Anjo caído -- Último capítulo

               O sol já estava a se por naquele dia que nem estava quente e nem frio.
              Era uma tarde normal como todas as outras, mas uma despedida fúnebre já chegava ao fim.                  Um ministro dizia algumas palavras vazias...
               Angelina permanecia de cabeça baixa, tendo sua mão segurada pela esposa.
             Eduarda observava a mulher a quem tanto amava e podia ver como ela estava abalada com os últimos acontecimentos.
          Orgulhava-se ainda mais da médica, não só por ela ter se prontificado a organizar todo o funeral da psicóloga, como também por saber que ela havia perdoado, feito as pazes com o passado.
               Sentiu o apertar forte em seus dedos. Fitou-a através das lentes negras.
               Gostaria de ver os olhos bonitos e penetrantes. Observou Flávia.
               O caixão estava sendo baixado. Não havia mais ninguém ali.
               As três pessoas que foram vı́timas da loira foram as únicas que estiveram presentes em seu momento final. Não havia amigos, conhecidos e tampouco parentes... Patrı́cia traçara um caminho difı́cil e seu fim fora aquele, sozinha.
             A condição de humano, às vezes, é demasiadamente cruel, ainda mais quando se tem uma ambição exacerbada e não se percebe que há trocas que não devem ser feitas ou tampouco ferir aquele que lhe tem amor verdadeiro, pois na maioria das vezes, não há volta.
               Patrı́cia teve tudo!
             Uma mulher que a amava e a queria a ponto de enfrentar o próprio pai, mas acabara trilhando caminhos diferentes... Por outro lado, quem pode garantir que o destino não passa de uma criança mesquinha e mimada que gosta de brincar com a vida das pessoas? Se assim o for, seria a psicóloga apenas mais uma vı́tima de um pirralho cruel e sádico? O que se percebe é que Duda estava predestinada a entrar na vida da médica... Estava escrito... Fora escrito por dedos e vontade do voluntarioso Moros...
            Por fim, a loira fora sepultada, enquanto o ministro se afastava e apenas as três mulheres permaneciam no local. Angelina seguiu de mãos dadas com a esposa, seguindo por outro corredor.
               O gramado verde e bem aparado trazia a lápide de sua amada mãe.
              Talvez pela primeira vez em todos aqueles anos da tragédia, as coisas pareciam voltar ao seu lugar. A saudade continuava, mas a culpa não mais.
          Naquele dia fizera tudo para salvá-la, teria dado a sua vida por ela sem titubear, mas infelizmente não pudera fazê- lo e agora entendia o porquê.
                Abraçou a esposa, depositando um beijo em sua tez.
                -- Você está bem?
                Duda lhe acariciou a face.
                -- Sempre estarei bem, ainda mais se tiver você ao meu lado!
                --Mesmo? – Beijou-lhe a mão. – Te faço bem?
                -- Você me faz a mulher mais feliz do mundo!


                Bruno percebeu quando Flávia seguiu em direção ao carro.
               Tivera muita sorte com a morte da Patrı́cia e com o teatro de Angelina aparecer ali, um lugar deserto onde não havia segurança de nenhum tipo.
               Retirou a arma da cintura e com ela em punho seguiu até onde estava o casal.
               -- Afaste-se dela, Duda!
               As duas se voltaram rapidamente para o rapaz.
               A médica ao ver o revólver tomou uma atitude para proteger a mulher.
              -- Bruno, está louco? – Eduarda tentava se desvencilhar dos braços da amada. – Baixe isso!
          -- Não, hoje eu acabarei com essa maldita, hoje ela seguira o mesmo caminho da Patrı́cia!                       Angelina o percebia totalmente descontrolado e a cada momento temia pela vida da Fercodini.
                 -- Seu problema é comigo, deixe que a Eduarda vá, conversaremos. – Tentou se aproximar.
                 -- Eu não irei! – Eduarda retrucou irritada. – Não sairei daqui!
                 A jovem conseguiu se soltar, colocando-se na linha que separava os dois.
                -- Afaste-se, Duda! – A médica gritou. – O problema dele não é contigo. 
                O jovem deu uma risada maligna.
            -- Não há problema que ela fique, afinal, eu não me importo de ter testemunhas, não me importo de ir para a cadeia, irei feliz porque terei matado a mulher que destruiu a minha vida. – Sacudia a arma no ar.
                 Mas uma vez a morena puxou a esposa, pois temia que o artefato disparasse.
                -- Ela não te fez nada! -- Eduarda já se mostrava em lágrimas. – Não faça isso pelo amor de Deus!
              -- Ela roubou você de mim, essa desgraçada é a culpada de tudo. – Chegou mais perto.
               A arma estava engatilhada.
               Angelina temia que a mulher pudesse se ferir, mais uma vez se fez de escudo.
               -- Duda, por favor, saia daqui! – Pediu baixinho. – Afaste-se!
                A médica se mostrava controlada, não exibia temor por si, apenas pela jovem.
              -- Não, não e não! – Colocou-se mais uma vez no meio de ambos. – Se você atirar, Bruno, não ferirá unicamente a ela!
                O rapaz pareceu ainda mais irritado e nervoso.
                Passou a mão pelos cabelos, dando alguns passos para trás.
                -- Você não percebe? – Gritava. – Ela quem te seduziu, ela quem te tirou de mim e por culpa dela, eu matei a Patrı́cia!
                    As duas pareceram chocadas com a informação.
                -- Eu não quis feri-la... Eu juro! – Parecia arrependido. – Mas quando fiquei sabendo que ela tentou te matar eu fiquei louco!
                    Duda parecia confusa, mas não a morena.
                -- Ela te atropelou, Duda! Ela quase te matou por causa dessa aı́! – Apontou a arma para a médica. – Tudo é culpa dela, tudo, tudo!
                   Naquele momento Angelina viu Flávia se aproximar com alguns policiais.
              A loira estranhou a demora e ao se aproximar ouviu os gritos e rapidamente correu para buscar ajuda.
              -- Solte a arma e coloque as mãos na cabeça! – A voz firme do agente da lei chegou bem audível.
             A Berlusconi sabia que o rapaz não tinha nada a perder, ele deixara claro isso, então em questão de segundos ela empurrou Eduarda para o lado e ainda conseguiu se desviar do projétil que foi em sua direção.
                Os policiais se jogaram em cima dele, rendendo-o. Flávia e Duda correram para Angelina.
                A morena já se sentava, sentindo o ombro queimar.
              -- Sua louca! – Eduarda esbravejou entre lágrimas. – Está louca? 
              A loira puxou o casaco e percebeu que a bala passara de raspão. Sentiu-se tão aliviada que caiu no pranto.
                -- Eu estou bem! Eu estou bem! – Tentava consolar as duas mulheres.
             -- Nunca mais faça isso! – A Fercodini continuava a brigar. – Nunca mais tente ser uma heroı́na! – Soluçou. – Eu morreria se algo te acontecesse!
                 Ajudaram a médica se levantar.
              -- Precisamos ir ao hospital! – Eduarda sentenciou. – E não ouse ser teimosa! E não ouse abrir a boca para retrucar! 
                  A morena apenas fez um gesto de assentimento.
                  Um dos policiais se aproximou.
                  -- Precisamos que nos acompanhe para prestar queixa.
              -- Sim, nós iremos, mas antes minha esposa necessita de cuidados! – A Fercodini intrometeu-se. 
                     O agente pareceu constrangido, depois fez um gesto afirmativo com a cabeça.



                    Angelina precisou apenas de um curativo.
                  As três seguiram para a delegacia e relataram tudo o que se passou e ainda acrescentaram a informação que estava faltando sobre o acidente de Patrı́cia.
                   Voltaram para a cobertura já tarde.
                A Berlusconi usava uma tipoia para evitar movimentos bruscos. Eduarda soube por Elisa que Cecı́lia estava com Ester na área da piscina. Flávia foi até ela, enquanto as outras subiram para o quarto.
             Ao entrar nos aposentos, a jovem seguiu em silêncio até ela, ajudando-a a se livrar das roupas.
                 -- Vai continuar chateada comigo? – Questionava enquanto a observa lhe desabotoar a blusa.
                  -- Nunca mais ouse agir daquele jeito! – Eduarda dizia por entre os dentes. – Não pensou em mim e nem na nossa filha!
                   -- Eu só queria te proteger! – Disse em um fio de voz. – Eu só não aceitaria que algo de mal te acontecesse! 
                     Eduarda suspirou fundo, soltando o ar lentamente.
                  Percebia o que a esposa fizera, sabia que ela só desejara lhe proteger, mas quando pensava que ela poderia ter se ferido mortalmente, chegava a ficar louca com essa possibilidade. Amava-a tanto que saberia que morreria junto, sabia que não conseguiria seguir em frente sem ela.
               -- Perdoe-me, amor! – Angel lhe segurou o queixo. – Não fique brava comigo! 
                   A jovem meneou a cabeça.
                 -- Dê-me um tempo para digerir tudo e logo estaremos de bem!
                 -- Mas eu vou ganhar beijos? – Arqueou a sobrancelha de forma travessa.
                -- Não, doutora, nada de beijos! – Voltou a livrá-la das roupas. – Vá tomar banho, pois farei o mesmo e depois terei que ir ver a Ceci.
                   Angelina suspirou resignada.


                  Henri correra até lá quando ficara sabendo do ocorrido. Ele ficou muito preocupado.
                 -- E a Angel?
                 Ester, Flávia, Duda, Mattarelli e Cecı́lia estavam na sala. Ocupavam uma poltrona.
              -- Está descansando! – Eduarda tomou a filha nos braços. – Tomou banho e o analgésico deixou-a sonolenta.
             -- Meu Deus! – O médico cobriu o rosto com as mãos. – Quando penso que uma tragédia podia ter acontecido chegou a sentir uma angustia tão forte que me tira o oxigênio.
               -- Se a Flávia não tivesse chamado a polı́cia e eles chegado tão rápido nem sei o que o Bruno poderia ter feito. – Beijou a filha. – Ele estava disposto a matar a Angelina, tanto que não se importou com a presença da lei, mesmo diante da ordem que recebeu, disparou.
               -- Sim e Angel foi rápida em prever o que ele faria e conseguiu te empurrar e se desvencilhar do projétil. – A loira completou. – Caramba!
               -- Nem me fale! Ainda estou muito irritada com isso, muito irritada pelo risco que ela correu.
                  -- Ela o fez porque te ama, amiga! – A ruiva se intrometeu. – Ela apenas queria te proteger, queria que nada acontecesse a você.
                 -- Isso é verdade! – Henri disse emocionado. – E não sabe como sou grata por isso, como me sinto feliz por saber que você está nas melhores mãos!
                    Eduarda mordiscou o lábio inferior demoradamente.
                 -- Não fique brava com ela, depois do que passaram, precisam ficar cada vez mais unidas. – A Tavares se levantou. – Acho que já está na hora de irmos para casa. – Estendeu a mão para a ruiva. – Fora um dia cheio. Preciso de banho e cama.
                   Mattarelli também fez o mesmo.
              -- Também irei, amanhã venho aqui ver a minha doutora heroı́na! 
                 Despediram-se, indo embora.
                 Eduarda seguiu para o quarto da filha.
             A pequena estava agitada e demorou a dormir. Chamava pela mãe Angel em sua linguagem indecifrável. Depois de infinitas histórias e canções de ninar, a pequena adormeceu abraçada ao seu unicórnio.
              Duda a beijou, em seguida caminhou para o quarto. A esposa dormia tranquilamente.
            O respirar silencioso, a expressão de tranquilidade não aparentava o que eles passaram naquele dia. Permaneceu ali por alguns minutos, observando-a, desejando guardar aquela imagem para sempre em sua memória.
                Através do roupão preto um pouco aberto no ombro, viu o machucado.
           Não sabia quantas vezes já agradecera por tudo ter acabado bem, por nada de grave ter acontecido. Sentia tanta raiva do Bruno que desejava que ele apodrecesse na prisão por tudo o que fez e tentou fazer. Só naquele dia ela entendeu a insistência da Angel em contratar seguranças, logo que ela sofrera o acidente. A esposa já suspeitava de que o acidente não fora algo natural.
                 Respirou fundo, seguindo para o banheiro.
                Os primeiros raios de sol invadia o novo dia. Angelina sentiu o incômodo no ombro.
Eduarda deitava sobre seu peito. Ajustou-se para não despertá-la. Acariciou-lhe os cabelos sedosos, sentindo o aroma silvestre lhe invadir as narinas. Praticamente apagara na noite passada.
                 -- Te amo... – Sussurrou no ouvido da jovem. – Te amo...
                 Os olhos claros se abriram de forma sonolenta, em seguida voltaram a se fechar.
              Depois de tudo o que acontecera iria investir mais em segurança, continuaria com os guarda-costas. Não arriscaria a vida daqueles que lhe elas tão caros, não permitiria que elas corressem nenhum tipo de riscos. Esperou pacientemente que Duda acordasse e não demorou muito para isso. Estava com os olhos fechados quando sentiu os lábios colando-se aos delas. Fitou-a.
               -- Então já fui perdoada? – Indagou com um sorriso.
             Eduarda não respondeu de imediato, apenas a abraçou forte, esquecendo-se do machucado, então se afastou ao ouvi-la gemer.
              -- Acabei me empolgando! – Beijou-a mais uma vez. – Não sabe como estou feliz em ver que está bem... – Encarou-a profundamente. – E mesmo que eu odeie o risco que você passou, eu preciso te agradecer por ter me protegido, por não ter permitido que nada me acontecesse... Mas isso não significa que aprove o que fez.
                   Angelina lhe segurou o rosto entre as mãos.
                  -- Mesmo que ainda reprove, eu o faria novamente, eu o faria sem titubear.
                 -- Eu sei e por isso espero que nunca mais passemos por algo assim. – Abraçou-a mais uma vez. – Não sei o que faria se algo de ruim tivesse acontecido a ti.
               Permaneceram ali, abraçadas, curtindo-se. Sentindo como era maravilhoso estarem juntas, depois de tudo o que passaram.
             Eduarda não foi ao hospital naquele dia. Decidiu ficar com a esposa e com a filha. Foram para a sala de vı́deo, colocaram um filme infantil e passaram o dia assistindo. Duda fez pipocas. Colocaram colchonetes no assoalho, travesseiros e ficaram lá.
               Ceci parecia mais interessada em brincar com o pug do que prestar atenção no enredo. Ela estava sentada, enquanto alisava Pigmaleão, mexendo em suas dobrinhas.
                 Angelina estava meio deitada, um pouco mais sentada e ria ao observar as peripécias da filha.
             -- Acho que ela precisa de um irmãozinho... – Comentou fitando Duda que parecia interessada no filme.
                  -- Não sei se é uma boa ideia, ainda mais porque ainda nem terminei o internato e você voltando a sua rotina... – Tomou um pouco de suco. – Não quero que meus filhos cresçam tendo as mães ausentes.
                     A Berlusconi tocou-lhe a face.
                   -- Mesmo voltando a minha amada profissão, não desejo que meu trabalho consuma todo o meu tempo, amor, quero poder estar sempre presente ao seu lado e da nossa filha.
                    Duda se aproximou, sussurrando em seu ouvido.
                    -- Eu preciso sempre de muito tempo seu, doutora...
                     A morena lhe fitou os lábios rosados.
                    -- Você terá todo o tempo que precisa... Sempre.
                    Cecı́lia se arrastou até onde elas estavam, sentando sobre a médica.
               -- Cuidado para não machucar a mamãe, anjinho! – Duda a advertiu. 
                 O balbuciar era encantador.
               As bochechas estavam cada vez mais avermelhadas, a pele branquinha, os cabelos e os olhos intensamente negros.
                    -- Sim, fala pra mamãe que você quer ter um irmãozinho para brincar, fala!
                     -- Ah é? – Segurou a mãozinha gorducha. – Vou pensar no caso das duas.
                     -- Precisa ver as coisas para o aniversário já é semana que vem.
                  -- Não quero uma coisa tão exagerada, meu amor! – Fitou-a. – Algo acessível à  idade dela e não algo para chamar a atenção de todos.
                   -- Duda, o que você decidir eu aceito! Jamais iria contra as suas decisões. 
                    A jovem sorriu.
                   -- Obrigada!
                    O resto do dia fora tranquilo.
                  Divertiram-se muito e apenas na hora de dormir, Angelina se irritara, pois Duda se negou a fazer amor, temendo lhe machucar. A médica ficou emburrada, mesmo sabendo que não deveria fazer esforços para que a cicatriz fosse rápida.


                      Uma semana depois...
                    A mansão fora o lugar escolhido para comemorar o primeiro aninho da pequena Angel. O jardim verdejante estava todo enfeitado com unicórnios. Algumas mesas eram ocupadas por algumas pessoas, principalmente alguns funcionários do hospital e alguns parentes de Henri.
                  O médico fizera questão de mandar buscar os irmãos e os sobrinhos para conhecerem a filha e a neta. Flávia, Ester e a famı́lia se divertiam e as crianças corriam por toda a parte.
                 Cicı́lia usava uma daquelas roupas que imitava o seu personagem favorito. Estava nos braços da morena.
                       Duda conversava com os tios e não conseguia parar de olhar para a esposa.
                     Ela estava muito linda usando aquele vestido branco colado ao corpo. A bela vestimenta chegava um pouco abaixo do joelho, deixando-a mais elegante e ainda mais alta com os sapatos de saltos finos. Encontrou o olhar apaixonado e teve vontade de estar sozinha naquele lugar, desejo de estar ao lado dela, de amá-la.
                       Há dias não se tocavam.
                       Suspirou.
                      -- Você está bem? – Henri questionou.
                      A jovem corou ao notar que estava totalmente aérea.
                      -- Perdoe-me, papai, estava pensando em algumas coisas!
                  Mattarelli lhe dirigiu um olhar de cumplicidade, voltando a conversarem sobre os mais variados assuntos.
                       Flávia se aproximou da amiga.
                   -- Ah, Angel, eu também quero ficar com a Ceci um pouco, ela tá parecendo um unicórnio fofinho e to com vontade de apertá-la forte.
                         Angelina a entregou.
                       -- Não se acostume, vá ter seus próprios filhos, acho que já está mais do que na hora. A loira lhe dirigiu um olhar irritado, cheirando a sobrinha.
                        -- Você acha que terei um bebê tão lindo como esse?
                 -- Lógico que não! – Falou debochada. – Só se você tivesse casado comigo! 
                       Ambas gargalharam.
                    -- Que bom que Deus teve piedade de mim e me fez te esquecer! – Provocou-a. – Eu estaria perdida, ainda mais porque eu não conseguiria te colar nas rédeas como a Eduarda!
                       -- Ei, ela não me colocou em rédeas! – Protestou indignada.
                        -- Anhan! Sei! Até parece!
                         -- Eu apenas a deixo pensar assim, mas no final, eu quem a domino, querida!
                         -- É mesmo, Duda?
                        Angel se virou e se deparou com os lindos olhos felinos lhe perscrutando.
                        -- Oi, amor, tudo bem?
                    Flávia se afastou com a sobrinha nos braços. Foi possível ouvir o gargalhar alto da loira.
                         -- A Flávia armou pra mim! – Apontou a Tavares. – Ela é uma safada!
                         -- Não quero nem saber, só te digo que quando formos dormir a gente conversa.
                    A Berlusconi assentiu e junto a esposa foram cumprimentar a mãe da Ester. Conversaram um bom tempo com elas e Angel tentou se vingar da amiga plantando algumas discórdias, mas Eduarda fora ao socorro da loira, deixando a esposa com cara de boba.
                         A festa continuou durante toda à tarde. Comidas, bebidas, palhaços, brinquedos.
                      Em determinado momento Cecı́lia fez birra, pois queria ir para o pula-pula de crianças maiores e Eduarda precisou interferir para que ela não chorasse. Levou-a para o castelo de bolinhas e ficou lá com ela. Aos poucos todos foram embora, deixando apenas a famı́lia Berlusconi. Já era noite quando Cecı́lia dormiu.
                    Angelina precisou fazer umas chamadas para Alemanha, depois seguiu para os aposentos. Ouviu o som do chuveiro, despiu-se e seguiu para o banheiro.
                  Teve uma surpresa, pois ela não tomava uma ducha, ao contrário, estava banhando na hidromassagem. As espumas cobriam o corpo nu.
                        Os olhos claros se voltaram para si. Provocantes!
                  Eduarda fitou-a despudoradamente, praticamente comendo-a de forma figurada. A banheira era grande, suficiente para ambas. Preta e em forma redonda, era bastante elegante. Fora instalada há pouco tempo e aquela era a primeira vez que estava sendo usada.
                     Angelina adentrou, sentando na outra extremidade, ficando de frente para ela. Esboçou um sorriso.
                    -- Decidiu relaxar um pouco? – Tomou uma das pernas longas da esposa. – Escolhi essa banheira pensando em ti. – Massageava a panturrilha.
                     A Fercodini usava os cabelos presos em um coque e a franja fora colocada para trás e presa com um grampo, porém alguns fios já se soltavam.
                        -- Pensou em mim em qual sentido, doutora? – Indagou com olhar inquisidor.
                 -- Em todos... – Começou a massagear a coxa. – Principalmente nos sentidos mais deliciosos.
                         Duda sentiu um frenesi, sentindo o corpo já sinalizar que a queria.
                     -- Deliciosos? – Arqueou a sobrancelha esquerda. – Acho que ando meio desatualizada das coisas ultimamente. 
                     A médica se aproximou mais, puxando-a para si, encaixando as pernas para que pudesse ficar coladas.
                Os seios sentiram o primeiro contato, o abdome, o sexo que se roçavam. Falou praticamente com os lábios colados aos delas.
                   -- Delicioso é quando sinto sua lı́ngua dentro de mim... – Sussurrava com voz rouca. – Ou quando me invade com seus dedos... Quando me chupa sem parar, sem dar-me chances para me recuperar... Quando sinto seu mel me lambuzando... – Tocou-lhe os seios com os dedos.
                      Os olhos da Fercodini estavam estreitos de paixão.
                  -- Eu adoro quando me lambe e não desperdiça uma única gota da minha fonte infinita... – Falou excitada. 
                       Angelina a segurou pela nuca, mantendo-a cativa.
                As bocas se uniram em um ritmo de paixão desenfreada. As lı́nguas dançavam sensualmente, entrelaçando-se...
                  As carı́cias se prolongavam de forma pacientemente, mesmo tendo uma Angel sempre inquieta, ela se mostrava mais desejosa de prolongar aquela agonia por mais tempo.
                  Eduarda sufocou um gemido contra os lábios sedosos da amada ao sentir os dedos lhe procurarem o sexo aberto. O polegar usava pouca pressão o que deixava a menina em chamas. Mexeu mais o quadril, indo ao encontro dela, mas a morena cessou os movimentos. A Fercodini abriu os olhos, demonstrando total surpresa.
                     Encontrou aquele olhar provocante e demasiadamente safado que a levava a loucura. Viu o sorriso brincando no canto da boca.
                      -- Meu corpo implora por ti, doutora! – A voz baixa, rouca e excitada dizia. – Satisfaça a minha fome... – Tocou-lhe os seios. – Dê-me...
                          O mar negro se estreitou de tanto prazer.
                      Duda sabia como Angelina era passional, pois a herdeira de Antônio não era de escolher um lugar adequado para amá-la, bastava uma palavra, uma frase, uma roupa, um sorriso e ela arrastava-a para o lugar mais próximo para que se tocassem. Entretanto, aquela última semana não fora fácil, ainda mais porque a médica estava machucada e precisou ficar em resguarde.
Passou a lı́ngua nos seios bronzeados.
                   Angelina virou a cabeça para trás, empinou-se... Pedindo mais, exigindo mais. Apoiou-se à borda da banheira, facilitando ainda mais o acesso.
                -- Já te disse que amo sua boca e forma que mama gostoso... Ain... hun... – A respiração estava acelerada. – Quero você agora!
                 Duda ficou confusa ao vê-la levantar, praticamente arrastando-a até o quarto. Secou-se com a toalha e fez o mesmo com a jovem, em seguida levou-a até a cama. Deitaram-se de formas opostas, tendo a Angelina por baixo.
                    As bocas cobriram os sexos... Chuparam-se mutuamente... A morena queria mais... Lı́ngua, dedos...
                          O fogo queimava...
                          Os gemidos altos... Os gritos de prazer que logo invadiu todo o quarto.


                            Um mês depois...
                            O gramado bem aparado da mansão dos pais de Angelina foi o lugar escolhido para o enlace de Flávia e Ester. Havia umas cinquenta pessoas presentes.
                             A decoração era toda branca.
                             O juiz esperava as noivas que entraram de mãos dadas.
                          A ruiva e a loira usavam vestidos brancos, mas nada de modelos pomposos e cheios de babados. Ambas optaram por vestimentas longas e de alças finas. Usavam sandálias de salto e cada uma um arco de flores nos cabelos soltos. Tendas foram armadas, havia balões enfeitando, orquı́deas, tulipas...
                        Cadeiras foram colocadas em cada lado, deixando o espaço para passagem. Um carpete de rosas fora montado. Todos levantaram ao ver as noivas. Duda estava na frente e trazia a Cecı́lia nos braços. Henri estava ao seu lado, junto a mãe de Ester e o resto da famı́lia.
                           -- Calma, meu bem, a Angel vai chegar! – Mattarelli sussurrou ao ouvido da filha.
                        Eduarda estava impaciente, pois a esposa tivera que comparecer a uma reunião e ainda não chegara. Só a Berlusconi para ir a esses lugares em um dia como aquele.
                         Batia o pé impacientemente. Iria brigar muito com a esposa!
                        Cecı́lia deu os braços para a Tavares.
                     A loira a beijou, abraçou Duda, depois voltou para o lado da amada. O juiz iniciou a cerimônia.
                         A emoção estava presentes nos olhares das duas.
                    Flávia olhou para a futura esposa e viu os olhos rasos de lágrimas. Apertou-lhe mais forte a mão. Fitaram-se por intermináveis segundos e nem mesmo perceberam que chegara o momento de dizer sim. Sorriram...
                        -- Cheguei, meu amor!
                      Duda inclinou a cabeça ao ouvir a voz rouca da morena sensual. Angelina estava colada as suas costas.
                      Observou a expressão irritada da mulher, mas nada disse. Já a conhecia o suficiente para saber como ela era
                          Abraçou-lhe a cintura.
                         -- Você está linda, senhora Berlusconi!
                   Eduarda a repreendeu com o olhar, mas diante da expressão cı́nica da médica, acabou sorrindo. Cecı́lia reclamou pelo colo da Angel.
                       -- Vem cá vem, princesa. – Segurou-a, ficando agora ao lado da jovem.
                   Depois de algum tempo se aproximaram para assinar os papéis como testemunhas e por fim felicitar as noivas.
                        Angelina abraçou Flávia.
                        -- Agora você está presa, meu bem!
                       -- Essa é com certeza a melhor prisão! – A loira disse sorrindo.
                    -- Então curta a sua felicidade e que ela seja infinita... 
                          Logo em seguida foi a vez de cumprimentar Ester.
                    Todos pareciam bastante felizes com aquele momento, realmente parecia que os tempos de angustias tinham ficado para trás e o amor reinará forte e cada vez mais indomável.

                      Três anos depois...
                      Eduarda se arrumava caprichosamente diante do espelho.
                    Ouviu os sons de passos correndo e não demorou muito para sua filha de cabelos e olhos negros adentrasse o espaço.
               Cecı́lia crescia cada vez mais carinhosa. Seu amor por suas mães e pelo irmãozinho de pouco mais de nove meses. Ela abraçou as pernas da mãe coberta pelo vestido branco de seda.
                     A jovem agachou-se, observando-a com atenção.
                    -- O que houve, meu pequeno anjo?
                   Sempre se enternecia quando fitava a filha. Ela tinha algo tão adorável, transmitia paz, luz por onde passava.
                      -- Vai demorar muito pra ver a mamãe Angel? – Questionou com seu timbre infantil.
             Angelina precisara viajar a Alemanha há uma semana. Fora receber um prêmio por um projeto de grande relevância na área da neurociência.
                  Sim, a poderosa Berlusconi conseguira retomar seus preciosos trabalhos e cada dia mais se dedicava as aulas na universidade e nos plantões. Lógico que ela tentava não ocupar todos os seus dias, pois sempre falava que o mais importante de tudo era poder estar sempre ao lado da famı́lia, ainda mais com a chegada do pequeno Henri.
                O herdeiro mais jovem fora gerado pela morena... Uma gravidez que precisara de muito cuidado, mas que ao final acabou saindo tudo bem.
                  -- Daqui a pouco a veremos! – Beijou-lhe a tez. – Apronte-se para que possamos ir à festa, sua mãe irá direto para lá.
                  Aquela noite seria mais uma vez de festa, comemoravam mais um ano da fundação da rede hospitalar Berlusconi. A mansão que fora à casa de Ângela e de Antônio estava cheia de convidados. No jardim havia mesas, uma banda tocava e uma verdadeira legião de garçons atendia a todos com total educação. A lua estava alta.
                      -- Quando elas vão chegar? – Ester indagava ansiosa.
                     Duda mirou a amiga que trazia o filho de três meses nos braços.
                     Ela e Flávia adotaram uma criança e estavam fazendo tratamentos para engravidarem.
                  -- Creio que já devem estar por perto. – Tomou nos braços o sobrinho. – Ele está muito lindo...
                 -- Está mesmo... Tanto quanto o Henri e a Cecı́lia... – Deu uma pausa, observando a menina brincar no salão com outras crianças. – A Flávia fala que a Ceci herdou as caracterı́sticas da mãe da Angel...
                    Eduarda assentiu... Aquele era um ponto que sempre fora falado... A forma doce, paciente e devotada da filha mais velha.
                      A jovem viu o pai do outro lado... Conversava com uma médica e tinha nos braços o neto. Remexeu-se, sentindo-se inquieta.
                         Estavam sentadas na grande mesa.
                         Estaria Mattarelli se interessando por aquela mulher?
                      Meneou a cabeça diante daquelas conjecturas e sorriu ao vê-lo se aproximar trazendo o neto nos braços e segurando a mão de Ceci.
                       Viu a Tavares aparecer sorridente e ir até Ester, abraçando-a demoradamente.
                 Mirou por entre os convidados em busca da esposa... Então sentiu o cheiro dela e ainda continuava a sentir aquele peculiar frio na espinha quando a fitava.
                      Angelina continuava a exibir aquela postura de mulher arrogante e poderosa.
                     Usava um vestido preto e longo, tendo uma abertura frontal, mostrando as pernas bonitas a cada passo que dava. Os cabelos estavam soltos, ela os usava quase o tempo todo assim.
                       Duda se levantou e viu quando Cecı́lia correu em disparada para os braços da mãe.
                  Angelina a tomou nos braços, continuando a caminhar até onde estava a esposa. Mattarelli sorriu ao notar o olhar embevecido que a filha exibia ao fitar a médica. Não negava que chegara a pensar que aquela relação entre ambas estava fardada ao fracasso, mas durante todos aqueles anos a única coisa que via era a felicidade entre elas crescerem na mesma proporção do amor que as unia.
               A Berlusconi colocou a filha no chão, enquanto tomava em um abraço apertado a esposa.                             Deus, como sobrevivera todos aqueles dias sem ela ao seu lado?
                  Aquela fora a primeira vez que viajara sem a Duda, mas por questões do hospital, precisara que a Fercodini ficasse e tomasse a frente de tudo junto com Henri, ainda mais por Flávia ter ido consigo.
                       -- Como você consegue ainda ser mais linda do que antes? – A voz rouca murmurou em seu ouvido. – Afastou-se um pouco para fitar a face bonita. – Como ainda cora diante dos meus elogios?
                   Os olhares pareciam ainda mais compenetrados, enamorados... O pequeno Henri reclamou pela atenção das mães.
                             Angelina o tomou nos braços, enquanto Eduarda segurava a Cecı́lia.
                   -- Pensei que não voltariam mais! – Ester exclamou, enquanto junto com a esposa se aproximava do grupo.
                   -- Eu te falei, Flávia, basta que essas mulheres tenha uma aliança no dedo e já querem mandar na nossa vida. 
                    Todos sorriram, pois já estavam acostumados com as chispas que a morena sempre soltava.
                    -- Não se preocupe, Ester, próxima vez seremos nós a fazer uma viagem, deixando-as cuidando das crianças. – Eduarda provocou.
                        A médica piscou de forma ousada para a esposa.
                   Duda conhecia aquele olhar, eles sempre prometiam coisas deliciosas e sempre cumpria as promessas. Continuaram na festa por mais uma hora.
                Angelina tirou a amada para dançar, enquanto o sogro cuidava de Cecı́lia, porém o mais novo já tinha se recolhido para dormir.
                   A morena lhe abraçava pela cintura, enquanto a jovem lhe circundava pelo pescoço esguio.
                       -- Sentiu minha falta? – Duda questionava, enquanto a fitava.
                     A música era lenta, jogos de luzes iluminavam o ambiente, deixando o clima romântico.
                    -- Sim, meu amor... Acredite que foram dias terrıv́  eis... – Colou os lábios aos dela. – Eu contava cada segundo do dia para te ver, para poder te abraçar... – Mordiscou o lábio inferior. – Para poder te amar.
                 -- Sei que faz parte do seu trabalho, mas não desejo ficar tanto tempo sem ti... Fico inquieta, impaciente... – Mostrou-lhe os dedos. – Precisei de unhas postiças.
                  Angelina beijou-lhe a palma da mão demoradamente, encarando-a por infinitos segundos...
                         -- Eu te amo...



                   Naquela noite se amaram como se nunca o tivesse feito... Entregaram-se de corpo e alma... Uniram-se para todo o sempre... Por todos os dias de sua vida... E talvez possa existir amor tão intenso como esse... Mas jamais um superior a ele...

Comentários

  1. Perfeito;
    Obrigada... Graças a você, meu desejo de voltar a escrever surgiu novamente...
    Perfeito, querida autora.

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  2. Que escrita linda, cheia de detalhes, a cada nova história uma emoção diferente, aguardando o próximo romance.

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  3. Obrigada por nos permitir uma leitura tão encantadora.
    Simplesmente, perfeita!
    Parabéns!

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  4. Historia muito linda, parabéns, você escreve muito bem.

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