Anjo caído -- Capítulo 34

               Angelina fora levada para o hospital.
            Flávia rapidamente fora avisada, tomando assim todas as medidas para prestar assistência a melhor amiga. Estranhara a insistência da afilhada de Antônio de seguir com elas, mas acabou permitindo, pois sabia que aquele não era o momento certo para brigarem.
             Uma ambulância fora solicitada, pois a morena precisara ser sedada devido às fortes dores que lhe acometia as mãos.
          Duda fora ao lado da esposa, enquanto sentia o olhar acusador da Tavares sobre si, não precisava fitá-la para saber da sua total reprovação por sua presença. Tentou não se importar com tal fato, ocupando seu tempo em pedir em preces que nada de ruim acometesse a mulher que amava.
                A Fercodini deixara a filha com a babá, pois não sabia se demoraria.
           Naquele momento estava sentada na sala de espera, levantava impaciente e andava pelos corredores, desejando saber o que se passava.
                A Berlusconi ficara desacordada durante todo o tempo.
               Henri observou a filha.
            Tinha saı́do para que o especialista examinasse a filha de Antônio, entretanto, eles estavam esperando o médico que fizera todo o procedimento cirúrgico, esse já estava a caminho.
               Temeroso, seguiu até a jovem.
              Viu o olhar assustado, mas também havia desafio naqueles olhos tão iguais aos seus. Relutou um pouco, pois percebia que sua presença a incomodava.
               -- Posso me sentar? – O professor indagou.
            Eduarda demorou alguns segundos para responder. Estava de cabeça baixa, olhava para os próprios dedos. Encarou-o, fazendo um gesto de assentimento.
              Permaneceram em silêncio, apenas esperando... Esperando. Foi Mattarelli que quebrou a falta de diálogo.
             -- Se quiser posso te deixar em casa, a Angel continuará aqui. 
                Percebera que aquilo chamara a atenção da garota.
          -- O que ela tem? – Questionou sem poder esconder a preocupação. 
              O os olhos do médico expressaram pesar.
             Sabia qual seria a resposta do médico e temia que os sonhos de uma grande médica tivessem sidos destruı́dos de forma tão cruel.
               Como alguém podia passar por tantas desgraças em uma mesma vida?
            -- Infelizmente a cirurgia vem mostrando problemas que a Angelina fez questão de esconder de todos, as complicações estão maiores, esperaremos que o doutor Vlach traga uma solução.
            -- Por quê? Por que não observaram melhor? Por que você e a Flávia permitiram que ela fizesse o que desejava e não cuidasse do que era preciso? – Levantou-se, inquieta, passava a mão pelos cabelos soltos. – Deveriam ter prestado atenção ao que se passava.
               Henri sabia que aquela frase tinha sentido duplo, conseguia ver acusação no seu tom de voz.
               -- Até parece que não a conhece... 
                Ela parou diante dele.
            -- Conheço-a muito bem, conheço a forma que ela age muito bem, afinal, sou vı́tima dela desde que era uma adolescente! – Desabafou tentando conter a emoção.
                 O professor se levantou, estendendo a mão para lhe tocar a face.
                 -- Você a ama! – Constatou em tom surpreso. Eduarda se desvencilhou do carinho.
                 -- Ajude-a...
                 Henri podia ver o desespero de Eduarda. As lágrimas dançavam em sua ı́ris. Ajudou-a se acomodar ao seu lado.
               -- Meu bem, a Angel quando se submeteu à cirurgia, ela sabia dos riscos, sabia que devia se cuidar e andou negligenciando, porém não foi esse o problema, talvez se tivesse tentado antes, logo quando sofrera os danos, tudo pudesse ter se resolvido, mesmo as chances sendo mı́nimas.
                Eduarda parecia ponderar o que fora dito.
                -- Por que quando foram para Alemanha ela não me disse que faria a operação?
             -- Quis fazer uma surpresa... – Esboçou um sorriso. – Queria que você e a Flávia ficassem felizes por isso. 
                  A Fercodini ficou mais uma vez em silêncio.
              -- Duda...Eu não sei o que se passa contigo, porém eu posso te dizer sem nenhum medo de errar que a arrogante e orgulhosa Angelina te ama mais que tudo nesse mundo. Eu a vi chamar por você, vi o brilho naqueles olhos negros... – Deu uma pausa. – Também vi a dor que ela tentou esconder quando você a deixou. – Acariciou-lhe os cabelos sedosos. – Todo o tempo que estive com ela naquela sala, mesmo em sua inconsciência, continua a chamar por ti.
                Eduarda permaneceu quieta, digerindo as palavras que ouvia.
              Todos a julgavam pelo que acontecia, mas nenhum deles tinha conhecimento das provas que tivera em suas mãos, das cenas que ainda lhe assombravam, as imagens que perseguiam seu sono todas as noites. Não estavam sendo fáceis aqueles dias. Não fora um mar de rosas, não se sentou em uma mesa e ficara rindo das coisas que falara para a Berlusconi. Só Deus sabia como fora difı́cil proferir cada uma daquelas palavras, cada uma daquelas sentenças flagelara sua alma. Gostaria de não sentir, de não amar, de poder seguir em frente, mas não conseguia, não tinha forças para se libertar de tudo aquilo.
              O celular de Henri tocou, livrando-a de ter que se justificar diante dele. Aproveitou que ele estava distraı́do para observá-lo melhor.
                Seu pai!
              Mais uma mentira que Angelina sustentara durante tanto tempo, mas uma prova de como o amor daquela mulher era falso, era mentiroso.
                Por que ele não falava logo a verdade?
            Será que imaginava que as coisas seriam perfeitas, mesmo depois de ter enganado sua mãe, mesmo depois de tê-la abandonada grávida para voltar para os braços da esposa oficial?
               Irritou-se em recordar de tais fatos.
               Levantou-se, caminhando pelo corredor do hospital.
              Sua mente fervilhava, havia muitas informações para ser processada, muita coisa não dita que a perturbava. Viu quando Flávia deixava um quarto, decerto era lá que a herdeira de Antônio estava.
                Escondeu-se para que a loira não a visse.
             Realmente a última coisa que desejava naquele dia era ter mais uma discussão com a fiel defensora da esposa. Ainda martelava em sua mente o que a Tavares falara, ainda se sentia assombrada por cada um daqueles léxicos. Respirou fundo, seguindo até o lugar onde a médica tinha saı́do.
              Segurou a maçaneta, hesitando por alguns segundos, temerosa, mas desejosa de ver se a Angel estava bem. Lentamente, abriu-a, mas não entrou logo, permanecendo ali, olhando a mulher que ocupava aquele leito.
             Podia ouvir o som do próprio coração, podia ouvir o respirar lento da Berlusconi. Percebendo que ela dormia, caminhou até a cama.
             Angelina estava pálida, os lábios entreabertos... Os cabelos de cor de ébano caiam por sua tez. Mordiscou o lábio inferior.
               Desejou abraçá-la forte, senti-la, protegê-la...  
             Recordou-se  de  quando  a  encontrara  na  chuva,  naquela  noite  de  terrível  tempestade,  de  quando  pôde  ver  o desespero presente naqueles lindos olhos negros, de quando ouvira os soluços de dor, o corpo trêmulo que aconchegara em seu peito... A boca que acolhera na sua... Sentira o sabor amargo das suas feridas, sentira o coração pulsar no mesmo ritmo do dela.
          Amara-a na escuridão, amara-a quando discutiam, quando via o sarcasmo presente naquele rosto tão bonito, amara-a quando fora traı́da e continuava amando-a em uma intensidade agonizante, em uma torturante dor... Uma ferida que parecia apenas abrir mais e mais.
              Observou mais uma vez o cordão onde sua aliança fora posta. Esboçou um triste sorriso.
             Como desejara ser esposa da amada, como sonhara em ter uma vida ao lado dela, acordar ao seu lado todas as manhãs, aconchegá-la em seus braços, ouvir o respirar tranquilo do adormecer... Velar por seu sono.
                Levantou as mãos para lhe tocar a face, mas acabou desistindo.
           Eduarda fitou-lhe as mãos que agora não contavam com proteção, ficou a imaginar como continuava sendo difı́cil para uma cirurgiã tão brilhante não poder retornar ao trabalho que tanto amava. No tempo que ficaram juntas, conversavam sobre a medicina e era possível ver como a filha do padrinho era apaixonada pela profissão que escolhera quando ainda era apenas uma menina.
                -- Duda...
              A Fercodini ouviu o som baixo, fitou-a, imaginando que encontraria os olhos abertos, mas ainda dormia, decerto, devido ao sedativo que lhe fora aplicado.
                Seu nome fora repetido mais uma vez, e outra vez...
              Havia dor na forma que ela lhe chamava, havia desespero... Eduarda aproximou os lábios dos dela.
                Os olhos claros traziam lágrimas, traziam o amor que ela tentava esconder a duras penas.
            -- Estou aqui, meu lindo anjo, estou aqui contigo... – Disse baixinho. – Ficarei ao seu lado, meu amor...
             Os olhos negros tremeram, parecendo querer se abrir, mas continuaram adormecidos, enquanto Duda continuava ali, velando o sono da mulher que lhe roubara a alma.


                     O especialista da Alemanha só chegou à manhã do dia seguinte.
                A Fercodini passara a noite no hospital, mas deixou o quarto, pois não sabia se seria algo bom a esposa vê-la ali. Pedira a Henri que guardasse segredo e não falasse a ninguém sobre o fato dela ter estado todo o tempo ao lado da Berlusconi.
                   Cedo, seguira até a cobertura, viu a filha, tomou um banho, retornando ao centro de saúde para retornar ao internato.
              No horário do almoço, Eduarda já não se aguentava de vontade de saber notı́cia da filha de Antônio, mas seu orgulho não lhe deixara se aproximar.
                Observava a salada que dançava em seu prato. Perdera totalmente a fome.
            Levantou a cabeça e encontrou Ester entrando no restaurante de mãos dadas com a doutora Tavares.
           Por alguns segundos sustentou o olhar acusador da loira, mas depois voltou a mirar os vegetais, levando-os à boca. A ruiva se aproximou, parando diante dela.
                 -- Posso sentar contigo?
                Duda voltou a procurar Flávia, mas ela não estava mais lá.
                 -- Você pode sim. – Esboçou um sorriso.
                A atendente trouxe o pedido, depois as deixou sozinhas.
              -- Imagino que hoje seja um dia muito especial para que coma esses alimentos tão sadios. – Debochou, enquanto levava uma garfada de macarrão com molho aos lábios.
                 -- Apenas não estava com apetite, então optei por algo mais leve.
              A jovem de pele rubra mastigava lentamente, enquanto a observava com atenção. Percebeu que mesmo com a maquiagem tentando esconder, a pele branca trazia olheiras. O rosto bonito parecia tenso. Havia um vinco entre as sobrancelhas.
                 Ouvia o pé dela que batia impacientemente sob a mesa.
                 -- Odeio quando tenta me analisar! – Depositou os talheres em cada lado do prato.
                  -- Não posso mais olhar para ti? – Questionou com expressão inocente.
                Ester voltou a comer, enquanto imaginava como a amiga reagiria ao saber que Henri era seu pai.
               E se ela já  estivesse sabendo? Afinal, não  havia explicação para a forma como ela vinha tratando o médico  nos últimos meses.
                 Sim, ela sabia disso...
               Será que esse também era o motivo da Fercodini ter feito tudo aquilo com a Angelina? Não... Não...
              Mesmo que a Eduarda não suportasse mentiras, ela não agiria com a mulher que amava daquele jeito por algo que a outra não tivera culpa nenhuma.
                   Ester a fitou novamente.
                -- O que a Patrı́cia te disse para que você ficasse tão irritada com a Angelina a ponto de gritar na cara dela que não a amava e que tudo não passara de uma experiência, uma vingança?
                   Duda pareceu surpresa, mas rapidamente disfarçou.
                   -- Eu não quero falar sobre esse assunto!
             -- Ah, sim, claro que não quer, pois teme que a Angel estraçalhe o Bruno quando ficar sabendo que ele também faz parte dessa história suja.
               Eduarda pareceu ainda mais atônita com as afirmações da amiga, mas continuou em silêncio.
               -- Vai continuar sem falar nada, vai continuar escondendo o que aconteceu? Não somos mais amigas?
                    Duda mordiscou o lábio inferior demoradamente, suspirou.
                -- Ela me traiu... – Disse por entre os dentes – Me traiu com a Patrı́cia, me traiu com um monte de mulheres, enquanto eu achava que ela me amava.
                   As palavras foram cuspidas.
                   Ester segurou-lhe as mãos sobre a mesa.
                   Via que os olhos claros estavam prestes a cair no pranto.
                    -- Isso não é verdade...
                   Eduarda esboçou um sorriso amargo.
                   -- Eu vi... Eu vi...
                   -- Como viu? Estava lá no momento do ato?
                    -- Não!
                    -- E então?
                    -- Apenas saiba que vi, que tenho provas concretas...
                  -- Quem te deu essas provas? Imagino que tenha sido a Patrı́cia e o Bruno, pessoas super confiáveis! – Ironizou. – Como confiou neles? Por que não questionou a Angelina sobre isso? Ela teria mostrado para ti que era mentira dos dois.
                    Eduarda retirou as mãos.
                 -- Ela apenas iria mentir mais e me levar para cama onde ela sempre resolve os problemas dela.
                   O tom alto que fora usado chamou a atenção de algumas pessoas que estavam presentes.
                 -- Não acredito... – A ruiva usou o tom baixo. – E você é uma burra por ter caı́do direitinho no plano daquela bruxa.
                 -- Não foi a palavra dela, como disse tenho provas concretas.
              -- Forjadas, decerto! – Falou irritada. – Eu realmente estou com muita pena da Angel, pois você confiou em todos, menos na mulher que você dizia amar. – Levantou-se. – Não se preocupe que não falarei a ninguém o que me disse, porém fique a saber que suas ações terão consequências.
                    A Fercodini viu a ruiva deixar a mesa.
             Percebeu como ela se mostrara chateada com tudo, da mesma forma que se mostrara incrédula com tudo que fora dito.
                    Será que todos estavam tão cegos diante dos fatos?
                  Lógico, eles não viram o vı́deo, não viram as fotos e tampouco viram a carta que datava de tanto tempo atrás com a confirmação de sua paternidade.
                    Pegou a bolsa, retirando o celular.
               Primeiro ligou para a casa para saber da filha, depois ligou para Bruno, marcou de se encontrar com ele o mais rápido possível.




                 Angelina passara mais dois dias no hospital e ela mesma deixará claro que não desejava a visita da esposa. Infelizmente as notı́cias sobre o seu progresso cirú rgico não foram as melhores.
                   Provavelmente jamais voltaria ao trabalho que tanto amava.
                   A Berlusconi ficara o tempo todo em silêncio, enquanto ouvia o cirurgião.
              O médico falara sobre uma nova cirurgia, outras tentativas, mas sabiam que não adiantariam, era apenas uma forma de alimentar esperanças em vão.
          Flávia e Henri se mantiveram ao seu lado, ouvindo tudo, vendo a expressão de tristeza da médica.
           A lágrima solitária que molhou a face da milionária, a dor estampada em seu rosto e que ela tentava esconder inutilmente.


             Ester fora até o apartamento de Duda e encontrara as provas que ela tanto falara.
            Mesmo tendo prometido para a melhor amiga que não falaria nada, sentia-se no dever de tentar fazer algo, pois mesmo diante de tudo que viu não conseguia acreditar que a Angelina traı́ra a Fercodini.
               Sentou-se, respirando fundo.
               Sim, a Berlusconi precisava ver tudo aquilo.



            A Tavares se ofereceu para levá-la até sua casa, mas Angel pediu que Henri o fizesse. O trajeto até a cobertura fora tranquilo.
                O médico seguiu com ela.
                Sentaram-se na varanda.
                O som de choro podia ser ouvido.
                A pequena Cecı́lia reclamava o colo da mãe.
                -- Dê-me ela! – Pediu a babá.
               A Garotinha se aconchegou aos braços da morena, apertando-a como se temesse perdê-la.
            -- Nossa, quanto amor dessa pequena! – Mattarelli lhe tocou a face rosada. – Ela parece contigo, tem os mesmos olhos.  
              O bebê parecia reclamar na sua própria linguagem, brincando com as madeixas longas da Angel.
             -- Sim, ela parece com a mamãe. – Beijou-lhe a face. – Nossa que bebê mais cheiroso. – Fungou em seu pescoço, fazendo-a rir alto.
               O professor adorou vê-la mais animada, ainda mais depois do que tivera que saber naquele dia.
                 -- Posso segurá-la? 
                 A médica assentiu.
                 -- Claro, você é o avô!
                 Ele a pegou, enquanto voltava a se acomodar a poltrona. O sol já se punha no horizonte.
             Henri brincava com a menina, enquanto prestava atenção a Berlusconi. Gostaria de poder fazer algo por ela, gostaria de salvá-la de sua dor.
               Sabia que a Angelina estava totalmente destruı́da. Primeiro o relacionamento com a Duda, agora aquele novo golpe.
                  Acreditara tanto que ela ficaria bem, mesmo sabendo que as chances foram mı́nimas.
              Temia que sua antiga pupila caı́sse novamente naquela vontade de isolamento, naquele desejo de se esconder do mundo.
                O bebê pareceu reclamar, desejando os braços da mamãe. Talvez aquele pequeno ser fosse a salvação de todos.
                  A Berlusconi segurou o bebê.
                -- Deve estar cansada, pequena. – Tocou-lhe os cabelos presos. – Está quase na hora da sua comida.
              -- Ela tá parecendo uma bolinha. – O médico gracejou. – É tão fofa que sinto vontade de apertá-la bem forte. Olha como essas bochechas são lindas!
                  -- Está vendo, filha, como seu avô é babão!
               Henri sorriu, mas ao mirar a porta, viu Eduarda parada lá, ela parecia observar tudo com bastante atenção. O médico pigarreou, tentando chamar a atenção de Angelina.
                A Berlusconi mirou-a rapidamente, voltando à atenção para a filha que já tinha visto a outra mãe e parecia reclamar para que ela se aproximasse.
             A Fercodini se chegou, indo até a garotinha, beijando-a, rindo dos pulos que ela dava nas pernas da morena. Ao tentar segurar a filha, sua mão esbarrou com a da esposa.
            Quando os olhos negros a fitaram era como se só houvesse as duas naquele lugar, como se nada mais fizesse sentido.
               Viu como estavam tempestuosos, agitados...
                -- Como você se sente? – Indagou.
                Angelina se levantou, entregando a garotinha nos braços dela.
                 -- Estou bem, infelizmente não será dessa vez que ficará viúva.
                 Antes que a Fercodini pudesse dizer algo, a morena se afastou, deixando o recinto.
               Maria Eduarda praticamente fora barrada quando tentara vê-la, confessava que se sentira triste diante disso, pois ficara muito preocupada com o que se passava e desejara muito ter estado ao lado dela naqueles momentos tão difı́ceis.
                  Henri se aproximou.
             -- Acho melhor que fique um pouco distante da Angel, ela não está bem. – Disse em tom preocupado.
               -- Então, realmente as coisas não saı́ram bem. – Disse em tom afetado.
                Mattarelli apenas fez um gesto de assentimento.
                -- O que o cirurgião disse? – Questionou, voltando a sentar.
            -- Não há muitas chances para a recuperação, houve danos que a operação não conseguiu reverter. 
                O professor percebeu como a filha parecera abalada com o que fora dito.
                Puxou uma cadeira para junto dela se acomodar.
             -- Por que não tenta mais uma vez com ela? – Passou a mão pelos cabelos. – Acredite que eu fui o primeiro a condenar esse plano de casamento forçado, eu fui o primeiro a me revoltar com as ações da Angel, mas vendo-as juntas, e ainda mais com esse lindo bebê. – Acariciou a face de Cecı́lia. -- Sei que se amam, sei que podem ser felizes ainda. – Deu uma pausa, observando o olhar de Duda. – Um dia, por minha culpa, eu deixei de ser feliz com a mulher que amava, fui um idiota e não falei o que era preciso... Perdi-a e junto perdi a chance de ter uma famı́lia.
                A Fercodini viu o brilho nos olhos claros, percebeu como pareciam emocionados, tristes.
                -- Por que está me dizendo isso?
              -- Porque eu não desejo que repita os mesmos erros que cometi, não desejo que passe suas noites a lamentar por algo que não pode mais mudar. – Tocou a face da filha, observando-a com atenção. – Não sabe como dói desejarmos pedir desculpas para alguém que não está mais presente, de desejar fazer tudo diferente...
                 Eduarda notou as lágrimas molharem o rosto do pai, desejou abraçá-lo.
                -- Chega um tempo que percebemos que não é possível consertar as coisas.
              Antes que a jovem pudesse falar algo, sentiu um beijo em seu rosto, seguido de um sorriso sofrido. Henri seguia cabisbaixo, arrasado pela dor de não ter a filha e tampouco a mulher que amara tanto.
             Eduarda permaneceu com a filha durante longas horas. Alimentou-a, depois a colocou para dormir.
           Sentira falta dela durante todo o dia. Saudades da forma receptiva, do sorriso fácil, dos bracinhos rechonchudos pegando em sua pele.
                 Tudo aquilo valia a pena por ela... Por sua Cecı́lia...
                 Deu-lhe um beijo de boa noite, depois seguiu para o próprio quarto.
              Ao adentrar os aposentos, sentiu a presença dela, o cheiro que lhe seduzia os sentidos, que lhe invocavam lembranças que vivia a tentar esquecer.
                 Ouviu o som do chuveiro.
                  Temerosa, sentou na beirada da cama.
                 Não demorou muito para que a Berlusconi aparecesse.
               Ela usava uma camisola de seda preta que chegava um pouco acima das coxas. O decote era generoso, ousado, sensual ao extremo.
             O tecido não parecia cobrir muito, ao contrário, havia mais o que mostrar. Fitou-lhe a face, vendo o sarcasmo brilhar em seus olhos negros.
             Angelina pegou o roupão que estava sobre a poltrona, vestindo-o, enquanto amarrava-o na cintura, continuava a encarar a esposa.
             Duda sentiu a boca seca, desejou poder falar algo, dizer que estaria ao seu lado, mesmo diante de todos os problemas que ela estava a enfrentar.
                  -- Eu não preciso da sua pena!
                  As palavras foram cuspidas, cheias de escárnios.
                A Fercodini se levantou, parando a alguns centı́metros da médica. Mirou-lhe o rosto irritado. Os cabelos presos em um coque frouxo.
                -- Não tenho pena de ti... – Disse altiva.
               -- Sei! – Ironizou. – Acha que não vi o seu olhar quando chegou. – Segurou-a pelos ombros. – Acha que só por que não poderei retornar ao hospital eu sou uma inválida? – Aumentou o tom de voz.
            Duda viu a Angel que encontrará na mansão abandonada, naquele momento era ela quem estava ali, era a mesma criatura irascível, primitiva que enfrentara tantas vezes, com a diferença de que agora ela era sua esposa.
                -- Se brigar comigo te fizer se sentir melhor, faça-o... Brigue...
               A Herdeira do império de Antônio estreitou os olhos de forma tão ameaçadora, assustadora, apertando-a ainda mais, em seguida, empurrou-a com um safanão.
                -- Agora você virou mártir, querida... – Debochou. – Esse papel não se adéqua a você!
            Eduarda nada respondeu, apenas permaneceu lá, observando-a seguir para a varanda do quarto, ouviu o som da porta batendo forte, conseguia sentir a tensão que se espalhava por todos os cantos daquele lugar.
                   Seguiu para o banheiro.
                   Ligou a ducha.
                   Sentia o lı́quido lhe massagear os músculos, aliviando-a.
              No dia seguinte se encontraria com Bruno, acabara não fazendo naquela noite, pois ansiara por estar em casa, por desejava saber notı́cias da mulher que continuava a desconsertar sua vida. Passara todas as últimas quarenta e oito horas pensando sobre tudo, sobre o que ouvira de Flávia, de Ester... E se realmente tudo não passasse de um plano arquitetado para lhe separar da médica?
               Aquela ideia começava a assombrá-la, aquela possibilidade se tornava assustadora. Desligou a água para ensaboar o corpo quando teve um sobressalto.
               Ouviu o som do box sendo aberto e ao se virar, lá estava a Angelina.
              Duda gritou assustada quando a morena praticamente veio para cima de si, pressionando-a contra a cerâmica fria.
             -- Eu mudei de ideia... – Disse com os lábios praticamente colados aos dela. – Já que você quer bancar a vı́tima, a mulher perfeita que se submete a torturas... Eu pensei em algo que vai me fazer sentir muito bem...
              Antes que a Fercodini pudesse digerir o que estava sendo dito, seus lábios foram esmagados em uma atitude de raiva, indelicada, irracional...
               A jovem esposa tentou afastá-la, mas acabou cessando os movimentos quando seus pulsos foram presos sobre a cabeça. contra si.
             Tentava não ceder ao beijo, ainda mais porque estava lhe ferindo a forma violenta que ela continuava a investir Viu os olhos negros a encararem.
                -- O que foi? Não deseja experimentar novamente?
               Duda estava pronta para esbravejar, quando sentiu uma descarga elétrica percorrer toda a sua pele. Angelina estava nua e só naquele momento os corpos se colaram.
                   Os seios se tocaram... Estremeceram...
                   A Berlusconi segurou lhe soltou os braços.
              -- Vai me rasgar? – Desafiou-a. – Vai usar suas garras para ferir a minha pele? – Com as costas da mão lhe tocou a face, depois desceu até o seio esquerdo, alisando-o. – Bem, agora você não tem que se enojar com as minhas cicatrizes, meu bem... – Apertou o mamilo com o polegar e o indicador. – Você foi uma vagabunda o tempo todo comigo? – Arqueou a sobrancelha esquerda.
                -- Fui? – Questionou, enquanto a sentia por a coxa entre suas pernas. – Foi isso que fui para ti?
                  -- Sim, foi uma maldita vadia, uma puta desgraçada que me usou o tempo todo.
               Duda sabia o que ela estava fazendo, sabia muito bem que a morena desejava brigar, assim se satisfaria. Tentou respirar fundo, enquanto via o sorriso sarcástico brincar naquela boca tão linda.
Infelizmente sabia que acabaria caindo nas provocações, pois seu sangue já fervia.
                 -- Uma curiosidade: Você finge quando goza também?
                  Eduarda assentiu.
            -- Sim, finjo quando gozo, finjo quando fico molhada... Eu sempre finjo... – Encarou-a, colando aos lábios aos dela. 
                   Angelina estava rubra de raiva, mas mesmo assim, o beijo se aprofundou.
                     As lı́nguas se enroscaram, chuparam-se.
                  Ouvia-se o som das bocas, o estalado, a respiração alterada, instigante... Excitante. Os quadris se movimentavam, esfregando-se.
                A Berlusconi lhe afastou um pouco as pernas, em seguida usou as mãos para lhe abrir o sexo, tentando se encaixar.
                    Pressionava  rapidamente.
                 Eduarda ouviu as fricções, estava tão molhada que poderia alcançar o prazer total em pouco tempo. Tocou os seios da médica.
                     Ouvia-a soltar um gemido agoniado.
               Eram macios contra seu tato, deliciosos e suculentos... Lembrou-se de como eles eram perfeitos em sua boca, recordou-se de como os mamava deliciosamente.
                -- Estranho que não tenha se tornado amante do meu pai... Poderia fingir assim também...                     Aquele fora o estopim para tirar a jovem Fercodini do controle.
               A garota empurrou a morena, em seguida tentou lhe desferir uma bofetada, mas a Angel foi rápida e conseguiu desviar da tapa.
             Duda deixou o banheiro, mas ainda conseguia ouvir a gargalhada da outra. Ela conseguira mais uma vez lhe tirar do sério.
            Sabia que não estava sendo fácil aquele dia e por isso tentara manter a calma, tentara não retrucar ou deixar que sua fúria falasse mais alto, entretanto diante da última provocação não conseguira se conter.
               Sentia aquela revolta crescer ainda mais dentro de si, o sangue corria mais rápido, estava trêmula e ainda mais brava porque sabia que ela fizera tudo de propósito para irritá-la.
                  Ouviu os passos dela, virou-se para encará-la.
            Aquela mulher andava nua como se estivesse usando o traje mais elegante de todos, desfilando em Paris para a grife mais chique de todas.
               Se não a conhecesse e estivessem em meio a uma multidão e alguém pedisse para encontrar a herdeira do império Berlusconi, ela não titubearia ou teria dúvidas de que apontaria para a morena feiticeira.
                 -- Afaste-se de mim! – Pediu
             Rapidamente a médica a segurou pelos ombros, praticamente empurrando-a até a penteadeira, sentando-a. Mesmo diante dos protestos, gritos e arranhões, afastou-lhe as pernas, penetrando-a duplamente.
                 Segurou-lhe forte pelos cabelos, obrigando-a a encará-la.
              -- Era isso que eu deveria ter feito contigo naquele dia que jogou na minha cara que nunca me amou.
                  Duda nada pôde dizer ao vê-la baixar a cabeça, colando os lábios em seu sexo.
                Nem teve como reagir, apenas apoiando as mãos atrás, inclinando a cabeça, enquanto era chupada e penetrada com ı́mpeto.
              Sentiu a lı́ngua praticamente lhe açoitar o clitóris, enquanto depois soprava, lambia, mordiscava... Tomava-o em sua boca, dominando-o.
                      A Fercodini maneava o quadril, parecendo pedir por muito mais, exigia...
                Fora aquilo que desejara todos aqueles dias... Diante de tudo que se passara era isso que continuava a sentir, até imaginara que era apenas sexo, apenas desejo, mas sabia que aquele ato que a enlouquecia era apenas parte de um sentimento maior. Avassalador a ponto de produzir uma guerra dentro de si, uma batalha que tentava com todas as forças vencer, uma batalha que tinha a frente de defesas abaladas com um simples toque ou um olhar ousado, violador como costumava ser.
                  Gritou alto quando sentiu o sexo tremer, mas a carı́cia fora interrompida. 
                  Angelina a fitou.
                  -- Você é uma tola!
                 Puxou-a pelo braço, praticamente jogando-a sobre a cama.
             -- É  uma tola! – Falou mais alto. – Uma maldita tola que tenho vontade de matar nesse momento. 
                   Eduarda se apoiou nos cotovelos, observando-a.
                 Não entendia o que se passava, ainda estava abalada pelo prazer violento que sentira há alguns segundos. Viu-a pegar o roupão, vestindo-o.
                    Em seguida, viu-a pegar uma toalha, jogando-lhe.
                -- Vista-se, pois você e eu temos um encontro com a Patrı́cia e com o seu maldito mancebo!  
                    Duda a fitou ainda mais confusa.
                    Cobriu a nudez, levantando-se, foi até ela.
                 -- Eu não vou a lugar nenhum contigo! – Disse tentando não perder a paciência novamente.
                 -- Ah, você vai, nem que para isso eu tenho que te arrastar pelos cabelos.
                 -- Por que eu iria a um lugar onde está aquela mulher? 
                   Angelina a segurou forte pelo braço.
                 -- Talvez porque eu deseje estar presente quando você ouvir e acreditar nas mentiras que ela te conta ao invés de me questionar, de me deixar explicar o que se passou realmente.


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