Dolo ferox -- Capítulo 33


                   O silêncio reinava no escritório naquele momento. Apenas as respirações que já tinham voltado ao normal das amantes se fazia sinfonia agora: lentas, delicadas, satisfeitas. Suadas, cansadas do pequeno exercício que tinham feito. Sabiam que a luta para resistir ao desejo que sentiam era tão inútil quanto tentar mudar as linhas escritas pelo próprio Moros.
                        Natasha estava sentada no sofá tendo a bela Vallares a lhe montar de frente,  com a cabeça encostada em seu pescoço. Acariciou-lhe as madeixas longas, sentindo a satisfação de tê-la ali consigo. Teve a impressão que sua alma tinha retornado ao corpo depois de longos dias de verdadeiro inferno. Desejava que as coisas se mostrassem tão tranquilas como naquela hora.
                              Mordiscou o lábio inferior demoradamente e ficou a imaginar como sua vida seria maravilhosa ao lado da mulher que amava e o filho. Pensou em como adoraria aquela rotina.
                           Por que de repente ansiava por algo que nunca teve e nunca se preocupou ou aspirou ter?
                           Sentiu-a se mexer pigarreando.            
                     -- Oh, meu amor, tá gostoso o colinho? -- A ruiva lhe sussurrou ao ouvido.
                     Valentina a encarou com um sorriso sentindo a emoção tomar conta de todo seu ser.
                           Chegaria um dia que olharia para aquela mulher e não perderia o fôlego?
                 -- Queria ficar assim contigo para sempre… Não queria que brigássemos nunca mais… Pelo menos não dessa forma que fere tanto.
              A arquiteta lhe tomou as mãos, beijando-as delicadamente, enquanto mergulhava no intenso e brilhantes céu negro.
                  -- Pode continuar a ver o nosso filho… Só preciso que tenha paciência, meu anjo… Sei que estou sendo cruel, mas quero apenas protegê-lo da mesma forma que estou fazendo contigo…
                          -- Mas, amor… -- A morena começava a protestar. 
                 Antes que pudesse continuar a frase, ouviram batidas na porta. Valentina ficou nervosa, mas Natasha a abraçou.
              -- Ninguém vai entrar sem a minha permissão. -- Beijou-lhe a testa, fazendo-a sentar, levantou-se, pegou o roupão. -- Fique calma.
                Valentina a viu seguir até a porta, enquanto observava as próprias roupas jogadas pelo chão. Seu corpo ainda sentia as deliciosas carícias, ainda tinha o cheiro dela impregnado em sua pele, o sabor...
                        Soltou um longo suspiro.
                        Teria feito papel de boba novamente ao ceder ao amor que queimava em seu peito?
                         O que faria agora?
                      Ouviu os passos delicados e depois de alguns segundos a bela mulher retornou com uma expressão indecifrável.
                   Seguiu até ela.
                         -- O que houve? -- Indagou apreensiva. 
               Natasha lhe arrumou as madeixas por trás da orelha, fitou os seios redondos, mas depois voltou a mirar o olhar que se mostrava sério.
                         -- O Nícolas Vallares mandou a polícia até aqui! -- Disse tranquilamente.
                 Os olhos negros se arregalaram em verdadeiro pavor. Já ficava a imaginar o que aconteceria se seu pai chegasse ali, se visse aquela situação, temia que uma tragédia pudesse acontecer.
                          Buscava se desvencilhar da arquiteta que não a deixou se afastar.
                     -- Calma… -- Disse com um riso brincando no canto dos lábios. -- Eles não subirão… Na verdade apenas vieram checar “educadamente”, mas não há nenhum tipo de ordem para adentrarem o apartamento…
                        -- Deus do céu! -- Ela passou a mão pelos cabelos. -- Eu não tenho dúvidas que ele já sabe o que se passa entre nós. No dia da festa discutimos sobre isso depois que nos encontrou no carro. 
                      Sabia que enfrentaria uma guerra quando chegasse a mansão. Tinha faltado ao jantar que seu pai parecia fazer tanta questão da sua presença.
                       Fitou a mulher que lhe encarava com aquela expressão inabalável e pensou que mesmo com tudo que aconteceria, não estava arrependida de ter ficado ali, de ter se entregado novamente.
                     -- Acalme-se, palhacinha… -- Depositou um beijo em seu pescoço. -- Eu te protegerei…
                      -- Preciso ir embora… -- Disse, enquanto mordiscava o lábio inferior, sentindo um arrepio por toda a espinha. -- Não quero que você seja mais uma vez alvo dessa fúria. 
                      -- Por quê? -- Passou a mão em sua face, acariciando-lhe a nuca. -- Por mim, ficaria aqui para sempre… e já estou acostumado com a raiva da família mais aristocrata do país.
                          -- Mesmo assim... Agora acredito que será bem pior. -- Dizia preocupada.
                          A arquiteta lhe beijou a face, mordiscando-lhe o lóbulo da orelha.
                          -- Quero que fique!
                          A morena semicerrou os olhos diante das carícias, depois mirou-a.
                  -- Pensei que tivéssemos que fingir que não temos nada… Que deveria odiá-la diante de todos... Ain... Fingir que não enlouqueço diante de ti -- Observou os dedos passearem por seu colo desnudo. -- Natasha… -- Advertiu-a em um fio de voz. -- Por favor não faça isso.
                       -- Não a quero perto da minha irmã!
                       A trapezista observou a expressão carrancuda e se apressou a explicar. 
                       -- Não sinto nada por ela, não tenho nada com ela também!
                      -- Então por que me provoca? - Mirou-lhe os olhos negros. -- Não tem ideia de como me descontrolei ao pensar que…
                       -- Pois pensou errado! -- Desvencilhou-se do toque, afastando-se.
                     A ruiva a observou procurar as roupas. Encostou-se ao piano, cruzando os braços, vendo-a se vestir rapidamente e só depois voltou a lhe encarar o olhar.
                        -- Não tenho nada com Nathália, apenas a beijei!
                        -- E você acha que beijo é brincadeira?
                      -- Por favor, Valerie, você mesma me obrigou a entrar nessa situação. -- Dizia, enquanto abotoava a blusa.
                     A arquiteta nada falou por alguns segundos. Seu olhar parecia perdido. Desviou os olhos dos intensos negros, parecia não conseguir fitá-la. Observou o caos no escritório. Os livros que Valentina tinha arrumado. Voltou a mirá-la, estendeu as mãos em um convite mudo. 
                  A morena cerrou os dentes, hesitando, mas logo se aproximava, acomodando-se entre os braços da bela mulher.
                 Fitou-a, buscando desvender algo naquela expressão que parecia tão inflexível. Sentiu os braços em sua cintura, adorando o toque possessivo dela. Inspirou o delicioso perfume. Viu os lábios rosados e entreabertos, desejou passar a língua deliciosamente neles.
                   Depois de longos segundos, a voz da neta de Isadora foi ouvida.
            -- Eu estou apaixonada por você… Estou perdidamente louca por ti, palhacinha… -- Umedeceu o lábio superior. -- Mas não sei como lidar com isso… Nunca nem imaginei que havia esse tipo de sentimento, sempre achei que se tratasse de exageros… Ajude-me, por favor, pois tenho a impressão que não sei lidar com isso e estou ficando descontrolada.
                     Valentina ouvia tudo e de repente um sorriso se desenhou em sua face. Segurou o rosto querido nas mãos.
                    -- Eu te amo, arrogantezinha… E acredite, há momentos que enlouqueço quando penso nisso, pois não é uma coisa fácil estar te amando assim, ainda mais depois de tudo o que andou fazendo… Mas eu te amo mesmo assim -- enfatizou. -- e a única coisa que desejo é ficar ao seu lado e do nosso filho… Por mim, ficaria aqui hoje, amanhã, por todos os dias que me desejasse contigo…
                      -- A eternidade então… -- Beijou-lhe a pontinha do nariz.  -- Logo vamos poder provar a culpa da minha irmã e da Isadora e quando isso acontecer, poderemos nos amar sem que eu tema por ti e pelo Victor.
                  Valentina assentiu, mesmo que não concordasse com aquilo, começava a entender os temores da mulher que amava.
                        -- Posso continuar a vê-lo então? -- Pediu esperançosa.
                        -- Claro, mas dessa vez sem me fazer passar por trouxa. 
                    Segurou a mão dela e junto caminharam até a poltrona. A neta da duquesa sentou , depois fê-la se acomodar em seu colo.
                        -- Você não foi feita de trouxa… -- A morena disse tentando segurar o riso.
                      -- De quem foi a ideia? -- A Valerie indagou arqueando a sobrancelha esquerda. -- E não vale mentir.
                         A circense lhe pegou a mão.
                        -- Vai dar bronca?
                  -- Não me diga que está com medo… É tão petulante que não acredito nessa possibilidade.
                   A neta do conde gargalhou diante do olhar de advertência que recebia.
               -- Desculpa, poderosa Valerie, mas é que às vezes eu não sei se esbravejo o rio das tuas explosões… -- Observou tudo ao redor. -- Está pensando em redecorar o escritório? -- Provocou-a.
                    -- Posso dizer o que desejo redecorar? -- Disse com uma piscadela ousada.
Valentina corou, mas se excitou com a cara de safada que a fitava.
                 -- Preciso ir embora, então nem pense nisso… -- Tocou-lhe a face. -- Que bom que não deixei meus dedos nesse rostinho bonito.
                    Natasha lhe beijou os dedos, um a um.
                     -- Mas bateu…
                     -- Acho que você gostou…
                    -- Ah é? -- Arrumou-lhe o cabelo por trás da orelha. -- Próxima vez que tramar as coisas as minhas costas e levar junto a Helena, te sentarei no meu colo, te baixarei a calcinha e te darei umas boas palmadas.
                     -- Deixo se você passar a língua depois… Beijando gostoso com essa boca rosada.
                    A arquiteta sentiu o sexo latejar só em pensar naquela cena.
                   -- Passo e faço muito mais que isso… -- Tocou-lhe os seios sobre o tecido. -- Quero você de novo…
                 -- Não me peça isso, por favor, já imagino como será quando encontrar o respeitado Nícolas Vallares… -- Relanceou os olhos.
                       -- O que vai dizer a ele? Que estava me ludibriando ou que estávamos fazendo amor?
                       Valentina voltou a cair na risada.
                       -- Óbvio que não! Falarei que precisei comparecer a uma reunião…
                  -- Ah, sim, fiquei sabendo que o conde está te treinando para assumir os negócios… Fiquei surpresa com isso…
                     -- O meu avô é responsável por ter me tirado do quarto, por ter me feito levantar a cabeça para te enfrentar…
                       -- O Nicolay quer te transformar numa condessinha… 
Valentina já abria a boca para protestar, mas foi surpreendida pelos lábios macios se apossando dos seus. Abraçou-a pelo pescoço, estreitando o contato e ansiando para tê-la daquela forma, mesmo diante das dificuldades que enfrentariam.
                O beijo seguiu calmo de início, mas logo as línguas se encontravam, travando uma deliciosa batalha. Mordiscou-os, sugou-os fortemente, arrancando gemidos de ambas. 
                         A morena quem o interrompeu, espalmando as mãos no peito da bela ruiva.
                         -- Preciso ir embora…
                  -- Sim, eu sei… -- Continuou prendendo-a pela cintura. -- Amor, eu não estou mais disposta a esconder o que temos.
                        A neta do conde pareceu perplexa diante do que estava a ouvir.
                        -- Está brincando não é? -- Questionou.
                       Natasha meneou negativamente a cabeça.
                      Sabia os riscos que ambas correriam a partir daquele momento, mas mesmo assim não estava disposta a permitir que a irmã se aproximasse da mulher que amava.
                      -- Não, eu não estou! -- Cerrou os dentes. -- Sei que tudo isso foi ideia minha, porém não conseguirei mais prosseguir com esse teatro… Irei até seu pai, eu falarei, enfrentarei a todos contanto que você também me queira.
                          A trapezista estendeu a mão, acariciou a face.
                   -- Claro que eu te quero… -- Disse com os olhos brilhando. -- Te amo, te amo muito, muito mesmo.
                        A arquiteta lhe tomou a mão, beijando-a.
                       -- Então irei contigo agora e falaremos a todos!
                   -- Não! -- Valentina negou. -- Meu pai te mataria… Vi a reação dele quando nos encontrou na festa. Deixe que eu fale primeiro, explicarei tudo e deixarei claro que não acredito em nada que me falam de ti. -- Abraçou-a pelo pescoço. -- Vamos provar sua inocência e depois disso minha família aceitará que fiquemos juntas.
                          Natasha a encarou.
                          -- Mas, palhacinha... -- Protestava.
                         -- Amor, eu imploro, deixe que eu tome a frente disso, conversarei com eles, direi que te amo e que não aceitarei interferência de forma alguma... Permita que eu tente, porque eu morreria se acontecesse uma desgraça por minha culpa. 
                          A arquiteta não estava acostumada a lidar assim com as situações. Sempre tomava a iniciativa e enfrentava tudo sem temor, porém sabia que agora deveria tentar seguir com passos lentos.
                     -- Farei como você deseja, mas se os Vallares não permitirem, eu mesma me encarregarei do resto.
                             A morena assentiu, enquanto a abraçava forte.






                       Isadora estava sentada em uma poltrona. Nathália tomava um pouco de champanhe. Nícolas andava de um lado para o outro, enquanto o conde estava sentado em sua cadeira. De todos, o patriarca era o único que mantinha a calma na elegante sala de estar. Sabia que nada adiantaria esbravejar diante da situação, apenas permaneceria esperando, pois tinha certeza que a neta logo chegaria.
                          Desde o início fora contra aquele jantar com determinado propósito, afinal, Valentina não tinha sido consultada em momento algum se realmente desejava assumir aquele compromisso com a herdeira dos Hanmintons. Verdadeiramente, tinha certeza de que ela se negaria.
                     Todos os convidados já tinham deixado a mansão, apenas comeram e tomaram das melhores bebidas, cochichando pelos cantos sobre o que tinha ocorrido. O conde conhecia bem aquela classe que se dizia tão educada, mas que no fundo adorava um escândalo. Por muitos anos fora refém daquilo. Fora obrigado a casar com uma mulher que nunca sentiu sequer carinho, pois era assim que funcionava a sociedade de hipócritas.
                             Não demorou muito para que todos se voltassem ao ouvirem os passos.
                     Valentina se aproximou. Demorara um pouco mais no apartamento, pois fora amamentar o filho mais uma vez e só depois de se entregar novamente as carícias da ruiva, pôde voltar para casa.
                        Respirou fundo diante do olhar dos presentes.
                A duquesa a mirava com desdém, Nathália não parecia tão doce e amável naquele momento.
                       -- Boa noite!
                       Nícolas a encarou com os olhos estreitados.
                  -- Onde estava? -- Indagou ignorando o cumprimento. -- Pois estávamos aqui como idiotas, a imprensa toda presente para que você e a Nathália assumissem o compromisso… -- Aproximou-se. -- Mas pelo que vejo havia outros planos para ser seguido.
                  Pai e filha se encaravam sem trégua e a trapezista em nenhum momento abaixou a cabeça. 
                         A circense cruzou os braços sobre os seios, mas nada disse.
                  -- Você me fez passar a maior vergonha de toda a minha vida! -- A duquesa disse ao levantar. -- Gastamos o dinheiro de pagar a hipoteca da casa para comprar o anel de compromisso. Passei o dia ligando para as famílias mais importante para que pudessem comparecer. Se não fosse o meu prestígio, elas não teriam desmarcados as agendas para estarem aqui e você some como uma mal educada que é. 
                     Nathália nada disse, continuava no mesmo lugar, apenas fitava a taça que tinha na mão.
              -- Eu nem sabia de compromisso algum que iria assumir! -- A morena falou cheia de perplexidade. -- Disseram-me que era apenas um jantar, nada de noivado. -- Afastou-se um pouco, enquanto mirava Isadora. -- Que prestígio que a senhora tem? -- Fuzilou-a com o olhar. -- Não admitirei ouvir nenhuma acusação da sua parte, pois não lhe devo nenhum tipo de satisfação, senhora duquesa!
                   A mais velha pareceu chocada diante das palavras, dando passos para trás como se tivesse sido atingida mortalmente. 
                    -- Como ousa?! -- A senhora Hanminton falou. -- Será noiva da minha neta e age com toda essa petulância.
                      -- Eu não sabia de noivado algum, mas se soubesse não teria aceito.
                      -- Seria uma surpresa! -- O filho do conde falou. -- Mas surpresos ficamos nós!
                A irmã de Natasha observava a circense e via em seus olhos a determinação que já conhecia.
              -- Bem, façamos só nós e amanhã divulgamos na imprensa. -- Isadora se intrometeu novamente. -- O compromisso tem que ser firmado, podemos inventar algo sobre a ausência, que sofreu um acidente ou algo assim.
                      Valentina olhava para todos e uma revolta começou a crescer dentro do seu peito.
                 -- A senhora parece muito boa em inventar coisas... -- Deu de ombros. -- Não irei participar disso! -- Rodou nos calcanhares para deixar a sala.
                          Nícolas foi até ela, tomando-a bruscamente pelo braço.
                    -- Você irá casar com a Nathália! -- Ordenou. -- Fará isso o mais breve possível e deixará o país. Vão morar bem longe daqui. 
                        Os olhos negros encararam os tão idênticos aos seus.
                   -- Eu não irei! -- A morena disse por entre os dentes. -- Não irei casar com alguém que não amo e o senhor sabe muito bem disso… Até sabe por quem estou apaixonada… Afinal, mandou a polícia para o lugar certo... sabia onde eu estava o tempo todo, simplesmente poderia ter poupado esse vexame!
                        Nathália se levantou, pareceu interessada no rumo da conversa.
                        -- Do que ela está falando? -- Indagou.
                        A duquesa olhava tudo com o cenho franzido.
                        Nicolay se levantou, pois percebia que os ânimos estavam ameaçadores. 
                        -- Chega, Valentina, você fará o que eu ordenar! -- O prepotente pai ordenou.
                     -- Não, Nicolas Vallares, eu não farei como deseja! -- Desvencilhou-se do toque paterno. -- Já que estamos abrindo o coração, deixarei bem claro para todos que estou apaixonada pela Valerie... Não acho que seja surpresa para alguns de vocês... -- Passou a mão pelos cabelos, arrumando-os em um gesto nervoso. -- Não vou mais fingir ou mentir sobre o assunto... Amo a Natasha e agora mesmo deixarei essa casa...
                       O herdeiro do conde levantou a mão forte, esbofeteando a filha que foi ao chão. Fê-lo com tanta fúria que sentiu os dedos enrijecerem diante do golpe. 
                         Nicolay lentamente foi até a jovem, ajudando-a a se levantar, parecia perplexo diante do que havia acontecido. Jamais pensara que o filho teria uma atitude daquelas. 
                       Nícolas parecia assustado com o próprio ato que cometeu. Nunca foi de usar violência, ainda mais no ser que mais amava em todo o mundo, mas ao ouvir a declaração dos lábios bonitos, sentiu-se profanado, sentiu que aquilo maculava a sua amada irmã. 
                         -- Filha… -- Tentou se aproximar.
                      -- Não ouse tocar em mim! -- A jovem disse por entre os dentes. -- Está louco! -- Secava as lágrimas que insistiam em lhe banhar a face. -- Odeio você! -- Gritou. -- Odeio!
                         -- Por favor, entenda que estou fazendo por seu bem… -- Passou a mão pelos cabelos. -- Essa maldita Natasha matou a minha irmã, matou a sua tia e eu vejo tudo se repetindo e dessa vez não permitirei! -- Dizia em pranto. -- entenda, filha, essa mulher é uma assassina!
                       -- Está enganado! -- Falou baixo. -- Mas não perderei meu tempo falando isso… Agora mesmo deixarei essa casa.
                    -- Você está me obrigando a agir de uma forma que não queria, mas se for para te proteger de si mesma, assim eu farei. -- Fez um sinal para a empregada que acabara de chegar e via tudo.
                           Não demorou nada para os seguranças aparecerem.
                           -- Levem a minha filha para o quarto dela e se certifiquem que ela não sairá de lá.
                       Valentina já abria a boca para protestar quando um cara de quase dois metros e pesando quase duzentos quilos a jogou no ombro, levando-a dali.
                      Era possível para os presentes ouvirem os gritos de protestos e os impropérios que a bela herdeira dos Vallares proferia em seu desespero.
                      -- Isso não é algo necessário! -- O conde vociferou. -- Sua atitude não vai resolver nada!
                     Nícolas não respondeu de imediato. Caminhou até a janela, permanecendo lá. Observava o extenso e belo jardim sob as lágrimas que lhe banhava a face copiosamente. Não fora sua intenção machucar Valentina, mas só a ideia de perdê-la do mesmo jeito que aconteceu com a irmã era suficiente para deixá-lo em total desespero, por isso estava disposto a lutar com tudo para protegê-la.
                     Bateu com o punho contra a base de concreto, virando-se para todos.
             -- Eu mesmo matarei a maldita Natasha, eu mesmo livrarei esse mundo da presença miserável dessa desgraçada!
                    Diante do olhar estupefato de todos, o herdeiro dos Vallares deixou a sala.
               Nicolay permaneceu no mesmo lugar, lamentando o que estava para acontecer e relembrando que há alguns anos tomara a mesma atitude quando descobrira que o filho tinha se envolvido com uma simples dançarina. Movera céus e terras para impedir a relação e não fora tão difícil, pois o primogênito tinha personalidade fraca e diante da ameça de ser deserdado, acabou cedendo, mesmo passando toda a vida se arrependendo pela escolha, mesmo tendo voltado atrás depois de uma semana e buscado encontrar a mulher que amava, algo inútil, pois a mãe de Valentina parecia ter sido engolida por uma cratera. 
                     O conde sabia que diferente do pai, a bela circense não baixaria a cabeça, enfrentaria a todos pela mulher que amava. Lutaria até não haver mais forças, porém não se deixaria influenciar ou se render diante de nada nem de ninguém. 
                         Com um suspiro cansado, voltou a ocupar a poltrona.
                        O que tinha Natasha Valerie que se tornava uma verdadeira obsessão para as mulheres Vallares?
                        Apertou forte a bengala, enquanto encarava o quadro da filha que ocupava um lugar de honra naquele ambiente.
                         Verônica…
                    Ela também desejara a ruiva, mas não havia aquele fogo queimando em seus olhos negros como era possível ver nos da neta. 
                          Teria mesmo a neta odiada de Isadora assassinado a esposa?
                    Lembrou-se da fatídica noite e das investigações terem seguidos apenas uma linha, aquela que dizia que Natasha era a assassina.
                   Observou a pomposa duquesa conversar com a neta à surdina, parecendo discutir tão baixo que apenas se ouvia o chiado, enquanto Nathália disfarçava com um sorriso.
                        Estranho ela não ter se metido no momento que Nícolas esbofeteara a filha, afinal, ela dizia amar a jovem, seria lógico que ela esboçasse alguma reação, mas apenas foi possível ver a prepotência e até mesmo o prazer pelo acontecido.
                    Conhecia a adorável neta de Isadora há muito tempo. Sempre tivera uma relação bastante estreita com sua filha e em algum momento chegara mesmo a pensar que Verônica nutria um sentimento pela moça, ainda mais quando a herdeira dos Hanmintons se casou. Fora difícil consolar a morena, mas com menos de uma semana já veio dizer que estava apaixonada pela gêmea desprezada.
                       Levantou-se.
                       -- Boa noite, senhoras! -- ele se despediu, deixando o recinto.
                  Isadora e Nathália responderam e esperaram tempo suficiente para saber que estavam sozinhas. A duquesa fechou a porta da sala.
                          -- Eu te disse que essa maldita morta de fome tinha algo com a Natasha.
                     O maxilar da mais jovem se enrijeceu de forma a transformar o delicado rosto que sempre aparentava doçura em uma verdadeira máscara de ódio.
                     -- Bem, nós temos um álibi perfeito… Nos livramos de uma vez por todas da Valerie, meu sogrinho vai levar a culpa, já que deixou claro seu intuito e depois eu faço a Valentina pagar caro pela humilhação que nos fez passar hoje.
                     -- A miserável se deslumbrou igual a Verônica… -- Arrumou o penteado. -- Lembro bem que na noite que morreu estava disposta a contar toda a verdade para a Natasha.
                           A morena caminhou até o quadro da esposa da irmã.
                       Fitou-a demoradamente, exibia um ar de superioridade e sorriso de deboche a brincar em seus lábios bem desenhados.
                     -- Ninguém vai contra nós sem pagar caro por isso, vovozinha, a senhora sabe muito bem disso… Primeiro o meu avô que se virou contra seus planos para a minha irmanzinha, a Verônica, meu amado esposo… Acho que temos mais para nossa lista.
                          A duquesa arqueou a sobrancelha.
                      -- Nícolas vai preso, você será o apoio para a trapezistazinha depois que ela se desesperar com a grande desgraça que se apossara da sua vida… Nicolay já está velho, não vai aguentar tudo isso… Seremos a dona de tudo no final…
                    Nathália caminhou até o elegante bar e com gestos delicados preparou uma bebida. Pegou duas taças de cristais, adicionou o líquido borbulhante e gelo. Entregou um a duquesa e ficou com o outro.
                          -- Um brinde ao nosso brilhante futuro! -- A bela herdeira bebericou delicadamente tendo um perigoso brilho nos olhos verdes.



                      Valentina puxou os lençóis da cama em uma fúria cega. 
                              -- Maldito seja, mil vezes maldito... -- dizia entre soluços. 
                    Limpou as lágrimas da face com as costas da mão, mas alguns fios ficaram colados em sua bochecha. Dava para ver a face que tinha sido ferida.
                       Viu a porta se abrir e lá estava seu avô e logo atrás os dois seguranças.
                       Cruzou os braços sobre os seios, enquanto recuperava a postura defensiva.
                     -- Não estou aqui para brigar contigo, meu bem. -- O conde disse, enquanto fechava a porta. 
                     -- Então me deixe sair daqui! -- Exigiu. -- Não podem me prender nesse lugar, não tem direito!
                     Nicolay suspirou, enquanto observava o quarto todo em desordem.
                  -- O que a faz pensar que Natasha é uma boa escolha? -- Caminhou, seguindo até a beira da cama, sentando-se. -- Você sabe todas as acusações que pesam contra ela, sabe o que se passou com a nossa família, mas mesmo assim deixou claro que a quer. Seu pai não permitirá que volte a se aproximar dela.
                            -- E o senhor, com certeza, ficará ao lado dele! -- Disse irritada. 
                            O conde voltou a fitar a desordem nos aposentos e logo a encarava novamente:
                            -- O que faz você acreditar tanto na Natasha? Tenho certeza de que se você achasse que ela fora a assassina da sua tia, teria a mesma atitude do seu pai.
                             A morena permaneceu calada por alguns segundos, mas depois falou firmemente:
                    -- Apenas acredito nela!
                    -- E quais motivos te fazem acreditar?
                Valentina mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente, parecia ponderar diante do questionamento do avô. Na verdade, ela nunca acreditou que a Valerie pudesse ter assassinado a Verônica. Essa ideia sempre fora estranha ao seu cérebro, mesmo que um dia pudesse estar enganada, havia algo que não a deixava crer que a ruiva fosse capaz de toda aquela barbaridade. Olhava-a e via toda aquela arrogância, aquele orgulho desmedido que lhe dava certeza que ela não negaria se tivesse cometido tal crime.
                     Suspirou.
                     -- Eu apenas acredito e nada mais posso dizer sobre isso.
                     O conde fez um gesto de assentimento com a cabeça.
                             -- Sinal que a ama... Pois esse sentimento cega as pessoas.
                             A circense não respondeu, apenas cruzou os braços sobre os seios.
                      -- Se você voltar a enfrentar seu pai não vai ser uma coisa boa, porque ele moverá céus e terras para proibir sua relação.
                  -- E o que devo fazer? -- Questionou irritada. -- Ficar aqui presa nessa gaiola dourada ou me casar com a Nathália como é a vontade do seu filho?
                   -- Prove a inocência da Natasha… -- Disse simplesmente. -- Suas energias serão mais bem aproveitas que destruir o quarto. 
              A morena corou,  deu alguns passos para frente, colocando as mãos na cintura a perguntou:
                    -- Como eu posso fazer isso?
                    A patriarca apenas se levantou, seguiu até a neta, depositou um beijo em sua testa.
                   -- Acredito que conseguirá ir muito além que todos nós…
                Valentina o viu deixar os aposentos e permaneceu no mesmo lugar, pensando o que poderia fazer.




                    Natasha seguiu até a sala que usaria até que a presidência fosse redecorada.
                    Chegou cedo à construtora. 
                      Depois de tanto tempo conseguira ter uma boa noite de sono e despertara entusiasmada. Passara algumas horas com o filho, deu-lhe alimento e depois partiu para o trabalho. 
                 Sentou na cadeira, enquanto observava os projetos que estavam sobre a mesa. Pegou o celular e voltou a discar o número de Valentina, mas o aparelho parecia estar desligado. Com certeza ela arrumara problema com a família e não conseguira explicar sua presença na cobertura.
                  Inclinou-se para trás, enquanto massageava as têmporas.
                  Deveria ter ido até lá, deveria ter discutido com Nícolas e trazido a morena de volta.
                  O som do telefone interno lhe tirou dos seus pensamentos.
                  Apertou o botão e logo ouvia a voz da secretária.
                  -- O detetive Rick deseja lhe falar.
                  A ruiva suspirou.
                  -- Pode deixar que entre!
                Não demorou para o homem bonito e vestido de forma despojada com seu jeans surrado e sua jaqueta entrar com um sorriso.
                 -- Mudou de sala? -- Questionou observando tudo ao redor. -- Gostava mais da outra. -- Falou sentando-se.
                   -- Diga-me algo importante! -- Pediu exasperada. 
                   Rick piscou.
               -- Só passei aqui para te avisar que consegui convencer o contato que tem provas contra a sua irmã nos ajudar.
                    A ruiva se levantou.
                    -- Irei contigo, desejo ver essas provas, preciso resolver de uma vez por todas essa situação.
                             Rick a fitou apreensivo. 
                    -- Não, pode ser perigoso, prefiro que fique aqui e me espere, prometo não demorar.
                    -- Pois eu irei sim! -- Deu a volta na escrivaninha. -- Nem que tenha que te seguir, mas eu irei.
                   O detetive suspirou impaciente, vendo-a seguir até a porta e se virar para ele:
                    -- Não tenho tempo a perder! Faça sua escolha.
                  Rick assentiu e mesmo que não desejasse levá-la, sabia que seria impossível ir contra a sua vontade. Levantando-se, acompanhou-a.





                 O carro esportivo da ruiva seguia por uma estrada deserta. O detetive dirigia e parecia apreensivo a cada curva. A pistola seguia em lugar estratégico para que se necessitasse, pudesse usá-la.
                 -- Por que a demora desse homem aceitar falar? Ofereceu proteção? Dinheiro?
                 O detetive observou a grande montanha que a estrada de barro circundava. Conhecia bem aquele lugar, pois já participara de várias operações por aquelas imediações. Não havia casas, apenas o vazio. Mias abaixo havia uma mata fechada. 
                          Observou a arquiteta de soslaio:
              -- Natasha, depois que se entra nesse mundo é muito difícil sair… Ele só aceitou porque tem uma netinha recém nascida. Os pais foram assassinados e agora ele implora que façamos algo por ela. Ele sabe que já está perdido, infelizmente.
          A Valerie permaneceu em silêncio durante alguns segundos e ao olhar pelo retrovisor, estreitou os olhos.
              -- Rick… Acredito que mais alguém sabe do nosso encontro.
              O detetive observou os dois carros pretos que vinham em alta velocidade. Fitou a acompanhante temeroso e surpreso. 
              -- Ele não nos trairia, tenho certeza disso. -- Pegou a pistola. -- Natasha, você não deveria ter vindo.
               Mais uma vez a arquiteta observou os automóveis que já se aproximavam. Sentiu quando o detetive acelerou ainda mais.
                     Ela tentou contato com os policiais, mas não havia sinal de celular naquela área.
                    -- Seu carro é blindado não é? -- Ele questionou observando a poeira tomar conta da paisagem.
                    -- Sim, sim!
                 -- Você vai ter que confiar em mim, sei que seu sangue é frio, mas preciso que ele gele ainda mais.
                    Os olhos escurecidos se estreitaram, enquanto observava o perfil forte de Rick.
                    -- O que faremos?
                   -- Mais para frente há uma ponte totalmente destruída e abaixo um rio. Uma queda de quase vinte metros… -- Engoliu em seco. -- Acredito que seja a nossa única saída, pois pelo que percebo esses homens vieram para nos matar. 
                   A ruiva cerrou os dentes, enquanto via os carros se aproximarem e logo os tiros contra a lataria podiam ser ouvidos.
                  -- Assim que chegar lá, vamos pular… É a única opção, pois é a única forma de temos alguma chance de sobrevivência.
                      A jovem assentiu com um gesto de cabeça.
                      O detetive acelerou ainda mais ao seguir pela curva onde havia a ponte destruída.
                  Ambos se livraram do cinto de segurança e logo o veículo praticamente voava no vácuo diante dos olhares estupefatos dos bandidos.
                  O primeiro carro freou, mas o que vinha logo atrás não teve a sorte, arrastando o primeiro junto consigo.

Comentários

  1. Olá autora que amo!
    Não termina o capítulo assim,isso é CRUEL!!
    A Valentina tem que muda de estratégia,e fica junto das bruxas,somente assim ela vai conseguir descobrir as maldades delas.
    Esse Nicolas ainda vai pedir perdão de joelhos para a Natacha,por tudo que fala e age.
    Como conheço suas maravilhosas histórias,já percebo que as coisas irão ser descobertas.
    Espero que a Nathalia MORRA depois de sofrer muito e a velha tenha um AVC sofra muito em um asilo para pagar todas as maldades feita para a ruiva.
    Até mais Geh.

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    Respostas
    1. sim, Valentina deveria moderar, mas acho que perdeu a calma diante da arrogância da duquesa, eu mesma teria desejo de gritar na cara dela que tava querendo Natasha rsrsrsrs. Agora ela tem todas as atenções para suas ações.
      beijão grande.

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