A fera ferida -- Capítulo 26
Júlia voltara para o quarto. Tomou um banho, vestiu camiseta e short. Estava com fome, mas não se sentia muito à vontade para ficar pedindo coisas aos empregados. Já era tarde, coitados, não iria incomodá-los a uma hora daquelas.
Se estivesse em seu apartamento seria simples resolver o problema. Poderia ir à pizzaria da esquina ou preparar algo rápido, mas naquele lugar nem sabia onde ficava a comida. O jantar era servido às sete pontualmente, e já era quase nove.
Decidiu descer, quem sabe não encontrava a dispensa.
Precisava se alimentar, assim ajudaria o corpo a esquecer aquela vontade insana de se entregar a Terzak.
Parou no corredor, enquanto olhava se tudo estava vazio.
Não podia negar que ainda sentia a excitação das carícias ousadas. Ainda não entendia de onde tirara as forças para detê-la, pois ainda se sentia molhada só em pensar na forma ousada da filha de Alex.
Mesmo que tentasse fingir, sabia que a queria e odiava pensar que ela estava nos braços de Mariana.
Apressou os passos, tentando focar na fome que estava a sentir e não no sentimento que explodia em seu peito pela empresária.
Elizabeth estava na biblioteca.
O lugar estava mergulhado na penumbra. Preferia assim.
Seguiu até a cadeira de couro, sentando-se.
A cabeça começava dar umas pontadas nas laterais.
Girava lentamente, enquanto observava as estantes cheias de livros.
Quando era criança vinha naquele lugar e escolhia um dos tantos raros exemplares e ficava a ler naquele lugar.
Olhava para as poltronas e se via lá, debruçada sobre uma das brochuras.
Soltou um longo suspiro.
Ligou o computador e começou a ler os e-mails.
Na segunda-feira teria uma reunião com a diretoria. Havia algumas coisas para resolver. Lembrou de Júlia a ter acusado de afundar a empresa da famı́lia dela, mas essa era mais uma coisa que não estava clara em sua cabeça, porém necessitava de remediá-lo também.
Recordou-se da expressão surpresa da fisioterapeuta ao ouvir que estava apaixonada por ela. Nem sabia de onde tirara coragem para pronunciar aquelas palavras, mas isso era algo que não tinha mais como negar. Estava consciente de ter ferido muito a jovem, houvera muitas humilhações, porém, estava disposta a se redimir diante dela. Pela primeira vez na vida, sentia o que realmente era aquilo que todos chamavam de amor. Esse desejo de proteger, de cuidar, de ter a pessoa ao seu lado em todos os momentos, dividindo com ela as dores, as alegrias. Isso era o que desejava ter com a senhorita Wasten.
Fechou os olhos e sua mente trouxe o sabor daqueles lábios, a maciez daquele corpo. Poderia ter continuado na piscina, bastava um pouco mais de insistência e ela cederia, sabia que ela também a desejava, mas será que era apenas libido?
Respirou fundo!
Fechou as janelas de navegação e na tela apareceu a foto de Júlia com Anny. Pegara aquela imagem em uma rede social pertencente à doutora. Ficara tão encantada que a usara como a tela do PC.
A garotinha era tão parecida com a tia. Não só fisicamente, mas em outros aspectos. Com certeza teria o mesmo gênio, a mesma força e bravura.
Queria estar presente para vê-la crescer. Queria estar ao lado da doutora para cuidar delas. Levantou-se!
Já estava tarde, não iria voltar para o apartamento. Não tinha mais motivos para fugir, mas precisaria manter o autocontrole. Não queria assustar sua linda hóspede.
Com um sorriso, deixou a biblioteca. Estava chegando perto da escada, quando viu a dona dos seus pensamentos descendo. Não havia palavras para descrever aquela mulher. E não havia quem a ignorasse tão bem quanto ela.
A Wasten não falou nada, apenas continuou a caminhar.
Liz a observou seguir para a cozinha. Decidiu acompanha-la pisando leve. Parou na soleira, cruzando os braços, fitou-a dizendo:
-- O jantar foi servido às sete!
Júlia assustou-se ao ver que ela estava bem atrás de si. Quando a viu na sala, não deu muita confiança, passou direto sem ao menos olhá-la, não pensou que seria seguida. Chegara a imaginar que a outra já estivesse em algum lugar desfrutando dos favores de Mariana.
Enojou-se!
Virou-se para ela, mirando os olhos verdes que exibiam um ar divertido.
-- Eu sei! Mas eu estava na piscina nesse horário e só vim aqui ver se tem biscoito ou sei lá, um macarrão instantâneo... Ou sei lá, ovo, vocês não comem ovos?
A empresária sorriu.
-- Eu acho que deve ter, acho que não encontrará o macarrão...
-- E onde fica? -- Indagou com as mãos na cintura. -- Isso aqui é muito grande.
Elizabeth olhava tudo como se fosse a primeira vez que entrasse ali. Deu de ombros.
-- Sei lá, eu não costumo vir aqui.
A doutora a fitou perplexa. Como alguém não sabia onde ficava os alimentos na própria casa?
Preferiu não demonstrar sua chateação. Em seguida examinou o enorme local. Era uma cozinha muito grande, com objetos de alta tecnologia, tudo estava sem seu devido lugar, porém nem sinal de comida.
-- Onde fica a geladeira com os alimentos?
Elizabeth apenas deu de ombros novamente.
Júlia balançou a cabeça.
-- Tudo você pede e seus súditos te servem, né?
A empresária percebeu a censura presente naquela indagação.
-- Olha, que tal a gente sair para comer. Também estou com fome, ou posso chamar uma das empregadas para preparar algo.
A fisioterapeuta sentiu o estômago reclamar. Estava faminta, mas não sabia se era uma boa ideia sair com a outra.
-- Eu não estou vestida apropriadamente para ir a esses restaurantes que você está acostumada.
-- A gente pode ir assim mesmo! Vou pedir para o motorista tirar o carro. – Já estava pegando o telefone de comunicação interna.
-- Não precisa incomodá-lo. Você pode dirigir.
-- Eu não dirijo. – Respondeu aborrecida.
-- Ok, então eu o farei.
Júlia percebeu como a empresária ficara perturbada quando mencionou que ela conduzisse o veı́culo. De acordo com o motorista, Elizabeth não dirigia, então por que no dia do acidente que vitimou Marco era ela quem estava no banco do motorista.
Seguiram para a garagem.
Lá havia quatro carros. O que era usado pelo chofer e os demais pareciam que ainda nem tinham sido estreados. Liz lhe entregou uma chave e apontou o esportivo vermelho.
Uau! Que máquina!
Ambas entraram e seguiram em silêncio.
Alguns minutos depois estacionavam numa lanchonete. Aquele era o tipo de lugar que a doutora adorava. Sentaram numa mesa na calçada. O lugar estava cheio.
Júlia percebeu que desde que falara para ela conduzir o carro, Elizabeth permanecia emburrada ou quem sabe estava apenas lutando contra os seus demônios mais uma vez. Não queria vê-la assim. Sabia que aquela mulher passara por muita coisa em sua vida, engraçado como o dinheiro não tinha o poder de comprar tudo.
-- Você gosta de pizza? A massa daqui é uma delı́cia!
-- Na verdade eu só vou querer um suco de laranja.
A doutora segurou-lhe a mão entre as suas.
-- Não fica irritada, não quis te fazer lembrar do acidente quando te pedi para trazer o carro.
A empresária fitou aqueles olhos azuis e percebeu que havia sinceridade neles. Nunca falava com ninguém sobre os sentimentos, as dores, os medos, mas naquele momento tinha uma enorme vontade de falar.
-- O problema é que eu não consigo lembrar de nada! Eu não entendo como pude pegar naquele veı́culo. – Baixou os olhos. – Quando eu tinha catorze anos, eu era muito rebelde, fazia sempre o que queria. Certo dia peguei o automóvel do meu pai e sai com umas amigas, nesse dia eu atropelei um senhor. Lembra da juı́za que precedeu o caso da guarda de Anny?
A outra apenas assentiu.
-- Luiza foi amiga da minha mãe e graças a ela eu pude me livrar desse delito. Meu pai arcou com todas as despesas da vı́tima, por um triz ele não morreu. Então, desde esse dia eu não dirijo. Tenho verdadeiro trauma!
Júlia a observou.
Sentia-se cada vez mais desconfiada. Não sabia o motivo, mas tinha um pressentimento que havia muita coisa escondida sobre o acidente que vitimou o pai de Anny.
-- Já passou pela sua cabeça que talvez você não estivesse dirigindo no dia do acidente?
-- Mas como? Na ocorrência diz claramente o que aconteceu.
-- Quem foi a pessoa que chegou primeiro no local do acidente?
-- A Vitória, meu pai estava na Grécia.
-- Bem, levando em conta que a sua sogrinha não é um ser muito confiável, você deveria abrir uma investigação sobre o ocorrido.
-- Você acha que ela seria capaz de fazer algo assim? Seria muita maldade, ainda mais quando o filho dela estava morto ao meu lado. – Falou exasperada.
-- Ok! Não vou insistir mais.
Vitória se sentia acuada. Estava muito bem escondida. Precisava se afastar do radar de Elizabeth. Não entendi porque ela resolvera comprar aquela briga para si. Era uma estupida mesmo. Odiava profundamente aquele arrogante. Ela sempre com aquela pose de rainha, na verdade era uma mimada orgulhosa demais. Marco tivera muito trabalho para manipulá-la. Até que a metida decidiu terminar o relacionamento e fora isso que motivara o plano de matá-la.
-- Que bom que você veio. Já não aguento mais ficar escondida.
-- Agora eu já sei porque a sua norinha está protegendo a Julia.
Henrique estava indignado desde que ficara sabendo sobre o caso entre a ex-namorada e a empresária. Não acreditava que tinha sido trocado por uma mulher.
-- Por quê?
-- A vadia da Elizabeth Terzak está transando com a minha muher.
A doutora e a empresária voltaram para casa. Não conversaram mais.
Júlia estava subindo as escadas, quando Liz a deteve gentilmente pelo braço.
-- Está muito cedo para dormir.
A Wasten fitou os olhos verdes e o sorriso que brincava no canto dos seus lábios.
-- Que milagre é esse que você não foi para o seu apartamento. – A fisioterapeuta provocou.
-- Talvez, porque eu não deseje fugir mais.
A jovem riu.
-- Essa é boa. Quem poderia imaginar que a poderosa Terzak fugiria de alguma coisa.
A empresária esticou o braço e lhe tocou a face.
-- Sim, fugi, mas agora não o faço mais. – A trouxe para si.
Colando os corpos. Júlia tentou evitar o contato espalmando as mãos no peito da outra.
-- Por favor! Acho que não devemos fazer isso.
-- Mas, eu não estou fazendo nada de mau. – Acariciou-lhe a face. – Estou disposta a te provar que estou sendo sincera quando digo que estou apaixonada por ti.
A doutora não tinha forças para lutar. Ela amava demais aquela mulher. Observou aquele rosto lindo, aqueles olhos que tantas vezes mostravam frieza e crueldade, agora não era isso que via naquelas lindas esmeraldas. Não podia descrever a felicidade de ouvir novamente aquelas palavras, porém temia que aquilo não passasse de uma ilusão.
-- Eu já disse que não sou a Mariana. – Protestou.
-- Eu não tenho nada com ela. Foi apenas uma coisa sem importância. É você que eu quero. – Soltou-a impaciente. – Mas eu não vou insistir. Sei que que tens motivos de sobras para duvidar de mim, tenho noção de tudo que te fiz passar, então vou deixar que as coisas sigam o seu ritmo. Tenho certeza que você também me quer, por isso esperarei sua decisão. – Beijou- lhe a face. – Tenha uma ótima noite, doutora.
A fisioterapeuta a observava subir as escadas e não conseguia tirar o sorriso bobo do rosto. Fora tão lindo aquelas palavras.
Tão fofo ver aquela mulher poderosa dizer que a queria.
Sentou no degrau da escada.
Por que as coisas tinham que ser tão complicadas? Simplesmente poderia aceitar o que estava sendo lhe oferecido, mas e se fosse mentira? Se fosse apenas sexo, como suportaria ser descartada novamente?
Apoiou os cotovelos nas coxas e descansou o queixo nas mãos.
Havia tanta coisa envolvida. Não sabia se seria capaz de esquecer tudo que a jovem fez a sua irmã. Seriam capazes de reescrever uma nova história?
Levantou, respirou fundo e subiu.
Elizabeth deixou-se cair na enorme cama.
Ela era a única responsável por todo aquele sofrimento. Fechou os olhos.
Seu amor não era suficiente.
Entre lágrimas, adormeceu!
Enquanto isso, Júlia virava de um lado para o outro no leito. Olhou o relógio. Meia noite!
Jogou os lençóis no chão, levantando-se.
Viu que na cozinha havia alguns chás. Iria fazer um para ver se a fazia relaxar.
Estava passando pela porta do quarto de Elizabeth quando ouviu gemidos, parecia estar sentindo dor. Bateu na porta, mas não houve resposta.
Devagar, entrou e a encontrou se debatendo entre as cobertas. Aproximou-se e ouviu chamar por Clarice, depois Marco.
A empresária começou a chorar, então mãe de Anny deitou ao seu lado. Não queria despertá-la abruptamente.
A trouxe para seu peito. Sussurrando-lhe ao ouvido, lhe acariciando os cabelos. Sentiu-a relaxar e aninhar-se mais em seus braços.
Aos poucos a agonia fora passando.
O pesadelo parecia ter passado. A respiração da jovem voltara ao normal.
A doutora, porém, estava bem acordada, sua mente fervilhava com os muitos desconexos que ouvira de Liz.
Precisava saber o que realmente acontecera naquele triângulo amoroso que envolvera sua irmã. Assim que o sol nascesse, viajaria para a casa dos pais. Com certeza em meios as coisas da mãe de Anny encontraria as respostas que necessitava para elucidar aquele quebra-cabeça.
Elizabeth acordou cedo. Sua mente parecia fervilhar. Se sentia confusa. Fitou o quarto que ainda permanecia na penumbra, nem mesmo sabia onde dormira na noite passada. A cabeça doı́a demasiadamente, tentou mexer-se e fora nesse momento que notou que estava deitada praticamente sobre alguém.
Apoiou-se nas mãos para pode fitar a acompanhante e lá estava a bela Wasten dormindo tranquilamente. Mas o que ela fazia em sua cama?
Será que estava sonhando?
Aproximou os lábios, beijando-os delicadamente, aprofundou um pouco mais até sentir a outra retribuir o carinho.
Desceu as mãos pelo decote da camisola, sentindo a pele sedosa dos seios. Massageou-os, fazendo a deusa semiacordada gemer.
Júlia era embalada por mais uma quimera. Era normal sua cabeça viajar em busca de prazer nos braços da empresária. Perdera as contas de quantas vezes sentira o corpo pegando fogo em seus devaneios. Mas nunca fora tão real como naquele momento. Os seios chegavam a doer pelo prazer de serem tocados.
Bravamente conseguiu abrir os olhos e deparou-se com uma cabeleira preta espalhada sobre si. Aquilo não era imaginação.
Assustada, deteve a jovem e foi nesse momento que viu que estava totalmente acordada.
A Terzak a fitou com um sorriso travesso.
-- Bom dia, minha deusa!
A Wasten umedeceu os lábios demoradamente, enquanto limpava os olhos.
-- Eu...eu pensei que estava sonhando. – Fitou-a.
Como uma mulher podia ser tão linda ao acordar? – Pensava Liz.
-- Eu também, ainda mais quando percebi que estava dormindo em seus braços.
A doutora tentou levantar, mas a empresária deitou sobre ela, segurando-lhe os pulsos.
-- Não vai agora não! – Depositou beijos em seu pescoço. – Você não resistiu ao meu charme e veio para a minha cama foi? -- Encarou-a rindo.
A fisioterapeuta não conseguiu disfarçar o sorriso. Aquela mulher era muito convencida, mesmo.
-- Você estava tendo pesadelos, e por isso fiquei aqui. -- Tentou empurrá-la, mas sua tentativa foi vã. -- Agora, solte-me!
-- Não! Vamos continuar. -- Voltou a lhe beijar o pescoço.
Júlia cerrou os dentes firmemente tentando resistir às carícias.
-- Por favor!—Pediu firme.
Elizabeth levantou as mãos em sinal de rendição e saiu de cima dela. Passou a mão pelos cabelos, arrumando-os, depois pegou o roupão, vestiu-o, mas não amarrou.
-- Até quando você vai continuar resistindo ao que sentimos? Por que apesar de estar muito chateada e decepcionada comigo, eu sei que também me quer.
Júlia levantou, arrumou a roupa e a encarou.
-- Até quando você entender que sexo não é tudo. – Falou irritada. – Se você não consegue controlar sua libido, satisfaça ela com a sua amante Mariana.
O maxilar da filha de Alex enrijeceu.
-- Tem certeza que é isso que você quer?
-- Você já está bem grandinha para tomar suas próprias decisões. – Completou saindo do quarto.
-- Ok, doutora, seu desejo é sempre uma ordem!
Júlia conseguiu chegar ao aeroporto a tempo de pegar o avião. Quando saı́ra dos aposentos da empresária ligou para companhia aérea e reservou uma passagem. Era apenas quarenta e cinco minutos de voo. Em seguida ligou para Jane pedindo para ela cuidar de Anny, pois tinha algumas coisas para resolver.
O táxi parou de em frente a casa de dois andares e com muro e portão prateado. Ficou alguns segundos para lá, apenas observava a rua tranquila e chegou a se ver ao lado da irmã brincando.
Soltou um suspiro longo, pagou o motorista e seguiu para o interior da casa. Ainda tinha as chaves.
Encontrou o chefe da família logo na entrada, ele a olhou com ressalva.
Não fora recebida com festas pelos pais, na verdade eles nunca esconderam a preferência por Clarice.
-- O que veio fazer aqui? – O pai indagou.
O senhor e a senhora Wasten moravam numa modesta casa no centro da cidade.
-- Eu preciso ver o quarto da minha irmã. -- Falou sem nenhum tipo de demonstração de emoção pelos genitores. -- Vocês jogaram fora as coisas dela?
Marido e esposa se entreolharam desconfados.
-- Lógico que não! – O homem respondeu indignado.
A doutora assentiu e seguiu para dentro.
Elizabeth estava fora de si. Nenhum dos empregados sabiam onde Júlia tinha ido, ligou para o celular dela e não obteve resposta. Então, pensou em Jane e foi quando a jovem lhe disse que a fisioterapeuta tinha viajado para a casa dos pais.
Mas o que ela teria ido fazer lá? Será que acontecera alguma coisa?
Retornou a ligação para babá pedindo o endereço dos avós de Anny, a moça relutou muito, mas acabou dando.
A doutora estava revirando todo o quarto em busca de alguma coisa que pudesse esclarecer algo em sua mente. Precisava ter certeza de tudo o que se passou. Já estava dando aquela busca como inútil, quando sua mãe entrou no quarto.
Aquela bela mulher, que antes era tão pomposa, agora parecia muito acabada. Entreolharam-se demoradamente.
-- Filha!
Julia foi surpreendida por um abraço tão apertado e muitas lágrimas. Sentiu-se apertada e estranhou aquilo, pois não se recordava de algo tão íntimo e carinhoso da parte dela.
-- Mamãe! – Falou surpresa.
-- Não sabe como desejei que viesse aqui. – Fitou-a. – Faz tanto tempo que não te vejo, nem mesmo tenho coragem de ligar. – Baixou os olhos.
-- Não precisa ficar assim! Eu sei como foi difı́cil tudo o que passaram e em nenhum momento os julguei. – Respondeu sincera.
Clara observou a filha. Sempre tivera aquela personalidade doce, se conformava com o pouco que lhe davam, nunca reclamava. Era a alma mais pura que já conhecera.
-- E onde está a Anny? Não a trouxe contigo?
-- Não! Estou aqui porque preciso de algumas respostas.
Em poucos minutos, a doutora resumiu tudo o que se passava, apenas não mencionou o relacionamento que tinha com a ex paciente.
A mulher caminhou até uma gaveta. De lá tirou uma pasta e entregou a filha.
-- Bem, acredito que está aı́ o que você veio buscar. – Respirou fundo. – Ju, não julgue os atos de sua irmã. Às vezes, o amor nos cega e nos faz tomar atitudes desprezíveis.
Júlia viu a mãe deixa-la sozinha. Sentou na cama e abriu a embalagem.
E todas as explicações que ela vinha buscando estavam ali.
-- Como puderam fazer isso? – Cobriu o rosto com as mãos.
Não esqueceremos!
ResponderExcluirEm tempos de quarentena, suas histórias são ótimas opções.
Obrigada por postar todos os dias
Super Bjssss e cuide-se viu.