Anjo caído -- Penúltimo capítulo
Assim que Bruno percebeu o que tinha feito, sentiu o desespero tomar conta de si.
Pensou inicialmente em chamar ajuda, mas essa ideia foi logo deixada para trás, pois ele sabia que teria que falar o que tinha acontecido.
Rapidamente pegou todas as coisas que poderiam lhe ligar ao crime, saindo logo em seguida.
Tinha sorte de que o lugar era tão medı́ocre que não havia câmeras de segurança e tampouco porteiros. Era um prédio que não contava com nenhum tipo de alerta para a invasão de estranhos.
Deixou o edifı́cio e não teve como evitar olhar para a parte escura e cheia de plantas e árvores que a psicóloga caíra.
Estaria ela viva ainda?
Atravessou a rua, andou alguns metros, logo deu a mão a um táxi, deixando o bairro. Seus pensamentos estavam confusos, conflitantes.
Ao chegar ao centro da cidade, desceu, caminhou até um telefone público.
Discou para a polı́cia, fez uma denúncia contra Angelina Berlusconi. Quando lhe perguntaram mais detalhes, desligou imediatamente.
Caminhou pelas ruas, até chegar a uma casa de show que costumava ir à companhia de Eduarda, quando ainda estavam juntos.
Lá dentro estava tudo escuro, o som alto, pessoas dançando... Sentou em uma mesa próxima ao bar.
Uma garçonete veio até ele, servindo-lhe um drinque, mas o jovem ficou logo com a garrafa. Levou a taça aos lábios, bebendo tudo de uma vez.
-- Maldita seja a herdeira dos Berlusconis! – Praticamente cuspiu a frase.
Tudo em sua vida desandara por causa daquela maldita mulher. Primeiro lhe tirara Duda e agora lhe fizera cometer um crime.
Passou a mão pelo rosto e sentiu arder. Patrı́cia praticamente o rasgara todo.
Não desejou machucá-la, de forma alguma tivera a intenção, porém quando ficara sabendo o que a loira fizera contra a Fercodini, perdera a cabeça e partira para tirar satisfação sobre o ocorrido, jamais pensou que ela surtaria daquele jeito, atacando-o.
Bebeu mais um pouco, mas agora o fez de forma lenta.
Não descansaria, enquanto não fizesse a maldita Angelina pagar por tudo que fizera em sua vida. Destruiria-a, teria o maior prazer em matá-la, em fazê-la ir ao encontro do miserável Antônio.
O que teria a perder?
Sabia que não demoraria em polı́cia chegar até si, não era burro, quando periciasse o corpo achariam evidências de que estava envolvido em tudo aquilo... Porém antes de se entregar acabaria com a felicidade da médica, antes de ser enclausurado, mostraria para a morena que nunca deveria ter cruzado o seu caminho, que nunca deveria ter lhe roubado Eduarda.
Ester descansava nos braços da amada depois de uma intensa sessão de amor. Estavam deitadas sobre a cama estreita na casa da mãe da ruiva.
A loira fora até lá para uma comemoração de aniversário de um dos sobrinhos da namorada e quando tudo terminou, acabou ficando por lá e fugiram para os aposentos da moça.
-- Deus, você me faz fazer cada loucura! – A jovem se apoiou nos cotovelos, enquanto encaram a bela mulher.
A pequena janela tinha sido fechada devido à chuva.
A escuridão só era profanada por uma pequena luminária em forma de ursinho que estava ao lado do móvel. Flávia não gostava de fazer amor no escuro, sempre dizia que precisava admirar a beleza da amada.
-- Eu? – A médica fez expressão de chocada. – Meu coração ainda está acelerado ao pensar que a qualquer momento sua mãe vai aparecer aqui e nos pegar, mesmo você ter inventado aquilo. – Apontou para a porta.
A fechadura estava quebrada, por esse motivo, Ester encostara contra a madeira uma mesa de estudo.
A ruiva sorriu.
-- Eu te trouxe no meu quarto para se despedir de mim, você que me jogou aqui e não me deu chances de defesa.
A loira estreitou os olhos azuis, exibindo aquele brilho encantador.
-- Engraçado que eu não me lembro de ter te visto lutar ou resistir...
Ester gargalhou alto e precisou cobrir a boca com as mãos.
-- É que eu tava muito ocupada gemendo gostoso... – Provocou-a com um sorriso.
Flávia acariciou as costas da namorada, descendo até a lateral das coxas, dos quadris.
-- Adoro quando você grita, eu fico louca...
-- Verdade? – Arqueou a sobrancelha esquerda. – Você cobriu minha boca inúmeras vezes hoje, nem pude exprimir o meu contentamento. – Fez biquinho.
A médica fez uma manobra rápida, ficando sobre ela.
Encaixou-se melhor entre suas pernas, tocou o seio redondo, demorando-se no mamilo com os dedos, depois passou a lı́ngua.
-- Não pude te deixar expurgar seu contentamento, pois temi que minha sogra tivesse um infarto ao ouvir a comportada e linda filhinha transformada em um animal selvagem, insaciável... – Mamou um pouco, fazendo-o de forma lenta e maravilhosa. – Incontrolável...
Ester observava a perı́cia que a mulher lhe tocava, o jeito languido, preguiçoso, quando em seguida parecia explodir em total loucura.
O som do celular da loira interrompeu a troca de carı́cias.
Flávia se levantou.
Fazia parte de sua dedicação ao trabalho e profissão está sempre alerta a algo. A chamada era de José.
-- O que houve, homem de Deus? – Questionou impaciente.
Ester se sentou, cobrindo-se com o lençol, enquanto via a expressão da médica mudar instantaneamente. Teria acontecido algo com a Angelina ou mesmo com a Duda?
Foi até ela, encarando-a.
Alguns segundos se passaram até que a chamada foi desligada.
-- O que houve, amor?
A Tavares passou a mão pelos cabelos dourados, respirou fundo.
-- A Patrı́cia foi jogada do edifı́cio onde estava vivendo.
Os olhos verdes se abriram em total perplexidade.
-- Deus! – Cobriu a boca com a mão. – Ela morreu?
A loira demorou a responder, depois voltou a fitá-la.
-- Não... Mas se encontra em estado grave...
-- Nossa, espero que ela fique bem, não desejo nada assim, mesmo para ela. – Disse sincera.
Ester fitou o rosto da amada e percebia que estava mais alterada do que o necessário, afinal, ela nem mesmo caia de amores pela psicóloga.
-- Tem mais alguma coisa te perturbando?
A loira mordiscou o lábio inferior demoradamente.
-- A polı́cia está em busca de Angelina, acusam-na de ter cometido o crime...
-- Isso é um absurdo!
-- Eu sei... Mas ainda se trata de uma acusação grave.
-- Precisa avisar a ela! Quanto mais rápido esclarecer, melhor será!
A Tavares ponderou por alguns segundos, pensando no que deveria fazer naquele momento.
Sabia que a amiga levara a filha e a esposa para a mansão, sabia que ela estava tentando pela última vez resolver seu casamento.
-- Amanhã irei até lá, hoje não!
-- Tem certeza? – Indagou apreensiva.
-- Sim... – Abraçou a namorada. – Agora preciso ir até o hospital e pedir para o advogado explicar que a Angel não está na cidade, mas que amanhã mesmo ela se apresentará.
-- Vai ver a Patrı́cia? – Fitou-a.
-- Sim, verei o que se pode fazer por ela!
-- Irei com você, amor!
-- Certo!
O ambiente estava aconchegante... Sentiu os dedos da esposa brincarem com seus cabelos, adorou o carinho que recebia na nuca e daquela vez nada fez para evitá-lo.
-- Eu acho que se ele a ama deve lutar por esse amor...
-- Acha que ela o perdoará?
Angelina chegou mais perto, tanto que era possível sentir o hálito gostoso e excitante.
-- Eu acho que sim... Talvez ela o ame ainda... Talvez esteja apenas ferida...
A Berlusconi fitou os olhos claros, a boca entreaberta...
Com as costas da mão, tocou-lhe a face... Acariciando-a... Aproximou-se... Umedeceu o lábio inferior...
-- Eu te amo, Duda... Não consigo mais fingir...
Um clarão iluminou o céu, trazendo consigo o estrondo de um trovão.
Depois da fúria explosiva de Zeus, apenas o silêncio era ecoado pela respiração de ambas. O crepitar das chamas parecia gemer...
Os olhos claros se abriram em perplexidade, como se só naquele momento tivesse ouvido o que fora dito. Sentiu o toque em sua nuca cessar... Teve a impressão que estava a sonhar naquele momento.
“Eu te amo, Duda... Não consigo mais fingir...” “Eu te amo, Duda... Não consigo mais fingir...” “Eu te amo, Duda... Não consigo mais fingir...” “E.u t.e.a.m.o”
A sentença reverberava. Fazia eco em seu cérebro...
Fitou a esposa, percebendo a expressão temerosa em seu rosto... Tristeza? Medo? Angustia? Ela estava ainda mais linda...
“Deus, não brinque comigo assim novamente!” – Rezava silenciosamente.
Observou-a apoiar a lateral da cabeça ao encosto do sofá. Os lábios entreabertos, dominadores... Seria aquela mulher alguma espécie de anjo realmente? Havia uma áurea ao seu redor, algo inexplicável, intenso... Uma guerra entre o bem e o mal parecia sempre acontecer no interior daqueles olhos intensamente negros.
Nervosa, Eduarda cruzou os braços sobre os seios, desviou o olhar por alguns segundos e voltou a mirá-la. Naquele momento sentiu o coração pulsar mais rápido... Passara todos aqueles dias esperando o momento de assinar o divórcio, passara aquele tempo se preparando para o momento que não tardaria a acontecer e de repente, a Berlusconi lhe falava aquilo.
Estaria querendo zombar novamente de si?
Fitou-a, tentando descobrir o que se passava ali, o que realmente estava a acontecer... “Deus, será que tinha tido um devaneio?”
Só podia se tratar de um sonho, uma ilusão cruel...
Depois de tudo o que fizera como sua mente ainda lhe pregava uma peça daquela? Angelina se mexeu incomodada.
O silêncio era uma lâmina afiada a lhe cortar por dentro. Suas esperanças estavam sendo dilaceradas e isso a fez chorar internamente.
Talvez não devesse ter falado, talvez o melhor era ter ficado calada... Mas não teria paz se não tentasse por uma última vez... Não se perdoaria por ter ficado em silêncio, por sair daquela relação sem dizer realmente o que sentia e como era intenso o que sentia.
Engoliu em seco...
Os olhos da esposa eram tão perscrutadores, intensos... Lindos... Feiticeiros...
Não a odiaria por aquela rejeição e não a obrigaria a ficar ao seu lado... Pelo menos naquele quesito, podia se sentir amadurecida.
Teve vontade de sorrir de sua tragédia...
Mesmo que assinassem o divórcio, não deixaria de amá-la e seus últimos suspiros seriam para ela. Jamais imaginara que um sentimento pudesse ser tão poderoso, tão intenso como aquele que continuava a explodir em seu peito.
Levantou-se, seguindo até a janela.
Pelo vidro via a tempestade que mesmo tão avassaladora, não se igualava a sua... Umedeceu os lábios, sentia-os secos... Amargos...
Uma solitária lágrima exprimiu sua dor.
Que bom que estava de costas, não queria que a visse daquele jeito... Seu estômago parecia revirado...
Apertou forte os dentes, tentando sufocar o soluço que parecia querer escapar, tentava sufocar o pranto que parecia querer correr livre.
Estendeu a mão, tocando o vidro frio...
Estava tudo tão escuro lá fora... O céu... Suas próprias trevas... Bem, pelo menos aprendera uma difı́cil lição...
Na manhã seguinte retornaria para o apartamento, pediria ao advogado para levar os papéis e assinaria, deixando a mulher que amava livre... Esperava que ela encontrasse alguém que a merecesse, que a fizesse verdadeiramente feliz, coisa que fracassara em todos os quesitos.
Havia a Cecı́lia...
Mesmo que lhe cortasse a alma, deixaria-a com a Fercodini... Ela merecia ser a mãe da menina, ela merecia acompanhar todos os dias a evolução do seu lindo bebê. Sim, ela merecia, afinal, aceitara o casamento por causa da criança, submetera-se a tudo pelo amor que tinha pela filha.
-- Acho que já está tarde... – Disse sem se voltar. – Precisa descansar...
Duda fitou os ombros bem feitos cobertos pelo sobretudo.
Teve a impressão que viu espasmos, percebeu a tremer?
Nada disse, apenas esperava pacientemente para que ela lhe olhasse, para que lhe esclarecesse o que dissera ou que pensara que dissera.
Tomou a muleta, mas não levantou imediatamente, continuou onde estava. Mais um trovão... Forte... Poderoso...
Segurou firme o apoio, fitou a bota que era obrigada usar devido ao acidente.
Esperou, mas nada aconteceu... Angelina continuava no mesmo lugar, continuava parada, estática como uma estátua... Galateia...
Levantou-se, mas não fez gesto para deixar a sala, apenas ficou lá... Algo a prendia ali, algo a unia àquela mulher... Mirou a lareira e só naquele momento percebeu que sobre o aparador, havia alguns quadros de fotos...
As duas estavam juntas... Sorriam...
-- Poderia me ajudar... – Pediu em um fio de voz.
A Berlusconi ouviu a voz rouca e baixa e em parte não entendeu do que trata, mas se voltou para ela, tentando esconder a tristeza.
-- Eu preciso que a bota seja retirada e você não trouxe a minha enfermeira para isso. – Apressou-se em se justificar com um sorriso.
A morena fez um gesto assentimento com a cabeça.
-- Sim, eu a ajudarei. – Aproximou-se. – Vamos?
Duda seguiu a frente, enquanto Angelina a acompanhava em passos lentos, hesitantes, resolutos... Passou a mão pelos cabelos e sentiu-os demasiadamente longos... Precisava de um corte...
Chegaram de fronte a porta. Entraram.
De repente a médica fora assolado por todos os momentos que tiveram ali, por se sentir amaldiçoada quando seu corpo começara a reagira a presença dela, quando seu coração começara a bater mais forte pela afilhada do seu pai.
Parou por alguns segundos, alheia ao olhar investigador que a esposa lhe dirigia.
-- Algum problema? – Eduarda questionou enquanto sentava no leito.
Os olhos negros se voltaram para si...
-- Não, está tudo bem! – Disse rapidamente, enquanto seguia até a esposa para auxiliá-la.
-- Espera! – A moça a deteve. – Preciso tirar esse vestido. – Disse meio constrangida.
-- Certo! – Angelina seguiu até o interruptor para apagar as luzes, mas foi detida.
-- Não precisa!
Angelina ficou surpresa, ainda mais quando a Fercodini se levantou.
-- Apenas preciso que me segure, pois não poderei me apoiar na muleta e me despir.
A médica não desejava passar por aquilo, pois não sabia até onde iria o seu controle.
Amava aquela mulher mais do que qualquer coisa em todo o universo e seu corpo seguia o mesmo estigma...
Desejava-a, aspirava por tê-la, por tocá-la inúmeras e infinitas vezes...
Seguiu até ela, postando-se a suas costas, tocou-lhe a cintura com ambas as mãos, segurando-a como fora pedido. Tentou manter distância, mas o cheiro dela, o aroma era demasiadamente convidativo.
Esperou impacientemente que ela fizesse o que era para ser feito, pois desejava sair o mais rápido possível daquele lugar... O mais rápido possível de perto dela, pois temia fazer uma loucura, não confiava tanto assim em si.
-- Zeus parece está furioso com a humanidade... – Duda teve um pequeno sobressalto com o trovão, colando-se a herdeira de Antônio.
-- Deve estar assim devido às idiotices que cometemos...
Mais uma vez permaneceram em silêncio... Angelina sentia-a tão próxima de si e rezava para que ela se afastasse.
Sentiu as mãos delas sobre a sua... Inicialmente pensara que se tratava de um acidente, mas a pele macia continuava lá.
-- Repita...
O som era quase inaudível... Rouco... Mas Angelina ouviu e entendeu errado...
-- Deve estar assim...
Duda voltou-se para ela, fitando-a, cobrindo-lhe os lábios com seus dedos, impedindo-a de continuar.
-- Não...
Os olhos negros estavam confusos...
-- Repita o que disse quando estávamos na sala de jantar... Preciso saber que não estava sonhando...
A Berlusconi ficou calada... Mas seus olhos não abandonaram em nenhum segundo o rosto da jovem. Não entendeu o motivo dela ter pedido aquilo... Mas tomando fôlego... Falou baixo... Em um sussurro rouco...
-- Eu te amo... Duda...
A morena notou o olhar estreitado, assustado...
-- Perdoe-me por ficar falando essas coisas, mas eu não poderia continuar calada diante do que sinto...Mesmo que saiba que não deseja mais ficar ao meu lado, mesmo que não me ame mais... Eu entendo...
Tentou se afastar, mas Eduarda segurou-a pele mão, fazendo-se voltar para si.
-- Eu amo você, Angelina, amo e sempre hei de amar por toda a minha vida... Mesmo que passe um milhão de anos, mesmo que eu viva outras vidas... Eu sempre vou te amar...
Angelina pareceu não acreditar no que ouvia, seus olhos trazia perturbação, mas ao sentir a boca tão próxima da sua, não suportou a vontade de senti-la novamente.
Os lábios se encontraram de forma sublime, lenta, cuidadosa...A Berlusconi não se deixou levar pelo intenso desejo, pois temeu machucá-la. Sentiu a lı́ngua sendo procurada... A sua esposa foi ao seu encontro até senti-la reagir, até senti-la unir-se a sua.
A morena a abraçou mais forte, desejando que seu corpo pudesse fundir ao dela naquele momento. As mãos paradas em sua cintura...
Ouviu o barulho que ela fazia ao chupar sua lı́ngua, gemeu contra ela, gemeu excitada com a carı́cia ousada, atrevida, forte...
Afastaram-se, fitando-se, estavam com a respiração acelerada. O rosto de Eduarda trazia a coloração intensa do sangue...
-- Ama-me mesmo? – A jovem questionou insegura.
Angelina sentou sobre o leito, trazendo-a para seu colo, pois temia lhe lesionar a perna.
Tocou-lhe a face com as mãos, observando maravilhada a beleza que ela exibia de forma tão natural.
-- Eu fui tão cruel contigo... Tão insensível...Dê-me outra chance, dê-me mais uma chance e prometo que te mostrarei que podemos ser felizes juntas...
-- Acho que eu devo mais desculpas, afinal, fui infantil, uma boba ao acreditar na Patrı́cia e no Bruno...
Angelina cobriu-lhe os lábios mais uma vez, beijando-a novamente... Sentiu-a lhe enlaçar o pescoço. Seu peito gritava em felicidade, seu coração pulsava em um ritmo acelerado.
-- Pensei que não me amava mais... Sofri tanto com isso... – Falava com a tez encostada a dela. – Quando senti sua rejeição, mesmo quando eu apenas iria te ajudar a se vestir, pior, quando a beijei e você implorou que não o fizesse mais.
-- Eu estava com medo...—Dizia entre lágrimas. -- Medo de sucumbir novamente a agonia de te querer e não conseguir controlar meus sentimentos... – Lagrimou. – Ainda mais porque sabia que estavas com a aquela doutora estú pida... Não sabe como isso me feriu, mas eu sabia que não podia reclamar, afinal, era tudo minha culpa, minha total culpa...
A Berlusconi lhe secou o pranto com carı́cias.
-- Amor, eu nunca tive nada com a Natália a não ser aquele beijo... Eu nunca senti vontade de tocá-la, nem jamais que ela me tocasse... A sua imagem sempre esteve muito viva em minha mente...
-- Mesmo que não tiveram nada mais do que aquele beijo?
-- Sim, meu amor, não houve nada mais do que aquele beijo.
Eduarda sentia a alma livre... Algo que parecia feri-la estava deixando-a, tirando-lhe um peso das costas.
-- Eu te amo... Amo muito... Muito... – Abraçou-a forte, apoiando o rosto no pescoço esguio.
Eduarda lhe acariciava as madeixas finas, pensando ainda que aquilo se tratava de um devaneio, de uma ilusão cruel que sua mente criou em um momento de estresse total. Aspirou o cheiro dela... Fechou os olhos e permaneceu ali, temendo que a qualquer momento tudo voltasse à realidade.
-- Ainda não acredito... – Falou baixinho.
Angelina a fitou com aquele olhar forte, intenso que seria capaz de penetrar as armaduras feitas pelo próprio Hefesto.
-- Deixe-me provar que tudo é real...
Delicadamente as bocas se encontraram mais uma vez... Mas agora era a médica quem controlava o ato apaixonado.
Segurou-a pela nuca para que o contato não fosse rompido... Encontrou a lı́ngua da esposa, enlouqueceu-a com seu brincar atrevido, sensual...
Gemeu quando fora capturada... Gemeu quando ela lhe chupou impetuosamente...
Enquanto a carı́cia se tornava mais intensa, a morena lhe tocava os seios sobre o tecido fino do vestido... Abriu os botões, encontrando o sutiã a ser mais um empecilho.
Apertou os montes redondos...
Duda a encarou e foi possível ver o desejo pulsar naquele brilho indomável. Angelina ajudou-a a se livrar do vestido, deixando-a nua até a cintura. Observou a lingerie de cor rosa, rendada e que encaixava os seios de forma perfeita, deixando-os mais empinados.
Eduarda observava os dedos tocarem a borda e já sentia os mamilos implorarem por atenção. Seu corpo já vibrava com a antecipação... Desejoso de pertencer a ela mais uma vez, pronto para retornar aos braços da única que lhe tocara.
O par de ébanos a fitou, enquanto encostava a cabeça no colo ansioso. Cheirou-o...
Pacientemente, abriu o fecho frontal, deixando livres os montes brancos de bicos rosados. A jovem fercodini mordeu o lábio inferior antecipando o que vinha...
Angelina beijou toda a pele exposta, enquanto usava as mãos para massageá-los.
Os olhos claros se fecharam quando a esposa passou a mamar com mais intensidade, quando começou a degustar de forma ousada.
Um gemido escapou dos seus lábios.
-- Não desejo machucá-la... – A morena a fitou. – Sei que ainda não está recuperada. – Acariciou-lhe a face.
-- Eu sei que não me machucará... – Tomou-lhe uma das mãos, pousando-a em seu abdome rijo. – Lembra-se de quando estava doente e a trouxe para cá?
Angelina assentiu.
-- Foi um verdadeiro tormento me manter ao seu lado... – Passou a lı́ngua na auréola. – Eu te atacava porque te queria... – Sugou demoradamente. – Eu estava ficando louca...
-- Então já me queria... ? – Questionou sem fôlego surpresa. – Ain... Me desejava então?
A médica desceu a mão para lhe acariciar as coxas sedosas, sentindo-a enrijecer sob seus dedos, adorando a forma como a sentia entregue.
Aproximou a boca da dela, encarando-a.
-- Sim, meu amor... Eu já a queria, eu já te desejava... Eu enlouquecia com isso... – Sentiu o tecido da calcinha. – Fora um suplı́cio cada segundo que estive aqui...
Angelina a sentiu úmida...
-- Deixe-me te ajudar a ficar confortável...
A Berlusconi a fez levantar, entregando-lhe a muleta para se apoiar, enquanto isso a despiu completamente.
Duda ainda pensou em se cobrir, mas ao ver o olhar apaixonado continuou como estava. Surpreendeu-se quando viu a esposa retirar toda roupa, ficando nua.
Deus, aquela mulher realmente existia?
Como um ser humano podia ser tão lindo e mesmo em pelos demonstrar aquele poder, aquele ar aristocrático, orgulhoso... definido...
Observou os seios bronzeados, a marca do biquı́ni que jazia de forma sensual. As pernas bem feitas... O abdome Sentiu a boca seca ao fitar o sexo...
Ao fitar a mulher, observou aquele sorriso jocoso...
A morena seguiu até ela, abraçando-a, tomando mais uma vez o rosto querido.
-- Eu te amo, senhora Berlusconi...
-- Eu te amo, doutora anjo...
Os lábios se uniram mais uma vez, afoitos, sedentos... Insaciáveis.
Os corpos se esfregavam na vertical, antecipando o que estava por vir, antecipando o que há tanto tempo não acontecia.
Angelina a deitou sobre o leito, usando os travesseiros para lhe apoiar a coluna.
Em seguida, retirou a bota que ela ainda usava, depois apagou a luz principal, deixando o ambiente acolhedor, mas de forma alguma escuro, pois adora poder ver a mulher enquanto a amava.
Dando a volta na cama, ajeitou-se de lado, fitando-a. Duda abriu os braços, convidando-a.
A Berlusconi foi até ela, colocando-se sobre ela, apoiava-se nos braços, pois temia feri-la.
-- Me ame... – A Fercodini pediu. – Me ame...
Angelina lhe tocou novamente os lábios... O pescoço... Enquanto descia, depositando seu toque... Mais uma vez se demorou no busto... Tomando-o para si, chupando-o... Atiçando-a.
A médica a fitou e viu os olhos fechados e a boca entreaberta. Prosseguiu sua exploração...
Beijou o abdome, o umbigo... Desceu para suas coxas... Mordendo a parte interna... Ouviu-a gemer... Fitou-a novamente e dessa vez a viu a apoiada nos cotovelos, observando tudo com atenção.
Sorriu-lhe, enquanto lhe afastava as pernas. Viu-a corar.
O primeiro contato com o sexo fora leve, apenas o fez de forma simples, mas aos poucos os beijos que eram rápidos passaram a ser mais demorados.
Passou a lı́ngua pela linha de abertura...
Duda mantinha uma das pernas flexionadas, enquanto a que estava debilitada permanecia esticada. Angelina percebeu totalmente molhada, mesmo ainda não a tendo tocada internamente.
Esfregou os lábios, lambuzando-se. Encarou-a.
-- Abra-a... Quero senti-la muito mais... – A Fercodini pediu.
A médica fez o que lhe fora pedido.
Abriu-lhe o sexo rosado.
Usou o polegar para incitá-lo, massageando-o de forma circular... Viu o clitóris inchado e acabou tocando-o com a lı́ngua. Degustou-o pacientemente, enquanto sentia a agitação da esposa. Prendeu-o nos lábios... Chupou... Ora apertando-o, ora aliviando a pressão. Observou-a...
Linda!
O rosto estava transfigurado de prazer...
Usou a lı́ngua para lambê-la, bebendo-a, não deixando uma única gota escapar. Sentiu o movimentar dos quadris...
Ouvia-a pedir mais...
Então invadiu o sexo estreito com a lı́ngua...
Duda gemeu alto, choramingou quando a sentiu parada dentro de si...
Angelina começou a se mover, fazendo-a de forma lenta, depois começou um delicioso entra e sai... Colocou mais pressão, usou o indicador para enlouquecê-la... Sentiu-a entregue, pronta...
-- Angel... – Duda a chamava.
Angelina aumentou mais a pressão, porém sentiu-a lhe segurar a cabeça. Mirou-a de forma confusa, pensando se a tinha machucado.
-- Quero que venha comigo nesse momento... Quero senti-la unida a mim...
A médica assentiu, enquanto depositava mais um beijo no sexo pulsante, logo seguindo até a esposa, cobrindo-a com seu corpo.
Ajustaram-se de forma a unir-se...
A morena tentava não colocar muita pressão, mas a Fercodini não parecia lembrar que ainda estava convalescendo.
O som dos sexos aumentavam, o roçar poderoso, as fricções... Os gemidos altos, as palavras desconexas...
-- Deixe acontecer... Deixe que me derrame em ti... – Angel dizia com a respiração acelerada. – Te amo... Te amo... Meu amor...
Não demorou muito para que o clı́max chegasse de forma avassaladora, arrancando lágrimas de Eduarda.
O sol nascia majestoso...
Angelina sentiu a luz invadir a janela, lembrando que não fecharam as persianas. A esposa dormia aconchegada em seus braços.
Sorriu!
Estava tão feliz que seu peito parecia querer explodir de tanta emoção. Ainda parecia um sonho... Estavam juntas novamente e daquela vez não deixaria que nada e nem ninguém a separassem. Acariciou a cabeleira que se estendia sobre seus seios. Fora uma noite maravilhosa... Perfeita em todos os sentidos... Ouvia-a ronronar.
Os olhos claros se abriram, fitando-a.
-- Bom dia, gatinha... – Cumprimentou-a.
Eduarda esboçou um doce sorriso.
-- Bom dia, meu amor!
Duda ficou ali, observando-a.
-- Sabia que parece um anjo de cabelos negros quando desperta?
-- Sou seu anjo de cabelos negros...
-- Sim... Meu...
Duda a beijou preguiçosamente.
-- Preciso ver a Cecı́lia, ela já deve ter acordado.
Angelina a ajudou a deitar, dando-lhe um beijo rápido nos lábios.
-- Vou banhá-la e arrumá-la para que tomemos café juntas!
-- Eu adoro tomar desjejum com vocês! – Observou a esposa se levantar. – Gostaria de poder ajudar.
A médica buscou um roupão, vestindo-o.
-- Você ainda não está bem, meu amor! Deve se cuidar, não basta os excessos que fez ontem. A Fercodini puxou o lençol para cobrir a nudez.
-- Faria novamente os excessos! – Provocou-a com um piscar de olhos.
Ela viu os olhos negros ficarem ainda mais escuros. Desejo sendo aceso.
-- Deseja ajuda no seu banho?
-- Não, amor! Eu consigo me virar! Acho que se me ajudar, não comeremos hoje...
Angelina foi até ela, beijando-a novamente, mas daquela vez o fez de forma demorada.
-- Te amo, meu bem... Te amo cada vez mais e sempre hei de te amar. – Disse contra os lábios rosados. -- E eu a ti...
Com um sorriso, a médica deixou o quarto.
Eduarda permaneceu lá, desejando gritar de tanta felicidade, desejando que o tempo não passasse, que o amor de ambas pudesse continuar tão forte por todo o sempre.
Amava-a tanto que só desejava poder estar ao lado dela, amando-a, cuidando-a, mesmo diante de todos os obstáculos que ainda pudesse surgir nos caminhos de ambas.
Suspirou alto!
Fez uma prece silenciosa em agradecimento, demonstrando toda a gratidão que sentia por tudo que acontecera quando chegara a pensar que tudo estava perdido.
Flávia saı́ra cedo da cidade.
Ester insistira para ir consigo.
A ruiva percebia que a namorada estava preocupada, via nos gestos, na expressão séria que exibia. A loira acelerava.
Desde a noite anterior não conseguira deixar de pensar no que aconteceu e não podia negar que teve a mente invadida por pensamentos terrıv́ eis.
Sabia que Angelina suspeitava de que Patrı́cia tinha sido responsável pelo acidente da esposa, mas não acreditaria que a morena pudesse fazer algo assim, pelo menos, não o faria e depois se esconderia. O orgulho e arrogância dos Berlusconis corriam por aquelas veias de forma dominante.
Estacionaram diante da mansão.
Realmente ficara muito bonita depois da restauração. Desceu, em seguida deu a volta para a namorada.
-- Nossa, que lugar lindo! – Ester pareceu maravilhada.
-- Foi aqui que deixei sua amiga presa aqueles meses...
-- Então esse é o palácio da fera? – Provocou-a.
-- Ah, sim! Mas antes fazia jus ao terrıv́ el ser que habitava... Sorriram.
A médica tocou a campanhia e uma senhora veio até ela para abrir. Conhecia-a.
Aquela mulher trabalhara para a famı́lia da Angelina. Sorriu, cumprimentando-a.
-- A doutora está na piscina.
Ambas deram a volta no grande jardim, chegando à área que a morena estava. Flávia ficou encantada ao ver o trio curioso.
Duda estava deitada em uma espreguiçadeira, tendo a esposa sentada na beirada da mesma, tendo a pequena Ceci nos braços.
Pareciam felizes...
Regozijou-se com aquilo.
-- Que famı́lia bonita! – Disse ao se aproximar.
Eduarda e a Berlusconi fitaram as visitas.
-- Oh, Deus, como essa princesa tá fofa! – A ruiva se aproximou pegando o bebê. – Titia tá morrendo de saudades. Angelina observou-as curiosamente.
Apontou a cadeira para que elas se sentassem.
-- O que houve? – Questionou preocupada. A loira sorriu.
-- Posso cumprimentar a Duda pelo menos? – Abraçou-a a jovem. – Como vai?
-- Estou bem, Flávia. – Ela respondeu sorrindo pelo tamanho da carranca da esposa.
--Agora me conte o que se passa! Afinal, você não viria até aqui só pra fazer uma visita.
-- Podemos ir ao escritório? – A loira indagou.
-- Não, não tenho segredos que com a Duda!
Flávia fitou Ester e ambas deram um sorriso travesso, então realmente tinham conseguido se entender.
-- Que bom então! – Sentou-se. – Ontem recebi uma ligação do José! – Foi logo ao assunto. – Ele me falou que alguém tinha empurrado a Patrı́cia do sétimo andar de um prédio.
Duda pareceu chocada com o que ouvia. Ajeitando-se na espreguiçadeira, sentando-se.
-- Meu Deus! Quem fez isso?
Angelina não esboçou nenhuma reação. Flávia a encarou.
-- Não se sabe, porém a polı́cia acha que você fez isso, Angel!
--Eu? – A Berlusconi arqueou a sobrancelha.
-- Isso é um absurdo! – Duda falou alterada. – Angelina passou toda a noite comigo, ela jamais faria algo assim!
Mais uma vez a loira deu uma olhada para a ruiva e isso fez com que a Fercodini corasse.
-- Eu sei que você não fez, mas deve se apresentar para prestar depoimento. Pedi para o advogado lhe representar.
Angelina se levantou.
-- Ok! Irei agora mesmo!
Eduarda pegou a muleta, levantando-se.
-- Irei contigo, amor!
A médica assentiu.
-- É o tempo de nos arrumarmos e seguiremos com vocês.
Angelina seguiu na frente, mas Eduarda ainda permaneceu lá.
-- A Patrı́cia morreu? – Indagou preocupada.
-- Não! Mas seu estado é muito grave!
Eduarda assentiu, indo ao encontro da esposa.
Naquele mesmo dia Angelina se apresentara ao delegado. Prestou depoimento e foi liberada. As investigações continuavam. Patrı́cia seguia internada.
Uma semana depois, Eduarda já retornava sua rotina no hospital.
O relacionamento de ambas estava cada vez mais intenso e apaixonado.
Certa manhã, Henri insistiu para que a Berlusconi auxiliasse Flávia em uma cirurgia. Angelina hesitou, mas Duda a apoiou tanto que a morena acabou aceitando.
Tudo saı́ra bem e Angelina não cabia em si de tanta felicidade.
Certa noite, depois de se amarem intensamente, Duda descansava em seus braços.
-- Acha que conseguirei? – A médica questionava.
Eduarda apoiou-se nos braços, fitando-a.
-- Sim, meu amor, tenho certeza que conseguirá... – Tocou-lhe a face. – Não tenha medo, apenas acredite e aos poucos poderá voltar a fazer o que tanto gosta.
A Berlusconi a abraçou forte.
-- Não sabe como me sinto feliz por tê-la ao meu lado, pelo seu apoio...
-- Eu sempre estarei ao seu lado, minha linda esposa.
Patrı́cia seguia internada e seu estado não era nada animador. Flávia decidiu ir visitá-la.
O médico não deu muitas esperanças, mas pediu que Angelina fosse vê-la, pois a psicóloga a chamava sem parar em seus delı́rios.
Era sábado...
A Berlusconi precisara comparecer a uma reunião no hospital.
Henri levara a filha e a neta para almoçar, em seguida foram assistir a um filme infantil.
Cecı́lia se comportara muito bem. Era uma menina que não costumava fazer escândalos, ainda mais se estava ao lado de uma das mães. Em breve a garotinha completaria um ano. Crescia forte, saudável e cheia de amor por todos que a cercavam. Naquele dia chegaram à cobertura um pouco tarde.
Mattarelli se despediu de ambas e foi embora, pois tinha um jantar com alguns professores. Duda perguntou a um dos empregados sobre a esposa e eles disseram que ela estava na piscina.
Levou a filha para o quarto e mesmo não sendo mais horário de soneca, quase dezessete horas, a menina pareceu cansada e dormiu nos braços da mãe.
A Fercodini a beijou, deixando-a descansar.
Seguiu até o quarto, despiu a roupa, colocando biquı́ni, em seguida foi ao encontro da esposa.
A Berlusconi estava sentada em uma das mesinhas. Digitava algo no notebook.
Havia algumas observações sobre a pesquisa que começara a desenvolver que gostaria de anotar, antes que os dados saı́ssem de sua mente.
Reunira-se com Flávia e outros dois colegas, um deles o conceituado médico alemão que fizera sua cirurgia. Ele se mostrara bastante entusiasmado ao saber que ela participara de um procedimento e decidiu ficar para acompanhar de perto aquela recuperação milagrosa. Naqueles últimos quinze dias sua vida realmente passara por um verdadeiro milagre. Tomou um pouco do suco de goiaba.
Tudo estava indo tão bem que chegava a temer.
Recordou-se de Flávia que pedira que ele fosse até o hospital ver a Patrı́cia. Falaria com a Duda sobre isso e no dia seguinte faria a visita.
A polı́cia ainda trabalhava na elucidação do caso, mas já descartara a herdeira de Antônio da lista de suspeitos. O delegado ouvira várias testemunhas que comprovaram o álibi da médica.
Sentiu mãos macias lhe tocar os ombros... Aquele aroma delicioso invadir a respiração. Levantou a cabeça e lá estava sua linda esposa.
Recebeu um beijo rápido de mais para sua vontade. Sorriu.
-- Henri deseja mesmo roubar minha filha e a minha mulher?
Eduarda continuou a massageá-la.
-- Vai reclamar com ele? – Provocou-a, descendo as mãos para mais perto do decote. – Não acredito que o fará, afinal, ele te tem em tão alta estima.
Angelina a fez dar a volta, fazendo-a sentar em seu colo.
-- Eu também o tenho... – Falou bem perto dos lábios rosados, quase colados a eles. – Afinal, olha que filha linda ele fez para mim...
-- Para ti? – Duda passou a lı́ngua para circular os lábios da mulher, fazendo-o de forma lenta. – Pretensiosa, doutora...
A Berlusconi gemeu, segurando-lhe a nuca, colando a boca a dela.
Eduarda a enlaçou pelo pescoço, adorando a forma possessiva que era abraçada.
O contato dos seios, mesmo com a proteção do biquı́ni... A lı́ngua que parecia saber o que fazer, como a enlouquecer, como a deixar com os pensamentos perdidos.
Chupou-a intensamente... Mordiscou-a... Sem fôlego, afastaram-se.
Duda via o desejo brilhar naqueles olhos negros...
Era como se houvesse uma trilha de fogo entre elas... Acendia tão rápido e era sempre destruidor...
-- Acho que preciso de um banho! – Eduarda se levantou.
A médica a fitava cheia de malı́cia, enquanto a observava se livrar da saı́da de praia. Mordiscou o lábio inferior, sentindo aquela deliciosa pressão no ventre.
-- Onde está a Cecı́lia, amor?
A jovem prendeu os cabelos em um coque.
-- Ela chegou tão cansada que acabou dormindo!
-- Tadinha, não está acostumada a passar o dia todo fora.
-- Ah, Angel, você deveria ter visto ela no cinema... – Disse de forma boba. – Parecia uma mocinha, super comportada e prestando atenção ao filme.
Angelina sorriu enternecida.
A cada dia que passava amava mais aquela garotinha, mais se enchia de felicidade.
Sempre tirava algumas horas do dia corrido para ficar com ela. Algumas vezes quando seu trabalho era apenas burocrático, levava-a para hospital consigo, adorando vê-la toda entretida brincando com alguma coisa.
O latido de Pigmaleão tirou-a de seus pensamentos. Angelina o pegou nos braços, acariciando-o.
-- Super ingrato! – Duda acusou o cãozinho. – Passei o dia fora e não sou recebida com felicidade.
-- Você poderia tê-lo levado também, ele ficou comigo a tarde toda.
Eduarda colocou as mãos nos quadris.
-- Como eu iria levá-lo?
Angelina deu de ombros, enquanto via a esposa se jogar na piscina. Terminou de digitar, enquanto sentia o pug ainda mais agitado.
Levantou-se com ele nos braços, aproximando-se da água. Via Eduarda nadar com vigor.
O sol já começava a ficar com o brilho ofuscado.
Ficou alguns segundos apenas observando a mulher, mas acabou colocando o pug de lado, indo fazer companhia a Eduarda.
Observou a Fercodini parada na outra extremidade, indo até ela, abraçando-a, pressionando-a contra a cerâmica.
-- A Flávia e provavelmente a Ester virão jantar conosco. – Beijou-lhe o pescoço. – Preciso resolver algumas coisas com ela.
-- Quais coisas, amor? O que o cirurgião falou contigo?
-- Ele ficou muito feliz com o meu progresso e talvez eu precise me submeter a outra intervenção, lógico que mais simples.
Eduarda a enlaçou pelo pescoço.
-- Eu estou tão feliz com isso, você não imagina quanto.
-- Eu também estou... – Disse emocionada. – Sabe como tenho paixão pela Medicina e a chance de voltar a fazer o que sempre fiz é maravilhoso.
Duda a abraçou, sentindo um enorme contentamento por tudo está se resolvendo, por todas as peças estarem se encaixando naquele complexo quebra-cabeça que era a vida.
-- Amanhã irei ver a Patrı́cia... – Disse fitando-a.
Eduarda assentiu.
-- Estamos tão felizes que desejo me livrar de todas essas mágoas. – Continuou. – Não sei se ela sairá dessa, mas se o fizer, apenas desejo que ela seja feliz bem longe da gente.
-- Você está certa... – Disse com um sorriso. – Sabe que essa Angelina dos últimos dias está me deixando cada vez mais apaixonada?
Os olhos negros voltaram a apresentar aquele ar malicioso.
-- Ah é? Essa minha calmaria está te fazendo bem? – Começou a tocar os seios sobre o tecido.
-- Sim... Porém há um lugar que a calmaria não chegou e não sei se desejo que chegue... – Encarou os lábios rosados.
A Berlusconi baixou a parte de cima do biquı́ni, lambendo os bicos intumescidos.
-- E que lugar seria esse? – Fitou-a, enquanto mamava mais forte.
-- Na cama... No carro... No sofá... Na piscina... No hospital... – Gemeu ao sentir a mordida.
-- E o que tem esses locais de tão especial? – Baixou a mão, tocando-lhe o sexo sob a proteção.
Eduarda circundou o quadril da esposa com a perna, dando assim um melhor acesso a seu corpo. Fitou a expressão safada. Vibrou...
-- Ain, amor... Você me deixa louca...
-- Eu quero te deixar louca sempre... Sempre e sempre... – Penetrou-a.
-- Sabe que nem precisa fazer esforço para isso... – Moveu o quadril de encontro aos dedos que a invadia impetuosamente.
-- Pena que teremos visitas... – Voltou a tocar os seios com os lábios. – Adoraria ir para o quarto agora e não sair mais de lá. Ain...
-- Ain...—Gemeu mais alto. – Prometo compensá-la depois... – Mexeu-se mais. – Faz mais forte... Mais rápido...
Angelina atendeu ao pedido, sentindo-a cada vez mais entregue.
-- Goza bem gostoso pra mim... – A médica sussurrou em seu ouvido.
-- Ain... Gozo... Só pra você... Ain... Só pra você...
Não demorou para que Angelina precisasse abafar o grito de paixão das esposa com os lábios. Sabia que estavam sozinhas, mas mesmo assim beijou-lhe para senti-la só para si.
Abraçou-a forte, enquanto a sentia tremer em seus braços.
Desejou ir para o quarto e amá-la novamente, porém teriam visitas e não podia se esquecer disso.
Bruno estava diante do prédio da Berlusconi.
Observou quando o carro de Flávia entrou e ficou a pensar como faria para ter acesso àquele lugar tão cheio de seguranças. Ainda não tivera a oportunidade que buscava, mas mesmo assim continuaria ali e quando tivesse a chance acabaria com Angelina.
Tocou a cintura e sentiu a arma.
Conseguira-a com um amigo e se soubesse mirar o lugar certo, livraria o mundo da presença miserável da filha de Antônio.
Mirou o relógio que descansava no pulso.
Infelizmente a denúncia que fizera contra Angelina não surtiu efeitos.
Rezava para que Patrı́cia morresse e não pudesse lhe acusar do crime, porém não se importava em ir para a cadeia por matar a morena, na verdade se sentiria muito feliz ao saber que aquele era o preço que pagaria para destruir a mulher que lhe tomara tudo o que tinha.
-- Seu fim está próximo, querida!
Duda terminava a maquiagem quando Angelina entrou no quarto com a filha nos braços.
A médica usava um vestido preto, longo, de alças finas, adornando os ombros bem feitos. O tecido moldava o corpo de curvas bonitas e sensuais.
Os cabelos estavam soltos.
Cecı́lia usava macacão rosa de unicórnio que trazia um capuz imitando o bichinho. Eduarda sorriu ao vê-las.
Acabou de arrumar as madeixas que preferiu deixar soltas, levantando-se, encarando as duas.
-- Estão lindas! – Aproximou-se, beijando a filha.
Angelina a olhava de forma enamorada.
A Fercodini usava um vestido branco, estilo cubinho, que chegava um pouco acima dos joelhos. Ele não tinha alças.
Ela usava o colar que recebera de presente de Ester, brincos no mesmo estilo.
-- Você que está! – Disse encantada. – Como pode ser tão linda?
Não havia dúvidas do que o amor estava presente entre elas, não havia dúvidas que se amavam intensamente, mesmo depois de tudo o que passaram, tudo o que viveram.
Angelina lhe tomou a mão e o belo trio seguiu ao encontro das visitas.
O jantar transcorreu de forma divertida.
Contaram algumas histórias engraçadas, falaram sobre o hospital e também dos planos das duas para casarem o mais rápido possível.
Flávia e Ester praticamente roubaram a pequena Ceci. Estava na área da piscina tomando vinho.
-- Se eu fosse você eu não me casaria. – Angelina dizia divertida, provocando-as. – Pense bem, depois que casar vai acabar esse romance todo e só vai ter responsabilidades e beliscões se olhar para outra mulher.
Ocupavam poltronas.
Duda estava ao seu lado, enquanto a ruiva e a loira estavam na da frente, tendo a pequena Cecı́lia consigo.
-- Então é apenas isso que a Eduarda anda fazendo contigo, doutora? – Ester a alfinetou, enquanto brincava com a criança. – Ela deve beliscar muito bem, pois a senhora está bem comportada ultimamente.
Eduarda gargalhou alto, seguida pela loira. Angelina bebeu um pouco do vinho.
-- Não escute o que ela fala, Flávia! – A Fercodini se intrometeu. – Vocês devem casar mesmo e pensar em ter filhos para brincar com a Ceci. Quero ser a madrinha... E também quero ajudar a organizar tudo, afinal, não o fiz no meu, mas desejo fazê-lo no de vocês.
-- Pois é, meu bem! – A Tavares sorria. – Você casou dopada e em Las Vegas...
-- Não sei qual o mal disso, afinal, ela está casada comigo de todo jeito... Tirou a sorte grande. – Beijou a esposa que a olhava com cara de brava. – Estou brincando! Eu que tenho muita sorte por ter você, meu amor.
As quatro caı́ram na risada.
-- Realmente você colocou a Angelina na coleira, Dudinha! – Flávia provocou a amiga. – Tá mais dócil do que o Pigmaleão.
-- Como se a Ester não estivesse fazendo pior! – Debochou. – Acha que não sei que teve que transferir uma enfermeira gostosa que estava dando em cima de ti?
A loira corou, mas se recompôs rapidamente.
-- E você não fez o mesmo com a doutora Natália?
A filha de Antônio ficara calada, pois realmente transferira a pediatra, pois sabia que seria inviável a presença dela no hospital, ainda mais porque Eduarda morria de ciúmes dela.
A noite transcorreu de forma gostosa. Risadas e brincadeiras.
Ester combinou de ajudar Duda a cuidar dos preparativos para o aniversário de Cecı́lia.
Flávia também não desejava ficar de fora e nem mesmo a arrogante Angelina que parecia disposta a ajudar na decoração e na contratação das pessoas para animar o evento.
Já era tarde quando as agradáveis visitas se despediram, seguindo para a casa.
Angelina trocou a filha, depois a colocou para dormir.
Quando retornou ao quarto, encontrou a esposa vestida em uma sensual camisola.
Nem mesmo se trocou, indo diretamente até ela, tomando de forma intensa e apaixonada. Amaram-se durante toda a noite, fazendo juras de amor entre gemidos e gritos de prazer.
No dia seguinte, Eduarda acompanhou a esposa até o hospital.
O médico avisou que Patrı́cia não reagia ao tratamento e não havia muita fé que se restabelecesse do ocorrido. Angelina entrou sozinha.
Não pôde evitar apiedar-se da situação da mulher que um dia amara tanto.
A psicóloga sempre representara uma divisão de águas em quem foi a Angelina e o que ela se tornou depois da terrível traição.
Odiara-a por tantos anos que vendo-a agora, percebia como tudo fora inú til e como só agora descobria que só conseguira ser feliz com Eduarda porque deixara todo o passado onde era o lugar dele... No passado.
Observou o rosto bonito cheio de marcas. Respirou fundo.
Viu os olhos azuis se abrirem e as lágrimas lhe encherem.
Pôde ver que havia uma pouco de felicidade naquele rosto deformado.
-- Angel...
A voz fraca a chamou.
-- Estou aqui...
A psicóloga mexeu os dedos...
A Berlusconi hesitou, mas acabou segurando-lhe a mão.
-- Não... queria... morrer... sem te ver... – Fazia demasiado esforço para falar.
-- Você não vai morrer, precisar ser forte...
O sorriso triste se desenhou na face que fora tão bela antes.
-- Sabe... que sim... – Engasgou-se. – Mas eu não me importo. – Dizia baixo. – Pelo menos a vi antes de partir...
Angelina engoliu em seco.
-- Eu... Eu te amo... Sempre... Sempre vou te amar... – Soluçou. – A melhor parte da minha vida foi quando estive ao seu lado... – Deu um sorriso triste. – Você também me amou?
A Berlusconi assentiu.
-- Te amei muito...
As lágrimas se tornaram mais abundantes.
-- Me... Me perdoe por tudo...
-- Eu a perdoo...
Angelina a sentiu apertar mais forte sua mão. Viu o corpo frágil ser atingido por espasmos.
Patrı́cia tentou falar novamente, mas não parecia ter mais forças para fazê-lo. Em uma última tentativa, ainda se pôde ouvir.
-- Seja feliz, meu único amor...
A Berlusconi viu os olhos que sempre demonstraram alegria perderem toda a vitalidade.
Sentiu uma lágrima lhe arder e não conseguiu não chorar por ver como fora triste o fim daquela bela mulher que um dia lhe fizera tanto mal.
Depositou um beijo em sua testa.
-- Que a sua alma encontre a paz...
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