Anjo caído -- Capítulo 30
Patrı́cia observava atenciosamente a expressão da afilhada de Antônio. Odiava-a!
Passara a vida tendo aquela fedelha atravessando seu caminho.
Criara a história de que ela podia ser filha do Berlusconi para que assim pudesse ter Angelina e Ângela como aliadas, porém só obtivera êxito com a ex-esposa, envenenando-a até ter certeza que jamais simpatizaria com aquela maldita.
Fitou os olhos claros!
Aquela aparência angelical não lhe enganava!
-- Licença, o diretor me chama. – A recepcionista avisou se afastando. Eduarda fez um gesto de assentimento, enquanto encarava a psicóloga.
Não sabia por qual razão, mas não conseguia acreditar nas boas intenções daquela mulher. Podia ver naqueles olhos.
O melhor era ir embora. Decidida, já caminhava para a saı́da, quando seu braço foi segurado.
-- Ainda não recebia as felicitações pelo fato de eu me tornar mamãe. – Provocou-a com um sorriso. A Fercodini se desvencilhou do toque gentilmente.
-- Fico feliz por uma criança conseguir encontrar alguém que poderá amá-la e cuidá-la em todos os momentos.
Isso é algo maravilhoso!
A gargalhada debochada de Patrı́cia podia ser ouvida a uma boa distância.
-- E como está a minha amada Angel?
Eduarda respirou fundo, parecia tentar manter a calma.
-- Ela está muito bem! – Tentou se afastar mais uma vez. A loira pôs-se a sua frente.
-- Ela te contou o que houve no dia que assinei o divórcio?
Os olhos de Duda se estreitaram de forma ameaçadoramente.
-- Nada que me fale vai fazer com que duvide da Angelina! – Disse por entre os dentes. – Não acredito em uma única palavra que saia da sua boca.
O olhar de Patrı́cia pareceu sombrio, mas em pouco tempo voltou a demonstrar ironia.
-- Sua felicidade não vai durar muito... Veja, até a criança que você desejava para brincar de mamãe já não poderá estar em seus planos. – Observou as próprias unhas. – Em breve voltaremos a conversar, criança!
A Fercodini e empurrou, seguindo para saı́da do abrigo.
A loira observou-a se afastar, pensando como atacaria sem lhe dar chances para defesa. Lentamente pensaria nos próximos passos que daria naquela história.
Eduarda entrou no veı́culo, batendo forte a porta. Encostou a cabeça ao volante.
Tentava manter a calma, pois a vontade que tinha era de ir até aquela estú pida e esbravejar alto contra ela.
Mesmo que desejasse acreditar nas boas intenções que a Patrı́cia tinha, percebera em seu olhar que ela não parecia nada altruı́sta em pensar em adotar o bebê.
Era vingança!?
Aquela suspeita martelava em seu cérebro.
Como um ser humano podia ser tão cruel a ponto de usar um ser inocente para atingir alguém? Já dava partida no veı́culo, quando ouviu o som do telefone.
Bruno!
O que ele desejava?
Não falara com ele durante alguns dias e naquele momento não parecia interessado em falar com o jovem. Hesitou por alguns segundos, porém acabou atendendo.
-- Alô! – Disse tentando disfarçar a impaciência.
-- Duda, aconteceu algo e preciso te contar.
A garota percebeu que a voz do rapaz demonstrava algum tipo de ansiedade, nervosismo.
-- Diga, sou toda ouvidos!
Alguns segundos se passaram, ouviu-se a respiração pesada do rapaz, então ele começou a falar.
-- A Patrı́cia deseja adotar o pequeno anjinho...
Eduarda ouvia com total atenção o discurso cheio de emoção que Bruno trazia. Percebia que o ex-namorado demonstrava realmente muita preocupação pelo ocorrido.
-- Estou em frente ao abrigo e já fui informada sobre isso... A própria Patrı́cia me contou de suas intenções! – Apertou forte a direção. – O que não entendo é por que em meio a tanta criança órfã nessa cidade, ela escolhera logo essa.
Mais uma vez silêncio...
-- Perdoe-me! – O rapaz choramingou. – A culpa foi toda minha! – Apenas não imaginei que ela usaria essa informação de forma errada.
-- O que você disse exatamente a ela?
-- Apenas contei sobre a criança, ela estava conversando com minha mãe, falava do divórcio e outras coisas que prefiro não dizer...
-- Que coisas? – Indagou curiosa.
-- Por favor, Duda, não me pergunte sobre isso... A Fercodini suspirou impaciente.
-- Bruno, então a Patrı́cia está apenas desejando me atingir com essa história de adoção?
-- Sim, esse é o plano!
-- Ok, falo contigo depois!
Desligou, seguindo rapidamente, mesmo a avenida estando tão cheia, ela parecia ter pressa para chegar ao destino.
Angelina precedia a reunião.
Tinha Flávia ao seu lado e a partir daquele dia Henri ocupava uma das cadeiras. Os acionistas discutiam entre si, discordavam sobre vários pontos.
A Berlusconi levantou-se, batendo as mãos contra a mesa, chamando a atenção de todos.
-- Chega, senhores, a decisão já foi tomada e quando marquei a reunião foi para informá-los e não para pedir consentimentos.
A Tavares observou como as expressões de todos mudaram, porém nenhum deles tinha coragem para retrucar contra a herdeira de Antônio.
-- Dou por encerrado a reunião! – Apontou a saı́da. – Tenham um bom dia. —Voltou a sentar. Os acionistas deixaram a sala, apenas a amiga e Henri ficaram.
-- Acho que você foi muito radical, Angel! – Flávia se levantou. – Precisa aprender a dialogar ou enfrentará inúmeros problemas com os sócios.
-- Não permitirei que ninguém ouse agir contra as minhas decisões e tampouco aceitarei insinuações sobre o meu relacionamento com a Eduarda!
Há alguns dias percebera que Duda estava sendo tratada de forma arrogante pelo chefe da equipe médica, sem falar sobre as perseguições que ficara sabendo que ela estava passando, lógico que a Fercodini não falara sobre isso, na verdade, ela negara quando fora questionada.
-- Não sei se demitir o médico mudará muita coisa.
-- Não sei se mudará, mas pelo menos aprenderão a quem devem respeitar.
Henri percebeu que a discussão entre ambas continuariam, por isso decidiu intervir.
-- Angelina, precisa ter mais tato, pois como a Flávia disse, a Duda sempre enfrentará esses problemas, ainda mais pelo fato de você não ter sido mais discreta em sua relação.
-- Não tenho motivos para esconder nada de ninguém! – Disse por entre os dentes. – Agora tenho coisas para resolver!
A morena deixou a sala, enquanto Flávia e Mattarelli trocavam olhares de entendimento.
-- Impossível falar com ela! – A loira disse em um suspiro.
Duda acabara pegando engarrafamento, chegando praticamente em cima da hora. Já colocava o jaleco quando a porta foi aberta e lá estava a sua amada.
Adorou o vestido branco colado ao corpo que ela usava naquele dia. Um cinto dourado circulava sua cintura, usava um blazer na mesma cor do cinto.
A morena a abraçou.
-- Onde estava?
-- Precisei resolver algumas coisas...—Suas palavras fora interrompidas por um beijo. Aceitou o carinho, a forma como ela fora dominada pelos lábios rosados.
-- Preciso ir... – Colocou as mãos sobre seu peito, afastando-a. – Não quero me atrasar. Angelina a fitou com atenção. Apoiou-se na escrivaninha, trazendo-a até si.
-- O que houve, meu amor? – Tocou-lhe a face. – O que a aborrece? Os olhos claros lagrimaram.
-- O que houve? – Repetiu, sentindo a lágrima com o indicador. – Alguém te fez algo? – Questionou preocupada.
-- A Patrı́cia vai adotar o bebê... – Disse em soluço. – Eu sei que ela faz isso apenas para me atingir!
-- Shiiiii – Abraçou-a. – Calma, meu anjo!
Duda chorou no ombro da médica, enquanto sentia as carı́cias em seus cabelos e em suas costas.
-- Ela vai adotá-la... – Disse entre lágrimas.
-- Mas, meu amor, o que a Patrı́cia vai querer com um bebê? – Questionou incrédula. – E o que isso afetaria você? Não acha que é uma boa que essa criança encontre alguém que a ame?
Eduarda limpou os olhos com as costas das mãos.
-- Ela não deseja esse bebê, só quer dotá-lo porque sabe que quero essa criança.
-- A gente já conversou sobre isso, você sabe que seria inviável um bebê nesse momento, tem sua carreira, precisa se dedicar a ela! – Falou de forma enérgica. – Se a Patrı́cia quer um filho, então ótimo, menos um órfão no mundo!
A Fercodini se afastou, magoada.
-- Você realmente não se importa! – Disse chateada. – Inútil falar sobre isso contigo. – Já seguia para fora. Angelina foi até ela, segurando-a pelos ombros.
-- Amor, hoje à noite precisarei fazer uma viagem à Alemanha, alguns problemas requerem a minha presença, porém assim que voltar, investigarei qual o interesse da Patrı́cia nessa criança e se tiver algo de errado, te ajudarei a protegê- la. – Segurou-lhe o queixo. – Prometo que veremos isso.
Eduarda a abraçou forte.
-- Não quero que vá! – Murmurou em seu ouvido. – Desejo que fique comigo, por favor. A Berlusconi lhe tomou as mãos nas suas.
-- Não demorarei e assim que resolver o problema, retorno, tenha paciência... – Beijou cada um dos longos dedos.
– Espera-me?
Duda sentia uma apreensão no peito. Algo parecia assustá-la naquele momento. Mirou os olhos da amada e apensas fez um gesto afirmativo.
Mais uma vez fora acolhida naqueles braços que a fazia se sentir tão protegida. Ouviu o pulsar do coração, desejando permanecer naquela posição até que todos os seus medos fossem afastados.
Antes de embarcar com a Berlusconi para Europa, Henri foi à procura da filha.
Percebeu-a triste, preocupada e mesmo que a jovem negasse, aprendera a notar as mudanças de sentimento que seu rosto mostrava tão claramente.
Era acostumado a vê-la sempre de bom humor, porém tinha certeza que algo não estava bem. Chegara a cogitar não ir naquela viagem, mas sabia que Angelina precisava de si naquele momento. Abraçou Duda.
-- Por favor, se precisar de algo, seja uma ajuda ou apenas para jogar conversa fora, não hesite, pode me ligar a qualquer hora. – Murmurou em seu ouvido.
A garota o fitou e mais uma vez teve a sensação que Antônio sempre passara para si.
Mordeu a lı́ngua, pois desejara falar tudo o que estava acontecendo. Gostaria de desabafar, mas preferiu não fazê-lo.
Voltou a abraçá-lo.
-- Obrigada... – Falou. – Por favor, cuide da Angel.
Mais uma vez Mattarelli desejou contar toda a verdade, porém ele temia a reação da Fercodini, tinha medo de ser rejeitado. Não sabia como ela reagiria diante da história, ainda mais quando soubesse que ele não contara para Cecı́lia que era um homem casado e por esse motivo a amada fugira de si.
Fechou os olhos, apertando-a mais forte, em seguida, separando-se.
-- Preciso ir, pequena! – Beijou-lhe a testa. – Cuide-se!
Eduarda o observou se afastar, permanecendo alguns segundos, parada, no mesmo lugar.
Se descobrisse que Patrı́cia inventara essa história de adoção apenas como uma forma de vingança, lutaria com todas as armas que estivesse em suas mãos para impedi-la de fazer isso.
Protegeria aquela criança!
Angelina se acomodou melhor na poltrona da aeronave.
Sentia-se um pouco aliviada, pois conseguira entrar em contato com um velho colega, pedindo-o para investigar a questão da adoção da menina que parecia ter encantado a Eduarda.
Não se sentia muito à vontade com bebês desde que sofrera o acidente, desde que perdera a filha. Em outrora sempre se mostrara fascinada pela maternidade.
Cobriu o rosto com as mãos.
Quando retornasse dedicaria mais atenção a esse assunto, porém naquele momento concentraria toda a energia no processo cirúrgico que se submeteria.
De soslaio observou o companheiro de viagem que parecia concentrado em alguns e-mails que respondia. A médica fechou os olhos.
Não podia negar que estava amedrontada e esse fora um dos motivos para não ter falado sobre a intervenção para Flávia e Duda. Não aguentaria lidar com a decepção naqueles rostos queridos.
Talvez não desse certo, as chances era mı́nimas, porém melhoria o aspecto estético das mãos e amenizaria as inúmeras dores que pareciam piorar ao decorrer do tempo.
Mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente. Adoraria que Eduarda estivesse ali.
Amava-a tanto que a distância entre elas era um verdadeiro suplı́cio.
Nos últimos dias passava mais noites no apartamento dela que no próprio. Sempre chegava para uma visita e acabava-a convencendo a lhe permitir ficar.
Sorriu ao recordar dos episódios.
Adorava despertar ao lado dela, de tê-la aconchegada em seus braços e de poder ver aquela carinha de menina travessa logo cedo.
Quando retornasse iria pedi-la em casamento, tinha certeza do sentimento que as unia e por isso não aceitaria perder mais tempo separadas.
Naquela noite Ester percebera que a amiga não estava bem e por esse motivo acabara recusando o convite de Flávia para irem ao cinema.
A loira protestara de inı́cio, mas acabara sendo convencida por uns beijos mais elaborados.
Duda saia do banho. Vestia um roupão e a toalha presa nas madeixas.
Surpreendeu-se ao ver a ruiva deitada em sua cama, tendo ao lado um balde de pipoca e Pigmaleão a suas pernas dormindo.
-- Você não tem uma namorada para roubar a paciência?
A jovem sorriu, estendendo os braços para a Fercodini.
-- Hoje serei unicamente sua! – Piscou. – Pode fazer o que quiser comigo!
Duda revirou os olhos.
-- Ah, só porque tem a gostosa da Berlusconi não sirvo mais para ti...
A afilhada de Antônio lhe jogou um travesseiro, acertando em cheio seu rosto.
-- Vem, Dudinha... – Chamou-a novamente gargalhando.
Dessa vez a garota suspirou, seguindo até a ruiva, deitando em seus braços, levou um pouco de pipoca à boca. Mastigava lentamente.
-- Não chamem a Angel de gostosa ou farei pior com a sua loirinha... – Fitou-a. – Acha que não sei que morres de ciúmes daqueles olhos azuis...
Ambas gargalharam, até a expressão de Eduarda voltar a ficar séria.
-- Ainda está triste com a história do bebê? – Ester lhe tocou o rosto. – Sabe que poderia ter visto-a, pois o fato da Patrı́cia querer adotar ainda não significa que já adotou.
-- Eu sei... Mas fiquei tão atordoada no momento que acabei não protestando quanto a isso. – Encarou os olhos verdes. – Você também acha que estou ficando louca com a história dessa criança? – Ficou de bruços, apoiando-se nos cotovelos.
O quarto estava mergulhado na penumbra e apenas a TV iluminava o local.
-- Eu acho que você é uma pessoa maravilhosa e a sua preocupação com ela demonstra isso. Eduarda ficou calada por alguns minutos, parecia ponderar até voltar a falar.
-- Sabe, desde que tive aquela menininha de bochechas rosadas e cabelos negros nos meus braços foi como se... – Respirou fundo. – Parece loucura, mas foi como se ela tivesse nascido de mim.
A ruiva lhe tocou a face.
-- O que você desejar fazer poderá contar com todo o meu apoio. Duda a abraçou, apoiando a cabeça em seu peito.
-- Eu não consigo acreditar nas boas intenções da Patrı́cia. Tenho quase certeza que ela não deseja esse bebê, está fazendo apenas para me atingir. – Disse com a voz embargada, enquanto escondia o rosto no colo da amiga.
-- Falou com a Angelina?
A jovem voltou a encará-la.
-- Sim, mas foi em vão, ela não se importa com esse assunto. – Disse magoada.
-- Duda, não deve falar assim, não acredito que seja verdade, apenas acredito que ela anda muito atarefada, não é fácil, ela é uma mulher com muitas responsabilidades.
A Fercodini mordeu o lábio inferior.
Ester percebia que a amiga estava muito triste, coisa que raramente acontecia.
Sabia bem como ela criara esse elo com a criança e sabia que não seria fácil para ela lidar com essa adoção, ainda mais se fosse a Patrı́cia a se tornar a mãe.
Conversara com a Flávia sobre o assunto e a loira também parecia ter a mesma opinião que a Berlusconi e ainda frisara que logo Duda esqueceria essa história.
-- Que tal assistirmos a um filme? – Pegou o controle. – Nunca mais fizemos um programa.
Eduarda pareceu aprovar prontamente a ideia, mesmo que seus pensamentos estivessem voltados para outras coisas.
Patrı́cia estava sentada em sua poltrona. O sorriso enorme tinha um motivo.
Primeiro tiraria o bebê da Fercodini, depois destruiria essa falsa ilusão quanto ao grande amor que Angelina sentia por ela.
O vı́deo estava pronto e os detalhes não deixava dúvida do que se passara naquele apartamento. Pegou o envelope, observando o conteúdo.
-- Que pena, Dudinha... Não vai ter famı́lia feliz nessa sua história...
Conseguira falar com pessoas bem influentes naquele dia e ainda usara o nome da Berlusconi para se atendida prontamente. Decerto o processo de adoção não seria tão demorado, como era de costume no paı́s.
Era a candidata perfeita para ser a mamãe da fedelha.
A expressão de nojo podia ser vista naquele rosto bonito.
Talvez não ficasse com a Angelina, mas também jamais permitiria que aquela garotinha patética saı́sse vencedora daquela guerra.
Os dias passavam tranquilos.
Eduarda sempre ligava para o orfanato para saber do bebê e em uma dessas ocasiões uma das funcionárias falara que a menina tivera febre durante alguns dias, mas que fora medicada.
Dois dias depois Bruno apareceu no hospital e a Fercodini pediu que ele a acompanhasse até o abrigo.
-- A Patrı́cia está se empenhando para que o processo seja apressado. – O rapaz falou assim que chegaram. Eduarda deu de ombros, seguindo rapidamente para o interior do casarão.
A jovem passara alguns dias evitando pensar no assunto, mas ao saber que a menina ficara doente, acabara por ser vencida pela vontade de vê-la.
Acabava de dobrar o corredor, quando ouviu um choro conhecido. Rapidamente seguiu até o quarto, deixando Bruno falar com a recepcionista. Seguiu até o berço, tomando o bebê em seus braços.
Sentiu a pele da pequena quente, fitou os olhos chorosos e parece que naquele momento a criança a reconheceu, pois o pranto amenizou.
-- O que houve? – O rapaz chegou.
-- Ela precisa ir ao hospital está queimando em febre.
Eduarda não pareceu se importar em sair dali levando a pequena, mas ao seguir até a porta, Patrı́cia adentrou acompanhada do diretor.
-- O que está acontecendo aqui? – Virou-se para uma das funcionárias. – Pega essa criança agora mesmo! – Ordenou.
A subordinada fez o que fora dito, mesmo diante dos protestos de Duda. A garotinha começou a chorar novamente.
-- Essa criança precisa ser examinada por um médico! Ela não está bem!
-- Eu sinto lhe informar, senhorita, mas isso não é da sua conta! Quem pensa ser? Patrı́cia esboçou um sorriso debochado.
-- Sou uma pessoa que está preocupada com um bebê que vem tendo febre nos últimos dias e nenhuma medida fora tomada! – Disse, levantando o nariz.
-- Quem pensa que é para se meter aqui ou para me ensinar como devo proceder na forma de dirigir esse lugar?
-- Acho que o fato dela se deitar com Angelina Berlusconi está subindo a cabeça dela!
Bruno precisou segurar Duda, pois a garota já partia para cima da psicóloga que apenas exibia um riso debochado.
-- Essa garota é descontrolada! – O diretor exclamou. – Tire-a daqui!
Porém o rapaz não conseguiu segurá-la por muito tempo, a jovem se desvencilhou do toque.
-- O senhor pode dizer o que quiser, mas saiba que se não permitir que essa menina vá ao hospital, sairei daqui e irei direto ao ministério público fazer uma denúncia contra o senhor e contra a forma irresponsável que dirige esse lugar.
O rosto do homem exibiu uma coloração avermelhada.
-- Crianças têm febre o tempo todo! – Patrı́cia se adiantou. – Ninguém vai morrer por um aumento de temperatura.
Eduarda nem mesmo se importou com as palavras da loira, rapidamente ligando para Flávia pedindo que a ajudasse e prontamente fora atendida.
O homem apenas permanecera calado, temeroso diante das palavras de Duda.
Uma equipe médica fora colocada a total disposição da criança.
A Fercodini se mantinha totalmente ao lado do bebê, acalentava-o, tentando confortá-lo porque o choro não cessava.
Os médicos pareciam preocupados, pois alguns exames mostravam algumas alterações. Duda ouvia tudo e a suspeita que teve fora investigada.
A menina fora submetida a uma punção em sua espinha, retirando uma amostra do lı́quor. Horas depois o diagnóstico estava pronto: Meningite bacteriana.
Flávia deixava o escritório, deparando-se com Ester.
A loira não era mais a responsável pela equipe da ruiva, já retomara as suas verdadeiras funções.
-- Vai aonde assim com tanta pressa? – A Tavares a segurou pelo braço. – Não ganho um beijinho? Ester sorriu.
-- Não, aqui não! Estava com a Duda, ela está muito preocupada com a situação da pequena.
-- Eu sei, já estou sabendo e agora estava indo falar com ela.
-- Então vá, porque eu preciso resolver algumas coisas. – Soprou-lhe um beijo, afastando-se rapidamente.
O quarto era todo decorado para criança, até mesmo as paredes traziam cores vivas. Os olhos da pequena órfã pareciam examinar tudo ao seu redor.
Jazia deitada, enquanto olhava enamorada para Duda.
A Fercodini acariciou os cabelos que já pareciam maiores e alguns cachinhos negros se formavam.
-- Sabe que você precisa de um nome, meu bem... --Duda usava uma máscara.-- Temos que pensar em algo, já tá ficando grandinha e é preciso te chamar de algo, além de bebê. Virou-se ao ouvir a porta se abrir.
Flávia se aproximava sorridente.
-- Então, essa é a garotinha! – Tocou-lhe a mão roliça. – E essas bochechas rosadas? – Fitou a Duda. – Os olhos delas são idênticos aos da Angel. – Disse perplexa.
-- Sim, eu já tinha comentado com ela antes. A loira virou-se para a garota.
-- Não se preocupe, ela vai ficar bem, eu mesma me certifiquei de colocar os melhores médicos na equipe. – Segurou-lhe a mão. – Vamos fazer tudo, ok?
-- Obrigada, Flávia! – A jovem suspirou aliviada.
A médica a abraçou rapidamente.
-- Preciso resolver umas coisas!
-- Está bem!
O diretor do orfanato fora informado da situação e parecera um pouco assustado quando ouviu o diagnóstico. Permanecia no hospital, parecia querer demonstrar uma preocupação que não tivera antes.
Patrı́cia andava de um lado para o outro na sala do seu apartamento.
Bruno bebia calmamente seu uı́sque, observava a loira, esperando a explosão.
-- Eu não vou adotar uma pirralha doente! – O diretor ligara falando sobre o problema. – Não vou cuidar dessa fedelha.
-- Esse plano de adoção é uma roubada! Eu te disse para que me ajudasse a conquistá-la. Eu serei o pai e ela a mãe.
A loira parou, parecendo ponderar sobre o que fora dito.
-- Se vou adotar a garota é para me vingar! – Gritou. – Não entende que se eu fizer essa criança sofrer, farei também essa maldita Fercodini penar.
Bruno foi até ela, massageando seus ombros.
-- Ela não vai ser feliz se estiver comigo, prometo! – Tocou-lhe os seios sobre o vestido. – Faça com que ela termine com a Berlusconi. Use as armas que tem!
Patrı́cia ainda não tinha certeza, pois temia a fú ria da Angelina.
-- Acha que ela cederia? – Questionou incrédula. – Acha? – Encarou-o.
-- Sim, porém temos que colocar as peças nos lugares certos.
A loira sorriu, abraçando-o pelo pescoço.
-- Faremos do seu jeito, meu bem.
O beijo selou o acordo que visava destruir a vida de outros.
Angelina tinha dado entrada no hospital.
Todos os exames foram feitos, em pouco tempo ela se submeteria a cirurgia. A morena fitou as próprias mãos!
As cicatrizes cobriam toda a pele, as marcas dos cortes daquele fatı́dico dia.
Muitas coisas mudaram em sua vida e pela primeira vez se sentia livre do passado, livre das dores, das memórias...
Pegou o celular.
Havia a foto de Duda ao seu lado no jetski.
Flávia fizera esse registro e ela adorara, usando-a como imagem da tela.
Não via a hora de voltar e encontrar a sua pequena travessa, mesmo tendo ficado irritada, pois Eduarda não andava com muito tempo para si.
Flávia contara sobre a situação da criança e ficara irritada por não ter sido avisado pela amada. Voltou a falar com o amigo sobre a adoção que a Patrı́cia tanto se empenhava.
Qual seria o real interesse dela?
A ex-esposa nunca fora maternal. Seria realmente uma forma de atingir a Duda?
O domingo estava sendo corrido para a Fercodini.
Ela precisara resolver algumas coisas, fora para casa cuidar do pug, tomou um banho rápido e logo voltaria para o hospital.
Duas semanas se passaram.
A pequena criança ainda estava internada, seu organismo parecia ter dificuldade para combater a bactéria, mas todas as medidas estavam sendo tomadas para que a garotinha se recuperasse.
Pegou a bolsa, já se dirigindo para a porta, abrindo-a. Surpreendeu-se com a indesejável visitante.
Patrı́cia jazia parada na soleira, exibindo um sorriso sarcástico.
-- Olá, querida! – Cumprimentou à Duda. – Como está? -- A loira se antecipou, adentrando o espaço.
-- Saia da minha casa agora mesmo!
A psicóloga pareceu não se importar com a expressão furiosa da anfitriã, ao contrário, ela se ocupava a olhar com desdém toda a decoração do apartamento.
-- Como alguém que transa com a herdeira de um verdadeiro império mora em um lugar assim! Eduarda tentava manter a calma, respirava fundo para não sair arrastando aquela mulher pelos cabelos.
-- Talvez porque eu não seja ambiciosa como você!
Patrı́cia gargalhou alto.
-- Ah, meu anjo, você não sabe muito de mim! – Limpou o sofá, sentando-se com as pernas cruzadas. – Se eu fosse tão ambiciosa aceitaria o dinheiro que a Angelina sempre deposita na minha conta.
A afilhada de Antônio pareceu confusa com a informação, mas pareceu se recuperar rapidamente.
-- Não acredito em nada que fala! – Disse demonstrando total segurança.
-- Ah, que lindo! – Levou o lenço aos olhos. – Eu fico emocionada com a confiança que tem na sua namoradinha.
-- Saia da minha casa, antes que te tire à força! Nada que você fale me interessa! – Abriu a porta. – Deixe-me em paz.
-- Nem mesmo se for para falar da pirralha órfã? – Retirou uns documentos da bolsa, estendendo a ela. – Olhe! Veja o que tenho aqui.
A Fercodini fitou os papéis por alguns segundo, hesitando em aceitar, mas ao pensar que naquelas folhas tinha algo sobre o bebê, acabou aproximando-se, pegando o que lhe era oferecido.
Realmente a Patrı́cia estava bem adiantada no processo de adoção, algo realmente curioso, pois no paı́s, essas coisas eram bastante muito lentas. Voltou a encarar a mulher que estava sentada diante de si.
Tinha certeza que ela não desejava ser mão daquele bebê. Devolveu-lhe.
-- Por que deveria me interessar por isso?
-- Porque você sabe que eu não desejo essa pirralha e só estou fazendo isso para te fazer sofrer, para te mostrar como dói quando algo que amamos nos é tirado.
Duda esboçou um sorriso irônico.
-- Você é louca!
-- Não seja bobinha, eu vim aqui para dizer que estou disposta a te deixar ficar com a criança, até te ajudarei.
-- Ah, ta! Imagino que para isso eu deva deixar a Angel para ti? – Ironizou. – Eu mesma irei provar a todos que você não tem caráter para adotar essa menina.
-- E quem vai acreditar? – Ajeitou os cabelos loiros por trás da orelha. – Entenda que será a sua palavra contra a minha.
-- Você não vale nada! – Maneou a cabeça.
Patrı́cia abriu pacientemente a bolsa, retirando um dvd.
-- Sabe, Duda, você confia muito na Angelina e eu fico feliz por isso, afinal o que passou não importa mais.
Passado deve ficar no passado! – Entregou-lhe. – Vou te ajudar. – Fitou-a. – Dê uma olhada...
A Fercodini parecia hesitar mais uma vez, porém ao ver o desafio presente nos olhos claros, pegou o objeto, colocando no aparelho de vı́deo.
Apertou o play.
As primeiras imagens pareceram confusas.
A psicóloga observava o olhar chocado, perplexo, magoado e aquilo lhe fez muito feliz.
-- Eu não acho que um juiz daria a guarda de uma criança para uma devassa como a Angel... Ela sempre foi assim, nunca vai mudar... Então me diga: Vale a pena viver com alguém assim e abrir mão de um bebê inocente?
Eduarda sentiu os olhos encherem de lágrimas, mas não choraria em frente àquela mulher.
-- Eu não acredito! – Retirou a mı́dia, entregando a ela. – Saia da minha casa agora mesmo! Patrı́cia se levantou, mas deixou um envelope sobre a poltrona.
-- Realmente é muito importante a confiança, mas como justificaria as imagens? Você está certa em não acreditar em mim. Leve para um perito, pesquise, tem o nú mero do celular do próprio advogado da Angel, fale com ele... Mas quando descobrir que tudo é verdade me procure, assim, poderemos conversar sobre a adoção.
Duda caminhou até a porta, abrindo-a.
-- Não acredito em nada! – Apoiou-se na porta. -- E por que agora não deseja mais adotar a menina? – Tentava disfarçar o tremor na voz.
-- Não tenho tempo para cuidar de uma pirralha doente! – Parou na soleira. – Acho que quanto a minha vingança, já tive mais do que desejei, afinal, eu provei para ti que a maravilhosa Berlusconi não é a vı́tima da história. – Tocou-lhe a face. – Sabia que Henri Mattarelli é seu pai?
Eduarda afastou-lhe a mão.
Patrı́cia se regozijou ao ver o olhar cheio de dúvidas.
Esperara o dia que poderia usar aquela informação, tivera que ter muita paciência para isso. Mas seu golpe de sorte foi ter conseguido um aliado dentro do hospital, assim pôde saber todos os passos do médico, ainda mais conseguira a cópia do exame que confirmava a paternidade.
-- Está louca!
-- Sim, meu bem, ele é seu pai e da mesma forma que Antônio nunca te falou, mesmo sabendo, a Angelina também te escondeu, acho que ela sempre gostou de acusar a sua mãe de ser amante do seu querido padrinho.
A Fercodini engoliu em seco.
Não podia acreditar no que aquela mulher dizia.
-- Mentira! – Falou com os dentes cerrados. – Mentira! – Gritou.
-- Olha o envelope, veja com seus próprios olhos!
Patrı́cia se afastou, enquanto Eduarda permaneceu parada no mesmo lugar.
Tentava manter a calma, tentava não acreditar em tudo que fora dito por ela, mas sua cabeça já começava a fervilhar com tudo que ouvira.
Seguiu para o interior, mirou o envelope amarelo.
Vacilou por alguns segundos, mas acabou pegando-o e abrindo o conteúdo.
Havia inúmeras fotos da Angelina nos braços da loira, sem falar nas várias mulheres diferentes... Levou a mão à boca, mordendo o punho fechado.
Uma lágrima escapou dos seus olhos.
Desejava gritar, esbravejar, mesmo tentando arrumar justificativas para aquilo que estava vendo...
Buscava possíveis explicações em sua mente... Tentava pensar que tudo era mais uma invenção da Patrı́cia para separá-las... Mas...
Fitou algo que lhe chamou atenção.
Havia outro envelope com o selo do hospital da famı́lia Berlusconi. Abriu-o!
Lia com atenção cada palavra e mais uma vez percebia como fizera papel de idiota diante da Patrı́cia.
Ela deve ter rido muito, rido da sua ingenuidade, rindo de como fora iludida. Como continuar acreditando diante de provas tão concretas?
Ahhh... Duda está sofrendo.😔😔
ResponderExcluirAhhh... Duda está sofrendo.😔😔
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