Dolo ferox -- Capítulo 42
O céu estava escuro e as estrelas tinham desaparecido do bonito abobado. O vento soprava forte a se podia ver as árvores terem seus galhos abalados.
Os empregados corriam de um lado para o outro, enquanto retirava algumas das coisas que tinham sido colocadas na frente da casa. As comidas que sobraram, os brinquedos.
Os que moravam naquela região sabia que o melhor a ser feito naquele momento era se protegerem, pois demoraria bastante para que a calmaria retornasse àquelas paisagens.
Valentina descia lentamente as escadas e notava que praticamente todas as pessoas tinham deixado a festa. Não pensou ter se demorado tanto. Olhava tudo com atenção, sentindo a ventania lhe emaranhar os cabelos. Segurou mais firme nas muletas.
Giovana veio ao seu encontro com aquele ar eufórico e agoniado.
-- Patroinha, colocamos os restante dos visitantes nos alojamentos e estamos recolhendo as coisas, vai cair uma tempestade grande, acho melhor que não fique aqui, deve seguir para o interior.
A morena parecia confusa, mas antes que pudesse dizer algo, a chuva já lhe açoitava a face fortemente, molhando-a rapidamente.
A empregada lhe ajudou a retornar para a proteção da moradia.
-- Mas e o monge?
-- O Gumercindo levou para casa, acomodando-o lá.
Ouviram passos e a neta de Nicolay nem precisou olhar na direção de onde o som vinha para saber de quem se tratava.
Passaria mil anos e continuaria a ser tão sensível àquela presença.
Cruzou os braços para tentar amenizar o frio e logo a tinha a sua frente. Ainda sentia os lábios dela e a surpresa no olhar bonito e forte, sabia que ela não era indiferente como gostaria que acreditasse. Tinha certeza de que sentira a mesma emoção que lhe dominara.
-- O que houve? Onde está todo mundo nessa chuva? -- A irmã sem memória questionou mais para Giovana, pois parecia ignorar a anfitriã.
-- Todos foram acomodados para se protegerem, afinal, não teriam como retornar com esse tempo. -- A neta do conde se intrometeu.
Giovana correu e logo retornava com uma toalha colocando nos ombros da circense.
-- Deve tirar essa roupa ou vai ficar doente! -- A empregada alertou.
Natasha encarou-as em silêncio e logo foi até a janela de vidro. Via o aguaceiro cair violentamente sobre a terra.
Suas mãos se espalmavam contra o próprio reflexo, mirava lá fora como a garotinha que fora deixada para trás quando todos tinham ido passar as férias na praia.
Suspirou, virando-se para a Vallares que agora se encontrava sozinha.
Ainda sentia nos lábios o gosto dos dela, ainda estava irritada por ter cedido aos encantos femininos.
-- Onde ficarei?
-- Óbvio que aqui, não tem como ir a outro lugar. -- Disse com uma carranca. -- Não se preocupe, pode ficar no meu quarto, a cama é grande.
A ruiva deu alguns passos até ela, parando bem próximo.
-- Acha mesmo que ficarei aqui e dividirei a cama com a senhorita? Ainda mais depois dos seus excessos diante de mim?
Valentina não respondeu de imediato, seguindo lentamente até a poltrona, encostou as muletas de lado, enquanto esticava a perna sobre a mesinha de centro.
Quem diria que a Valerie reclamaria por ser assediada...
-- Eu não vejo problemas algum em dividir o leito comigo, irmã, afinal, se é tão segura da sua fé, o que a incomoda tanto? Quanto ao beijo, foi algo inocente, até mesmo fraternal… Não acho que queimarei no fogo do inferno só por isso.
Os olhos verdes a fulminaram, mas a boca não pronunciou uma única palavra.
-- A ira continua sendo um pecado… -- A circense a provocava. -- Você não acha?
O som da chuva ficou ainda mais alto, parecia que não cessaria tão cedo.
A ruiva se aproximou.
-- Direi ao monge o que fez lá em cima, contarei a ele suas falsas intenções, pois vejo que nada mudou, continua a ter pensamentos impuros comigo.
A trapezista mordiscou o lábio inferior para não cair na risada.
Quem diria que a sedutora Natasha Valerie agiria com tanta inocência? Imagina a Rebeka vendo-a naquele momento ou uma das suas amantes. Talvez fosse bom que continuasse com aquela personalidade, assim, não correria o risco de tê-la nos braços de outra.
Sentiu o ciúmes lhe alfinetar a alma, mas buscou se livrar dos pensamentos.
-- Perdoe-me, irmã, não quis ofendê-la… -- Observou-a. -- Diga-me uma punição e farei sem titubear… Quantos pai-nossos ou ave-marias deverei rezar, preciso me ajoelhar sobre o milho ou se açoitar as minhas costas com um flagelo serei perdoada mais rápido?
A neta de Isadora a olhava e via nos olhos negros o falso arrependimento.
Voltou a seguir até a janela, observando como quase não se podia ver nada no lado de fora.
Umedecia os lábios e era como se o sabor da dona da fazenda estivesse preso ali, como uma maldição e um castigo.
O que se passava consigo? Tinha se perdido em meio aos desejos do mundo?
Meneou a cabeça, buscando espantar tais pensamentos conflituosos.
Assim que aquela chuva passasse retornaria à vila e faria todo o possível para nunca mais ver aquela mulher, para nunca mais se aproximar dela, isso com certeza seria suficiente para que retomasse ao controle.
Um trovão explodiu em altura desnorteante, levando consigo a energia elétrica.
O grito de Victor foi ouvido.
Valentina ainda buscava as muletas, enquanto Natasha seguia ao encontro da criança.
Giovana correu com os lampiões e ajudou a patroa a seguir até os aposentos.
Caminhava lentamente, mesmo tentando andar mais rápido, era quase impossível, mas ao adentrar o espaço, seus olhos se encheram de lágrimas ao ver a Valerie com o filho nos braços, ninando-o junto ao peito, cuidando-o como fazia quando aquela tempestade ainda não tinha invadido a vida de todos.
Sabia que ele a reconhecia, via como ele a fitava e como logo o pranto cessou.
Como gostaria que ela recordasse de tudo...
-- Colocarei na mesinha para iluminar…
A voz de Giovana lhe tirou dos seus pensamentos e logo os olhos verdes lhe encaravam.
Pareciam desconfiados, alarmantes, intensos.
-- Pode ir, descanse… -- Valentina dispensou a empregada. -- Diga aos outros para que façam o mesmo, não devem cuidar dos afazeres agora.
A moça assentiu e se despediu com um boa-noite, deixando o quarto.
Victor estava acordado, mas a cabecinha estava apoiada no ombro da Valerie, enquanto ela o ninava. Ela usava a diminuta mão para lhe acariciar a face, como se estivesse a contemplá-la depois de tanto tempo.
-- Obrigada por ter vindo até aqui… -- A morena se aproximou. -- Meu filho deve ter ficado em pânico diante do ocorrido. -- Tocou-lhe os fios ruivos. -- É muito pequeno ainda e não está acostumado a ficar sem a vovó Helena.
A desmemoriada a sentia tão perto de si, tendo as luz projetar sombras em sua face bonita. O cheiro do corpo feminino era inebriante, dominador hipnotizante.
-- Ela é sua mãe?
-- Não, é a esposa de Leonardo, ambos são como pais da Natasha.
-- Sua esposa?
A morena levantou os olhos, fitando-a.
-- A gente ainda não casou, mas é o meu plano… Prendê-la nos meus encantos para que nenhuma outra tente seduzi-la.
A empresária estreitou os olhos, parecia ponderar sobre o que tinha acabado de ser dito.
A criança levantou a cabeça, enquanto olhava para as duas mulheres com seu olhar sonolento.
-- Ele passou por coisas terríveis, mesmo sendo tão novinho. -- Tocou-lhe a face. -- Quase não sobreviveu ao nascimento prematuro, depois a guerra entre as mães… -- Esboçou um sorriso.
-- Ele é tão lindo… -- A arquiteta dizia. -- E parece ser tão tranquilo.
A circense lhe encarou, mirava os olhos que agora pareciam tão escuros devido ao ambiente pouco iluminado.
-- Ele parece com a Natasha… A cor, a forma de ser, o olhar perdido…
-- Então devia ser uma mulher linda.
Mais uma vez Valentina desejou beijá-la, tocá-la novamente, abraçá-la forte e não deixá-la ir, porém sabia que não deveria fazê-lo, pois ela não aceitaria.
-- Coloque-o na cama, voltou a dormir. -- Disse afastando-se, temendo não resistir. -- Você dormirá com ele e eu fico com a poltrona.
A trapezista seguiu lentamente até as janelas, vendo as cortinas se movimentarem com a ventania, fechou-as, depois observou a escrivaninha onde o lampião tinha sido colocado, iluminando o ambiente.
A bela desmemoriada depositou a criança no confortável colchão, depois fitou a morena.
-- Eu fico com o sofá, não vejo problemas algum.
-- Claro que não! -- A Vallares seguiu até o closet e retirou lençóis e camisolas. -- Vista, não acho que deva dormir de hábito. -- Entregou-lhe. -- Ou dorme desse jeito?
A ruiva sentiu os dedos roçarem nos seus e logo se afastou.
Pensou em sair naquela chuva e dormir novamente com os animais, mas seria um tanto dramático agir assim, afinal, era adulta e poderia muito bem delimitar as investidas da jovem ali presente.
Assentiu.
-- Posso usar o seu banheiro?
-- Sim, claro, leve uma das luminárias.
A irmã assentiu, fazendo-o, depois seguindo para se arrumar para dormir.
Adentrou o espaço e viu como parecia mais elegante que antes. Mirou o espelho e viu o próprio reflexo.
Tirou a proteção dos cabelos e logo as madeixas ruivas lhe caiam sobre os ombros. Eram grandes e isso a incomodava, sem falar na cor que parecia fogo.
As bochechas tinham aquela coloração rosada, os olhos eram grandes, mas o verde era diferente, pareciam ora negros.
Lentamente se livrou das vestes, mas não olhou o corpo despido, apenas caminhou até o chuveiro, ligando-o, sentiu a água quente lhe molhar os ombros, relaxando-os e permaneceu por alguns segundos ali, apenas aproveitando e tentando acalmar as emoções que ameaçavam sua vida.
A neta do conde foi até o filho, depositando um beijo em sua face, depois o cobriu.
Olhava-o com verdadeira adoração, pensando como deveria agir para protegê-lo da duquesa, pois sabia que ela não desistiria do garoto.
-- Hoje você ficará com a sua mãe, então aproveite e conquiste-a ainda mais, assim ela fica com a gente, meu amor.
Caminhou até a poltrona, olhando-a com desgosto por ser tão minúscula, mas seria o melhor a fazer para não assustar ainda mais a bela ruiva.
Sentou-se e inclinou a cabeça para trás, começando a massagear as têmporas.
Observou a camisola preta de seda que usaria e logo se livrava das alças do vestido, baixando-o até a cintura. Inclinou-se para frente, empinando os seios, enquanto esticava-se.
O pé estava latejando, incomodando bastante naquela noite.
Tocou-o, precisava retirar aquela bota e só assim se sentiria aliviada.
Ouviu passos e ao levantar a cabeça teve a impressão que tudo voltava a ser como antes.
Mesmo na penumbra, conseguia vê-la maravilhosamente bela e isso fora suficiente para lhe tirar mais uma vez o controle que deveria ter.
A ruiva vestia o roupão de seda verde amarrado na cintura, os cabelos que deveriam estar ainda maiores foram presos em um coque no topo da cabeça, enquanto a franja caia sobre a testa. Não havia o hábito naquele momento, apenas a deliciosa Valerie a lhe tirar o fôlego.
Observava os olhos escurecidos lhe mirarem os seios e isso lhe causou um arrepio na nuca e uma pressão no abdome.
Queria-a para si, ansiava por ela, enlouquecia só em imaginar as mãos de dedos longos passeando por sua carne como em outrora, como na última vez que se entregaram.
Lentamente se levantou e logo as vestes lhe caiam aos pés.
Natasha observava a iluminação desenhar sombras na pele morena. Fitou mais uma vez o corpo sensual vestido apenas com uma minúscula calcinha e isso lhe perturbou em demasia. Parecia o pecado encarnado.
Havia algo na Vallares que a deixava perturbada, que lhe despertava sensações nunca sentidas, que a fazia parecer fraca e perdida.
Ouviu o som baixo da voz bonita.
-- Estou tentando me virar, pois liberei a Giovana e ela quem me auxilia na hora de me vestir.
A enganada freira estreitou os olhos.
-- Pelo que vejo não tem muito pudor, afinal, qualquer um pode te ver nua. -- Disse cruzando os braços.
Por que aquela informação a incomodou?
Talvez porque entendesse que não se devesse mostrar o corpo para todos ou…
-- Para todos quem, irmã? -- Apoiou-se em uma das muletas. -- Está insinuando o que agora?
A Valerie pegou o roupão que estava sobre a poltrona, depois se posicionou por trás dela, ajudando-a vesti-lo, depois seguiu para frente, amarrando-o em sua cintura diante do olhos semicerrados da morena.
Estavam tão próximas que sentia o aroma daquela pele que parecia tão sedosa.
-- Só acho que não precisa ficar nua para todo mundo!
Já fazia menção para se afastar quando a neta do conde a deteve pela mão, segurando-as nas suas.
Encararam-se demoradamente.
-- A minha nudez nunca incomodou os outros, então por que te incomoda, irmã?
A Valerie prendeu o suspirar impaciente que parecia pronto para sair do seu peito.
-- Nada na senhorita me incomoda, apenas emiti um comentário para que se resguarde para que não digam por aí que é uma mulher fácil.
Valentina precisou se segurar para não gargalhar da colocação.
A chuva continuava cair implacável, enquanto a ventania batia contra as janelas da casa.
Valentina colocou o pé ferido no chão, mesmo sentindo a dor, encostou a muleta na poltrona, depois abriu o roupão, deixando novamente os seios à mostra.
-- Incomoda, irmã? -- Indagou com um ar de riso. -- Sou tão mulher quanto à senhorita, então não deveria te incomodar, como acho que não incomoda a Giovana.
-- Não me incomoda de forma alguma! -- Negou veemente, enquanto apenas mirava os olhos negros.
A morena lhe segurou as mãos e lentamente a trouxe para os seios, colocando-os sobre os montes redondos, fazendo-a cobri-los.
A ruiva estreitou os olhos, enquanto cerrava os dentes fortemente como se estivesse a sentir dor.
Tinham-nos em suas palmas, eram quentes e sedosos. Percebia como ela estava arrepiada e algo em seu âmago despertou.
-- São iguais aos seus, não precisa tremer… -- Dizia baixinho. -- Não tem motivos para me temer, a menos que seu medo seja de você mesma.
A arquiteta não se movia, mas não demorou para sentir a outra conduzir seu toque, roçando seu tato lentamente no colo redondo e bem feito. Baixou a vista e viu os mamilos caramelados eriçados. Como podia ser tão lindos?
Sentiu a boca seca e desejou em seu íntimo senti-los nos lábios.
O que era aquilo que a enlouquecia?
Encarou-a e viu o olhar diferente. Aqueles olhos grandes e brilhantes… Os dente alvos que se deixava ver.
-- Valentina… -- Chamou-a em repreensão.
-- Sim, fale meu nome, chame-me assim… -- Chegou mais perto. -- Acho o seu tom baixo e rouco delicioso para se ouvir.
Mais uma vez viu-a fechar os olhos.
A confusa freirinha via as mãos de dedos longos sobre as suas e ficava a pensar porque ainda não a deteve, mas havia algo que a prendia ali, uma força que a deixava perdida, que a excitava-a, mantendo-a cativa daquele olhar, presa naqueles olhos misteriosos.
Quem era aquela mulher?
Viu a jovem inclinar a cabeça para trás, enquanto continuava a massagear-lhe. O polegar se uniu ao indicador para incitá-la mais. Fez movimentos circulares, ouvindo a respiração acelerada da Vallares.
Sua atenção foi chamada pela claridade de um raio que iluminou o ambiente.
-- Valentina… -- Chamou-a em verdadeira súplica.
Observou-a continuar a acariciar os seios e quando abria a boca para pedir que parasse, sentiu que seu toque descia agora no abdome liso e logo sobre a calcinha de fina renda.
Deus!
Natasha tentou recolher a mão, mas a outra a deteve.
-- Calma! -- Fitou-lhe nos olhos. -- Eu só quero que sinta algo, não vai te ferir, prometo…
A ruiva olhou para baixo e logo seus dedos adentravam a pequena peça íntima, mas uma vez se manteve inerte, enquanto a morena a encarava com a sobrancelha esquerda arqueada em curiosidade.
-- Sente?
A outra nada respondeu.
Valentina se aproximou mais e logo seus lábios se apossavam daqueles que tanto amava.
Beijou-a com calma, mesmo que houvesse uma tempestade eu seu interior. Sentia o delicioso sabor do toque rosado roçando os seus e quando notou que ela cedia, aprofundou ainda mais o contato, sentindo a carícia no sexo e desejando que ela o fizesse mais e mais.
Rebolou contra os desajeitados dedos, esfregou-se a eles, percebendo que seu controle estava por um fio.
Ansiava para ir até o fim, amá-la como antes, perdida naquelas carícias que lhe tomavam o rumo.
Gemeu contra os lábios dela.
Encararam-se e mesmo querendo continuar, a neta de Nicolay encerrou o interlúdio, enquanto arrumava o roupão, via o olhar da arquiteta sobre si.
-- Acho que passei dos limites, perdoe-me! -- Disse com um sorriso. -- Preciso me policiar quando se tratar da senhorita, irmã.
Natasha cruzou os braços sobre os seios, parecia tentar se recompor, parecia não acreditar no que tinha acontecido entre elas. Seu corpo ainda estava a tremer e teve a impressão que tinha perdido a voz.
Engoliu em seco.
-- Como disse antes, pode dormir na cama com meu filho, eu ficarei na poltrona, a menos que deseje que divida a cama com vocês.
A Valerie nada respondeu, apenas lhe dirigiu um olhar cheio de significados, então lentamente seguiu até o leito, acomodando-se.
Observou a criança que dormia tão em paz e mais uma vez sentiu que já o conhecia.
Segurou-lhe a minúscula mão, enquanto fechava os olhos e mais uma vez cenas aleatórias invadiam sua mente.
Por que aquelas imagens pareciam cada vez mais claras?
Quando estivera sob os encantos da dona da fazenda, outro momento lhe enchera o cérebro.
Viu-a despida em suas memórias, o toque parecia conhecido, o sabor da boca parecia rotineiro...
Soltou um longo suspiro, sabendo que seria impossível dormir naquela noite.
Valentina se acomodava no minúsculo sofá e já pensava em falar com o avô para que ele fosse trocado.
Cruzou as mãos sobre a barriga.
Poderia ter ido até o final na sedução, poderia ter saciado o desejo que sentia, amado-a e deixado que a amasse, pois tinha certeza que ela ansiava por aquilo também, sentiu isso nos beijos que trocaram, na carícia inocente, mas ousada.
Umedeceu os lábios demoradamente.
A memória podia estar perdida, mas os corpos se reconheciam e se queriam como antes.
Fitou a cama e a viu ao lado do filho.
Mordiscou o lábio inferior demoradamente, desejando receber o convite de deitar com eles.
Na manhã seguinte a chuva não tinha cessado, porém não estava tão forte como na noite anterior, sendo assim algumas pessoas já deixavam os espaços ocupados e seguiam para a vila, menos o monge que seguia para a casa grande.
Valentina nem tinha conseguido dormir, então quando madrugou, levantou-se, mas antes de sair do quarto ficou a observar o filho e amada que dormiam tranquilamente. Também percebera que a ruiva não conseguiram descansar tão bem, pois se mexera inúmeras vezes na cama.
Ajustou o roupão no corpo, pegou as muletas e quedou-se ali, apenas a observar, apenas a imaginar que seria aquele um dia normal.
Ouviu batidas na porta e seguiu até ela, abrindo-a, deixou os aposentos.
-- Bom dia, patroinha, o monge está lá embaixo.
-- Tudo está em ordem?
-- Sim, todos retornaram e as coisas em seus devidos lugares.
A morena assentiu, enquanto seguia até o religioso.
Caminhava com cuidado, pois estava sentindo dores fortes no pé. Forçara-o bastante na noite anterior.
Soltou um longo suspiro ao se recordar de como desejou ir até o fim.
-- Tudo bem? -- A empregada questionou.
A Vallares apenas assentiu, enquanto seguia em direção a cozinha.
O monge conversava com a cozinheira, ocupando uma cadeira e tomando um pouco de café.
Havia um verdadeiro banquete servido, entre frutas, bolos, pães, doce, sucos, leites e tantos outros itens.
-- Bom dia, jovem Valentina! -- O homem a cumprimentou com um sorriso. -- Perdoe-me por não a ter esperado para me despedir, mas foi tudo tão rápido.
A neta do conde fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto ocupava outra cadeira e pegava uma maçã do cesto, porém não a levou à boca como esperado, apenas a ficou a observar, olhando-a como se estivesse a lidar com algo de tamanha fragilidade que precisava de extremo cuidado.
Ao eremita isso não passou despercebido, ele observava a expressão perdida presente nos olhos negros.
-- O que houve? -- Ele questionou, mirando-a. -- Algum problema com a irmã?
Valentina olhou para as duas mulheres presentes e ambas entenderam que a jovem desejava que saíssem e foi isso que fizeram, dando uma desculpa aleatória.
A neta de Nicolay se levantou da cabeceira da mesa que ocupava, seguindo para sentar ao lado do religioso.
Encarou-o durante alguns segundos, então disse:
-- Acha que sou pecadora por tentar seduzir a Natasha, mesmo sabendo que ela não tem memória e que acredita piamente que é uma freira?
O homem pareceu ponderar, até mesmo por não esperar um questionamento daquele tipo, mesmo assim, compreendia a agonia que o olhar dela representava.
-- Eu não acredito que esteja sendo uma tarefa fácil seguir com essa farsa, vejo em seus olhos quanto a ama e quanto está se sacrificando para que ela esteja protegida, porém você é de carne e osso, então não deve se cobrar tanto assim.
A morena levou a fruta à boca, mordendo-a com calma, mastigando-a com cuidado, sentindo o sabor semi-ácido de um pomo que poderia ser apenas doce, mas se assim o fosse seria enjoativa.
-- Ontem praticamente eu a ataquei, não consegui me controlar, afinal, eu já provei… Desculpe, padre! -- Disse ao ver o religioso corar.
-- Não entendo dessas coisas, mas acredito que você deva sim reconquistar a mulher que ama, ainda mais pelo fato de agora ela está sem memória.
A circense continuava pensativa, sem saber qual caminho deveria seguir naquele momento.
-- Eu disse para que esperasse, pedi para não agir por cima dos meus planos.
Nathália esbravejava, enquanto seguia dirigindo o carro pela avenida movimentada, tendo a avó ao seu lado.
-- Não vou esperar por você, passaram-se mais de seis meses e agora tenho a chance de conseguir ficar com todo o dinheiro da Natasha, não vou perder meu tempo com seu romance com aquela trapezista.
O veículo parou no sinal.
-- Aquela trapezista é a herdeira do conde Vallares, a circense tem uma fortuna incontável aos nossos lábios.
-- A Valerie também!
A mais jovem bateu com o punho fechado contra o volante.
-- Ela não vai mais querer casar comigo quando tomar ciência do que você fez, não entende isso? -- Esbravejava.
-- E eu pensando que aquela morta de fome sem educação estava apaixonada por ti, mas vejo que as mulheres daquela família estão fardadas a morrerem por suas faltas com os nossos.
A irmã da arquiteta respirou fundo, enquanto dava partida no veículo.
Isadora mais uma vez colocava tudo a perder, mais uma vez agia em sua ambição cega, fazendo com que fosse impossível traçar um plano inteligente.
-- Você vai ligar para o seu advogado e mandar que ele suspenda a sua requisição.
-- O que seria impossível, pois o juiz já autorizou e a criança terá que ser apresentada o mais rápido possível para que o exame de DNA seja feito.
A jovem Hanminton estacionou em frente ao portão da casa do conde.
-- Não entende que seu plano está indo contra o meu?
-- E você não entende que estamos perdendo dinheiro com essa sua enrolação? Esse menino é o herdeiro da sua irmã e nós somos a única família que ela tinha, isso significa que seremos a herdeira dos seus bilhões.
-- Eu quero a Valentina!
A duquesa fitou os olhos tão verdes.
-- Se nós ganharmos a guarda do garoto, a herdeira de Nicolay vai casar contigo na mesma hora, não haverá mais enrolação e uniremos o poder dos Vallares com o da Valerie e você será a rainha dos dois.
Nathália ponderava e percebia que a avó estava certa naquele quesito, afinal, a circense a enrolava com o compromisso, porém não tomava uma decisão, enrolando-a dia após dia, caso o plano da duquesa se concretizasse, ela cederia sem pensar duas vezes e logo não haveria mais estresse.
-- Está bem, entretanto, preciso que me deixe avisada de todos os seus passos com antecedência. Quero saber de tudo, das ordens emitidas pelo juiz, dos exames, tudo o que se passar deve ser me informado.
-- Eu o farei, mas não deve repassar meus planos para ninguém e também não te quero andando com Rebeka.
-- Ela faz parte dos meus planos.
-- Não deve confiar naquela mulher, ela me enfrentou e deixou claro o interesse que tinha na sua irmã.
-- A Natasha está morta, então não vejo motivos para toda hora está falando sobre ela. -- Deixou o veículo. -- Eu sei onde piso e não preciso que se meta em tudo, está começando a me sufocar com sua pressão.
Isadora foi até ela.
-- Você é muito inocente, por isso nunca teve sucesso em seus planos.
-- Mais sucesso que conseguir matar a minha irmanzinha? -- Arqueou a sobrancelha em debocha. -- Eu consegui me livrar de alguém que você passou a vida toda tentando.
-- Com a minha ajuda!
Nathália não respondeu mais, caminhando até a entrada da mansão.
Leonardo chegou à cobertura e encontrou a esposa arrumando o quarto do neto.
Seguiu até ela, abraçando-a.
-- O que faz aqui tão cedo? -- Helena indagou preocupada.
-- Preciso falar com urgência com o conde.
-- O que se passa?
-- A Isadora entrou com uma ação judicial que pede exame de DNA do Victor.
A esposa de Antonini levou a mão aos lábios.
-- Sim, ela sabe que ele não tem o sangue da Verônica e isso se torna atrativo para que ela consiga a guarda do menino.
-- Não podemos permitir que isso aconteça!
Leonardo passou a mão nos cabelos ralos, enquanto ponderava.
-- A duquesa está indo contra os planos da Nathália. -- Seguiu até a janela e ficou a observar a avenida. -- Pensávamos que o nosso neto estaria seguro enquanto a Valentina fingia essa relação com a herdeira querida, mas agora percebemos que as coisas saem totalmente do planejado.
Helena colocou a mão sobre o ombro do marido.
-- Precisamos manter a calma e provar que essa mulher não pode de forma alguma ficar com a guarda da criança. Há muita coisa que podemos usar como prova, principalmente os atos criminosos praticados pelas Hanmintons.
O arquiteto tamborilava os dedos, enquanto buscava alternativas para o que se passava.
-- Os advogados estarão aqui em pouco tempo, pedi que fizessem um estudo detalhado de todas as ações que poderemos adotar nesse momento.
-- Chame o Nicolay para que venha até aqui, ele se mostrou interessado em ajudar em tudo, sem falar que ama o Victor também.
Antonini se virou para ela.
-- Sim, meu amor, vamos usar todas as armas que tivermos ao nosso alcance, tenho certeza de que a Natasha não nos perdoaria se deixássemos aquela bruxa velha chegar perto do seu herdeiro.
Helena viu as lágrimas que se formava no canto dos olhos do esposo e sentiu os próprios lacrimejarem.
-- Quero te fazer um pedido! -- Ela lhe tomou as mãos nas suas.
-- O que você quiser, querida.
-- Eu não quero que suspenda as buscas pela Nath, quero que continue, mesmo que as chances sejam mínimas.
Ele soltou um longo suspiro.
-- Não suspenderei, enquanto me resta vida, buscarei pela Natasha, mesmo que nunca a encontremos, não desistirei.
A boa mulher o abraçou e ali permaneceram, enquanto rezavam a Deus para que um milagre acontecesse.
Natasha encontrou o monge e Valentina conversando na sala.
Ela não conseguira descansar direito, ainda mais quando fechava os olhos e as cenas que aconteceram lhe invadiam a mente. Ainda sentia o sabor dos lábios nos seus e o toque dos dedos na carne molhada.
Corou diante do olhar que recebeu da morena, porém continuou a fitá-la, enfrentando-a e deixando claro que não a temia.
-- Veja, eis aí a sua freirinha! -- A Vallares disse com um sorriso. -- Espero que meu filho não tenha lhe dado trabalho, já pedi que Giovana reassumisse o posto.
A ruiva não respondeu de imediato, fazendo-o apenas quando chegou perto deles.
-- É uma criança maravilhosa e não me causou nenhum problema! -- Falou em cerimônia. -- Acho melhor irmos embora, acredito que não há mais nada que nos prenda a esse lugar.
A neta do conde a fitava com humor a brincar em seus olhos.
-- Na verdade, filha, preciso que fique e ajude o senhor Gumercindo a projetar as melhorias que serão feitas na vila.-- Tomou mais um gole de café. -- A senhorita Vallares está sendo muito gentil em nos ajudar tanto assim.
Os olhos verdes se estreitaram em irritação.
-- Mas por que eu devo fazer isso? Não entendo nada de construção. -- Indagou fuzilando a morena com o olhar.
-- Mas foi você quem projetou o barracão para as refeições.
-- Sim, porém qualquer um poderia tê-lo feito.
-- Não! -- A circense falou mesmo diante do olhar de reprovação. -- Pelo que me falaram, a senhorita sabia de detalhes mínimos de segurança, sendo assim, acredito que para o bem de todos, principalmente para os que morarão nessas casas, deve ser a responsável por isso.
A freira respirou fundo, mirando o falso olhar de inocência que lhe era dirigido. Mirou os lábios entreabertos, os dentes alvos, o nariz afilado e orgulhoso. Não podia negar que era a mulher mais bonita que seus olhos já tinha visto e talvez fosse por essa razão que não conseguia resistir ao desejo de senti-la.
Fitou o monge.
-- Preciso falar com o senhor em particular e gostaria que fosse agora.
O religioso mirou a anfitriã.
-- Podem usar o escritório! -- Apontou. -- Fica à primeira porta do lado direito.
A Vallares viu-os deixar a sala e ficou a imaginar o que poderia querer a amada com o monge. Estava claro como lhe desagradava a ideia de ficar ali, dava para ver isso em sua expressão de irritação, porém sabia que isso se dava ao desejo que estavam a sentir.
Soltou um longo suspiro, enquanto pegava as muletas e seguia até o quarto para ver como estava o filho.
O ambiente arejado tinha janelas de vidros, uma escrivaninha com inúmeros papéis. Algumas prateleiras com poucos livros, mas que parecia pronta para serem completadas. Havia também duas poltronas, ambas foram ocupadas pela Varie e o seu monge.
Ele sabia que ela estava perturbada e pela conversa que teve com a Valentina estava claro que aconteceu algo entre as duas e decerto isso estava perturbando a ruiva. Talvez aquele fosse o momento para lhe esclarecer tudo, assim não veria a culpa naquele olhar.
-- Filha… -- Começou.
-- Eu não quero ficar aqui! -- A Valerie se levantou,interrompendo-o. -- Não desejo ficar perto dessa mulher, não desejo vê-la, nem que fale comigo.
-- Por quê?
Natasha respirou fundo e aos pouco foi soltando o ar.
-- Porque ela me perturba, ela me tira do sério, me faz cometer o pecado da ira e… e outras coisas piores.
O religioso apontou a poltrona para que ela se acomodasse e mesmo a contragosto a jovem o fez.
-- Você se sente atraída pela Valentina?
Os olhos verdes se abriram em espanto, mas continuou em silêncio.
-- Eu vou te contar algo que talvez te ajude a entender o que se passa contigo.
Nicolay ligou para a empresa aérea e avisou que usaria o helicóptero para ir até a neta. Precisava deixá-la ciente do que estava acontecendo, precisava armar um plano para que Isadora não conseguisse se sair bem em tudo aquilo que estava armando.
Encontraria Leonardo no hangar e juntos seguiriam até a fazenda.
Caramba... Que aflição.
ResponderExcluirEu amo tanto essa estória ❤️
Olá, querida, que coisa boa que gosta da minha história, fico imensamente feliz por isso.
ExcluirBeijos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá senhorita Padilha,tudo certinho com você?
ResponderExcluirCara, não tem com não amar a Valentina,a história e principalmente a AUTORA😍
Ansiosa estou para que o monge fale para a Natacha toda verdade.
Nicolay e Leonardo indo para fazenda,será que a Natacha vai lembrar deles?
Beijão Geh🌹
Olá, meu bem, eu sou muito grata por seu carinho e por suas palavras. Sinto-me honrada por seus comentários e pela forma que demonstra gostar dos meus enredos.
ExcluirUm beijo grande.
s2
ResponderExcluirS2
ExcluirOlha as coisas melhorando, seu monge conte tudo, Natasha precisa saber pela boca de outra pessoa que está desmemoriada, e que não é freiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, pode ser que agora comece a se questionar e mude a maneira de agir em relação a Valentina. Só espero que a Nathália também não resolva aparecer na fazenda de surpresa, e por falar nela, gostei de saber que a falsiane e sua vovozinha já não estão falando a mesma língua, pega fogo cabaré kkkkkkkk o egoísmo será a chave para destruição dessa dupla infernal e quando esse tempo chegar, será memorável vê-las destruídas.
ResponderExcluirBjss Geh.
Ah sim, querida, agora vemos que a duquesa já parte para o ataque. A ambição é muito grande e ela não esperaria que Valentina se casasse simplesmente com a neta. Agora há um sério problema, tão sério que o risco de se perder a criança faria a circense até mesmo a se submeter aos desejos obscuros das Hanmintos, mas torçamos para que o monge esclareça tudo de uma vez.
ExcluirUm beijão grande.