A fera ferida -- Capítulo 14


                   Dois depois de Júlia voltar da ilha, Alex Terzak fora visita-la em seu apartamento. Já era noite quando o magnata apareceu.
                A bela mulher preferiria não o receber, pois a presença do empresário a fez lembrar da intratante paciente que precisou aguentar durante aquele tempo. Ainda se recordava do olhar desconfiado de Jane na volta para casa, afinal, o que poderia ter motivado aquela saída tão rápida daquele lugar?
                    Felipa estivera consigo e pediu para que ela não fosse, disse que falaria com a patroa, que tentaria dissuadi-la da ideia, mas a fisioterapeuta se negara. Não conseguiria ficar mais naquele lugar, não depois do se passara ente ela e a filha do milionário.
                -- Sinto muito não ter podido vir antes, mas estava na Grécia, tinha coisas para resolver. – Beijou a mão da fisioterapeuta.
                   A jovem apenas assentiu e fez um gesto que ele sentasse.
                  O apartamento era pequeno, mas aconchegante. Na sala havia poltronas na cor bege, uma TV, cortinas em cores claras, algumas flores perfumavam o ambiente.
                -- A Elizabeth me ligou. Ela falou que você a esbofeteou. – O homem parecia constrangido.
                Ah, sim, ela correra para contar para o papaizinho o que tinha se passado.
              -- Ela passou dos limites. – Falou envergonhada. – Não queria ter feito aquilo, mas ela me ofendeu, ofendeu minha filha e isso eu não pude admitir.
               -- Entendo. – Murmurou.  – Porém, a Liz não entendeu. Ela não é tão flexível e isso é o que me preocupa.
               -- Não tenho medo da sua filha.
              -- Eu sei. Porém, ela pode te prejudicar muito. Elizabeth pediu para o advogado entrar com um processo contra ti. 
              Júlia não estava surpresa com aquilo. Aquela mulher era vingativa, não era difı́cil deduzir isso.
                  -- Já esperava.
                 O homem sentou ao seu lado e segurou suas mãos.
                -- Você não deveria ter caı́do nas provocações dela. Estava indo tão bem, fez um ótimo trabalho, mas agora tudo se complicou.
                 A fisioterapeuta retirou as mãos, levantando-se.
               -- Sua filha não tem limites. – Falou exasperada. – Ela acha que é a dona do mundo, acha que pode humilhar, xingar e todos vão apenas baixar a cabeça.
                  -- Eu sei.
                 Alex levantou-se com um longo suspiro.
                  -- Vou depositar o dinheiro em sua conta. Apesar de tudo, você alcançou o objetivo.
              -- Eu não quero nada do senhor. Na verdade, o que mais desejo é esquecer que um dia conheci os Terzaks.
                  -- Júlia...
                 -- Por favor, faça o que estou pedindo. Não quero nada de vocês. 
                 A jovem abriu a porta do apartamento para o homem sair.
                 Ele meneou a cabeça em assentimento e foi embora.
                 A Wasten fechou a porta e sentou no sofá, recostou a cabeça para trás e fechou os olhos.
             Tomara aquela decisão depois de muito pensar. Sabia que aquele dinheiro lhe ajudaria o bastante para ter uma estabilidade financeira. Daria maior segurança a sua filha, porém não teria tranquilidade quando lembrasse de onde virá a ajuda. Não queria lembrar de Elizabeth Terzak, queria arrancá-la do pensamento e do próprio coração.
                 -- A Anny já dormiu. – Jane comentou.
                A babá sentou ao lado da fisioterapeuta. A conhecia tão bem. Sabia que desde que voltaram de ilha aquela mulher sofria. O semblante triste não a abandonou um único minuto. Pensara em tentar uma conversa com ela, mas temia vê-la sofrer ainda mais.
               -- Jane, esse mês vamos ter problemas financeiros, mas prometo que farei o possível para renovar sua matrı́cula na faculdade.
              A jovem estudava psicologia no perı́odo da noite. Estava no sexto perı́odo. Júlia quem pagava as mensalidades do curso, além de casa, comida e uma ajuda no final do mês, em troca a garota cuidava da criança. Conhecera a amiga quando a irmã morreu, a moça trabalhava numa lanchonete e desde aquele primeiro encontro, as duas estavam juntas.
               -- Ju, não precisa se preocupar com isso. Sei que a situação não está boa, eu posso pedir ajuda aos meus pais.
                 -- Isso não! – Levantou-se. – É minha responsabilidade, você cuida tão bem da minha filha que o mı́nimo que posso fazer é retribuir.
               -- Como? Nós sabemos que esse mês mal teremos dinheiro para o aluguel. Você não deveria ter aberto mão do dinheiro do Terzak. Não era nenhuma esmola, era o que ele tinha que pagar pelos seus serviços. Afinal, você fez um verdadeiro milagre com a filha dele. – Falou irritada. – Ele deveria pagar ainda mais só por você ter aguentado aquela mulher.
              -- Eu não quero nada deles! Juro que só desejo esquecer que os conheci, principalmente Elizabeth.
                  -- Hun!
                 Jane assentiu! Ela suspeitava que entre as duas mulheres aconteceu algo mais do que a fisioterapeuta havia falado.
                   -- Posso trabalhar de baby sitter para ajudar.
                   -- Não precisa, eu vou me virar. Vamos conseguir superar esses problemas.




                  -- Onde está a Liz, Felipa?
                Alex viajou para a ilha uma semana depois de ter falado com a fisioterapeuta. Já era quase noite, ele se atrasara um pouco, mas agora já estava lá.
                -- Está  no quarto. – Falou temerosa. – Ultimamente ela está  cada vez pior. Está  com um gênio terrível.
                  -- Qual é a novidade? Ela sempre foi assim. – O homem deu de ombros.
               -- Perdoe meu atrevimento, mas a menina parece estar possuı́da por alguma entidade do mal. Só ontem ela despediu o enfermeiro que cuidou dela pacientemente esse tempo todo e também uma garota que ajudava na cozinha.
                   Alex nem quis mais ouvir, foi ao encontro da filha.
             A empresária estava sentada na varanda, tomava um suco e lia um livro. O milionário a cumprimentou com um beijo e sentou.
                   -- O que veio fazer aqui? – Indagou exasperada.
               -- Vim ver como você está. – Ignorou a irritação da jovem. – Quer que eu contrate outra fisioterapeuta? -- Serviu-se de suco.
            -- Não preciso de ninguém! – Bateu na mesa com o punho fechado. – Já pedi ao meu advogado para processar aquela mulher que você mandou aqui para a ilha. Avise-a que o dinheiro que ganhou comigo vai sair muito caro.
               -- Que dinheiro? – O homem permanecia calmo. – Fique sabendo que a senhorita Wasten não aceitou um único centavo nosso.
                  -- Como assim? – Indagou surpresa.
               -- Isso mesmo! – Mordeu um biscoito. – Estive com ela semana passada para avisar dos seus planos de processá-la e para pagá-la pelo trabalho. Em outras palavras, ela deixou bem claro que só queria esquecer que os Terzaks existiam.
                  -- Mas quem ela pensa que é? – Levantou-se.
               Elizabeth não deixará de se exercitar depois da partida de Julia. O fazia constantemente e em breve nem precisaria das muletas.
               -- Bem, acho que ela deve ter ficado traumatizada com seus modos. Ela é uma jovem tão calma, não deve estar habituada ao seu jeito de tratar.
            A empresária estava pasma com tudo aquilo. Em nenhum momento imaginou que a “ doutora” abriria mão do dinheiro que o seu pai lhe prometera. Por que fizera aquilo? Todos só pensavam em dinheiro e ainda mais ela, tinha certeza que a jovem não contava com grandes recursos financeiros.
                 -- Bem, vou para os meus aposentos. Amanhã mesmo retorno para a capital. – Levantou-se. 
                  Alex já estava saindo do quarto, quando a filha o deteve.
                  -- Irei contigo!
                  O empresário parou surpreso.
                  -- Quê?
                 -- Eu voltarei para a capital amanhã. Estou cansada dessa ilha, vou retomar meus negócios. – Completou decidida. 
                  O homem fitou a mulher parada a sua frente.
               Não conseguia acreditar no que ouvira. Fazia quase três anos que Elizabeth sofreu o fatı́dico acidente e em nenhum momento, depois do desastre, ela cogitara a possibilidade de retornar para sua vida normal. Inúmeras vezes insistira para que ela retornasse, porém nunca tivera sucesso em suas tentativas.
                 -- Por quê? – Alex indagou.
              -- Porque essa é a minha vontade. Isso não lhe basta? – O fitou sarcástica. 
                  O home apenas assentiu e seguiu para o próprio quarto.
                  A empresária continuou no mesmo lugar.
                 Sua decisão não fora tomada instintivamente. Há dias que pensava em voltar para sua vida. Não ganhava nada se isolando naquele lugar. Precisava retornar, tinha que encontrar o filho de Marco. Assim se livraria de uma vez por todas dos pais dele. Diariamente vinha sendo pressionada. Não aguentava mais ouvir que fora culpada da morte do noivo. Precisava conviver com aquilo para sempre, com aquela culpa que não a deixava em paz.



                Júlia voltara ao seu trabalho no hospital.
             Fazia quase um mês que voltara para a cidade e desde então trabalhava dia e noite tentando conseguir dinheiro para conseguir arcar com todas as dívidas. Ultimamente vinha atendendo pacientes em casa, isso estava lhe rendendo um extra. Seu apartamento estava com duas prestações atrasadas, até carta do banco já recebera.
                 Naquele dia já tinha acabado todas as sessões.
              Já eram quase vinte horas. Estava arrumando as coisas para deixar o lugar, quando o telefone do consultório tocou.
                -- Doutora, há uma paciente para esse horário. Tem como atender?
             A fisioterapeuta estava cansada, mas quanto mais atendesse, mais ganhava. Era assim que funcionava ali.
                -- Sim! Pode mandar entrar.
              A jovem estava colocando o jaleco, quando a porta abriu e a pessoa que ela imaginou não ver nunca mais em sua vida ressurgiu das cinzas.
                 -- Boa noite, doutora!
                  Júlia sentiu o coração falhar uma batida diante daquela visão.
               Elizabeth estava a sua frente. Exibindo aquele mesmo sorriso irônico de sempre, com aquele ar de superioridade irritante, porém muito mais linda. Agora podia dizer que estava diante da imagem da empresária, usando roupa social ficava ainda mais sexy, os cabelos estavam soltos e pela primeira vez a via de maquiagem, o efeito era devastador.
                 -- Boa noite, senhorita Terzak. – Tentou mostrar-se indiferente.
              A paciente a olhou. A mulher era perfeita, mesmo com os cabelos presos, jaleco e óculos. Bem diferente da forma despojada que se vestia na ilha.
                -- Hun, fico feliz por ter sido recebida. Bem que não sabia de quem se tratava. Acho que se a secretária tivesse dito, eu não teria tido permissão para entrar.
            A fisioterapeuta acomodou-se em sua cadeira e fez um gesto para que a outra a imitasse, o que foi prontamente atendido.
               -- Nesse hospital, não costumamos recusar pacientes, mas se eu tivesse esse poder, com certeza, não a queria nunca mais em minha frente.
                  Elizabeth riu alto, daquela forma rouca que era a perdição da mãe de Anny.
               -- Sua sinceridade é tocante. – Desdenhou. – Mas como você disse, esse hospital não pode recusar “ clientes”, ainda mais uma com o status tão alto quanto o meu.
               -- Olha, eu não estou com tempo para sua arrogância, diga logo porque veio aqui e me deixe em paz. —Impacientou-se.
               -- Cuidado como fala comigo, posso me queixar com seus superiores. – Piscou. – Vim aqui para que você me examine. Desejo retomar minhas sessões.
              -- Vou lhe indicar uma ótima fisioterapeuta. – Abriu a gaveta e pegou um cartão, entregando-o a outra. – Ela atende aqui também, ela vai adora cuidar do seu caso.
              -- A única pessoa que vai cuidar do meu caso é você. – Rasgou o papel. – Ao menos que você deseje ver seu lindo nome envolvido num escândalo, tipo: “Fisioterapeuta se aproveita da solidão da paciente e a seduz” . – Provocou. -- Fez sexo comigo, aproveitou-se da minha situação de vulnerabilidade.
               -- Você é a maior cretina que já conheci. Acha que pode comprar as pessoas e ameaça-las para satisfazer suas vontades. – Levantou-se.
              -- Deixe de crises, estou apenas querendo que continue de onde parou. Não aguento outra pessoa se envolvendo na minha vida.
                  -- Mas precisa usar de chantagem para isso?
                  -- Sempre uso as armas que tenho.
                 Mais uma vez se encararam, mediam forças através do olhar e nenhuma parecia disposta a ceder diante daquele ardilosa batalha.
                 A filha de Alex a olhava, fitava a boca bonita e ansiava por tocá-la, por senti-la novamente. Suas noites sempre eram invadidas por sonhos, por lembranças de senti-la, de tê-la junto a si novamente.
                Júlia a viu umedecer os lábios distraidamente e desviou o olhar, pois se sentia invadida, fragilizada.
                Deus, por que aquela mulher teve que voltar ali?
                Cruzou os braços, pois teve a impressão que os seios ficaram doloridos.
            -- Ok! Você venceu mais uma vez. – Caminhou resignada até a cama. – Venha, deixe-me examiná-la.
              Elizabeth não usava mais as muletas. Usava apenas uma bengala, daquela onde se apoia o braço. Ela se aproximou de Júlia. Parou bem perto dela, tanto que conseguia sentir o hálito.
                 Deitou, enquanto a fisioterapeuta começava a tocá-la, lhe examinando as pernas.
                -- Você acha que vou poder andar sem precisar me apoiar em nada? – Indagou apreensiva.
              -- Levando em conta como você estava antes, tenho certeza que muito em breve não precisará usar nenhuma bengala.
                 -- Quero poder voltar a ter uma vida normal. Gosto de dançar, de correr...
                A empresária parou de falar ao sentir aquelas mãos lhe apalpando as coxas. Ela sabia que aquele era um procedimento normal, porém não conseguia evitar de se sentir excitada. Lembrou da noite que estiveram juntas e isso a fez desejar repetir.
                 Mexeu as pernas, trazendo a mulher sobre si, abraçando-a.
                  -- Me solta, você está louca? – Tentou se desvencilhar, em vão. -- Vou chamar os seguranças, vou gritar e fazer um escândalo nesse hospital! -- Esbravejava.
                 -- Já te disseram que você fica linda de óculos? Parece aquelas intelectuais. Dá tesão isso, sabia? – A apertou mais em si.
                  -- Solte-me, Elizabeth. – Exigiu, encarando-a.
                  -- Não!
                A fisioterapeuta viu aquela boca colar na sua e não teve como reagir. Apenas sentiu aqueles lábios se apossarem dos seus em um toque lento, delicado que minava todas as suas defesas, sentiu a lı́ngua lhe invadir todos os cantos numa experiente exploração. Sem conseguir retomar o controle, começou suga-la avidamente, desejosa de muito mais.
              Elizabeth começou a lhe tocar os seios sobre a blusa, até invadir pela lateral e senti-los, estimulando os mamilos com o polegar, fazendo-a gemer. A outra mão desceu, abrindo-lhe a calça e tocando-a sobre a calcinha.
              Júlia sabia que aquilo era uma loucura, mas não tinha como controlar aquele desejo que lhe invadia a alma. Era tão perfeito está nos braços daquela mulher. Era como se o mundo voltasse a ter sentido, depois de tanto tempo.
Mexeu-se para poder dar maior acesso à empresária. Sentiu os dedos lhe acariciando o sexo, massageando-o.
             -- Hun, que delı́cia que você está, doutora. Tão molhadinha, prontinha para mim. – Sussurrou-lhe.
                A fisioterapeuta rebolava no mesmo ritmo dos dedos. Numa dança deliciosa em busca da satisfação... Batidas na porta interrompeu aquele momento de intensa paixão.
                  A fisioterapeuta levantou-se, ajeitando a própria roupa.
               Elizabeth apenas riu da situação. Observando-a corada. A porta foi aberta e Henrique entrou.
                 -- Desculpe, amor. Não sabia que estava com paciente. – Fitou Elizabeth, parecia confuso. – Sua secretária não estava, então decidi ver se você já estava pronta para ir para casa.
                   A empresária levantou-se.
                  -- Já estou terminando aqui. – Disse sem jeito.
                   O médico assentiu e saiu do consultório, deixando-as sozinhas novamente.
                -- Isso não deve voltar a acontecer. – Júlia a encarou. – Se for assim, não irei atendê-la mais.
                    Elizabeth deu de ombros.
                     -- Você não é ninguém para dizer o que posso ou não posso fazer.
                     -- Quando se trata de mim, sim!
                 -- Não a forcei a nada, doutora. Não tenho culpa se seu namoradinho não é bom o suficiente para satisfazê-la. – Riu debochada.
                     A empresária pegou a bolsa e dirigiu-se a porta, voltando-se para a jovem.
                 -- A consulta já foi paga, e muitas outras já foram marcadas. Então, até logo, senhorita Wasten.
                  Julia a viu sair e se sentiu impotente diante daquela situação. Não podia aceitar continuar com aquelas sessões, era fraca demais para resistir a todo aquele charme. Seu corpo ainda sentia as labaredas de alguns minutos atrás.





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