Anjo caído -- Capítulo 35
Mesmo diante opacidade dos aposentos, não seria difı́cil imaginar a expressão irritada de Angelina. A postura ereta, a cabeça levantada, os olhos inquisidores, a cólera que ela dominava e soltava em pequenas doses. Ela fora criada como uma princesa, uma garota cheia de vontades sim, mas a doce Ângela tentou moldar com todo o primor, dando-lhe a melhor educação, a polidez de uma dama que sempre caı́ra por terra quando se tratava da bela filha de Mattarelli.
-- Não sei do que está falando! – Duda lhe deu as costas. – Deixe-me em paz. Creio que já se divertira o suficiente para uma noite.
A menina de olhar atrevido jamais baixava a cabeça diante da poderosa mulher, sempre a desafiava e parecia não temer sua raiva.
A Berlusconi a puxou forte pelo braço, obrigando-a a lhe encarar.
-- O que mais me enlouquece é você ser tão dissimulada! – falava por entre os dentes – Ainda vai negar o que se passou? – Apertou-a mais forte. – Eu vi o maldito vı́deo, vi as fotos e a carta... – Soltou-a com um safanão. – Em algum momento você chegou a pensar que aquilo não passava de uma armação? Essa sua cabeça de vento chegou a pensar que eu podia ser inocente?
Eduarda deu alguns passos para trás, parecia desnorteada com as palavras.
Ela sabia de tudo, sabia das provas que fizera questão de esconder, da mesma forma que desejou ocultar a humilhação de ser traı́da.
-- Você realmente é um ser desprezível... – A morena passou as mãos pelos cabelos. – Você sabia que o Henri era o seu pai e o coitado chorando pelos cantos, sem saber como falaria para a preciosa filhinha toda a história.
-- Como ousa falar de mim? – A Fercodini esbravejou. – Você soube muito antes de mim, mesmo assim preferiu esconder para continuar a sustentar a tese idiota que eu era filha do seu pai, que a minha mãe era a amante dele. – Levantou a cabeça de forma petulante. – E se eu fosse sua irmã? Decerto a sua libido exacerbada te faria cometer um incesto.
Angelina lhe enviou um olhar de advertência, depois caminhou até a janela.
Apoiou-se a ela, segurando firme no parapeito, buscava o controle que há tempos perdera.
-- Saia daqui! – Duda a expulsou. – Não aguento ouvir sua voz, seu cheiro... O som rouco do riso da médica não trazia nenhum humor.
-- A Patrı́cia deve ter se divertido muito as suas custas... – Maneou a cabeça negativamente. – Você a maior tola que já tive o desprazer de conhecer... Uma garotinha idiota que pode ser ludibriada por qualquer um sem muito esforço.
Os olhos claros pareciam relutar em acreditar em tudo, pareciam batalhar para acreditar na psicóloga, Eduarda sabia que se realmente tudo aquilo não passasse de um plano terrível para separá-las, aı́ sim não haveria mais salvação para sua alma.
-- Não... Não...—Ela andava de um lado para o outro. – Eu vi, eu ouvi da boca do seu advogado, o Bruno viu tudo...
Ele me levou a um perito... Não havia fraude na gravação...
Angelina caminhou até o closet, retirou uma calça jeans, camiseta, lingeries, jogando-as contra a esposa.
-- Vista-se! – Ordenou com voz controlada.
-- Não irei me vestir droga nenhuma, já te disse que não irei a lugar algum contigo. – Praticamente berrou.
A Berlusconi nada disse.
Seguiu até a mesinha da cabeceira, pegou o celular, discando para alguém.
-- Dê-me mais trinta minutos. – Falara ao aparelho.
Eduarda cruzou os braços diante dos seios, exibia uma postura arredia, intransigente. Com quem ela estava a falar?
Patrı́cia?
Quando seus olhos voltaram a fitar a médica, ela já estava praticamente sobre si. Duda gritou assustada quando teve a toalha arrancada do seu corpo.
Angelina pegou as roupas do chão, mais uma vez tomou a esposa pela mão, caminhou até a poltrona, sentando-se, obrigando a se acomodar em seu colo.
-- Solte-me!
A Fercodini lutava para se livrar, mas a fúria da Angel lhe dava uma força dobrada.
Apertou-a contra o peito e mesmo sentindo as unhas dela se fecharem contra seu braço, não a afrouxou.
-- Deixe-me! – Dizia entre soluços. – Afaste-se de mim! Está me machucando...
-- Estou te machucando? – Sussurrou em seu ouvido. – Veja os meus braços arranhados... Pense na minha alma como está ferida, como você a feriu sem se importar com os meus sentimentos, com o amor que sentia por ti... Eu me apaixonei por uma idiota que nunca me deu um crédito, que sempre me acusou de não manter um diálogo... Mas naquele maldito dia eu cumpri o que te prometi quando estivemos no iate... Eu implorei para que me falasse o que estava acontecendo...
As unhas que lhe rasgavam cessaram os movimentos, apenas apertando-a, tremia, seu corpo já era sacudido por espasmos.
-- Repita o que falou naquele dia... Desejo ouvir novamente o que miseravelmente me jogou na cara.
-- Eu não quero mais ouvir, Angel... Eu não quero... Eu imploro que me deixe em paz. – Cobria as orelhas.
Angelina a obrigou a sentar de frente.
Naquele momento Duda buscava cobrir a nudez, mas a médica a obrigou a encará-la, segurando-lhe os cabelos, obrigando-a fitá-la.
-- Você disse: “Foi ótimo o que vivemos, mas eu percebi que era apenas sexo, não há outros sentimentos envolvidos, tudo é muito vazio e por isso não desejo continuar”. – Gargalhou. – Essas malditas palavras se fizeram eco na minha mente durante dias. Você me sentenciou ao inferno...
-- Angel... – Ela pediu.
-- Era apenas sexo... Agora vai ser apenas sexo mesmo...
A boca da Berlusconi lhe esmagou os lábios novamente e mesmo diante dos empurrões, não fora difı́cil dominá-la. Angelina a tomava com ardor, exigindo e ao mesmo tempo provocando-a, desejava afrontá-la com seu desejo, com sua raiva.
Sentiu o sabor do sangue, o ardor da poderosa paixão que não a deixava em paz.
Duda circundou-lhe o pescoço, extasiada com o prazer que sentia, mesmo entre as lágrimas se sentia atraı́da pela esposa como Ícaro pelo sol.
Inclinou a cabeça para trás, enquanto recebia a carı́cia no rosto, no pescoço esguio.
Sentiu a boca lhe tocar o colo, passar por seus seios, lambendo o vão entre eles, apertando-os, circundando-lhe com a lı́ngua.
Apertou-o forte.
Eduarda gemeu.
-- Você pediu por isso!
Afastou-lhe as pernas, tocando o sexo pulsante, abrindo-o para si, usando o polegar para incitá-lo, e fora com ele que a penetrou.
Mexia-o, enquanto a mantinha cativa, segurando-lhe os cabelos fortemente, obrigando-a a encará-la.
-- Grite que me odeia, que quis apenas se vingar, que desejou apenas saber como era ser comida pela filha do seu querido padrinho.
Eduarda nada disse, apenas lhe abriu o roupão, espalmando os seios da médica, desejando que aquele suplı́cio continuasse, mesmo quando sabia que era apenas o sexo que ela desejava.
Angelina sentiu o toque desajeitado em sua carne que vibrava e percebeu como a queria, mesmo quando desejava feri-la.
Fê-la levantar, seguindo com ela até a cama, deitando-a, afastou-lhe as pernas, encaixou-se a ela, esfregando-se, roçando com força, aumentando o ritmo do quadril, açoitando-a novamente, mas agora com seu próprio prazer pulsante.
Sentia as mãos em suas costas, sentia o desespero dela, ouvia a boca bonita se abrir em gemidos guturais. Mirou os olhos claros, perdeu-se naquele mar turbulento.
Sentiu o próprio corpo atingir o orgasmo, molhando-a com seu lı́quido, sabia que ela não demoraria ao alcançar o ápice, porém se desvencilhou do toque, afastando-se cruelmente.
Regozijou-se ao fitar o olhar arregalado, pidão, agonizante. Ignorou-a, pegando o roupão, cobrindo-se.
-- Vista-se! – Fitou o relógio que descansava sobre o criado mudo. – Você tem dez minutos para me encontrar lá embaixo. – Seguiu até a porta, mas virou-se mais uma vez para ela. – Não me faça subir aqui, pois eu não me importarei em te arrastar.
Eduarda teve vontade de esbravejar alto, gritar a todo pulmão como se sentia ultrajada com o que aquela mulher acabara de fazer consigo.
Levantou-se e no excesso de sua raiva rasgou as luxuosas cobertas que adornavam o leito matrimonial. As lágrimas lhe queimavam os olhos, lhe ardiam a pele.
Flávia e Ester estavam sentadas no sofá.
Esperavam ansiosamente pelo casal que não demoraria a aparecer.
A ruiva sabia que teria que enfrentar a raiva da amiga, mas não pudera se manter calada quando ficara diante de tudo aquilo.
Observou Angelina descer as escadas.
Ela usava calça colada, camiseta e um sobretudo. Tudo na cor preta. Usava sapatos fechados de bico fino, os cabelos estavam soltos, adornando o rosto forte e arrogante.
Percebeu que a pele morena parecia afogueada.
A loira fitou a ruiva por alguns segundos, comunicando-se, pedindo que nada fosse falado naquele momento. A Berlusconi caminhou até o bar.
Sentou-se em uma dos bancos, esperando o momento que não demorou a acontecer. Uma Eduarda com o olhar desafiador seguia até elas.
Decerto era daquele jeito que uma poderosa bruxa enfrentara a fogueira da inquisição. Arrogante...
Angelina encheu o copo com uı́sque, fez um gesto na direção dela, um brinde, em seguida bebeu o conteúdo de uma vez.
-- Vamos?
Flávia assentiu, enquanto as quatro seguiam.
No elevador, Duda continuou calada e nas vezes que acabava por fitar a médica, conseguia ver o deboche e o tenebroso desdém, sendo assim preferia fitar os próprios pés para não correr o risco de voar sobre ela, arranhando-lhe o rosto tão bonito.
Os seguranças mantinham Patrı́cia, o advogado e Bruno bem acomodados na sala da cobertura da doutora Tavares.
A psicóloga esbravejara, demonstrava total indignação, levando em conta que cada um dos presentes foram “convidados” a participarem da reunião.
A loira já abria a boca para discutir mais uma vez quando a porta se abriu e ela fitou as quatro mulheres que adentravam o espaço.
Sentiu a pele arrepiar diante do poder que emanava da herdeira dos Berlusconis.
Angelina encarou o trio, porém nada disse. Ela demonstrava total serenidade diante dos presentes. Fez um gesto para que a Tavares se apropriasse do aparelho de vı́deo.
-- Bem, senhoras, senhores, creio que temos alguns fatos a esclarecer! – A voz rouca e firme se fez ouvir.
Eduarda parecia ainda mais confusa com tudo aquilo. Estava muito irritada por estar sendo submetida à tamanha humilhação.
Bruno se manifestou.
-- Eu me nego a participar desse circo!
O segurança o obrigou a sentar novamente.
-- Você é o palhaço principal, seu idiota! – Angel falou. – Afinal, não foi você que se mostrou tão bem intencionada para a minha mulher?
Ela se regozijava ao ver a expressão de raiva que ele exibia.
Na verdade, estava sentindo um imenso prazer em poder desmascarar a todos e por fim ver a cara da esposa depois que tudo fosse revelado.
Fitou Eduarda.
Viu o olhar de revolta que lhe dirigia, percebeu em seu silêncio como controlava a fúria. Sorriu de forma irônica para ela.
Os olhos claros desviarem do seu rosto, fitando a TV.
-- Bem, crianças, vejam as cenas que se sucederão. – Apontou a tela. – Prestem atenção a cada coisa, ah, nesses vocês poderão ouvir o áudio, não é doutor? – Mirou o advogado.
Patrı́cia e Bruno se voltaram para o homem, pareciam surpresos. As primeiras imagens foram as que a Patrı́cia mostrara a Duda.
-- Não ficarei vendo isso...—A Fercodini falava, quando as cenas começaram a mudar.
A jovem sentiu o corpo tremer, um arrepio frio lhe percorria toda a espinha.
Naquele, podia ver o momento que a Angel chegara ao apartamento da loira e tudo que se passara naquela noite. Patrı́cia precisou ser contida, pois praticamente voara sobre o advogado.
-- Miserável, você me traiu!
Flávia aumentou ainda mais o som.
Ester observou à amiga, viu os olhos ficarem rasos d’água. Colocou a mão sobre o ombro dela, mas a jovem se desvencilhou.
-- Foi isso que você viu, Duda? – Angelina sentou elegantemente, cruzando as pernas. – Bem, querida, espero que não fique decepcionada por eu ter acabado com seu castelo de idiotices.
A jovem a encarou. Os lábios tremeram, pareciam querer falar algo, mas acabaram por ficar quietos, em silêncio. Fitou Patrı́cia, percebeu como ela parecia se divertir com tudo aquilo.
Descontrolada, a Fercodini praticamente pulou sobre a psicóloga.
-- Segure-a! – Angel ordenou.
Fora preciso mais de um segurança para deter a fú ria da garota que esperneava.
-- Você acha que isso vai adiantar de quê? -- A morena se aproximou da esposa. – A culpa não é dela e nem dele. – Apontava-os. -- Você, Maria Eduarda Fercodini de Berlusconi, você é a única culpada de tudo isso.
Os olhos claros pareciam um mar em tempestade.
-- Você não me deu chance de defesa... – Sorriu amarga. – Preferiu acreditar nesses dois patifes, porém eles não te obrigaram a acreditar, foi a sua escolha que nos trouxe aqui. – Retirou a carta do bolso. – Quanto a isso, nunca tive conhecimento, pois se soubesse teria falado para o Mattarelli, teria contado, disso não tenha dúvidas, querida.
Arrependimento era o que se podia ver nas lágrimas que banhava a face de Duda. Soluçava, tentando em vão conter o pranto que era visto com total indiferença pela médica.
Desvencilhou-se, livrando-se dos braços do segurança, deixando rapidamente o apartamento.
Ester seguiu atrás dela.
Angelina não pareceu se abalar, voltando a ocupar a poltrona, encarando os dois. Patrı́cia se levantou, praticamente se ajoelhando diante da filha de Antônio.
-- Eu só quis te provar que ela não te merece! Veja, ela não confia em ti, como Pode dizer que te ama se nem mesmo confiou em você!
Os olhos negros se estreitaram ameaçadoramente.
-- Sim, isso eu já sei, porém creio que chegou a hora de você e esse imbecil pagarem pelo que fizeram.
-- Não... – A loira choramingava. – Sua esposa é a única que merece o seu castigo.
Angel acariciou a face da psicóloga de forma desdenhosa.
-- A Duda vai pagar caro por isso, mas agora é o momento que preciso tirar vocês da minha vida. – Fez um sinal para que o segurança tirasse a mulher de perto de si.
-- Eu te amo... – Ela gritava. – Eu te amo e sempre vou te amar. – Se declarava, enquanto o homem a segurava.
-- O seu amor não me interessa. – Levantou-se!
-- O que pretende fazer? Nos matar? – Bruno a desafiou.
-- Não, idiota, morrer é muito bom para vocês. – Exibiu um sorriso frio. – Esperem e vejam o que acontece quando se mexem com Angelina Berlusconi! – Seguiu até o advogado. – Não pense que só porque me entregou a gravação original, tenho alguma gratidão por sua medı́ocre pessoa, já lhe paguei por isso, então nunca mais cruze o meu caminho.
O homem assentiu rapidamente, enquanto via a bela herdeira se afastar.
Flávia observou a amiga deixar o apartamento e ficou a imaginar o que ela faria. Temia que ela não perdoasse Duda, temia pelo castigo que ela infligiria à esposa. Mirou os presentes, sabendo que não haveria punição suficiente para o que fizeram. Rezaria a Deus para que tudo pudesse se resolver.
Naquela noite Duda não conseguira dormir.
Passara toda noite esperando que Angelina retornasse, desejava poder lhe falar, poder pedir desculpas, mesmo sabendo que isso não adiantaria. Infelizmente o erro já fora cometido e nada se podia fazer quanto a isso. Fora infantil, burra, ingênua ao acreditar no Bruno e na Patrı́cia. Bancara a estú pida e fora responsável por fazer sofrer a mulher que amava com toda a alma.
Levantou-se, seguiu até o quarto da filha. A menina dormia.
Fitou a poltrona com a esperança de que encontraria Angelina ali, mas estava vazia.
Tocou o rosto da pequena Ceci, temendo que depois de tudo que se passou, perdesse-a também. Voltava para o quarto quando ouviu o latido de Pigmaleão.
Sim, a Berlusconi tinha chegado, era possível sentir o cheiro dela, o poder que emanava dela era tão forte.
Pensou em ir até a sala, mas percebia que não deveria fazê-lo, talvez aquele não fosse o momento para conversarem.
Retornou para os aposentos, permanecendo deitada.
Via as horas passando e chegou a imaginar que em algum momento a esposa viria até o quarto, mas os raios de sol já se mostravam e nada aconteceu. Cansada por não ter conseguido dormir, decidiu tomar um banho, pois logo teria que ir para o hospital. Sentia a água e recordava da cena que vivera no dia anterior.
Apressou-se, pois as lembranças não eram algo bom naquele momento. Vestiu-se rapidamente, pegou o jaleco e a bolsa.
Antes de trabalhar, seguiu até o quarto da filha. Apenas a babá estava lá.
-- A Ceci está com a senhora Angelina, estão tomando café na varanda da sala.
Duda ainda relutou em ir até elas, mas não gostaria de sair e não ver a garotinha. Caminhava lentamente, parou a soleira.
Seu coração se enterneceu ao ver a cena.
A menina estava sentada em um cadeirão. Usava camiseta e fralda descartável. Os cabelos estavam presos em cada lado da cabeça.
A criança balbuciava, enquanto Angelina levava a colher até sua boca, fazendo aviãozinho e arrancado verdadeiras gargalhadas da pequena.
Aproximou-se.
-- Bom dia! – Cumprimentou-as.
Os olhos negros se voltaram para si. Eduarda não conseguiu evitar um suspiro. A Berlusconi estava ainda mais bonita.
Os cabelos estavam soltos soltos, usava uma camisa de botões na cor cinza, jeans colado preto e jaqueta de couro na cor vinho.
-- Bom dia, senhora! – Apontou-lhe a cadeira. Duda preferiu seguir primeiro até a filha.
Beijou-a, inalando o cheiro gostoso.
-- Nossa que comida mais gostosa. – Limpou as bochechas dela. – Está uma porquinha.
A Fercodini sentou em seguida.
O sol estava brilhante.
A vista da cobertura era uma das mais lindas da região, pois dava direto para um parque arborizado. Podia-se ouvir o canto dos pássaros àquela hora do dia.
A mesa redonda fora montada com esmero. Havia sucos, frutas, pães, bolos, leites, geleias, queijos. Duda optou apenas por beber algo, não estava com fome.
De soslaio fitou o perfil da esposa.
Desejou falar algo, desculpar-se, mas ao ver os olhos negros lhe fitarem sentiu o coração estremecer. Angelina chamou a babá.
-- Eliza, troque o pequeno anjo, pois não posso levá-la ao hospital toda lambuzada.
A menina fez cara de choro, pois não desejava sair, mas a jovem acabou pegando-a e consolou-a para que não chorasse.
-- Por que vai levá-la? – Duda questionou assim que ficaram sozinhas.
Angel não pareceu interessada em responder a pergunta da esposa. Levou o copo de suco à boca, bebendo pacientemente.
Então, mais uma vez os olhos negros a miraram. Sarcasmo! Arrogância! Orgulho! Desdém!
O levantar da sobrancelha esquerda, o sorriso que brincava nos cantos dos lábios bem feitos denotavam perigo.
-- Desde quando lhe devo algum tipo de satisfação?
Duda fitou as próprias mãos por alguns segundos, depois a encarou novamente.
-- Acredito que depois de tudo o que se passou... Creio que o nosso casamento deve ser anulado. Angelina nada respondeu, apenas levou a mão ao bolso da calça, retirando de lá a aliança.
Girava o aro dourado, observando-o com atenção.
Delicadamente tomou a mão esquerda de Eduarda, depositando em seu anelar a joia que selava a união de ambas. Duda pareceu surpresa.
-- Apenas eu direi quando nosso casamento terminará, enquanto isso, continuará sendo a senhora Berlusconi e sempre que for de minha vontade – Enfatizou a última frase – Se entregará para mim e satisfará meus desejos.
Duda corou ao se lembrar de como a esposa agira na noite passada, satisfazendo a própria libido.
-- Essa será sua vingança? – Mordiscou o lábio inferior. – Um dia me perdoará?
Angelina ignorou o olhar de sofrimento.
-- Não, Eduarda! – Respondeu. – Saiba que te farei pagar por cada lágrima que derramei.
A jovem apenas fez um gesto de assentimento, enquanto levantava e deixava a varanda.
A herdeira de Antônio quedou-se lá.
Fitava as próprias mãos, tocava a joia que usava, o anel que representava o elo que a ligava a Fercodini.
Estava muito ferida com o que passou. Engraçado que nem mesmo quando fora traı́da por Patrı́cia a dor fora tão grande, nem mesmo cogitara a possibilidade de se vingar da psicóloga, mas com a esposa era totalmente diferente. Com a mesma urgência que a amava, odiava-a em maior escala, tinha sede de feri-la, de destruı́-la do mesmo jeito que fizera consigo.
Tola!
Quando a fizesse pagar nada mais restaria... Nada... Apenas o vazio de tê-la conhecido, de tê-la amado.
No hospital...
Ester estava terminando de se trocar quando a porta se abriu. Viu o sorriso atrevido que Flávia lhe dirigiu.
Os lábios foram capturados em um beijo intenso e apaixonado.
-- Amor, sabe que não devemos ter esse tipo de intimidade aqui. – Repreendeu-a ao recuperar o fôlego. – Não quero ter problemas. – Abraçou-a pelo pescoço.
-- Eu sei, princesa, mas estava morrendo de saudades de ti! – Apertou-a na cintura, trazendo-a mais para perto.
-- Como? Passamos a noite juntas! – Disse surpresa. – Está cada vez mais insaciável!
-- Nunca vai ser o suficiente, meu bem! – Beijou-lhe a pontinha do nariz. – Já viu sua amiga?
A ruiva assentiu.
Não trocaram nenhuma palavra desde a noite passada.
-- Sim, ela chegou faz um bom tempo e estava um pouco ocupada.
-- A Angel também está no hospital, trouxe o anjinho para a pediatra examinar.
-- Ela está doente? – Indagou preocupada.
-- Não, apenas vacinas, essas coisas de bebês.
A ruiva pareceu ponderar por alguns segundos.
-- Você acha que a Berlusconi vai perdoar a Duda?
Flávia suspirou.
-- Acho que sua amiga vai ter que ralar muito para conseguir isso!
-- Amor, fale com ela, tente mostrar que a Duda ainda é muito jovem e acabou sendo uma presa fácil para aqueles dois.
A loira deu um sorriso.
-- Ela não me escutaria e para ser sincera contigo. – Tocou-lhe a face. – Acho que a Eduarda precisa aprender uma lição. – Beijou-lhe os lábios de forma rápida. – Agora preciso ir, tenho muita coisa para fazer.
Ester assentiu, permanecendo lá, pensando o que poderia fazer para ajudar a Duda.
A pequena Cecı́lia chorava a altos brados nos braços de Angelina. Precisara tomar duas vacinas.
A pediatra, uma bela morena, recém-contratada, tentava agradar a garotinha, mas seus olhos pareciam presos na beleza da mãe.
-- Já passou, meu bem! – Dizia a mulher, enquanto tocava o rosto choroso. – Prometo que por hoje ninguém irá feri- la novamente.
O pequeno anjo escondeu o rosto no pescoço da morena.
-- Não se preocupe, Natália, vou levá-la para passear e tentar distraı́-la com algo.
A médica esboçou um sorriso.
-- Eu tive uma ideia! Tem um parquinho aqui na outra sala, como não tenho pacientes para agora, podemos ir até lá e eu te ajudo a consolar esse tesourinho.
Angel pareceu gostar da ideia, seguindo ao lado da bela mulher.
Eduarda pegava alguns prontuários com a recepcionista do setor infantil quando viu a Berlusconi acompanhada da nova pediatra.
Percebia a forma ı́ntima que ela parecia se apoiar na herdeira. Ao ouvir o choro da filha se aproximou.
-- O que houve? – Questionou a esposa, pegando a filha no braço que ainda soluçava. – Pequena, o que se passa contigo?
Natália a fitou.
Todos no hospital sabiam que elas eram casadas, Angel fazia questão de deixar claro aquilo.
-- Creio que você deveria estar trabalhando! – Repreendeu a esposa com o olhar.
-- Ah, então vai ter que demitir, pois não ficarei vendo minha filha se acabar em lágrimas. – Disse em tom desafiador.
A Berlusconi estreitou os olhos de forma ameaçadora, mas a Fercodini não pareceu se importar, afastando-se com Ceci nos braços.
Angelina desejou ir até onde a esposa estava, repreendê-la pela forma que falara consigo, esbravejar, mas ao perceber que o pranto do bebê cessara, sentiu-se de certa forma constrangida.
Por alguns segundos fitou os próprios sapatos.
-- As crianças são seres de luzes...
Só naquele momento a morena percebeu que Natália falava algo, mas nem mesmo conseguia saber do que se tratava.
-- Nos falamos depois, pode ser? Preciso resolver algumas coisas!
A pediatra não pareceu gostar, ainda mais porque percebia o olhar apaixonada que a médica dirigia a figura miúda da garota.
-- Claro, sem problemas! – Beijou o rosto dela. – Preciso ver alguns pacientes, minha folga terminou.
Angel assentiu, observando-a se afastar.
Percebeu o flerte que recebera, os olhares e não negava que era uma mulher muito bonita e sexy, talvez fosse uma boa ideia estreitar os laços, quem sabe assim não podia se livrar da obsessão que era a jovem que estava a alguns metros de si.
Suspirando, seguiu até onde estava o ser que flagelava sua alma. Encararam-se.
-- Poderia ter me chamado, eu teria atendido a Ceci, tenho certeza que ela não teria se assustado tanto.
-- Assustado? – Arqueou a sobrancelha. – Não acredito que um ser tão bonito e sensual como a doutora Natália possa assustar alguém.
Duda pareceu magoada.
-- Eu não falei nesse sentido...
-- Eu não quero saber em qual sentido você falou. – Tirou a filha dos braços dela. – O fato de ser casada comigo não lhe dar direitos a privilégios, então acho melhor retornar para sua função aqui.
A Fercodini nada disse, apenas segurou a mão da filha. A criança olhava com curiosidade para as duas.
-- À noite vejo você, anjinho. – Beijou-lhe a bochecha. – Comporte-se!
Angelina sentiu o aroma suave lhe invadir as narinas.
Antes que Eduarda se afastasse, segurou-a pelo braço.
-- A sua esposa não ganha nada? – Provocou-a.
-- Passe bem, senhora! – Livrou-se do toque.
Os dias passavam lentamente.
Eduarda vivia um verdadeiro inferno, ainda mais quando seu caminho se cruzava com o da esposa. Felizmente não voltaram a dividir a cama.
Raramente Angelina dormia em casa e Duda sofria ao pensar que ela pudesse estar nos braços de outra. Bruno a procurara, mas a jovem se negou a vê-lo.
A Berlusconi abrira um processo contra os dois e pedia uma indenização milionária. Um monte de acusações recaı́ra sobre ambos.
Era sábado, Ester fora visitar a amiga.
Elas decidiram tomar um banho de piscina, aproveitar o bonito sol. Duda estava na água, tendo Cecı́lia consigo e a ruiva acompanhando-a.
Pigmaleão latia feliz, parecia se divertir com o riso da menina que brincava com o lı́quido espirrando no rosto da mãe.
-- Vem aqui com a titia, vem! – A ruiva a pegou nos braços. – Duda, como ela tá cada dia mais fofa! Olha essas bochechas rosadas. – Ajeitou-a na boia. – Não vejo a hora de poder levá-la para passear comigo e a Flávia, sabia que a minha loira é muito maternal?
Eduarda sorriu.
Fitou a filha.
Ela era o único motivo para que continuasse naquele casamento, era por ela que seus dias ainda tinham um pouco de cor. Seu consolo, sua força...
-- Bem, vocês podem ter filhos! – Sentou no degrau da escada, enquanto as fitavam. – Quando pensam em oficializar a relação?
-- Ainda estamos decidindo, mas creio que será logo, a Flávia está praticamente querendo que eu me mude para lá... – Falava entusiasmada, até notar a sombra de dor que se apossou dos olhos bonitos da amiga. – E a doutora? Como estão indo?
A Fercodini esticou a mão acariciando o pug que estava deitado ali. Passaram alguns segundos até que falou.
-- Não estamos indo para lugar nenhum... Creio que ela tem alguém, uma mulher que não seja tão idiota como eu. – Mordiscou o lábio inferior.
-- Duda, ela não faria isso. Por que não tenta conversar? Peça desculpa, admita que errou.
-- E acha que não o fiz? – Aumentou o tom de voz. – Raramente nos encontramos e quando fazemos, ela sempre é sarcástica, arrogante fria como um iceberg.
As duas sorriram ao ver a pequena apertar o pato em forma de boia e sorrir com o barulho que ele fazia.
-- Já pensou em falar com seu pai? – Questionou voltando a fitá-la. – Acredito que precisam ter uma conversa.
A jovem se mostrou pensativa.
Henri estava viajando, problemas o obrigaram a volta à Alemanha e por esse motivo não puderam se encontrar, mas ele ligava todos os dias para saber como ela estava, não tocaram no assunto da paternidade, apenas agiam como antes, retomando o vı́nculo que tinha.
-- Ainda não sei o que pensar sobre tudo isso, ainda mais quando sei que ele era casado, que enganou a minha mãe...
-- As coisas não foram assim, ele não sabia da sua existência, sua mãe se escondeu, fugira dele sem dizer nada. Eduarda mordiscou o lábio inferior demoradamente.
-- Não desejo falar sobre isso agora...
Ester assentiu.
-- Ficou sabendo que a Angelina fora convidada para lecionar na universidade onde o pai dela era patrono?
-- Eu não sabia! – Falou de forma curiosa.
-- Flávia quem me contou. – Pegou a criança nos braços. – Pelo que fiquei sabendo, a sua esposa sempre foi muito cobiçada por essa instituição, ainda mais por sua inteligência e empenho no trabalho, agora desejam que ela ocupem uma cadeira de professora.
A Fercodini ficou feliz, mas também pareceu triste por não ter mais o direito de dividir nenhum momento com a mulher que amava.
-- Espero que dê tudo certo...
Ester sabia como tudo aquilo estava sendo difı́cil para ela, conseguia ver a dor naquele olhar que sempre se mostrara feliz, brincalhão, travesso.
-- Quero que jante comigo hoje, afinal, é o seu aniversário. – Tocou-lhe a face. – Precisa se divertir um pouco, vamos?
Eduarda segurou as mãos da amiga, depois a abraçou.
-- Obrigada por tudo... – Fitou-a. – Eu sou muito grata a você por ter ajudado a desmascarar a Patrı́cia e o Bruno, se não fosse você eu continuaria sendo uma idiota cega.
-- Eu me sinto culpada por tudo...
As lágrimas corriam no rosto da ruiva.
-- Não, meu bem, você não tem culpa de nada! – Secou-lhe a face com as costas das mãos. – Eu sou a responsável por tudo isso, eu mereço cada coisa que a Angel está fazendo... Acho que devo agradecer por ela não ter me colocado para fora, por ainda me permitir ficar perto da Ceci.
-- Não diga isso, ela quem deveria agradecer por te ter como esposa! – Irritou-se. – Por que não fala com ela? Quanto tempo mais vai aceitar vê-la com outras em capas de jornais e revistas? Ela tem uma filha, ela é uma mulher casada! – Dise emtom exasperado.
A criança começou a pular nos braços da ruiva. Ao virarem a cabeça viram Angelina se aproximando. Duda foi a primeira a desviar o olhar.
Estranhava vê-la em casa.
Era uma tortura fitá-la, ainda mais quando usava um minúsculo biquı́ni, tendo apenas a saı́da de praia para cobrir um pouco da nudez.
Era uma mulher de beleza selvagem, intrigante.
Toda noite chorava ao pensar que ela estava nos braços de outra, que ela se entregava a luxúria.
-- Preciso levar a Cecı́lia, não quero que ela fique resfriada e o sol já não está tão bom para ela. – Segurou a filha. – Vem comigo?
A ruiva olhou para a morena que se deitava na espreguiçadeira.
-- Vá indo, daqui a pouco te encontro.
A Fercodini assentiu, saindo da água com a filha, infelizmente para seu desespero a menina chorou para ir até a mãe.
Angelina se levantou, mas não pegou a garotinha, ficando bem próximo de Duda, roçando o braço nela.
-- E esse peixinho vai aonde? – Beijou-lhe a face. – Estava de molho foi? – Tocou-lhe o nariz pequenino.
Eduarda percebia como havia amor entre elas, como pareciam enamoradas.
-- Ela já banhou de mais, vou trocá-la, não quero que fique doente.
Só naquele momento a Berlusconi encarou a esposa.
Há dias não se batiam, há dias evitava vê-la, pois não sabia se aguentaria ficar tão próxima e não feri-la, machucá-la...
Era estranho, mas sempre que a magoava, sentia-se pior.
Beijou a filha mais uma vez e depois voltou para a espreguiçadeira. Colocou os óculos.
Há dias evitava estar naquele lugar.
Tinha sempre um evento para participar, depois seguia para a mansão, passava a noite lá, prendia o animal que vivia dentro de si, mas ele buscava se soltar de qualquer jeito.
-- Até quando você vai destruı́-la?
A médica sentou, encarando a ruiva que estava diante de si com uma postura intimidadora. Suspirou.
-- Acha que esse é o ambiente para uma criança viver? – Colocou as mãos nos quadris. – Você desfila com a doutora Natália noite após noite, age como se não fosse uma mulher casada, age como se não tivessem uma famı́lia.
-- Ester, eu acho melhor que não se meta nessa história! – Advertiu-a. – Minha vida não é da sua conta!
-- Mas a Duda é da minha conta, ela é como se fosse uma irmã pra mim e vejo como está a sofrer por sua culpa.
Angelina se levantou.
-- A culpa não foi minha! – Apontou-lhe o indicador. – Ela é a culpada por tudo, foi ela que foi uma tola e agiu como uma imbecil que é!
-- Não admitirei que fale assim dela! – Aumentou o tom de voz. – Não admitirei que a machuque com suas amantes, humilhando-a no hospital.
-- E o que você pretende fazer quanto a isso? – Arqueou a cabeça de forma desafiadora.
-- Direi para que ela te deixe, que peça o divórcio, que lute para ficar com a filha, ela tem direito e o do jeito que você vive na promiscuidade, o juiz não hesitaria em dar a guarda para a Duda!
A Berlusconi lhe deu as costas por alguns segundos, parecia tentar recuperar a calma, em seguida voltou a fitá-la.
-- Em consideração a Flávia eu não falarei mais contigo sobre isso, mas te darei um aviso: Não me queira como inimiga!
A ruiva deu de ombros.
-- Que espécie de esposa é você que nem se lembra do aniversário da mulher! – Disse em tom de desdém.
Antes de Angelina retirar os óculos, passou a mão pelos cabelos soltos, retirou a saı́da de praia, jogando-se na piscina.
Já era noite.
Duda colocou a filha para dormir.
Não aceitara o convite de Ester, preferindo ficar em casa. Não desejava sair, não desejava ver ninguém, apenas permanecer quieta, afinal, não tinha nada para comemorar.
O apartamento estava vazio.
Não viu mais a médica pelo resto do dia, decerto já devia ter saı́do para encontrar a doutora Natália. Odiava imaginá-las juntas, sentia o sangue ferver quando a via no hospital.
Seguiu até o bar, observava os rótulos das bebidas. “ Cote de Nuits”.
Pegou a garrafa e seguiu para a varanda do quarto, colocou-a sobre a mesinha junto com a taça, depois se sentou na poltrona.
Fitou o céu.
Naquela noite não havia estrelas e nem a lua, só as nuvens carregadas anunciando a chuva que não tardaria chegar. Encheu a taça, levou aos lábios bebericando calmamente.
Gostou do sabor, bebeu mais um pouco.
Mais um ano, precisava comemorar, afinal não era todo dia que se fazia aniversário.
Henri ligara cedo, fora tão doce em suas palavras que ela desejara de todo o coração que ele estivesse ali, desejara o abraço dele.
Encheu mais uma vez o copo, bebia mais rápido, parecia querer afogar as mágoas e as dores.
A imagem de Angelina não saia de sua cabeça, não lhe abandonava um ú nico momento.
-- Quanto tempo ainda terei que aguentar esse inferno? Não tenho mais forças... – As lágrimas lhe molhavam a face, caiam copiosamente.
Angelina passara o resto do dia no quarto que passara a ocupar para não ficar ao lado da esposa.
Passara horas lendo um livro, estava entusiasmada em começar a lecionar, queria fazer o melhor, queria que desse certo, pois estava muito feliz com a ideia de ser professora. Seria gratificante poder passar para os outros o que aprendera com tanto amor.
Olhou o relógio de pulso.
Já era tarde, não percebera como as horas passaram rápido. Ainda não tinha comido nada, apenas tomara banho e ficara ali. Espreguiçando-se, levantou-se.
Caminhou até o quarto da filha.
Demorou-se algum tempo lá, observando o pequeno milagre da vida, vendo como só ela enchia sua vida de felicidades, ver o sorriso doce, o jeito travesso. Era como se tivesse nascido do seu ventre.
Depositou um beijo em sua testa, depois saiu silenciosamente para não fazer barulho. Já seguia para a cozinha quando parou diante da porta do quarto da esposa.
Ouviu o riso alto dela e chegou a imaginar que estivesse com alguém, também conseguia ouvir uma música tocando.
Indo contra a própria racionalidade, adentrou os aposentos. Tudo estava mergulhado na penumbra.
Seguiu pelo quarto até a varanda e pôde vê-la.
Ela estava com uma taça de vinho em uma das mãos, na outra trazia o celular e era de lá que saia a música. Viu que Duda vestia apenas um roupão preto.
Continuou a espreitá-la.
Fitou a garrafa que jazia sobre a mesa de centro. Sorriu!
Sua melhor safra francesa estava praticamente vazia. Observou-a levantar de forma cambaleante.
As portas de vidros estavam abertas e isso fazia com que o ar fresco da noite invadisse o ambiente. Ouviu o som da chuva. Inicialmente pequenas gotas, mas aos poucos uma tempestade ensurdecedora se precipitava.
Duda não pareceu se importar com esse fato.
Angelina sabia que o melhor era ir embora dali, voltar para o próprio quarto, seguir mantendo distância daquela garota.
Vê-la mais cedo na piscina fora uma tortura. Desejara senti-la, estreitá-la forte em seus braços...
Não podia negar que estava morrendo de saudades dela.
Saia dia após dia, fugindo da presença da jovem, do amor que não conseguia sufocar.
Já estava saindo, quando viu quando a esposa se desequilibrou, rapidamente correu até ela, segurando-a por trás para que não caı́sse.
Duda pareceu confusa, fitando-a.
-- Quer se esborrachar no chão? – Sussurrou em seu ouvido, enquanto puxava o corpo dela contra o seu. – Está bêbada!
A médica sentiu o cheiro sedutor, as costas dela contra si, as formas bonitas se encaixando, mesmo com a proteção do tecido, podia senti-la mexer com seu desejo.
Os olhos claros pareciam confusos, embriagados.
-- Que faz aqui? – Tentou se soltar em vão. – Deixe-me... A morena adorou o tom rouco, trôpego...
-- Para de se debater ou vou te deixar cair... – Colocou a mão abaixo dos seios dela. – Quem mandou tomar meu vinho hein?
-- Sou sua esposa, tenho meus direitos aqui nessa casa.
Angelina se encostou a grade de proteção, trazendo-a consigo.
-- E quanto aos seus deveres?
A filha de Antônio sabia que estava a brincar com fogo, ainda mais pelo fato de sentir a excitação lhe pressionar o baixo ventre.
Levou a mão até a coxa torneada, acariciando-a, adorando a maciez da pele.
Eduarda tinha a impressão que estava a sonhar, havia uma névoa em sua mente, algo que a fazia duvidar se aquilo realmente estava a se passar.
-- Quais deveres? – Questionou virando a cabeça, mirando-a com seu olhar ébrio.
Naquele momento um clarão de um relâmpago iluminou a face de ambas.
Angelina observou os lábios rosados entreabertos, os olhos brilhantes. Ansiou mais uma vez por ela. Seu corpo implorava pela jovem de olhos claros.
Subiu as mãos e seu corpo estremeceu ao perceber que ela não usava roupas por baixo do roupão.
-- Você vai se lembrar de algo? – Colou os lábios no pescoço esguio. – Amanhã tudo não passará de uma ilusão. – Tocou-lhe o abdome liso.
Eduarda mirou os olhos escuros.
-- Quais deveres precisarei cumprir?
Angelina afastou o tecido, deixando a mostra o ombro bem feito, viu a marca do biquı́ni e ficou a pensar que encontraria também na parte de baixo.
-- O dever de ser a minha mulher... – Beijava a pele exposta. – O dever de me proporcionar prazer... De me fazer enlouquecer nos seus braços... De eu te fazer gritar alto meu nome...
-- Você não me ama mais... – Dizia chorosa. – Me odeia e você está certa, eu sou uma tola, uma idiota...
-- Sim... – A médica abaixou mais o roupão. – Uma tola que me enlouquece, que me fascina... Sentiu os seios redondos em suas mãos, eram redondos, duros... Perfeitos...
A Berlusconi viu como o rosto dela estava próximo ao seu.
-- Tem amantes suficientes... Aquela maldita doutora que eu odeio... – Soluçou. – A prefere que a mim...
Angelina a virou para si, perturbada, descontrolada, temia não controlar a intensa paixão.
Segurou-lhe o rosto bem próximo ao seu.
-- Eu só quero você, Duda... Não vai se lembrar disso amanhã, mais eu só amo você, minha esposa... Eu só quero você... – Apertou-a mais contra si.
Beijou os lábios que tanto desejava... O gosto do vinho, o sabor dela... Parecia que a alma retornava ao seu corpo depois de tanto tempo.
Regozijou-se ao ter a lı́ngua dominada, ao sentir a urgência que ela a sugava.
Gemeu quando ela começou um movimento de vai e vem, quando a sentiu invadindo-a e retirando sensualmente.
-- Sabe onde desejo que faça esses movimentos? – Disse, olhando-a. – Quero que entre dentro de mim... Quero senti-la em mina carne... – Desamarrou o roupão que a cobria, deixando-o cair ao chão.
Angelina chegou a pensar se tinha se embriagado com o hálito de vinho ou era a paixão que lhe aguçara os sentidos e lhe tirara todo o controle.
Duda retirou a camiseta que a amada usava, seus movimentos eram desajeitados, apressados pela vontade de senti-la, quase rasgou o sutiã de seda.
A Berlusconi sentia as gotas de chuva molhá-la, porém isso não lhe importava naquele momento.
Apoiou-se melhor a proteção da varanda e agradeceu aos céus para não ter nenhum prédio de fronte, pois a última coisa que desejava era ser flagrada em um momento tão ı́ntimo.
Inclinou a cabeça para trás quando os lábios se fecharam sobre seus seios. Fechou os olhos em puro êxtase devido à intensidade das carı́cias.
Grunhiu quando ela pressionou o biquinho de forma violentamente gostosa. Adorou a alternância dos toques, ora agressivos, ora delicados.
O sexo latejava, parecia a ponto de não aguentar mais a vontade de sentir, de ser tocado.
Duda cessou os movimentos, encarando-a, viu os olhos negros parecerem frustrados com a interrupção.
-- Enlouqueço ao pensar que esteve com uma daquelas mulheres. – A jovem choramingava, enquanto desabotoava o short da esposa. – Fere-me pensar que outra te amou quando só eu tenho esse direito.
Angel contraiu o quadril para se livrar da bermuda, em seguida inclinou as cadeiras para frente para que os dedos da filha de Mattarelli roçassem em sua calcinha.
-- Nenhuma me tocou... Só quero você... – Fitou-a. – Veja como estou morrendo por ti... Eduarda sentiu o tecido molhado esfregando em sua mão.
-- Seja minha para sempre... – Invadiu a lingerie. – Quero ser sempre sua dona...
A morena vibrou ao ter os dedos se lambuzando em sua carne sedenta.
Rebolou...
Os lábios foram tomados mais uma vez...
Os corpos se esfregavam, os seios soltavam verdadeira faı́sca ao se encontrarem. Duda foi baixando, até se ajoelhar diante da mulher que amava.
Angelina a fitou confusa, mas ao vê-la lhe tirar a calcinha, temeu que não aguentasse de tanto tesão.
Inicialmente, Eduarda beijou a parte interna do seu prazer... Os beijos eram rápidos, mas depois ficaram mais demorados.
A morena apoiou a perna esquerda no centro de vidro, assim sentiria melhor as investidas.
-- Meu presente de aniversário? – Eduarda levantou a cabeça, fitando-a.
-- Sim... Seu presente... – Acariciou-lhe os cabelos sedosos. – É seu... Use-o como desejar.
A Fercodini fez um gesto de assentimento. Em seguida, voltou a tocá-la, inalava o cheiro, soprava, mas ainda não estreitava o contato.
A médica balançou o quadril em direção a ela, lambuzando-a com sua essência, esfregando-se em sua música sensual.
Duda a segurou pelas nádegas, prendendo-a, enquanto lambia seu mel, enquanto sugava o lı́quido. Ouviu-a gemer mais alto e seu próprio corpo foi sacudido pelo prazer dela.
A jovem cabeça de vento usou a ponta da lı́ngua para estimular ainda mais o clitóris intumescido... Sentindo-o duro, pulsante sobre seu paladar. Prendeu-os nos lábios como se fosse uma bala, uma iguaria dos deuses pronta para se devorada. Apertou-o, pressionou-o, mordiscou-o, depois usou o polegar para massageá-lo.
Outro clarão iluminou-as naquele momento.
-- Você é uma fonte de pecados, doutora... – A voz rouca mostrava o desejo. – Um anjo caı́do em sua total plenitude...
Angelina estava totalmente destituı́da de qualquer tipo de sanidade naquele momento, sua mente estava turva e só as sensações que Eduarda lhe proporcionava naquele momento era o que importava.
-- Desejo você dentro de mim... – Pediu com a respiração acelerada. – Desejo que prove mais uma vez da fonte do recheio do seu bolo...
Duda sorriu...
Depositou-lhe um beijo demorado na virilha...
Sem deixar de observar a expressão no rosto da esposa, invadiu-a com o indicador... Depois a penetrou duplamente... Ouvia o som das invasões que eram mais lentas em seu inı́cio, depois o faziam de forma impetuosa...
A Berlusconi balançava-se no mesmo ritmo dela, gritava em prazer... E seu apogeu se aproximava, pois agora a lı́ngua da garota petulante, que tinha se tornado sua mulher, encontrou o caminho de casa.
Angelina se segurou nela, pois temeu que suas pernas não suportassem por muito tempo.
Um relâmpago cruzou o céu mais uma vez e o som explosivo de um trovão camuflou o brado regozijante da herdeira de Antônio.
Eduarda bebeu até a ú ltima gota, depois levantou, abraçando-a.
Fitou-a e viu olhos estavam fechados, mas aos poucos foram se abrindo, turvos, perdidos, realizados. Abraçou-a forte, esperando que o tremor do corpo passasse.
As batidas do seu coração pareciam uma escola de samba.
Angelina segurou o rosto querido em suas mãos, beijando seus lábios.
Caminhou aos poucos até chegar à poltrona, onde se sentou, trazendo-a para seus braços. Acomodou-a de frente para si.
Beijou os seios redondos o pescoço... Fitou-a.
-- Continua ébria, meu amor?
A pergunta não foi respondida, mas a Fercodini tomou a mão da amada, levando-a até o centro do seu prazer.
-- Preencha-me com seu amor...
O sofá de dois lugares não era o lugar mais confortável, mas naquele momento não cogitavam melhor espaço para aquilo.
-- Faça-o como da primeira vez que me tomou...
A Berlusconi a sentia totalmente molhada, ú mida... Seus dedos escorregavam, acariciando-a lentamente.
-- Ah...eu farei o que me pedir...
Penetrou-a, enquanto a sentia se abrir mais para si... Sentiu-a lhe prender, depois aliviou...
-- Eu quero mais, doutora... – Pediu em sussurros. – Dê-me mais do que isso...
Angelina a encarou... Exibiu aquele sorriso arrogante...
Invadiu-a com mais força, duplamente... Adorando ouvir os gemidos sensuais... Fez de forma cada vez mais intensa... Sentiu-a pulsar, observou os quadris acelerarem e não tardou muito para ouvi-la gritar em puro êxtase. O seu nome fora chamado...Várias vezes ouvira aquele som que sempre a enlouquecia... Angel... Angel... Angel... Angel...
A cabeça dela pendeu sobre seu ombro, sentiu quando os dentes da esposa afundaram em sua carne. Esperou que ela aliviasse a pressão.
Abraçou-a, acariciando os cabelos em desalinhos.
Ouvia o som da chuva, a tempestade parecia se acalmar, mas a escuridão imperava naquele momento. Ouviu o respirar lento da jovem Fercodini e logo percebeu que ela adormecera em seus braços.
Os olhos negros pareciam perdidos... Mais uma vez não resistira ao desejo de amá-la, mais uma vez percebera quanto era frágil aos apelos da esposa... Isso a assustava, pois temia sofrer novamente, temia que Duda a ferisse novamente e não houvesse mais volta, não houvesse mais saı́da.
Quando sofrera a traição de Patrı́cia, jurara para si mesma que nunca mais permitiria que um sentimento tão poderoso assumisse o controle de seus passos, porém percebera que com a esposa tudo era em dobro... Amava-a de forma tão desesperada que chegava a se assustar com tal intensidade.
Não deveria se permitir isso...Não seria tão fraca mais uma vez...
Duda despertou com o sol em seu rosto.
Cobriu os olhos com as mãos.
Aos poucos percebeu onde estava.
Suas costas reclamavam do desconforto. Uma coberta fora jogada sobre si.
Lentamente se levantou, sentando-se. A cabeça doı́a...
Mirou a garrafa de vinho vazia, a taça que usara na noite anterior. Seu roupão jazia sobre a mesa do centro.
Estendeu a mão, pegando-o.
O cheiro dela ainda estava lá... O aroma da esposa estava presente em seu corpo, infectando suas células. Onde estaria ela?
Procurou com o olhar.
Lembrava-se de cada toque, de cada carı́cia como se tivesse sido um sonho, mas sabia que tudo fora real, sabia que fora amada por Angelina e a amara com paixão.
Fechou os olhos, recordando-se de que em algum momento da noite fora despertada por uma Berlusconi cheia de desejo, tomando-a para si várias vezes durante a madrugada.
Suspirou.
Tentou se levantar, mas sentiu a cabeça rodar, então se acomodou novamente, esperou por alguns segundos até conseguir ficar de pé.
Seguiu para o quarto. Estava vazio.
Caminhou até o chuveiro, tomando um demorado banho.
Terminou a ducha, vestiu uma roupa leve e só naquele momento percebeu que já passava do meio dia. Lembrou-se da filha, indo até o quarto dela, mas a criança não estava lá. Encontrou-a com a babá na sala.
Cecı́lia brincava com Pigmaleão. O bebê estava sentado ao colchonete e parecia se divertir com o pug que a fitava com aquele olhar doce.
A menina quando viu a mãe deu gritinhos de alegrias. Duda se aproximou, tomando-a nos braços.
-- Olá, Eliza! – Cumprimentou a moça que a mirava. – Acho que dormi de mais. --- Beijou a filha. – Agora eu ficarei com ela. Deveria estar de folga e não aqui.
-- A senhora Angelina me disse que lhe deixasse dormir, falou que estava cansada.
Eduarda não conseguiu disfarçar e corou imediatamente ao lembrar o motivo do cansaço. Pigarreou.
-- Onde está a sua patroa?
-- Ela saiu ainda pouco, mas antes falou que lhe dissesse que havia algo na garagem para a senhora.
A Fercodini pareceu estranhar aquilo e sem falar que estava chateada por ter sido deixada na poltrona sozinha.
-- Venha comigo! – Pediu.
Seguiram pelo elevador e ao chegarem ao local, havia um lindo carro esportivo. Um laço fora colocado nele.
A babá ficou encantada com a surpresa, mas o mesmo não se passava com Duda. Ela entregou a filha a Eliza e caminhou até o automóvel.
Havia um cartão preso no para-brisa. Abriu-o.
“ Feliz aniversário!”
As palavras eram frias, objetivas, formais de mais para alguém que se tinha tanta intimidade. Observou que pelo vidro dava para ver uma encomenda sobre o banco dianteiro.
Foi até o veı́culo, abrindo-o.
Havia uma caixa do mesmo vinho que tomara na noite passada. Outro cartão escrito.
“ Já que gosta tanto de vinho...”
Eduarda sentiu raiva, ainda mais porque conseguia ver a insinuação naquela frase, sabia do que ela estava a falar. Fechou a porta com uma pancada forte, caminhando a passos largos, pegou a filha nos braços.
-- O que houve, senhora?
-- Gosta de carro?
A moça fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Então fique para você e com os vinhos também.
Antes que a babá pudesse falar algo, a Fercodini já se afastava.
Lembrava de uma médica "fura olho" atrás da Angelina, mas não recordava do nome. Putz! Natália... Em segundos vc lembra da outra Nathália, a irmã da Natasha.
ResponderExcluirSó digo uma coisa: "Morte as Nathálias" com H ou sem H. Kkkkkk.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk conheço uma pessoa que odeia as Nathálias e as Rebekas kkkkkkkkkkk
Excluirengraçado que existe alguns nomes que parecem repetitivo na nossa vida kkkkkkkkkkkkk
beijos!
Amo de mais tuas histórias!! É... estou imensamente feliz por ter a oportunidade de ler novamente está que tudooo!!
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