    -- Espere-me aqui! -- Ordenou, enquanto seguia até o portão da casa.
                     Ao tocar a companhia, uma bela mulher a recebeu.
                     Não havia dúvidas de quem se tratava. A semelhança com Júlia era gritante.
                    Clara fitou a jovem parada a sua porta. Conhecia-a bem. Não só das inúmeras manchetes de jornais e revistas, principalmente depois do acidente, mas de relatos tortuosos de Clarice e Marco. Sabia muito mais do que desejava e se envergonhava por isso.
                    Mas o que aquela mulher estaria a fazer em sua residência?
                    -- Boa tarde, senhora, acredito que eu esteja a falar com a mãe da Júlia Wasten. -- Estendeu a mão em cumprimento.
                     Clara aceitou o cumprimento e fez um gesto de assentimento com a cabeça.
                     -- Ela se encontra aqui?
                     -- Sim, ela está em casa.
                     A avó de Anny fez um gesto para a Terzak entrar e foi isso que a empresária fez.
                    Observou o pequeno e bem tratado jardim, as roseiras tão convidativas. Passou pelo gradeado e logo estavam na sala.
                     Sofás em veludo na cor branca, uma TV grande em um painel e inúmeras fotos espalhadas. 
                    Elizabeth viu as duas irmãs quando criança e realmente eram idênticas.
                    -- Há algum problema que deseje resolver com a Ju? -- A senhora indagou receosa.
                    -- Na verdade apenas estou preocupada com o sumiço repentino dela e quando fiquei sabendo que tinha vindo para cá, decidi saber se tudo estava bem.
                      A avó de Anny sentia que havia alguma coisa a mais entre a filha e a poderosa Terzak.
                -- Faz mais de três horas que minha filha está trancada no quarto da irmã. Eu estive com ela, mas depois a porta fora trancada e de forma alguma ela abre. – Falou tentando esconder o desespero. -- Eu sei que ela não está bem, sei que não falará comigo e isso está me deixando muito preocupada.
                  A filha de Alex conseguia ver a aflição naquele olhar. Observou todas a direções:
                 -- Onde fica? – Indagou.
                  A senhora a levou até a porta. Caminharam em silêncio até chegar lá;
                  -- Eu irei falar com ela, tente ficar calma.
                   A mulher assentiu e seguiu para a sala.
            Elizabeth encostou a cabeça na porta e ouviu choro. O que teria acontecido para ela está daquele jeito? Teria sido culpada também por isso?
                   De repente ficou a imaginar se fora responsabilidade sua. Talvez fosse melhor ir embora e deixá-la sozinha, talvez fosse melhor desistir daquele sentimento, pois estava cada vez mais claro que não haveria futuro para ambas.
                  Fechou os olhos por algum segundo, enquanto experimentava aquela sensação de covardia que nunca teve em sua vida.
                 Ouviu o pranto novamente, então não conseguiu se manter afastada.
                 -- Júlia, meu amor, abra a porta, deixe-me cuidar de ti.
              A doutora ouvi a voz e imaginou estar sonhando. Não, Liz não podia estar ali. Fechou os olhos. Mais uma vez ouviu a empresária chama-la.
                Mirou novamente aquelas folhas dolorosas que precisou ler e sentiu novamente a tristeza lhe atingir.
               Como puderam fazer isso?
               Como sua irmã se tornou aquele monstro?
               Pegou uma das fotografias e viu o sorriso de Clarice, a felicidade que não se escondia ao lado do Dilon.
               Ele era miserável quanto à mãe. Mais do que nunca teria que proteger a filha de Vitória e não poderia mais envolver a filha de Alex nessa luta, ela fora a maior prejudicada dessa história.
                 Mais uma vez ouviu a voz da Terzak chamando-a.
                 Deus, ela estava mesmo ali?
                 Levantou-se.
                 Encostou-se na porta.
                 -- Júlia, eu só preciso de alguns segundos, prometo que não demorarei.
                 -- Vá embora, por favor! – Pediu entre lágrimas. -- Não deveria ter vindo até aqui.
               -- Não, meu amor, nem que eu tenha que passar a eternidade aqui, só irei embora quando você falar o que aconteceu.
                -- Vai embora! – Gritou. – Eu não quero te ver, não quero nem pensar que você existe, me deixe em paz. Me deixa!
               A empresária sentia como se seu coração fosse perfurado por mil facas. Nunca em toda sua vida sentira nada parecido, era como se seu mundo não tivesse mais luz, não tinha sentido continuar. Mas não desistiria tão facilmente.
              -- Então abra essa porta e diga olhando na minha cara que esse é o seu desejo, e eu sumirei da sua vida para sempre.
              Alguns segundos se passaram, mas para a Terzak pareceram a eternidade. Ouviu o trinco ser destravado, virou a maçaneta e constatou que estava aberta. Temia encontrar ali o fim de todas as suas esperanças. Hesitou, mas não poderia fugir.
              Entrou!
           No quarto havia inúmeros papéis jogados por todos os lados. Os lençóis da cama estavam rasgados. Júlia jazia sentada no chão, com a cabeça apoiada nos joelhos.
              Elizabeth viu as fotos do noivo ao lado de Clarice, mirou-a com atenção e soltou um longo suspiro.
               Aproximou-se da fisioterapeuta, agachando-se, segurou-lhe o queixo, fazendo-a encará-la.
               Os olhos estavam inchados de tanto chorar, pareciam sem vida.
               -- Calma, meu amor, eu estou aqui contigo. -- Arrumou-lhe uma madeixa por trás da orelha.
               Júlia meneou a cabeça em negativas.
              -- Eu sei de tudo. – Pronunciou baixinho. – Sei o que você não consegue lembrar, o que sua mente esqueceu. 
                 Liz tentou abraça-la, mas foi rejeitada.
                 -- Não me toque, por favor.
                A empresária apenas assentiu engolindo em seco. O que poderia fazer? Via a decepção presente naquele olhar, havia muito sofrimento ali e era ela a culpada de tudo.
                 A doutora baixou a cabeça e se entregou mais uma vez ao choro. A jovem Terzak estendeu para tentar acalmá-la, mas se retraiu, temendo uma nova rejeição.
               -- Por favor, me perdoa. Eu faria qualquer coisa para mudar o passado, para não ter destruı́do a sua vida e a da sua famı́lia. Daria minha própria vida para que essa história tivesse sido diferente.
                 A fisioterapeuta a encarou e viu a sinceridade presente naquelas palavras. Estranho que logo ela estivesse ali pedindo desculpas, quando fora ela a vı́tima de tudo.
                -- Mudar o quê? Que foi por você que a Clarice levou a gravidez a frente? Ou que minha irmã e o Marco tramaram a sua morte minunciosamente, ou que a Clarice tomou remédio e por esse motivo morrera no parto? Ou que a minha ilustríssima irmã fora a responsável pela falência dos meus pais? – Falou por entre os dentes.
                   Os olhos verdes se arregalaram diante daquelas confissões.
                   -- Mas o que você está falando? – Perguntou confusa.
                   Júlia levantou e pegou um diário que estava sobre a cama. Entregou à empresária.
                  -- Veja você mesma.
                  A empresária titubeou por alguns segundos, enquanto encarava a bela mulher, então diante da insistência, aceitou.
              Alguns minutos depois estava atônita com tudo que estava escrito ali, não só pelo punho da mãe de Anny, mas ali havia várias páginas escritas por Marco. Cartas de amor, instruções, até descrevia os momentos de intimidade que tinha com a Terzak. Eles debochavam dela, tramavam a suas costas o tempo todo.
               Sentiu uma dor muito forte na cabeça. Flashes, pareciam relâmpagos clareando seu cérebro.
         A doutora percebeu a palidez que se apossou de Elizabeth e apressou-se em ampará-la. Fazendo-a deitar. Os olhos verdes pareciam perdidos no espaço. Era como se não estivem vendo nada.
               Sentou ao seu lado.
                -- O que você está sentindo? – Indagou preocupada. 
                 Liz pareceu sair do transe.
               -- Sua irmã foi minha assistente, por isso que ela estava na festa naquele dia. Marco a levou para mim, disse que a jovem estava prestes a ganhar bebê e precisava de trabalho para sustentar o filho. – Apertou as têmporas. – Está doendo muito!
                -- Vou chamar um médico.
               A jovem segurou-lhe a mão.
                -- Não! – Tentou levantar. – Preciso ir embora daqui.
                -- Você não pode sair assim. Não pode voltar para a capital desse jeito.
                 -- Vou procurar um hotel para me hospedar. – Sentiu tontura e precisou se apoiar na outra.
                 -- Filha! – Clara entrou no quarto. – O que houve?
             -- A Elizabeth não está bem. Me ajude a leva-la para o meu quarto. 
                 Mesmo sob os protestos da empresária fora isso que foi feito.
                 -- Não é melhor chamar alguém? – A mãe da jovem indagou apreensiva.
                 -- Acho que não!
                  -- Qualquer coisa, você me chama. 
                  Júlia assentiu.
                Foi até a bolsa e pegou um tubinho de calmantes. Sabia o que deveria ser feito naquele momento. Pegou água e entregou o comprimido a Liz.
                  A jovem tomou.
                  A doutora deitou ao seu lado. Trazendo-a para si. Abraçou-a, fazendo-a relaxar. Acariciava os cabelos sedosos, sentindo a essência daquela pele.
                 Sentia-se tão envergonhada por tudo que tinha acontecido. Nunca passara por sua cabeça algo tão sujo por parte da irmã. Quem diria que a arrogante Terzak fora apenas uma vı́tima das circunstancias, mas que carregara a culpa por todas as barbaridades daquela história.
                  Sentiu a respiração da jovem relaxar e percebeu que tinha pegado no sono. Ficaria ali, ao lado dela, mesmo que fosse pela última vez.
                 Com certeza depois de tudo que ficara sabendo, a empresária a tiraria da sua vida. Poderia até pensar que ela de certa forma já sabia de tudo aquilo.
                     Apertou-a mais.
                -- Ah, meu amor, por que tivemos que nos conhecer? Tudo seria tão mais fácil se não tivesse me apaixonado por você. – Sorriu. – Mas como não perder meu coração para ti?


            A noite chegou e com ela uma linda lua que podia ser vista pela janela do quarto da Wasten. Lá jazia as duas mulheres, abraçadas e mergulhadas num sono profundo. Suas almas pareciam lutar para continuarem unidas, mas como esquecer o passado e recomeçar uma nova história? Seriam fortes o suficiente para isso? Quem poderia saber. Afinal, não era o amor um sentimento mais contraditório que existe, não era o ódio o caminho mais rápido para o amor?
             

              Elizabeth despertou. Não sentia mais dores, apenas uma pequena confusão. Estava nos braços de Júlia. 
                   A fitou.
                  A doutora abriu os olhos e ficou ali parada a observar aquela mulher tão linda que a mirava com aquele olhar firme e poderoso. Ouviu a voz baixa e rouca dizer:
                   -- Nunca mais me peça para eu ir embora e desistir de você. 
                    Antes que pudesse falar alguma coisa, a fisioterapeuta sentiu-a se apossar dos seus lábios.
               A Wasten correspondeu com a mesma paixão aquele maravilhoso beijo. Sentia sua boca sendo devorada, explorada em cada canto, sua lı́ngua sendo capturada, sugada impetuosamente.
                Deu-se conta da camiseta sendo rasgada e não protestou. Tinha a mesma urgência em entregar-se a filha de Alex. Sentia o mesmo fogo queimar seu corpo.
                   Elizabeth a trouxe para si, fazendo-a sentar seu colo.
                -- Eu preciso de você, preciso mais que o próprio ar que respiro. – Pronunciou com a cabeça encostada em seus seios.
                   Novamente os olhares se encontraram. Os olhos azuis brilhavam.
                   – Você me quer, doutora?
                   A jovem a apertou forte.
                   -- Te quero mais que tudo, nunca em minha vida senti algo parecido.
                Aquelas eram as palavras que a empresária aspirara por todos esses dias. Delicadamente, soltou-lhe o fecho do sutiã, deixando os livres.
                 -- Você é a mulher mais perfeita de todo o universo. – Sussurrou. – Preciso tanto fazer amor contigo.
                A fisioterapeuta buscou aqueles lindos olhos e percebeu que não havia mágoas presentes ali. Apenas havia amor, o amor que tanta desejara para si.
                     -- Faça-me sua, pois esse é o desejo do meu coração.
                   Liz a tomou-a nos braços mais uma vez, tomando-a para si, matando a saudade. Voltou a beijá-la, enquanto as mãos fechavam-se sobre um dos seios.
                    Júlia levantou tirando o resto da roupa, Elizabeth a imitou.
                    De pés, abraçaram-se, pareciam não desejar soltassem nunca mais.
                A empresária desceu a mão por entre suas coxas. Afastando-as. Tocando o centro de todo aquele  desejo.
                  Sentindo um imenso calor dominar todas as partes do seu corpo, a jovem gemeu baixinho, a empresária a deitou no leito macio e ficou sobre ela.
                Ambas estavam fascinadas, amando-se de forma meiga e sensual ao mesmo tempo. Entre beijos e carı́cias, os corpos foram explorados, tocaram-se, chuparam-se, buscando o sabor daquele delicioso tesão que as dominavam.
                   Júlia cravou as unhas em seu ombro, quando se sentiu penetrada.
                A lı́ngua de Elizabeth fazia movimentos de vai e vem, ora parava lá dentro e iniciava movimentos circulares. Seus dedos acompanharam o mesmo caminho e as penetrações se tornaram mais e mais intensas.
                A doutora mexia o quadril, tentando acompanhar o ritmo que lhe era imposto, mordeu o lábio inferior para não gritar. Sentiu o êxtase se apossar violentamente de seu corpo, não só uma vez, mas inúmeros espasmos a sacudiram ferozmente.
                  A empresária encaixou seu corpo entre as coxas e rebolou até perder-se em meio ao veludo negro da noite, tomada por um gozo mágico. Algo que jamais provara em toda sua vida.
                   Aos poucos a respiração de ambas voltaram ao normal. Não pareciam ter nenhuma vontade de soltassem.
                Júlia lhe acariciava as costas, enquanto admirava a enorme lua que fora a ú nica testemunha daquele momento de
amor.
                   Sabia que não seria capaz de continuar lutando contra aquele sentimento.
                    Elizabeth levantou a cabeça, encarando-a.
                    -- Quero ficar contigo para sempre.
                 -- Mas, como pode querer ficar comigo depois de ficar sabendo de tudo que minha irmã fez para ti?
                 -- Bem, foi graças a ela que eu encontrei você. – Falou sincera. – Quanto ao resto, acho que chegou o momento de esquecermos. Eu estou imensamente feliz por não ter feito nada daquelas coisas. Ainda não consigo lembrar de tudo, talvez nunca lembre, porém se você aceitar construir uma nova história ao meu lado, já me dou por satisfeita.
              A fisioterapeuta sentiu uma lágrima solitária embarca-lhe à vista. Liz lhe secou as demais que desceram com beijos.
               -- Eu aceito construir uma nova história contigo. – Sorriu emocionada. – E' o que mais quero na vida, meu amor. 
                    A empresária a beijou mais uma vez, selando aquele imenso amor.



                  Vitória não conseguia acreditar no que Henrique lhe falara. Aquelas duas estavam tendo um caso. Mas a felicidade delas não duraria muito tempo, ao menos que a empresária pagasse por isso.



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