Anjo caído -- Capítulo 31
A escuridão da noite já adentrara as paredes que se mostravam tão frias naquele momento. O apartamento estava totalmente mergulhado na penumbra e só as luzes congeladas da TV tentavam clarear as trevas que ali se instalara.
Eduarda jazia sentada no carpete, as costas estavam apoiadas na poltrona. Seu queixo se mantinha sobre os joelhos das pernas flexionadas.
Mirou o aparelho de vı́deo mais uma vez.
Pausara a cena, onde era possível ver nitidamente Angelina dormindo de bruços. A tatuagem em formato de asas repousava sobre a pele bonita.
Asas?
Ela fazia jus ao nome que recebera... Era um lindo e tentador anjo... Um anjo caı́do... O latido de Pigmaleão distraiu-a um pouco de seus pensamentos.
O animal veio correndo, aproximando-se de si.
Dessa vez não o rejeitou, apenas esticou as pernas, colocando-o sobre o colo, acariciando as orelhas. O toque insistente do celular voltou a profanar o santuário de tristeza e mágoas.
Fitou a aparelho que jazia há alguns centı́metros de si.
A imagem bonita aparecera, os olhos tão negros quanto às madeixas, o olhar arrogante... Angelina Berlusconi!
Quantas ligações ela já fizera naquele dia? Quanta ainda precisaria rejeitar para que a médica entendesse que não desejava lhe falar?
Tomou o aparelho nas mãos, jogando-o contra a parede.
Viu os pedaços caindo no chão, era daquele jeito que estava seu coração naquele momento. O pug se assustou, fitando a jovem, parecia não entender o que se passava.
Duda voltou a acariciá-lo e ele voltou a deitar.
Pegou o controle e pela enésima vez voltou a ver o filme. Parecia querer decorar cada parte daquelas cenas. Secou inutilmente uma lágrima que banhava seu rosto, mais uma e várias outras...
Por que aquela mulher entrara em sua vida?
Desde a primeira vez que a viu, desde o momento que seus olhares se cruzaram, fora assombrada por aqueles olhos frios, sempre se sentira angustiada com a presença marcante, talvez esse fora o sinal para que se mantivesse distante. Sinal que ignorara.
Como alguém podia ser tão insensıv́ el a ponto de trair e enganar daquele jeito?
Uma recordação agora martelava em sua cabeça: A herdeira de Antônio, em sua prepotência suprema, deixara claro como poderia ter a mulher que desejasse, na verdade, era possível ver isso claramente nas cenas que se seguiam.
Sentiu nojo, o estômago embrulhou.
O riso histérico misturou-se com o pranto.
Como chegara a imaginar que aquela mulher realmente lhe amava?
Era apenas sexo, era apenas o prazer de poder dominar alguém que passara toda a vida a odiar. Mirou o carpete, viu a carta que estava sobre ele.
A letra legível de Antônio não deixara dúvida que fora redigida do seu punho. Ele a endereçara a sua única herdeira. Datava-se de um pouco depois da morte da sua mãe. Naquelas linhas estava claro a sua história, claro quem era Henri Mattaralli...
Cobriu o rosto com as mãos!
De acordo com a Patrı́cia, Angelina tivera acesso àquela informação, fora entregue pessoalmente pelo padrinho a ela. Berlusconi fizera isso depois que descobrira que a filha quase arrancara o braço da jovem para lhe tirar o sangue.
Deus, o que deveria fazer?
Poderia falar com a Angelina e correr o risco de descobrir que aquilo não passara de uma armação da psicóloga ou mais uma vez ser ignorada, jogada em uma cama e fazer amor, pois era essa a única forma de conversa que tinha com a morena.
Ouviu o som insistente da campanhia, mas continuou onde estava.
Não desejava ver, ouvir ou falar com ninguém naquele momento, desejava permanecer ali em meio aos seus pensamentos tempestuosos.
O som cessou, mas uma voz conhecida se fez ouvir.
-- Duda, abra a porta por favor...
Bruno!
Voltou a fitar a TV.
-- Princesa, eu apenas desejo saber se está bem... Apenas isso que desejo... Por favor, Duda...
Era nı́tida a preocupação em seu tom, decerto já devia saber do que se passou.
Segurou o cachorro no colo, colocando-o sobre o sofá, em seguida caminhou até o interruptor, ligou a luz, depois abriu a porta.
Encarou o rapaz, pôde perceber que os olhos dele estavam tão vermelhos quanto os seus. Bruno a abraçou!
-- Eu pedi tanto, implorei tanto para que ela não te mostrasse... – Murmurava em seu ouvido.
Eduarda espalmou as mãos em seu peito, afastando-o, fitando-o de forma confusa.
-- Você sabia?
A face bonita da Fercodini expressava claramente a dor que estava sentindo naquele momento.
-- Você sabia! – O tom de constatação agora fora bem mais alto.
Ela seguiu para o interior do apartamento.
Passou as mãos pelos cabelos em desalinhos, caminhou até a janela.
Fitou as crianças brincando no parque, viu as pessoas conversando... Aquele era apenas um dia normal para todos. Respirou fundo, pois teve a impressão que o oxigênio não estava chegando aos seus pulmões.
Bruno sorria em suas costas.
Sabia que o veneno fora dado nas doses certas, não a mataria, mas destruiria de um jeito que não conseguiria pensar claramente devido à raiva que sentia.
-- Duda...—falava com voz relutante – eu jamais falaria isso para ti, eu jamais abriria a minha boca para te dizer algo que pudesse te ferir desse jeito... – Esperou a reação dela.
Ouvia-se a respiração ofegante da jovem.
-- O que você sabe exatamente?—Questionou sem se voltar.
-- Não, não, eu não quero falar sobre isso, sou totalmente contra ao que aquela mulher fez. – Protestava como um perfeito ator dramático.
A Fercodini o encarou.
Ele viu os olhos claros se estreitarem, o maxilar enrijecer.
O prazer ainda não estava completo, pois seria mais feliz quando Angelina recebesse o golpe que não tardaria a chegar.
-- Fale! – Ordenou por entre os dentes.
Bruno umedeceu os lábios demoradamente, fitou os próprios pés, depois, mirou-a.
-- Fale com a Berlusconi, Duda, dê a ela a oportunidade de se explicar, ouça o que ela tem a dizer, não deixe que a Patrı́cia dê a palavra final, escute a Angelina...
O jovem viu o lampejo de admiração no rosto da afilhada de Antônio. Regozijou-se!
Marcou mais um ponto!
-- Conte-me o que sabe... – Dessa vez pediu com mais calma.
Ele assentiu naquele momento sabendo que agora a herdeira de um império não teria mais chances de defesa, Eduarda fizera sua escolha naquele momento.
-- Lembra-se daquele dia que te dei uma carona? No dia que você estava triste por causa da pequena? – Esperou que ela assentisse. – Pois bem, quando te deixei em casa recebi uma ligação da minha mãe, ela pediu para que eu pegasse o cartão do clube com a Patrı́cia em seu apartamento... – Hesitou. – Quando entrei estava tendo uma festa, havia um monte de mulheres seminuas, os advogados estavam presentes, muita bebida, o som alto... Um dos empregados me disse que Patrı́cia estava no quarto, eu fui até lá e bem, juro que não acreditei, eu jamais acreditaria se não tivesse visto com meus olhos... Afinal, Angelina fora traı́da, mas como a Patrı́cia sempre deixara claro, a doutora nunca resistiu aos seus encantos...
Bruno observou o choro silencioso. Aproximou-se, tocando-a pelos ombros.
-- Eu daria tudo para que a Patrı́cia não tivesse sido tão covarde, para que ela não tivesse te mostrado algo tão baixo... – Tocou-lhe a face. – Não se martirize ainda mais... Eu acho que você deveria conversar com a Angel, você a ama, perdoe-a, entenda que somos seres humanos, a carne é fraca...
Ela se desvencilhou com um safanão do toque dele.
-- Não me venha com esses discursos cristãos e machistas... Está claro para mim, a Angelina estava transando com a ex e fico aqui a imaginar quantas vezes isso aconteceu, quantas vezes eu fui feita de idiota nessa maldita história!
-- Não seja tão inflexível, a Berlusconi pode ter bebido e acabado caindo nos encantos da ex, seria comum.
-- Pare de defendê-la... Pare de arrumar justificativas para esse ato tão miserável... – Gritava. A Fercodini parou diante da televisão.
Não havia muita novidade, afinal, Angelina se isolara do mundo, pois temia cair novamente nos encantos da psicóloga, o que todos sabiam que era verdadeiramente impossível para ela.
As coisas agora estavam bem claras na sua mente, as peças agora faziam sentidos, encaixavam-se perfeitamente... Fitou o rapaz.
-- Você poderia me levar ao hospital?
-- Sim, meu bem, levo você onde desejar.
Eduarda pegou a bolsa que estava sobre o sofá, seguindo com Bruno.
A sala de cirurgia já estava pronta.
Os inúmeros aparelhos já se conectavam a Angelina.
Todos os exames foram feitos. Os cirurgiões se mostravam otimistas e todos pareciam se empenhar ainda mais, pois conheciam a Berlusconi e sempre foram fãs da menina que sempre se mostrara um gênio e que em pouco tempo se tornara uma das mais jovem e talentosa neurocirurgiã.
Henri se aproximou.
Estava emocionado e temeroso, pois uma vez passara por algo parecido e infelizmente não conseguira se recuperar.
Rezava silenciosamente para que a pupila pudesse ter forças para superar o que poderia estar por vir. Amava-a tanto, tanto como amava a própria filha.
Tocou-lhe a mão.
-- Está nervosa?
Os olhos negros se abriram, estavam ainda mais brilhantes.
-- Não! – Negou com um gesto de cabeça. – Apenas ansiosa para que termine logo.
Ela não falara, mas estava preocupada por não ter sido atendida uma única vez naquele dia por Duda. Fizera infinitas chamadas e todas pareceram ser rejeitadas propositadamente.
Falara com a Flávia e pedira que ela tentasse contato com a Fercodini.
-- Sabe que vai demorar um pouco, afinal, é um procedimento delicado, mas estarei aqui durante todo o tempo. Angelina lhe apertou carinhosamente a mão.
-- Obrigada! Sabe que me sinto muito bem em tê-lo ao meu lado, sogrinho! – Gracejou.
O professor fez cara de mal, mas acabou sorrindo.
-- Espero que cuide muito bem da minha filha, estarei de olho em cada passo seu, mocinha. Pensa que não sei que as mulheres caem aos seus pés do mesmo jeito que os homens.
-- Só tenho olhos para sua filha e preciso lhe parabenizar viu, que mulher bonita que você fez. Ambos sorriram.
-- Acho melhor deixar essa conversa para outro momento, já sinto meu corpo relaxar. – A médica observou a equipe entrando na sala.
Ouviu-os conversar, viu Mattarelli ir até eles, porém ao fechar os olhos a única imagem que veio a sua mente fora a da sua amada Eduarda.
O percurso até o hospital fora feito em total silêncio.
Eduarda apenas permanecia a observar a cidade que parecia vazia, depois de uma semana tão agitada. O carro estacionou diante do enorme prédio branco.
O rapaz tomou-lhe a mão.
-- Gostaria muito de ver a pequena, mas continuo proibido de entrar nos domı́nios da Berlusconi.
Eduarda achou injusto que o amigo não pudesse ver a garotinha, ainda mais ele que vinha ajudando-a sem pedir nada em troca.
-- Vem comigo! – Convidou-o. – Poderá vê-la.
Bruno esboçou um sorriso, seguindo rapidamente para fora do veı́culo, dando a volta e abrindo para a Fercodini. Mais um ponto marcado!
Flávia ainda continuava no hospital.
Decerto, aquela noite chegaria a sua casa um pouco mais tarde do que o planejado, porém avisara a Ester. Estava feliz, pois a namorada passara o final de semana ao seu lado e hoje não seria diferente.
Sentou-se na cadeira.
Estava exausta!
Pegou o telefone discando mais uma vez o número de Duda. A ligação mais uma vez fora direcionada para a caixa de mensagem.
Onde ela estaria?
Nem mesmo aparecera no hospital para ver a menina, algo que era estranho, pois todos aqueles dias, ela não saia do lado da pequena em suas horas livres.
Eduarda realmente estava muito apegada à pequena. Seria difı́cil quando tivesse que se afastar, afinal, a Patrı́cia não aceitaria jamais que a Fercodini se aproximasse.
Não acreditava nas boas intenções da psicóloga, tinha certeza que aquilo era apenas uma forma para atingir a jovem.
Tamborilava os dedos sobre a mesa quando o telefone interno tocou.
-- Sim! – Disse ao atender.
-- A senhorita Maria Eduarda acabou de chegar e foi ver a paciente. A loira praticamente deu um pulo da cadeira.
Teria que saber o que aconteceu para ligar para a Angel, numa hora dessas, com certeza elas já deviam ter se estava.
Bruno e Eduarda colocaram as roupas adequadas, tomando todo cuidado ao adentrar ao quarto onde a menina estava.
A garotinha dormia.
Duda se aproximou, segurando a diminuta mão, sentindo-a apertar seus dedos. Apenas a observava, sentindo a emoção de vê-la ainda maior do que nas outras vezes.
Sim, gostaria de ser a mãe dela, gostaria de vê-la crescer, de vê-la brincar com o Pigmaleão, ouvir seu riso, cuidar de suas feridas, protegê-la de tudo e de todos.
Os olhos negros se abriram e o rosto da criança pareceu se iluminar ao vê-la.
Havia uma ligação inegável entre elas, um elo que fora criado desde a primeira vez que se viram.
Não, jamais a deixaria nas mãos de Patrı́cia, lutaria por ela, lutaria para dotá-la, independente de tudo, lutaria para tê-la ao seu lado.
-- Ela está tão debilitada... – Bruno ficou ao lado de Duda. – Estou rezando para que um milagre ocorra e a louca da Patrı́cia não consiga adotá-la, pois tenho certeza que ela só quer maltratar esse anjinho.
Duda o fitou.
-- Eu não permitirei, Bruno! – A jovem disse firme. – Eu a adotarei, eu farei isso!
-- Mesmo! – O rapaz exibiu um sorriso, tomando as mãos da garota nas suas. – Deixe-me ajudá-la? Sabe que também criei um amor enorme por ela e quero lutar ao seu lado... Desejo protegê-la...
Flávia chegou ao quarto e observava a cena.
Deus, se a Angelina estivesse ali, aquele hospital seria reduzido a escombros.
-- Boa noite! – Cumprimentou-os.
Ambos se voltaram ao ouvir a voz da loira.
A Fercodini a encarou e havia um quê de desafio em sua expressão.
A médica se aproximou dos dois e pareceu ficar irritada, pois eles permaneciam de mãos dadas.
-- Recordo-me de que a sua entrada está proibida, rapazinho! – Fuzilou-o com o olhar.
Tinha a mesma opinião que a Berlusconi sobre ele, achava-o dissimulado, fingido.
-- Eu permiti que entrasse, afinal, vocês não podem impedir que alguém veja um paciente.
A Tavares dirigiu seu olhar indignado para a afilhada de Antônio.
-- Se você não sabe, não é horário de visitas e apenas abrimos uma exceção para você!
Bruno tentava segurar o riso que parecia querer se manifestar.
-- Não se preocupe, doutora, já estou saindo, não quero causar problemas para a Duda. – Virou-se para a garota. – Espero-te lá no estacionamento para te deixar em casa. – Beijou-lhe a testa.
Eduarda apenas assentiu, enquanto o via se afastar. A loira parecia confusa com o que estava vendo.
Passou a mão pelos fios loiros.
-- O que significa isso? – Apontou para a porta. – Sabe o que a Angel faria se visse ou ficasse sabendo de algo assim?
-- Ligue para ela e conte! – Disse levantando o nariz em desafio.
Flávia a segurou pelo braço, levando-a para fora do quarto.
-- Explique-me o que está acontecendo, pois a Angel já me ligou umas trezentas vezes atrás de ti.
Eduarda se desvencilhou do toque.
-- Não tenho que te dar satisfação dos meus passos!
A médica sabia que algo não estava bem, mas não entendia o que se passava, pois a garota nunca falara assim consigo.
A loira respirou fundo. Tentava manter a calma.
-- Diga-me o que houve! – Pediu. – Vamos conversar, assim a gente resolve o que está te chateando. Eduarda encarou os olhos claros e ficou a imaginar se ela sabia de tudo o que aconteceu.
Ainda abriu a boca para falar, sentiu uma vontade enorme de esbravejar, de dizer o que pensava da Berlusconi... mas percebia que não adiantaria, a Tavares a justificaria, tentaria explicar algo que não tinha explicação.
-- Não tenho nada para falar! – Disse por fim.
Flávia não acreditava, conseguia ver naqueles olhos que algo não estava bem.
-- Por que não atendeu as ligações da Angel? Ela está desesperada atrás de ti, está preocupada. Eduarda desviou o olhar.
-- Meu celular quebrou!
-- Ligue do meu ou vá ao escritório e ligue de lá, fale com ela...
A Fercodini fez um gesto negativo com a cabeça.
-- Eu não desejo falar com ela!
-- Por quê? – Tocou-lhe o braço.
-- Porque cansei da sua amiguinha, doutora!
Antes que a loira pudesse falar algo, a afilhada de Antônio seguiu a passos largos. O que falaria para Angelina?
Deus, o que acontecera?
A cirurgia de Angelina tivera uma complicação e fora preciso mantê-la sedada por mais alguns dias.
Henri tentara falar com Duda, mas também não fora atendido, Flávia apenas falara sobre o fato da garota está sem o celular, tentando não falar do que não sabia.
Achara estranho a Angel não ter entrado e contato, mas Mattarelli dissera que ela estava e um lugar onde o sinal de telefone não era bom. O médico desejou falar da cirurgia, mas fora proibido e não gostaria de provocar a ira da Angel.
Ester tentara conversar com Duda, mas a Fercodini nada falara sobre o ocorrido, pedindo apenas que ela não se metesse na história.
Bruno se mostrava cada vez mais solı́cito, convencendo Duda a levar a gravação para um perito que ele conhecia, lógico que o homem falara que a filmagem não tinha nenhuma montagem.
Eduarda ainda fora falar com o advogado que tratara do divórcio da morena e ouvira da boca dele toda a história sórdida.
Depois de todos os dias internadas, o bebê recebeu alta e já retornaria para o orfanato.
Duda ficara de coração partido com isso, pois não estaria tão presente com ele, mas ficara feliz pela criança ter conseguido vencer a doença e agora já exibia aquela gengiva em um sorriso doce.
Bruno a levara até um advogado que a ajudaria no processo de adoção, contanto que Patrı́cia abrisse mão. Chegou a casa tarde, o dia fora corrido.
Deitou no sofá!
Desde que descobrira tudo o que passara não voltou a dormir na cama, pois era como se o cheiro da Angelina tivesse ficado impregnado nas paredes do quarto e mesmo tendo trocado os lençóis da cama, ainda podia senti-la.
Não fora mais incomodada por Flávia e tampouco tivera mais notı́cias da filha de Antônio, esperava que continuasse assim, que não a procurasse, pois não desejava vê-la.
Angelina fora praticamente obrigada a estender a estadia na Alemanha.
Houvera algumas complicações na cirurgia, devido a uma infecção e a médica ficara tão debilitada que não pôde protestar quando não recebera alta. Porém a Berlusconi já se recuperava bem e já estava forte o suficiente para retornar ao paı́s.
Não estivera em seus planos passar tanto tempo longe.
Discara o número do hospital e tentara falar com Eduarda, mas a resposta fora bem objetiva: Estava ocupada! Sempre era a mesma frase, sempre...
A aeronave decolou.
Henri tivera um problema e não seguiria com ela, só retornaria no dia seguinte. Insistira para que Angel o esperasse, mas ela não aguentaria mais um dia longe, ainda mais sabendo que algo não estava certo em relação à Fercodini.
Fitou as bandagens que cobria as mãos.
Daria continuidade ao processo de fisioterapia quando retornasse. Estava otimista com o resultado da cirurgia.
Estava ansiosa para contar para Duda, sabia que ela ficaria feliz, quem sabe assim o que a estivesse chateando passasse rapidinho.
Sabia como a afilhada do seu pai era turrona, parecia uma mula empancada, algo deve tê-la irritado.
Quando chegasse, seguiria direto para o apartamento dela e tentaria esclarecer o que a molestara tanto a ponto de evitar até lhe falar.
Exigiria uma explicação para aquele comportamento, afinal, nada fizera para merecer esse tipo de comportamento.
Estava morrendo de saudades, estava desejosa de tê-la aos seus braços, de senti-la.
Eduarda arrumava a casa para que não tivesse trabalho no decorrer da semana. Pig jazia sobre o sofá, observava a dona limpar os móveis.
Já era quase vinte horas e ainda não terminara o que tinha que ser feito. Ouviu a campanhia, rapidamente foi até lá e abriu a porta.
Sorriu ao ver Bruno cobrindo o rosto com uma caixa de pizza.
Não podia negar que ele estava sendo de grande apoio nos últimos dias e o melhor era que não se aproveitava do momento para tentar uma aproximação, ao contrário, sempre falava que ela deveria dar a oportunidade para Angelina explicar o que realmente aconteceu.
-- Que tal uma pausa para um lanche, senhorita? – O rapaz sorriu. Duda deu passagem para que ele entrasse.
-- Acho que sim! – Suspirou. – Estou morta! Sentaram no carpete.
-- Podemos usar as mãos? – A Fercodini já pegava uma fatia. – Acredita que comi apenas biscoito?
O Pug não se aproximou, ele não parecia simpatizar com o rapaz.
-- Tenho uma ótima notı́cia! – Bruno deu uma mordida na massa. – O advogado da Patrı́cia já disse que ela já desistiu da adoção, agora podemos nos empenhar ainda mais.
Eduarda sabia que ela faria isso, afinal, aceitara o que ela propusera.
-- Sim, amanhã mesmo irei até o orfanato, quero falar com o diretor.
-- Irei contigo, aquele homem é muito arrogante e não desejo que te trate mal.
Antes que Eduarda respondesse, ouviu o som da campanhia novamente.
-- Deve ser a Ester, ficou de passar aqui!
Bruno se levantou.
-- Fique sentada, está cansada, eu abro. A jovem assentiu.
Ouviu o latir do pug, virando-se se deparou com a herdeira de Antônio parada a soleira. O olhar dela caia como um pelotão de fuzilamento sobre Bruno, relanceando para si.
Sentiu o ar demorar para chegar até seu peito.
Observou o casaco cinza que ela usava aberto, deixando a mostra a calça e a camiseta preta.
Mirou o rosto, percebendo que estava um pouco abatido. Fitou as luvas que ela usava para proteger as mãos. Eduarda se levantou, temia que ela pudesse fazer algo contra o rapaz.
-- Preciso falar contigo! – A médica disse.
Duda ouviu o som baixo e rouco, era controlado, mas sabia que ela estava furiosa com a presença do jovem. Bruno se aproximou de Eduarda, tocando-lhe o braço.
-- Levarei as coisas para a cozinha, quando terminar, a gente continua. – Beijou-lhe a face.
A Fercodini assentiu rapidamente, enquanto via os olhos negros se estreitarem como se estivesse pronto para atacar a presa.
-- Diga o que quer, pois estou ocupada! – falou friamente.
Pigmaleão correu para a médica, feliz com a presença.
Angelina o pegou nos braços, acariciando-lhe os escassos pelos, depois o deixou novamente sobre a poltrona.
Duda a observou se aproximar, ficando tão perto que conseguia sentir o hálito quente contra a pele, o cheiro dela invadia seus sentidos, aguçando-os, provocando-os.
-- Lembra-se do dia que estivemos no iate? – A Berlusconi começou. – Eu prometi para ti e para mim mesma que confiarei sempre em você e que esperaria a explicação que me daria sobre as coisas que eu não entendia bem... Então, apenas me diga o que se passa, por favor.
Eduarda observou os olhos negros, tentando buscar algo neles que lhe fizesse acreditar, que lhe fizesse pensar que todas as provas que tivera eram mentiras, mas não havia nada que dissesse ao contrário, apenas uma mulher dissimulada que não cansava de fazê-la de tola.
Afastou-se, seguindo até a porta, encostou-se a ela, cruzando os braços sobre os seios.
Usava uma camiseta fina e mesmo com sutiã, seu corpo reagia à presença dela, ao simples olhar dela.
Odiava-se por isso! Odiava-a por todo esse poder que tinha sobre seu corpo, sobre sua mente... Sobre seus sentimentos.
-- Diga-me o que houve? – Ela pediu mais uma vez.
-- Não houve nada! – Respondeu simplesmente.
Observou a morena respirar fundo, parecia querer manter a calma. Viu-a se aproximar em passos largos.
-- Como não houve nada? – Indagou em tom mais alto. – Você não atende as minhas ligações, some, age como se eu não existisse e quando chego aqui encontro esse idiota em sua casa. – Passou a mão pelas madeixas longas.
Duda ficou presa, pois a médica apoiou os braços contra a porta, mantendo-a em seu encalço.
-- Fale...
A Fercodini fechou os olhos por alguns segundos e pôde reviver as cenas que destruı́ra seus sonhos, pôde vê-la nos braços de Patrı́cia, pôde vê-la aos beijos com outras mulheres.
-- Acabou, Angelina! – Disse de maneira firme. – Foi ótimo o que vivemos, mas eu percebi que era apenas sexo, não há outros sentimentos envolvidos, tudo é muito vazio e por isso não desejo continuar.
Ouviu-a respirar forte, percebeu a tristeza sombrear a face bonita.
Imaginou que ela esbravejaria naquele momento, mas o toque eu seu ombro fora delicado, agoniado...
-- Por favor, Duda, eu te imploro que me diga o que houve. Fale-me, eu sei que isso tudo que fala é mentira, sei que temos muito mais do que sexo... – Tocou-lhe a face. – O que eu fiz?
A Fercodini sentiu as palavras presas em sua garganta, viu as lágrimas brilharem nos olhos negros, desviou o olhar. Desvencilhou-se do toque.
-- Escute-me, foi um erro me envolver contigo, acho que me guiei pela curiosidade, acho que me deslumbrei por ter uma mulher tão poderosa interessada em mim. -- Deu-lhe as costas. – Acho que você está certa quando me chama de pirralha, percebo como fui imatura ao embarcar nessa história. Esses dias que passamos longe me fizeram perceber isso. Acho que apenas quis me vingar pela forma que sempre me tratou, a forma que sempre tratou a minha mãe...
Angelina a puxou brutamente pelo braço, fazendo-a encará-la.
-- Diga na minha cara que você me usou para saciar sua maldita curiosidade! – Esbravejou. – Diga na minha cara que eu apenas fui usada por ti! Diga que tudo o que vivemos foi apenas um ato de vingança da sua mente doente.
Eduarda buscava forças em seu interior, buscava algo para se segurar, algo para não ver sua coragem cair por terra naquele momento.
Mordiscou o lábio inferior, mirou-lhe os olhos que pareciam soltar chispas de fúria. Maneou a cabeça afirmativamente.
-- Sim, doutora, eu lhe usei para saciar a minha vontade, mas acho que já enjoei desse jogo. A Berlusconi a apertou tão forte que sentiu a doer a mão, empurrando-a de perto de si.
Tentava manter a cabeça no lugar, pois a vontade era partir para cima dela, feri-la, machucá-la da mesma forma que sentia em sua alma.
A entrada de Ester e Flávia fora de grande ajuda para que a Angel não agisse de forma impensada. A loira e a ruiva perceberam o clima pesado.
A Tavares observou a amiga e viu como parecia fora de si.
-- Tudo bem com vocês? – A ruiva questionou.
O riso alto e amargurado da herdeira de Antônio podia ser ouvido.
-- Sim, está tudo bem! Não consegue ver? – Ironizou. -- Vai dizer que não sabia que sua amiga estava me usando como experiência sexual? – Dirigiu a raiva para Ester. – Ah, sim, devem ter rido muito as minhas costas! – Virou-se para Flávia. – Tome cuidado, vai que essa outra também está fazendo o mesmo contigo!
-- A Ester não tem nada a ver com isso! – Duda a enfrentou. – Não ouse descontar nos outros suas frustrações! – Seguiu até a porta, abrindo-a. – Imagino que não deve ser fácil para você, ainda mais pelo fato de ter todas as mulheres do mundo aos seus pés, descobrir que foi apenas usada! – Apontou a saı́da com a mão. – Acho que sua presença já não é indispensável em minha casa!
Flávia se aproximou de Angel, temendo que ela fizesse algo que pudesse se arrepender depois.
-- Vamos, eu te levo para casa! – A loira tocou-lhe o ombro.
A Berlusconi se desvencilhou do toque, seguindo até onde estava a jovem.
Fitou-lhe os olhos claros e Duda quase não conseguiu sustentar a mirada carregada de ódio.
-- Você usou a pessoa errada, Maria Eduarda, você usou a pessoa errada!
A Fercodini viu se afastar e lentamente soltou o ar que pareceu ficar preso.
A Tavares seguiu atrás da amiga, mas antes dirigiu um olhar indignado para a garota. Ester observou as lágrimas banharem o rosto da jovem, percebia que algo não estava bem. Já se aproximava para consolá-la quando Bruno apareceu abraçando-a.
Observava-os e algo martelava em sua mente, algo não parecia estar certo naquela história.
Suspirou, deixando o apartamento, pois percebia que sua presença não era requisitada naquele momento.
Flávia observava a amiga deitada na cama.
O próprio coração estava partido por vê-la tão desolada, tão arrasada.
Não podia acreditar que a Eduarda fora capaz de tamanha crueldade quando sabia o que a Angelina já tinha passado.
Observou as bandagens!
Em meio ao porre que tomara, a Berlusconi confessara que fizera a cirurgia, falara que pensara em fazer uma surpresa.
Tocou-lhe os cabelos negros.
Oh, Deus, o que seria de todos agora? Por que a Duda fizera aquilo?
Não conseguia acreditar que fora apenas uma forma de vingança, não acreditava que ela desejara apenas usar a médica, porém ao ouvir de Ester que Bruno também estava no apartamento e que fora ele quem consolara a Fercodini, não sabia mais o que pensar.
Deitou-se na cama, abraçando a amiga.
Ouviu-a chamar por Duda e mais uma vez parecia se repetir toda aquela desgraça de anos atrás. Será que a Angelina nunca conseguiria ser feliz?
Que maldição era aquela que parecia persegui-la?
O clima no hospital estava pesado.
No dia seguinte Flávia tentou conversar com Eduarda, mas a jovem deixou claro que não tinha mais nada para falar sobre aquele assunto.
Henri também fora rechaçado, sem mesmo obter uma explicação pela forma que Eduarda agia.
No final da tarde, Angelina apareceu, contrariando os pensamentos da Tavares que imaginou que ela manteria distância, que se isolaria por uns dias.
A morena seguia para a própria sala quando cruzou com a Fercodini no corredor.
A afilhada de Antônio pensou que a médica falaria algo, mas ela simplesmente passara por si como se não a tivesse visto.
Duda se sentiu aliviada, mas não podia negar que a indiferença a feriu.
Os dias passavam no ritmo tranquilo, apenas algumas discussões entre Ester, que insistia em defender a amiga, e Flávia, mas ambas acabaram chegando a um acordo de não falarem sobre esse assunto.
Angelina iniciou a fisioterapia e parecia se dedicar bastante ao processo.
A Berlusconi não demonstrava a dor que sentia por tudo o que acontecera, mas a Tavares sabia o que ela passava e também sabia os planos que ela tinha, até mesmo a ajudara de certa forma.
-- Esqueça isso, Angel! – A loira a repreendia.
A filha de Antônio estava em um elegante restaurante tendo a amiga como acompanhante.
-- Acha que vou esquecer que fui usada por aquela garotinha estúpida? – Apertou forte o copo. – Ela quis brincar comigo quando eu a amei mais do que tudo.
-- E o que isso vai te acrescentar? Acha que essa vingança vai te fazer feliz?
-- Vai, porque eu vou fazê-la se arrepender do dia que cruzou o meu caminho, irei humilhá-la diante de todos, irei fazê-la ver que com uma Berlusconi não se brinca.
Flávia ainda iria argumentar, mas a amiga já se levantava em direção à mesa onde estava duas belas mulheres.
Conhecia bem e sabia a ruiva era filha de um médico que fora muito amigo de Antônio e sabia também que ela sempre tivera uma queda pela morena.
Suspirou impaciente.
Gostaria de estar com Ester, mas precisara acompanhar Angelina àquele jantar beneficente.
Eduarda estava no orfanato, fora visitar a pequena naquele dia. Tudo parecia ficar ainda mais lento quanto o processo de adoção.
Nem meso tivera o pedido encaminhando, começando a ficar apreensiva com isso.
Se fosse casada tudo seria mais fácil, porém se negava a iniciar o matrimônio com o intuito apenas de adotar uma criança.
Bruno se oferecera inúmeras vezes, mas ela não aceitara, não podia começar algo assim.
Observou o jornal que a recepcionista lia e a imagem de Angelina estampava a capa. Ela parecia muito feliz ao lado de uma ruiva.
Novidade!
Bruno todo dia lhe mostrava uma matéria nova sobre a médica, sempre ao lado de uma mulher diferente. Que ficasse com todas e a deixasse em paz.
Não desejava se lembrar dela, nem mesmo falar em seu nome.
Tinha um novo celular e decerto Ester passara o número para Mattarelli, pois naquele momento ele ligava. Rejeitou a chamada.
Henri!
Não desejava ouvir nada que ele falasse, ainda mais ao saber que o professor enganara sua mãe, enquanto ainda era um homem casado.
A visita não pôde se estender por muito tempo, então com o coração partido Eduarda se despediu da garotinha, pensando que no outro dia a veria novamente.
Já seguia para o veı́culo quando sentiu alguém segurando-a forte, depois algo fora colocado contra o seu nariz, um cheiro muito forte, deixando-a totalmente sem forças para reagir.
Patrı́cia estava na cama, descansando depois de ter transado com o amante.
-- Ainda não convenceu a idiota de casa contigo? – Questionou ao rapaz.
-- Ela se nega, mesmo eu me mostrando tão preocupado com a criança, nem sei mais o que fazer. E você já se aproximou da Angelina?
-- Sim, claro! – Sorriu. – Apenas ainda não o suficiente, mas o importante é mantê-las separadas.
-- Eu pensei que a Berlusconi arrancaria o coração da Duda!
-- Ela é uma dama, meu bem, sempre foi!
A loira se levantou.
-- Preciso que vá embora, fique perto da idiotinha, vamos atacar um pouco mais.
-- Ah, não, quero passar a noite contigo... – Foi até ela, abraçando-a. – Vamos aproveitar.
-- Querido, você é muito fraquinho para isso. – Empurrou-o. – Tenho aspirações maiores.
Viu a psicóloga seguir para o banheiro, decidiu ir ao encontro dela, podia aproveitar mais um pouco a beleza daquela bela mulher.
O sol adentrava o quarto.
O vento fazia as cortinas diáfanas se moverem. Duda despertou.
Ainda sentia dores fortes na cabeça, como se tivesse bebido a noite toda. Lentamente abriu os olhos, porém não reconheceu o lugar.
As paredes eram de madeira, a decoração era bastante elegante. Tentou se levantar, mas percebeu que estava totalmente sem roupa. Ouviu batidas na porta, cobrindo-se rapidamente.
Uma mulher de meia idade entrou.
Ela parecia uma ı́ndia e usava trajes mexicanos e uma enorme trança.
-- Que bom que acordou, senhora!
Eduarda parecia ainda mais confusa.
-- Eu a conheço? – Encostou-se ao espaldar da cama, tomando cuidado para não descobrir o corpo.
-- Acho que não deve se lembrar de mim! – Esboçou um sorriso. – Chegou há dois dias com sua esposa...
Toda sangue parecera deixar o corpo da Fercodini, a expressão parecia não apenas confusa naquele momento.
-- De de que a senhora está falando? – Levantou-se, mantendo o lençol enrolado em seu corpo. – Eu lembro que estava saindo do orfanato e apenas isso. Só pode ser uma brincadeira!
-- Acho que a senhora está confusa, deve ter sido a febre! – Aproximou-se tocando a fronte. – Sua esposa disse que sua temperatura esteve alta a noite toda.
Duda se desvencilhou do toque.
-- Está louca! Eu não sou casada, não tenho esposa e nem esposo algum!
Antes que a empregada pudesse explicar, mais uma vez a porta foi aberta e lá estava alguém que Eduarda não imaginara ver tão cedo.
A serviçal pediu licença, saindo rapidamente do quarto. Duda observou-a.
Angelina usava biquı́ni branco, minúsculo. Os cabelos estavam presos em um coque e os óculos pretos descansavam no topo da cabeça.
Aquilo só podia ser alguma espécie de pesadelo.
-- O que está acontecendo aqui? Onde eu estou? – Questionou.
A médica levantou a mão esquerda, onde no seu anelar uma aliança dourada repousava. Eduarda voltou à atenção para os próprios dedos, vendo o aro de ouro preso a sua pele.
-- Maria Eduarda Fercodini de Berlusconi— Enfatizou o último sobrenome -- achou que me usaria e depois nossas vidas seguiriam em paz?
A jovem a fitou.
-- De que você está falando?
A morena caminhou até bem perto dela, encarando os olhos claros que demonstravam total confusão. Tocou-lhe a face com as costas das mãos.
-- Há dois dias você se tornou minha esposa...
Duda desvencilhou-se do toque.
-- Mentira! – Gritou. – Eu jamais me casaria contigo!
Os olhos negros se estreitaram ameaçadoramente.
-- E não pense que me casei por amá-la, casei-me para humilhá-la diante de todos, diante das pessoas, porque farei questão que saibam do nosso matrimônio, farei questão para que quando me verem com outra mulheres saibam que eu tenho uma esposa, uma esposa que não será boa o suficiente para manter a mulher longe da cama das outras.
Duda partiu para cima da médica, ficando quase despida. Angelina a segurou pelos ombros.
-- Acusarei você! – A jovem dizia por entre os dentes. – Sabe que se realmente houve um matrimônio, fui forçada, pois nem mesmo lembro, pior, tenho certeza de que fui drogada! – Esboçou um sorriso cheio de segurança. – Pedirei a anulação hoje mesmo!
Batidas na porta interromperam a discussão. Dessa vez uma moça entrou com uma cesta.
-- Sua filha acordou, doutora!
Duda mirou quando a garota pegou a criança no colo. Sentiu uma tontura forte, desmaiando.
Angelina foi rápida, impedindo que ela caı́sse no chão.
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