A fera ferida -- Capítulo 5

                   Elizabeth despertara muito cedo, como de costume. Inacreditavelmente, conseguira ter um sono tranquilo. Há tempos não conseguia relaxar e descansar. Depois que voltara para o quarto, tomara um banho e deitara. A raiva pelo que a fisioterapeuta fez, ainda a deixou um pouco acordada. Mas depois, apagou. Não sabia como. Talvez, ficara esgotada fisicamente. Não estava disposta a voltar as sessões com júlia. Não permitiria que ela a tocasse novamente. Não sabia quais intenções sujas poderiam passar por aquela cabeça. Estava decidida a falar com o pai para contar o ocorrido, assim, ele dispensaria os serviços dela. 
               Que humilhação seria quando ele soubesse que a amante novinha tinha outros interesses.
              Mordiscou o lábio inferior e miseravelmente reviveu a carícia que recebera. Os lábios macios eram impulsivos, moviam-se com precisão, com experiência de mestre.
                 Fechou os olhos e logo viu os olhos tão azuis a lhe encarar, a boca bem feita sempre a trazer um sorriso de provocação.
                   Soltou um longo suspiro!
                   Quem era a doutora Wasten diante dos problemas que tinha que suportar diariamente?
                   Ouviu batidas na porta.
                   Permaneceu calada e só respondeu quando ouviu a voz insistente da governanta.
                  -- O que você quer, Felipa? -- Questionou irritada.
                  -- Se me deixar entrar eu posso até dizer.
                  A Terzak relanceou os olhos em exasperação.
                  -- Entre! -- Disse a contragosto.
                  A senhora agradável e paciente se aproximou.
                  Como sempre os aposentos estavam mergulhados em penumbra.
                  -- Liz, pelo amor de Deus, filha, não consigo nem te ver.
                  Passou-se alguns segundos até que a luz que ficava na cabeceira foi acesa, deixando o ambiente mais iluminado.
                 -- Assim está melhor! -- A empregada falou com um sorriso.
                 -- Já pode dizer o que você quer! -- Ordenou, encarando-a. -- Ou veio aqui apenas para ver se não tinha fugido correndo pela areia.
                 Felipa lhe dirigiu um olhar de advertência.
                 -- Vim aqui porque já está tarde, precisa se alimentar para ir fazer seus exercícios.
                 -- A doutorazinha de quinta categoria ainda não te disse? -- Sentou-se, encostando as costas na cabeceira da cama, enquanto cruzava os braços sobre os seios.
                     -- Disse o quê?
                     -- Que hoje mesmo ela vai sair da ilha com o rabo entre as pernas!
                     A expressão da governanta era de pura de tristeza.
                      -- Por que isso agora, Liz? Tudo parecia ir tão bem, ela cuida bem de você, vejo o progresso que conseguiu, não entendo o motivo dessa mudança.
                      A face da herdeira de Alex exibiu a tonicidade avermelhada. Os olhos escurecidos desviaram dos da serviçal da família.
                        -- Não tenho que dar explicações, apenas ela não voltará a tocar em mim e o assunto está encerrado!
                      Felipa ainda abriu a boca para protestar, mas percebeu pela inflexibilidade do olhar da empresária que seria uma discussão inútil, então simplesmente deixou deixou os aposentos.


                 
                       Alex estava em seu escritório examinando alguns papéis. 
                       Naquele dia teria reuniões com alguns acionistas e por essa razão precisaria estudar algumas propostas de trabalho para ter uma posição sólida.
                       Observou a foto da filha enquadrada no quadro de diamantes.
                       Ela era uma adolescente naquela época. Era tão linda e tinha um sorriso tão convencido e cheio de vida.
                       Segurou a moldura nas mãos.
                       Sentia-se culpado por tudo o que aconteceu. Por não ter dado limites, permitiu que ela fizesse o que tinha vontade. Estava sempre tão ocupado com seus casos para tentar preencher o vazio que a esposa deixara que não se recordava que havia um ser humano que necessitada da sua atenção.
                       A secretária apareceu trazendo os arquivos que ele pedira.
                       -- A senhorita Elizabeth ligou inúmeras vezes, exige falar com o senhor.
                       O empresário soltou um longo suspiro.
                       Ele sabia o que ela desejava e não estava disposto a ceder daquela vez. Acreditava veemente que a doutora Júlia seria a salvação da filha.
                       -- Diga que estou viajando! -- Colocou o porta-retrato no lugar. -- Daqui a uns dias irei até lá e receberei todas as críticas pessoalmente.
                         A mulher assentiu, enquanto deixava a sala.
       


                 Júlia não conseguira dormir bem naquela noite, sabia que não deveria ter beijado a paciente, mas não sabia explicar o que tinha acontecido. Parecia que algo a impulsionou a agir daquele jeito. Seus ímpetos ainda a colocariam em grandes problemas.
                        Beijou a filha que dormia tranquilamente ao seu lado e seguiu até o banheiro.
                        Mirou-se no espelho, viu as olheiras profundas da insônia.
                        Suspirou, enquanto lentamente se livrava da camisola.
                        Observou os seios inchados e os mamilos intumescidos. Com o polegar os acariciou. Fechou os olhos por alguns segundos e a imagem da filha de Alex veio a sua mente.
                       Cerrou os dentes!
                       Estava molhada, sentia o líquido ensopando a calcinha. Colocou a mão dentro, encostou-se à parede e ainda de olhos cerrados, tocou o sexo pulsante que parecia vibrar. Os dedos longos deslizavam, fazia movimentos circulares e logo adentrou o estreito espaço.
                       Moveu os quadris em um ritmo rápido, mexendo com força, com raiva e logo um delicioso tremor se apossou de si.
                        -- Deus!
                        Fora na milionária Terzak que pensou em todo o momento, desejara fazer o mesmo com ela.
                      Cobriu o rosto com as mãos.
                      Só podia estar ficando louca!
                 Seguiu para o box, ligou o chuveiro na água fria, permitindo-se ficar ali até que aquela agonia passasse e voltasse a ter o controle das próprias ações.



                      Elizabeth observava a bandeja que a empregada tinha deixado lá. Havia sucos, leites, frutas, pães e torradas.
                       Realmente estavam convidativas e deu até vontade de comer.
                       Enquanto degustava, tentava mais uma vez falar com o pai. Agora a secretária lhe dissera que ele estava viajando, mas não acreditava, sabia que o empresário só não desejava lhe falar.
                        Jogou o aparelho longe, deixando-os aos pedaços.
                        Nada a faria continuar com a fisioterapia!
                        Tomava um pouco de suco quando a porta foi aberta.
                         Levantou a cabeça ao ver de quem se tratava. Encararam durante longos segundos, enfrentando-se.
                  -- Quem te deu permissão para entrar em meu quarto. – A empresária questionou com raiva. -- Quem disse que você poderia vim até aqui?
                       -- Pedi para a Felipa te avisar e você deixou claro que não queria me ver.
                       A Terzak colocou o copo no lugar.
                       -- Se eu disse que não, então não entendi o motivo de ter vindo! -- Estendeu o braço apontando a porta. --Saia antes que chame um segurança e mande te arrastar até a rua.
                       Júlia respirou fundo e diante do olhar irado cruzou os braços.
                        Elizabeth observou o short preto de lycra cruto que deixava as pernas longas de fora, observou a camiseta justa que moldava perfeitamente ao corpo atlético, deixando parte do colo à mostra.
                       -- Saia daqui! -- Vociferou.
                        A fisioterapeuta passou a mão pelos cabelos que estavam soltos, arrumando-os atrás da orelha. 
                       -- Nós precisamos conversar e não sairei daqui sem fazer isso.
                     -- Não tenho nada para falar contigo. – Colocou a bandeja ao lado do corpo. – Assim que eu falar com meu pai, você vai sair daqui voando, sem nenhum centavo e ainda com uma denúncia de assédio.
                       Júlia encarou aqueles olhos verdes. Não havia emoção ali.
                 -- Não precisa esperar para falar com seu pai. Hoje mesmo irei embora da sua ilha, mas antes quero que me desculpe pelo que houve ontem, eu juro que te beijei como uma forma de conter seu descontrole.
                    -- Não me interessa suas explicações.
                   -- Ok! – Estava saindo, quando voltou-se. – Contrate outro profissional, senhorita Terzak, tenho certeza que em pouco tempo, você voltará a caminhar.
                     A outra apenas deu de ombros.
                     Não precisava de conselhos de ninguém e muito mais daquela doutorazinha.


              Quando Júlia voltou para o quarto encontrou uma Jane com um semblante muito preocupado. A pequena Anny chorava sem parar e estava vermelha.
                        -- O que houve? – Pegou a filha nos braços.
                      -- Uma espécie de mosquito a picou. A deixei alguns minutos sozinha e quando voltei, estava chorando. – Falou abanando as mãos, nervosa.
                   A Wasten fitou a filha, percebeu que sua pele branquinha estava toda intoxicada, precisava urgentemente de um hospital. Mas como? Naquela ilha não deveria ter, mas com certeza deveria ter um médico.
                         Desesperou-se.
                        Felipa tinha ouvido o choro da garotinha e correu para ver o que era.
                     -- Por favor, diga-me onde posso encontrar um médico? Preciso de um carro, minha filha precisa de atendimento urgente.
                         -- O que houve? – A governanta indagou.
                   Viu a pequenina em seu pranto desesperado, havia inúmeras manchas vermelhas por todo seu corpo.
                       -- Vou mandar buscar o médico. – Saiu em disparada.
                     Júlia não sabia mais o que fazer, sua filha gritava, parecia estar sentindo muita dor. Estava quase entrando em desespero, precisava fazer alguma coisa. Jane não ajudava em nada, parecia a ponto de cair em prantos também.


                Elizabeth ouviu os gritos do seu quarto. Por que aquela criança chorava tanto? Aquela mulher era uma total irresponsável, nem cuidar da filha sabia. Deveria denunciá-la também por ser uma péssima mãe.
               Foi ao encontro daquela desnaturada, iria lhe dizer umas boas verdades e expulsá-la definitivamente dali. Não importava se não tivesse como sair da ilha, nem que fosse a nado, hoje mesmo aquela doutorazinha sairia de sua casa.
                     Bateu na porta e logo a Wasten a abriu.
                A fisioterapeuta deparou-se com os mais frios olhos verdes que um dia viu, a dona da casa a encarava com um misto de arrogância e superioridade.
                 -- Que escândalo é esse? Não se pode descansar. Saia da minha casa nesse exato momento e leve essa pirralha chorona.
                 Nesse momento, a orgulhosa mulher olhou para aquele bebê lindo, estava com o rostinho todo molhado e vermelho, como não se sentir tocado com aquela imagem?
               Assim que os olhinhos da pequena Anny fitaram as esmeraldas parecia que algo tinha acontecido. Ela rebelou-se nos braços da mãe e jogou-se para a paciente intratante.
                     Uma Elizabeth totalmente desconsertada e desajeitada acolheu junto a si aquela criança.
               Júlia a fitou em perplexidade, parecia confusa. Sua linda princesa tinha parado de chorar e seus lindos olhinhos fitavam com curiosidade a mulher que lhe tinha no colo. Será que a filha tinha a mesma curiosidade que ela mesma tinha sobre aquele ser irritante ou ela sentia algo que mais ninguém poderia sentir.
             A empresária não sabia o que fazer, nunca tivera experiências com bebês, na verdade era a primeira vez que ficava tão próximo de um, era estranho. Mirou os olhinhos azuis e os cabelinhos pretos, era idêntica a mãe.
              Foi ai que observou a fisioterapeuta parecia muito assustada, seus olhos estavam cheios de lágrimas, um semblante agoniado tinha substituı́do o rosto irritadamente divertido de sempre.
                      -- O que houve com a menina? -- Indagou de forma mais calma.
                     -- Não sei, algo a mordeu. Não sei bem o quê, em pouco tempo ela ficou toda vermelha e chorando muito. – Falou agitada.
                       -- Chamaram o médico?
                       Felipa vinha correndo, apesar da sua idade, com um senhor de meia idade ao seu lado.
                       -- Aqui está ele.
                   A fisioterapeuta tentou pegar Anny, mas foi inútil, a menina não parecia desejar abrir mão de sua nova amiga.
                O médico  constatou que realmente a menina tinha sofrido a picada de uma espécie de mosquito, mas para tranquilidade de todos, não fora nada grave. Precisava apenas que uma injeção lhe fosse aplicada. Essa parte não fora nada agradável, a garotinha parecia que já sabia o que iriam lhe fazer, se debatera muito, precisara que Júlia e Elizabeth tentassem distraí-la. Mas ao final tudo deu certo.
                 A paciente esperara pelo sono da pequena para poder deixar o quarto. Júlia beijou a filha e acompanhou a empresária até o seu cômodo.
                -- Obrigada pelo que fez. – Falou assim que entrou.
                   A outra apenas deu de ombros.
                 -- Não fora nada.
                  -- Foi muito para mim!
                A Terzak seguiu com a cadeira até o meio do quarto, virando para a jovem que se mantinha parada na porta. 
                  -- A Anny parece sentir um carinho especial por você. – Sorriu timidamente.
               Elizabeth não se sentia bem com aquelas palavras. Na verdade, estava mais acostumada com sentimentos de ódios e raivas do que com gratidão.
                  -- Bem, agradeço mais uma vez.
                  A fisioterapeuta cerrou os dentes e já se preparava para ir embora, mas se voltou para a empresária.
              -- Ah, hoje mesmo irei embora. Só peço que espere o perı́odo da tarde, porque assim tenho certeza que minha filha vai ficar bem.
                   A herdeira de Alex permaneceu quieta, mas logo sua voz pôde ser ouvida.
                  -- Não precisa ir. – Soltou.
                  Júlia caminhou até ela com uma verdadeira confusão estampada em seu rosto.
                   -- Mas, você disse...
                 -- Pode ficar, apenas não quero que aconteça novamente o episódio. – Fez um gesto para que ela escutasse. – Não sei quais são suas preferências sexuais, mas as minhas são outras.
                   A fisioterapeuta colocou as mãos na cintura, parecia irritada, enquanto tinha o rosto corado.
                 -- Fique sabendo que aquilo aconteceu para conter sua fúria, em nenhum momento o fiz por algum tipo de desejo oculto, não tenho nenhum tipo de interesse sexual na sua pessoa e para esclarecer, eu tenho um namorado. – Falou apontando o dedo em riste. -- Não me envolvo com mulheres e jamais o faria contigo.
              -- E o que isso tem a ver? – Mirou-a com arrogância. – Sempre fui muito desejada pelos outros, independentemente de ser homem ou mulher. – Completou com orgulho.
               -- Bem, não vejo nada em você que me inspire isso. Não faz meu tipo.
                   Elizabeth ainda iria protestar, mas a saı́da brusca de Júlia e impediu.
                Pela primeira vez em muito tempo, a jovem riu da expressão irritada da outra. A mulher ficara totalmente desconsertada com as palavras ditas. Mas, não tinha mentido, antes, na sua vida social intensa fora sempre marcada por inúmeras conquistas, sempre fora paquerada pelos dois gêneros, mas nunca se interessara por mulheres, e depois que conhecera o noivo, nada mais lhe interessara. Tivera uma vida com várias aventuras sexuais, porém nada daquilo lhe fazia falta. Sentia-se morta em vida, nada lhe entusiasmava, queria ter morrido no dia do acidente. Queria ter seguido junto com o homem que amava.


                  A fisioterapeuta parou no corredor, não queria voltar para o próprio quarto, estava verdadeiramente exasperada. Quem aquela patricinha estupida pensava ser? Se achava a mulher mais bonita do universo. “ Me poupe!”
                     Conhecia seres muito mais bonitos e nem por isso se sentia interessada, aliás nem mesmo gostava do mesmo sexo. Tinha um namorado e era apaixonada por ele, aquilo que acontecera na noite anterior fora apenas um impulso. Não podia negar que Elizabeth Terzak era muito linda, na verdade, pare ser sincera, nunca vira olhos tão lindos.
                         Respirou fundo!
                   Não, precisava espantar esses pensamentos, isso não deveria nem ter passado por sua cabeça.
                -- A Anny continua dormindo, vou fazer uma sopinha para ela. – Jane falou. 
                     A fisioterapeuta assustou-se com a chegada brusca da babá.
                   -- Ok, vou ficar com ela. – Sorriu e seguiu para perto da filha.



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