Dolo ferox -- capítulo 27


           Valentina estava diante do espelho.
Lavou o rosto, pois tinha passado mal.
Observou as belas mulheres retocar a maquiagem e logo deixavam o toalete sorridentes, deixando-a sozinha.
Passou a mão no ventre que já estava bem à mostra. Seis meses… Não demoraria para poder conhecer o filho, para ver seu rostinho… 
Mordiscou o lábio inferior…
Será que nasceria ruivo? 
Deus, se assim o fosse seria a prova viva de quem era a mãe...
Quanto tempo fazia que não a via?
Decerto estava com a loira…
Fechou os olhos… Tentando controlar a respiração… Respirou fundo sentindo o ar floral do banheiro ser substituído por um aroma característico, um perfume que conhecia bem… Aquilo era mais uma peça pregada por sua imaginação, mais uma vez trazia para si a mulher que a feria tanto.
Lentamente abriu os olhos, viu a ruiva refletir no espelho.
Uma deusa rubra!
A morena sentiu a garganta seca ao ver a bela imagem parada a lhe olhar. Observou o corpo sensual no vestido elegante e sexy. O decote mostrava as sardas que enfeitavam o colo. Viu o pingente dourado descansar sobre a pele rosada. Viu Os lábios entreabertos e o olhar duro. Como podia estar ainda mais bela, como poderia amá-la ainda mais depois de tudo?
Amava-a!?
Era isso que sentia por Natasha Valerie? Mesmo sabendo que não deveria sentir...
Desviou o olhar do dela, focando nos azulejos rosa e branco do elegante banheiro. Fitou os registros de água dourados e viu que alguém tinha deixado uma a vazar.
Conseguia ouvir o som da música que tocava lá fora… Pensou se Nathália a estava esperar lá  ainda… Ainda dançariam? Não! Só desejava ir embora de uma vez por todas daquele lugar, afastar-se daquelas pessoas.
Voltou a fitar a intrusa, os olhos verdes perscrutavam de alto a baixo. Fazia-o com curiosidade, como se fosse a primeira vez que a estivesse a olhar.
Sentia a garganta seca.Sentiu o coração pulsar mais rápido, ansioso, mas logo recordou que a ruiva simplesmente decidiu que ambas não poderiam ficar juntas, então seria ridículo tanta felicidade ao revê-la. 
Abriu a torneira e começou a lavar as mãos, estavam trêmulas, tentando de toda forma ignorar a Valerie.
A arquiteta apenas olhava a circense. Examinando-a…
Agora já era possível perceber a gravidez. Estava maravilhosa no vestido branco delicado, moldando agora a cintura redonda, cobrindo os braços, deixando a ver um delicado decote.
Mirou a face tão linda da neta do conde! 
Sim, ela tinha alma de nobreza… Era mais aristocrata que todos ali.
Voltou a fita a barriga dilatada.
Seu filho estava ali…
Observou os olhos negros… Intensos… Misteriosos como uma noite de inverno.
Suspirou baixinho.
De repente viu o desprezo na face bonita e aquilo fora torturante, ainda mais depois de todos aqueles dias de distância, depois de todas as noites sem dormir, depois de toda força que fora necessário usar para não ir até ela, para não arrancá-la dos braços da irmã grosseiramente.
Cruzou os braços sobre os seios, apenas observando-a, mas quando a trapezista passou por si, ignorando-a, deteve-a delicadamente pelo braço.
-- Solte-me! -- A jovem exigiu. -- Não ouse encostar em mim!
Natasha a encarou, enquanto um sorriso de deboche aparecia no canto dos lábios.
-- Oras, perdão, my lady! -- Levantou os braços em rendição. -- Não foi minha intenção tocar na futura condessa… Machuquei-a? Deseja que chame sua namorada para acudi-la?
          A circense franziu a sobrancelha em desagrado.
     -- Não me venha com provocações, Natasha, pois a última coisa que desejo é ouvir seus sarcasmos.
       A ruiva contraiu o maxilar, respirando lentamente. Mordiscou o lábio inferior demoradamente, mirando-a. Queria-a para si, desejava acordar todos os dias e ficar observando-a com aquele jeito delicioso de lhe desafiar.
        Jamais lhe passou pela cabeça que a encontraria naquela noite, mesmo que ansiasse por aquilo, sentia-se frágil diante dela, perdida em seus confusos sentimentos.
       -- Você está linda… -- Estendeu a mão para lhe tocar o ventre, mas não o fez de imediato. -- Posso? -- Indagou apreensiva. 
          Valentina olhou-a demoradamente, aspirou o delicioso perfume mesclado ao álcool, por fim fez um gesto afirmativo com a cabeça.
       Continuaram a se encarar, enquanto a ruiva delicadamente tocava a barriga da mulher que carregava seu filho. Fê-lo com demasiado cuidado, como se temesse feri-la.
         Os olhos verdes pareceram mais claros naquele momento, enquanto um sorriso grande enfeitava o rosto inflexível da arquiteta.
         A morena prendeu a respiração ao ver a expressão de felicidade deixá-la com aquela luz que pouco aparecia em seu olhar. Ouviu a voz baixa e rouca dizer:
           -- Mexeu… -- Falou surpresa. -- Você sentiu? Mexeu quando toquei…
          A circense não respondeu de imediato, pois parecia fascinada não só com a alegria da criança, como com a da mãe.
           -- Sim… Eu senti… -- Umedeceu os lábios.
           A ruiva continuou na mesma posição, parecia encantada com a experiência.
          -- Não deveria estar descansando ao invés de estar aqui? Afinal, isso não são horas para ficar na rua. 
         -- Não estou na rua! -- Deu de ombros. -- Também não estou doente… Então do mesmo jeito que você pode passar a noite dançando em uma boate, eu posso fazer o que achar interessante. -- Já voltava a se afastar, mas teve o braço detido.
          A morena abriu a boca para esbravejar, mas ouviram vozes, então a arquiteta praticamente a arrastou para dentro de um dos banheiros, fechando a porta. 
            O lugar não era tão pequeno, um toalete de luxo.
            -- Está louca?! -- Valentina  acusou-a baixinho.
            Natasha colou os lábios em sua orelha.
            -- Já me esqueceu?
           A Vallares sentiu a pele arrepiar, um estremecimento percorrendo toda sua espinha. Seu corpo reagia tão rápido a proximidade dela que chegava a se assustar. 
            Engoliu em seco.
            -- Sim, já! -- Encostou-se a parede, cruzando os braços. -- Deixe-me sair! -- Ordenou.
            A Valerie fez um gesto negativo  com a cabeça.
             -- Ainda não! -- Falava baixo. -- Precisamos conversar!
             -- Agora? -- Arqueou a sobrancelha direita em surpresa. -- Esse tempo todo e agora você quer conversar? Aqui dentro do banheiro é um bom lugar para vossa alteza? -- Provocou. -- Sinto muito, mas a Nathália está me esperando.
        A morena tentou abrir a porta, mas Natasha se posicionou diante do trinco,impedindo a passagem.
              Encararam-se demoradamente, havia fúria, mas também saudade.
            -- Oh, então a minha irmanzinha está aqui também… Que lindo, casal perfeito! -- Desdenhou.
           -- Sim, todos dizem isso! -- Provocou-a com um sorriso triunfal. -- Poderíamos até ganhar um prêmio… 
            A face da ruiva ficou ainda mais rosada de raiva diante da provocação. Sabia que deveria tentar manter o controle, pois era quase impossível manter a filha de Nícolas por perto.
               Respirou fundo, soltando o ar lentamente.
              -- Vamos para outro lugar, quero conversar! -- Disse tentando manter a calma. -- Preciso que me ouça…
             -- Está louca se achas que irei a algum lugar contigo! -- Baixou o tom de voz ao ouvir a risada das mulheres lá fora. -- Meu pai e o meu avô ofereceram um jantar para me apresentar a sociedade e jamais seria tão deselegante para sair e deixá-los sozinhos só para realizar um capricho seu.
             -- Capricho meu? -- Falou incrédula, enquanto passava a mão nos cabelos. -- Valentina, a gente conversou, eu te expliquei o que se passava, disse que seria necessário que mantivéssemos distância… Acha que estou fazendo isso por um desejo meu?
              -- Mas não é isso que estamos fazendo? Eu mesma não te procurei uma única vez… Estou mantendo total distância de você!
                 Natasha chegou mais perto, tocando-lhe a face.
                 -- Eu não estou aguentando ficar longe…
              Valentina observou os lábios vermelhos, sentiu o hálito de vinho e ansiou por sentir mais uma vez aquela boca tão bonita colada a sua. Mas não deveria. Sabia como aqueles dias estavam sendo difíceis, ainda mais quando recordava dos momentos que passaram juntas.
              Cruzou os braços sobre os seios, pois os mamilos intumesceram com a proximidade, estavam mais sensíveis e doloridos, ansiando pela boca que sabia tocá-los tão bem.
              -- Não é o que parece… -- Disse, recuperando-se. -- Afinal, andas acompanhada daquela loira de farmácia, então não me venha com essa história!
                -- A Rebeka não representa nada em minha vida, é apenas um detalhe nessa farsa toda… -- Respirou fundo. -- Meu carro está na garagem 56, encontre-me lá, preciso conversar contigo.
                 Os olhos negros se abriram em incredulidade e vontade de ceder. 
               -- Eu não irei, já disse que estou com a Nathália e daqui a pouco ela vem aqui saber o motivo da minha demora.
             Natasha estreitou os olhos, tentava controlar o ciúmes, mas ele parecia queimar em seu interior, rasgando todo seu ser.
               -- Ah sim, você já está com a sua adorável namorada… Diga-me, anda transando com ela tam…
                 Antes que terminasse de falar, foi esbofeteada.
                 A ruiva enrijeceu o maxilar, mas Valentina não se importou.
                 O banheiro estava iluminado e era possível ver como ficou rubra a pele delicada. 
              -- Achas mesmo que todos são como você?-- Colocou as mãos na cintura. -- Pensas que todos são desavergonhados a ponto de agirem como devassas? -- Cerrou os dentes com raiva. -- Sabe o que mais me irrita com a duquesa é que ela não te deu um pingo de educação, poderia pelo menos ter gastado um pouco com isso, teria feito grande diferença! 
                  Ela tentou sair novamente, mas foi detida.
                 -- Deixe-me ir!
               -- Por favor, Valentina, encontre-me… Preciso que me escute, desejo que entenda o que se passa… -- Levou as mãos ao rosto. -- prometo que não demorarei… Irei para lá agora mesmo e vou te esperar, eu só preciso de alguns minutos do seu tempo e depois prometo que a deixo em paz.
                  A morena permaneceu no mesmo lugar, enquanto via a outra deixar o local.
               Suspirou, sentindo as batidas aceleradas do coração, sentindo a pulsação acelerada devido ao encontro inesperado.
               Observou-a seguir para fora, lentamente também deixou o espaço, caminhando lentamente, parando diante do espelho. Olhava-se, especulando que vontade insana era aquela de ir até a arquiteta, mesmo depois de saber que ela estava com Rebeka.




                Fazia quase vinte minutos que Natasha esperava.
                Estava encostada pelo lado de fora do SUV preto. 
                Naquela área tudo estava vazio, não havia outros carros, apenas árvores adornavam o lugar.
                A noite estava fria, sentia o vento emaranhando-lhe os cabelos. 
              Ouviu o celular tocando, pegou-o sobre o painel e viu o nome de Rebeka aparecer. Decerto desejava saber onde estava. Suspirou, atendendo, mas foi a voz de Leonardo que ouviu.
                -- Filha, onde você está? Aconteceu algo? -- O homem questionou.
                -- Não, apenas estou resolvendo um pequeno contratempo, mas não demorarei a retornar.
                Um silêncio se fez do outro lado da linha e logo se ouviu novamente Antonini.
                -- A Valentina está aqui junto com os Vallares… Helena a encontrou ainda pouco…
                -- Sim, eu sei… Depois falo com vocês! -- Encerrou a ligação.
           Voltou a observar o caminho deserto, não havia ninguém, além dela por ali. Estava começando a pensar que a morena não apareceria.
             Fitou o céu, observando as estrelas que pareciam ainda mais brilhantes naquela abóbada tão escura.




              Valentina caminhou até a mesa, sentando novamente ao lado do avô.
             Ainda ponderava se deveria ir ao encontro da arquiteta, ainda pensava se aquilo seria uma boa ideia.
            -- Tudo bem, filha? -- O conde questionou perto do seu ouvido. -- Parece que viu um fantasma, está demasiadamente pálida. -- fitou-a. -- Está passando bem? -- Falou preocupado.
                A morena fez um gesto de assentimento com a cabeça, enquanto observava Nathália um pouco mais adiante conversando com um homem que não estava no mesmo círculo que eles.
                 Quem poderia ser?
                 Era alto, forte, cabelos loiros e vez e outra, os olhos masculinos lhe fitavam.
              Estava compenetrada com a curiosidade quando a voz estridente de Isadora pôde ser ouvida. 
               Fitou-a.
           Às vezes duvidava que aquela senhora fosse mesmo uma duquesa, afinal, agia como uma pérfida sem educação.
           -- Não sabem quem está aqui também? -- Já dizia, enquanto ocupava o lugar ao lado de Nicolay. -- O sheik e amante da Natasha comemora o sucesso do empreendimento que ela administra no país. -- Torceu a boca em desagrado. -- Eu juro que se pudesse, riscava essa maldita de uma vez por todas da minha família.
           Nícolas nada disse, enquanto se levantava, deixando a mesa. O conde observava curioso a neta.
           -- Acho que falar da Valerie nesse momento não é apropriado, duquesa! -- O mais velho disse. 
          -- Eu sei, entendo, mas eu não consigo me controlar… -- Tomou a mão de Valentina nas suas. -- Filha, não sabes como me desespero quando penso que ficou todo aquele tempo convivendo com aquela desgraçada… Para que tenha uma ideia, esse sheik é bem mais velho que seu avô, mesmo assim, a Natasha tem um caso com ele desde a adolescência e foi através desse contato que ela conseguiu se tornar tão rica…
           A circense ouvia as palavras, enojando-se com cada frase que era dita.
       -- Chega, Isadora! -- Nicolay ordenou. -- Não vamos estragar nossa noite com esse tipo de conversa.
         -- Só desejo que Valentina perceba como correu risco enquanto estava com aquela miserável.
         A circense se desvencilhou do toque, enquanto se levantava.
          -- Vou tomar um pouco de ar puro, estou me sentindo sufocada.
          -- Eu vou com você! -- Isadora se oferecia.
          -- Não precisa, minha senhora, não demorarei… -- Encarou o avô com um sorriso.
          Nicolay assentiu, enquanto enviava um olhar enviesado para a aristocrata.
          -- Não tinha motivos para falar sobre a Valerie! -- Repreendeu-a. -- Não quero que nada faça a minha neta se sentir mal.
             A avó de Nathália nada disse, apenas tomou um pouco de vinho.



         Natasha já estava pronta para deixar o local, quando viu a bela jovem aparecer em meio à escuridão.
             Sentiu-se aliviada, feliz por vê-la tão linda.
             Esperou pacientemente que ela chegasse próximo a si.
             -- Não tenho muito tempo, então fale logo o que quer. -- Já chegou dizendo.
         Sentia-se irritada,ainda mais pelas coisas que ouviu Isadora falar. Nem mesmo entendia o motivo de ter ido até ali, talvez por que desejasse discutir, esbravejar para aliviar aquela exasperação que se apossava de si.
              A ruiva abriu a porta para que ela entrasse.
           -- Não acho necessário! -- Disse cruzando os braços. -- Já falei que não posso demorar… Daqui eu consigo ouvir muito bem, então comece a falar ou perderá sua oportunidade. 
            -- Sim, eu ouvi, mas aqui fora está frio e seria mais fácil que fôssemos flagrados aqui, no carro teremos mais segurança. -- Retrucou com calma. -- Entre!
           A circense pareceu não gostar da ideia, mas acabou aceitando, entrando, sentou no confortável banco e não demorou para a ruiva ocupar o outro.
          Uma música baixa tocava no rádio. Era uma melodia romântica, a mesma que ouvia a ruiva tocar no piano.
             Valentina se virou para ela.
              -- Diga-me o que deseja de uma vez…
             Natasha lhe tomou pela mão.
              -- Você está ainda mais linda…
              A jovem corou diante do elogio.
             -- Não sei onde… Sinto-me tão redonda que tenho medo de sair rolando a qualquer momento.
             A ruiva sorriu.
             -- Nem mesmo está tão grande… -- Umedeceu os lábios. -- Logo nosso filho vai nascer…
         A trapezista apenas assentiu, tentando manter a calma, mas parecia que um vulcão estava prestes a entrar em erupção em seu interior.
             -- Por que razão me chamou aqui, Natasha? Não desejo me demorar…
             A ruiva não gostou da forma que ela falou, então decidiu indagar de uma vez:
             -- Foi você que pediu a ordem de restrição?
             Ela sabia bem do que ela estava falando, mas não imaginou que seria confrontada com isso.
           -- Achas que eu faria algo assim? Pensas mesmo que preciso da polícia para me proteger de ti?
             Natasha olhou para frente, enquanto tamborilava os dedos no volante.
              Desde que fora notificada sobre a ação, sentia-se de certa forma traída.
            -- Achas que eu faria algo assim? -- Questionou, fitando o perfil forte, vendo o nariz orgulhoso ainda mais arrebitado. -- Se achas isso, por qual razão me chamou aqui? 
            -- A minha vontade nesse momento é te levar para bem longe…-- Encarou-a. -- Tirá-la de perto da Nathália e da Isadora.
               A circense sentiu uma incontrolável vontade de que aquilo acontecesse. 
           -- Você disse que não pode… Falou que eu deveria aceitar e agora me vem com isso… Por quê? Pensei que estivesse se divertindo com a Rebeka… Ainda há muitas boates para levá-la...
             -- Valentina, eu já disse que não tenho nada com ela!
             A morena estreitou os olhos em descrença, mas acabou dando de ombros.
             -- Diga logo o que quer, porque desejo ir embora.
             -- Oh, a Nathália está esperando é?
            -- Sim, está, estou devendo uma dança a ela, então se já terminou o que queria… -- Já abria a porta do carro.-- Boa noite.
            Antes que pudesse sair, Natasha lhe segurou pelo pulso, trazendo-a para seu colo, detendo-a, segurando-lhe as mãos para não correr o risco de apanhar mais uma vez.
             -- Solte-me! -- Tentou se livrar, mas foi em vão. -- Natasha...
          -- Calma, moça, ou vai amarrotar seu vestido e desfazer o belo penteado. -- Provocou-a. -- Quer que toda a aristocracia te veja assim? -- Fê-la encará-la. -- Não vai sair, enquanto eu não provar dessa tua boca.
          A circense inconscientemente umedeceu os lábios, pois teve a impressão que sua pele implorava pela carícia. Como podia queimar de vontade de ser tomada por ela, quando estava cheia de raiva?
               Afastou mais a cabeça para que pudesse evitar o toque.
              -- Sinto muito, mas não tenho interesse!
             A ruiva esboçou um sorriso cheio de convencimento. 
             -- Claro que tem, está com ciúmes, por isso desse humor caótico.
             Valentina tentou arranhá-la, mas a ruiva foi rápida, detendo-lhe os movimentos novamente.
             -- Calma, gatinha selvagem…
           Colou os lábios aos dela, mas a circense cerrou os dentes para não permitir o contato. A Valerie passava a língua delicadamente, paciente e sem pressa. Sentia a maciez, a delicadeza.
              Sentiu-a cerrar os dentes, impedindo o acesso.
           -- Não sabe como está sendo difícil para mim essa distância…-- Encostou a cabeça em seu pescoço, inalando o delicioso cheiro. -- Eu tenho a impressão que enlouquecerei a qualquer momento. -- Mordiscou-o. -- Eu sou louca por você, palhacinha...
             A morena sentia na voz baixa a agonia, percebeu como estava perturbada com a separação de ambas.
             Sentiu vontade de sorrir ao vê-la lhe chamar pelo apelido.
            Fechou os olhos sentindo as carícias em seu pescoço, sabendo que pouca força lhe restava para reagir. 
              Ouviu o som rouco e baixo.
            -- Não me quer mais? Quer que a deixe de uma vez por todas? -- Fitou-a com um suspiro. -- É isso que você quer?
            Mesmo na penumbra, era possível ver o brilho dos olhos verdes.
            Sentia o hálito gostoso tão perto, desejou beijá-la, mas se conteve.
           Viu a madeixa ruiva cair em sua tez. Desejou se entregar novamente, mesmo que soubesse que não deveria, desejou tê-la para si, mesmo sabendo que seria algo totalmente impossível.
            Respirou fundo!
           -- Achas que vou permitir que esteja com outras e comigo? -- Questionou por entre os dentes. -- Sim, você está certa, eu estou morrendo de ciúmes e de raiva só em pensar que andas com aquela loira, mas saibas que não me submeterei a você, não aceitarei de forma alguma seu comportamento devasso…
           -- E você acha que estou feliz em saber que andas para cima e para baixo com a minha irmã? Achas que não sei dos seus passos? -- falou irritada. -- Eu tenho a impressão que me rogaram uma praga, que estou amaldiçoada ainda mais que antes... Achas mesmo que está sendo fácil para mim? --               Meneou a cabeça negativamente. 
           -- Não há nada entre mim e a sua irmã, porque eu não consigo, porque, mesmo que você não mereça e que eu não deva,eu penso em ti o tempo todo…
           Natasha umedeceu o lábio inferior demoradamente e foi ao encontro da boca dela, dessa vez Valentina a acolheu de forma saudosa. Permitindo que o tão ansiado beijo acontecesse. 
          A ruiva parecia ter urgência no contato, parecia que estava em desespero, tomando-a forte, como se desejasse devorá-la. Enquanto Isso, a trapezista impunha um ritmo mais calmo, provando lentamente dos lábios rosados, mas não demorou muito para sentir um arrepio em seu corpo diante da forma sensual da carícia. Prendeu a língua da Valerie e não demorou para senti-la brincar consigo, invadindo e se retirando em uma verdadeira sedução. Chupou-a forte, como se desejasse engoli-la, adorando o sabor embriagante dela.
              Tomou-lhe a face, desejando que aquele momento perdurasse para sempre.
              Sentiu as mãos atrevidas lhe tocando os seios, praticamente rasgando o vestido. Deteve-a.
              -- Não! -- Falou com a respiração acelerada contra os lábios da arquiteta. -- Não deve.
               -- Então, tire-os para mim… -- Exigiu.
              A morena olhou para os lados e não havia ninguém por ali, estava deserto.
              Mordiscou a lateral do lábio inferior enquanto ponderava se deveria ceder. Mirou as mãos de dedos longos sobre o tecido e nesse momento sentiu o sexo umedecer. Seu corpo reagia de forma descontrolada, turvando-lhe à sensatez. 
               Encarou-a e viu o desejo estampado naquele rosto bonito.
               Lentamente baixou o vestido, expondo diante do olhar safado os seios  doloridos.
               Natasha usou os polegares para acariciá-los, sentindo-os duros, macios… Apertava-os.
               -- Estão ainda maiores… -- Apertou os biquinhos, arranhando-os...
           Valentina estreitou os olhos, enquanto a via beijar o colo, logo sentia a língua saborear os mamilos, lambendo-os devagar, torturando-a lentamente.
           A circense lhe segurou a cabeça, mantendo-a naquela deliciosa posição. Mordia o lábio inferior para não gemer, mas aquilo não estava adiantando muito, ainda mais quando sentiu os dedos longos lhe tocarem a calcinha. O tecido de seda estava molhado e parecia a Natasha deslizava por ele.
                 A morena se mexeu inquieta.
                -- Eu quero você e sei que me quer também… -- A arquiteta disse.
                A jovem sentiu-a adentrar os espaços, chegando a sua carne, lambuzando a mão...
                -- Está louca? Preciso retornar para aquela festa e está impecável… 
                A ruiva a encarou, enquanto movia-se contra o sexo dela.
                -- Vá a construtora amanhã, por favor… quero vê-la novamente… eu preciso de você…
                Valentina afastou um pouco mais as pernas, deliciando-se com os dedos em seu interior.
             -- Ain… -- Gemeu quando a sentiu mais forte. -- Eu não posso garantir que estarei lá… -- Umedeceu os lábios. -- Mas farei o possível, preciso realmente falar contigo… -- Moveu-se contra ela. -- Por favor, não pare…
              Natasha assentiu, enquanto voltava a lhe tomar os seios, mamando-os ferozmente, enquanto continuava a massagear com o polegar a pequena fruta escorregadia. Ouviu-a gemer e seu próprio corpo ansiou por satisfação.
           -- Amor, a Nathália não vai sossegar até que você aceite casar com ela… mas fique sabendo que não permitirei.
              Valentina jogou a cabeça para trás, enquanto ia ainda mais contra os dedos… Movendo-se em um ritmo lento. Tomou-lhe a outra mão, depositando-a sobre seu sexo.
                 -- Entra dentro de mim… -- Pedia. -- Preciso… Necessito…
                 A ruiva atendeu a solicitação, penetrando-a lentamente.
              -- Assim está bom? -- Questionou com a boca quase colada a dela. -- Se a Nathália ousar tocar em ti...
               -- Ah é? Ain… -- Gemeu ao tê-la mais impetuosa. --  Mas eu devo permitir você transando com a loira?
               Natasha juntou mais um dedo, invadindo-a com mais força, enquanto usou a outra mãos para lhe esfregar a parte externa, afagando as coxas, depois deslizando sobre a pequena cereja ensopada.
                  Fazia movimentos circulares… Vendo-a fechar os olhos diante do toque ousado. 
             A morena teve a impressão que morreria naquele momento. Rebolou contra ela, adorando a pressão.
                Valentina fê-la sentar de pernas abertas, montando-a, livrou-se da calcinha.
                -- Vá amanhã na construtora… Quero que te comer muito…
                -- Quer que eu dê para você depois de tudo? -- Fitou-a. -- Não aceitarei com outras…
                -- Eu só quero você…
                -- Mesmo?
             Antes que Natasha pudesse responder o telefone tocou insistentemente, mas não atendeu de início, porém acabou fazendo-o.
              Valentina parecia frustrada, enquanto a via falar com alguém. Ao virar a cabeça para janela viu que um homem se aproximava se aproximava, não demorou muito para saber de quem se tratava.
                -- Meu pai está vindo para cá…
               A morena saiu do colo da ruiva, arrumando-se, enquanto buscava desesperada a calcinha que não achou. Natasha parecia tranquila, enquanto deixava o veículo e logo Valentina a alcançava.
                 -- O que faz com a minha filha?
              O filho do conde já veio para cima, mas a circense se colocou entre os dois, pois sabia que algo poderia acontecer.
                -- Calma, papai, eu apenas aceitei me encontrar com a Valerie para falar sobre a criança.
                -- Criança que ela nunca vai chegar perto!
                 A ruiva tirou a morena da frente, enquanto encarava o irmão de Verônica.
                 -- A briga vai ser muito grande, pois eu não abrirei mão do meu filho!
              -- Uma assassina como você não merece nada, além de passar o resto da vida na prisão. -- Tirou o celular do bolso. -- Agora mesmo vou chamar a polícia e dizer que descumpriu a ordem de restrição.
               -- Por favor, papai, não houve nada, eu quem a chamei aqui!
                Nícolas mirou a trapezista demoradamente.
              A circense voltou a se aproximar, pois era possível ver o ódio presente naquele olhar. Mirou a ruiva e viu como ela não parecia nem um pouco assustada com a situação, apenas exibia aquele olhar de arrogância, tendo o riso brincando nos lábios.
              -- Por favor, vamos embora!
              O filho do conde soltou um longo suspiro, enquanto assentiu.
            -- Dessa vez deixarei passar devido à festa que está ocorrendo, mas se essa miserável ousar chegar perto de ti novamente, eu mesmo a mato.
            -- Como desejar, senhor Vallares, sabe bem onde me encontrar! -- Disse, voltando a se encostar ao veículo com os braços cruzados.
             Pai e filha se afastaram, mas antes a trapezista enviou um olhar de advertência para a arquiteta que simplesmente deu de ombros.
             Precisava provar que não cometeu crime algum e se isso não fosse possível, roubaria Valentina e a levaria consigo para bem longe.



               Valentina caminhava na frente, tendo o pai bem próximo a si.
              -- Proíbo que se aproxime novamente daquela mulher! -- Ele dizia. -- Será que não entende como ela pode te fazer mal, não tem ideia de tudo o que ela fez com a minha irmã!
             A morena parou, enquanto passava a mão pelos cabelos, arrumando-os, imaginando como deveria estar sua aparência depois de quase concretizar o momento de prazer com a ruiva.
              -- O senhor não pode me proibir de nada! -- Falou exasperada, enquanto observava as pessoas que passavam por eles, olhando-os de forma curiosa. -- Eu passei a vida toda sozinha e sei muito bem me defender, então não me venha agora com isso do que posso ou não fazer.
                  Nícolas colocou as mãos no bolso da calça, parecia constrangido diante da explosão.
                  -- Se eu soubesse da sua existência, jamais teria saído do seu lado…
                  A morena soltou um longo suspiro.
                -- Eu só não quero, nem preciso que me trate assim, não sou uma criança boba que pode ser enganada por qualquer pessoa…
                O homem lhe estendeu a mão, tocando-lhe a face.
               -- Você não entende o pavor que sinto só em imaginar que a Natasha pode te fazer algum mal. -- Arrumou-lhe a madeixa. -- Ela matou a Verônica muito antes de executar o crime…
                  A morena cerrou os dentes.
              A ideia da Valerie ter cometido algo tão cruel não se encaixava em sua mente, mesmo que ela tivesse uma personalidade tão forte, não conseguia de forma alguma acreditar que ela fosse capaz de algo assim.
                -- Como pode ter tanta certeza que foi ela?
               -- Porque ela estava com a arma do crime, porque ela estava toda ensanguentada, porque ela nunca mostrou uma prova que dissesse o contrário… ela nunca negou!
                A circense já abria a boca para protestar, mas sentiu uma dor forte em sua barriga. Levou as mãos a ela, enquanto o pai se aproximava, amparando-a antes que fosse ao chão.

Comentários

  1. A Valentina tem que ser mais esperta para descobrir todas as armações que essa gente fez e faz para a Natacha.
    Sei quando se escuta conversas da pessoa que se ama, a gente fica com medo,quanto mais se ali está a Natacha que cai dobre ela todos os adjetivos pejorativo que essa bruxa velha fala. Creio que já está na hora da Valentina começar a investiga,e querer saber o porque de todo que envolvem essa Nathalia nessa história.
    Descobrindo por exemplo que a Nathalia tem um caso com esse cara que está conversando com ela nessa festa,perceber que essa bruxa Jr não gosta de mulher,e que na verdade ela quer é o dinheiro desse Conde otário.
    Porque todos só lasca a ruivinha,e o resto todo mundo é santo? Se liga ai garota.
    Amo essa história autora querida,e essas vilãs tem que ferrar.
    Beijos Geh,e que Deus te mantenha sempre com esse talento nato para criar histórias maravilhosas como TODAS.

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