Dolo ferox -- Capítulo 25

O céu estava escurecido, mesmo já tendo amanhecido há algum tempo. A chuva não dava tréguas, encharcando o chão, atrasando o trânsito e fazendo as pessoas desejarem ficarem mais tempo na cama. O vento frio balançava os galhos das árvores, faziam-nos pender para os lados com sua força, mas eles sabiam que os que eram mais flexíveis retornariam ao seu lugar logo que a torrente passasse.
O carro na cor preta, sedan, e com seu cuidadoso brilho. trafegava lentamente pelo asfalto escorregadio. Nos bancos de couro traseiro seguia a pomposa duquesa e o aristocrata, cada um com seu interesse, mas tendo o mesmo alvo para obtê-los. 
-- Espero que não barrem nossa entrada! -- Isadora dizia torcendo a boca em desagrado. -- Não entendo o motivo da Valentina ficar com essas pessoas e não comigo e com a Nathália.
Na verdade ela sabia sim e isso a assustava, pois mais uma vez seu precioso plano poderia ser destruído pela neta que ela passara a vida a desprezar. 
-- Achas que eles influenciam a minha filha? -- O filho de Nicolay questionou, encarando-a com extremo pesar.
Ele temia mais uma rejeição, estava temeroso com a reação que receberia, ainda mais quando necessitasse de explicar por qual razão deixara a mulher que amava.
A voz estridente da lady lhe interrompeu os pensamentos.
-- Claro que sim! Decerto ficam a dizer que nós somos os vilões, não tenho dúvidas que já devem ter envenenado ela contra você… Não tenho dúvidas que Natasha já sabe de toda a história de sua relação com a dançarina e fez questão de jogar isso na cara dela.
O maxilar de Nícolas enrijeceu, inclinou a cabeça para o lado e se manteve calado.
Observava a paisagem que se modificava, antes estavam cercados de grandes prédios, agora o verde predominava naquela área que parecia campestres e com poucas moradias. Ouvia o canto das aves, mesmo sob a chuva. A bela alameda parecia sempre tão bem cuidada com suas árvores frondosas e antigas.
O veículo estacionou, ao longe se podia ver o casarão branco de dois andares. O acesso até ele era feito por jardins dos dois lados, colorido ainda mais a paisagem. 
Nícolas fechou os olhos.
Relembrava a última vez que esteve naquele lugar.
Verônica fora até ali em busca da maldita Valerie em uma das suas últimas separações.
Era como se estivesse a ver a querida irmã segurando nas barras de ferro, implorando para que Natasha a recebesse.
Respirou fundo, enquanto fechava as mãos ao lado do corpo, apertando-as fortemente, tentando conter toda a raiva que o atormentava. Não sossegaria enquanto não a destruísse, não haveria paz em sua vida se não a fizesse pagar por tudo o que ela fez.



Leonardo estava sentado na varanda junto com a esposa.
Tomavam o desjejum diante de um verdadeiro banquete composto de frutas, pães, queijos, sucos, leites e cafés.
         A mesa pequena e redonda era acolhedora para o casal.
        Ainda usavam pijamas e parecia sem pressa para começar a rotina do novo dia.
      -- O que achas que existe entre Natasha e Valentina? -- O homem questionava levando à boca a xícara de café. -- Acreditas mesmo que elas têm uma relação?
        Passara a noite preocupado, mas a amada companheira o tinha tranquilizado.
       Helena olhou para a enorme janela panorâmica e ficou a observar a chuva por alguns segundos, logo em seguida foi possível ouvir a voz suave:
        -- Valentina a ama… Não tenho dúvidas quanto a isso… -- Encarou-o. -- Vi a forma como ela a olhava, o jeito espontâneo que buscava esconder o sentimento, mas que não parecia muito talentosa em dissimular.
          O arquiteto deixou a delicada peça sobre a mesa.
         -- Nossa! Você viu tudo isso mesmo? -- Meneou a cabeça. -- Eu só vejo guerra entre elas e ainda mais agora sobre a trapezista ser neta do conde. -- Inclinou-se, cruzando as pernas de forma elegante. -- Quando a vi naquela escadaria do hospital senti meu coração partido. Ela parecia uma criança desolada com tudo o que estava acontecendo… Molhada, o rosto em lágrimas que pareciam não acabar mais… -- Suspirou. -- Senti-me culpado por não ter contado a verdade antes. Na verdade eu me sinto culpado por ter inventado toda essa farsa.
            Helena lhe segurou a mão, dirigindo-lhe um sorriso reconfortante.
          -- Você fez apenas o que achou certo, o que achou que ajudaria naquele momento, sem falar que o segredo não te pertencia, então não deveria desvendá-lo de qualquer jeito, seria errado.
           -- Sim, amor, eu sei, mas mesmo assim não consigo parar de pensar que as coisas poderiam ter sido diferentes, ainda mais entre as duas.
        -- Eu não sei… Sempre acho que as coisas acontecem do único jeito que poderiam acontecer, então mesmo que os caminhos que fossem seguidos tivessem sido diferentes, não tenho dúvidas que chegaríamos a esse ponto exato.
         Antes que o arquiteto pudesse falar algo, ouviram batidas na porta e logo a empregada entrava.
        -- Bom dia! -- Ela cumprimentou gentilmente. -- Lá no portão estão Nícolas Vallares e Isadora Hanminton, eles exigem que a senhorita Valentina vá até eles.
        O olhar de Leonardo e Helena denotavam total perplexidade com aquele fato inusitado.
         Levantaram-se.
         -- Vá até o quarto e avise a ela, eu irei lá embaixo e falarei com os dois. -- Leonardo avisou.
          Helena assentiu.
        -- Acho melhor que eles não saibam da presença da Natasha. -- A mulher completou saindo apressada. 
           O homem assentiu, sabendo que não haveria nada de cortesia naquela visita.


        Natasha abraçava a bela trapezista. Ainda a tinha em seus braços e ainda ouvia seus protestos contra o plano que traçara.
          Acariciava os cabelos sedosos, sentia o cheiro do corpo feminino e ouvia as batidas do coração contra o seu.
          Sabia que as coisas não seriam fáceis, tinha de que haveria muitos problemas para enfrentarem, porém não permitiria de forma alguma que algo acontecesse a ela e ao seu filho.
        Apertou-a mais forte e logos os olhos negros a fitavam, estavam mais brilhantes, observou os lábios entreabertos e os dentes alvos se mostrarem.
         Desejou amá-la novamente naquele momento, ansiava por se livrar daqueles roupões que eram uma barreira grossa entre elas.
        -- Precisa refazer o curativo! -- Valentina disse, fitando supercílio. -- Está ainda mais linda, mesmo com essa cara de arrogante insuportável. -- Sorriu, enquanto dava um beijo rápido em seus lábios. -- Estou morta de fome, Natasha!
           A ruiva desceu as mãos até seus quadris, puxando-a para mais perto.
          -- Também estou e com muita… -- Disse com uma piscadela. 
        Valentina sentiu as bochechas corarem, pois conhecia bem do que ela estava a se referir. Via o olhar safado, os olhos escurecidos pelo desejo.
        Sentiu uma pressão no ventre só em lembrar das coisas maravilhosas que tinham feito ainda pouco.
         Mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente. Mirava-a com atenção como se estivesse a ansiar por desvendar todas aqueles mistérios que faziam parte daquela personalidade tão forte.
        -- E então? -- Natasha indagou arqueando a sobrancelha esquerda em provocação. -- Vai me tocar como fez lá no banheiro?
           -- Deus, você não cansa não é?
           Natasha gentilmente lhe arrumou uma madeixa que estava sobre a face.
         -- Depende… às vezes de pé minha perna reclama, porém se for deitadinha ou sentadinha, não me importo de passar o dia assim…
        -- Safada! -- Valentina disse baixinho. -- Mas não nego que adoro esse seu jeito de quem não presta…
        -- Ah é? -- Fingiu indignação. -- Desde quando tem uma opinião tão ruim contra a minha pessoa? -- Afastou lentamente a parte superior do roupão e ficou a observar os seios que apareciam. -- Eu ficarei em repouso hoje com a condição que fique comigo… -- afastou mais e logo os dedos acariciavam os mamilos eriçados. -- Adoro seus seios… -- Dizia com voz rouca. -- Amo colocá-los na minha boca.
         Valentina não fez menção de pará-la, apenas aproveitava a carícia e se deliciava com o toque em seu colo.
         Gemeu baixinho quando a ruiva lhe apertou o mamilo…
          Seu corpo já estava pronto para senti-la novamente.
         -- Gostas quando faço assim? -- A arquiteta indagava ao inclinar a cabeça e depositar os lábios sobre os montes redondos.
        Valentina não respondeu, apenas olhava a língua brincar com os biquinhos. Segurou-lhe os cabelos para ter uma melhor visão da ação.
            Os olhos verdes a miravam…
           -- Toca no outro, amor, ele deseja sua boca… -- Dizia sem fôlego.
           A Valerie fez como ela pediu. 
           Mamava o esquerdo e afagava o direito com a mão experiente.
        Ouviram batidas na porta e logo se afastaram, seguindo para lados opostos. A circense arrumava o roupão, mas a face estava mais rubra que as madeixas da amada, sem falar na respiração que estava acelerada.
           Helena entrou, fitando as duas mulheres com um sorriso grande.
           Aproximou-se da arquiteta, beijando-lhe a face.
          -- Vejo que está melhor! Precisa se alimentar e ficar em repouso. Não deveria ter saído da cama, não deve fazer esforços alguns. -- Advertiu-a.
         Natasha deu de ombros, enquanto sentava na cama e começava a massagear a perna machucada.
          -- Tenho reuniões… -- Dizia sem se voltar.
           -- Leonardo resolverá tudo. -- Fitou a ferida. -- Precisa limpá-las e colocar curativos.
          Valentina virou-se para elas, ainda tinha a face corada.
  Observava tudo, enquanto batia o pé direito impacientemente no assoalho. Cruzou os braços sobre os seios e os sentiu doloridos, reclamando pela posse adiada.
Precisava controlar seu desejo, ainda mais se realmente quisesse ajudar a neta de Isadora a provar a inocência.
       -- Filha! -- A esposa de Leonardo virou-se para a circense. -- Nícolas e a duquesa estão em frente ao meu portão, estão exigindo que nós a entreguemos, como se estivéssemos te mantendo aqui contra a tua vontade. 
          A Valerie fitou a morena com um indecifrável olhar.
          -- A pomposa lady está fazendo um escândalo! -- Disse torcendo a boca em desagrado.
         A trapezista parecia surpresa, pois jamais por sua cabeça imaginou algo daquele tipo, ainda mais vindo de alguém que dizia ser seu pai, porém ainda nada totalmente comprovado.
         Sentia-se envergonhada por trazer problemas para aquela família que a tratava com tanto carinho e cuidado.
            -- Sinto muito por fazê-la passar por algo assim… -- Disse constrangida.
            Natasha esboçou um irônico sorriso.
        -- Bem vinda à aristocracia, palhacinha, neta de um conde e a avó da namoradinha é uma duquesa! -- Desdenhava. -- Muita pompa para lidar!
           Valentina lhe fulminou com o olhar irritado. Mesmo que soubesse que aquilo fazia parte de um plano, odiava vê-la com aquele nariz empinado cheio de orgulho e arrogância deliberada, desprezava aquele sarcasmo que a língua proferia, quando havia coisas mais gostosas para se fazer.
         -- Você irá falar com eles? -- Helena questionou, repreendendo a arquiteta com o olhar. -- Eles não sabem que a Natasha está aqui. Preferimos omitir esse fato… -- Pigarreou. -- Teriam um ataque se soubessem que passaram a noite no mesmo quarto.
           Mais uma vez a circense sentiu as bochechas pegarem fogo.
            Natasha se levantou.
           -- Já que estarei obrigada a ficar aqui, preciso de um quarto para descansar, pois é bem capaz de que me acusem de ter tirado a pureza da palhacinha de circo.
            A morena viu a Valerie deixar os aposentos e desejou ir atrás dela para tirar satisfação, mas não o fez, apenas soltou um longo suspiro, seguindo até a janela.
        Ficou a observar a chuva cair e nada disse durante esse tempo. Parecia perdida em suas ponderações, perdida em toda aquela história.
             Sentiu a mão depositar em seu ombro de forma reconfortante, mas não se virou.
           -- Filha, eu sei que essa situação não está fácil para você… Eu entendo, meu bem, mas mesmo que não simpatize com os Vallares, eu sempre digo que é preciso ouvir todos os lados de uma mesma história… É necessário para que possamos tomar nossa posição…
            A jovem a fitou, observando-a, depois assentiu com a cabeça.
          -- Irei falar com Nícolas, mas prefiro fazê-lo sem a presença da duquesa… Seria possível? -- Questionou.
          -- Claro, querida, falarei com ele agora mesmo. -- Beijou-lhe a face. -- Arrume-se e vá até o escritório.
            A morena assentiu, enquanto via a mulher sair.
            Permaneceu no mesmo lugar, apenas fitando a paisagem.
           O que faria diante dessa família que de repente apareceu em sua vida? E qual a razão de não a ter conhecido antes? Por que não teve o pai ao seu lado quando mais precisara?
          Passara momentos tão difíceis, sozinha pelas ruas das grandes cidades quando perdera a mãe…
Ainda recordava do sorriso de Eva...
          Mais uma vez a porta se abriu, mas ela não se virou para saber de quem se tratava.
          Natasha foi até ela, abraçando-a novamente por trás.
         A morena inclinou o tronco ficando apoiada a amada. Passaram alguns segundos e nenhuma das duas falou algo, apenas permaneciam quietas, como se necessitassem uma da outra.
             Valentina foi a primeira a quebrar o silêncio.
           -- Pensei que já estava desfrutando do seu quarto…
           A ruiva exibiu um sorriso de canto de boca, enquanto lhe tocava o ventre.
           -- Fingiremos diante de todos…
            A circense se virou para ela.
            -- Por quê? Não confia na Helena e no Leonardo?
          A arquiteta lhe segurou delicadamente a mão, depois a levou aos lábios, beijando-a lentamente.
            -- Claro que confio, mas acredito que será melhor assim, apenas faça como estou dizendo…
            A jovem soltou um longo suspiro.
          -- Mas me fala como me segurarei diante do seu sarcasmo? Odeio esse seu ar de superioridade!
-- Sou uma boa atriz! 
           Antes que a morena pudesse falar algo, os lábios rosados se uniram aos seus. Fizeram de forma delicada, saboreando como a uma iguaria rara.
         Valentina a abraçou pelo pescoço, mantendo-a junto a si, em seguida capturou a língua da Valerie, deliciando-se com ela, chupando-a como se dependesse daquilo para viver… Prendeu-a por inúmeros segundos, enquanto a ruiva já a trazia para mais perto, gemendo contra a boca dela.
              A morena espalmou as mãos contra os seios macios, afastando-a.
            --Terei que descer, aceitei conversar com Nícolas.
            -- E vai embora com ele? -- Natasha questionou preocupada.
            -- Não, não, apenas ouvirei a história que tem para contar.
            -- E Isadora?
            -- Falarei apenas com ele…
            A Valerie passou o polegar pelos lábios que tinha acabado de beijar. 
           -- E quando vai retornar para a Nathália?
         Os olhos negros se estreitaram, enquanto a circense se livrava das mãos que ainda estavam em seu corpo.
           -- Deseja mesmo que eu vá atrás da sua irmã?
           A ruiva levou a mão aos cabelos.
           -- Claro que não! -- Negou com veemência. -- achas mesmo que esse é o meu desejo? 
           -- Eu não sei, pois o que aparenta é que essa é a sua vontade.
         -- Não discutirei contigo sobre isso, já deixei claro do que se trata, apenas espero que você tente entender.
            Valentina a encarava com aquele ar de ansiedade e indignação, mas apenas respondeu com um arquear de sobrancelha, enquanto deixava o quarto.





           Nícolas observava o escritório. 
          Era um lugar acolhedor. Tinha uma escrivaninha de mogno, um cadeira de couro e duas outras menores. Havia também uma poltrona pequena, prateleiras com alguns livros e alguns quadros que decoravam a parede.
          Leonardo o observava.
        O orgulhoso Vallares se mantinha calado, não esboçando uma única palavra, nem mesmo para mostrar a sua ostensiva educação.
          Ouviu passos e não demorou para Valentina aparecer.
          O filho do Conde se virou, encarando-a com verdadeira adoração.
          A morena não demonstrou nenhum tipo de emoção, apenas trazia a indiferença em seus gestos.
          Antonini se aproximou, questionando:
           -- Deseja que eu permaneça?
           Nícolas não escondeu a insatisfação diante da indagação, mas permaneceu calado.
           -- Não, agradeço, mas não será necessário! -- A jovem disse com um sorriso.
           Leonardo assentiu, pediu licença, deixando o escritório e fechando a porta em seguida.
           Um silêncio sepulcral caiu entre eles e apenas as respirações de ambos eram ouvidas.
         Ficaram ali, de pé, encarando-se, observando as semelhanças e diferenças que apresentavam. Pareciam assustados com todas aquelas revelações, temerosos das mudanças em suas vidas.
             Então, de repente a voz do homem se fez ouvir.
            -- Não deveria ter vindo para cá, deve se manter afastada de todos que possam te aproximar da Natasha Valerie!
               Valentina cruzou os braços sobre os seios, levantando a cabeça em arrogância.
               -- Quem é o senhor para me dizer o que devo ou não fazer?
              Nícolas pareceu envergonhado diante daquela colocação.
           -- Eu só não desejo que tenha problemas… Conheço a Natasha e sei o mal que ela pode te fazer.
            -- Eu também conheço e a mim nada referente a ela me interessa. -- Jogou os cabelos para trás. -- Qual o teor da conversa que o senhor deseja comigo? Por que se deseja falar sobre a Valerie, não tenho desejo algum!
               O filho do conde percebeu que a filha herdera a personalidade forte da amada, até a forma de arquear a cabeça era idêntica.
                Apontou-lhe a poltrona.
                -- Sente-se, meu bem, vamos conversar. -- Pediu.
             A circense pareceu ponderar por alguns segundos, mas logo assentiu, acomodando-se na poltrona de couro e logo viu o outro puxar uma cadeira para ficar de frente para ela, observando-a.
             -- Você é muito parecida com a sua mãe… -- Estendeu a mão para tocá-la, mas Valentina se desvencilhou do toque. -- Filha, não me trate com tanto desprezo… Você não tem ideia de como a esperança voltou a aquecer meu peito quando soube da sua existência… Minha vida tinha perdido o sentido há muito tempo, desde que deixei a mulher que mais amei em todo esse universo…
              A circense encarou os olhos tão negros quanto os seus e viu o brilho das lágrimas neles.
           -- Se a amou tanto, por que a abandonou? -- Questionou cruelmente. -- Eu tenho vinte e quatro anos, senhor, onde esteve esse tempo todo?
              Nícolas suspirou alto.
         -- Eu sou um covarde… -- Passou a mão pelos cabelos finos. -- Eu não tive coragem de enfrentar meus pais… Foi um escândalo quando souberam que o filho do conde Vallares estava apaixonado por uma simples dançarina da noite… Não consegui impor a minha vontade, tive medo de ser deserdado…
               A morena esboçou um sorriso frio.
           -- Então o aristocrata preferiu os milhões do papaizinho… -- Levantou-se, seguindo até a outra extremidade do escritório. -- E o que faz mudar de ideia agora?
            O homem a imitou, mas continuou no mesmo lugar, apenas olhando-a.
            -- Filha…
           -- Não me chame assim! -- Interrompeu-o. -- Prefiro que volte para sua vida de aristocrata e esqueça que eu existo.
           -- Não poderia fazer isso! -- Aproximou-se, mas parou a alguns centímetros. -- Valentina, venha comigo para a minha casa, quero que conheça o seu avô, quero que aceite seu sangue, sua família… Sei que está chateada, entendo, mas será inevitável que fiquemos juntos, somos uma família.
          -- O senhor nem sabe se realmente sou sua filha! -- Disse cheia de indignação. -- Minha mãe pode ter cansado de ser usada e arrumado outro,então me dessa conversa.
           -- Não… -- Falou calmamente. -- Desde que a vi naquela festa senti algo estranho… Um amor sem igual… Você é o presente que a sua mãe me deixou…
          Valentina observou as lágrimas correrem livre no rosto daquele homem que parecia ser tão forte.
              Seguiu até a poltrona, voltando a sentar.
           Queria ir embora dali, deixá-lo sozinho com sua covardia, mas acabou se compadecendo da dor que via no rosto bonito.
             -- Faremos o exame de DNA e depois disso voltaremos a falar sobre isso…
             Nícolas foi até ela, agachou, segurando-lhe as mãos, mesmo diante do olhar irritado.
           -- Filha, venha comigo… Você não é apenas uma Vallares, também tem o filho da sua tia em seu ventre… Irei protegê-la de tudo e de todos… Principalmente da Valerie… Você não tem ideia de como essa mulher é um demônio… Ela matou a Verônica, fê-lo de forma cruel, fê-lo como um ser desprezível que não tem sentimentos… E eu não permitirei que ela ouse chegar perto de você… Já perdi muito na minha vida e não estou disposto a fazê-lo novamente.
            A jovem se sentia incomodada ao ouvir as palavras sobre a ruiva.
            Umedeceu os lábios demoradamente.
            -- Não precisa se preocupar quanto a isso… Sei me defender da Natasha.
         -- Não, meu bem, você não sabe… Foi isso que a minha amada irmã também imaginou… -- Lágrimas voltaram a rolar. -- Achas que pode ter algo de bom dentro de uma pessoa que a família toda despreza? -- Meneou a cabeça. -- Quando a Verônica se casou com ela, Isadora e Nathália quiseram estreitar os laços, quiseram deixar para trás os problemas, tudo pela minha irmã… mas a Natasha nunca aceitou… Venha comigo, esse lugar não é para você… Corre riscos estando aqui.
               A morena se levantou.
           Estava se sentindo mal com todas as coisas que estava ouvindo da ruiva. Preferia que não fosse tocado no nome dela e a lista de maldades que eram acusada. Teria que pensar bem em tudo aquilo e sabia que mesmo que não desejasse, deveria começar a se aproximar dos Vallares, talvez pudesse encontrar provas sobre a inocência da amada. Devia voltar o mais rápido para o hospital, afinal, deveria ser suspeito está ali e não com a namorada que está doente.
               Ouviu vozes na sala, uma bem conhecida.
                Rebeka!
                O que aquela loira azeda estaria fazendo ali?
           -- Amanhã nos encontraremos no hospital e faremos o exame… E não se preocupe, amanhã mesmo irei embora daqui.
              -- Irá comigo então? Para a minha casa?
              Valentina soltou um longo suspiro de impaciência.
             -- Irei ficar com a minha namorada, depois, quando tiver o resultado do exame, a gente volta a conversar.
               A morena já se afastava, mas o homem a deteve pelo braço.
              -- Desejo que conheça o meu pai, ele está debilitado desde a morte da minha irmã, por favor. -- Pediu.
              A trapezista se lembrou do homem na cadeira de rodas. Recordava-se do olhar cabisbaixo dele e quando fitou discretamente, viu a enorme tristeza presente naquele olhar.
                 -- Está bem, senhor, irei até ele.
                Nícolas não teve tempo de agradecer ou falar qualquer outra coisa, pois Valentina já deixava o escritório.



                Rebeka estava parada na sala, parecia impaciente.
             Soubera na construtora sobre o acidente da ruiva e foi até o apartamento e não a encontrou, então ficou sabendo pela secretária que ela estava com o arquiteto.
              Helena sabia que não poderia permitir que a loira encontrasse Isadora que estava na sala, então o único jeito seria levar a jovem até onde estava Natasha.
                 -- Venha comigo! -- Pediu.


               A Valerie estava em seu quarto.
          Ansiava por saber como fora o encontro de Valentina e Nícolas. Podia soar estranho, mas desejava com todo seu coração que as coisas pudessem se resolver entre eles, não pelo filho do conde, mas por ela. A trapezista merecia um vínculo em sua vida, merecia, mesmo que se tratasse dos Vallares.
               Passara a vida sem saber o que era uma família e sabia bem como era.
       Passou a mão pelos cabelos, enquanto seguia até a janela e via a chuva que caia implacavelmente. Logo, Valentina teria que retornar para Nathália e fazer o papel de namoradinha apaixonada.
            Apertou forte o batente, pensando como deveria manter o controle dos sentimentos. Não podia se permitir perder a calma ou seu plano daria errado. Naquele momento o mais importante era protegê-la, pois acreditava que a irmã e a avó eram bem mais perigosas do que aparentavam.
             Ouviu batidas na porta e pensou se tratar da morena, mas logo Helena entrou acompanhada de Rebeka.
               A loira se aproximou.
            -- Fiquei preocupada quando soube do seu acidente… -- Beijou-lhe rapidamente os lábios. -- Sou sua amante, mas não quero só seu lindo corpinho… -- Segurou a gola do roupão.
             A ruiva a olhou em advertência.
              -- Não deveria ter vindo aqui!
              Helena pediu licença, enquanto deixava o quarto.
             -- Por que não? Ah, já sei, a trapezistazinha está por aqui também é? -- Tocou-lhe a ferida na face. -- Falei com o detetive… Ele não confia em mim igual a você, mas isso não me causa espanto… -- Tocou-lhe as amarras do roupão. -- Esses machucados te impedem de satisfazer meu desejo?
            -- Não, mas nesse momento  não irei fazê-lo… -- Afastou-lhe as mãos. -- Por que foi ao hospital provocar a Rodrigues?
             A loira exibiu um sorriso debochado.
             -- Porque eu também quero me divertir nessa história… Que graça teria estar com a poderosa Valerie sem contar pro mundo todo.
           Natasha sabia que Valentina não aceitaria aquela parte do plano de tão bom grado, mas seria necessário muita paciência para seguir em frente.




              A trapezista encontrou Leonardo no hall.
            -- E então? -- Ele questionou relutante. -- Eles foram embora, mas Isadora não gostou nada de não poder estar contigo.
          -- Preciso voltar ao hospital… Mas estou tão confusa com toda essa história de ser filha do Nícolas Vallares que…
             Antes que pudesse terminar, seus olhos fitaram Natasha e Rebeka descendo as escadas.
             Respirou fundo, enquanto cruzava os braços sobre os seios.
            A loira se aproximou sorridente.
          -- Olha quem está aqui também! -- Dizia, fitando-a. -- Fico tão feliz em encontrá-la aqui… Bem, eu fiquei surpresa, pois na minha humilde opinião, você deveria estar ao lado da Nathália, mas isso são meus pensamentos e não posso obrigar que tenha os mesmos pensamentos que os meus. -- Completou com um sorriso.
              Virou-se para a ruiva.
           -- Bem, meu amor, estou feliz que esteja bem… -- Tocou-lhe a face carinhosamente. -- Cuidado viu…
            Antes que Natasha pudesse reagir, sentiu os lábios tocados pelos lábios da bela mulher, que logo deixava a casa.
             Leonardo pigarreou, enquanto parecia surpresa ao ver a face da ruiva corada.
            -- Natasha, eu vou comparecer a reunião em seu lugar… -- Dizia calmamente.
          Valentina não tirava os olhos da arquiteta e quem as visse naquele momento saberia como estavam enfrentando uma guerra.
          -- Haverá também uma videoconferência com o sheik, ele se mostrou preocupado com seu pequeno acidente…
              A Valerie apenas assentiu, sabendo que seu problema maior estava ali diante de si.
            -- A mesa está posta! -- Helena anunciava feliz. -- Aproveitem e tomem o desjejum. -- Tocou o braço do marido. -- Acompanharemos vocês.
            Valentina esboçou um sorriso, enquanto acompanhava o casal, sentindo a neta de Isadora segui-la de perto.
            Em Seu interior havia uma vontade de esbravejar alto, mas respirou fundo, enquanto contava de forma crescente e decrescente até vinte.
             Acomodaram-se para o café, enquanto Leonardo narrava sobre o projeto do sheik, mas a bela mulher parecia aérea aos fatos, tendo seus pensamentos focados na Rodrigues que evitava a todo custo lhe encarar, mas vez e outra a flagrava fazendo-o, cheia de indignação e raiva.
           -- Precisa fazer os curativos, filha! -- Helena dizia. -- Acho que a Valentina fez um ótimo trabalho e poderia continuar. -- Pegou um pãozinho, entregando a circense. -- Prove, são caseiros, você não tocou em nada ainda.
                A jovem sorriso gentilmente, aceitando a oferta.
               -- E como foi a conversa com o Nícolas? -- A Valerie questionou depois de um tempo.
                A morena a encarou com os olhos estreitos.
             -- Não acho que isso seja algo da sua conta! -- Respondeu de forma natural, tomando um copo de leite. 
                A ruiva a fitou desdenhosamente, depois tomou um pouco de suco.
              -- Vou me arrumar para essa conferência, temo que isso vai ser demorado.



           Nathália ouvia tudo o que Isadora dizia e pela primeira vez começava a se preocupar com o fato da trapezista se manter afastada.
          -- Não vejo motivos para ela agir assim! -- A duquesa dizia. -- Acho melhor você levantar logo dessa cama e começar a ir atrás dessa garotinha.
         -- Mas, vovó, precisamos entender que ela não está nada feliz com a gente, acho compreensível, conheço a personalidade da minha amada, porém você já está exagerando, dizendo que ela tem algo com a Natasha. -- Arrumou os cabelos. -- Mas por via das dúvidas, capricharei mais no meu amor. -- Estendeu a mão. -- Me passe o telefone, preciso encomendar um presente de desculpas.
              Isadora achou uma ótima ideia, pois temia que a neta estivesse perdendo espaço. Daquela vez não aceitaria outro resultado que não fosse a vitória, ainda mais por estarem apostando alto.



           A conferência com o sheik durou toda a tarde e ao final, Natasha ainda ficou conversando com Leonardo, resolvendo os últimos detalhes daquela obra milionária que conduziriam.
           A chuva amenizou, mas ao anoitecer trovões e relâmpagos voltaram a castigar a cidade.
Valentina jantava com Leonardo e Helena.
Passara toda noite no quarto, lendo alguns livros e tentando de forma alguma pensar na neta desprezada da duquesa. Sabia que o melhor seria manter distância, pois se chegasse a se aproximar, temia uma explosão de todas as suas dúvidas.
Ouviu seu nome sendo falado, voltando a mirar os anfitriões. 
O casal conversava animadamente, contando sobre algumas viagens que fizeram, depois começaram a falar sobre a criança que a circense carregavam. A senhora Antonini se prontificava a ir com a garota ao médico para a visita de rotina.
Não demorou muito para o cheiro da ruiva invadir o ambiente.
A morena instintivamente observou-a sobre o ombro e se arrependeu imediatamente.
A Valerie era uma mulher muito bonita.
Ela usava uma camisola de seda vermelha e robe por cima, amarrado. Os pés traziam sandálias de dedo, confortáveis. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e ela estava usando óculos de graus, dando-lhe uma aparência ainda mais etérea. 
Voltou a fitar a própria comida, perdendo a apetite na hora.
Não a tinha visto durante todo o dia e se por um lado se sentia feliz por isso, por outro, odiava-a por agir de forma tão fria, sabendo como ela estava irritada.
-- Terminei o desenho agora! -- A voz baixa falou. -- Acabei dormindo, aquele medicamente me deixa sonolenta. -- Sentou-se de frente para a morena. -- Acho que estou faminta.
Os olhos negros a encararam demoradamente, demonstrando toda a revolta que estavam a sentir em seu interior.
A ruiva apenas esboçou um desdenhoso ar. 
-- Pelo que vejo não houve nenhum descanso hoje! -- Helena a repreendeu. -- E também nada de fazer esses curativos.
Antes que a moça pudesse responder, a empregada apareceu com um enorme buquê de flores e urso de pelúcia.
Todos olharam curiosos para o mimo.
-- Para a senhorita Valentina!
A morena pareceu surpresa, mas logo se levantou e pegou o cartão nas mãos. Por frações de segundo chegou a pensar que poderia ter sido da Valerie, mas já observava a caligrafia impecável da namorada.
As palavras bonitas e bem posicionadas mostravam o cuidado que ela tinha ao lidar consigo. Era delicada ao extremo, usando de um vocabulário rebuscado e que chegava a beirar o romantismo exacerbado do lord Byron.
Ao levantar a cabeça viu todos os olhares voltados para si, mas um em especial se destacava cheio de arrogância.
Esboçou um sorriso.
-- Presente da Nathália… -- Observou as rosas. -- Ela é sempre muito atenciosa na sua forma de agir…
-- Vou levar um vaso para colocar as rosas. -- A empregada dizia. -- São lindas e devem ser bem cuidadas. 
-- Está bem, eu já vou subir. -- Entregou-lhe os presentes e logo seguiu de volta à mesa. -- O jantar estava ótimo, agradeço a atenção e o carinho dos dois.
Natasha a observou se aproximar de Leonardo e Helena, beijando ambos na face e em seguida deixando a sala de jantar sem nem ao menos lhe dirigir um olhar.
Voltou a prestar atenção na própria comida, ficando em total silêncio.
-- A Valentina vai embora amanhã… -- Leonardo começava. -- Pelo que me disse, vai fazer o exame e depois ficará com a Nathália… O que você acha disso?
A ruiva colocou os talheres ao lado do prato, perdera o apetite.
-- A mim isso não interessa… Desejo apenas saber como anda as investigações?
A arquiteto a perscrutava, parecia buscar a verdade em sua expressão de indiferença.
-- O Rick está muito otimista… Está de olho na sua irmã e na sua avó… Mas sabemos que será algo demorado para concretizarmos…
A ruiva assentiu pensativa. 
-- Queria algo bem forte para beber… 
-- Você não pode! -- A mais velha a advertiu. -- Não esqueça de que está tomando remédio!
-- Como se isso fizesse alguma diferença para mim… -- Suspirou. 
O casal trocaram olhares e logo o arquiteto voltava a falar. 
-- Está realmente se relacionando com a Rebeka? -- Indagou preocupado. -- Não deves esquecer que ela tem uma amizade com a Nathália…
-- Talvez por isso ela seja ainda mais atrativa. -- Levantou-se. -- Vamos tomar o seu melhor vinho, aquela safra que você guarda a sete chaves…
Antes que Leonardo pudesse falar algo, Natasha seguiu para o escritório.



         A ruiva tinha ingerido quase toda a garrafa quando subiu para o quarto.
O álcool não foi suficiente para amenizar a agonia em seu peito, apenas alimentara ainda mais sua insatisfação.
Parou diante da porta do quarto da morena, abrindo-a sem ao menos bater.
Valentina tinha acabado de sair do banho, tinha deixado a toalha sobre a cama para se vestir.
Quando viu a invasão em seus aposentos, imediatamente cobriu-se, fitando irritada a intrusa. 
-- Sinceramente, eu acho que pelo menos educação a duquesa deveria ter te dado!
A ruiva exibiu um sorriso perigoso, enquanto observava o arranjo de flores junto com o urso na penteadeira. 
-- Só falta a minha irmã fazer uma serenata para ti! -- Disse enquanto relanceava os olhos em tédio. -- Muito fácil te conquistar.
-- Coisa simples que você não sabe o que significa! -- Falou, enquanto ajeitava a toalha ao redor do corpo, temendo que caísse. -- Agora pode sair, pois já estou indo dormir e a sua presença não me agrada.
A ruiva nem pareceu se importar com o que fora dito. Apenas arrumava o óculos no rosto de forma paciente. 
A circense observava os lábios da arquiteta ainda mais rosados, enquanto as maçãs da face também estavam um pouco mais rubra. O penteado estava mais frouxo e ela ainda usava o delicado acessório óptico de aros dourados e redondos.
Os olhos verdes a flagraram na inspeção, deixando a morena ainda mais chateada. 
-- Saia! 
Passou por ela, abriu a porta.
-- Vá para onde quiser, mas me deixe em paz!
A ruiva deu de ombros, caminhando lentamente até as flores, observava-as com atenção, aspirava o aroma…
-- Quero que faça os curativos! -- Voltou a fitá-la. -- Helena disse que você fez um ótimo trabalho e eu desejo que continue.
A trapezista fechou a porta fortemente, enquanto caminhava até a ruiva cheia de indignação.
-- Agradeça a Deus por você está com esses machucados ou eu já teria enfiado a mão na tua cara sem nem pensar duas vezes! -- Apontou-lhe o indicador em riste. -- Saia daqui antes que a minha paciência acabe.
-- Só irei quando o fizer o que mandei!
Valentina respirou tão fundo que o movimento dos seios afrouxou a toalha, chamando a atenção da neta de Isadora.
-- Olha, Valerie, você não manda em mim e tampouco aceitarei suas imposições… Então faça o que estou dizendo, porque eu ainda prevejo meus cinco dedos marcados nessa sua cara de cínica!
A ruiva esboçou um sorriso, enquanto chegava mais perto dela.
-- Será que preciso te mandar flores e bichinhos de pelúcia para que fique boazinha? -- Estendeu a mão para lhe tocar a face, mas foi repelida. 
-- Não ouse chegar perto de mim, sua cachorra!
Natasha achou engraçado e não segurou o riso, o que deixou a morena ainda mais furiosa, partindo para cima da arquiteta.
A ruiva lhe deteve os braços, tentando se proteger da fúria, segurou-a por trás, enquanto sentia as unhas bem feitas afundar em sua carne. Jogou-a na cama e antes que ela pudesse levantar, sentou sobre o quadril dela, enquanto lhe segurava os pulsos.
-- Você parece uma égua selvagem! 
-- Égua selvagem é a sua avó! -- Tentava inútil se livrar das mãos que a prendiam. -- Solte-me! -- Gritava.
-- Chega de escândalos… Só quero que faço os curativos e logo eu vou para o meu quarto e você dorme em paz. 
-- Peça a Rebeka para fazê-los, pois se depender de mim para que fiques boas, morrerá esperando meus cuidados.
A ruiva umedeceu os lábios, enquanto observava o rosto cheio de furor da bela circense. Havia alguns fios colados em sua face, enquanto os olhos cuspiam chispas de raiva. Observou os dentes alvos… A veia que pulsava em seu pescoço e o movimento dos seios cobertos pela toalha que pareciam a ponto de deixar o casulo.
-- Ciumenta! -- Exclamou desdenhosamente. -- Deve ser mais controlada, afinal, faz parte do plano!
-- Você sabe muito bem onde enfiar esse seu plano… Achas mesmo que me submeterei a isso? Enquanto você simplesmente fica se exibindo com aquela loira de farmácia e depois vem me falar que é apenas um plano!
Natasha lhe soltou os pulsos, mas não saiu de cima dela, continuava sobre o quadril.
Achava-a linda e ainda mais quando perdia a calma…
Não teve a intenção de terminar o dia naquela guerra, mas a morena tinha uma personalidade muito forte, isso lhe tirava do sério, pois não era acostumada a ser enfrentada daquele jeito.
-- Então fique com essa reação, agindo de forma inconsequente e feito uma pirralha estúpida que não entende a gravidade da situação.
Valentina se apoiou nos cotovelos cheia de indignação.
-- Ok! Então irei transar com a sua irmã para ver como você vai reagir… Oh, faz parte do plano! -- Dizia em deboche. 
A ruiva voltou a lhe segurar os pulsos sobre a cabeça. 
Encarou-a demoradamente.
-- Não brinque comigo! -- Advertiu-a por entre os dentes. -- Não sabes ainda com quem estás a lidar!
-- Oh, poderosa Valerie, o que farás comigo? Por favor, por favor, tenha misericórdia dessa sua pobre serva… -- Ironizou com um sorriso.
Natasha estreitou os olhos ameaçadoramente, mas nada falou. Apenas se levantou, ficando de pé sobre a cama, em seguida se ajoelhou novamente, mas agora sobre os seios da morena.
Valentina a encarou, depois observava as coxas torneadas, fitando o tecido delicado da camisola, notou que ela não estava a usar calcinha, constrangida e excitada voltou a encará-la.
-- És uma desavergonhada! -- Exclamou.
A arquiteta passou a língua pelo lábio superior, parecendo pouco preocupada com toda aquela irritação. 
A trapezista tentava manter a calma, mas seu coração parecia a ponto de pular do peito a qualquer momento.
Odiava seu corpo por reagir a ela mesmo diante da raiva que estava a sentir. Seu desejo era algo tão poderoso que parecia lhe turvar todos os pensamentos.
-- Os Vikings sempre foram considerados um povo cruel… -- A arquiteta dizia. -- Usavam técnicas perfeitas para massacrar os inimigos… Principalmente sexualmente… -- Inclinou a cabeça para baixo para encará-la. -- A duquesa e o conde Vallares odeiam referências a esse povo… Mas eu sou a principal fã deles…
-- Ah é? Não diga! -- Falava, enquanto tentava não fitar o corpo sexy. -- Achas mesmo que tenho medo do teu complexo de rainha selvagem? Poupe-me! -- Disse enquanto virava a cabeça para o lado e fechava os olhos.
Talvez assim a fizesse ir embora. Ignorar sempre funcionava em muitos momentos.
Tentava controlar os pensamentos que seguiam pelo sexo que fizeram pela manhã. Sentiu os seios se menifestarem, desejosos das mãos experientes. 
Não, não e não!
Resistiria àquele desejo, nem que aquilo fosse a última coisa a fazer. 
A arquiteta esboçou um sorriso sutil, enquanto lentamente desamarrava o robe, fazendo-o delicadamente, jogando-o no chão, em seguida, tirava a camisola sobre a cabeça, ficando totalmente nua. Sentiu um arrepio na espinha… Ansiando pela palhacinha de circo. 
Valentina ficou a imaginar o que a ruiva poderia estar fazendo naquele momento, pois parecia demasiadamente quieta, mas ouviu o delicado tecido cair no chão e ao voltar a fitar a arquiteta, viu-a totalmente despida.
Os olhos negros se abriram em espanto e paixão.
Deus, parecia que estava sendo subjugada por uma deusa!
A pele sedosa totalmente exposta, os seios redondos com os biquinhos eriçados e rosados, a cintura fina e a barriga lisa… Voltou a fitá-la e viu o ar de superioridade e o sorriso que brincava no canto dos lábios em provocação. 
Linda!
Desgraçadamente bela e destrutiva!
-- Você é a maior safada que já conheci em toda a minha vida… -- A morena disse. -- Não tem vergonha?
Mais uma vez Natasha arrumou o delicado óculos em seu rosto e logo mirava a face bonita.
-- Sou totalmente despudorada… -- Tocou o próprio seio. -- Ainda mais quando se trata de você… -- Usava a unha para brincar com os mamilos… Quer tocar neles? Mamar um pouco? -- Apertava-os, oferecendo-lhes.
Valentina engoliu em seco, hipnotizada com os movimentos que ela estava a desenvolver… 
Respirou fundo e sentiu o aroma deliciosamente íntimo lhe entontecer os sentidos…
Virou a cabeça para o lado, mas logo voltou a observar as ações… que ela fazia… E logo os dedos longos chegavam ao sexo molhado.
A morena sentiu a própria carne tremer…
A fruta vermelha parecia tão suculenta que em seus pensamento só prevalecia o pensamento de passar a língua por toda ela, como se assim pudesse sobreviver àquela tortura.
-- Desavergonhada! -- Acusou-a.
A arquiteta apenas ria, enquanto abria o sexo pulsante e usava o indicador para lhe mostrar como estava úmida. 
-- Vê… -- Dizia. -- Imagina sua boca aqui… Chupando e não deixando nenhuma gota se perder.
Valentina sentiu a própria carne reclamar. Lentamente suas mãos começaram a massagear as coxas torneadas… E logo sua mão cobria a dela…
A ruiva prendeu a respiração enquanto a encarava.
Imaginava se a jovem trapezista a jogaria da cama a qualquer momento, mas se surpreendeu a vê-la retardar os movimentos que estava a fazer. Esperou ansiosa pelo que viria…
-- Eu deveria rasgá-la toda pela raiva que estou a sentir… -- A voz baixa da trapezista falou. -- É uma desgraçada que me leva ao meu limite...
-- É, palhacinha? -- Sorriu em provocação. -- Rasgue-me, quero ver se tem essa coragem… -- Desafiou-a.
A morena lhe afastou bruscamente as mãos, enquanto abria o sexo, fitando-o como a mais rara iguaria do oriente.
Estava tão molhada…
Inclinou a cabeça, aproximando-se mais, passou a língua em toda extremidade, demorando-se mais em sua entrada, provocando-a, fazendo menção de invadi-la, mas não ia até o fim…
Natasha se sentiu estremecer,estreitando os olhos verdes, estava pronta para ela, louca para ser tomada.
-- Estás a tremer, Valerie… Mas com tão pouco?
A ruiva umedeceu os lábios demoradamente.
-- É uma criança ainda… -- Desdenhou.
Valentina arqueou a sobrancelha esquerda.
-- Ah é… -- Separou ainda mais os grandes lábios. -- Vamos ver…
A boca colou no sexo, chupando… Enquanto usava o polegar para massagear a fruta excitada, pressionava-a, apertava entre os dedos e logo voltava a delicadeza.. 
Usou o indicador para abri-la mais e dessa vez usava a pontinha da língua para incitá-la. Fazia sem pressa, sem deixar de fitar a arquiteta.  Prendeu nos dentes, puxando-a, esticando-a, mas logo voltava a lambê-la, fazendo-o em concha e repetia o ato sem pressa. Colocou-a toda em sua boca, abocanhando-a sem soltá-la.
Natasha cerrou os dentes, tentando conter os gemidos, mas a respiração ficava cada vez mais acelerada.
Fechou os olhos...
Aproximou-se mais da boca dela, dando total acesso, enquanto movia os quadris contra ela.
-- Oh, poderosa Valerie… Vamos ver até onde aguenta essa sua arrogância!
Antes que a ruiva pudesse falar algo, sentiu os indicador e o dedo médio invadi-lhe a carne.
Segurou-se a ela para não cair, em seus cabelos como se fosse uma crina de uma égua que estava a cavalgar. 
Tomara quase uma garrafa de vinho e nada sentiu, mas agora parecia embriagada, tonta…
Jogou a cabeça para trás, mas logo voltava a encarar o olhar negro.
-- Ah, palhacinha, ainda não me convenceu… -- Perdeu a voz a senti-la meter mais forte. -- Ah...
Valentina sorriu e logo continuava a invadi-la, enquanto chupava o sexo escorregadio. Estocava com mais força, sentindo a raiva aos poucos tomarem formas  de desejo. Queria aquela mulher para si, possuí-la e devorá-la com sua paixão desenfreada.
Ouvia os gemidos dela e seu próprio corpo reagia, desejando satisfação.
Posicionou-a sentada em sua boca, dançando o ritmo que impunha, entregando-se ao extremo prazer.
-- Toma assim… -- Fê-lo mais forte e impetuoso.
Natasha se contorcia, enquanto aumentava os movimentos, sentindo as fricções aceleradas, tomando-a sem delicadezas, fundindo e ela com volúpia, com impetuosa agonia…
Gritou alto quando sentiu o primeiro espasmo, mas a morena continuou a invadi-la… Adorou sentir a língua dentro de si… Esfregou-se nela, lambuzando-a toda…
-- Ain… -- Choramingou.
Valentina ouvia a respiração acelerada… Sentiu-a contrair, prendendo-a em seu interior e adorou a sensação de ser retida…
Invadiu-a mais uma vez e mais uma e mais uma… Então fitou a ruiva, vendo como parecia frágil naquele momento.
Não demorou para ouvi-la gemer demoradamente, enquanto o prazer supremo a invadia.
Natasha desabou sobre o colchão com os olhos fechado, a respiração descontrolada, o coração batendo ainda mais rápido.
Sentiu o corpo se deitar sobre o seu…
Lentamente abriu os olhos, vendo a bela morena a encarar.
Abriu a boca para falar algo, mas parecia sem forças, então sentiu os lábios sendo tomados pela jovem amante em um beijo cruel e delicioso. Cheio de raiva e desejo… Abraçou-a forte, sendo conduzida por sua palhacinha. 

Comentários

  1. Como sempre... lindo capítulo....Valentina e natasha são muito fofas juntas 😊.espero que o plano delas de certa, que Valentina consigas as provas das maldades de Natália e isadora contra natasha

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    1. Vai precisar de muita paciência para que elas consigam superar todos os problemas que estão por vir.
      Beijos.

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    2. As coisas ficarão cada vez mais difíceis a partir de agora.
      Beijo.

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  2. Queria ver Natasha com ciúmes da Valentina... Seria ótimo...
    Perfeito esse capítulo... Como sempre.

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    1. Isso logo vai acontecer, disso não tenha dúvidas, meu bem, pois agora que ambas estarão diante de um teste de ferro.
      Beijos.

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  3. Eu prevejo um arquear de sombrancelhas de Valentina pensando : isso é ciúmes Natasha ?😆😆😆😆😆😆😆

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  4. Capítulo maravilhoso!!!!❤️
    A Valentina vai sim colaborar com o plano da Natacha,pois ela a ama e o mais quer é essa ruiva a seu lado.
    Convivendo as bruxas a circense vai descobrir os planos macabros dessas malditas que só querem ostentar com dinheiro dos outros.
    Você é mestre em criar vilãs,mas espero que elas não consigam nada. Esta Rebeka era caso da Nathalia ne? Então ela pode ser usada pela Natacha.
    Beijos autora querida.

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