A fera ferida -- Capítulo 16

                        A jovem Terzak olhava a imagem que tinha entre os dedos. Mirou os olhos tão claros, a boca bem feita...
                      Cerrou os dentes, enquanto tentava equilibrar os pensamentos que pareciam difusos naquele momento. 
                       Fitou a porta por onde a ex-sogra saiu e pensou em se levantar e ir até ela, porém acabou permanecendo no mesmo lugar.
                         “ Não, isso não pode ser verdade!”
                  Era essa a frase que se repetia na cabeça de Elizabeth. Aquilo só podia ser uma brincadeira de muito mau gosto. “ Que castigo era aquele que fora lançado sobre si?”
                     Fora para cama com a mulher que teve um caso com o próprio noivo e para piorar estava praticamente louca pela criatura que tivera uma filha com Marco.
                          Agoniada, levantou-se. Apoiou as mãos na delicada mesa, em seguida a esmurrou com o punho direito fechado.
                           Esteve todo tempo a lidar com a criatura que fora o pivô das brigas em sua relação. 
                        Irritada jogou a bengala longe e acabou desequilibrando-se, precisou se apoiar na mesa ou teria desabado. 
                         “ Anny era a filha bastarda que planejara mandar para bem longe.”
                            Aquela constatação fora a mais dolorosa.
                       Deixou-se cair, até sentar no assoalho. Não tinha forças para nada, não desejava ver e nem falar com ninguém, aspirava apenas permanecer ali, com sua dor, seu desespero.
                           Colocou ambas as mãos na cabeça, apertando-a.
                          Aquela maldita escuridão não lhe deixava ver os fatos, como desejava poder lembrar, sair daquele imenso vazio que estava mergulhado suas recordações.
                       Sentiu lágrimas lavar o rosto. Corriam livremente, aquele era um choro de decepção, de medo... Temia a si mesmo... Temia sua raiva e a forma como ela seria lançado àqueles que lhe fizeram tanto mal.




                           Júlia estava em seu horário de almoço.
                       Decidiu fazer a refeição no próprio hospital. Ultimamente, estava tão pobre que evitava esbanjar. 
                         Sorriu!
                   Olhou o prato e viu uma salada. Não era o que queria degustar naquele dia, mas na cantina tudo era tão caro que decidiu optar pela simples comida.
                        Viu Marina, a nova “doutora” de Elizabeth, aproximando-se da sua mesa.
                   Não pôde evitar torcer a boca em desagrado. Deveria ter arrumado uma fisioterapeuta idosa, quem sabe assim a empresária não tivesse nenhuma chance de sedução.
                         Lembrou-se daquele ar tão cheio de si, arrogante e sedutora... Deveria manter-se longe dela, afastar-se, pois sabia que seu controle era pouco.
                      Balançou a cabeça para espantar aqueles pensamentos. Não tinha nada com a empresária e para sua própria sanidade mental era bom que continuasse assim.
                         -- Posso sentar contigo, Júlia? – A mulher indagou simpática.
                         -- Lógico! Fique à vontade. – Disse dando uma garfada na alface.
                         Não tinha por que não ser gentil com a companheira de profissão, mesmo que sua parte irracional não entendesse isso.

                          A falsa doce voz lhe tirou das suas divagações.

                       -- Eu já almocei. – Iniciou a conversa. – Mas não aqui. – Torceu o nariz. – Não gosto da comida que eles servem, nem sei como você aguenta comer isso. Hoje fui a um restaurante francês que fica do outro lado da cidade, degustei um delicioso escargot. – Finalizou orgulhosa.

                      A mãe de Anny tentou mostrar interesse naquela futilidade, mas acabou revirando os olhos inúmeras vezes, enquanto a outra não via.

                      -- Eu adorei a paciente que você me mandou. – Sorriu entusiasmada. – Nunca tinha visto uma mulher tão linda, educada e solicita em toda minha vida. Acredita que ela pagou o triplo pela sessão?

                   Marina só podia estar falando da paciente errada. Nunca no planeta terra, a arrogante Terzak poderia ter aquelas qualidades, só o linda era verdadeiro. Quanto ao dinheiro, não estava nem aı́ para ele, poderia ficar com tudo. Mas o que realmente lhe chamou a atenção foi a jeito da outra se referir à empresária.

                       “Meu deus, o mundo era gay e só eu não sabia. “ – Pensou.

                        -- Fico feliz por você ter gostado. – Foi apenas o que disse.

                    -- Ela comentou sobre o seu trabalho na ilha, chegou a dizer que se fosse ela quem tivesse escolhido a profissional que cuidaria dela lá, eu teria sido a escolhida. – Completou orgulhosa.

                       A senhorita Wasten levantou-se.

                  -- Ah, querida, o papo está maravilhoso, porém realmente eu tenho que resolver alguns probleminhas, antes de reiniciar as consultas. – Despediu-se com um sorriso forçado.

                     Passou lentamente por algumas pessoas que acabavam de adentrar o espaço. Não entendia a razão de ficar tão abalada diante das palavras da fisioterapeuta.

                      Recordou-se de tudo o que passou na maldita ilha, da paciência que tivera a cada explosão da filha de Alex, de cada surto birrento e mesmo assim seguiu em frente até levantá-la da cadeira de rodas. Sentia-se injustiçada diante do que fora dito sobre ter sido uma péssima escolha, afinal, fizera algo que nenhuma outra tinha conseguido.

                            Tomou a direção dos banheiros e agradeceu aos céus por estar vazio.

                             Abriu uma das torneiras, enquanto se inclinava para lavar o rosto. Sentiu-o febril.

                             Mirou o próprio reflexo e notou as bochechas rosadas.

                             Respirou fundo!

                             Estava cada vez mais convicta de que deveria afastar a milionária da sua vida. Tinha certeza de que se não o fizesse, sairia muito machucado daquela relação estranha que a outra insistia em ter.

                           Observou os lábios e memórias da noite anterior lhe invadiram a mente. Anne gostava muito daquela mulher, tão inocente diante da verdadeira personalidade da Terzak.

                             Observou o relógio que descansava em seu pulso. Não demoraria para começar os atendimentos e mais que nunca precisava mostrar um trabalho perfeito.

                             De cabeça erguida, deixou o local.









                            Rafael estava preocupado.

                      Desde a saı́da de Vitória Dilon,  não tivera mais contato com Elizabeth. Ela permanecera o dia todo trancada na sala e nem mesmo atendera as ligações que a secretária tentava passar.

                            Eram quase seis da tarde e nada da mulher.

                     O rapaz já estava entrando em desespero quando viu a porta ser aberta e imponente empresária caminhar em sua direção.

                       Não tinha como negar, a herdeira de Alex Terzak tinha porte de uma verdadeira rainha. Aquele ar de superioridade e arrogância eram suas marcas em todos os lugares.

                          Os olhos verdes pareciam mais escuros, perigosos e cínicos.

                          -- Venha comigo até o hotel Imperial. – Ordenou.

                          -- Mas o que eu vou fazer lá?

                          -- Participar do show. – Sorriu sarcasticamente.

                        O rapaz não retrucou mais. Elizabeth sabia que ele era gay, não era desses afetados. Era discreto, porém desde o tempo da universidade era declarado homossexual. Sabia que a filha de Alex era um pouco preconceituosa, sempre se orgulhava de sua heterossexualidade. Por esse motivo achara estranho o pedido da moça.

                    Seguiu-a lentamente até os elevadores e nenhuma palavra fora dita. Chegarem ao estacionamento do subsolo, caminhando até o veículo que já os esperavam.

                   A herdeira do império Terzak permanecia quieta, apenas observava as ruas movimentadas, enquanto o motorista dirigia. Recuperara o controle. Precisava agir friamente, planejar tudo com calma. Não permitiria que sentimentos confusos lhe tirassem o foco. Sentia um fogo queimar dentro de si, uma vontade de fazer Júlia pagar por ter se intrometido em seu caminho.                                    Coitada! 

                      Não tinha nem ideia de com quem estava lidando. Elizabeth não tinha escrúpulos. Ela nunca se importara em usar as armas mais baixas para conseguir concretizar seus desejos. Não conhecia nenhum tipo de limites e era apoiada nisso que ela sabia que destruiria a doutora sem dó, nem piedade.

                          Fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás, enquanto iniciava massagens com os dedos nas têmporas.

                        Anne era a filha de Marco Dilon. Era o fruto de uma relação suja, de uma traição.

                        O que faria quanto a isso?

                        Verdadeiramente gostava da criança e entendia que ela não tinha culpa dos erros cometidos pelos pais, principalmente pela vagabunda da mãe.

                       Ah, sim, a doutora orgulhosa que não aceitou receber o pagamento pelos serviços prestados na ilha não passava de uma puta!

                            Por que diante de tudo ainda a desejava?

                            Por que não conseguia parar de pensar na forma como as bocas se encontravam, a deliciosa forma que os corpos se encaixavam perfeitamente.

                           Cerrou os dentes tão fortes que sentiu a pressão no maxilar. Abriu os olhos e viu que tinham chegado ao destino.

                          Mirou o prédio de luxo cheio de luzes e não demorou para um homem bem vestido caminhar até o veículo, abrindo a porta.

                           Elizabeth caminhava, mas não seguiram pela entrada principal, fizeram-no por uma das portas exclusivas, assim não daria tanto nas vistas dos que ali estavam.

                            Rafael acompanhava a chefe até a suı́te, ambos continuando em total silêncio.

                        O lugar era demasiadamente chique, o ambiente fora montado com luzes e músicas. Os móveis haviam sido retirados, apenas nichos decoravam o local. Parecia mais aqueles bordeis famosos de Las Vegas.

                        As mulheres eram lindas, todas usavam roupas provocantes que pouco escondiam. Elas fitaram os anfitriões.

                       A empresária caminhou até o bar e sentou confortavelmente numa poltrona, cruzou as longas pernas e bebericou.

                      -- Podem começar, meninas! Transem como se não houvesse amanhã. – Fez um gesto de brinde.

                    Rafael arqueou a sobrancelha. Estava totalmente passado com o que estava presenciando. Aquela mulher era louca mesmo. Ela desejava presenciar um filme pornô ao vivo.

                     As jovens não se fizeram de rogadas. Iniciaram danças sensuais, bebendo, tomando banho de champanhe, começaram a se insinuar para a morena, que apenas sorria safadamente.

                Elizabeth não podia negar que aquela situação era muito excitante, sua libido estava aflorada. Seu corpo já começava a mostrar sinais de excitação. Estendeu o copo e uma loira muito gostosa a serviu.

                  -- Tira a roupa. – Pediu no ouvido dela. – Se mostre para mim, quero te ver. – Passou as mãos pelos seios da garota. 

                    A jovem nem se fez de rogada.

                     Despiu-se por completo e ajoelhou-se entre as pernas da empresária.

                 Elizabeth olhou para o assistente que permanecia sentado e quieto na outra poltrona. Piscou para ele e em seguida começou a lamber os mamilos da menina.

                    Sorrindo, ela dispensou a jovem que correu para os braços de outra mulher.

                   -- Não vai se aventurar? – Fitou Rafael.

                   -- Eu não curto essas coisas. – Olhava horrorizado. – Qual o propósito disso tudo?

                    -- Apenas diversão. – Girava o copo entre os dedos, fitando o lı́quido.

                    -- Você não parece estar se divertindo tanto assim.

                  A empresária sabia que aquelas palavras tinham um fundo de verdade. Na noite passada, depois de muito tempo, poderia dizer que voltara a sentir aquela sensação de contentamento. Ficar vendo filme num apartamento de subúrbio fora uma experiência diferente.

               -- Talvez, eu esteja querendo aprender. – Deu de ombros. – Vá nesse endereço e invente uma boa história para trazer essa mulher aqui. – Entregou-lhe um cartão.

                   O rapaz assentiu.

                   Sua chefe mandava e ele obedecia.







               Júlia tinha acabado de chegar do hospital. Naquela noite, Jane não fora para faculdade. A babá mandou mensagens dizendo que levaria Anny na pracinha e depois iriam tomar sorvete. Queria ter chegado a tempo de ir com elas, mas o trânsito estava terrível.

                 Sentou no sofá e esticou as longas pernas.

             O dia fora muito cansativo. Mas isso era muito bom, afinal, ganhava por números de pacientes que atendia. 

                   Pegou o celular e viu que havia algumas ligações.

                    Henrique!

                   A surpresa veio quando uma das chamadas eram da sua mãe.

                Eles nunca ligavam, não tinham nenhum interesse em sua vida e nem mesmo na neta. Será que tinha acontecido algo?

                  Ouviu a campainha tocar.

                  Quem poderia ser uma hora daquelas?

                  Ao abrir deparou-se com a figura de um homem jovem, bonito e muito elegante.

                 -- Bom noite! – O homem cumprimentou educado. – Preciso falar com a senhorita Wasten.

                 -- Eu sou a senhorita Wasten. – Respondeu desconfiada.

                 -- Elizabeth Terzak necessita da sua presença.

                Lógico que não fora isso que a empresária falara, mas o rapaz não podia simplesmente agir como um bandido sequestrando a mulher. Vendo a doutora, sua curiosidade aumentou. O que teria ela com sua chefe?

              -- Diga a sua patroa ou sei lá o que ela é sua, que não tenho nenhum interesse nesses convites, na verdade, prefiro manter distância dela. – Tentou fechar a porta.

                 Rafael a deteve.

               -- Por favor, senhorita. – Apelou. – A sua paciente não está nada bem. – Mentiu. – Ela fizera muitos exercı́cios e acabou se machucando demasiadamente.

                 -- O que houve? – Preocupou-se.

                  O assistente percebeu que conseguira prender a atenção de Júlia.

                 -- Ela reclama de dores fortes, chegou até a chorar. – Exagerou. 

                   A mãe de Anny pegou a bolsa.

                 -- Certo! Irei contigo.







                 A empresária estava sentada na poltrona.

              Duas mulheres dançavam para ela, porém parecia nem prestar atenção no que ocorria ao seu redor. 

               Tomou mais um gole.

               “ Anny era filha do homem que amara. ” Não conseguia digerir aquela informação.

            Quantas vezes Marco alegara estar sendo perseguido por uma garota que conhecera e começara um relacionamento sem importância. De acordo com ele, era apenas sexo. Até o dia que conhecera a empresária e terminara o caso, mas a jovem não se conformara e o seguia dia e noite.

                Maldita Júlia Wasten!





          Rafael chegou ao hotel trazendo a encomenda que lhe fora pedida. Ele precisara aumentar ainda mais a mentira, pois a mulher perguntava demasiadamente. Quem era aquela jovem e o que ela significava para Elizabeth Terzak? Essa era a indagação que martelava em sua mente.

                Discretamente observou-a..

                 Era realmente uma bela fêmea, daquelas que paravam o trânsito.

               A fisioterapeuta estranhou o fato da paciente está naquele hotel, imaginava que ela deveria ter uma casa ou apartamento.

                  -- Por que Elizabeth está aqui? – Indagou receosa. 

                 Eles tinham acabado de entrar no elevador.

             -- Ah, é que ela teve que resolver umas coisas aqui perto, aı́ se sentiu mal e ficou aqui mesmo. 

                 Júlia inocente apenas assentiu.

            Quando a porta foi aberta, a fisioterapeuta não conseguiu distinguir em que lugar estava. Aquilo parecia uma festa, então olhou melhor e viu que ali só havia mulheres e algumas estavam nuas, enquanto outras usavam minúsculas peças de lingeries. Percebeu que elas se agarravam, beijando-se, tocando-se na frente de todos. Estava numa orgia!

                  -- Já está excitada ou vou ter que usar minhas mãos para isso?

                  A fisioterapeuta assustou-se. Virando-se, deparando-se com a paciente bem a suas costas.

                  Fitaram-se demoradamente. No olhar da empresária só havia cinismo, enquanto no da Wasten reinava a surpresa.

                 -- O que significa tudo isso?

                -- Ah, meu amor. Não gostou da festinha? – Piscou. – Achei que você estivesse acostumada com esse tipo de ambiente. – Chegou mais perto. – Ah, desculpe minha ignorância, isso aqui é muito luxo para você, imagino que estava acostumada com aqueles cabarés de esquina. -- Chegou mais perto. -- Quanto você cobrava por um programa dentro dos matos?

                 A fisioterapeuta não entendia o porquê das ofensas, mas não pensava em permanecer ali para continuar ouvindo-as.

                  Procurou pelo homem que a trouxe, mas não o viu em lugar nenhum.

                -- Não tenho o porquê ficar num lugar como esse. – A fitou. – Você não cansa de usar de mentiras para me atrair? 

                  A empresária a segurou pelo braço bruscamente.

               -- Se você deixasse de bancar a virgem escandalizada eu não precisaria usar de subterfúgios.

           Encararam-se durante alguns segundos. Mais uma vez havia uma batalha presente ali. Elizabeth enfrentava uma guerra interna ainda mais terrível.

               -- Irei embora agora mesmo. – Puxou o braço, libertando-se. 

                 A Terzak sentou e cruzou as pernas.

                 Fez sinal para que desligassem o som.

           Observou a doutora inutilmente tentar abrir a porta. Esperou até vê-la voltar ainda mais furiosa.

                Havia uma enorme diferença entre aquelas mulheres quando se tratava de lidar com a raiva. Júlia colocava tudo para fora, Elizabeth apenas maquinava friamente uma forma de vingar-se.

                  -- Abre essa maldita porta! -- Apontou-lhe o dedo indicador em riste. -- Faça ou chamarei a polícia.

                     A filha de Alex sorriu, enquanto mirava as roupas que a mãe de Anny usava. Calça branca e camiseta na mesma cor. Decerto, tinha acabado de retornar do trabalho.

                    -- Não! – Fez sinal e uma bela loira lhe encheu o copo. – A única forma de você sair daqui vai ser pulando a janela, levando em conta que estamos no quadragésimo andar, só se você fosse filha de Dédalo.

                      -- Ligarei para a polı́cia e direi que você está me mantendo aqui contra a minha vontade. – Apontou o dedo para ela novamente. – Você é uma desavergonhada.

                          -- Liga, imagina o escândalo que vai ser isso. Não acredito que continues trabalhando naquele renomado hospital. 

                         A fisioterapeuta se aproximou, pegou o copo da mão da paciente e jogou no chão.

                 -- Você não tem vergonha? Como pode fazer algo assim. – Apontou para as mulheres. – Você me dar nojo. – Falou decepcionada.

                     A Terzak não conseguiu encarar a reprovação presente naquele mar azul. Como poderia lhe afetar tanto a opinião daquela mulher?

                    Ela chamou uma das jovens e sussurrou algo em seu ouvido. Em poucos segundos, as garotas vestiram-se e saı́ram do apartamento.

                    -- Você se acha melhor do que essas mulheres? – A empresária indagou.

                    -- Não tenho nada para falar contigo.

                    A Terzak levantou-se, pegou um envelope em sua bolsa e entregou a mulher.

                    -- O que é isso? -- Indagou confusa.

                    Júlia abriu e deparou-se com a foto de Clarice.

                   -- Essa aı́ foi a mulher que teve um caso com meu noivo e diz até que teve uma filha com ele. – Falou com desdém. – Não vejo onde você é melhor do que as vagabundas que estavam aqui.

                  A garota fitou a paciente confusa. Então percebeu o que estava acontecendo. A empresária confundiu as irmãs. Elas não eram gêmeas, mas sempre foram tão parecidas que era difı́cil distinguir uma da outra. Mas o que a mais deixara chocada foi descobrir que Elizabeth Terzak fora a mulher que destruı́ra a vida da mãe de Anny e levara a empresa do pai à falência.

                   -- Você é uma cadela da mais vira-lata que existe.

                 A fisioterapeuta fora empurrada contra a parede violentamente, pressionada por uma Elizabeth cheia de ódio. A moça não tinha nenhuma reação. Sua cabeça estava confusa demais para fazer alguma coisa.

                  -- Sinto asco quando penso que beijei sua boca, que estive na cama contigo. – Disse entre os dentes. -- Uma cadela de rua, vagabunda! -- Gritava.

                    -- Solte-me. – Pediu tentando não perder a calma.

                     -- Eu tenho vontade de te matar com minhas próprias mãos. – Segurou-lhe o pescoço.

                       -- Solte-me! – Insistiu calmamente.

                      Dessa vez, a empresária obedeceu.

                     Ficou de costas para jovem e passou a mão nos cabelos. Aquilo era uma verdadeira maldição!

                      A voz doce e trêmula se fez ouvir novamente.

                      -- Deixe-me ir, Elizabeth.

                      A mulher a fitou.

                      -- Você tem ideia de como eu me sinto diante dessa descoberta? -- Chegou mais perto. -- Me responde uma única coisa: você sabia que eu era a noiva do Marco Dilon?

                       Júlia meneou a cabeça negativamente.

                        -- Mentira! – Gritou irritada. – Agora eu tenho certeza de que você não vale nada.

                         -- Pense o que quiser.

                  Aquele ar de indiferença da fisioterapeuta deixou a empresária ainda mais irritada. Avançou para ela novamente, lhe segurando pelos ombros.
                     -- Você acha que vai ficar assim? Ainda não tem ideia de quem é Elizabeth Terzak? Vou te ferir onde mais te dói.
                       -- Não se aproxime da minha filha, porque se você o fizer, aı́ sim vais me conhecer, sou capaz de te amatar.
                       A filha de Alex esboçou um perigoso sorriso, soltando-a.
                        -- Prepare-se, meu amor. – Ironizou. – Agora, já pode ir.
                  Júlia ainda pensou em desfazer aquele mal-entendido. Mas de que adiantaria? Talvez, fosse ainda pior. Pelo que a irmã escrevera no diário, a mulher que lhe roubara o namorado era o ser mais sem escrúpulos que já conhecera. Até mesmo mandara o Dilon lhe oferecer dinheiro para abortar o próprio filho. Não podia negar que estava temerosa, aquela mulher era capaz de tudo.
                      Fitou-a mais uma vez e logo em seguida foi embora. 
                       Elizabeth permaneceu onde estava.
                     Uma dor lancinante lhe cortava a alma. Desejara tanto que a fisioterapeuta negasse que fora a amante do seu noivo. O pior era bem capaz de ter acreditado, na verdade, queria acreditar em qualquer coisa, precisava se apoiar em algo, porém a outra permanecera impassível. Parecia que nada tinha acontecido, que tudo era normal.
                        Sentou na poltrona.
                     Já sabia o que iria fazer. Tudo já fora bem planejado em sua cabeça. Usaria Anny para humilhar e destruir a doutora.

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