Dolo ferox -- Capítulo 43

      O sol estava alto na cidade. Não havia a neblina que tomou o céu na noite anterior. As rotinas pareciam voltar ao costumeiro normal.
Pessoas caminhavam de um lado para o outro no grande centro. Alguns vendedores ousavam ainda mais, enquanto ofereciam seus produtos com grande insistência. Era possível encontrar outras pessoas que se arriscavam a cantar para conseguirem alguns trocados e assim a normalidade seguia.
Havia uma certa solidão naqueles lugares tão cheios, como se todos estivessem sempre apressados e não houvesse tempo de cumprimentar uns aos outros, ou até mesmo esboçar um simples sorriso de simpatia. As expressões eram fechadas, andavam com seus celulares, trocavam mensagens, porém não interagia com os outros. O barulho era ensurdecedor.
Rick caminhava por entre os becos, sabendo que estava sendo seguido por um estranho homem.
Acelerou o passo e logo seguia pelas docas do porto. Escondeu-se por trás de um container e com arma em punho esperou.
Viu-o se aproximar. O homem, que não era tão alto, barrigudo, calvo e com bigodes, usava jaqueta de couro preta e calça social. Tinha a expressão sisuda, o ar ameaçador e estava claro que trazia uma arma na cintura.
Então eles tinham conhecimento das suas investigações. Será que sabiam alguma coisa sobre a Natasha?
Cerrou os dentes e esperou.
Ouviu as gaivotas ao longe, fitou o céu azul, depois retornou a sua observação.
Os passos do homem eram inseguros, talvez atrapalhado, assustado deveria estar.
O detetive cuidadosamente deu a volta e logo se posicionava com a arma apontada para a nuca do seu perseguidor. 
-- Se ousar fazer algum escândalo ou reagir,  os abutres terão miolos da sua cabeça para comer.
O homem jogou o revólver no chão e permaneceu quieto.
-- Por favor não atire, eu prometo que não esboçarei nenhuma reação.
Rick o revistou e encontrou um punhal.
-- O que você quer comigo?
-- Pediram para o seguisse e visse o que está fazendo. -- Falou trêmulo.
O detetive o segurou pelo colarinho, pressionando-o contra a parede.
-- Quem? -- Indagou por entre os dentes. -- Quem está pagando a você?
-- Uma mulher… -- Falou com dificuldade. -- Uma mulher… 
-- Diga o nome!
-- Eu não sei…
-- Está mentindo! -- Engatilhou a arma, apontando para a têmpora do outro. -- Ou fala ou não haverá chances para que alguém reconheça essa sua cara feia.



Nicolay tinha chegado antes no hangar e falava com o piloto, depois se encaminhou para junto da aeronave que estava sendo abastecida.
       Ficara sabendo que outra aeronave tinha sido liberada pela empresa, porém imaginou que se tratara de alguma viagem executivas de algum membro da diretoria.
        Mirou o céu azulado.
Segurava firme em sua bengala, enquanto ponderava o que poderia ser feito agora para que Isadora não conseguisse a guarda do neto.
Soltou um longo suspiro ao pensar como Valentina se sentiria ao saber que o pequeno Victor não tinha o sangue dos Vallares.
O que se passara? 
Por qual razão Isadora e Nathália não tinham usado o material genético de Verônica? O que aquelas duas mulheres tinham planejado?
As Hanmintons eram verdadeiras víboras. Traiçoeiras, escondiam suas verdadeiras faces por trás da educação que diziam possuir.
Olhou para baixo e ficou a pensar se a filha não tivesse se envolvido com aquelas mulheres as coisas poderiam ter sido diferente. 
O carro estacionou e logo via Leonardo acompanhado de Helena.
Fez um gesto com a mão, chamando-os.
O casal se aproximou, cumprimentando o conde com abraços.
-- Fico feliz que tenham aceitado meu convite, eu mesmo não saberia como agir com a Valentina, como explicar que o filho corre o risco de ir parar nas mãos da duquesa.
-- Uniremos nossas forças e lutaremos para que isso não aconteça. -- A esposa de Antonini disse, enquanto lhe tocava o braço. -- Confio que nos sairemos vitoriosos de toda essa histórias, apenas não devemos perder a fé.
O piloto veio avisar que a decolagem atrasaria um pouco devido algumas observações de segurança, mas que não demoraria para seguirem até o destino.




A Valerie ouvia com atenção  tudo o que o monge dizia e várias vezes teve reações negativas.
Lentamente, ela seguiu até uma das janelas e ficou a observar as pessoas retornando aos seus trabalhos como se uma tempestade não tivesse passado por ali há pouco tempo.
Observou o garanhão grande que a Valentina aparecia montada e se recordou dos olhos tão negros a lhe fitarem na noite anterior.
Ainda se sentia estremecer diante das carícias ousadas, do atrevimento da jovem que parecia saber bem o que fazia, chegando a conduzi-la perfeitamente para a paixão escandalosamente avassaladora.
Espalmou as mãos no vidro, sentindo-o frio, tão frio quanto seu interior naquele momento.
Fechou os olhos e imagens do dia que despertara na caverna vieram a sua mente. Ainda se recordava do desespero de não conseguir lembrar nada do que tinha se passado em sua vida pregressa. Seu cérebro parecia uma folha em branco, um papel que nada tinha escrito e tudo o que sabia era o que lhe falava outras pessoas.
O monge a observava e pensava se aquele era o momento adequado para lhe contar toda a verdade, ainda mais com o risco que ela ainda corria, porém vê-la se desesperar diante do desejo que sentia pela Vallares lhe perturbava bastante, pois sabia que a ruiva se condenava por isso.
Se falasse naquele momento correria o risco de levar o plano a perder, corria o risco de arriscar a vida da neta da duquesa e mais uma vez fracassaria em seu intuito, da mesma forma que fracassou quando Elizabeth morreu nas paredes frias daquele convento.
-- Filha… -- Chamou-a.
A arquiteta se voltou para fitá-lo. Tinha a expressão séria, o olhar forte se fazia presente.
-- Não aceitarei uma única mentira.
-- Por que acha que estou mentindo? -- Questionou surpreso.
-- Eu não me recordo de tudo, isso é fato, mas não creio que essas minhas lembranças envolvendo a Vallares seja uma coisa natural. -- Cerrou os dentes fortemente. -- Diga de uma vez o que se passa comigo, o que significa toda essa história.


Valentina sabia que não deveria estar ouvindo atrás da porta, porém ficou bastante curiosa diante da insistência da ruiva em falar particularmente com o monge.
Ouvia a voz dela e era como a velha Natasha estivesse ali. Aquela força em seu timbre rouco e baixo que chegava mesmo a ser ameaçador, intimidante.
Conseguia sentir o desespero dela e se sentiu culpada por isso, afinal, se tivesse se controlado, se não a tivesse tentado seduzir, nada disso estaria acontecendo naquele momento.
Respirou fundo e imaginou se o religioso teria coragem de negar tudo ou inventaria uma história para tranquilizá-la, ela sabia que isso era o certo a ser feito, mesmo assim torcia para que a verdade fosse dita, ansiava por aquilo, mesmo sabendo que deveria resguardá-la, protegê-la para que nada a ferisse novamente.
Cruzou os braços e o silêncio que reinava no interior do escritória parecia feri-la,machucá-lhe a carne como se estivesse sem a pele e ali lhe jogassem água com sal.
        Sabia que não seria tão fácil ludibriá-la daquela vez e isso a atormentava, pois sabia que era a culpada por isso.
Ouviu um barulho de passos, porém imaginou estar a devanear, mas logo Giovana vinha correndo ao seu encontro.
A morena disfarçou a indiscrição, mas a moça parecia bastante nervosa para notar.
-- O que se passa? Aconteceu alguma coisa com meu filho? -- Questionou baixinho.
A empregada negou veemente com a cabeça.
        -- E então?
-- Uma mulher chegou aqui, está procurando a senhora… -- tentava controlar a respiração. -- ela é idêntica à freirinha… Tem os mesmos olhos, o rosto... Parece uma cópia.
Os olhos negros se abriram em total espanto, enquanto sentia as batidas do coração se acelerarem.
O que Nathália estaria fazendo ali?
Deus, ela descobriria que a ruiva estava viva.
De repente um pânico começou a tomar conta de todo seu ser, sem saber como agir naquele momento.
Respirou fundo.
Precisava manter a frieza ou acabaria metendo os pés pela mão. Arrumou as madeixas por trás das orelhas.
-- Escute-me -- Tomou a garota pelos ombros -- Essa visitante que acabou de chegar não deve de forma alguma saber da existência da irmã Elizabeth e tampouco dessa semelhança.
Giovana fez um gesto desesperado de afirmação, mesmo sem entender a razão daquele pedido.
-- Você deve avisar aos outros isso, será a responsável.
-- Sim, patroinha!
A circense olhou em direção ao corredor.
-- Onde ela está?
-- Está no carro, lá na entrada das terras. Sabe que ninguém entra aqui sem sua permissão, pediram para lhe avisar.
-- Ok! -- Cerrou os dentes. -- Você vai até lá e a distraia por alguns minutos, uns dez, depois traga-a para cá.
-- Sim.
-- Onde está meu filho?
-- Voltou a dormir.
-- Então faça o que mandei, não esqueça, ela não pode saber da freira.
A jovem assentiu e saiu em disparada.
A Vallares sabia o que deveria ser feito naquele momento, então nem mesmo bateu na porta, adentrando-a sem nenhum tato.
Os olhos verdes desconfiados a fitaram, enquanto o monge parecia surpreso.
        Chegaria um dia que a bela ruiva não a deixaria nervosa com sua inspeção aleatória?
-- Eu sinto muito por interromper a conversa, mas… -- Hesitou por alguns segundos a fitar a mulher que tanto amava. -- A minha namorada, Nathália Hanminton, acabou de chegar. -- Enfatizou o nome da neta da duquesa para que o religioso percebesse o perigo que corriam.
Natasha pareceu surpreendida com a informação e mais uma vez seu olhar caiu de forma acusadora sobre a neta de Nicolay. Não precisava conhecê-la para saber como aquele fato inusitado a tinha irritado.
-- Namorada? -- Questionou arqueando a sobrancelha esquerda.
O religioso observava tudo e agradecia a Deus por não ter contado toda a verdade, pois sabia que a ruiva não se importaria, mesmo desmemoriada, em enfrentar a quem quer que fosse que a estivesse a ameaçar.
Valentina sentiu um arrepio percorrer a espinha diante da mirada cheia de significado.
Conhecia aquele olhar carregado de ciúmes, aquela personalidade forte, aquele ar controlado que parecia pronto para explodir a qualquer momento.
-- Sim, minha namorada.
Natasha cruzou os braços sobre o colo.
-- Pensei que tivesse uma mulher e que ela estivesse morta, mas pelo que vejo, a senhorita é bem rápida em dar prioridades a outras coisas em sua vida.
A morena não gostou da insinuação, segurando firme as muletas, fitou-a demoradamente para mostrar seu total desagrado, mas a outra não pareceu se interessar por aquilo.
-- Bem, acho melhor irmos embora, filha. -- O religioso se levantou ao ver o clima pesar entre as duas mulheres.
-- O senhor estava a ponto de me dizer algo e só deixarei a fazenda depois que o faça… Você insistia tanto para eu ficar, Valentina, agora a presença da sua… namorada… -- Mirou-a de cima abaixo -- Deixa-a assustada… Qual o problema dela me conhecer? -- Virou-se para o idoso. -- Diga o que estava para falar… Termine! -- Exigiu.
A trapezista mirou o homem, deixando claro que ele deveria sustentar a mentira e não lhe falar a verdade.
Lentamente seguiu até a janela para ver se havia algum carro se aproximando e tentando imaginar quanto tempo já tinha passado desde que Giovana saiu.
Só naquele momento percebia como fora egoísta mais uma vez ao tentar seduzir a arquiteta, mesmo sabendo do risco que ela corria. Se em um daqueles momentos ela tivesse recuperado a memória, decerto a Valerie estaria agora a ir enfrentar Isadora e Nathália sem se importar com a própria segurança.
Precisava retornar à cidade, tentar manter as coisas seguras por lá e esperar que as Hanmintons fossem presas, só assim voltaria para levar a ruiva e contaria toda a verdade.
Sim, era isso que deveria fazer, pois se continuasse perto, não resistiria e se jogaria em seus braços toda vez que tivesse oportunidade.
Virou-se para a frente, observando as costas da freira e olhar preocupado do religioso.
-- Diga de uma vez! -- Natasha exigiu novamente.
Valentina fez um gesto negativo com a cabeça.
O monge pigarreou e não demorou para a neta rejeitada de Isadora fitar a Vallares com olhar desconfiado.
-- O que eu queria te dizer, filha, é que você ainda não tinha feito seus votos… Estávamos nos preparativos quando você sofreu o acidente…
A trapezista sentiu os olhos se encherem de lágrimas diante de mais uma mentira, mas sabia que era necessário.
         A Valerie franziu o cenho, não parecia convencida diante do que estava sendo lhe falado.
-- E por que lembro dela? Por que é como se conhecesse os olhos negros? -- Questionou mirando os dois.
O monge não sabia o que falar e Valentina percebia isso, então tomou a frente.
-- Porque nos conhecemos, já tínhamos nos vistos… -- Disse apressadamente.
Os olhos verdes pareciam ainda mais cismados.
-- Sim, filha, você já tinha visto a neta do senhor Nicolay e até mesmo já tinha visto a namorada dela.
-- Por isso a Nathália não gosta de ti…
A Valerie começou a andar pelo escritório com o olhar incrédulo.
        Aquela história parecia tão mentirosa quanto às outras que tinha ouvido. Algo lhe alertava para o que estava sendo falado naquele momento.
         Encarou a Vallares.
         Observou-a perscrutadoramente e mais uma vez sentiu que a conhecia bem, sentiu que aqueles beijos que trocaram era repetição de tantos outros que se mostravam tão deliciosos.
           Estaria ficando louca?
-- Você disse que tinha uma esposa! -- Apontou-lhe o indicador. -- Disse que eu era ela, depois na vila isso foi esclarecido... Mesmo assim, nenhum dos dois explicou o que realmente havia se passado.
Valentina voltou a olhar pela janela, o desespero crescia em seu peito.
         Se a neta da duquesa chegasse ali, qual seria sua reação ao ver a odiada irmã viva? Com certeza armaria outros planos para destruí-la.
          -- Fale!
          Ouviu o tom imperativo da mulher que amava, virou-se para ela e quis por alguns segundos que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível.
-- Sim, sim, eu menti, menti porque sabia que tinha perdido a memória e queria que me quisesse… Porque eu desde que te vi fiquei interessada, verdadeiramente eu estava louca para que caísse nos meus encantos, porém sabia que logo faria os votos, sabia que seria uma freira de verdade e isso me desesperava… -- Passou a mão pelos cabelos. -- Então te segui, fui até a vila e fiz o que podia para que ficasse próxima de mim.
Não havia apenas só decepção na face da ruiva, era possível encontrar a expressão irada em seu semblante.
-- Que espécie de mulher é você? -- A desmemoriada indagou em raiva. -- Que espécie de ser humano age assim? Como pôde fazer tudo isso? -- Questionou em ceticismo. 
O monge ainda abriu a boca para defender a Vallares, mas diante do olhar da filha de Nícolas, manteve-se calado.
-- Porque eu te queria para mim… Porque fui egoísta quando deveria ter retornado para a cidade e voltei aqui, tudo por um capricho… -- Cruzou os braços sobre os seios dando um longo suspiro. -- Eu sou muito caprichosa... Te vi e me interessei, você é tão linda, irmã, não acredito que outra pessoa agisse de forma diferente... -- Mirou os olhos estreitados. -- Queria você na minha cama... Uma pena que ontem não tenhamos concretizado o ato...
Natasha fitava-a com tanta intensidade e tanta frieza que a morena sentia mais uma vez o coração em pedaços. Mas o que lhe restava? Dizer toda a verdade e fazê-la mais uma vez alvo daquelas pessoas terríveis? Dizer-lhe quem era seria um preço alto para ser pago naquele momento. Sabia que era difícil, mas mesmo assim fora feito o melhor.
-- Acho melhor irmos embora… -- O monge falou.
A ruiva não desviava o olhar fulminante um único segundo da morena.
-- Por onde devemos sair para que a sua namorada não nos veja, senhorita? -- A Valerie indagou. -- Acho que ela não merece ser submetida a essa pouca vergonha. -- Disse desdenhosamente.
Valentina observou o carro estacionar na frente da casa grande.
         Sim, lá estava a mulher pela qual pensara um dia está apaixonada. Via-a em suas roupas tão elegantes e cordatas e sentia apenas asco.
Soltou um longo e sofrido suspiro.
-- Certo, sigam pela cozinha, eu irei até a Nathália agora mesmo.
A circense seguiu para a saída, porém mais uma vez se virou para ter a prova de que a Natasha estava furiosa com sua ação.
         Olharam-se durante longos segundos e naquele silêncio pesado, palavras não precisavam serem ditas para que se entendessem como seguiam mais uma vez para lados opostos naquela trama ardilosa.
  Respirou fundo e logo a herdeira do conde foi embora.


A Hanminton observava tudo com atenção, ainda mais a decoração, buscando calcular o valor de cada item daquela casa. Entretanto, sabia que o valor daquele lugar estavam nas terras e nas plantações de frutas.
        Observou a empregada lhe olhar com curiosidade, da mesma forma que os outros trabalhadores o fizeram.
        -- Não tem nada para fazer? -- Indagou à jovem. -- Vá chamar logo sua patroa que não estou acostumada e esperar infinitamente por ninguém.
          Giovana assentiu e saiu em disparada.
         Voltou a observar tudo com total desgosto. Iria embora dali o mais rápido possível, porém levaria consigo a futura esposa.
Sabia que fora ousada em ir até ali, mas via nas ações de Isadora a oportunidade que lhe faltava para que de uma vez por todas concretizasse a relação com a herdeira do conde.
Casariam o mais breve possível e ela seria poderosa, tão poderosa quanto sempre ansiou quando ainda era uma criança.
Não haveria mais migalhas da Valerie.
Um sorriso brincou em seus lábios.
Fora o plano perfeito. A irmanzinha morta e Nícolas pagando caro por esse crime.
Ninguém mandou se meter em seu caminho, tampouco se envolver com a mulher que desejava para si, com as duas. Primeiro a Verônica fora seduzida, depois a sobrinha que caia nos encantos da maldita selvagem.
    Ouviu passos e lá estava a bela morena.
        Fitou o roupão que ela usava. Observou o olhar desconfiado. Não havia alegria nele, nem mesmo pareceu interessada em sua presença. Agora mais que nunca sabia que ela apenas mantinha um relacionamento consigo por medo de perder o precioso filho.
Sorriu, mas a outra não fez o mesmo.
-- O que faz aqui?
Nathália foi até ela, tomando-lhe os lábios em um beijo, ato que não durou muito, pois a circense já se livrava das carícias, afastando-se.
-- Que recepção! -- A neta da duquesa comentou em frustração. -- Nem mesmo se importou em fingir que gostou de me ver.
-- Apenas fiquei surpresa e preocupada com a sua chegada. -- Tentou não transparecer o desagrado. -- Aconteceu alguma coisa?
-- Sim!
Valentina a observou seguir até o sofá, sentando-se com as pernas elegantemente cruzadas.
Ela usava calça de corte perfeito na cor verde e blusa de seda. Os cabelos negros estavam soltos, um sorriso dançava em seus lábios rosados e os olhos verdes pareciam mais claros.
Deus, como eram distintas mesmo sendo idênticas?
-- Conte-me o que houve. -- Pediu.
A Hanminton fez um gesto para que ela ocupasse um lugar ao seu lado e a morena o fez, porém se acomodou no da frente, fitando-a em ressalvas. 
Nathália deu de ombros.
-- Bem, há algo sobre sua amada morta que você ainda não sabe e como está isolada nessas terras, decerto, o oficial de justiça não a encontrou...
Os olhos negros se estreitaram diante da forma que ela falava, mas nada disse, pois sabia que logo chegaria o momento que ela pagaria caro por tudo o que fez.
-- Fale…
-- Bem, Natasha agiu covardemente quanto ao material genético do Victor… Inicialmente ela tinha proposto a gravidez à Verônica como forma de salvar o casamento, porém houve o assassinato quando a sua tia não quis retomar a relação… -- Deu um riso como se tratasse de algo cômico. -- Pois a maravilhosa Valerie deu fim ao material genético, deixando apenas o dela.
Valentina ouvia tudo e parecia pasma com o que estava sendo dito.
         Como assim?
Levantou-se e acabou esquecendo do pé machucado, gemendo alto.
-- De que você está falando? -- Indagou irritada.
-- Que o seu filho não tem o sangue dos Vallares, apenas tem o sangue dos Hanmintons.
-- Isso é mentira!
Nathália meneou a cabeça negativamente.
-- Não, não é!
Valentina massageava as têmporas, enquanto buscava raciocinar sobre aquilo que aquela mulher estava dizendo.
Se isso era verdade, Por que a Natasha não falara? por que escondeu algo tão sério de si?
-- O fato é que a Vovó descobriu isso e entrou na justiça pedindo o exame de DNA, ele confirmará apenas o que já sabemos.
         Valentina tinha a impressão que todas as saídas começavam a se fechar diante de si e precisou se controlar para não cair em total desespero.
-- Com qual propósito ela está fazendo isso?
-- Ela deseja criar o bisneto… 
A circense sentiu um aperto no peito ao saber daquilo. 
Se realmente era verdade que Victor não tinha o sangue dos Vallares, Isadora teria todas as chances de conseguir a guarda da criança e isso ela não podia permitir, de forma alguma deixaria que  ocorresse.
Nathália se levantou e foi até ela, segurou-a delicadamente pelos ombros.
-- Se casarmos, nós poderemos criá-los, porém devemos fazer rapidamente, caso contrário, não poderei controlar as ações da duquesa.
        Os olhos negros se encontraram em surpresa com os verdes.
-- Casar?
-- Sim, por que a surpresa? Você disse que quando retornasse anunciaremos o casamento, só temos que apressar tudo.
A neta do conde não conseguia raciocinar direito diante daquele fato inusitado, mesmo assim tinha a certeza de que não permitiria de forma alguma que nenhuma das duas mulheres chegassem perto do filho.
-- Vou para o meu quarto, não estou me sentindo muito bem, meu pé está doendo muito, pedirei a Giovana que te acomode ou já vai embora?
A aristocrata pareceu não gostar da forma que lhe fora falado, expressando isso em seu olhar.
-- Imaginei uma melhor recepção, ainda mais que saí de longe para vim até esse fim de mundo para te alertar do que está acontecendo na cidade, enquanto você fica aqui isolada e banca a eremita.
-- Sabe muito bem que tenho todos os motivos para estar chateada.
-- Eu não tenho culpa das coisas que a minha avó faz!
-- Deveria dissuadi-la dessa ideia, você sabe como amo o Victor!
-- Sim, eu sei, mas ele não é seu filho e não tem nem mesmo o sangue da sua família, então esqueça isso de uma vez.
-- Está querendo que eu desista dele? -- Questionou incrédula.
-- Seria o melhor a se fazer, afinal, uma criança da Valerie não pode ser algo bom.
Valentina fechou as mãos ao lado do corpo, fê-lo com tanta força que sentiu as unhas entrarem em sua carne.
-- A Natasha era tão Hanminton quanto você! -- Disse por entre os dentes.
-- Não, ela não tinha nada do nosso lado civilizado, uma selvagem sem sentimentos, igual ao maldito pai dela.
-- E você é uma santa? -- Questionou com um arquear de sobrancelha.
Nathália a segurou pelo braço.
-- Está defendendo-a? -- Indagou irritada. -- A miserável jogou no lixo o material genético da sua tia, matou-a e continuou a agir como se o garoto tivesse o sangue dos Vallares para conseguir conquistar a grande fortuna do conde e você a defende?
-- Por que tem tanta certeza de que ela matou a minha tia? Estava lá no dia?
A neta da duquesa a soltou, dando alguns passos para trás. Parecia surpresa diante do questionamento e por frações de segundos veio a sua mente aquela fatídica noite. O encontro que teve com a filha de Nicolay ficaria para sempre guardado em sua memória.
-- Todo mundo sabe que foi ela, porém você continua tendo uma imagem de santidade da minha irmã.
-- Eu nunca disse que ela era santa, ao contrário, eu a conheci e sei bem que não havia nada de santo nela.
-- Então para de defendê-la, não esqueça de que tem um relacionamento comigo e espero que o honre.
-- Eu honrarei!
Já se ajeitava para deixar a sala quando sentiu os lábios da neta da duquesa se apossar da sua boca.
Fechou os olhos e esperou até que a ânsia da outra terminasse, rezou para não provocar, pois estava cada vez mais enojada daquele toque.
Por fim a carícia terminou.
-- Giovana vai te levar a um dos aposentos, infelizmente ainda estamos decorando a casa, mas espero que esteja do seu agrado.
Valentina foi até a empregada, avisando-a do que deveria ser feito e mais uma vez alertou sobre não mencionar à freira. Em seguida, seguiu até os próprios aposentos e ficou surpresa ao ver o filho sentado.
Caminhou até ele, acomodando-se na cama, ouvindo-o em sua ladainha infantil “ mamamamama”.
Acariciou-lhe os cabelos, depois fê-lo sentar em seu colo de frente, enquanto o encarava. Via nele a Valerie, em suas bochechas rosadas, em seus olhos tão verdes, nos fios afogueados que lhe enfeitava a cabeça.
Abraçou-o e as mãos gorduchas lhe retribuíram.
A morena sorriu.
-- Você é o amor da minha vida, meu anjo… -- Dizia, enquanto o fitava. -- Eu não permitirei de forma alguma que a duquesa se aproxime de ti, mesmo que não tenha meu sangue…
Victor viu os brinquedos espalhados pelo chão e se rebelou para ir brincar com eles, ela o desceu, fazendo-o sentar no carpete, enquanto observava tudo.
Seria verdade que Natasha tramou tudo para que aquela criança tivesse apenas seus genes? Por que faria algo assim?
Aquelas perguntas começavam a martelar em sua cabeça como um sino de igreja em dia de domingo. 
Agora entendi o porquê da arquiteta ter tanta certeza de que ficaria com o filho em uma briga na justiça, mas por que não lhe contou isso? Por que não expôs a verdade sobre a origem do menino?
Fitou o pé com desgosto, enquanto inclinava e tirava a bota que fora colocada.
Não usaria mais, tampouco aquelas muletas que só lhe retardavam os passos. Mirando os machucados, percebia que estavam melhores.
Riu ao ver o filho imitar o barulho do carro com a boca.
Nathália sabia que ele estava ali e mesmo assim não demonstrou nenhum interesse em vê-lo. Estava claro que tanto ela quanto a duquesa nada queriam com a criança e apenas o que interessava as duas era a herança que ele herdaria.
Miseráveis!
Não permitiria de forma alguma!
Fitou o sofá e lembranças da noite passada vieram a sua mente.
Seu corpo perdera totalmente o controle diante daquele olhar perdido. Sabia que não deveria ter ido tão longe, mas como resistir ao desejo de ser tocada pela mulher que amava? 
Recordou-se do olhar que ela lhe dirigiu no escritório, reconhecia-o bem. Havia mágoa nele, havia aquela arrogância que mesmo ela não se recordando do que passara, estava tão presente que era como se estivesse a lidar com a Valerie de outrora.
Nem sabia de onde tinha tirado forças para dizer todas aquelas mentiras, como conseguira contar aquelas coisas terríveis. Em pensar que esperara com ansiedade para que o monge contasse toda a verdade, desejara que ele o fizesse, chegara a perder a noção do perigo por alguns segundos até Giovana ir até ela e dizer sobre a chegada de Nathália. Não havia sentimentos naquela mulher, era vazia como a avó. Ela expunha alegremente que a irmã estava morta.
Meneou a cabeça.
Não fora o pai quem tramara a morte da arquiteta, foram elas, agora tinha certeza da culpas das Hanmintons. Elas o fizeram, aproveitaram-se das ameaças que Nícolas proferira e planejaram tudo para que ele fosse o culpado.
Malditas!
Agora era o momento que deveria proteger a ruiva, não poderia permitir que descobrissem que estava viva. Não tinha dúvidas que as aristocratas não descansariam até levar ao fim o sórdido plano.
Deus, como podiam ser tão cruéis? Com certeza fariam o mesmo com Victor.
Levantou-se devagar.
Mirou a inocência da criança em seu mundo, não parecia preocupado com nada, tampouco imaginava quanto risco estava correndo.
Tomou-o nos braços, mesmo sob os protestos do ruivinho, abraçou-o forte, como se precisasse da força dele para seguir em frente.




O monge observava Natasha ajudar a servir o almoço sabia que ela não estava bem. A ruiva não abrira a boca uma única vez para conversar durante todo o percurso, além continuar com aquela expressão perdida, ficava com aquele ar de exasperação.
        O religioso ponderava sobre a conversa que acidentalmente ouviu entre Valentina e a neta da duquesa.
         Deus, como a irmã gêmea da arquiteta demonstrava frieza ao falar da morte da irmã.
         Deixara que a arquiteta seguisse na frente inventado a desculpa de precisar resolver um detalhe sobre as construções que seriam feitas na vila e ao tentar falar com a morena, presenciou por trás da porta toda a conversa entre as duas mulheres.
          Victor corria perigo. Se realmente fosse verdade que ele só tinha o sangue dos Hanmintons, seria praticamente uma batalha perdida para a jovem Vallares.
         O que deveria fazer?
Sabia que deveria ter contado a verdade, porém diante do desespero que viu no olhar de Valentina, preferiu ficar calado, mas agora tudo mudava de sentido... Outro ser corria um grande perigo e esse não tinha como se defender.
        Observou a comida intocada em sua cuia.
         Não estava com fome, mesmo sentindo o aroma tão delicioso do alimento sagrado.
         Voltou a fitar a filha de Elizabeth, ela se mostrava taciturna, mergulhada em seus pensamentos.
Sabia que não demoraria para tudo ser esclarecido e rezava para que ao final de tudo aquilo, elas conseguissem se entender. Ainda conseguia ver a expressão da neta de Isadora se enrijecer a cada frase dita pela neta do conde. Não havia dúvida do grande sacrifício que a Vallares estava fazendo em toda aquela história para manter em segurança a mulher que amava, mas agora deveriam pensar também na criança...
Sentou-se um pouco afastado e logo ouvia os passos e a ruiva se acomodava junto a si.
Ela comia em silêncio e de cabeça baixa, parecia presa em seus pensamentos, desconfiada de tudo e de todos.
-- Filha… -- O monge a chamou baixinho.
Natasha levantou os olhos, porém nada disse, apenas franziu a testa.
As pessoas conversavam animadamente e as crianças comiam felizes com a abundância que receberam da dona da fazenda.
O céu estava nublado e não havia ventos em nenhuma direção, tornando o ambiente quente naquela tarde.
-- Sei que está irritada com toda a situação…
-- Acha que acreditei nessa história? -- Arqueou a sobrancelha. -- Talvez na parte que a Vallares falou do seu desejo obscuro, mas todo resto parece mentiras e mais mentiras. -- Soltou um longo suspiro. -- Por que eu pareço com essa mulher que ela diz ter amado tanto?
-- Você não fez os votos, essa é a verdade… Quanto aos sentimentos de Valentina, realmente você lembra bastante a Natasha, como tantas outras pessoas no mundo têm seus sósias, não seria diferente contigo.
Os olhos verdes se estreitaram ameaçadoramente.
-- Deixou-me ser usada por ela! -- Acusou por entre os dentes. -- Deixou que a futura condessa realizasse suas fantasias comigo! -- Puxou as mãos bruscamente. -- Tudo isso pela ajuda dela? Por comida?
-- Irmã…
A arquiteta se levantou.
-- Não me chame assim!
O religioso sabia que não haveria mais volta ao fitá-la e ver em seu olhar a raiva que parecia tão palpável quanto a colher que usava para tomar a sopa.
-- Deixou que uma garota mimada agisse de forma descabida, o senhor sabia qual o desejo da Vallares, sabia da obsessão dela e permitiu.
-- E você não o quis? Foi obrigada?
Na mesma hora o monge se arrependeu de ter falado, pois Natasha já se levantava, deixava a cabana pisando duro.
Como toda aquela história seria esclarecida depois de tudo que fora dito?
Com certeza haveria sério problemas no futuro.



A Valerie caminhava e não parecia se importar com o desconforto da perna, apenas seguia sem rumo, enquanto sentia a cabeça fervilhar diante de tudo o que havia acontecido. Não acreditava que deixara que a dona da fazenda agisse do jeito que agira, ainda pensava no que se passara entre as duas naquele quarto e sentia um estremecimento em seu peito.
Caminhava por entre as árvores e logo encontrou um lugar para sentar, uma enorme pedra debaixo de uma centenária.
Cobriu o rosto com as mãos.
O que se passava?
Estava confusa com todas aquelas imagens que apareciam em suas lembranças, ainda mais quando se relacionava à morena de olhos negros.
Então já a conhecia…
Não podia continuar a usar hábito quando não havia nenhuma certeza de querer ser religiosa em seu interior, prova disso era ter desejado a Vallares.




Já era noite quando o carro estacionou diante da casa da fazenda.
Nicolay insistira para seguirem imediatamente até lá, ainda mais quando ficou sabendo que outra aeronave tinha seguido para ir com ordens dos Vallares.
Helena e Leonardo acompanhavam o conde.



O jantar tinha acabado de ser servido.
Nathália olhava tudo com desagrado, enquanto Valentina tinha o filho sentado em seu colo e lhe alimentava, enquanto o menino sorria querendo pegar os talheres.
-- A empregada não podia alimentá-lo? -- A neta da duquesa disse em irritação. -- É muito barulhento e estou com dor de cabeça.
-- Poderia ter ficado em seu quarto, alguém teria te levado a comida lá. -- Disse, enquanto continuava a brincar com o garotinho.
-- Quarto? Aquilo está mais para lixo, quanto a essa comida, parece que você não adquiriu a classe da aristocracia, tenho a impressão que ainda vive naquele circo miserável.
Os olhos negros se levantaram para encarar os verdes.
Ela era idêntica a avó, podia ver claramente como a personalidade das duas eram afins, mesmo que a mais jovem tentasse a todo custo mascarar esse lado terrível, agora ela parecia à vontade para mostrá-lo, afinal, ela estava certa que tinha a filha de Nícolas em suas mãos e que o casamento aconteceria.
-- Eu disse para retornar… -- Falou simplesmente.
-- Voltaremos amanhã, você e eu!
-- Só retornarei depois do ano novo. -- Pegou a mamadeira e começou a amamentar a criança. 
-- Óbvio que não, iremos passar num navio, vamos para um cruzeiro e nele anunciaremos nosso noivado. -- Nathália falou ao se levantar. -- Parece que não ouviu nada que eu disse! -- Apoiou as mãos na mesa. -- A justiça já deve ter enviado a ordem para que se faça o exame de DNA, então será questão de tempo que minha vó fique com ele.
-- Imagino que você esteja ansiosa para isso ou não? -- Questionou com um arquear de sobrancelha.
-- Realmente fico feliz, sabe por quê? Porque você me enrola há muito tempo, fora a humilhação que me fez passar no dia que nosso noivado seria anunciado, jogou na minha cara que tinha um caso com a maldita Natasha, gritou para que todos ouvissem a sua falta de vergonha… -- Esboçou um sorriso debochado. -- Como o destino foi cruel contigo… A Natasha foi comida pelos peixes e agora você terá que casar comigo para manter essa moleque ao seu lado.
-- Pelo que vejo você não mostra mais a cara de boa moça!
O olhar das duas se viraram para a voz do conde que estava parado na porta e ao lado deles tinham o casal Antonini.
Nathália se virou para encará-los.
-- Então tiveram o trabalho de vim até aqui para deixá-la ciente do que se passava… Que pena! Eu já avisei… -- Falou em sarcasmo.
-- Pelo que vejo também já disse qual o preço para que ela continue com o bebê! -- Leonardo se aproximou.
A futura duquesa fitou a circense.
-- A culpa é deles! Principalmente quando nenhum dos dois deixaram a Isadora se aproximar do bisneto, achando que eram os herdeiros da minha irmã.
-- Não temos o interesse que você e sua avó tem! -- Helena falou.
Nathália não parecia se importar com a intromissão e logo voltou a sentar.
Valentina se levantou com o filho nos braços e logo recebia o carinhos dos chegantes.
Victor não sabia qual dos colos desejava naquele momento, pois pulava para a esposa do arquiteto, depois seguia para Leonardo e buscava o aconchego do conde.
-- Sentem, vou pedir para que sirvam a todos, imagino como devam estar cansados da viagem.
-- Um pouco, filha, mas nada que uma boa noite de sono não ajude.
A Hanminton fitou a todos, mas dessa vez ficou calada.


Natasha estava diante da cruz que tantas vezes fora para rezar e pedir que sua mente fosse iluminada e suas dúvidas fossem sanadas. Agora olhava para aquele símbolo cristão e se sentia ainda mais perdida, mais desesperada em sua falta de memória. Antes não se importava tanto como agora. Naquele momento mesmo ansiava por saber o que envolvera seus contatos anteriores com a Vallares, desejava saber qual ligação tivera com a mulher que a morena dizia ter amado, o que não acreditava, afinal, já havia uma namorada em tão pouco tempo.
Por que aquela última informação a perturbava tanto?
Por que a queria?
Meneou a cabeça negativamente tentando espantar qualquer resquícios de sentimento que pudesse existir.
Ouviu passos e logo o monge aparecia em sua frente com roupas nas mãos.
-- Imagino que não queira mais usar o hábito… -- Entendeu-lhe. -- Há outras que poderá usar.
Aqueles eram as mesmas que ela usava quando caíra no rio.
Os olhos verdes o encararam.
-- Desejo falar com o Rick… -- Pediu.
-- Quando ele retornar você o fará.
A arquiteta suspirou alto.
-- eu nunca fui freira não é? -- Voltou a observar a cruz. -- Não minta diante de Deus, seja sincero.
-- Não… -- Disse em um fio de voz.
-- Eu juro que não entendo tanta mentira… -- Levantou-se. -- Conte-me tudo, por favor.
-- Sim, você está certa, chegou o momento da verdade, mesmo que corra riscos, você precisa saber,não há mais como mentir e agora precisa proteger outra pessoa.




Na manhã seguinte Leonardo, Helena e Nicolay estavam sentados à mesa ao lado de Valentina.
        Durante a noite pouco tiveram tempo de conversar sobre o ocorrido, pois Nathália não parecia se importar de que a sua presença fora rejeitada, ao contrário, ela mostrava que usaria todas as cartas para obrigar a morena a aceitar o casamento, fazendo planos para a lua de mel e para festa que deveria ter como convidados todas a aristocracia.
        A circense apenas assentia, sabendo que naquele momento deveria apenas se calar e pensar em uma forma para sair daquele problema sem expor a mulher que amava.
        Desperta cedo, na verdade pouco conseguira descansar e quando desceu, encontrou todos reunidos, mesmo a neta de Isadora que ainda deveria estar a dormir seu sono de beleza.
        Sentou-se, cumprimentando a todos. Viu o filhos sentada junto com Helena. O pequeno logo estendeu os braços para ser pego pela mãe.
         O conde observava a cena e via como a neta amava aquela criança. Ele sabia que ela estava disposta a se sacrificar, mesmo que tivesse que aceitar aquele enlace com a Nathália.
        Maldita!
        Ela e a duquesa armaram tudo em perfeição mais uma vez e com certeza já tinham se informado que seria praticamente impossível que um juiz não lhe desses a guarda do Victor. O próprio aristocrata se informara com os advogados e sabia que não seria uma batalha fácil, na verdade, era uma batalha dada por perdida a menos que provassem que as Hanmintons eram as culpadas de todos os crimes, porém ainda não tinham provas concretas para oferecer uma denúncia.
-- Por que a Natasha fez isso? -- a morena questionava. -- O que ela queria? -- Indagou olhando para os que estavam ali. -- Eu juro que ainda não entendi a razão dela ter usado apenas seu material genético e excluído o da minha tia.
-- Isso não é algo que devamos pensar agora! -- O conde dizia. -- Agora temos que pensar o que devemos fazer para que a duquesa se mantenha longe do Victor.
A circense se levantou soltando um longo suspiro.
-- Como não? -- Colocou as mãos na cintura. -- Agora temos um enorme problema, pois a Isadora não vai poupar esforços para tirar o Victor de mim.
Helena e Leonardo trocaram olhares.
-- O que a Nathália disse? -- Antonini questionou.
-- O que já contei ontem, quer que me case com ela.
        -- Você não fará isso! -- Nicolay proibiu. -- Eu não permitirei de forma alguma.
        Valentina já abria a boca para protestar quando Giovana entrou esbaforida na cozinha.
         -- O que se passa? -- Helena indagou preocupada.
         A empregada gesticulava as mãos em agonia.
         -- O que houve? -- A morena questionou se levantando.
         -- A freirinha... -- Meneou a cabeça negativamente. -- Não, não, ela disse que avisasse a senhorita que Natasha Valerie deseja lhe ver.
           

Comentários

  1. Não... Não... Não nos faça esperar uma semana pra saber o que vai acontecer 💔💔
    Já sofri tanto com elas separadas 😞

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    1. Ando com a vida corrida, mas hj não passaria em branco, tá aí o novo capítulo.
      Beijos.

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  2. Ansiosa para a continuação ❤❤

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  3. p.......meu coracao nao aguenta este espetaculo de conto,Parabens geh

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    1. Obrigada, meu bem, eu sou grata pelas palavras e pelo carinho.
      Beijos.

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  4. POR FAVOR....NAO NOS DEIXE NESSA ANGUSTIA...🙏🏼🙏🏼🙏🏼... E MUITI TEMPO P ESPERANDO... SOLTA IM EXTRA P GENTE...

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    1. Infelizmente não tive como fazê-lo, um pouco cheia de coisas para fazer, mas sempre tenho o desejo de postar o mais rápido possível infelizmente nem sempre consigo.
      Beijos e boa leitura.

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  5. Autora querida por favor um extra sim!!!!

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    1. não tive como postar, mas hj terminei e já está disponível.
      Beijos.

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  6. Geh, não termine o capítulo assim,pois isso pode matar a sua leitora de ansiedade!
    Ai meu Deus,a Nathalia não pode vê a Natacha,isso é muito perigoso,e ainda mais que a ruivinha não lembra de nada.
    Acho que ela foi buscar o filho,até porque o moleque também corre perigo.
    Um EXTRA por favor autora.
    Forte abraço e volte logo.😘😘😘😘😘😘😘😘

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    1. Olá, meu bem, realmente a Natasha corre um sério perigo, mas vamos ver o que nossa inteligente Valentina fará para reverter essa situação.
      Um grande beijo e ótimo domingo.

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