A fera ferida -- Capítulo 11



                        -- Tem certeza que vai levar a Anny? – Insistia Jane.
                Júlia estava arrumando uma pequena mala com as coisas que levaria para o final de semana, enquanto a babá arrumava a menina. Dentro de poucos minutos, Henrique chegaria para buscá-las.
                     -- Por que a pergunta? Lógico que vou levá-la. – Continuou ajeitando os pertences.
                  -- Eu sei, mas o seu noivo não gosta muito dela. Sempre se aborrece e vocês brigam por esse motivo.
                    A Wasten interrompeu o que fazia, enquanto encarava a babá e amiga.
                 Não estava nada animada para ir a esse encontro, mas precisava fazê-lo, precisava se afastar daquela mansão, daquela ilha, daquele lugar e tentar colocar em ordem seus pensamentos e sentimentos. Continuar respirando o mesmo oxigênio da filha de Alex não estava a lhe fazer bem e isso estava saindo do seu controle. Estava sempre beirando ao descontrole quando se aproximava de Elizabeth, fosse pela raiva que sempre lhe provocava ou pela vontade de tê-la para si.
                     Fitou a criança permanecer quieta, enquanto a outra lhe vestia o macacão jeans. 
                     -- O Henrique tem que aceitar que tenho uma filha, pois essa realidade nunca vai mudar.
                   -- Nós sabemos que ele é contra o fato de você ter decidido assumir esse papel. Inúmeras vezes ele insistiu para que entregasse a garota a famı́lia paterna.
               A fisioterapeuta ficou irritada com o que ouviu. Seguiu até o espelho e começou retocar a maquiagem.
                    -- Eu não quero ouvir mais nada.
                    -- Ok, desculpe. – Terminou de ajeitar Anny.
                 Júlia agiu ridiculamente, ela sabia. Não costumava tratar Jane daquele jeito. Ela não era apenas a babá de sua filha, era também alguém que sempre esteve ao seu lado em todos os momentos. Fazia parte da sua vida. Porém desde o episódio da praia, se sentia traı́da por ela.
               Sabia que a jovem tinha razão. O médico realmente não era muito paternal e na última vez que se falaram, ele insistiu para que o final de semana fosse apenas entre os dois. Mas ela não aceitara. Sua filha vinha sempre em primeiro lugar em sua vida, então o rapaz teria que a aceitar.
                -- Desculpa, Jane. – Abraçou a amiga. -- Ainda estou brava por ter se unido a Elizabth na história da praia.
                   A moça a fitou.
              -- Eu jamais imaginei que ela usaria isso para te irritar, pensei que estava realmente querendo ficar perto da Anny.
               A noiva do médico assentiu, pois sabia que a Terzak podia sem bastante convincente quando desejava alguma coisa, ela mesma cedera aos caprichos dela em outro momento.




                    Henrique estacionou o carro em frente aquela imensa mansão.
                  Teve que alugar um veículo próprio para trafegar naquela ilha. Tinha vindo de barco até aquele fim de mundo. Mas estava com muita saudade da namorada, há tempos não curtiam um momento a sós. Infelizmente, não a dissuadira da ideia de levar a sobrinha, tinham até brigado por aquele motivo, então decidiu ceder.
                   Esperava que logo ela desencantasse daquele papel idiota de ser a mãe da menina. Nem idade para isso tinha. Era jovem e deveria aproveitar o que a vida tinha de melhor e não se prender.
                    Observou a casa de três andares e ficou curioso para ver a empresária, afinal, havia se passado muito tempo e com certeza havia mudado, mas não havia dúvidas que a arrogância continuava.
                         Deu um toque para o celular de Julia.
                       Poucos segundos depois, a viu se aproximando com uma mochila e de mãos dadas com a pequena.
                       -- Ah, meu amor, que saudades. – Abraçou-a.


                   Elizabeth estava diante de uma das portas laterais que dava de frente para o portão de entrada. Ela observava o médico que chegara ao encontro da fisioterapeuta.
                       Era um homem de boa aparência, jovem e forte e teve a impressão que o conhecia de algum lugar.
                     Viu quando Júlia se aproximava com a filha e sentiu o sangue ferver quando a mulher fora recebida por um afetuoso abraço e apaixonado beijo na boca. Graças a Anny, aquela demonstração de carinho foi interrompida.
                       O homem parecia ansioso para aproveitar os momentos de paixão.
                      Sentiu um incomodo no peito. Um desejo de tirá-la dos braços daquele “ medicozinho” de quinta categoria. 
                       Apertou os braços da cadeira em exasperação.
                       Que seguissem, que deixassem sua vida e nunca mais retornasse.
                      Odiava tanto aquela mulher, odiava-a mais que tudo, mais que a todos por todas as vezes que lhe enfrentara.
                  Percebeu quando a criança a viu, Anny soltou-se das mãos da mãe e correu ao seu encontro.
                       A atenção de Júlia e Henrique voltaram-se para a figura sentada na cadeira de rodas.
                  -- Elizabeth Terzak continua muito linda. – O médico comentou observando a jovem.
                     A fisioterapeuta sentiu uma pontada de ciúmes, mas não por ele, mas saber que ela era tão admirada.
                   Colocou os óculos tentando esconder o desconforto.
                   -- Você a conhece? – Indagou sem desviar os olhos da mulher.
                   Ela usava camiseta preta colada ao corpo e calça de moletom na mesma cor. Os cabelos negros estavam soltos e os olhos verdes denotavam frieza a lhe mirarem.
                    Mordiscou o lábio inferior em frustração.
                 -- Ela estampava todas as páginas de escândalos, mesmo ela sendo muito nova sempre tinha algo relacionado à milionária. Era uma devassa.
                      -- O que falavam? – Fitou-o, curiosa. -- O que estampava nesses periódicos?
                      -- Era uma promiscua, desde o inı́cio da adolescência se envolvia em orgias sexuais, Alex pagava caro para que muita coisa fosse escondida.
                    -- Hun! -- Resmungou incomodada.
                    -- Pena que ela não fez a cirurgia para retirar a cicatriz.
                Júlia lembrou de ter acariciado a pequena lesão e em nenhum momento achou que aquilo tinha causado algum impacto naquela beleza. Ela continuava sendo lindı́ssima, tão perfeita que sentia o corpo reagir só em vê-la.
                  Viu a filha abraçar e beijar a paciente e depois voltar para o seu lado.
                   Era interessante como a menina tinha um carinho especial por aquela mulher.
                   -- Vamos? – Henrique a tirou de sua distração.
                   -- Sim!


                  Elizabeth observou o carro se afastar e ficou olhando para o vazio. Parecia perdida e mais sozinha que antes.




                 O final de semana passou lentamente.
               Elizabeth estava muito mais mau humorada do que de costume. Não saiu da cama e nem se exercitou como sempre vinha fazendo, mal se alimentou e sempre que alguém ia ao seu quarto, ela expulsava aos gritos.
            Enquanto isso, Júlia se chateou inúmeras vezes com o médico. Ele sempre criava casos devido à presença de Anny, chegava a ignorar a menina, tanto que cogitou a possibilidade de voltar antes do domingo à tarde. Sem falar no sexo, parecia que seu corpo estava bloqueado. Agira como um verdadeiro robô e fora criticada por Henrique. Ela preferiu evitar outros contatos sexuais. O namorado não gostara nada desse detalhe e chegaram a discutir feio.



                No domingo de manhã, Alex Terzak ligou para a filha e Felipa precisou insistir muito para que a jovem atendesse.
                -- O que houve? Já disse que não queria falar com ninguém. – Disparou, assim que pegou o aparelho.
               -- Filha, por favor. – Tentou acalmá-la o pai. – Precisava falar contigo sobre algo que fiquei sabendo pelo pai de Marco. 
                A empresária aparentou interesse no assunto.
                -- O quê?
                -- Ele descobriu que Marco teve um filho. – Falou sem tato. 
                Silêncio!
               O telefone caiu, enquanto o pai a chamava pelo aparelho.
               “-- Você não terminou a sua relação com aquela vagabunda?” “-- Vou fazê-la abortar. ”
               Aquelas palavras martelavam na sua mente. Mas quando aquele diálogo acontecera? Por que sua mente continuava bloqueada? Sentia que precisava elucidar aquele quebra cabeça.



                 Na segunda-feira, Júlia já estava esperando a paciente.
                 Mesmo que negasse, estava ansiosa para ver a Terzak. Seu sangue chega corria mais rápido em suas veias ao imaginar que logo ela apareceria com aquele nariz arrebitado e a língua afiada, destilando arrogância para todos os lados.
                  Umedeceu os lábios demoradamente.
               Caminhou até a beira da piscina e se lembrou de quando a tocou naquelas águas cristalinas...
                 Agachou e começou a mexer no líquido com as mãos. Lavou o rosto.
              Chegara tarde no dia anterior, dormira muito pouco, agora se sentia ansiosa para começar a trabalhar, ou seria por que estava com vontade de ver Elizabeth? Só a viu na sexta.
            Viu a empresária vindo em sua direção, acompanhada do enfermeiro. Levantou-se para recebê-la.
               A morena preferiu não encarar a figura que estava vestida formalmente. Não se apresentava como nas sessões anteriores, até mesmo o jaleco fora adotado.
                -- Bom dia! – Júlia a cumprimentou. 
                   A paciente apenas deu de ombros.
               -- Hoje, vamos começar a treinar as muletas. – Dirigiu-se para perto da cama. – Precisarei da sua ajuda. – Fitou o rapaz.
               A empresária não esboçou nenhum gesto, fez tudo que lhe foi pedido, nem mesmo reclamou de nada.
                  A fisioterapeuta a observava.
                Não era fácil aquele treinamento, era muito esforço para ser feito e sabia que a paciente precisaria se esforçar ainda mais para vencer mais aquele desafio.
                  De inı́cio, apenas ficava de pé. Os passos pouco a pouco seriam dados.
               Após uma hora, Júlia decidiu suspender a atividade. Pediu para o enfermeiro deitar Elizabeth e iniciou massagens por todos os membros. Não queria fazê-la sentir muitas dores durante à noite.
                -- Está se sentindo cansada?
                -- O que você esperaria? – Indagou irritada.
                 A fisioterapeuta parou o que estava fazendo para encará-la.
                -- Eu só fiz uma simples pergunta, bastava você dizer sim ou não.
                -- Não suporto indagações idiotas.
               -- Ok! Ok! – Levantou as mãos em sinal de rendição. – A senhorita ainda aguenta ir para a piscina?
                 -- Você vai vestida assim? – Desdenhou.
                 -- Não vejo problema, tem algum para você?
                A Wasten percebeu que a jovem estava mais insuportável que nos outros dias. A viu gritar com o enfermeiro para leva-la para água.
                 Elizabeth estava segurando nas barras quando olhou para a fisioterapeuta.
              Viu quando ela tirou a roupa e ficou vestida apenas com um pequeno short e uma camiseta colada ao corpo atlético.
              Ela nem mesmo estava de biquı́ni, mas seu corpo reagiu do mesmo jeito diante àquela visão.
               -- Vamos dar uns passinhos? – Ficou bem próximo da paciente.
               Quando Júlia tentou tocá-la, a empresária afastou-lhe a mão violentamente.
               -- Não me toque!
               -- Ah, me poupe. —Retrucou impaciente. -- Não estou com muita paciência para suas crises. Se a toco é porque é necessário e não pelos motivos sujos que passam por sua cabeça.
               -- Você é uma desavergonhada. – Acusou com raiva. – Como teve a capacidade de levar sua filha consigo numa viagem de pura safadeza.
               A jovem passou as mãos pelos cabelos.
              -- Jamais faria algo para sujar a integridade da Anny, nunca a deixaria presenciar nenhum tipo de cena que viesse a constrangê-la. – Virou-se para sair.
                A Wasten não queria discutir e já percebera que esse era o intuito da Terzak. Daria a sessão por encerrada e continuaria no dia seguinte.
                -- E aquele beijo que foi trocado diante dos olhos inocentes dela? 
                 A fisioterapeuta virou-se e segurou-lhe fortemente pelos ombros.
              -- O beijei de forma normal. – Mergulhou naquele verde implacável. – Você não é ninguém para querer me dar lição de moral. Pelo que fiquei sabendo, você nunca foi um anjo de pureza.
                -- Tire suas mãos de mim. Me enoja ser tocada por ti. – Disse entre os dentes.
           -- Tem certeza? – Sussurrou bem ao pé da orelha. – Não lembro de ter visto nenhuma expressão de asco quando te toquei aqui na piscina uma certa vez.
                  -- Você é uma desclassificada. – Acusou constrangida.
                  -- Ah, por favor! – Afastou-se novamente. – Não tenho tempo para essas besteiras.
                  -- Você contou a ele o que aconteceu entre nós? – Provocou.
                  -- E o que foi que aconteceu? – Falou bem próximo da boca dela. – Isso?
                Elizabeth foi pega totalmente desprevenida, os lábios da fisioterapeuta colaram-se nos seus, esmagando todos os argumentos e acusações que ainda lhe restavam. A lı́ngua da outra procurava a sua numa dança erótica, numa verdadeira imitação do ato sexual.
              Júlia chupou e mordiscou, até fazê-la gemer. Desceu as mãos pelo corpo esbelto, parando nos quadris, puxando-a mais para si. Deseja estreitar aquele contato, sentiu os mamilos enrijecerem ao contato dos seios. Não podia negar, fora aquilo que desejou sentir com o namorado, era aquilo que nunca chegara a sentir com ninguém.
                  A fisioterapeuta afastou-se um pouco para fitá-la.
             -- Você é tão linda! – Tirou alguns fios que se soltaram do rabo de cavalo. – Não entendo o porquê de ser tão venenosa.
                 Pela primeira vez naquele diz, desde o longo final de semana, Elizabeth deu um sorriso.
                 A mãe de Anny respirou fundo e saiu da piscina.
             Precisava esclarecer as ideias, não queria permanecer ali, não sabia se conseguiria se controlar diante das provocações da bela herdeira do Terzak
                   A empresária observou-a se afastar.
                  Por que era tão difı́cil resistir àquela mulher?
                Podia negar para todos, mas não podia enganar a si mesma. Desejava com loucura a Wasten. Toda a irritação que se apossou de si no final de semana, foi devido à raiva de não tê-la na mansão e pior, saber que ela estava nos braços daquele médico. O sol parecia ter voltado a brilhar quando a viu naquela manhã, porém quando lembrava do beijo que presenciou entre ela e o namorado, toda a euforia ia pelo ralo.
                  Decididamente a queria para si e estava disposta a fazer tudo para satisfazer esse capricho. Nunca nada lhe fora negado, sempre que aspirava por algo, pegava para si. Tinha dinheiro o suficiente para comprar qualquer coisa e não seria diferente com a fisioterapeuta.



                 Júlia não seguiu para o quarto, preferiu ir à praia. Chegando lá, sentou bem perto da água e ficou admirando aquele imenso mar.
            As ondas estavam calmas, diferente do seu interior. Sentia um turbilhão de emoção apertar seu peito. Sabia o que realmente estava acontecendo consigo. Seu coração, que nunca parecera tão passional, estava totalmente entregue à paciente.  Era  terrível  admitir,  mas  estava  sentindo  sintomas  de  paixão  por  Elizabeth  Terzak.  Mesmo  com  a  presença  do noivo, aquela agonia, aquele desespero pela empresária não cessara. Contara os segundos para retornar e vê-la. Infelizmente, não sabia lidar com sua arrogância, teria que lutar com todas as forças para retirar do peito aquele sentimento.

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