Dolo ferox -- Capítulo 31
Valentina parecia encantada, enquanto Helena lhe ajudava a banhar o filho.
O banheiro grande fora montado para que pudesse dar todo o conforto. A banheira azul e branca ficava bem apoiada em uma banqueta. A claridade natural ajudava na boa iluminação do espaço.
O contato de Victor com a água fora sofrido como todos os dias. A pequena boca esbravejava, enquanto ficava tão vermelho que se igualava a cor dos seus ralos cabelos.
A circense pareceu desnorteada, tomando-o nos braços, acalentando-o, enquanto Helena observava a cena encantada.
Mais um tentativa, dessa vez ela batia as mãozinhas, salpicando água em sua mãe.
As duas mulheres gargalhavam diante da braveza miúda.
Helena entregou um patinho amarelo que apitava ao ser pressionado e aquilo distraiu o pequeno.
A morena lhe jogava água devagar, enquanto ele brincava com o brinquedo. A jovem o segurava com cuidado, encantada com o ser que fora gerado dentro de si.
— Ele está mais forte… Ai… Está escorregadio… -- Ria.
Helena o tirou da água, enquanto circense pegava a toalha azul, que parecia uma fantasia de urso, arrumando-a na cabeça do filho, depois enrolou-o, tomando-o nos braços, abraçando-o.
— Está com fome, meu amor? — Beijava-o. — Precisa se alimentar muito bem para poder ser uma criança saudável… -- Aspirou o aroma dele. -- Que cheirinho mais gostoso. -- Fitou a senhora Antonini. -- Queria levá-lo comigo… -- disse em uma suspiro sofrido.
Os olhinhos verdes apenas a olhava com aquela curiosidade, pareciam encantados com bela Vallares..
— Você se molhou toda, filha! — A mais velha a repreendia a repreendia. — Melhor que se banhe e vista o roupão até que suas roupas sequem.
Realmente os trajes elegantes que a neta do conde usava estavam ensopados.
— Não, primeiro o amamento, depois faço isso. — Piscou. -- Não quero perder um só segundo!
Deixaram o banheiro, seguindo para o quarto.
Ao entrarem nos aposentos, as expressões das duas mulheres demonstravam total perplexidade ao verem Natasha Valerie sentada com as pernas cruzadas na poltrona,exibindo aquela expressão de déspota.
A neta de Isadora chegara há uns quinze minutos. Tinha estranhado a casa tão vazia, então subiu ao quarto do filho e notou que estava tomando banho, seguiu até a porta e já a abria quando ouviu a voz da neta de Nicolay, o som rouco do riso. Desejou ir até lá, tomar satisfação, porém apenas ficou a ouvir e imaginar que aquela cena fazia parte da rotina das duas… Mas logo ficou exasperada ao perceber que suas ordens tinham sido desobedecidas, então seguiu até a poltrona, sentando-se e esperando pacientemente a volta das duas.
Tamborilava os dedos sobre o braço do sofá. Uma faixa tinha sido colocada na mão direita, devido aos machucados.
Encarava as duas mulheres, enquanto via o filho parecer tão a vontade nos braços da circense.
Observava com atenção a bela mulher que tinha o rosto todo molhado, os pés descalços, os fios soltando-se do penteado que antes estava impecável. As bochechas estavam rosadas, as roupas caras estavam encharcadas, deixando ver mais do que desejava, como se ao invés de banhar o bebê, tivesse entrado na banheira junto com ele.
Viu a blusa molhada mostrar o sutiã...
Fitou a expressão consternada de Helena.
— Então, eu sou traída em minha própria casa e pela pessoa que jamais imaginei que faria algo assim… — Dizia com pouco caso. — Realmente a duquesa sempre esteve certa ao falar que não deveria acreditar em sentimentos dos outros em relação a mim.
A morena deu um passo para frente, altiva, começou a explicar:
— Ela não tem culpa, Natasha, eu praticamente a obriguei a agir assim…
— E quem te deu permissão para falar? — A ruiva indagou baixo, de forma controlada, interrompendo-a. — Você fica caladinha, assim fica mais bonita. — Cruzou as pernas. — Bem, Helena, estou esperando uma explanação.
Valentina suspirou, enquanto segurava o filho, sentindo-o tão tranquilo sem imaginar o que se passava naquele momento.
Respirou fundo, pois não podia esbravejar naquele momento para não assustar Victor que parecia tão distraído.
— Eu não poderia deixar essa criança assim… O médico falou que ele necessitava do leite materno… — A esposa de Leonardo se justificava. — Jamais quis ir contra suas ordens, mas precisa entender que em alguns momentos sua inflexibilidade pode causar grande mal.
Natasha encarava a mais velha, mas algo lhe chamou atenção. O pequeno Victor já parecia buscar os seios da Vallares.
Fitaram-se e a futura condessa desviou o olhar.
— Pelo que vejo, não seria essa a primeira vez… — Levantou-se. — Sente-se, senhorita, amamente-o, pois ele não tem culpa de você tê-lo acostumado assim.
A morena voltou a encará-la durante alguns segundos, demonstrando toda sua revolta com a situação, sentiu a face corar diante do intenso olhar, mas acabou fazendo o que ela ordenou.
Lentamente ajustou a roupa e logo a pequena boca se apossou do seio inchado.
Trincou os dentes, pois estavam doloridos. Viu a ruiva se aproximar, observando com atenção a ação do filho que parecia faminto.
Não acreditava que Helena teve a ousadia de tramar pelas suas costas, nem mesmo acreditava que a herdeira dos Vallares estava ali. Depois de tudo, a tinha diante de si e em seu interior desejava destruí-la aos pouquinhos.
— O que se passou com a sua mão? — A senhora Antonini questionou se aproximando.
A Valerie arqueou a sobrancelha esquerda em desafio, mas pareceu não surtir efeito, pois a mais velha se aproximou, tomando-lhe o membro e observando.
— Machucou-se como? — Questionou encarando-a com reprovação. -- Foi ao médico?
— Não tenho que dar explicações, Helena, não me venha com suas preocupações nesse momento.
Valentina fitou as duas com pesar.
— Já disse que ela não teve culpa do que aconteceu…
— E eu já mandei você calar a boca porque não quero ouvir sua voz! — Interrompeu-a bruscamente.
— Pois é uma pena porque eu não tenho nenhuma intenção de me calar… — Retrucou calmamente, fitando-a. — Se deseja culpar alguém, estou aqui para fazê-lo, mas não me venha com sua prepotência, pois ninguém está aqui para te aguentar, então guarde a sua arrogância para usar em outro lugar.
A mulher de Leonardo arregalou os olhos diante da ousadia da circense. Fitou Natasha e viu ela semicerrar os olhos escurecidos.
— Acho desnecessário que chegamos a uma discussão! — A senhora Antonini se aproximou, ficando entre Valentina e a ruiva. — Reconheço que erramos ao fazermos algo que você já tinha proibido, mas entenda que estávamos pensando no bem do Victor. Filha, você sabe que ele necessitava do leite materno, o médico tinha deixado claro isso, pois seria mais fácil para se recuperar… Veja, olhe-o como parece forte, como está corado…
A arquiteta nada disse, permanecendo calada, enquanto se afastava deixando o quarto.
Valentina ouviu o suspiro de alívio da mulher que foi para perto dela, puxando uma cadeira, sentou-se a sua frente.
— Você a desafia até o limite… Deus, eu nunca vi alguém fazendo algo assim...
— Apenas não aceitarei que aja como se tivesse o rei na barriga… Não tenho medo dela!
Helena fitou a criança que comia sem a menos imaginar o que se passava entre as duas mulheres.
Segurou-lhe a mãozinha.
— Termine de amamentá-lo e depois vá embora, eu me resolvo com a Natasha, conheço-a bem, sei que nesse momento não vai adiantar nada enfrentá-la, ela vai apenas destilar sarcasmos e você vai perder a paciência.
— Não tenho motivos para sair fugindo, se ela quer esbravejar que o faça… Honestamente, sei que gosta muito da Valerie, mas que ela merece um bom tapa naquela cara cheia de arrogância, isso ela merece. — Olhou com pesar para a criança. — A única coisa que lamento é que não poderei mais vim aqui, não enquanto eu não tiver uma autorização judicial para isso. — Inclinou a cabeça, encostando a testa ao do filho. — Mamãe promete que não vai demorar a retornar… — fitou Helena com os olhos rasos de lágrimas. — Cuide dele e me desculpe por ter arrumado todo esse problema.
— Não se preocupe, querida, eu mesma me responsabilizarei por ele e quando a raiva da Nath passar, você voltará.
A morena trocou o filho de seio e achou engraçado que ele fez biquinho para chorar.
— Calma, meu bem, aqui tem muito mais!
— Ele vai sentir falta à noite.
— Tirarei para que o alimente.
Helena assentiu, levantando-se. Indo em busca de roupas para vestir a criança.
Valentina continuou lá, apenas observava o pequeno e não demorou para os olhinhos de fecharem. Logo adormeceu.
Desejou ficar ali com ele para sempre, apenas fitando-o aconchegado em si.
Jamais perdoaria a crueldade da arquiteta em proibi-la de se aproximar, pois nada justificava algo tão miserável.
— Deixe-me levá-lo ao berço, mas antes preciso colocar uma fralda. — A mulher se aproximou.
A morena assentiu, levantando-se, levou o garoto até o trocador e ela mesma vestiu-o, em seguida, levou-o até o berço, colocando-o delicadamente lá. Sentiu um aperto no coração sabendo que teria que ir e que não sabia nem mesmo quando voltaria a vê-lo.
Nathália estava na ala da academia na mansão Hanminton.
Fazia agachamento, enquanto fitava o espelho.
Sentiu as mãos pousando em sua cintura. Sorriu, enquanto encarava a morena de cabelos negros, admirando a beleza de ancestrais indígenas.
-- Agacha mais um pouco… -- Sussurrava em seu ouvido. -- Sei que consegue muito mais que isso!
-- Se a minha avozinha ouvir vai imaginar coisas horríveis de nós duas… -- Roçou o bumbum na personal. -- Fale-me, Helo, você gostaria de fazer umas horas extras? -- Virou-se para ela, abraçando-a pelo pescoço. -- Preciso de uma funcionária… Mas não vai trabalhar aqui…
A porta se abriu e a duquesa apareceu espevitada. Na face trazia uma máscara verde de pepino, usava um roupão rosa bordado de dourado atoalhado e os cabelos estavam cobertos por uma touca.
Olhou com reprovação para a neta e a acompanhante. A moça se despediu, deixando o espaço. A morena deu de ombros, voltando a se exercitar.
-- Vai se distrair do seu propósito? -- A velha questionou com as mãos na cintura. -- Hoje teremos um jantar e espero que já marque a data para concretizar seu compromisso com a trapezista.
-- Não sei o motivo desse escândalo todo! -- Nathália pegou a toalha e começou a secar a face. -- Meu relacionamento com Valentina está ótimo! Nícolas já deixou claro que deseja que concretizemos os planos de um casamento.
-- Você realmente não acredita quando digo que houve alguma coisa entre a trapezista e a Natasha! -- Entregou-lhe um envelope.
A morena hesitou em receber, mas logo o fez. Leu-o e em seguida o amassou jogando no chão.
-- Falarei com o Vallares, ficaremos lá com eles… Mas logo a minha irmanzinha não poderá se meter em mais nada… Vou me livrar da Natasha o mais rápido possível, estou cansada desse miserável! -- empurrou para longe o banquinho que estava usando na malhação. -- Você é a culpada de tudo isso, poderia ter jogado a miserável nos rochedos quando nasceu. -- Falou irritada. -- Mas permitiu que ela se tornasse esse demônio que é nas nossas vidas.
A duquesa se aproximou a expressão de raiva tinha sido substituída por uma de pesar.
Estendeu a mão, acaricou-lhe os cabelos.
-- Sim, filha, eu sei que é minha culpa, mas prometo que dessa vez a Valerie será tirada do seu caminho… -- Falava emocionada. -- Eu te amo, meu anjo, e lutarei para que seja feliz… Será a duquesa e terá a fortuna dos Vallares. -- Abraçou-a. -- Já falei com o Nícolas, contei-lhe sobre minhas desconfianças, ele ficou horrorizado, vai nos ajudar… -- Segurou-lhe a face. -- Você terá tudo, será a maior entre todos, eu juro!
Nathália assentiu, enquanto se deixava ser abraçada.
Valentina descia as escadas lentamente. A cabeça estava baixa, tinha chorado ao se despedir do filho, pois estava quase certa que agora seria uma verdadeira guerra para conseguir se aproximar da criança novamente.
Esperava que a justiça pudesse ser feita rápido. Naquele mesmo dia voltaria a falar com o advogado, imploraria para que ele conseguisse uma ordem para que ela pudesse se aproximar do bebê.
Abriu a bolsa e pegou o celular.
Estava descarregado!
Suspirou alto!
Chegou ao térreo e viu a expressão consternada de Helena que segurava a maçaneta da porta.
-- O que se passa? -- Perguntou preocupada. -- Aconteceu algo?
A mulher de Leonardo encarou a circense. Ficou a pensar o que deveria dizer, pois sabia que os ânimos esquentariam ainda mais naquele momento. Deu um sorriso nervoso.
-- Eu não sei, acho que a chave não está aqui… Vou ver se a encontro em outro lugar.
Já passava pela morena, mas foi detida delicadamente pelo braço.
-- A Natasha trancou essa porta, não é isso? -- Indagou impaciente, mirando-a.
-- Filha, eu não sei, não vi, pode ser que tenha deixado a chaves em outro lugar… Não podemos julgar sem termos provas.
A neta do conde respirou fundo, soltando a mulher.
-- Pois você procura aqui, mas para que não perdamos muito tempo, irei até a toda poderosa perguntar sobre o assunto, quem sabe ela não engoliu as chaves e esteja precisando de ajuda nesse momento. -- Relanceou os olhos em ironia.
A senhora Antonini nada pode fazer diante daquilo, apenas rezando para que sua absurda história tivesse algum fundamento.
Natasha seguiu até o quarto. Estava com tanta raiva de Valentina que chegava a se igualar ao desejo que queimava em seu interior.
Deitou-se na cama pesadamente, mantendo os pés para fora, enquanto cobria os olhos com o braço.
Precisava recuperar o controle e a frieza de lidar com a situação, pois o que se passava naquele momento não se equiparava a tudo o que já viveu e tinha enfrentado tudo com serenidade. Raramente alguma coisa lhe abalava. Diante dos castigos físicos e psicológicos que passara a infância e adolescência recebendo da duquesa, aprendera a mascarar as emoções através da expressão de sarcasmo e indiferença que exibia para todos, porém quando a trapezista estava envolvida, tudo parecia desmoronar.
Fechou os olhos enquanto massageava as têmporas.
O que a palhaça de circo tinha que conseguia seduzir a todos? Até mesmo sua fiel Helena lhe traíra, enganara-a, passara por cima de suas ordens para ajudar a neta de Nicolay.
-- Maldita seja um milhão de vezes! -- Praguejou, enquanto se levantava.
Despiu-se lentamente, deixando as roupas caídas pelos chão e logo seguia até o banheiro.
Parou diante do espelho que ocupava grande parte do cômodo.
As paredes de ladrilhos preto e branco enfeitavam o ambiente. Tudo parecia em seu lugar, perfeitamente arrumado nas gavetas e nos armários que se encaixavam a parte de baixo da pia preta que ocupava todo o ambiente.
Estendeu a mão, observou as bandagens que cobria… Depois livrou-se delas.
Cerrou os dentes!
Olhou para o box, mas a banheira em porcelana negra estava pronta para ser usada. Até mesmo um balde de gelos com uma champanhe tinha sido posto.
O recipiente retangular era espaçoso e muitas vezes já fora usado para lhe aliviar as dores da perna ou até seus desejos sexuais.
Talvez necessitasse de sexo para relaxar...
Acabou seguindo até a hidro, afundando-se na água gelada.
Valentina subiu as escadas correndo, sentindo os saltos afundarem no carpete. Seu coração batia tão acelerado que era possível ouvi-lo. A neta do poderoso conde estava dominada por uma grande fúria que não a fazia se recordar de que há pouco mais de dois meses tinha feito uma cesária e que não deveria se esforçar tanto assim.
Parou ao chegar ao longo corredor. Fitou demoradamente a porta do quarto da arquiteta.
Sentiu um arrepio na espinha...
Aquela mulher destruía sua paz...
Quem pensava ser Natasha Valerie?
Uma maldita arrogante que parecia achar que poderia fazer o que quisesse, sem a menos pensar nas consequências que deveria enfrentar por suas ações... Isso que ela era!
Respirando fundo, adentrando o espaço sem bater!
O cheiro dela parecia tão forte ali que chegava a lhe deixar sem fôlego. Observou as roupas no chão… Observou a lingerie vermelha em renda…
Prendeu a respiração... Passou a mão pelos cabelos soltos, arrumando-os em um gesto nervoso. Agachou, passando a mão pelo sutiã… Sentindo a delicadeza da peça... E lembrando como se moldavam perfeitamente aos seios redondos... depois foi a vez da calcinha... Minúscula... Sensual...
Sacudiu a cabeça, tentando se livrar dos conflituosos pensamentos que pareciam querer dominá-la.
Observou a porta do banheiro por alguns segundos, enquanto ainda tinha no tato a delicada peça.
Precisava se livrar daqueles sentimentos conflituosos… Não poderia continuar a desejar alguém tão cruel, pior, não poderia continuar a amá-la.
Apertou forte a calcinha, depois jogou-a longe em raiva.
Levantou-se exasperada, enquanto seguia para onde sabia que a encontraria. Segurou a fria maçaneta durante alguns segundos e depois entrou.
A neta de Isadora parecia ter saído dos seus sonhos mais perversos, era como se tivesse sido criada de forma calculada para poder causar aquele impacto tão grande em si.
Os olhares se encontraram! O da circense com a indignação que fora guardada durante longos dias, enquanto o de Natasha exibia o característico arquear de sobrancelha carregado de sarcasmo e um meio sorriso nos lábios vermelhos.
Só naquele momento a morena percebeu como a odiosa arquiteta estava tão confortavelmente relaxada na banheira. Os cabelos ruivos estavam presos em um coque no alto da cabeça, alguns fios lhe caiam sobre a face. As maçãs do rosto pareciam ainda mais rosadas. A boca carnuda entreaberta, deixando os dentes alvos à mostra.
Sob as espumas branca, os seios se sobressaiam no ritmo da respiração. Via-se os mamilos rubros aparecerem e desaparecerem em um ato hipnótico. Os joelhos estavam dobrados, as coxas torneadas apareciam em perfeição, tentando o mortal mais forte a resistir a tanta sensualidade. Suas mãos chegaram a formigar, ansiando por tocá-la. Fechou-as fortemente, sentindo-as ferir as palmas da mão.
Abriu a boca para falar algo, mas as palavras não vieram. Teve a impressão que algo estava preso em sua garganta,impedindo-a de pronunciar um mísero som. Umedeceu os lábios e novamente tentou, conseguindo dessa vez:
-- Onde está a chave da porta? exijo que a destranque para que eu possa ir embora! -- Exigiu sem enrolações.
Natasha não parecia se abalar com a inquisitiva, simplesmente pegou a esponja e começou a passá-la pelo pescoço delicadamente. Fazia-o sem pressa, enquanto encarava a bela morena que fazia seu corpo queimar, acendendo-a automaticamente.
-- Você passa por cima de uma ordem judicial, vem até a minha casa, aproxima-se do meu filho e ainda tem a cara de pau de me exigir algo… -- Começava agora a limpar os seios. -- Vai ser uma condessa a altura! -- Desdenhou. -- Só que eu te acho ainda pior que todos os Vallares.
Os olhos negros se estreitaram perigosamente, enquanto dava mais alguns passos, apontou-lhe o indicador em riste.
-- Ele é meu filho também, então sua proibição não tem nenhum fundamento. -- Tomou fôlego. -- Vim amamentá-lo, cuidar dele, caso não fosse pelo Victor, nunca você voltaria a me ver!
-- Pois bem! Eu te acho de uma coragem admirável, agora basta que esperemos os policiais chegarem e você fala esse mesmo discurso para eles, assim explica a invasão a minha residência.
A trapezista se distraiu com o movimento do colo desnudo. Sentiu a face arder. Voltou a encarar os olhos verdes.
Deus, como podia ser tão distinta da irmã quando eram gêmeas idênticas?
Olhou o relógio que descansava no delicado pulso. Naquela noite haveria um jantar com a namorada e a duquesa.
-- Valerie, não me tire a paciência que eu não tenho! -- Arrumou os cabelos que estavam novamente soltos. -- Dê-me essa bendita chave! -- Ordenou. -- Já deixou bem claro que não me desejar aqui, então se poupe da minha presença!
-- Parece muito ansiosa, palhacinha, não me diga que tem um encontro com sua namoradinha, a futura duquesa.
Valentina cruzou os braços sobre os seios.
-- Sim, eu tenho e não é da sua conta!
A ruiva estendeu o braço, pegando a garrafa de champanhe, levou-a boca, bebendo no próprio gargalo. Bebia lentamente, saboreando a bebida, mas não deixava de encarar a bela mulher que a olhava com uma fúria crescente.
-- Um brinde a união da futura condessa com a herdeira da miséria dos Hanmintons. -- simulou um brinde com a garrafa.
-- Obrigada, prometo mandar as fotos do casamento, porque jamais a convidaria para o enlace.
A ruiva esboçou um perigoso sorriso, mas o humor não alcançava os olhos.
Os dedos longos passeavam pela abertura do vasilhame como se aquilo fosse uma coisa que lhe exigisse grande atenção.
-- Diga-me… É verdade que a Nathália é tão educada que nunca passou as mãos por esse seu lindo corpinho. -- Mordiscou a lateral do lábio inferior. -- Porque eu quase não acredito em algo assim...pois eu mesma, desde que comecei a sentir meu sengue queimando de desejo, não consigo me contentar com tão pouco.
A morena parecia indignada diante das provocações, sentindo o ciúmes se manifestar em seu interior, mas sabia que não deveria ceder ao descontrole.
-- Sim, Natasha, a sua irmã é uma dama em todos os sentidos, diferente de você. Mais uma vez eu repito, o maior erro da sua avó foi não ter te dado pelo menos educação. -- Arrumou os cabelos por trás da orelha. -- E sabe de uma coisa… A mim não interessa sua pouca vergonha… Nem sua safadeza!
A ruiva gargalhou.
-- Pouca vergonha? -- Passou a língua pelo lábio superior. -- Eu não acho que seja…
A arquiteta voltou a pegar a garrafa e com o movimento, os seios ficaram totalmente expostos durante alguns segundos.
Valentina sentiu um frenesi passar por sua espinha. Baixou os olhos, ato que foi acompanhado pela mãe do pequeno Victor.
-- Nossa, está tão corada diante da minha nudez que parece uma donzela… -- Disse desdenhosamente, enquanto bebia mais um pouco da bebida. -- Pura… -- Desdenhou.
-- Para outra eu ainda posso ser! -- Provocou-a. -- Afinal, deve-se levar em conta a alma também e a sua irmã será altruísta para entender esse deslize… Agora me dê a chave ou colocarei aquela porta abaixo.
Natasha aliviou a pressão na garrafa, pois recordou que uma mão já estava machucada.
Mirou os olhos negros intensamente como se desejasse invadi-los. Desejou ir até ela, apertá-la forte, possuí-la como um animal selvagem que só desejava saciar a fome por sua carne. Odiava aquela fraqueza, pois era como se seu corpo ganhasse vida diante dela. Os seios estavam doloridos, ansiavam pelo toque como o latejar do seu próprio sexo.
Bebeu mais um pouco.
-- Você não sairá daqui, eu mesma não permitirei! -- Falou por entre os dentes.
-- Não pode me prender! -- Bradou sem paciência. -- Chamarei a polícia e te acusarei de cárcere.
-- Não precisa chamar, ela já vai chegar!
Valentina já abria a boca para protestar quando viu a mulher deixar a garrafa de lado, levantando-se em seguida.
Sentiu uma letargia, tendo a visão embaçada por alguns segundos. Sentiu as pernas fraquejarem, enquanto um estremecimento passava por si. Percebia a umidade da calcinha, o tecido decerto estava encharcado naquele momento.
“ Meu Deus, como podia querê-la ainda depois de tudo o que foi feito?”
Desviou o olhar por alguns segundos, mas logo voltou a mirá-la.
Tinha quase certeza que a neta de Isadora não era um ser humano igual aos outros.
Os seios pareciam ainda mais redondos. A pele branca eram enfeitadas por sardas. A cintura fina, a barriga lisa… O umbigo… Os quadris redondos… E lá estava o tentador triângulo… Teve a impressão que a boca enchia de água...
Fechou os olhos com força, pressionando-os, pois sentiu os espasmos que pareceram sacudir seu corpo de cima a baixo.
Voltou a lhe encarar.
-- Você é a mulher mais desavergonhada que eu já tive o desprazer de conhecer. -- Pegou a toalha, jogando-a contra a ruiva.
Natasha desviou do tecido que quase lhe acertava a face, segurando-a.
-- Você é muito gentil, meu amor, eu estava mesmo querendo me secar para não pegar uma pneumonia. -- Enrolou o corpo. -- O que seria de mim sem você?
-- Valerie, eu não estou com tempo para os seus deboches. -- Gesticulava, enquanto falava. -- Ou você vai até lá abrir, ou me dá as chaves ou eu te arrasto até lá… E te arrastarei pelos cabelos!
A arquiteta saiu da banheira, caminhando lentamente até ela. Parou bem próximo, mirando-a.
Ambas tinham quase a mesma altura.
-- Está tremendo, palhacinha… -- Tocou-lhe o queixo. -- Não irei atacá-la…Pelo menos não por enquanto… -- Desceu o indicador até a veia que pulsava em seu pescoço. -- Parece um passarinho a ponto de ser abatido por um predador selvagem.
A filha de Nícolas inspirou o aroma do corpo feminino, o cheiro da champanhe saia dos seus lábios e parecia tão gostoso que desejou provar.
-- Por que você age assim? -- Questionou com voz rouca. -- Por que não pode ser diferente?
A ruiva umedeceu os lábios demoradamente e já inclinava a cabeça para beijá-la, mas a morena espalmou as mãos em seus seios, detendo-a.
Fitararam-se!
-- Quero você… -- Natasha lhe segurou as mão, fazendo-a acariciar seu colo. -- Estou perdendo a paz por sua culpa. -- Passou a língua pelo lábio superior. -- Dê um pouco de alento a minha alma…
A toalha caiu e logo a circense estava diante do corpo despido com os olhos arregalados.
Já olhava para a porta pensando em deixar o lugar, mas as mãos começaram a deslizar pelos seios, pareciam que tinham ganhado vida. Sentia a maciez, usou o polegar para incitar os biquinhos rosados, pressionando-os, apertando-os, enquanto a arquiteta estreitava o olhar.
Sentiu o sexo implorar por ela... Seu ventre doía... Tentou controlar a respiração diante do olhar pidão.
-- Achas mesmo que depois de tudo vou satisfazer sua safadeza? -- Arqueou a sobrancelha em surpresa. -- Me proibiu de ver meu filho, travou uma guerra para não me deixar aproximar e agora me fala em desejo? -- Interrompeu a carícia, cruzando os braços sobre os próprios próprios seios. -- Quero apenas que me deixe em paz agora!
-- Então vai continuar o castigo! -- Afirmou com o maxilar enrijecido. -- Encontrei você em minha casa quando estava proibida, posso chamar a polícia e estampar essa sua cara bonita em todos os jornais, imagina que publicidade para os poderosos Vallares, mas não o fiz, estou aqui tentando manter a calma e você não cede... Só quero que nos entendamos...
-- Cínica! -- Acusou-a. -- Na verdade você está querendo saciar sua safadeza… O que é? A Rebeka não tá sabendo fazer? -- Sorriu incrédula. -- Só falta querer que eu dê para você para me deixar ir embora!
-- Você morre de ciuminho dela né? -- Provocou-a. -- Sei que me quer… eu sinto isso no seu cheiro… Aposto que a ideia da troca sexual é sua… Quer barganhar assim?
A morena cerrou os dentes, enquanto encarava os olhos verdes.
-- Deixe-me ir embora… Nunca vamos nos entender… Nem em mil anos.
Natasha lhe segurou a face com ambas as mãos e antes que houvesse mais protestos, beijou-a.
Valentina tentou não ceder, mas a forma apaixonada que foi tocada não lhe deixou escolhas a não ser permitir-se.
Com os braços caídos ao lado do corpo, experimentava a sedução da carícia.
A arquiteta parecia não ter pressa, enquanto provava dos lábios macios. Movia-se com cuidado, sentia-os como se precisasse desvendá-la, descobrir o que realmente se passava no interior da mulher que mexia demasiadamente com a sua cabeça.
A jovem circense se deixava guiar por aquele caminho deliciosamente tortuoso, que se apresentava como um verdadeiro desafio entre o não-querer e o não suportar se manter longe... O gosto dela mesclado ao álcool, a paixão que parecia incompatível com a frieza.
A morena sufocou um gemido quando as línguas se encontraram. Mais uma vez um tremor a sacudiu. A forma como Natasha parecia saber o caminho que seguir, a forma que chupava-a era injusta, pois não lhe dava nenhuma chance de defesa.
Sufocou um gemido...
Abraçou-a pela cintura, trazendo-a mais para perto de si, adorando a sensação de mais uma vez poder tê-la daquele jeito. Seus seios reagiam, mesmo diante do tecido e do sutiã... Sentiu-a esfregar a si como uma gata no cio e desejou terminar com aquela agonia. Mexeu o quadril de encontra a ela, desejando que a saia sumisse...
O beijo se aprofundou mais e mais, enquanto os corpos já pareciam entregues ao desejo.
A ruiva que interrompeu o contato, fitando a bela trapezista que ainda mantinha os olhos fechados, mas aos poucos, abriu-os, encarando-a com uma espécie de temor.
-- Diga-me, minha linda palhacinha, o que farei contigo? -- Encostou a testa na dela. -- Vou do céu ao inferno em frações de segundos, é como se o bem e o mal estivesse entre nós.
-- Deixe-me ir embora… -- A jovem disse com voz rouca. -- Não há nada que possamos fazer…
A Valerie meneou a cabeça negativamente, enquanto seguia totalmente despida até o armário, pegou um roupão preto, vestindo-o, amarrou-o na cintura.
-- Não irá a lugar nenhum! Ficará aqui, afinal, você invadiu a minha casa, então não tenho obrigação de fazer o contrário. -- Seguiu até o espelho, observando o próprio reflexo.
As bochechas estavam ainda mais rosadas, a boca meio inchada.
Fitou a morena aparecer atrás de si.
Era a mulher mais linda que já viu em sua vida.
-- Quer mesmo colocar mais lenha nessa fogueira? -- Valentina questionou exasperada. -- Meu pai vai mover céus e terras para te destruir.
-- Diga-me onde está a novidade nisso… Ele sempre vai fazer…
-- E você não faz o mesmo? -- Chegou mais perto.
A ruiva ficou em silêncio durante alguns segundos, mas não demorou para o rosto bonito aparentar novamente a imparcialidade e inflexibilidade costumeira.
-- O que vai fazer? -- Encarou-a pelo reflexo. -- Vai casar com a minha irmanzinha? É isso que pretende fazer?
-- Ela não é uma opção ruim, ao contrário disso, Nathália se mostra cada vez mais digna de mim.
-- Você é uma idiota! -- A arquiteta disse, deixando o banheiro.
Nicolay seguia a observar os preparativos do jantar. Sua bengala batia no assoalho com firmeza.
Os serviçais pareciam em euforia, correndo para deixar tudo pronto rapidamente.
A mesa de doze cadeiras estava sendo decorada com esmero.
-- Hoje tudo vai sair maravilhosamente bem! -- Nícolas se aproximou chamando a atenção do pai.
-- Acha mesmo que isso é uma boa ideia? -- O conde indagou calmamente.
-- Como não seria? -- O pai da circense observava todos os detalhes. -- Quero que a minha filha assuma compromisso logo com a Nathália.
-- Não acha estranho essa coisa de mulher namorar com mulher? -- O patriarca se sentou. -- Por que ela não poderia se interessar por um homem? -- Soltou um longo suspiro. -- Não entendo isso… É estranho, mas nunca me meti quando a Verônica teve esse interesse, mas…
-- Bem, papai, eu só quero que a Valentina fique o mais longe possível da Valerie, tenho medo que se aproximem.
O velho fitou a bengala, observando-a como se fosse a coisa mais interessante do mundo, ponderava como se tivesse todo o tempo do mundo.
-- O que há entre a Natasha e a Valentina?
-- Eu não sei! -- O homem passou a mão pelos cabelos. -- Isadora me disse que acha que houve alguma coisa entre elas… Isso está me deixando louco! Por isso da minha pressa em que a Nathália case com a minha filha… Quero que saiam do país…
Nicolay parecia não ter ouvido o resto, focado apenas em uma informação.
-- Valentina com a Valerie… -- Falou baixinho, parecia dizer só para si.
Valentina ainda parecia chocada!
Encostou-se a pia do banheiro, enquanto buscava controlar a respiração.
Aquilo era o maior absurdo de todos. Como não podia deixar a cobertura?
Se ligasse para o pai seria um verdadeiro escândalo, pois não duvidava que Natasha cumprisse a promessa de chamar a imprensa e a polícia.
Cruzou os braços sobre os seios!
Precisava deixar aquele lugar, antes que sua ausência começasse causar estranhamento na mansão Vallares.
Observou a toalha que estava no chão. Seguiu até ela, pegando-a...Sentiu a maciez do tecido e logo levou-a ao nariz, aspirando o cheiro daquela irritante mulher.
Seu corpo ainda estava em fogo e teve que lutar com todas as forças para não ceder a vontade de senti-la mais uma vez.
Ouviu passos e foi até o quarto, mas quem estava lá era Helena.
-- Imagino que não conseguiu nada com a Natasha… -- A esposa de Leonardo falou já sabendo.
-- Disse que vai me manter presa… Que vai chamar a polícia… Afffzzz… Nem sei o que fazer! -- Arrumou os cabelos. -- Onde ela está?
-- Foi até o quarto do bebê e depois seguiu até o escritório.
-- Farei mais uma tentativa…
A senhora Antonini apenas assentiu, vendo-a deixar os aposentos.
Não havia dúvidas que entre as duas mulheres existia uma relação muito estreita, estava claro isso, mas qual delas cederiam primeiro e deixariam o orgulho de lado?
Que complicado...
ResponderExcluirQuero muito que a Valentina veja quem a Natalia realmente é.
Desejosa do próximo.
Bom domingo, autora.
A Natasha complica um pouco a situação, afinal, ela pousa de vilã, enquanto Nathália age como uma apaixonada heroína, a Valentina apenas está perdida em seus pensamentos. talvez se a ruiva desse uma abertura ou demonstrasse mais amor e menos raiva, tudo seguiria por uma caminho melhor, mas ela está presa também...
ExcluirBeijão e ótimo domingo!
Sinceramente , gostaria que Valentina tivesse uma reação e Natasha um pouco de lucidez , elas são um baita casal e ficam desperdiçando oportunidades de desfrutar algo bem mais legal que essas brigas sem sentindo. Ok erraram , blz mas que atire a pedra quem nunca errou , hora de uma virada nisso aí , afinal elas podem ainda ter mtos momentos bons sem estarem brigando ! Gê , obrigada pela tua escrita sensacional kkk beijoooooo
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkk eu sei bem da sua revolta, li suas mensagens com um sorriso no rosto kkkkkkk bem, eu não sou a Valentina nem a Natasha, é com elas que você deve brigar kkkk
ExcluirBeijos e boa noite.
Olá autora amada🌹
ResponderExcluirQuando essas duas irão dar uma trégua, e se renderem a esse amor que grita entre elas? A Natacha tem que baixar um pouco a guarda só com a Valentina,com o resto ela pode detonar,mas a trapezista tem que começar a descobrir as armações contra a arquiteta,só assim ela lhe dará razão por seu comportamento.
Com relação ao Vítor,a Natacha tem razão,não permitir nunca o seu filho com aquela gente asquerosa.
Beijos autora❤️❤️
Olá, meu bem, as duas precisam conversar, se entenderem, mas não é algo fácil conviver com a Natasha, imagino quanta paciência Valentina busca ter para seguir sem espancá-la, masssss se amam, isso está bem claro, só precisam se entenderem.
ExcluirBeijão!