Dolo feroz -- Capítulo 29
Natasha estava sentada na recepção.
Há cinco dias não dormia, apenas ficava ali a esperar uma melhora da criança que seguia em estado delicado.
A chegada prematura ao mundo acarretou vários problemas e os médicos lutavam para mudar a situação.
Baixou a cabeça, olhando para os próprios pés.
Helena tinha trazido mudas de roupas e agora ela vestia uma camiseta verde, calça de tecido justa nas pernas e sapatos fechados de bico fino.
Fora novamente proibida de se aproximar de Valentina já que o filho não estava com ela, não tinha motivos, de acordo com a justiça, para ficar ao lado da Vallares.
Suspirou!
A vontade que tinha era de mandar tudo para o inferno e deixar bem claro sua relação com a trapezista, mas aquilo colocaria a vida dela em risco e jamais se perdoaria se algo lhe acontecesse.
Observou o celular, tinha acabado de encerrar uma chamada de quase uma hora com o detetive.
Rick deixou bem claro o quão seria perigoso que todos ficassem sabendo sobre o relacionamento que tinham.
Mexeu-se, irritada, sentindo aquela ebulição dentro de si, aquela sensação de estar presa, de não ter o controle das coisas.
Ouviu passos se aproximando e ao levantar a cabeça se deparou com a ostentosa duquesa.
Miserável!
Encarou-a.
— Algum problema, vovozinha? — Questionou com um arquear de sobrancelha. — Ou está apenas passeando pelo hospital?
Isadora a olhava de cima a baixo desdenhosamente.
— Você deveria ir embora, afinal, sua presença aqui é dispensável. Veja, nesse momento a Nathália está ao lado da Valentina, então ninguém necessita de você… A minha neta sempre consegue o que deseja… Mas também, há uma lacuna imensa entre você e ela…
A Valerie esboçou um sorriso, enquanto sentia a raiva e o ciúmes se mesclarem perigosamente.
Ela sabia que a irmã estava no quarto com a trapezista e precisou usar de toda sua frieza e controle conquistados ao longo da vida para não ir até lá e arrancá-la comas próprias mãos.
— Enquanto meu filho estiver aqui, eu ficarei! — Arrumou-se na cadeira, cruzando a perna sobre a outra. — então, duquesinha de quinta, melhor ir puxar o saco do Nícolas e me deixar em paz.
A velha estreitou os olhos em fúria.
— Você é uma maldita desgraçada, me arrependo de não ter te jogado do alto daquele penhasco naquela maldita noite… Quando você nasceu eu sabia que tinha sido enviado por todos os demônios para atormentar a vida de todos… Uma miserável que nasceu com os cabelos vermelhos para ser a prova da vergonha de Elizabeth.
A ruiva não parecia chocada com o que ouvia, já escutara coisas piores.
Às vezes se perguntava o que teria acontecido se a mão tivesse sobrevivido.
Recordava-se de ouvir as freiras fofocando sobre a família Hanminton, lembrava-se de quando recebera o nome de Natasha, porque até os sete anos, era apenas chamada de pequena rubra.
Meneou a cabeça para se livrar daqueles pensamentos.
— Poderia ter poupado bastante trabalho, imagine, não teria que ter ido tão longe nas suas ambições se eu não estivesse aqui hoje… Poderia ter terminado com isso há muito tempo, avozinha.
Isadora ficou corada, mas disfarçou.
— Sim, se você não existisse, a Verônica não estaria morta e a família Vallares não teria sido destruída. — Aproximou-se mais. — Como você a matou? Tinham discutido? Ela descobriu dos seus casos sujos ou da sua animosidade? — Suspirou dramaticamente. — eu ouvia ela falar aos prantos sobre como tinha se casado com uma devassa, com uma mulher que não tinha nenhum tipo de moral… A Valentina sabe que você transava com outras na cama de casal? Sabe que fazia orgias regada a bebidas e drogas?
O maxilar da arquiteta enrijeceu, enquanto ela buscava mostrar aquela expressão de indiferença.
— Eu não sei, vovó, mas a senhora poderia ir até ela e falar… Acredite, a única coisa que quero é o meu filho, quanto à palhaça, você e a Nathália podem fazer bom proveito. — Levantou-se. — Aqui quem precisa do dinheiro do conde são vocês, pois eu não, minha fortuna é o triplo da deles...
— Essa criança nunca vai ficar contigo!
— Bem, vamos ver quem vai ganhar essa disputa! — Piscou se afastando.
Isadora a observou, desejando que o momento de vê-la destruída não demorasse a acontecer.
Nunca em todos aqueles anos chegou a sentir algum sentimento bom por ela, nem mesmo quando era apenas um bebê, desde que a viu, consigo nasceu também todo o ódio do universo e ele só seria saciado quando a visse morta e queimando no inferno igual ao pai.
Valentina observava a bandeja que tinha sido colocada sobre seu colo.
Não queria nada!
Não conseguia descansar e tampouco se acalmar, apenas queria ver o filho, saber se estava bem e não entendia a razão de nem mesmo poder vê-lo de longe.
Nathália e Nícolas estavam lá. Observavam-na e o pareciam preocupados.
— Deve se alimentar, amor, está fraca de tanto chorar. — A neta de Isadora disse ao se aproximar. — Está magra, pálida… Vai acabar ficando pior, não esqueça que se submeteu a uma cirurgia.
— Ela tem razão, filha, precisa se cuidar.
A morena voltou a encarar a comida, mas seus pensamentos estavam distantes naquele momento. Pensava apenas na criança que lutava para viver.
— Quero ver meu filho, papai, por favor, peça ao médico para permitir que eu me aproxime, que o veja, mesmo que seja de longe, mas não me deixe nessa agonia… Não entende como me sinto por não saber de nada… — Dizia chorosa.
O futuro conde trocou olhares com a neta da duquesa. Parecia preocupado, mas tentava disfarçar.
— Falarei! — Segurou-lhe a mão. — mas só se me prometer que vai comer… — Beijou-lhe a testa.
— Acho que está fazendo promessas que não terá como cumprir nesse momento! — Nathália o interrompeu. — Acho que a Valentina deve saber o que a Natasha fez.
Os olhos negros se mostraram confusos.
Desde que despertara não viu mais a Valerie e ficara sabendo pelo pai que a justiça a proibiu mais uma vez de se aproximar. Estava tão abalada ao saber da piora do filho que acabou não protestando quanto a isso, mesmo que o que mais desejasse naquele momento era ter a ruiva ao seu lado. Vê-la, tê-la consigo, era tão mais fácil suportar a dor olhando para aqueles olhos tão misteriosos.
Naquele momento desejou falar para o pai que amava a mulher que todos acusavam de assassinato.
Suspirou!
— O que se passa? — Questionou olhando para os dois. — O que há com a Valerie?
Nícolas respirou fundo!
Sentia-se derrotado desde que o juiz aceitou a denúncia feita pela arquiteta.
— Meus advogados já estão resolvendo isso, porém nesse momento você não pode chegar perto do bebê, deve se manter distante para que não seja punida.
A expressão da trapezista era de choque e exasperação.
— Que brincadeira é essa? — Indagou com mais força. — De que está falando? Traduza esse eufemismo!
Nathália se sentiu realizada por dentro naquele momento.
— A minha irmanzinha te denunciou, ela te acusou de ter se apossado do material genético, então a justiça te proibiu de se aproximar da criança, você não é a mãe de acordo com ela. — Colocou as mãos na cintura antes de continuar. — Com certeza está querendo criar o bebê com a Rebeka, porque eu a vi no hospital ao lado da amante.
Valentina jogou a bandeja no chão e Nícolas precisou ser rápido para segurar a filha que já buscava descer da cama.
— Calma, eu resolverei tudo isso!
A circense tentava se soltar, mas o homem buscava detê-la.
— FIlha, por favor, vai se machucar.
— Não… Maldita Natasha… — Gritava em pranto. — Eu a odeio… Odeio-a… — Soluçava. — Odeio com todas as minhas forças… Eu vou matá-la, vou matá-la… — Vociferava a plenos pulmões.
O Vallares a abraçou para lhe conter os movimentos, enquanto Nathália se regozijava diante da cena.
Os dias passavam devagar...
Já era noite quando Helena e Leonardo chegaram ao hospital.
Encontraram a ruiva na cafeteria.
O lugar estava cheio, pessoas conversavam alto, riam e outros pareciam tristes.
A arquiteta levantou a cabeça ao vê-los se aproximarem.
O casal se sentou.
— Alguma novidade? — O arquiteto questionou.
Natasha meneou a cabeça negativamente.
— Não, o médico só fala que estão fazendo tudo para salvá-lo… Mas as chances são poucas. Estou pensando em levá-lo para outro lugar, eu não sei… — Passou a mão nos cabelos. — Estou ficando desesperada… Parece um filme que não chega ao fim.
Helena colocou a mão sobre a dela.
— Não pode perder a fé… Precisa acreditar, Deus vai fazer um milagre!
— Deus? — Natasha repetiu incrédula. — Não me recordo dele ter feito algo por mim na vida!
— Não blasfeme! — A mulher repreendeu-a. — Porque a sua vida é um milagre, tudo o que viveu e como sobreviveu, então não ouse falar assim.
A ruiva tomou um pouco de café, enquanto focava a visão em outra coisa.
Ficaram em silêncio durante algum tempo, até que Leonardo voltou a falar.
— Acho desnecessário que tenha entrado com o processo contra a Valentina. — Leonardo falou. — Ela carregou essa criança por todo esse tempo, é crueldade da sua parte… Soube que ela ainda está aqui...
A Valerie umedeceu o lábio superior demoradamente, ponderando sobre tudo aquilo e tentando não sucumbir ao sentimento que sentia pela circense.
Como desejava vê-la, como ansiava por aquilo naquele momento, mas nada poderia fazer.
— Farei tudo para manter a Isadora e a Nathália afastadas do meu filho e se for preciso fazer o mesmo com a herdeira do conde, não pouparei esforços para isso.
Helena trocou olhares pesarosos com o marido.
— Não imagina o desespero dessa garota? Não se compadece? Teve um momento que cheguei a pensar que você sentia algo por ela… Mas agora desconheço isso! — Levantou-se. — Olho para você e vejo aquela menina insensível que Isadora moldou tão bem, ela quem ganhou essa guerra… Pensei que tinha sido salva… — Meneou a cabeça em decepção.
A senhora Antonini se afastou pisando duro, enquanto os dois permaneciam no mesmo lugar, fitando-se.
A garçonete se aproximou, trazia uma bandeja com chá.
O empresário agradeceu com um sorriso, enquanto bebericava a bebida relaxante.
Fitou a filha de Elizabeth e buscou naquela indiferença algo que lhe desse abertura para defendê-la.
Entendia a esposa, sabia como ela estava indignada diante daquela situação, mas ele não podia deixar de apoiar a Natasha, mesmo que condenasse suas ações, que não aceitasse esse tipo de comportamento, não poderia simplesmente abandoná-la, deixá-la sozinha.
— Eu falei com o Rick, ele está recolhendo provas contra o cara que era comparsa do marido da Nathália, um chefão, talvez o nosso ataque deva partir daí. — A ruiva começava. — Acredito que não vai demorar para que ele seja pego e não acredito que vai ficar calado quando estiver encurralado.
O mais velho tamborilava os dedos sobre o tampo da mesa.
— Espero que isso possa ser resolvido o mais rápido possível… Principalmente o assassinato da Verônica. Nícolas vai partir para cima de você com tudo depois de ter feito a queixa contra a filha dele. Isso é um verdadeiro escândalo, imagina a neta do conde está sendo acusada de algo assim.
— A Nathália que se manifeste, mas ela não fará, eu sei, é uma covarde, foi quem arquitetou todo o plano, mas não contava comigo viva… — Deu um sorriso de canto. — Vamos ver como ela vai se sair agora…
Leonardo balançou afirmativamente a cabeça.
— Eu estou triste pela Valentina… Mas entendo o seu lado…
A ruiva soltou um longo suspiro.
Uma enfermeira se aproximou da mesa onde eles estavam.
— Senhora Valerie, o doutor Arthur precisa lhe falar urgente.
A arquiteta nem esperou que ela terminasse de transmitir a mensagem, saindo em disparada da cafeteria tendo Leonardo um pouco atrás de si.
O médico estava em seu consultório.
Observava os exames que tinham sido feitos na criança e parecia preocupado.
Ligou o computador em busca de acessar o banco de sangue, mas não havia aquele tipo em nenhuma das redes hospitalares.
Quase quinze dias e nenhum progresso.
Ouviu batidas na porta.
— Entrem! — Ordenou.
A bela ruiva que reclamava a maternidade da criança adentrou o espaço.
— O que houve, doutor?
Arthur apontou a cadeira para que ela sentasse.
— Diga logo do que se trata! — Disse sem se acomodar. — Como está meu filho?
O médico colocou os papéis sobre a escrivaninha.
— Vamos precisar de uma transfusão… Precisamos que faça os exames o mais rápido possível para saber se é compatível.
— O que houve? — Indagou preocupada.
Observava o especialista já idoso. Ele era um dos melhores do país. Os cabelos totalmente brancos e a barba na mesma tonalidade parecia lhe dar mais prestígio.
— O bebê apresenta um quadro intenso de anemia… Precisamos de urgência nesse momento, mas o sangue dele é raro não foi encontrado nas nossas reservas
A Valerie arqueou a sobrancelha esquerda.
— Rh nulo?
— Sim, ele mesmo!
— Esse é o meu tipo sanguíneo, doutor, herdei do meu pai.
Arthur pareceu aliviado.
— Pois vamos fazer os exames e imediatamente vamos a transfusão se tudo estiver bem.
— Certo! — Fez um gesto afirmativo com a cabeça. — Diga o que devo fazer e farei.
Arthur se levantou.
— Venha comigo, você será a doadora.
Valentina estava na poltrona, não aguentava mais ficar na cama, mesmo que necessitasse de repouso.
Deveria ter deixado o hospital no dia anterior, mas implorou ao avô para que pudesse permanecer no apartamento, pois assim ficava perto do filho.
Seguiu até a janela, observava a vista do décimo andar.
O dia estava nublado, as nuvens cobriam o céu anunciando que logo haveria uma tempestade.
Voltou a seguir até o sofá, sentando-se.
Agradecia a Deus por ter ficado sozinha.
A presença de Nícolas e Nathália apenas a deixava ainda mais irritada. Sem falar que Isadora sempre estava a tocar no nome da Valerie. Apenas o conde parecia mais interessado em ajudá-la que em falar mal da ruiva.
Não precisa ser envenenada ainda mais contra a arquiteta, pois em seu sangue já corria o suficiente.
Ouviu batidas na porta e ficou a imaginar se era a enfermeira que sempre lhe trazia notícias do filho, mas ficou surpresa ao ver Helena entrar.
Viu o sorriso doce e se sentiu acolhida. Levantando-se devagar, recebeu o abraço da boa mulher, ficando alguns segundo ali, apenas caladas, recebendo o conforto que tanto necessitava em todos aqueles dias.
Algum tempo depois, sentaram-se.
— Perdoe-me por ter vindo assim, mas decidi que poderia enfrentar a braveza dos Vallares para lhe ver. — Tomou-lhe as mãos. — Parece tão abatida… Não deveria estar mais aqui, em sua casa se sentiria melhor, meu bem.
Não demorou para as lágrimas começarem a rolar pelo rosto da trapezista.
— Eu quero ver meu filho… A Natasha não deveria ter feito isso…
A senhora Antonini secou-lhe as lágrimas.
— Esses dias todos estou aqui, só o vi quando nasceu, nem mesmo posso acompanhar a recuperação dele… Como ela pode ser tão cruel? Por que está agindo desse jeito?
Helena assentiu.
Sabia que não tinha como defender a Valerie, mas reconhecia como ela estava lutando pela criança. Ele não deixou o hospital por um segundo sequer naquele quase um mês de tortura. Deixou de tratar de todos os negócios só para ficar ao lado do filho, como se temesse que algo pudesse acontecer se o deixasse sozinho.
— Um milagre está acontecendo, filha, logo… o pequeno Victor — Cobriu a boca que trazia um sorriso — Achei esse nome apropriado, porque é um verdadeiro herói…
A morena pela primeira vez em todos aqueles dias esboçou um sorriso.
— Quero vê-lo, por favor… — Pediu.
A senhora Antonini sabia que não deveria fazê-lo, arrumaria uma briga com a neta de Isadora, mas ao mirar os olhos tão negros cheio de tristeza, acabou cedendo.
— Venha comigo.
A morena pareceu surpresa, tinha no semblante a dúvida, mas mesmo assim, fez o que tinha sido dito.
Andava devagar, mas a senhora Helena parecia não ter pressa, conduzia-a com cuidado, ajudando-a.
Seguiram até o elevador e logo caminhavam por uma ala infantil.
Pararam diante da enorme janela panorâmica de vidro.
Os olhos negros buscavam entre os inúmeros bebês um em especial e não demorou a encontrá-lo.
Os cabelos ralos e avermelhados se destacavam, os olhinhos estavam abertos, era repuxados nos cantos, a pele branquinha. Parecia mais forte, maior…
As lágrimas se mesclaram ao sorriso.
— É o meu filho… — Disse cheia de emoção. — Ele está bem… — Fitou Helena.
A mulher colocou a mão em seu ombro.
— Agora sim…
Valentina a encarou com o cenho franzido.
— Ele precisou de uma transfusão devido a um quadro de anemia… Nasceu com o sangue raro da Natasha e devemos agradecer a Deus por isso, pois seria uma missão difícil encontrar um doador compatível.
A morena voltou a fitar o pequeno ser.
Ela sabia desses detalhes, a boa enfermeira sempre lhe narrava o que estava a acontecer durante aquele período.
— Quero chegar mais perto, pegá-lo em meus braços… — Dizia com entusiasmo.
— Você não tem permissão para isso, Vallares!
Ambas se voltaram ao ouvir a voz forte a calma da Valerie.
Natasha a encarou com aquela expressão indecifrável. Parecia desejar invadi-la, saber o que se passava em seus pensamentos.
Colocou as mãos nos bolsos da calça.
Valentina sustentou o olhar, estreitando os olhos negros, demonstrando todo seu desprazer em ver a bela mulher.
— Você não vale nada! — Disse por entre os dentes. — Foi cruel comigo quando nada fiz para merecer. — Apontou-lhe o indicador em riste. — Mas fique sabendo que não aceitarei isso assim, enfrentarei você com todas as armas que estiverem ao meu alcance.
A ruiva não pareceu se importar com a explosão, apenas a fitava, observando as olheiras que denunciavam a falta de descanso, os lábios pálidos, mas nada daquilo maculava a beleza da neta do conde.
— Irei falar com Leonardo rapidinho e já volto. — Helena disse se afastando rapidamente.
Natasha ficou a observar o filho por alguns segundos, vendo que agora ele já estava a dormir.
Desejou também tomá-lo nos braços e sentir mais uma vez aquela emoção que nunca tinha imaginado existir.
Apoiou as costas no vidro, enquanto cruzava os braços sobre os seios, encarando-a.
— Não permitirei que a Nathália, a Isadora e a sua ilustre família se aproximem do meu filho. — Falou calmamente. — Então não adianta esbravejar porque não vai adiantar nada. — Explicou calmamente.
A morena esboçou um sorriso.
— Estou começando a acreditar em tudo o que falam de você, estou quase convencida que só fui usada para levar adiante a gravidez como sua avó falou…Só que achei que tivesse mais caráter e não precisa de subterfúgios para camuflar suas ações.
A arquiteta cerrou os dentes fortemente, parecendo ponderar sobre o que estava ouvindo.
Observava o atrevimento da herdeira dos poderosos aristocratas. Não era só bonita, era forte, determinada e decidida.
Aproximou-se, segurando-a pelos ombros, mas foi rechaçada com violência.
-- Não ouse encostar em mim! -- Estendeu os braços como se buscasse se proteger. -- Já que faço parte dos Vallares, Usarei todo o poder deles para te destruir, mas não ficará com meu filho. — Esbravejou. — Ainda não me conhece, Natasha, você não tem ideia de com quem está a lidar.
-- Acho melhor que se acalme! -- Voltou a se encostar no vidro, cruzando os braços. -- Precisa lembrar do nosso plano, precisa se recordar do que combinamos. Não confio nessas pessoas.
A trapezista se aproximou, a fúria estampada em seu rosto, os olhos negros estreitados.
-- Primeiro usou essa desculpa para sair com a sua amante, agora para tirar a criança de mim. -- Acusava-a. -- Mas não se preocupe, Valerie, porque a raiva que estou sentindo não vai ser fingimento… -- Chegou mais perto, olhando bem no fundo dos seus olhos. -- Odeio você por tudo o que me faz sentir… Odeio… Odeio… Odeio… Odeio a sua maldita insensibilidade, odeio… Odeio… Odeio… — Dizia por entre os dentes.
Natasha partiu para cima dela, abraçando, segurando-lhe as mãos para não ser atingida. Detendo-lhe os movimentos, temendo machucá-la, conseguiu subjugá-la contra a parede. Usando o corpo para mantê-la cativa.
-- Odeia nada!
Era possível ouvir os grunhidos da garota, a respiração acelerada, enquanto buscava se livrar da arquiteta, mas parecia vã seus esforços.
-- Agora mais que nunca vai ter que confiar em mim, vai ter que acreditar e entender que o que estou a fazer é para proteger essa criança.
-- Mentira!
A ruiva aproximou a boca da dela, falando praticamente colada aos lábios da morena.
— Você é minha, palhacinha…
— Não… Não sou… — Negou fitando os olhos verdes. — Somos inimigas e eu irei destruí-la…
A ruiva passou a língua pelo lábio superior, enquanto os olhos negros pareciam hipnotizados com o movimento.
— Tente! — Soltou-a, mas não se afastou. — não terei piedade se ousar a me desafiar.
— Não preciso dela!
A Valerie observou os movimentos da respiração acelerada, fitando os seios sob a camisola.
Estendeu a mão, tocando o esquerdo sob o olhar perplexo da circense.
— Tem leite? — Indagou curiosa.
Valentina pareceu surpresa diante do rumo que a conversa seguia. Sentiu a face corada.
— Estão inchados…
As mãos se apossaram dos dois montes, diante do olhar estupefato da neta do conde. Ela parecia sem reação diante do toque tão íntimo.
— Bom encontrá-las aqui!
A voz de Arthur assustou-as.
Valentina se afastou.
O médico fitava as duas com atenção. Parecia surpreso.
— Vou examinar o pequeno e acho que seria interessante a presença das duas. — Disse com um sorriso. — Essa criança é um verdadeiro milagre e acredito que logo poderá receber alta.
O homem seguiu para o interior do berçário, enquanto a ruiva parecia ponderar sobre a situação.
Viu o olhar da trapezista para a criança e não teve coragem de proibi-la.
Fez um gesto com a mão para ela seguir na frente e a jovem não esperou um segundo convite.
Natasha continuou lá parada, apenas observando a alegria, buscando forças em seu interior para não sucumbir ao desejo de levar Valentina consigo.
Fechou as mãos ao lado do corpo, apertando-as forte, depois que sentiu que voltava ao controle, seguiu até onde os dois estavam.
Valentina observava ansiosa o médico terminar de examinar o pequeno bebê. Depois de alguns longos minutos, ele terminou.
— Quero que o amamente! — Apontou uma porta. — Lá vai se sentir mais confortável.
Mais uma vez os olhos negros encontraram os verdes, mas em seguida fez o que o médico disse, seguindo até o quarto.
A arquiteta se aproximou.
— Como ele está, doutor?
— Bem, acho que o pior já passou, agora só precisamos ter cuidado… — tomou delicadamente o bebê nos braços. — Foi um verdadeiro milagre ele ter sobrevivido. — Estendeu para a ruiva.
Natasha pareceu incomodada, nem mesmo sabia como segurar um ser tão pequeno, mas acabou deixando que o médico o colocasse em seus braços.
Fitou-o maravilhada, sentindo a alteração dos próprios batimentos cardíacos.
Observou a roupinha branca, as luvinhas nas diminutas mãos, as bochechas coradas.
— Leve-o para Valentina, ela vai amamentá-lo, o leite materno vai deixá-lo forte mais rápido.
A arquiteta seguiu para a outra ala lentamente e encontrou a morena sentada em uma poltrona reclinável.
Deus, como alguém podia ser tão linda?
Os olhos negros a encaravam com ansiedade. Lentamente depositou o bebê nos braços da Vallares e viu a lágrima solitária que banhava sua face.
A criança abriu os pequeninos olhos, parecia observar as duas mulheres que o olhavam com adoração.
Natasha abriu os primeiros botões da camisola da amada, expondo o seio esquerdo, Valentina a encarava, mas logo sua atenção foi tomada pelo filho que encontrava o bico instintivamente e começava a mamar, faminto.
A ruiva puxou uma cadeira, ficando de frente para os dois.
Observava fascinada a cena, como se desejasse transformar em uma obra de artes e eternizar em sua mente.
A circense a encarou.
— Deus, nem sabia qual era o sexo… — Sorriu. — Nem imaginei que ela nasceria uma semana antes de completar sete meses… Não há dúvidas que é seu filho.
Natasha estendeu a mão e ficou a acariciar os fios finos e vermelhos do pequeno.
— Precisamos pensar em um nome…
-- Que tal Victor Valerius… -- Falou apreensiva.
Os olhos verdes se estreitaram, mas logo um sorriso brotou, o mesmo que fascinava a trapezista e que raramente aparecia.
-- Victor Juan Valerius… -- Tocou a mãozinha. -- Seu nome…
A trapezista assentiu, enquanto observava maravilhada o bebê. Teve um momento que ele deixou o bico escapar da boca e logo começou a chorar, a arquiteta o ajudou novamente, mas não se afastou quando o menino voltava a se alimentar. Manteve a mão sobre o seio da circense como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Voltaram a se encarar.
— Quero saber como fará para alimentá-lo… Oh acha que a sua amante poderá fazer isso?
Natasha esboçou um sorriso cínico e logo a morena lhe empurrou a mão.
— A Rebeka é seu assunto preferido! — Sentou.
— Você acha mesmo que me importo com seu caso? Só não deixarei que meu filho fique ao lado dela, isso não permitirei.
— Você não tem que permitir nada, Valentina, eu já deixei claro como as coisas serão, apenas aceite e chega de se rebelar. — Retrucou irritada.
Estava chateada, pois neta do conde se comportava como se toda aquela situação não fosse difícil para si.
Ouviram passos e logo Arthur se aproximava.
— Em dois dias liberarei esse ilustre paciente… — Observou-o se alimentar. — E você, senhorita Vallares, tem muito leite, deve estar presente para tornar essa criança forte.
O maxilar da ruiva enrijeceu, enquanto ela se movia na poltrona.
Valentina apenas sorriu, sabendo que a ruiva teria que ceder ou a guerra seria grande e não pouparia esforços para ficar com o filho.
Aaah.
ResponderExcluirNos dê outro capítulo... Por favor!
ohhhhhh já postei um novo... e esse é maior, meu bem, então perdoe se não o fiz antes.
ExcluirCapítulo surpreendente , acho q Natasha agora vai perceber e ver uma família verdadeira se formando e neste caso haverá reciprocidade e ela não resistirá ...eles são lindos juntos imagino Natasha , Valentina e o Bebê felizes ...nos proporcione um pouquinho esses momentos até se resolver estás questões c a irmã ambiciosa e a vó odiosa!
ResponderExcluirParabéns, escritora beijos !
Meu bem, eu não garanto nada viu, porque você sabe bem como é a personalidade da ruiva, sem falar que Valentina não costuma baixar a cabeça, ou seja, teremos uma guerra entre elas, mas quem sabe esse amor não fala mais alto....
ExcluirBeijão.
Olá autora.❤️
ResponderExcluirA Natacha tem todas as razões para não querer o seu filho perto dessa gente odiosa.
O pior que esse impasse não anda,e as malditas ambiciosas não se dão mal,essa bruxa velha so sabe falar mal da Natacha.
Espero que o detetive descubra logo que quem matou a Veronica foi a Nathalia com a ajuda da bruxa.
A Valentina uma hora vai descobrir essa teia de mentiras,mas ela tem razão em está triste,pois não se separa uma mãe do filho.
Natacha te amo ❤️.
Beijos autora.🌼
sim, verdade, a ruiva tem todos os motivos, mas diante disso acaba se chocando com a Valentina. A circense não vai aceitar as coisas da forma que estão, irá enfrentá-la e não temerá fazê-la sua inimiga. Isadora e Nathália jogam nas sombras, mas são perigosas e podem fazer muito mais mal que imaginamos.
ExcluirUm beijo.