A fera ferida -- Capítulo 2
O quarto tinha ausência de iluminação. Estava frio e lembrava aqueles filmes de terror que se assiste e depois não se consegue dormir, porém o aroma era delicioso. Havia um perfume delicado, um aroma que parecia penetrar nas narinas e lá fazer domínio.
A empresária sentia a presença da mulher, mesmo sem conseguir decifrar os traços devido à penumbra, tinha certeza que deveria se tratar de uma daquelas fisioterapeutas esnobes que já passaram por ali. Primeiro uma pós-doutoranda de mais de cinquenta anos que pensava ser Deus para fazer milagre, essa não aguentou um único dia; segundo um jovem galante que parecia mais interessado em seduzir a milionária que tirá-la daquela cadeira de rodas, o Don Juan foi expulso em um dos ataques de fúria e assim vieram tantos profissionais que sempre tinham um objetivo escuso, decerto essa não seria diferente.
-- Diga-me logo seu preço, não é necessário que se perda tempo com apelos sociais... Diga o número de zeros que necessita e depois me deixe em paz.
Júlia cruzou os braços sobre os seios. Talvez fosse impressão sua, mas cada palavra dita pela filha de Alex lhe causava calafrios. Mesmo tendo se formado recentemente, já tivera várias experiências e até mesmo entendia o fato de naquela situação o ser humano se sentir demasiadamente frágil, sendo assim era comum usar de resistência para seguir o tratamento, porém ela era uma profissional paciente e estava disposta a não decepcionar o homem que a contratara.
Respirou fundo, depois falou calmamente:
-- Eu irei... Direi meu preço e logo se verá livre de mim, senhorita.
Elizabeth sorriu internamente. Todo ser humano tinha um preço e aquela que estava a sua frente nem tinha lhe dado muito trabalho. Daria o que pedisse, contato que a deixasse em paz. Desejava apenas isso. Livrar-se de todos que sentiam pena, odiava inspirar nos outros a frase: pobre menina rica. Nenhuma Terzak passaria por tal humilhação, estava em um patamar muito acima daqueles pobres mortais. Aprendera isso quando nasceu. Não havia nada que desejasse e não pudesse ter, bastava ansiar que todos lhe satisfaziam, estava acostumada a dominar em todos os sentidos e mesmo impossibilitada, isso não mudou.
-- Diga o valor e... – Interrompeu o que dizia ao cobrir os olhos imediatamente com o braço.
As cortinas foram abertas, e o sol penetrou naquela escuridão.
Os aposentos eram bem arrumados, porém mais a frente havia livros jogados pelo chão, páginas de cadernos rasgadas com uma bela caligrafia escrita.
Júlia mirou a mulher tirar o escudo que lhe cobria o rosto. Sentiu algo estranho.
Linda!
Definitivamente nunca tinha visto um ser humano tão belo em toda sua existência. Os cabelos eram tão pretos quanto os seu, os olhos eram indecifráveis, um intenso verde tão escuro que pareciam negros como a noite sem lua. O rosto era composto por traços aristocráticos, o nariz empinado e o queixo completava o conjunto. No lado esquerdo, perto da orelha havia uma cicatriz que cortava a face em linha reta até quase perto dos lábios cheios e bonitos.
Pelo que ficara sabendo pela pesquisa que havia feito sobre a família que prestaria serviços, eram gregos e aquela figura que lhe olhava com toda aquela raiva poderia ser comparada com a própria Atenas, era possível até imaginá-la em batalha com sua espada e escudo.
Estendeu a mão para lhe tocar, mas foi repelida violentamente.
-- Não encoste suas mãos em mim. – Manobrou a cadeira e deu-lhe as costas. – Quem lhe deu permissão para abrir as cortinas? – Gritou. – Diga logo seu preço e saia logo daqui, garota estúpida!
A empresária sentia a irritação crescer em seu peito como um bolo que fora exagerado em seu fermento.
Apertou forte o ferro da cadeira, tanto que seus dedos começavam a doer, mas ela não se importou com isso, pois nem mesmo se importara em aliviar.
O pai lhe trouxe agora uma criança que decerto nem deveria ter terminado o ensino médio para bancar a massagista.
Ouviu os passos macios se aproximarem de forma paciente.
A fisioterapeuta aproximou-se e postou-se mais uma vez em frente a mesma, inclinando-se sobre ela.
-- O meu preço? -- Arqueou a sobrancelha esquerda em desafio. -- Receberei quando terminar de fazer o meu trabalho com êxito. – Sorriu, simpática. – Então, se deseja livrar-se de mim, comece colaborando com o tratamento, aı́ você melhora rápido e eu sigo o meu caminho.
Os olhos verdes se estreitaram em puro ódio, era possível observar a veia saltar em seu pescoço.
-- Como ousas falar assim comigo? -- Indagou em fúria.
-- Falando! – Disse com um sorriso, enquanto seguia em direção a porta. – Ah, já ia me esquecendo. – Parou. – Amanhã quando o galo cantar, talvez até bem antes, começaremos os exercícios, você escolhe se será aqui nos seus lindos aposentos ou na sala onde tem os equipamentos adequados, para mim não faz muita diferença... Faço onde você quiser, não tenho nenhum tipo preconceito com isso, baby.
Elizabeth pegou o primeiro objeto que viu e jogou contra a porta. Sorte que a Júlia já tinha deixado o recinto.
-- Miserável!
Júlia encontrou Jane brincando com uma travessa Anny. A menina já conseguia ficar em pé sozinha e queria mexer em todos os objetos.
O apartamento que fora disponibilizado para ela era bastante espaçoso, tanto que era possível se imaginar em uma pequena mansão. A decoração das paredes em marfim, os quadros nas paredes traziam imagens de paisagens bucólicas. uma poltrona enorme, uma TV de cinquenta polegadas em um painel, havia flores por todos os lados. Seus pés afundavam sobre o carpete.
-- Vem cá, filhotinha minha. – Pegou a criança nos braços.
O bebê começou a balbuciar, parecia não ter gostado de ter sido tirada de sua traquinagem.
-- Ah é? Você agora tá bravinha é? Sabe o que vou fazer? – Colocou-a deitada sobre a poltrona. – Vou te encher de beijinhos. – Começou soprar a barriga gordinha da criança.
Anny ria sem parar.
Jane observou a cena. Não havia dúvidas que aquela mulher amava aquela criança. Mesmo não sendo a mãe, sabia o grande amor que a outra delegava aquele anjinho fofo. Conhecia-a há muito tempo e sempre ficara encantada com a forma responsável que ela se comportava.
-- E já conheceu sua paciente?
A fisioterapeuta ficou inclinou a cabeça para fitar a amiga.
-- Tem certeza de que deseja falar sobre isso?
-- Resistência? -- Questionou arqueando a sobrancelha esquerda.
Júlia sentou e a filha se acomodou em seu colo, mexendo em seus cabelos, assanhando-os.
-- Eu não sei, mas ela quase me engoliu, até me ofereceu dinheiro para ir embora. -- Disse com um suspiro.
Jane sentou ao lado dela, fitando-a.
-- Qual o valor? -- Questionou sorrindo.
-- Imagina minha cara falando assim: Quero dois bilhões de dólares na minha conta, vossa alteza. -- Gargalhou. -- Seria perfeito.
As duas caíram na risada, enquanto Anny não entendia nada e soltava gritinhos.
Já era tarde da noite, Elizabeth tinha tomado banho.
Na mansão havia dois enfermeiros que lhe auxiliava em muitas coisas, como ajudá-la a tomar banho, higiene pessoal.
Não era fácil para aquela jovem arrogante precisar da ajuda de outros. Sempre fora autossuficiente, era temida por todos que a conhecia. Quantas ruínas levara para inúmeras empresas, sentia um prazer enorme em destruir os sonhos alheios, com certeza muitos deveriam estar felizes pela desgraça que se apossou da sua vida.
Amarrou o roupão, apertando-o na cintura.
-- Deseja mais alguma coisa, senhorita? -- O enfermeiro indagou.
Elizabeth nem mesmo se deu o trabalho de olhar para o jovem.
Seguiu com a cadeira até a varanda que dava para a praia.
Via as ondas batendo nas rochas, ouvia o som do mar. A escuridão da noite parecia fazer referência a sua própria imagem.
Fitou a aliança que ainda repousava em seu indicador direito.
Sentia saudades das reuniões, das agonias nos semblantes de todos, da admiração que via nos olhos do noivo. O sofrimento do outro sempre fora impassível a si. Nunca se importara em fazer em pedaços os desejos alheios.
Apenas o Marco representara algo bom na sua vida. Quando o conhecera tudo fora diferente, não se importara em usar todo o seu charme para toma-lo da outra mulher. Na verdade, usara de truques baixos para isso. Até conseguir seu intuito. Sexo, dinheiro e poder foram as combinações perfeitas em todos os seus planos.
Tirou o aro dourado, observando-o, girando-o entre os dedos.
Tinha certeza que estava pagando pelos pecados cometidos, mas não imaginava que devesse tanto. Nunca fora ligada a religião, porém em inúmeras vezes se pegara implorando para que tudo aquilo acabasse. Para que sua dor tivesse fim. Por que não morrera naquele maldito acidente? Por que tinha saído com vida? Para definhar dia após dia diante do olhar de pena dos outros?
-- Deseja...
O rapaz mal tinha começado a falar e já se ouvia o grito da jovem.
-- Suma da minha frente, seu idiota!
O enfermeiro não esperou um segundo convite.
A fisioterapeuta acordou cedo, decidiu ir para sala de exercı́cios e ver com o que poderia contar.
Havia vários equipamentos, uma piscina enorme, rampas, colchonetes, cama, bolas... Tudo havia sido montado com perfeição. O ambiente era o sonho de qualquer profissional que trabalhava na área.
Aproximou-se do retângulo de águas cristalinas.
Todo material necessário para aquela empreitada se encontrava ali. Esperava que a lady não a obrigasse a fazer as sessões de terapia no quarto, porque aquela sala era mais que perfeita para tudo.
Sentiu-se tentada em dar um mergulho naquela enorme piscina, mas aquele não era o momento para isso. Dentro de alguns minutos precisaria colocar a mão na massa.
Recordou-se dos olhos verdes cheios de desdém a fitando, o ar superior.
Riu da cara de raiva que ela exibiu.
Riquinha mimada que está acostumada a agir com todas as vontades satisfeitas.
Observou o relógio, ela não viria, tinha quase certeza disso.
Como de costume, a noite de Elizabeth fora recheada de pesadelos. Usava drogas para conseguir dormir, mas nem isso estava fazendo efeito.
Sentia os olhos arderem, o enjoo matinal devido aos medicamentos que vinha tomando para conter as dores. Cobriu a face com o braço.
Precisava dormir para sempre.
Sentou-se!
Dormira com o roupão e as amarras tinham se soltados.
Observou os próprios seios, estavam doloridos, com certeza estava para menstruar. Precisava do remédio para conter os sintomas.
Passou a mão pelo ombro esquerdo, massageando-o, tentando aliviar a tensão.
Ajeitou-se na cama, enquanto afastava ainda mais o tecido.
Ouviu batidas, mas as ignorou como já era do seu costume. Ninguém entraria ali sem sua permissão.
-- Elizabeth...
A voz da governanta se fez ouvir, mas a morena não deu nenhum sinal de responder.
-- Liz, a doutora Júlia está te esperando para iniciar as sessões.
A bela Terzak respondeu irritada ao ouvir o nome da fisio.
-- Diga a ela que pode ir para o inferno e permanecer lá, pois a mim não interessa...
Seus pensamentos e frases foram interrompidos pela entrada da nova funcionária, que s seguia até as cortinas, abrindo-as, deixando o ambiente iluminado com a luz da manhã.
A filha de Alex arrumou rapidamente o roupão, enquanto encarava a outra boquiaberta.
-- Mas o que você pensa que está fazendo?
A jovem caminhou até o meio do quarto, colocando as mãos na cintura falou:
-- Bem, vi que você decidiu fazer os exercı́cios nos seus aposentos e eu me nego a ficar num lugar tão escuro, seria bem capaz de danificar um dos seus ossinhos. -- Piscou em provocação.
Elizabeth observou a mulher parada em sua frente.
Seus longos cabelos pretos estavam presos num rabo de cavalo, os olhos eram tão azuis que a faziam ter a impressão de estar olhando para o mar. A pele branca exibia um bronzeado sutil, o corpo atlético estava coberto por uma calça folgada, branca, que prendia nas canelas e uma camiseta colada ao corpo. O traje deixava em evidência a beleza da profissional contratada por seu pai.
Meneou a cabeça para espantar os pensamentos conflitantes.
Só podia está ficando louca, desde quando achava mulher bonita e ainda ficava admirando manequins femininos.
-- Você é muito atrevida. Saia já do meu quarto. -- Gritou. -- Saia!
Júlia balançou a cabeça em negação, enquanto estalava os lábios.
Altiva, aproximou-se.
-- Sinto muito, mas vou começar meu trabalho hoje. – Descobriu-lhe as pernas.
Elizabeth tentou arrumar o roupão, mas praticamente tinha as pernas de fora.
-- Está louca?! – Tentou afastar-lhe as mãos. -- Não me toque!
A fisioterapeuta inclinou a cabeça, encarando-a por alguns segundos, enquanto deslizava os dedos pela pele sedosa das coxas, por fim cruzou os braços:
-- E então? Como vai ser?
A paciente mirou-a com uma enorme raiva. Seus olhos verdes lançavam chispas de fúria.
Ambas se encararam, o olhar de uma demonstrava raiva, enquanto o da outra parecia estar se divertindo com o episódio.
As narinas de Elizabth se abriam como se fosse um cavalo selvagem e arisco. Cerrou os dentes com tanta força que pensou se não os quebrariam naquele momento. Viu a sobrancelha arqueada da perturbadora visitante.
-- Falarei ao meu pai agora mesmo e direi o que ousou fazer.
A senhorita Wasten continuou na mesma posição, mas agora batia a ponta do pé direito de forma impaciente no carpete.
-- Infelizmente não vai conseguir fazê-lo agora, então antes de eu ser demitida, aproveitarei para iniciar meu curto trabalho.
-- Morta de fome! -- Gritou.
Júlia já se aproximava novamente diante dos olhos arregalados da empresária que se apressou em dizer:
-- Dentro de uma hora estarei na sala de exercı́cios. – Apertou a companhia para chamar o enfermeiro.
A fisioterapeuta exibiu um sorriso largo.
-- Eu sabia que nos entenderíamos, a senhorita parece muito controlada e flexível, ta aí, gostei!
Elizabeth a viu deixar o quarto e ansiou por lhe tirar aquele sorriso debochada da cara.
Bateu com as mãos nas laterais da cama várias vezes tentando extravasar a exasperação.
Júlia aproveitou que teria que esperar a relutante paciente, decidiu seguir até a cozinha para fazer um lanche.
A cada passo que dava, mais encantada ficava com a decoração daquele ambiente. Aquela casa era realmente muito linda. Lembrava as mansões que apenas via nas novelas.
Sentou no balcão.
Havia uma verdadeira variedades de frutas dentro de uma cesta, fora os pães e bolos. Pegou uma maçã.
-- Bom dia, Jovem. – Saudou Felipa com um sorriso simpático. -- Ouvi os gritos da minha menina daqui... Preferi não ficar lá, temi que sobrasse para mim um pouco da fúria.
-- Bom dia. – Deu uma mordida na maçã, observando-a por alguns segundos. – A sua patroa é muito difícil de lidar.
A governanta lhe serviu um copo de suco de laranja.
-- Já brigaram tão cedo? Pensei que falaria com jeitinho. -- Dizia com um vinco de preocupação entre as sobrancelhas.
Júlia tomou um gole longo do refresco e só depois respondeu:
-- Não brigamos, pode ficar tranquila! Apenas precisei lhe dar um empurrãozinho para que ele decidisse começar a fisioterapia.
-- Ela aceitou? – Indagou entre um misto de surpresa e esperança.
A Wasten terminou de beber o suco, levantando-se.
-- Disse que estaria na sala de exercı́cios dentro de alguns minutos, seguirei para lá para recepcioná-la. -- Soprou-lhe um beijo. -- Obrigada!
A governanta sorriu, vendo-a deixar a cozinha. Estava surpresa pela herdeira de Alex ter cedido.
Naquela casa passara inúmeros fisioterapeutas, todos não duraram uma única semana, a jovem Elizabeth sempre arrumava um jeito de livrar-se deles. Fosse oferecendo dinheiro, fosse pelo seu mau humor que encurralava os profissionais.
Fechou os olhos, enquanto fazia uma prece silenciosa em agradecimento, implorando a Deus que dessa vez as coisas pudessem ser diferentes e um milagre acontecesse.
Elizabeth chegou a sala de exercı́cios. Julia já estava lá. Exibia aquele odioso sorriso que a desconsertava.
Observou o lugar. Era a primeira vez que entrava ali. Tinha sido montada uma verdadeira clı́nica de reabilitação.
-- Então, mocinha, vamos começar com tudo. -- Encarou o homem forte que conduzia a paciente. -- Coloque-a aqui! -- Pediu gentilmente.
O cuidador a colocou sobre a cama, sentando-a.
-- Como é seu nome? -- Júlia questionou.
-- Juan! -- Ele respondeu encantado.
Alto, bonito e com um belo bronzeado, ele poderia ser facilmente contratado para se exibir de sunga naquelas revistas de modas.
-- Eu sou Júlia! -- Estendeu-lhe a mão. -- Decerto precisarei da sua ajuda em alguns momentos.
-- Estou a sua total disposição! -- Ele disse sorrindo.
A fisioterapeuta observou quando a paciente relanceou os olhos em irritação, mas nada disse, pois achava melhor não provocá-la mais, mesmo que tivesse aquela vontade de atiçar a onça.
Observou-a com cuidado, aproveitando que ela tinha virado a cabeça para o outro lado. O perfil era tão forte, o maxilar enrijecido.
Ela usava uma calça de moletom e uma blusa de mangas longas na cor preta.
-- Acho que essa roupa não é adequada. Vai ficar muito quente. -- Júlia disse, enquanto anotava numa prancheta algumas coisas. -- Vai ter que ficar mais a vontade! -- Deixou a anotação de lado. Sem esperar pelos protestos, tirou-lhe a blusa, deixando-a apenas com um top. -- Agora está melhor.
A Terzak estreitou os olhos, mas nada disse.
A profissional da área da saúde percebeu que a empresária estava bem magra, porém dava para entrever que aquela mulher, quando sã, cuidava muito bem do corpo, pois a forma ainda não fora totalmente perdida.
Tocou-lhe os braços, usando a fita métrica para medi-los, depois fez o mesmo com as pernas.
A filha de Alex mantinha o olhar em outro ponto, sem desejar mirar a criatura que parecia ser a dona da situação.
De repente os olhos azuis fitaram os seus.
-- Deite-se, senhorita... -- Pediu de forma gentil.
A paciente mirou os dentes alvos que se mostravam nos lábios bem feitos, ainda pensou em retrucar, mas não gastaria sua energia com ela. Assim que falasse com o pai, aquela estupidazinha estaria na rua e não receberia um único centavo.
Em silêncio, deitou-se.
Júlia subiu na cama e começou a lhe massagear as pernas.
Elizabeth fechou os olhos.
Desejava apenas que aquilo terminasse logo. Não entendia porque cedera a ela. Porém, vira naqueles olhos azuis que ela não se importaria de fazer o tratamento naquele quarto, talvez tenha sido isso. Ninguém ousara tanto, ninguém lhe desafiara àquele ponto.
“ Meu pai deveria ter oferecido muito dinheiro a ela” Sentiu quando a outra espetou seu pé.
-- Ai. – Gemeu.
A fisioterapeuta a fitou com o cenho franzido e logo a espetou novamente e mais uma vez recebeu o gemido de insatisfação.
-- Realmente, não entendo como você se condenou a ficar nessa cadeira por tanto tempo. Suas pernas respondem aos estı́mulos.
Elizabeth deu de ombros. Nada daquilo lhe interessava. Nunca desejou sair daquela cadeira. Apenas gostaria que todos esquecessem que ela existia e a deixassem definhar em paz.
Júlia pegou a enorme bola e colocou sob as pernas da paciente e pediu para que ela fizesse movimentos de um lado para o outro.
A intratante mulher fazia um esforço enorme para conseguir processar os movimentos. Suas pernas não tinham forças para aquilo.
Percebendo o problema, a fisioterapeuta auxiliou-a. Fazendo o deslocamento com ela.
A empresária fechou os olhos, enquanto sentia o corpo cansado. Talvez a falta de alimentação estivesse a deixando tonta.
Observou a fisioterapeuta tão compenetrada em suas ações, tanto que nem piscava.
Era muito jovem e muito bonita. Com certeza o pai deve ter se encantado e por isso lhe deu o trabalho, afinal, não acreditava que a senhorita Wasten tivesse todos os atributos profissionais para ocupar aquele cargo.
Fitou mãos de longos dedos deslizar por suas coxas, deixando-a hipnotizada. O semblante sério tinha algo muito interessante.
-- Chega! – Gritou. – Não aguento mais.
Júlia a encarou sem entender a explosão.
-- Tranquila! – Tirou a bola e iniciou novas massagens. – Isso tudo valerá a pena quando você voltar a andar.
-- E quem disse que eu quero voltar a andar? – Indagou irritada. – Eu desejo apenas ficar em paz.
Começou a debater-se, Julia foi rápida e segurou-lhe as mãos, prendendo-as sobre a cabeça.
-- Fique calma ou vai acabar se machucando. – Apertou-lhe firmemente.
Elizabeth encarou-a.
Algo naquele olhar lhe deixava confusa. Era como se ele tivesse o poder de lhe decifrar toda a alma.
Julia observou melhor aqueles belos olhos, infelizmente neles só havia dor e raiva, era um desperdı́cio, pois eram tão bonitos.
Fitou aquela boca por alguns segundos. Os lábios vermelhos eram convidativos, com certeza Elizabeth era uma mulher que não deveria fazer muito esforço para seduzir alguém. Ela mesma se sentia desejosa de provar...
Soltou-a.
Saiu da cama.
Balançou a cabeça para espantar aqueles pensamentos.
Nunca se sentira atraı́da por mulheres.
Na época da faculdade bebera muito numa festa e acabara na cama com uma mulher, porém isso nunca mais se repetiu. Tinha um namorado, ele era médico, ambos se vinham pouco, mas o relacionamento entre os dois era bem bacana. Havia amizade entre eles, havia amor...
Passou a mão pelos cabelos.
-- Juan! -- Chamou o rapaz.
-- Sim?
-- Leve a senhorita Terzak para comer alguma coisa e depois a traga de volta, do jeito que ela está vai acabar tendo um troço se continuarmos com os exercícios.
Elizabeth nada disse, enquanto via a jovem se afastar com a face corada.
Sonho com o dia em que poderei ler sua histórias através do livro, tudo bem que o digital é moderno, mas ainda sou daquelas que ainda prefere manusear, pegar o livro e abraçar rsrrsrs
ResponderExcluirTenho as minhas preferidas, porém não tem uma que eu diga que não gostei, amo todas as suas histórias.
Já que estamos com A Fera Ferida, vc é muito fera na arte de escrever viu, só tenho duas palavras a dizer:
"Para...béns" ! Kkkkkkkkk
Bjs querida.
Olá, querida, sempre um prazer seus elogios, meu ego fica lá em cima, e olha que nem sou leonina, sou uma humilde geminiana rsrsrsrsrs
ExcluirFico feliz que sempre esteja acompanhando-as, agradeço o carinho.
Um grande beijo!