A fera ferida -- Capítulo 25
Naquele mesmo dia, Júlia, Anny e Jane se mudaram para mansão Terzak.
Aquela casa de dois andares era a residência oficial da famı́lia. Toda pintada de branco, exibindo um estilo vitoriano. Era cercada por muros enormes. Gramas verdes e enormes jardins completavam o estilo.
Os portões altos com grades douradas foram abertos por um dos tantos empregados que pareceram surpresos diante da herdeira que retornava ao lar depois de tanto tempo. Aquela residência avaliada em bilhões fazia parte do espólio que fora herdado pela bela empresária.
Elizabeth nascera e crescera naquela enorme casa. Sempre sozinha, ou melhor, acompanhada de um verdadeiro batalhão de empregados prontos para lhe servir a qualquer hora, satisfazendo-lhe os mı́nimos desejos e lhe enchendo de mimos.
Desde que voltara da ilha, não fora ali. Não gostava de ficar naquele lugar enorme, parecia que ampliava sua sensação de abandono. Seu pai nunca ia a mansão. Ele dizia que aquelas paredes lhe faziam lembrar da esposa e isso ele não conseguia suportar.
Júlia estava impressionada.
Estava no hall, enquanto alguns empregados, devidamente uniformizados lhes eram apresentados.
Não sabia se conseguiria se acostumar àquela toda formalidade. Não imaginava que algo assim ainda existisse. Então lembrou que Elizabeth tinha sangue nobre nas veias, na verdade ficara sabendo que ela era descendente dos helênicos, pois seu pai era grego, sua mãe era brasileira. Isso explicava a beleza exótica da empresária.
Ainda não sabia se ter aceitado aquela oferta fora uma boa ideia, pois temia a proximidade com a Terzak.
O caminho até ali só não fora feito em total silêncio porque a filha tagarelava entusiasmada com Elizabeth, enquanto a empresária respondia animada e com sorrisos fáceis, exceto quando o olhar se cruzava com o seu. Sabia que ela ficara irritada quando deixara claro que não haveria nenhum tipo de intimidade entre ambas, mas o que a filha de Alex desejava? Ter uma coleção de mulheres? Não se contentava em se deitar com Mariana?
A voz da deusa de olhos verdes lhe tirou de suas divagações.
-- Bem, levem todas para os respectivos quartos e acomode-as bem. – Ordenou para uma das inúmeras funcionárias.
Anny dormia nos braços de Júlia. A reação da vacina que tomara começava a se manifestar.
A Terzak fitou a fisioterapeuta.
-- Deixe-me ajudar-te. – Pegou a pequena dos braços da doutora. -- Jane, você pode ir com a Fernanda, ela vai te acomodar.
A jovem assentiu, fazendo o que ela tinha dito.
Júlia seguiu Elizabeth pela escada, vendo-a carregar a filha com todo o cuidado, como se fosse a própria mãe. Será que ela teria filhos?
Chegaram a uma porta e entraram.
Ficou surpresa ao ver que o quarto estava decorado infantilmente. Era lindo, parecia os aposentos de uma princesa.
-- Esse era meu quando era um bebê. Sempre fora mantido do mesmo jeito. – Depositou a menina na cama. – Você pode mudar o que quiser. Fique à vontade.
Liz estava saindo do quarto, quando a doutora a segurou pelo braço.
-- Não sei se vou me adaptar a isso. – Declarou sincera. – é tudo tão, tão... – Procurava palavras para usar. – Cerimonioso. – esboçou um sorriso sem graça. -- Já começo a pensar se foi uma boa ideia aceitar sua ajuda.
Os olhos verdes fitaram os dedos longos de unhas bem feitas que estavam a lhe manter cativa. Fitou-a.
-- Não precisa se preocupar. Pode agir como se estivesse em seu apartamento e é por pouco tempo. Não precisa olhar torto para nada. – Livrou-se do toque que lhe queimava a pele. -- Lembre-se de que tudo isso é por Anny. -- Deu alguns passos para trás, afastando-se.
A fisioterapeuta cruzou os braços, enquanto cerrava os dentes.
-- Você não vai voltar para ilha e me deixar sozinha aqui, né?
-- Não! Estarei por perto, apenas não muito por aqui. Prefiro ficar no meu apartamento, mas já dei ordens para que tudo funcione, mesmo sem a minha presença. -- Seguiu até a porta, mas antes de sair ainda falou -- Descanse um pouco.
Antes que a Wasten falasse mais alguma coisa, deixou os aposentos.
Elizabeth estava magoada. Ela não gostara do que Júlia falara ainda no apartamento. A empresária fora sincera ao dizer que queria apenas ajudá-la, mas a fisioterapeuta pensara logo em motivos escusos.
Não era segredo que a desejava, que seu corpo queimava por ela, mas estava fazendo o máximo para não se entregar a essa fraqueza que lhe fazia tanto mal.
Seguiu até o mordomo e deu ordens para que os convidados fossem servidos e cuidados por todos que trabalhavam ali. Depois caminhou para fora. Soltou um longo suspiro, respirando o ar puro das árvores que enfeitavam o jardim.
Júlia olhou pela janela e viu quando a milionária entrava no carro.
Estranho, nunca a viu dirigir. Deve ter ficado traumatizada após o acidente fatı́dico. Balançou a cabeça irritada.
Lógico que ela preferia ficar na cobertura, era lá que tinha seus encontros sujos com Mariana. Sentia o estômago embrulhar quando as imaginavam juntas. Tinha ânsia de vômito quando pensava que Liz estava na cama com outra.
Meneou a cabeça para se livrar daqueles pensamentos. Aquilo não deveria se tornar algo para lhe desviar do seu foco. Não havia nenhuma relação entre elas, então era óbvio que deveria não se importar com essa situação.
Olhou para a filha que dormia em paz sem saber dos perigos que as rodeavam. Temia que não desse certo, não sabia se está no mesmo lugar que Elizabeth daria certo, mas mais uma vez fazia tudo aquilo pelo bem de Anny.
Ficaria por ali naquela noite, a criança poderia despertar assustada, estranhar o ambiente novo.
Elizabeth passara o resto do dia em busca de Vitória, mas parecia que a mulher tinha sumido do mapa. Decidiu contratar um detetive para encontrá-la e se manter na cola dela. Precisava observar de longe todos os seus passos, assim seria mais fácil de pegá-la.
Não sabia o que a condessa seria capaz de fazer, mas diante da destruição que provocou no apartamento da Wasten tudo seria possível. Ainda se sentia angustiada ao imaginar que o resultado da ação poderia ter sido pior se tivessem encontrado Júlia ou Anny em casa.
Inclinou a cabeça para trás na cadeira, enquanto massageava as têmporas.
Aquele era um momento complicado e delicado, pois qualquer movimento falso acarretaria problemas piores.
Observou o telefone vibrar e lá estava a foto de Mariana.
Ignorou a ligação, pois sabia que se saísse com ela, terminaria bêbada e na cama, ainda por cima chamando-a de Júlia.
Suspirou e não demorou para a porta ser aberta e seu assistente aparecer com algumas pastas nas mãos.
-- Trouxe os contratos para que analise.
Elizabeth fez um gesto para que ele depositasse sobre a mesa.
-- Essa é hora de ir para casa e não trabalhar. – Provocou o rapaz. -- Faça isso depois, precisa descansar, está com uma olheiras horríveis. -- Sentou-se.
-- Começarei a ver agora mesmo. Preciso trabalhar.
-- Bem, não quando você é a dona de tudo. – Sorriu.-- Não me diga que vai tomar um porre de novo, hoje?
A empresária deu de ombros e começou a examinar uns relatórios que estavam sobre a mesa.
-- Então quer dizer que sua deusa está sob sua proteção? – Piscou.
Liz levantou os olhos do papel e o encarou.
-- Por que não vai para sua casa, hein?
-- Você que deveria ir, afinal, com uma mulher linda como aquela dando sopa na mansão. – Assoviou.
-- Olha, Rafael, não há nada entre e doutora e eu. Apenas estou fazendo isso porque me preocupo com a Anny.
-- Hun! Sei. -- Observou as próprias unhas. -- Ah, a sua loira ligou inúmeras vezes te procurando.
Elizabeth desistiu de ler os papéis os colocando de lado.
-- A Mariana é um chiclete e tanto. – Resmungou. – Nem sei como transei com ela, eu estava tão bêbada.
-- Coitada! Não deveria usá-la assim. – Repreendeu-a.
-- Eu não tive culpa, ela que chega e me leva no papo. – Fez cara de inocente.
-- Sei! Você é uma santa, né? -- O rapaz levantou-se. -- Vou indo, estou muito cansado. Preciso de um bom banho e da minha cama. Você deveria fazer o mesmo.
A filha de Alex apenas assentiu, despedindo-se.
Não era uma boa ideia retornar para a mansão. Não confiava nos próprios instintos, ainda mais quando fitava aqueles lindos olhos azuis. Naquela noite dormiria num hotel, seu apartamento estava inabitável. Contrataria alguém urgentemente para redecorá-lo.
Já era quase meia noite.
Júlia estivera com a filha até agora. A menina comeu e voltou a dormir.
A doutora entrou no enorme quarto que fora preparado para si. Seu apartamento cabia ali dentro.
Fitou a cama enorme com lençóis brancos. Havia uma escrivaninha com um computador portátil, telefone.
Soltou um longo suspiro. Estava com saudades da sua casa.
Olhava pela enorme janela.
Nenhum sinal da empresária. Com certeza estava nos braços da Mariana.
Estava saindo do banho quando ouviu o som do carro.
Apenas o motorista desceu. Ela realmente não viria para a casa. Deitou!
Não tinha motivos para se importar com a ausência de Liz. Afinal, elas não tinham nenhum tipo de relacionamento.
Nunca tiveram nada sério, apenas um caso sem importância.
Pegou o celular, ficou navegando pela internet, até digitar distraidamente o nome da anfitriã.
Havia inúmeras manchetes sobre ela. Principalmente as que se referiam ao acidente. Viu uma imagem de Elizabeth desacordada, com o rosto cheio de sangue sendo resgatada. Lembrou que um daqueles cortes terríveis ainda jaziam na face da empresária, representados por uma cicatriz.
Viu outra foto e essa lhe chamou atenção. Com certeza essa fora tirada na noite da festa, viu alguns convidados e dentre eles um lhe chamou atenção. Sua irmã estava lá, mas o que ela estava fazendo ali?
Procurou por mais algumas imagens, mas não encontrou nada. Salvou no celular o que tinha encontrado. Iria investigar melhor aquilo, assim que tudo estivesse mais calmo, viajaria para a casa dos pais em busca de informações.
Na manhã seguinte, mesmo contra a vontade da fisioterapeuta, ela teve que aceitar ser levada pelo motorista para o hospital. O homem deixara claro que aquelas foram ordens da sua patroa. Estavam quase chegando, quando Júlia iniciou uma conversa.
-- O senhor trabalha há muito tempo para os Terzaks?
O senhor de cabelos grisalhos parou o carro no sinal que estava fechado.
-- Desde que a patroa usava fraudas. -- Falou com um sorriso simpático.
-- Por que ela nunca dirige?
O homem deu partida novamente.
-- Ela não gosta, sempre a servi para isso. Raramente ela pega o carro, não tem muita paciência para conduzir.
Nem era preciso dizer aquilo, conhecia muito bem o temperamento da jovem.
O carro chegou ao destino. Antes de sair, a doutora indagou:
-- Elizabeth dormiu no apartamento?
-- Não, ela ficou em um hotel.
A moça ainda pensou em perguntar mais, porém não quis abusar da bondade do homem. Despediu-se e seguiu para dentro.
Ao chegar em sua sala, a secretária entrou logo em seguida.
-- Bom dia, doutora!
-- Bom dia, Diana! – Sorriu simpática.—Muitos pacientes hoje? – Indagou vestindo o jaleco.
-- Sim! Os seus e ainda mais os da doutora Mariana, ela não veio trabalhar hoje.
Júlia disfarçou o desagrado ao receber aquela informação. Decerto, a loira passara a noite com a empresária e pelo que percebia ainda não tinha terminado.
Respirou fundo.
-- Ok!
A moça despediu-se e saiu.
Liz voltara a mansão naquela manhã. Encontrou Jane tentando consolar um Anny super chorona. Elas estavam no jardim.
-- O que houve com essa princesa?
A menina quando a viu, pulou para os seus braços.
A babá fitou-as. Não havia como negar o amor que aquela menina tinha por aquela mulher.
-- “ Telo minha mãe” – Choramingou.
-- Oh, meu anjinho, sua mamãe está trabalhando, mas que tal a gente tomar banho de piscina? Podemos brincar na água, te ensino a nadar. -- Segurou-lhe a diminuta mão. -- Podemos comer bolo de chocolate. -- Piscou travessa.
A menina pareceu se animar.
Elizabeth lhe beijou os cabelos.
-- Jane, vou me trocar, enquanto você e a Anny fazem o mesmo. Daqui a pouco nos encontramos. – Entregou a garota a jovem.
A babá estava aliviada, desde que a criança acordara estranhara o ambiente, mas agora parecia menos irritada.
Aquela mulher parecia uma feiticeira.
Sorriu ao lembrar de como havia uma mudança no semblante de Júlia quando falavam dela.
Enquanto isso, a doutora tivera um dia tão cheio que nem teve pausa para o almoço, nem mesmo conseguira entrar em contato com Jane para saber se a filha estava bem.
Quando deu seis horas, estava pronta para ir embora. Nunca se cansara tanto. Tinha esquecido de levar dinheiro para o táxi, e o pior é que nem sabia que ônibus pegar para chegar à mansão.
Seguia para fora e já pegava o celular para tentar falar com a amiga, viu que tinha descarregado.
Respirou fundo e contou até dez.
Estava furiosa por ter assumido a responsabilidade de Mariana quando já estava com a agenda cheia e ainda mais irritada por saber os motivos que levaram a loira a faltar ao trabalho.
Olhava para os lados e foi quando viu o motorista lhe acenar.
Sabia que não deveria se acostumar com aquilo, mas se sentiu tão aliviada que quase chorou de alegria.
Aproximou-se sorridente, cumprimentando-o. Agora poderia ir ao encontro da filha.
Henrique estava saindo quando viu a cena.
Elizabeth passara todo o dia cuidando de Anny. Fora tudo tão maravilhoso, aquela criança era um ser tão doce, tão lindo em sua inocência.
Tinha acabado de banhá-la, colocou-lhe um roupão, depois vestiu uma roupa confortável para ficar ao lado dela.
Naquele momento ambas estavam deitadas, no quarto da menina, vendo tv. A menina jantara e agora acabara dormindo nos braços “tia”, que também caı́ra no sono.
Essa foi a cena que a fisioterapeuta viu quando entrou no quarto. Parou para admirar a imagem. Anny dormia agarrada à empresária. Já Elizabeth a abraçava.
Por um momento passou por sua cabeça que elas eram uma famı́lia. Seria tão perfeito chegar a casa e encontra- las assim. Sua esposa e sua filha.
Só podia estar ficando louca.
Óbvio que não poderia acontecer algo daquele tipo de forma nenhuma.
Aproximou-se devagar para não despertá-las. Conseguira falar com Jane quando estava indo para lá, usou o telefone do carro e a babá narrara com precisão tudo o que se passara naquele dia.
Beijou a filha!
Acariciou o rosto da filha de Alex.
Os olhos verdes abriram-se lentamente. Fitaram-se durante longos segundos.
-- Não quis te acordar. – Desculpou-se corada.
A bela Terzak retirou a pequena mãozinha que lhe abraçava e levantou lentamente para não despertar a garotinha.
-- Vou para o meu quarto. -- A empresária falou praticamente ignorando a outra.
Júlia assentiu, mas a acompanhou. Chegaram a uma enorme porta no fim do corredor.
O quarto de Elizabeth era ainda maior que os outros. Havia uma cama enorme e tinha um pequeno escritório montado lá.
-- Preciso falar contigo.
-- Agora? O que houve? – Cruzou os braços sobre o peito.
Foi naquele momento que a Wasten percebeu a roupa da outra. Um short curto e uma camiseta colada delineava o corpo sexy e as pernas longas. Aquilo era demais para sua cabeça cansada, nem mesmo conseguia raciocinar direito diante daquela visão.
-- E então? – A empresária indagou impaciente.
A doutora foi despertada de suas divagações. Pegou o celular e entregou a outra.
-- Veja, a minha irmã estava na festa no dia do acidente. Você não lembra o que ela fazia lá?
A empresária pegou o aparelho e observou a imagem. Ficou por alguns segundos fitando-a, depois devolveu.
-- Não! Já disse que muitas coisas sumiram da minha cabeça, nem mesmo lembro de ter conhecido sua irmã. – Ficou de costas para ela. – Qual o seu interesse em ficar fuçando o passado?
-- Apenas gostaria de esclarecer tudo que se passou.
Liz virou-se para ela exasperada.
-- Esclarecer o quê? Você já sabe que eu fui a culpada de tudo, da última vez deixou bem claro isso. – Falou amargurada.
-- Só pensei que...
-- Não pense, apenas aceite as coisas como são. – interrompeu-a.
-- Não precisa ficar tão perturbada, apenas fiz uma pergunta.
Elizabeth passou as mãos pelos cabelos.
-- Estou cansada de tudo isso. Não entende como é difı́cil para mim.
Júlia estendeu a mão para tocá-la, mas a outra se afastou.
Os olhares das duas se buscaram.
Liz temia não controlar o desejo, por isso evitava o toque daquela mulher. Vê-la tão linda era uma tortura, seu corpo reagia loucamente àquele anjo de olhos cor do mar.
-- Bem, eu acho melhor você sair. Preciso tomar banho, tenho que sair.
A doutora não conseguiu disfarçar a irritação ao ouvir aquilo.
-- Imagino o que tem para fazer na rua. – Seguiu para a porta, mas deteve-se. – Pelo menos, não canse tanto a sua amante, pois não irei assumir os pacientes dela todos os dias. Tenho os meus próprios para me ocupar.
-- De quem você está falando?
-- Ah, por favor, não se faça de inocente! – Respondeu irritada. – Sei muito bem do seu caso tórrido com a Mariana, aliás, mesmo quando estávamos juntas, você mantinha sua amizade colorida.
Liz arqueou a sobrancelha de forma debochada.
-- Hun! Não me diga que está com ciúmes? -- Povocou-a.
-- Ah, me poupe! – Aproximou-se furiosa. – Não tenho nada a ver com suas escolhas sexuais, mas lembro de uma vez que você deixara bem claro que não era lésbica, mas agora vive com aquela exibida.
-- Anhan! – Segurou-a pelos ombros. – Você também lembra que falei que só contigo eu fazia aquelas coisas?
-- Sim!
Soltou-a.
-- Pois é! Desde criança eu sempre fui muito boa em usar minha imaginação. – Piscou para Julia.
A doutora a observou seguir por outra porta, com certeza era o banheiro. Não entendera bem a última frase que ela falara. O que ela quis dizer com aquilo de usar a imaginação?
Aquilo só podia ser brincadeira!
Estava fincando louca ou Elizabeth insinuara que transava com Mariana imaginando ser ela?
Os dias passavam tranquilos.
Como Elizabeth preveu, Vitória não tentara mais nada, afinal, era muito difı́cil fazer algo enquanto Júlia estivesse na mansão, cheia de seguranças.
Quanto à convivência entre as duas, fazia o possível para não a encontrar. Desde a última vez que conversaram, mantinha uma distância segura. Nem mesmo dormia naquela casa, temia não resistir aos encantos da morena e tentar alguma coisa.
Era Sábado.
A Wasten se deu o luxo de dormir até mais tarde, até sentir uma pequenina subir em si.
-- Atorda, mamãe!
A doutora acordou e deparou-se com a filha e com Jane. Ambas estavam arrumadas. Ficou confusa no inı́cio, então recordou que ambas iriam passar o sábado na casa de uma amiga da babá pois teria um aniversário.
-- Ah, não acredito que vou ficar aqui sozinha. – Lamentou a doutora.
-- Vamos com a gente, então?
-- Não! Aproveitarei essa folga para colocar os estudos em dia. – Abraçou a filha. – E você comporte-se, viu? Não quero que faça malcriações.
A pequena apenas balançava a cabeça afirmativamente.
Júlia passara o dia todo no quarto. Já era noite quando encerrou os estudos.
Lembrou da enorme piscina que virá da janela do quarto da filha. Adoraria tomar um banho, nadar um pouco.
Bem, não deveria ter problemas, já que nem mesmo a empresária estava por lá. Há dias que não a via por ali.
Deveria continuar bem ocupada com suas atividades extras.
Vestiu um biquíni e desceu.
As luzes do jardim iluminavam a área da piscina.
O céu estava estrelado e uma lua cheia reinava maravilhosamente no perfeito céu.
Elizabeth atravessa a grande extensão de água com braçadas rápidas.
Chegara no final da tarde e decidiu tomar um banho de piscina. Pena que a Anny não estava lá para aproveitar consigo.
A água estava na temperatura perfeita.
Mergulhou e ao submergir viu a deusa morena se aproximar usando um minúsculo traje de banho.
A doutora vinha tão distraı́da que só percebeu quem estava ali, quando estava praticamente na borda.
Fitaram-se demoradamente e a filha de Alex não disfarçava o desejo ao vê-la. Sentia um arrepio delicioso percorrer sua espinha.
Ouviu a voz doce da outra.
Não podia negar que estava morrendo de saudades dela e que precisara travar uma grande batalha para não ir até ela naqueles dias.
-- Eu não sabia que estavas em casa. – A Wasten falou constrangida.
A empresária apenas deu de ombros.
-- Não precisa se preocupar. Já disse para você ficar à vontade. – Mergulhou novamente e nadou para a outra extremidade.
Júlia pensou em voltar para o interior da casa. Mas sabia que aquela atitude seria muito infantil.
Decidida, jogou-se na água. Sentindo aquele lı́quido relaxar todo o seu corpo.
Elizabeth a observava de longe.
Sentia uma dor enorme no baixo ventre. Era muito tesão reprimido. Aproximou-se, parando bem próximo a ela.
-- Onde está Anny?
-- Ah! – Assustou-se ao vê-la praticamente colada as suas costas, virou para encará-la. – Ela foi dormir na casa de uma amiga da Jane, iria ter um aniversário.
-- Hun! Que pena!
A doutora encostou-se na borda. Observava a noite, os sons. Aquele lugar era tão calmo. Lembrava o campo. Liz não conseguiu controlar seus instintos. Colou-se as costas da doutora e falou bem perto da orelha.
A fisioterapeuta foi surpreendida pelo toque da outra. Pensou em afastar-se, mas era tão bom senti-la.
-- Você me odeia muito?
A Wasten estreitou os olhos em deleito ao ouvir a voz baixa.
-- Por que se importa com isso? -- Indagou sem se voltar.
Não demorou para senti-la totalmente grudada em si. Sentia os quadris unidos ao seu bumbum e isso parecia uma verdadeira tortura.
-- Apenas responda se me odeia tanto assim. -- Depositou as mãos em cada lado da sua cintura. -- Não custa nada dizer.
A mãe de Anny permaneceu calada e logo sentia os dedos longos passearem pela parte de cima do seu traje de banho. Pensou que ela não ousaria tanto, mas logo os mamilos eram tocados pelos polegares.
Cerrou os dentes para não gemer alto.
Sabia que deveria detê-la, mas acreditava que ela mesma cessaria os movimentos ao ver que poderiam ser vistas, então apenas permaneceu quieta.
-- Te importa tanto assim isso?
Elizabeth suspendeu a parte de cima do biquíni da fisioterapeuta e agora massageava os montes redondos por completo.
-- Sim... -- Mordiscou a ponta da sua orelha. -- Preciso saber...
Júlia não estava aguentando mais, pois seu corpo parecia ter vida própria. Seu sexo doía e implorava pelo toque daquela mulher.
A Terzak sabia que ela a queria, sentia o corpo tremer, enquanto se esfregava em seu bumbum. Não deveria prosseguir, mas seu controle também não existia mais.
Baixou as mãos e logo adentrava a calcinha, pensou que ela esbravejaria, mas ela permaneceu quieta.
Acariciou os pelos ralos...
-- Vai me odiar ainda mais agora...
A Wasten sentiu dos dedos acariciando sua intimidade e mesmo que desejasse parar não tinha forças para aquilo.
-- Vou? -- Indagou baixinho. -- Por quê?
A empresária começava colocar mais pressão, ainda mais por senti-la tão escorregadia. Não demorou para senti-la rebolar em seu toque. Ouvia a respiração acelerada.
-- Porque eu não vou parar até ouvir seu gemido de gozo...
Júlia virou-se para ela, segurando-lhe a mão, precisava detê-la.Estavam tão próximas que conseguiam sentir os corações batendo.
-- Não conseguiria te odiar, mesmo que quisesse.
-- Mas você disse...
-- Eu sei o que eu disse. – A interrompeu. – O fiz num momento de raiva.
A empresária tocou-lhe os lábios com os dedos. Deliciava-se com aquela boca carnuda, sedosa, tentadora.
A doutora fechou os olhos. Sabia que morando na mesma casa que aquela mulher seus sentimentos não iriam demorar para rebelar-se novamente. Mas não estava disposta a se ferir novamente.
Afastou-se arrumando o traje.
Ainda estava em brasas, mas sabia que não deveria ceder.
-- Por favor, não vamos começar com isso de novo. Não sou a Mariana para me submeter aos seus caprichos.
-- Que caprichos? Eu não tenho nada com ela, foi apenas algumas vezes, não há nada sério entre nós.
-- Ah, não! Você já viu como fala? -- Prendeu os cabelos com o elástico que tinha no pulso. -- Sinceramente, você é uma safada, uma sem vergonha. – Falou irritada.
A empresária segurou, pressionando-a contra o azulejo.
Júlia tentou afastá-la, mas seus protestos foram sufocados por um beijo. De inı́cio, chegou a lutar contra o ato, porém aos poucos correspondeu com o mesmo fervor demonstrado pela outra.
Elizabeth sentia a vida voltar a ter sabor. Aqueles últimos dias foram como se estivesse vegetando. Agia automaticamente, mas agora não! Se sentia viva, feliz em ter aquela deusa linda nos braços. Abraçou-a fortemente, sentindo os corpos se encaixarem com perfeição. Capturou-lhe a língua, chupando-a forte, fazendo-o até que o fôlego acabasse.
As bocas se afastaram.
Elizabeth exibiu um sorriso grande.
-- Eu estou loucamente apaixonada por ti, doutora! E acredite, vou fazer o impossível para que você sinta o mesmo por mim. – Deu-lhe um beijo rápido.
A fisioterapeuta viu Terzak sair da piscina, caminhando orgulhosamente, uma verdadeira rainha, mas não conseguia mexer-se. Estava em choque com as últimas palavras da empresária. Não, aquilo não podia ser realidade, era apenas uma peça pregada por sua mente perturbada.
Lembrou do sorriso doce exibido pela empresária.
-- Oh, meu Deus,o que será de mim?
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