Dolo ferox -- Capítulo 34



                  Nícolas estava em seu escritório. 
                 Não conseguira pregar o olho durante toda noite. A cena do tapa que havia dado na filha se repetia em sua cabeça. Sabia que fora covarde e cruel, mesmo que tivesse como desculpa o fato de ter se preocupado com a circense, nada justificava sua violência. 
                  Fechou os olhos fortemente, tentando se livrar daquela agonia.
                 Sabia que se Eva estivesse viva reprovaria aquela atitude, mas teria que entender que tudo o que ele estava fazendo era para o bem da valentina, para protegê-la. Sabia que ela estava cega pela maldita Valerie e não acreditaria em nada que lhe fosse dito, mas dessa vez não falharia em seu papel de pai, dessa vez lutaria contra todos e sairia vencedor.
                   Abriu a gaveta e de lá retirou o diário da irmã.
               Nathália tinha lhe entregado naquela manhã e a cada frase que lia sua indignação apenas aumentava. Não havia dúvidas que a neta ruiva de Isadora era um verdadeiro demônio, um ser que não demonstrava compaixão ou qualquer tipo de sentimento por alguém. 
                   Fechou a brochura. 
                   A narrativa de Verônica era dolorosa, demasiadamente dramática… Mas havia algumas coisas sem nexos algum... 
               Não estava brincando quando deixou claro que estava disposto a matar se assim fosse necessário. Não se importaria em passar o resto da vida em uma prisão fria se essa fosse a única forma de livrar a trapezista de viver o mesmo inferno que a irmã.
                 Inclinou-se na cadeira, enquanto fechava os olhos, recordava-se do dia do enterro filha mais nova do conde Vallares. Ainda via o olhar frio e desprovido de qualquer sentimento de Natasha. Ainda via a indiferença quando aos gritos lhe chamou de assassina, quando fora tirada do cemitério algemada, nem mesmo no julgamento falara algo, apenas aceitara calada a sentença dada pelo juiz. 
                  Ouviu batidas na porta e depois de seu assentimento a secretária apareceu trazendo o chá que tinha pedido.
                A mulher trabalhava consigo há mais de dez anos e sempre era bastante prestativa e discreta. Algumas vezes desabafara com ela sobre a enorme dor de ter perdido o amor da sua vida, também lhe falara quando ficara imensamente feliz por ter ficado sabendo que tinha uma filha.
                      -- Trouxe para que lhe ajude a relaxar. 
                   Mariana era uma bela loira de quase quarenta anos. Sempre tinha um sorriso gentil em sua face. Alta, corpo esguio. Ficara viúva há oito anos e desde então não se relacionava com ninguém.
                   -- Você é muito atenciosa! -- Apontou a cadeira para que ela sentasse. -- Dê-me alguns minutos do seu precioso horário de almoço, preciso de alguém para me ouvir.
                      Ela assentiu, acomodando-se com as pernas cruzadas. 
                     Estranhara o fato do chefe ter chegado tão cedo, pois era normal que aparecesse sempre após o início do expediente. Observou o rosto abatido, as olheiras profundas que denunciavam a falta de descanso.
                       -- Não saiu tudo bem com o noivado da sua filha? -- Indagou receosa.
                      Mariana quem organizara todo o jantar e ficara em linha direta com a arrogante Isadora para deixar tudo em verdadeira perfeição.
                       Nícolas fez um gesto negativo com a cabeça, mas nada falou de imediato. 
                  -- O que aconteceu? -- Questionou preocupada. -- Parecia tão feliz nos últimos dias… Ontem estava entusiasmado, até mesmo me mandou pesquisar os melhores lugares para uma lua de mel.
                     O filho do conde bebericou um pouco da bebida que lhe fora oferecida, depois soltou um longo suspiro.
                    -- Natasha Valerie destruiu mais uma vez a paz da minha família… -- Colocou a delicada porcelana sobre o pires. -- A minha filha está apaixonada por ela. Gritou para todos ouvirem.
                     Os olhos claros da secretária se abriram em total espanto.
               Quem naquele país não conhecia o ódio que os Vallares tinha pela arquiteta? Só em imaginar aquela situação, sentia-se angustiada.
                 Conhecia a circense, pois desde que ela passou a fazer parte dos negócios do conde, sempre aparecia por ali. Desde que a viu, percebia se tratar de um jovem muito responsável e bastante segura das suas ações, não agia como as mulheres de sua idade que pareciam se preocuparem apenas com futilidades.
                     -- O senhor já suspeitava disso… Tinha mesmo contratado um detetive… Eu mesma não acreditei quando me contou suas suspeitas e agora mesmo ainda estou perplexa diante desse fato. 
                     Ele assentiu.
                  -- Mas eu tentava me enganar, imaginando que estivesse a devanear, afinal, vi as duas se enfrentarem… -- Soltou um suspiro cansado. -- Sei que ontem eu perdi a cabeça e acabei esbofeteando a minha filha. 
                 A secretária arregalou os olhos em perplexidade. Jamais em sua vida passara por sua cabeça um ato daquele tipo daquele homem tão cordato.
                   -- Eu não consegui me controlar… -- Cobriu o rosto com as mãos. -- Sei que agi como um selvagem, mas você não imagina a raiva que senti quando Valentina vociferou que estava apaixonada pela assassina da própria tia, da minha amada irmã.
                      -- E como ela está agora? -- Perguntou apreensiva.
                   -- Presa dentro do quarto com seguranças impedindo-a de sair da mansão. -- Soltou um suspiro sofrido. -- Eu não queria chegar a esse ponto, mas não tive opção. 
                  Mariana se mexeu na cadeira, parecia se sentir desconfortável em se meter na vida daquele homem a quem admirava tanto, mas também não conseguiria se manter indiferente diante do que estava ouvindo. 
                       -- Não acha que está sendo muito radical? Ela não é uma adolescente,é uma mulher que já passou por muita coisa na vida… Por que não tenta conversar, explicar sua posição…
                      -- Minha posição?! -- Levantou-se, interrompendo-a. -- Acha que proteger a minha filha de uma assassina se trata de uma escolha? Estou fazendo isso para o bem dela, sei que agora não vai acreditar, mas um dia chegará a me agradecer pelo que estou fazendo.
                        Mariana respirou fundo!
                    Mais uma vez pensou se deveria dar sua opinião, mas ao ouvir tudo aquilo não conseguia se manter calada.
                  -- A Valentina parece ser uma jovem bastante inteligente, não é uma cabeça de vento como a maioria da moças na idade dela, então talvez devesse lhe dar um crédito.
                      -- Você está dizendo para aceitar essa relação?! -- Questionou aumentando o tom de voz.
                        -- Na verdade, ela quem deve aceitar a relação e não o senhor…
                       Antes que Nícolas esbravejasse com a loira, o celular tocou.
             Viu o nome de Nathália aparecer no visor e rapidamente atendeu, sem desviar os olhos da empregada um único instante. 
                 -- O que houve? -- Questionou, enquanto se sentava.
                 Ouvia as frases ditas entre lágrimas.
              -- Calma, pode levá-la para um hospital particular, custearei todo o tratamento. Logo encontro você lá.
                 Encerrando a chamada, suspirou cansado, enquanto afrouxava a gravata.
               Isadora tinha tido um princípio de infarto e fora levada às pressas para a emergência. Era o que faltava para aquele dia parecer tão perfeito.
                 -- Algum problema? -- A mulher indagou.
               -- Sim, mais uma vítima da Valerie… -- Disse com um sorriso amargo. -- A duquesa infartou e foi levada para o hospital.
                  -- Deus do céu!
                 -- Ligue para o central e arque com todas as despesas. -- Levantou-se. -- Irei até lá para dar meu apoio.
                    Mariana assentiu, levantando-se,enquanto via o chefe deixar a sala.



                  Valentina passou a manhã toda olhando pela janela. Observava a altura com atenção e buscava alternativas para conseguir escalar aquelas paredes e fugir daquele lugar.
                   Observou o almoço intocado sobre a cama.
                   Quanto tempo aquilo iria durar?
                   Até mesmo o celular tinha sido retirado para que não tivesse contato com ninguém.
                 Andava de um lado para o outro, enquanto imaginava a Valerie chegando ali e fazendo um verdadeiro escândalo. Temia pelas ameaças do pai, sabia que ele estava totalmente certo da culpa da arquiteta e não baixaria a cabeça ou permitiria que ela se relacionasse com a ruiva.
                 Apertou forte o batente, enquanto lembrava da noite anterior. De como se entregara a mulher que amava, de como se sentira viva ao ouvi-la confessar inúmeras vezes o seu amor.
                  Bateu com o punho fechado contra o concreto!
             Deveria ter negado, mas ficara tão furiosa diante das palavras da duquesa que não segurara a língua. Deveria ter feito como a Valerie disse, deveria ter permanecido na cobertura. Não era mais uma criança, tampouco uma adolescente, era uma mulher adulta que poderia decidir sobre o que desejava para sua vida.
                 Observou o céu nublado.
             Porém não desejava viver se escondendo ou que a ruiva vivesse sob a égide de assassina e por essa razão decidiu não se esconder, provaria a inocência da mulher que amava, os Vallares deviam isso a ela. 
                Viu a chave girar na fechadura e lá estava o imponente e arrogante filho do conde.
              Encararam-se durante longos segundos. A morena estreitou os olhos ameaçadoramente, enquanto o olhar do pai trazia culpa inicialmente, mas logo retornava a postura de senhor da situação. Mediram-se em desprazer e temor, sabendo que não seria uma tarefa fácil aquele encontro.
               O empresário viu a marca que ainda estava na face da trapezista e algo em seu interior doeu.
            A circense se aproximou, parou no meio do quarto, empertingou-se, enquanto o encarava.
                        -- O que veio fazer aqui? Bater-me novamente? -- Questionou com as mãos na cintura. -- Ou fazer novas ameaças?
                       O filho do conde observou o almoço que não tinha sido comido, a bagunça que reinava por todos os lugares do elegante aposento.
                 Seguiu até a janela e observou o quanto alto estavam e ficou a pensar se a jovem se aventuraria por algo tão perigoso. Voltou-se para ela.
                     -- Não irei mais discutir contigo… Vim apenas avisar que a duquesa teve um princípio de infarto e está no hospital.
                       A morena pareceu baixar a guarda e sua expressão pareceu preocupada.
                      -- E como ela está?
                  -- Os médicos conseguiram estabilizar o quadro, mas foi por pouco. Ficará em observação durante alguns dia.
                  Valentina assentiu, parecendo aliviada, pois mesmo que antipatizasse com a aristocrata, jamais desejaria algo assim.
                 -- Está vendo como a Natasha é uma desgraça nessa família desde o nascimento… Quer que ela seja o mesmo na nossa?
                     A trapezista meneou a cabeça em surpresa.
                   -- Como o senhor pode dizer que um recém nascido pode ser uma desgraça para alguém! Todos sabem que desde que saiu do ventre da mãe, Isadora fez o possível para se livrar dela.
                   -- A duquesa já previa o demônio que ela seria! -- Disse firme. -- Mas é perdido falar sobre isso contigo. Não acredita, apenas acha que a ruiva te ama… A minha irmã pensou o mesmo e foi morta por ela covardemente. 
                    Valentina arrumou uma mecha de cabelo por trás da orelha, enquanto tentava manter a calma.
                       -- Não discutirei com o senhor sobre isso! Está cego diante do seu ódio!
                      -- Sim, estou e fique sabendo de uma coisa. -- Apontou-lhe o dedo em riste. -- Caso não aceite o compromisso com a Nathália e vá para os braços da arquiteta, eu mesma matarei aquela miserável, farei isso sem me importar com nada nem ninguém! -- Dizia diante do olhar de pânico da filha. -- Faça sua escolha. Se a ama tanto como dizes, não acredito que deseje esse fim para ela.
                       Valentina estava perplexa diante da chantagem.
                    Aproximou-se mais dele, mirando-o com atenção, como se necessitasse de ver se havia veracidade naquilo que era dito.
                     -- O senhor não teria coragem de fazer algo tão terrível! Conheço-o, mesmo que não tenha vivido ao seu lado, não acredito que a minha mãe se apaixonaria por um ser humano de caráter tão baixo assim.
                         O maxilar do Vallares enrijeceu. 
                      -- Não me importo de fazê-lo, contanto que você fique viva, não me importarei de passar todos os meus dias em uma prisão, se assim eu tiver livrado você daquela mulher. 
                     -- Por favor, papai, não está vendo a loucura que está dizendo… -- Pedia em tom mais brando. -- Não faça isso, eu a amo, amo-a tanto que não me imagino sem tê-la ao meu lado. -- Dizia em desespero. -- Dê-me uma chance de provar que ela é inocente, eu imploro, sei que o senhor foi enganado como todos, porém pode sair desse erro… -- Tocou-o. -- A Natasha é inocente!
                       Nícolas se desvencilhou do toque.
                     -- Você quem irá decidir… -- Apontou para a bandeja. -- Acho melhor que se alimente ou eu mesmo a obrigarei.
                        Abriu a porta e chamou um dos seguranças.
                    -- Providencie uma grade para as janelas e para a varanda, a minha filha costumava voar pelos ares em cabos de aço e não duvidaria que algo assim lhe passasse pela cabeça de vento.
                     A morena lhe enviou mais uma vez um olhar acusador, mas o mais velho apenas deu de ombros, enquanto deixava o quarto.



                     Nicolay observou o filho passar pisando duro para o própria alcova. Sabia que estava irritado, decerto Valentina não havia cedido aos seus caprichos. Olhou em direção ao quarto da neta e viu os seguranças que não pareciam se cansar daquela função: vigiar uma jovem de estatura média que nem mesmo tinha forças para enfrentá-los.
                      Bateu a ponta da bengala no assoalho e chamou a atenção dos homens, porém não foi até eles, dirigiu-se até os aposentos do filho.
                      Lentamente seguia pelo corredor. Bateu, mas não recebeu resposta, por isso decidiu entrar. 
                    O empresário estava parado diante da janela. Tinha tirado o paletó e arregaçado as mangas da camisa social de seda branca.
                          -- Não vai voltar para a empresa? -- O conde questionou.
                          Nícolas ouviu a voz do pai, mas não se virou.
                        Estava cansado, exausto e arrasado por tudo o que estava acontecendo. Conviver com a expressão de desprezo da filha lhe ferira sem misericórdia alguma. Mais um motivo para se vingar da Valerie.
                          -- Irei até o hospital ver a duquesa.
                         -- Ah sim, soube do mal estar que a acometeu… -- Disse com pouco caso. -- Estranho que ela estava tão bem e de repente acontece isso.
                          O mais jovem virou para o pai.
                           -- Tenho a impressão que há uma certa incredulidade com o ocorrido.
                       -- Eu não disse nada! -- Levantou as mãos em rendição. -- Eu desejo que ela se recupere o mais rápido possível, que volte a ser o ser humano adorável que sempre se mostrou. -- Ironizou.
                          Nícolas estreitou os olhos, mas nada comentou sobre.
                      O patriarca observou a cama impecavelmente arrumada ocupando o centro do quarto. Viu a escrivaninha que ele mantinha ali, aproximou-se e lá estava várias fotos de Eva e da neta. Também havia imagens de Verônica, recortes de jornais de época que ela fora assassinada.
                       Ouviu a voz do filho a lhe chamar a atenção.
                        -- Esteve com a Valentina?
                      -- Sim, eu a vi e sabe que reprovo o que fez, principalmente por ter usado de violência com ela.
                        A face do pai da trapezista enrubesceu e foi possível ver a tristeza em seu perfil forte. 
                     -- Conhece-me muito bem e sabe que nunca teria agido assim em toda a minha vida, mas ao ouvi-la ontem fiquei transtornado… -- Passou a mão pelos cabelos finos. -- Arrependo-me de tê-lo feito, não consegui dormir revivendo a cena, mas só o fiz para protegê-la.
                      -- Protegê-la… protegê-la… -- Repetia calmamente. -- Não será fácil ir contra a vontade dela… Não é tão manipulável quanto você.
                              Sim, Nícolas sabia desse detalhe muito bem. 
                            -- O que o senhor quer que eu faço? -- Indagou irritado. -- Deseja que deixe que ela se relacione com essa assassina miserável? O que se passa? Só falta agora estar defendendo a Natasha! -- Caminhou para a outra extremidade. -- Ela matou a sua filha covardemente, destruiu nossa família e o que quer? Que deixe a Valentina viver um amor com essa maldita? Só falta ansiar para me ver entrar de braços dados com elas no casamento. -- Falou com escárnio. 
                              O conde segurou a bengala com ambas as mãos, enquanto parecia ponderar.
                       -- Falei com o delegado hoje, pedi para buscar outras linhas de investigações… A única pessoa que foi investigada foi a Natasha…
                           -- Está achando o quê? Não tem nada que ser investigado! -- Apontou-lhe o dedo em riste. -- Ela é a assassina!
                           -- Bem, isso vai ser provado, eu apenas irei em busca de outras alternativas… devo isso a minha neta.
                             -- Deve? -- Indagou com a sobrancelha arqueada.
                            -- Sim, pois foi por minha culpa que ela não foi criada por nós, foi minha culpa que a mãe dela viveu na rua, então estou tentando compensar tudo isso.
                         Nícolas ficou pensando, enquanto encarava o homem que ali estava. Odiou-o tanto em determinada época da vida que chegou lhe desejar a morte, culpava-o por sua infelicidade, por ter entrado em seu caminho e lhe tirado a única mulher que chegou a amar na vida. Ainda lhe doía aquela perda e talvez nunca se recuperasse.
                         -- Defenderei a minha filha sobre todas as coisas e se precisar ir contra ela, eu irei…
                      -- E se você estiver cometendo o mesmo erro que cometi? Achas mesmo que a Valentina irá te perdoar? -- Meneou a cabeça. -- Você sabe que ela diferente de nós, é mais forte, mais determinada e não vai desistir tão fácil de tudo como você o fez.
                        -- Estou disposto a pagar o preço… Já deixei claro para ela quais são as minhas condições, caso se negue, eu mesma darei cabo a vida daquela desgraçada.
                             Antes que o conde pudesse falar mais alguma coisa, o empresário pegou o paletó e deixou o quarto.
                              Nicolay suspirou, pois temia que o filho fizesse uma loucura.
                              Lentamente deixou os aposentos, seguindo pelo corredor.





                     Nathália estava ao telefone, enquanto observava a mãe sobre o leito. A maquiagem estava perfeita, demonstrando sua saúde fragilizada.
                      -- E então? -- Isadora questionou ansiosa.
                      A morena guardou o aparelho móvel.
                    -- Não acredito que ela possa sair viva dessa vez. -- Disse com um sorriso largo. -- De uma vez por todas minha irmanzinha vai descansar desse mundo tão cruel. -- Sentou-se cruzando as pernas elegantemente. -- Imagine só quando a nossa amada Valentina ficar sabendo que o amor da sua vida está morta e a culpa é do próprio pai… -- Suspirou. -- Uma dor tão grande que acho difícil que ela possa se recuperar disso… Bem capaz de ficar louca… E vou ter que interná-la.
                       Os olhos da duquesa brilhavam ao imaginar como aquele plano parecia perfeito.
                    Na noite anterior desejara apertar o pescoço da jovem herdeira dos Vallares por ter rejeitado sua amada neta para se relacionar com a maldita selvagem. Ninguém em sã consciência trocaria um diamante valioso como a herdeira dos Hanmintons por uma pedra sem nenhum valor.
                     Recordou-se de quando Verônica confessara ter se apaixonado por Natasha, sentiu o mesmo ódio que agora se dirigia a Valentina. 
                       Ouviram batidas na porta.
                    Nathália fez um gesto para que a avó voltasse a sua forma de enferma e logo se levantou.
                       Nícolas adentrou o espaço e a herdeira da duquesa o abraçou chorosa.
                       O empresário apenas permaneceu ali, abraçando-a, consolando-a.
               -- Tenha calma, tudo vai dar certo. -- Dizia, enquanto seu olhar caia sobre a moribunda. 
                       Nathália o encarou.
                     -- Por que todas essas coisas estão acontecendo de uma vez na minha vida? -- Dizia em lágrimas. -- Até mesmo a Valentina não me ama mais e agora a única pessoa que tenho no mundo não está bem.
                 -- Logo isso vai se resolver, meu bem. -- Tocou-lhe a face. -- Minha filha está confusa, mas logo ela recuperará a sanidade… Vamos seguir com os planos de casamento e logo vocês deixarão o país.
                     -- Mas e a minha irmã? -- Afastou-se chorosa. -- Hoje cedo ela teve a ousadia de me ligar tecendo ameaças, debochou do fato de Valentina tê-la preferido… -- As lágrimas voltavam a correr. -- Ela teve a coragem de falar sobre a Verônica, exaltando-se…
                     O filho do conde fechou os punhos ao lado do corpo, mas nada disse.
                 -- A Natasha não vai parar… -- Arrumou os cabelos em um gesto desesperado e calculado. -- Ela não descansará até que destrua a todos.
                      -- Eu vou matá-la, eu irei fazê-lo com minhas próprias mãos.
                      Nathália fitou-o, estudando-o.
                      -- Teria coragem de fazer algo assim?
                      -- Estou disposto a tudo para livrar o mundo da presença miserável da sua irmã.
                    A conversa prosseguia, enquanto Isadora e a câmera observavam e pegavam cada uma das frases de ódio que eram proferidas, tendo Nícolas Vallares como pronto para cumprir suas promessas.



                   Rick percorria as margens do rio gritando por Natasha. Fazia-o em plenos pulmões, gritando em total desespero pela jovem ruiva.
              Ali era totalmente deserto. A correnteza o tinha levado para longe e sabia o quão distante estava do lugar onde se jogaram.
                    O sol já estava se pondo.
                Deixou-se cair na areia de joelhos. Estava tão cansado, em total desespero. Chorava copiosamente, enquanto olhava as águas selvagens que poderiam carregar qualquer coisa.
                   Fitou o céu e viu as nuvens carregadas.
                  Não podia desistir de ir em busca da arquiteta, ela poderia estar ferida em algum lugar daquela parte, necessitando que alguém fizesse algo para salvá-la.


                     Valentina andava de um lado para o outro sem cessar.
                      Sentia-se angustiada por estar presa entre aquelas paredes sem nada poder fazer.
                  Desesperada, seguiu até a porta, batendo com o punho fechado contra a madeira, sabendo que seria inútil sua ação. 
                             A porta se abriu e lá estava Nicolay. 
                    O bom senhor observou-a durante alguns segundos e logo a abraçou.
                   Valentina manteve os braços caídos ao lado do corpo, mas logo apertou forte o corpo magro do avô.
                O conde sentia os espasmos da jovem contra si. Sentia o desespero da moça e temia que algo lhe acontecesse.
                   -- Calma, calma, tudo vai se resolver.
                  -- Por favor, vovô, eu preciso falar com a Natasha, tenho medo que ela venha até aqui, tenho medo que meu pai cumpra suas ameaças… Por favor, ajude-me...
                  Nicolay lhe segurou as mãos, levando-as aos lábios, beijou-as.
                  -- Eu mesmo falarei com a Valerie.
               -- Falará? -- Indagou esperançosa. -- Eu sei que ela não matou a sua filha, acredito nisso e lutarei para provar a inocência dela.
                 -- Eu ajudarei com as investigações… Mas quero que me prometa que se descobrimos que a Natasha é culpada, você se afastará dela…
                 Os olhos negros se abriram ainda mais.
                  -- Prometa para mim e eu a ajudarei nas investigações. -- O velho repetiu.
                  A morena assentiu.
                -- Eu não conseguiria ficar com ela, mesmo amando-a tanto, sabendo que fora capaz de tamanha crueldade.
                -- Então precisa manter a calma, eu mesma já falei com o delegado e contratei um detetive particular.
                   Um sorriso largo brotou na face da jovem que estava corada de tanto chorar.
                 -- Fale com a Natasha, diga que não deve me procurar, não pode se aproximar do meu pai, tenho medo que faça algo terrível, ameaçou matá-la.
                   O conde assentiu.
                     -- Sim… Sim… -- Seguiu com ela até a cama, sentando-se. -- Quem devo começar a investigar?
                A trapezista andava de um lado para o outro, limpava o pranto que ainda estavam em sua face.
               -- Isadora e Nathália, tenho certeza que elas estão por trás de tudo, posso garantir que elas sabem muito mais do que dizem.
                 -- Tem certeza?
                 -- Sim, tenho.
                  O conde a observava com cuidado.
                 -- Quero que vá até o quarto da sua tia, tudo está intocado, nada fora retirado, a polícia na época não se importara de ver as coisas lá, pois há tempos ela não vivia mais aqui.
                   -- Mas como farei? Não posso deixar o quarto.
                  -- Eu me encarregarei disso, porém deve ter cuidado e nada de agir com rebeldia, não deve desafiar seu pai, precisa se manter quieta, assim ele não irá atrás da sua ruiva. 
                 A circense esboçou um sorriso depois de toda a aflição, voltava a ter fé que tudo poderia se resolver.
                      Seguiu até o conde, abraçando-o.

                  Leonardo chegou à cobertura e encontrou Helena a sua espera. A mulher parecia angustiada.
                      -- E então? -- Indagou apreensiva.
                   -- Nada! -- Disse com desgosto. -- Tentei falar com Rick, mas tanto o celular dela quanto o dele estão desligados.
                      -- Meu Deus! 
                      -- Precisamos ter calma, não devemos nos precipitar.
                   -- Não, algo deve acontecido. Natasha não ficaria sem ligar para saber do filho ou mesmo sumir sem deixar pistas. -- Dizia em desespero.
                      Leonardo a abraçou.
                      -- Precisamos ter calma e tudo se resolverá.
                   Antonini falava essas palavras, mas não parecia acreditar no que estava sendo dito, afinal, a Valerie não costumava sumir daquele jeito, não quando tinha seu filho e se preocupava bastante com ele.



                      O dia amanhecia quando Rick despertou mais uma vez.
                    Estava assustado, olhava de uma lado para o outro, observava mais uma vez para ver se encontrava alguma coisa.
              Passara o dia anterior andanda mata adentro, nem mesmo imaginava quantos quilômetros tinha percorrido em busca de Natasha.
                        Observou a mata fechada.
                        E se ela tivesse seguido por ali? Com certeza uma hora dessas já estaria morta.
                    Gritou mais uma vez pelo nome da arquiteta. Fê-lo a plenos pulmões e mais uma vez o desespero lhe venceu. Chamou por ela até cair desfalecido



                        O monge adentrou a pequena caverna trazendo algumas ervas. Observou a mulher debruçada sobre a jovem.
                     -- A respiração está muito fraca, precisamos levá-la para algum lugar.
               -- Seria impossível que ela sobreviva! -- Aproximou-se, tocando a face ferida da jovem. -- Está tão quente, ainda mais corada...
                    Viu o corte profundo na têmpora esquerda, as roupas elegantes em frangalhos. 
                   -- Natasha Valerie… -- Meneou a cabeça. -- Como o mundo é pequeno.
                   -- Conhece-a? -- A companheira indagou curiosa.
              -- Sim, ela é a neta da duquesa de Hanminton… -- Falou o sobrenome desdenhosamente. -- A menina que fora desprezada e jogada dentro de um convento… Envergonho-me de ter participado do plano sórdido e quando me rebelei, expulsaram-me e perseguiram-me...
                  -- Meu Deus! -- A outra cobriu a boca. -- Essa é a criança que o senhor costumava contar a história para mim? -- Levantou-se pasma. -- Eu pensava que se tratava de um devaneio de um velho. -- Ouviu um gemido lá fora. -- Quem é?
                    -- Ah sim, encontrei um rapaz desmaiado aqui perto, trouxe-o também comigo.
                   Não demorou para passos cambaleantes adentrarem o espaço.
                 O homem alto e maltrapilho apareceu e seu rosto pareceu se transformar ao ver a ruiva, temeu estar tendo uma alucinação como todas que já teve em tão pouco tempo.
                  Seguiu até o chão, olhando a mulher com adoração. Baixou a cabeça,escutando-a como um médico o faria.
                      -- Então o senhor estava com ela? -- O monge perguntou.
                      O detetive assentiu confuso, enquanto olhava para as duas pessoas ali presente.
                    Não se recordava do que tinha acontecido, apenas lembrava de ter andado tanto que seus pés adormeceram.
                     -- Quem são vocês? 
                O homem e a mulher trocaram olhares e permaneceram em silêncio durante alguns segundos até que o religioso falou.
                    -- Estamos em retiro e total isolamento nesse lugar sagrado.
                  Rick observava os trajes que eles vestiam. Túnicas marrons com capuzes. Ele tinha os cabelos todo branco, a barba longa tinha a mesma tonalidade. O corpo era magro. A mulher também era idosa, cabelos longos, porém ainda tinha alguns fio negros entre os brilhantes prateados. 
                   -- É um padre? -- Questionou receoso.
                 Antes que o idoso respondesse, Natasha tossiu, parecia engasgada. Rick a auxiliou, deitando-a em seu colo, enquanto lhe abraçava.
                   -- Pensei que a tinha perdido, não sabe como me desesperei… -- Dizia em lágrimas. -- Preciso levá-la até um hospital. -- Mirou o religioso. -- Preciso de um carro, de algo para transportá-la.
                 -- Ela morreria antes de chegar a algum lugar… -- Pegou as ervas e voltou a limpar a ferida da face. -- Eu a conheço… Vi-a nascer naquele convento e fico a pensar como ainda está viva.
                  O detetive parecia confuso.
                -- Retorne para o seu mundo e a deixe, pois sabemos que se ela retornar tentarão matá-la novamente.
                -- Como sabe disso? -- Falou em tom mais alto. -- Como sabe disso? -- Esbravejou.
                 O monge o olhou com calma, não parecia se alterar diante do outro. 
                 -- Encontrei os corpos na margem, enterrei-os e sei qual era a intenção deles…
               -- Onde os enterrou? -- Levantou-se cambaleante. -- Preciso ver se há alguma pista para saber de quem se trata.
                 O monge apontou com o dedo indicador.
                 -- Ali está as coisas que encontrei com eles.
              O detetive mesmo fraco, seguiu até o local. Abriu a mochila e lá estava um aparelho celular avariado, alguns cartões de identificação em acrílico e duas armas.
                -- Precisamos retornar o mais rápido… -- Passou a mão pelos cabelos. -- Ela precisa de um médico, vai morrer se ficar aqui.
                   -- Na verdade ela morrerá se for contigo…
                   Rick voltou a se ajoelhar, fitando-a.
                   -- Ela acordou? Falou algo? Será que quebrou alguma coisa?
                 -- Acredito que a única pancada que sofreu foi na cabeça… -- Continuou a cuidar. -- Abriu os olhos de madrugada, mas nada disse e logo voltou a dormir.
           -- Você também precisa descansar… -- A mulher disse ao detetive. -- Está todo machucado, vai ser preciso que se cuide para poder ajudar a moça.
                 Rick nada disse, enquanto ficava a observar a bela arquiteta em sua fragilidade.
              Sentia-se fracassado, pois não fora suficiente para protegê-la. De repente as lágrimas voltaram a lhe dominar em um pranto descontrolado como uma criança ferida e frágil.



              Na manhã seguinte os grandes jornais já noticiavam que o carro esportivo de Natasha Valerie tinha sido encontrado às margens de um misterioso rio que cortava praticamente todo país.
                Nícolas estava à mesa tomando o desjejum e viu a manchete em um dos periódicos que costumava assinar.
                   Fitou o conde que estava na outra extremidade.
                   -- O que houve? -- O idoso questionou, enquanto bebia um pouco de chá.
               Nicolay observou a palidez que parecia ter se apossado da face do filho, enquanto ele levantava e seguia até si. Observou-o lhe entregar o jornal, estranhando o gesto, pois desde que Verônica tinha morrido, o patriarca perdera o hábito de ler aqueles textos que muitas vezes se mostravam sempre muito sensacionalistas.
                Ao fitar a página, tomou as folhas com mãos trêmulas. Viu o carro esportivo sendo retirado da margem de um rio, enquanto pessoas da imprensa e curiosas pareciam interessadas no episódio. Viu o outro automóvel destruído.
                   Levantou os olhos até a face do filho.
                   -- Você fez isso?
                  Nícolas passou a mão pelos fios lisos dos cabelos, parecia nervoso.
                -- Não, nem mesmo tinha tido a chance de me aproximar ou pensar em algo para livrar o mundo da presença vil dessa mulher.
                 O conde voltou os olhos para a matéria.
                Inicialmente a polícia imaginara se tratar de um acidente, mas agora, depois das marcas de tiro se falava em tentativa de assassinato. As equipes de buscas estavam no lugar desde cedo, mas parecia quase impossível que algo se encontrasse, pois ainda não conseguiram descobrir qual o local exato do acidente.
                -- A Valentina vai ficar desesperada, meu Deus! -- O homem colocou o periódico sobre a mesa, pegando a bengala, levantou-se.
                    -- Vai passar… Tudo passa! -- Nícolas disse, enquanto dava de ombros, seguindo até a cadeira que ocupava anteriormente. -- Deus deve ter tido piedade de nós e levado essa desgraçada antes que eu sujasse as minhas mãos.
                     O conde parecia perplexo diante da frieza do primogênito. 
                     -- Ela vai te culpar…
                    O empresário olhou para a comida que estava sendo servida, sabendo que o pai tinha razão, mas tentou não demonstrar se preocupar com aquilo naquele momento.












Comentários

  1. Olá querida como está? Saib que tentei de todas as formas colocar essa deliciosa leitura em ordem .....e agora fico na ansiedade de mais um capitulo rs....parabens por mais essa maravilhosa história vc brilha e brilhará sempre em suas escritas......bj grande

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    1. Olá, querida, que coisa boa encontrá-la por aqui... Sempre uma honra saber que estás a ler minha história. Entendo como deve ser corrida a vida, por essa razão não costumo cobrar.
      Um beijo grande e tenha um ótimo final de semana.

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  2. Estou em choque...
    Natasha 😯
    E pensar que irei esperar até a próxima semana para saber mais...
    :(

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    1. not!
      Jamais demoraria tanto assim, a menos que tivesse um contratempo, aí está o novo capítulo, meu bem, fique a vontade para lê-lo.
      Um beijo!

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  3. Oi Geh ❤️
    Que agonia cara! A Natasha nessa situação e a Valentina nem desconfia.
    Ainda bem que depois desse atentado a arquiteta foi parar em mãos de uma pessoa conhecida,porém mais um ministério,esse monge.
    No antigo quarto da Veronica deve ter muitas respostas que muitos desconhecem.
    Beijão autora linda.🌹

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    1. Olá, linda :)
      agora será um bom momento para que Natasha consiga sair da mira da irmã e da avó, uma forma para não ser mais perseguida até que possam provar as culpas dessas duas demônias.
      Um beijo grande, meu bem!

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  4. Geh querida! Os bons ventos te traz cheia de ímpeto e vigor, que escrita maravilhosa, amo seus feitos, imaginação cheia de arte... Geh que saudade, muita paz e felicidades para você e família. Feliz Natal e que sempre o ano vindouro seja melhor do que o de outrora. Beijinhos...

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    1. Querida, Silvia, eu que me sinto sempre maravilhada com a sua presença. Lembro-me das suas palavras bonitas no lettera, da forma maravilhosa de comentar os capítulos e já a vejo aqui e minha alma se enche de alegria.
      Desejo-lhe também um maravilhoso Natal e ano novo que as boas energias do universo a acompanhe sempre.
      Um grande beijo cheiro de carinho, minha querida.

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