A fera ferida -- Capítulo 6

                 No dia seguinte tudo já parecia ter voltado ao normal. 
           Elizabeth despertou cedo, tomou banho e se vestiu para a sessão de fisioterapia. Estava disposta a tentar se recuperar fisicamente, infelizmente sabia que seu psicológico não tinha cura. Mas pelo menos voltaria para sua vida, seu trabalho e ficaria livre dos olhares de pena que todos lhe dirigiam. Estava cansada de ser alvo de piedade, ela não queria nenhum sentimento de ninguém, voltaria para seu jogo de poder. Seria novamente temida no mundo dos negócios.
                   Ouviu batidas na porta e logo Felipa entrava com uma bandeja com seu desjejum. 
                   Sorridentemente cumprimentou a filha de Alex que ignorou totalmente.
                   -- Hoje você pode agir com sua costumeira irritação, não me importo! -- Colocou sobre o colo da jovem a comida. -- Estou tão feliz pela forma que agiu ontem com a filha da doutora que poderia te dar um abraço.
                   A Terzak relanceou os olhos em total demonstração de chateação com o que estava sendo dito.
                 Nem mesmo entendia o motivo  de ter sido alvo do carinho da criança. Mas ainda a sentia em seus braços, fungando em sua agonia infantil. Era tão pequena, tão frágil que não conseguiu rejeitá-la, afastá-la de si.
                  -- E estou ainda mais contente por saber que vai retornar ao tratamento. -- Dizia ao mirá-la.
                  Elizabeth tomou um pouco do suco de maracujá, observando a claridade do amanhecer que invadia seus aposentos. Ela mesma abrira as cortinas mais cedo e passara horas ali observando o mar que acordara furioso nas primeiras horas.
                    A contragosto de recordara do beijo que fora lhe roubado, do corpo bonito sobre o seu, da forma que fora subjugada e aceitara a carícia por alguns segundos.
                     Umedeceu o lábio superior com a língua e teve a impressão que ainda estava lá o sabor da fisioterapeuta. 
                     Soltou um longo suspiro que chamou a atenção da governanta.
                     -- O que houve? Está sentindo dor? -- Indagou receosa.
                     A empresária deu de ombros, levando uma torrada à boca.
                     -- Quando meu pai vem?
                    -- Eu não sei, filha, soube que estava viajando, tinha alguns problemas para resolver, então não temos como fazer muitos planos.
                    A mais jovem apenas assentiu, enquanto comia distraidamente, voltou a questionar.
                    -- Você acha que meu pai tem um caso com a Wasten?
                    A empregada ficou corada diante do questionamento.
                    -- De onde tirou essa ideia, Liz?
                    Mais uma vez a paciente bebericou um pouco do suco. Não parecia ter pressa para responder. Na verdade nunca se preocupara com os casos do Terzak, mas imaginá-lo como a mãe de Anny parecia lhe incomodar em demasia.
                    -- Por favor, Felipa, você é muito inocente! -- Falou em exasperação. -- Achas mesmo que meu pai contrataria uma garotinha recém-formada para cuidar de mim? Óbvio que ela deve ter dado algo para convencê-lo e ele lhe oferecera inúmeras vantagens.
                     A governanta levou a mão à boca.
                     -- Acho que você está vendo coisas onde não existe. Você é testemunha de como a senhorita Júlia é dedicada e profissional, veja os progressos que teve, como evoluiu depois que ela chegou aqui.
                    -- Isso teria acontecido com qualquer das fisioterapeutas que estiveram aqui, bastava eu querer.
                 -- E então por que agora você quer?
                      O maxilar da bela mulher enrijeceu, enquanto devolvia a bandeja para a empregada.
                 -- Saia, não quero perder tempo com suas conversas. -- Ordenou.
                   Felipa exibiu um sorriso, enquanto se recolhia. Conhecia aquela mulher desde o ventre da mãe e sabia bem como tinha uma personalidade forte e arrogante, mesmo assim a amava como a uma filha. 




                   Júlia acordou várias vez à noite para se certificar que a filha estava bem e graças a Deus a febre não voltara e as manchas pelo corpo estavam sumindo.
                   Levantou-se a viu ainda dormindo agarrada com seu ursinho.
                   Beijou-lhe a face e depois sentou na cama com os pés no chão.
                   Estava um pouco cansada, ansiosa para aquele novo dia, afinal, retornaria com as sessões de fisioterapia com a filha de Alex.
                   Se o que estava em risco não fosse algo tão vantajoso, deixaria a ilha naquele mesmo dia, porém só em pensar que teria sua própria clínica, sentia-se mais desejosa de continuar no caso, mesmo sendo a paciente o ser mais arrogante e irritante que tivera o desprazer de conhecer.
                   Lembrou-se do olhar forte, do ar orgulhoso, mas também se recordou de como pareceu delicada ao ter Anny nos braços.
                      Desejou beijá-la naquele momento novamente.
                      Cobriu o rosto com as mãos.
                      Aquilo era a maior loucura da sua vida. Como podia estar atraída por uma mulher e o pior de tudo era quando lembrava quem era a mulher.
                      Sacudiu a cabeça para espantar os pensamentos.
                      Ainda sentia o corpo estremecer ao se tocar no banheiro com a imagem dela em sua mente, imaginando que eram as mãos dela a lhe acariciar.
                     Mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente
                     A porta se abriu e lá estava Jane a olhando com surpresa.
                    -- Pensei que já estivesse pronta para o trabalho! -- Falou baixinho, enquanto ia até a criança, observando-a. -- Ela está bem? 
                    -- Sim, acredito que não terá mais febre.
                    -- Graças a Deus! -- A babá falou. -- E você? Não tem que ir até a toda poderosa? -- Indagou com desconfiança.
                        Júlia a encarou.
                     -- Por mim não iria mais... -- Disse com um suspiro. -- Não sei se consigo segurar minha língua e minha mão, pois eu juro que tenho vontade de esbofeteá-la.
                      Jane olhou-a surpresa, afinal, a amiga era sempre tão tranquila.
                      -- A senhorita Terzak foi legal ontem quando aceitou ficar com a Anny.
                      A fisioterapeuta se levantou.
                      -- Sim, realmente você está certa quanto a isso, e sou grata, mas quando se trata só dela comigo, faz um inferno da minha vida.
                       -- Não seria melhor então que fôssemos embora? -- Indagou preocupada. -- Afinal, se você tiver uma atitude inadequada, pode ser punida.
                       Júlia assentiu.
                       -- Não se preocupe, estou tentando me controlar, caso não consiga, jogo ela com cadeira e tudo dentro de mar e finjo que foi um acidente.
                        As duas riram diante da piada, enquanto a mãe da criança seguia para tomar banho.



                        A Terzak ouviu passos se aproximando, levantou a cabeça e deparou-se com Júlia.
                        Não poderia condenar o pai se caísse de desejo pela bela jovem, afinal era uma mulher de beleza e sensualidade extraordinária. 
                        Lembrou-se de ela falar que tinha um relacionamento, se assim o fosse o namorado  deveria se sentir muito feliz por ter a bela doutora ao lado. Pensou ao ver as longas pernas cobertas por um pequeno short e uma regata. Os cabelos presos completavam o estilo sexy.
                    -- Você está atrasada cinco minutos, considere descontado do seu salário e agradeça por eu não ter ido embora. – Falou com altivez, tentando disfarçar o incômodo ao vê-la.
                Júlia deu de ombros. Era muito cedo para cair nas provocações daquela antipática, não tivera uma noite muito boa. Tivera uma discussão com o namorado, ele não aceitava essa distância e até insinuou terminar o relacionamento. Não gostara nada das palavras e nem do tom usado, ela não era essas mulheres submissas que morrem de amor, sempre fora independente sentimentalmente e não estava disposta a ser colocada contra a parede. Se aquela era a decisão que ela desejava tomar que o fizesse logo e não ficasse com joguinhos de ameaças.
                      -- E então, isso é para hoje?—Impacientou-se Liz.
                      A fisioterapeuta observava tudo ao redor como se estivesse a decidir o que faria naquela manhã com a empresária. 
                      -- Sim! -- Disse sem se voltar.
                      Elizabeth percebeu que algo não estava bem.
                      -- E como está a pirralha?
                      Naquele momento os olhos azuis se voltaram para ela de forma fuzilante.
                    -- Minha filha se chama Anny! -- Passou a mão na própria nuca tentando manter a calma. -- e ela está muito bem sim, agradeço o interesse, senhorita Terzak. – Fez sinal para o enfermeiro colocar a mulher na cama.
                      Mais uma vez a filha de Alex estranhou, porém dessa vez ficou calada, enquanto esperava o ajudante lhe tirar da cadeira, levando-a até o lugar que fora ordenado.
                        A jovem Wasten prestava atenção no ato e logo se aproximou para iniciar os trabalhos, mas antes permaneceu parada, enquanto fitava a cicatriz que cortava praticamente toda a face.
                        Decerto fora o vidro que perfurou a pele tão bonita. Estranho que ela não tenha recorrido a uma cirurgia plástica.
                          Viu a expressão de impaciência da paciente, então iniciou a preparação. 
                      Massageava-lhe as pernas e tentava não prestar atenção ao fato da linda arrogante está novamente com um pequeno short, então suas mãos estavam novamente em contato com aquela pele sedosa e isso não era nada bom.
                         Elizabeth Terzak era uma mulher de beleza demasiada, mas não era apenas ser bonita, havia algo tão primitivo, tão selvagem que chegava a ansiar por provar.
                           Encararam-se demoradamente, prendeu a respiração por alguns segundos.
                  Encerrou o que estava fazendo e passou as bolas para que a paciente começasse a fortalecer o músculo. Depois de três séries, Elizabeth já estava reclamando de dores.
                           Relanceou os olhos em irritação.
                    -- Você precisa ser mais determinada. -- Dizia com as mãos nos quadris. -- Não pode parar por sentir dores, isso tudo é normal. Deveria estar grata por voltar a ter sensibilidade nos membros inferiores.
                    -- Não sou obrigada a ficar ouvindo seus discursos idiota, não vou continuar porque está doendo e não me importo com o que você pensa. – Jogou a bola longe.
                       Júlia cerrou os dentes,tentando mais uma vez não explodir diante da filhinha de papai mimada.
                     -- Coloca ele na piscina. – Falou ao enfermeiro e seguiu para lá.
                     Elizabeth se assustou com o que a fisioterapeuta disse e não permitiu que a levassem.
                   -- Agora você quer me matar afogada? Me diz, onde foi que você comprou o seu diploma?
                  Dessa vez a paciência da mãe de Anny chegou ao limite. Caminhou decidida e parou na cama, onde a paciente estava sentada e o enfermeiro observava tudo sem entender nada.
                   -- Você é uma mimadinha idiota. – Falou com as mãos na cintura. – É um porre, entendo porque o seu pai me ofereceu tanto para aceitar esse emprego. Afinal, quem é sã consciência te aguenta?
                     O rapaz olhou para a patroa, ele não queria estar na pele da fisioterapeuta.
                     -- Vá para o inferno, Julia Wasten.
                     -- Levando em conta que você é o próprio inferno, então não terei que ir longe.
                      Os olhos escurecidos se estreitaram em fúria. 
                      --Como ousa falar assim comigo, você tem ideia de quem eu sou?
                     -- O que eu sei é que você é minha paciente e que se não começar a colaborar, eu não vou continuar com esse trabalho. – Fitou o enfermeiro. – Leve-a para piscina e coloque-a sentada na escada.
                    Elizabeth estava abrindo a boca para protestar quando viu a fisioterapeuta despir-se e ficar só de biquı́ni. Percebeu que o rapaz estava de boca aberta e a baba já estava quase descendo. Não sabia o porquê, mas não gostara do olhar faminto dele para a irritadinha. 
                    Deu-lhe uma bronca e ordenou que a levasse para onde fora mandado. Depois que sentou, dispensou o rapaz, não o queria com olhares furtivos.
                A fisioterapeuta aproximou-se e pediu para que a paciente lhe desse as mãos, ela o fez. Júlia a colocou de pé na água, segurando-se em barras que foram colocadas para ajudar nos exercı́cios.
                     Havia apoio nos dois lados, assim não havia o risco de a jovem cair.
                     -- Segure firme. -- Ordenou.
                     -- Eu não consigo. Não me solte. – Pediu encarando aqueles olhos zuis.
                     A mãe de Anny pôde ver a fragilidade naquele olhar e contraditoriamente desejou cuidá-la, protegê-la, salvá-la...
                     Umedeceu o lábio superior.
                       -- Não vou soltar. – Segurou-a por trás, pela cintura. -- Só preciso que confie em mim e faça exatamente o que estou mandando. -- Dizia contra a orelha.
                       A empresária sentiu um arrepio na nuca. Inclinou a cabeça para o lado e encontrou o olhar que parecia querer desnudar sua alma. Observou os lábios entreabertos...
                   -- Sinta as suas pernas. -- Júlia dizia. -- Elas precisam de força para caminhar, você precisa recuperar a força delas.
                    Elizabeth assentiu, tentando não pensar como de repente a voz firme ganhou um tom mais aveludado, mais calmo e agradável. 
                       -- Ok! – Foi a única coisa que conseguiu pronunciar, enquanto voltava a olhar para frente.
                     Não, aquilo não estava normal. Seu corpo não podia estar respondendo a uma mulher, isso era um absurdo. Ela nunca teve dúvidas da opção sexual que tinha, e para ser honesta, sempre gostara de sexo, mas nunca lhe passara pela cabeça ter um romance homo, nunca. Mas agora era diferente, tinha certeza que estava excitada, sim, muito excitada. Sentia o ventre doer, depois de tanto tempo ansiava por um toque.
                         Continuava a seguir as ordens que lhe eram ditas em voz baixa, senti-a bem atrás de si, mesmo que não estivessem colada. Fraquejou em determinado momento da travessia e sentiu o quadril da fisioterapeuta unir-se ao seu bumbum. Sentindo as mãos dela bem abaixo dos seios.
                        -- Você está bem?
                        A filha de Alex assentiu com um gesto afirmativo de cabeça.
                    -- Muito bem, por hoje é só. – Ficou de frente para ela. – Amanhã continuamos. —Sorriu. 
                         Elizabeth apenas assentiu.
                      Júlia ajudou-a a sentar nos degraus e saiu da piscina. Chamou o enfermeiro pelo bip, em seguida ela recolheu a própria roupa, deixando a sala de exercı́cios.



                    A jovem Wasten tomou um banho e correu para filha. Sua pequena estava tão fofinha, cada dia estava mais linda. Graças a Deus, ela já estava recuperada da intoxicação. Estava difı́cil segurá-la, ainda mais agora que já dava passos mais seguros.
                    Deitou na cama e a trouxe para si, a brincadeira preferida da criança era fazer a mãe de cavalinho.



                       A empresária estava em seu quarto, pegou o notebook para mandar alguns e-mails e sentindo uma curiosidade imensa, digitou o nome da fisioterapeuta. Na mesma hora fora mostrado o perfil da jovem numa rede social, a foto de um homem lhe beijando estava na capa, tinhas várias fotos de Anny, curiosamente, nenhuma da jovem grávida, mas tinha várias dela na presença de um homem muito bonito, decerto era o namorado que ela falara.
                         Torceu o nariz e fechou o computador portátil.
                       E quem se importava com aquilo, fora apenas uma curiosidade normal, afinal, tinha que saber que espécie de mulher estava em sua casa.
                         Fechou os olhos desejando adormecer, porém a cena da piscina retornou a sua mente.
                         Ouviu batidas na porta, mas não permitiu que ninguém entrasse. Desejava permanecer quieta, não desejava nada, apenas ficar ali sem precisar perder a paciência com nenhum dos empregados.


                     Jane tinha ido descansar um pouco depois do almoço, Anny pedira a mãe para verem um dos inúmeros filmes infantis que a pequenina tinha trazido.
                  Júlia armou a rede na pequena varanda do quarto, ligou o aparelho de TV e deitou com a filha nos braços. Na verdade, queria mesmo era poder dormir um pouco, se sentia cansada, pois a noite passada descansara muito pouco, ficara o tempo todo de olho no sono da bebê, mesmo com o médico garantindo que estava tudo bem com a garotinha, ainda se sentia apreensiva.


                 A empresária resolveu sair um pouco do quarto, ver se estava tudo bem pela enorme mansão. Na verdade, estava se sentindo entediada, e honestamente, estava com vontade de ver a pequeninha de olhos zuis. A filha de Júlia a tinha feito se sentir tão bem, parecia tão especial aquela menina. Havia algo diferente nela, algo que a fazia se sentir em paz consigo.
                   Parou em frente a porta da ala da casa que fora destinada para a fisioterapeuta. Não estava trancada, tentou olhar pela fresta da porta, então um rostinho pequenino de cabelos pretos apareceu.
                   Anny deu um sorriso travesso e Elizabeth se encantou.
                   -- Olá mocinha.
                   -- Oi. – Mostrou os pequenos dentinhos.
                   -- E você não deveria estar dormindo?
                   A bebê fez um gesto negativo com a cabeça, balbuciando sons.
                    A empresária ficou confusa, então ela entendeu o que a menina disse.
                    -- Ah! E você o que está fazendo? Deveria descansar com a sua mãe.
                    A garotinha deu um sorriso travesso com gritinhos.
                     -- Hun!
                      A menina colocou o corpo todo para fora.
                      Elizabeth achou engraçado a roupa que a pequena vestia. Um macacão de moletom, com desenhos de gatinhos.
                     -- É melhor você ir para perto da sua mãe.
                   A pequenina estendeu a pequena mão e tocou no rosto da filha de Alex. A criança parecia encantada com aquela linda face, explorou cada cantinho e parecia hipnotizada pelos olhos da mulher.
                    -- Anny...
                    Elizabeth ouviu a voz forte e logo sentia o olhar acusador ser lhe dirigido. Mesmo assim estava linda com aquela cara de sono e expressão cheia de confusão.
                      -- Quem lhe deu permissão para sair do quarto? – Encarou a pequena.
                  A menina deu um beijo na paciente e correu de volta para o quarto, antes que a mãe ficasse mais brava.
                     -- Nossa! Deu até medo, não precisava ter brigado com a menina.
                      -- Ela aproveitou que eu tinha cochilado para sair. Sabe que deve ficar no quarto.
                     -- Por favor, ela é um bebê, não deve nem entender essas regras e se tem alguém culpado nessa história é você, deveria estar cuidando da Anny e não dormindo pelos cantos.
                   A fisioterapeuta a fitou, não desejava brigar. Aquela mulher tinha o poder de tirá-la do sério e ainda ficava com aquele ar de arrogância suprema, agia como se fosse uma rainha.
                   -- Ora, você não é ninguém para dar sermões e também não estou com saco para ouvir sua chuva de lorotas. 
                       Virou-se para sair, mas sua mão foi segurada pela de Elizabeth.
                     Júlia sentiu uma espécie de eletricidade passear por todo seu corpo, aquele contato era o que estava evitando. Viu-a usar o indicador para fazer movimentos circulares na palama da sua mão.
                     -- Você não pode falar assim comigo. – A empresária falou e não lhe soltou. – Não esqueça que está em minha casa e me deve respeito... Sou a sua paciente. -- Disse fitando-a.
                      A fisioterapeuta fitava-a e sentia em seu interior o desejo voltar a crescer.
                      Ainda se sentia estremecer quando pensava em como estivera próxima ela na piscina.
                      Soltou um longo suspiro.
                       -- Certo, vossa alteza. – Ironizou. – Poderia me soltar, por favor?
                       A paciente estreitou os olhos em gesto de desagrado, soltou-lhe a mão e saiu.
                    Júlia sabia que não devia provocar a ira da jovem, mas era difı́cil não cair na tentação de dizer umas boas verdades na cara dela, ela não era o centro do mundo e não podia se mostrar superior a todos, mesmo tendo toda aquela beleza e aquele charme agressivo.
                     O melhor a fazer seria terminar o mais rápido possível aquele trabalho, pois sentia que as coisas estavam saindo do seu controle.


                     Os dias transcorriam mais tranquilo, as mulheres mantinham uma espécie de cessar fogo. As sessões de fisioterapia foram bem proveitosas, Elizabeth apesar de estar sempre reclamando, progredia no tratamento. Suas pernas pareciam estar recuperando as forças e isso a deixava bastante feliz, pois agora já desejava poder deixar a cadeira de rodas e retomar sua independência.
                        Estava certa de que as feridas da alma não sarariam, mas mesmo assim estava disposta a retomar seus negócios, preencher sua vida com seu trabalho e com a adrenalina de conquistar mais e mais poder.
                       Elas estavam na piscina naquele momento. Desde a última vez, faziam o máximo para não se aproximarem tanto, principalmente a mãe de Anny que tentava ao máximo aquele tipo de contato.
                   -- Estou cansada, estou sentindo cãibra. – Elizabeth se apoiou na fisioterapeuta. 
                   Júlia a segurou e lentamente a levou para a escada da piscina, sentou-a.
                  Começou a massagear as pernas que estavam toda a mostra, já que a paciente usava um pequeno short.
                      Sentia-a as coxas delicadas sob seus dedos. Eram macias, bonitas...
                    Os olhos de Elizabeth pousaram nos seios cobertos pelo biquı́ni, teve um desejo insano de tocá-los. Não entendia por que ela tinha que usar aquele tipo de traje, podiam estar na piscina, mas aquilo não lhe dava o direito de ficar quase nua. Ficaria assim com todos os pacientes? Será que o namorado dela não se importava?
                    -- Por que que você fica seminua para as sessões? – Indagou irritada. 
                       Júlia a encarou sem entender.
                     -- Quê? – Pousou a mão na coxa da paciente, encarando-a.
                      -- Não acho que biquı́ni seja a roupa apropriada para sua função, você não usa jaleco?
                      -- Vou usar jaleco dentro da piscina? – Perguntou confusa.
                     -- Acho que você deveria ter um pouco de pudor, o Juan fica boba olhando para o seu corpo, só falta babar.
                   -- Eu não me importo com o que o seu enfermeiro pensa ou sente, se estou vestida assim é porque estamos numa ocasião que permite.
                     -- Mesmo assim, acho que deve se cobrir mais.
                   Júlia continuou as massagens, ignorando-a, agora bem próximo a junção das coxas. Sentia um imenso prazer em tocá-la, sabia que estava indo contra o seu lado profissional, mas não podia mentir para si mesma, tinha vontade de substituir as mãos pela boca. Adoraria beijar toda aquela pele, sentir o sabor dela, tê-la em seus lábios.
                        Sabia que estava mais uma vez excitada, ansiando para tomar para si, como se aquilo fosse uma coisa normal a se fazer, como se fosse algo que tivesse experiência.
                     Respirou fundo e contou até dez, aquilo era uma loucura.
                      -- Está melhor?
                      -- Não, ainda estou com a sensação de dormência.
                   A fisioterapeuta passou a mão pelos cabelos, não podia tocá-la mais. Poderia fazer uma loucura.
                      -- Fique quietinha, daqui a pouco vai passar.
                       -- Não vai continuar o que você estava fazendo? – Indagou confusa.
                        -- Não, já passou do meu horário de trabalho. – Riu sem graça.
                        -- Ah não me diga! E eu vou ficar sentindo dores por isso?
                      -- Já  disse que vai passar, se não passar eu continuo. – Deus as costas para ela. – Acho que vou nadar um pouco. Posso?
                       Elizabeth apenas deu de ombros.
                    Ficou ali observando a outra dar rápidas braçadas e atravessar rapidamente a água. Parecia um peixe. Uma sereia,  na verdade.
                        Não havia dúvidas, vinha sentindo um desejo irascível pela mãe da Anny, pensara muito e agora estava certa do que se passava. Isso com certeza se devia ao fato de ter ficado tanto tempo sem ter nenhum tipo de relacionamento. Sempre gostara muito de sexo e agora seu corpo vinha sentindo falta, porém o que não conseguia entender era por que se interessava logo por uma mulher e para piorar, por aquela mulher.

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