Dolo ferox -- Capítulo 22


         Os corredores do hospital estavam vazios.
         Valentina seguia com passos largos, sentindo a raiva quase explodir em seu peito.
    Arrependia-se de não ter colocado a loira em seu lugar, desejava ter batido nela até que aquele sorriso debochado se apagasse do seu rosto.
         Entrou no elevador e viu a própria imagem refletir no espelho.
        A face estava corada, havia um vinco entre as sobrancelha. Arrumou os cabelos e percebeu que a mão estava trêmula.
       Quando imaginava a ruiva nos braços da loira sentia o estômago embrulhar e não era nem pela gravidez.
         As portas se abriram e ela deixou a pequena caixa.
         Seguia distraída até o quarto, pronta para ouvir de Nathália toda a explicação que necessitava.   
         Abriu a porta lentamente, pois chegou a imaginar que encontraria a jovem adormecida, mas viu surpresa o homem que conhecia ali parado.
      Pensou em voltar, mas acabou permanecendo onde estava e já abria a boca para denunciar sua presença, mas não o fez.
        -- E o que a vovó falou? -- Nathalia questionou, enquanto sentava na cama.
         -- Que Valentina Rodrigues é minha filha!
        Os olhos da Hanminton fitaram por sobre os ombros do filho do conde e Nícolas ao se virar se deparou com a circense encarando os dois com os olhos arregalados.
         O aristocrata apenas encarava a jovem sem saber o que dizer naquele momento, apenas fitava os olhos negros estreitados.
        -- Que brincadeira idiota é essa? -- A circense indagou irritada. -- De onde o senhor tirou essa loucura? -- Caminhou até o meio do quarto, pondo as mãos na cintura. -- Expliquem-se agora! -- Exigiu.
        Nathália encarava a morena e sabia que aquela não fora a melhor forma dela ficar sabendo da história, já tinha planejado tudo, mas tudo parecia ter saído do seu controle.
           -- Amor, tenha calma, era sobre isso que estava te falando ontem.
          -- Explique - se, senhor! -- A trapezista ordenou ignorando a outra. -- Fale de uma vez do que se trata essa palhaçada!
          O Vallares assentiu com um gesto de cabeça.
        Entendia a irritação da jovem, mas não sabia como lidar com aquilo. Não estava acostumado a ser enfrentado daquela forma, afinal, era um aristocrata, filho de um homem de grande importância.
         Viu a morena lhe mirar com impaciência da mesma forma que Eva fazia, então Decidiu falar:
         -- Eu só sei o que a Isadora me disse… mas confesso que desde que a vi na festa, percebi como é parecida com a mulher que mais amei nesse mundo.
         -- De quem falas? -- Questionou por entre os dentes. -- De quem falas? -- Questionou mais alto. 
         -- Da Eva… -- Disse em um fio de voz.
         Valentina chegou mais perto.
      -- Eu não acredito em nada disso! -- Apontou-lhe o dedo indicador. -- Parece que estou mergulhada em um poço de mentiras, emanações para todos os lados… Que droga ainda falta aparecer nessa história? Que sujeira ainda está escondida 
          -- Meu amor, as coisas não são assim! -- A neta da duquesa voltou a interferir.
           -- E como são?  E por que a tua avó não me falou a verdade? Por que correu para falar tudo para ele?
          -- Porque ela estava preocupada, desejando que a protegesse da Valerie, temendo que você fosse tão vítima como a minha irmã e a sua tia! -- O Vallares interferiu. -- Ela estava desesperada, ainda mais devido a sua proximidade com a Natasha!
          Valentina abriu ainda mais os olhos.
         Se aquilo tudo era realmente verdade ela era sobrinha da esposa da ruiva!
         Arrumou os cabelos em um gesto nervoso.
        -- Isso é um absurdo, o maior que já ouvi em toda minha vida!
        Nícolas se aproximou.
    -- Então façamos o exame de DNA e nos livramos dessas dúvidas de uma vez por todas. Desejo apenas saber a verdade.
        -- Para quê?  -- Indagou rispidamente. -- Não tenho mais idade para que apareça um pai e me proteja do bicho papão… a mim nada disso interessa, senhor!
    Valentina deixou o quarto sem dizer mais nenhuma palavra.
      Nathália sabia que não seria fácil contornar aquela situação. Não contava com o orgulho exacerbado da trapezista, afinal, não era quem quer um que era filha de Nícolas Vallares, faria parte de uma das famílias mais bem respeitadas do país.
          Suspirou irritada!
         -- O que farei agora? -- O homem questionou tristemente.
        -- Pacisa manter a calma, é normal a reação dela. Vai precisar ter paciência para que a Valentina consiga entender a realidade e quando ela abrir espaço, conte a verdade, apenas não deve dizer que deixou a mãe dela por ser covarde e não querer ficar na pobreza.
         Nícolas estreitou os olhos negros ao fitar a jovem.
        -- Como sabes disso?
        -- Verônica era muito minha amiga e me falou sobre o delicado assunto! -- Disse sem jeito.
       O filho do Conde assentiu.
      -- É muita coincidência você ter se apaixonado logo pela Valentina…
        -- Sim, realmente parece uma brincadeira do destino. -- Voltou a deitar. -- Espero que a proteja da Natasha como não o fez com a sua irmã… Tenho muito medo…
          -- Eu mato a Valerie se ela ousar chegar perto! -- Disse deixando o quarto.
         A Hanminton exibiu um sorriso.
       Seria perfeito se a morte da irmã viesse das mãos do irmão de Verônica, seria a concretização do plano que passara anos a arquitetar.
          Nathália o viu deixar o quarto e desejou se levantar e ir atrás da trapezista.
Era o que faltava para atrapalhar seus desejos. Uma garotinha cheia de querer agir com indignação ao descobrir que era filha de um milionário aristocrata.
Lembrou-se de Verônica e percebeu que não havia semelhança nenhuma entre ambas.
A filha do conde era fraca de espírito, manipulável, porém pegajosa ao extremo em suas vontades. As coisas poderiam terem se saído melhores se ela não tivesse agido com todo aquela teimosia e passionalidade, o plano teria dado certo e Natasha nesse momento estaria bem morta.
Suspirou!
Odiava a irmã, odiava imaginar que havia um laço sanguíneo entre elas.
Lembrava-se de quando era criança e adorava a forma como a avó a tratava.
Viu com ódio a Valerie se tornar uma das mulheres mais ricas e poderosas daquele país e sempre desejou tomar tudo dela e esse era seu maior propósito.
A porta se abriu e Isadora entrou esbaforida.
-- O que se passou aqui? O Vallares passou por mim soltando fogo pelas ventas. -- Aproximou-se arrumando o penteado.
-- A senhora não deveria estar na cama? -- Nathália questionou chateada. -- Passamos por momentos terríveis e precisamos descansar.
-- Eu sei, mas não me aguentei e vim saber como está indo tudo.
A mais jovem suspirou.
-- Provavelmente não serei presa, mas também a Natasha vai estar livre das acusações! -- Deu uma pausa. -- Porém isso não vai adiantar nada, porque o que estou planejando vai ser grandioso para destruir a minha irmanzinha.
-- Deve tomar cuidado porque tenho quase certeza que houve algo entre a Valentina e a desgraçada da Valerie.
Os olhos verdes se estreitaram.
-- Isso é um absurdo! -- Negou. -- Conheço bem a Valentina, ela é muito delicada, gosta de romantismo, de romances e a Natasha não sabe nem o que significa isso.
A duquesa ainda abriu a boca para protestar.
-- A senhora está vendo coisas, vovó! -- Nathália a interrompeu. -- Sei muito bem como é a circense. Conheço-a muito bem e te garanto que jamais se submeteria àquela selvagem.
A aristocrata ainda pensou em falar algo, mas o médico entrou e ela acabou ficando calada.



Valentina deixou o hospital, parando sem sua escadaria.
O dia ainda estava claro, mas havia nuvens no céu, deixando-o escuro.
Olhou para a fachada do prédio e ficou ali parada sem saber para onde ir, sem saber o que fazer.
Passou a mão nos cabelos.
Que história era aquela? Como aquele homem era seu pai?
Meneou a cabeça, lembrando que Natasha era esposa da mulher que era sua tia.
Aquilo só podia ser uma brincadeira de muito mau gosto. 
Será que ela sabia daquilo?
Algumas pessoas passavam por ali e ficavam a observar a figura bonita que tinha em seu rosto a expressão cheia de preocupação.
Abriu a bolsa, pegando o celular, poderia falar com Leonardo, ele poderia lhe esclarecer as coisas, poderia dizer se aquilo poderia ter algum fundamento ou se não passava de mais enrolações naquela rede de mentiras que eram todas aquelas pessoas.
Ficou parada, olhando para o aparelho.
Quando o arquiteto lhe entregou, tinha colocado alguns números e o de Natasha estava presente.
Observou cada um dos algarismos e depois a foto que aparecia da ruiva.
Cerrou os dentes irritada.
Além de tudo aquilo ainda tivera que lidar com a amante da Valerie, lidar com o sorriso da loira deixando claro que ficaria com uma das irmãs e ela com a outra. Como se estivessem trocando figurinhas!
Odiava a Rebeka e odiava ainda mais a neta de cabelos flamejantes de Isadora!
Como fora tola ao se deixar cair naquela tela de sedução novamente, como fora burra ao pensar que haveria algo mais entre elas…
Mordiscou o lábio inferior demoradamente.
Estava apaixonada por ela!
Seu cérebro e seu coração gritavam isso a todo tempo.
Apaixonou-se pela irmã de Nathália, mas como isso aconteceu? O que havia na ruiva para ser responsável por conquistá-la.
Recordou-se dos olhos perdidos… Que exibiam sarcasmo, que exibiam descaso e em raros momentos trazia uma luz tão intensa que parecia querer iluminar todos os recantos da sua alma. O jeito grosseiro que pareciam camuflar seus reais pensamentos…
Não, não e não!
Aquilo era uma loucura. Jamais se interessaria por alguém com aquele tipo de personalidade, não conseguiria se interessar por aquele jeito estúpido de agir, isso era apenas um devaneio da sua cabeça que estava cheia de problemas e estava confundindo as coisas. Não tinha como alguém se apaixonar por toda aquela arrogância. Era apenas desejo sexual, sim, era isso. Seu corpo reagia a ela, desejava-a, adorava o toque, amava os beijos, mas não havia nada mais que isso.
Sentou em um dos batentes e ficou a olhar a rua.
As pessoas seguiam apressadas, fosse em seus carros ou a pé, mas sempre pareciam atrasadas para alguma coisa.
Voltou a fitar o celular.
Suas coisas estavam na casa do Leonardo, mas não desejava voltar para lá, não queria incomodar, mesmo sendo tão bem tratada tanto por ele quanto por Helena, sentia-se como uma intrusa.
Queria voltar para o circo, queria voltar ao tempo que não conhecia a família da duquesa. Sua vida estava tão bem, mas de uma hora para outra, tudo desandou de um jeito que parecia ser impossível colocar tudo no lugar.
Respirou fundo, lembrando mais uma vez das palavras de Nícolas.
Recordava-se da mãe.
Sempre fora uma mulher linda que estava sempre trabalhando para lhe dar o melhor, mesmo que isso lhe tirasse todo o tempo. 
Fechou os olhos e viu em suas lembranças as broncas que levava quando se comportava de forma inadequada ou não seguia as orientações de como se comportar em um jantar, o talher adequado, a postura correta, o som sempre baixo de falar ou os gestos que nunca deveriam ser esbaforidos.
-- Para que tudo isso, mamãe? -- Indagou uma vez na mesa.
-- Você não é qualquer uma, minha filha, tem sangue nobre e deve se comportar como tal.
Então era daquilo que ela estava a falar, da sua família de condes!
Uma lágrima desceu dos seus olhos e logo outras jorravam.
Aquele homem era seu pai…
Nícolas Vallares…
Verônica era sua tia… A mulher da Natasha, a mulher que fora assassinada barbaramente e ela fora presa por esse crime...
“-- Eu prefiro que me odeie agora… -- Aproximou-se dos lábios dela. -- Prefiro que nossa guerra comece aqui porque depois não sei se terei forças para resistir.”
Ela sabia!
Olhou para o céu e viu as nuvens ainda mais escuras e logo a chuva caia, mas não pareceu incomodar a trapezista que continuava no mesmo lugar.
Então a ruiva já sabia de tudo. Tinha conhecimento do seu parentesco com a Verônica e mesmo assim não se importou de seduzi-la…
Que jogo era aquele que aquelas pessoas jogavam?
Que enredo cruel era aquele?


Já estava anoitecendo…
Natasha inspecionava as obras que tinha sido retomadas quando umas das madeiras caiu sobre si, derrubando-a sobre alguns escombros
Recusou-se a ir até o hospital para ser examinada, apenas seguiu até o carro e deixou a obra.
Sentiu a perna doer e  o corte ainda sangrava, mesmo usando lenço de papel para tentar estancar.
Parou em um sinal e viu as pastas que tinham que ser entregue a Leonardo, mas o último lugar que desejava ir era até a casa do arquiteto. Desejava retornar para a cobertura, tomar um banho e seguir até o seu piano, desejava tocar durante toda a madrugada. Preencher seus vazios com músicas, distrair sua mente dos acontecimentos.
A chuva caia implacável.
Observou os carros que seguiam o seu.
Bateu forte contra a direção!
Já tinha deixado claro a Rick que não desejava aqueles seguranças o tempo todo lhe vigiando. Não tinha medo da Nathália, tampouco da Isadora e estava pronta para enfrentar as duas, coisa que não demoraria a acontecer.
Deu a partida no veículo e de forma inconsciente pegou a estrada que seguia para a casa de Antonini.
Melhor resolver logo aquele problema e não esperar que as coisas se complicassem ou demorasse ainda mais.



Helena olhava horrorizada para Valentina, enquanto a acompanhava até o quarto.
-- Precisa de um banho ou pegará um resfriado! -- Buscou uma toalha, tentando secá-la inutilmente.
A jovem tremia, enquanto assentiu.
-- Vá que pegarei algo seco para que vista e farei um caldo para aquecê-la.
A morena se embrulhou mais na toalha.
-- Não… Não precisa… -- Dizia com os dentes batendo. -- Eu… eu não tinha para onde ir… Perdão por incomodar…
Helena lhe tocou a face com a mão. Acariciou-lhe as madeixas úmidas.
Sentia um carinho tão grande pela garota que nem conseguia associá-la com a Verônica Vallares, mesmo que elas fizessem parte da mesma família.
-- Não diga isso, você nunca seria um incômodo… -- Sorriu. -- Agora vá tomar seu banho quente e depois conversamos.
A circense assentiu, enquanto caminhava para o banheiro.
A esposa de Leonardo suspirou, pois sabia como aquela garota estava passando por momentos difíceis, ainda mais com seu envolvimento com Nathália e Isadora. Tinha certeza das más intenções das duas, por outro lado havia a Natasha, estava certa que as duas tinham algo mais que só toda aquela raiva. Acreditava que estavam apaixonadas, bem, pelo menos Valentina sim, a Valerie era um caso difícil de ser decifrado, mas sabia que havia uma ligação forte entre as duas.
Foi até o closet, pegando o roupão atoalhado e deixando sobre o leito.
Deixou o quarto e encontrou Leonardo no início da escada, tinha a expressão preocupada.
-- Como ela está? -- Indagou quando a esposa chegou ao térreo. -- Está um pouco assustada. -- O que houve?
-- Ela me ligou, estava na escadaria do hospital quando cheguei, parecia indiferente à tempestade que caia. -- Passou a mão nos cabelos. -- ela já sabe de tudo, sabe que Nícolas é seu pai e que Verônica é sua tia.
A mulher levou a mão à boca.
-- Deus do céu! E agora?
Antonini suspirou alto.
-- Eu não sei! Tudo parece ficar cada vez mais complicado.
A campainha tocou e Helena abriu.
Natasha entrou.
-- O que houve? -- A senhora questionou ao ver o supercílio cortado e a calça molhada de sangue -- O que aconteceu contigo?.
Leonardo se aproximou.
-- O que houve? -- Questionou preocupado, observando a roupa rasgada. -- Diga-me!
A ruiva passou a mão pelos cabelos.
Aquele era um dos motivos de não desejar ir até ali, não gostava do excesso de cuidado que ambos tinham consigo, pois nunca conseguia se acostumar com aquilo.
-- Apenas um pequeno incidente na obra! -- Entregou-lhe a pasta. -- Você deixou a construtora e esqueceu disso para sua reunião com o sheik. Agora tenham uma boa noite. -- Já se afastava quando Helena lhe segurou pelo braço.
-- Vá para sala e se sente em uma poltrona. -- Ordenou. -- Vou providenciar uma sopa e logo retorno com a caixa de primeiros socorros para cuidar desses machucados antes que infeccione.
-- Não é necessário! -- Natasha retrucou. -- Foi uma bobagem que logo cicatrizará.
Helena não pareceu ouvir o que ela disse, seguindo para o lado oposto..
A Valerie deu de ombros e já seguia até a porta quando Leonardo a deteve.
-- Deixe de ser teimosa, pois sabe que a minha esposa vai até a cobertura só para limpar essas suas chagas, então é melhor se livrar dela logo e não prolongar essa agonia. -- Apontou para a sala.
A contragosto, a ruiva fez o que ele disse, mesmo não desejando receber todos aqueles cuidados, sabia que Antonini estava certo quando as atitudes de Helena.


Valentina sentia a água quente lhe massagear a pele gelada e desejou ficar ali para todo o sempre.
Passou sabonete, enquanto as revelações daquele dia não saiam da sua mente.
Sim, era tudo verdade! Leonardo confirmara tudo e não havia quase nenhuma dúvida sobre sua paternidade.
O que significava ser filha daquele homem e por que ela abandonou sua mãe?
Terminou o banho, secou-se com a toalha e logo seguiu para o quarto. 
Havia um roupão atoalhado e ela o vestiu, deitando na enorme cama, encolhendo-se, enquanto as lágrimas voltavam a correr por seu delicado rosto.
Mais uma vez tinha a impressão que não havia nada para fazer da vida, mais uma vez sentia o desejo de seguir para bem longe e esquecer tudo o que aconteceu, mesmo sabendo que aquilo seria a coisa menos possível a se fazer.
Fechou os olhos e se lembrou de Nathália e da sua forma delicada de lhe tratar, seus sorrisos gentis, seu jeito de conversar sobre tudo e sempre trazer na voz aquele entusiasmo.
Estava ciente que errou feio com ela, ainda mais depois de saber sobre as ameaças que foram feitas contra si.
Pior coisa que aconteceu foi conhecer a Valerie…
Deveria ter denunciado-a quando ficou sabendo de toda a verdade, não deveria ter aceitado se submeter àquele jogo. 
“Quando a empresária abria a boca para falar algo, seu ato foi interrompido por uma forte bofetada.
       Valentina colocou toda a sua força na ação, fazendo a cabeça da ruiva pender para o lado pelo impacto. 
        Ambas se encararam durante longos segundos. Pareciam mergulhar…”
Se tivesse batido com mais força, se tivesse tirado-a do trailer pelos lindos cabelos, talvez agora ainda estivesse no circo e não cheia de confusões em seus pensamentos.
Ouviu batidas na porta, levantou-se.
-- Entre!
Um senhora se aproximou.
-- Dona Helena pediu para ver se estava tudo bem! -- Disse com um sorriso simpático.-- Vou buscar a sua sopa para deixá-la bem aquecida.
-- Não,não, eu me vestirei e estarei lá embaixo em alguns minutos. Não quero dar mais trabalho!
A governanta ainda abriu a boca para protestar, mas viu a jovem seguir para pegar a roupa, então acabou pedindo licença e deixando os aposentos.


Natasha estava sentada em uma cadeira na sala de estar, enquanto permitia que suas feridas fossem cuidadas.
Leonardo preparou um drink e lhe serviu, enquanto permanecia de pé, observando toda a cena.
        Helena cortou a calça e viu rasgo na pele da coxa da ruiva, encarou com reprovação.
      -- Ainda há resquícios da madeira em sua pele. -- Buscava uma pinça na caixa de primeiros socorros. -- Você não pode ser tão indiferente! -- Repreendeu-a.
     A senhora Antonini trabalhara durante muitos anos como enfermeira, então sabia bem cuidar daqueles pequenos problemas.
          Agachou para fazer tudo cuidadosamente.
      A ruiva nada disse, enquanto bebia o líquido lentamente, sentindo o álcool queimar em sua garganta.
         -- Preferi descer… -- Valentina parou abruptamente ao ver quem estava ali.
        Natasha virou a cabeça tão rápido que Helena acabou tendo a pinça caindo das suas mãos.
        A ruiva observou o conjunto de moletom com desenhos de palhaços. Uma calça folgada em suas pernas e um casaco de mangas compridas. Os cabelos negros estavam presos em um coque. 
O que estaria ela fazendo ali?
Fitou os olhos negros durante longos segundos, viu os lábios carnudos entreabertos. As bochechas estavam rosadas como se estivesse febril.
Suspirou, voltando sua atenção para o copo que tinha nas mãos. Mirava o líquido âmbar como se fosse super interessante. 
-- Vou só terminar de remendar a Natasha e já vamos para a mesa. -- Helena disse com um simpático sorriso. -- Está se sentindo melhor? -- Questionou, enquanto voltava a atenção para o machucado da ruiva.
Valentina fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Sim, estou bem melhor!
Antonini observava as duas mulheres e percebia como pareciam desconfortáveis em se encontrarem.
Agora que a jovem circense sabia da sua origem seria um desgaste enorme, ainda mais quando tinha uma criança naquela história.
-- Vou buscar um chocolate quente, filha, assim você fica ainda mais aquecida! -- O arquiteto falou, enquanto se afastava.
A morena nada disse, apenas continuou no mesmo lugar, observando a cena que se desenrolava.
Via o perfil forte e inflexível da Valerie, enquanto Helena usava uma caixa de primeiros socorros para cuidá-la.
Seguiu lentamente até a outra poltrona, ficando de frente para a arquiteta. Sentou-se.
Observou o sangue no supercílio, depois observou o rasgão que tinha sido feito na calça e lá havia uma ferida maior.
Continuou a inspecioná-la, enquanto a outra parecia distraída com sua bebida.
A boca rosada estava entreaberta e era possível ver os dentes alvos. O lábios superior era um pouco mais cheio… Lembrou de como eles eram macios quando beijavam.
Os olhos verdes lhe flagraram na inspeção, mas Valentina não se amedrontou, continuando a mirá-la, enfrentando-a sem resquícios de temor.
Natasha bebeu de uma vez todo o conteúdo do copo, desejando apenas ir embora daquele lugar.
Em todos os jornais do país estava estampado o abraço entre a trapezista e a netinha amada da duquesa.
Ridículas!
-- Vou pegar álcool! -- Helena se levantou. -- Já volto!
As duas ficaram sozinhas e a atmosfera estava tão pesada que se tornava impossível respirar. O clima frio entre ambas.
Natasha esticou a perna sentindo dormência.
Cerrou os dentes e depois começou a massagear.
Valentina viu o sangue voltar a lhe sujar a tez. Levantou-se indo até ela, pegou o gazes e pressionou sobre o supercílio.
A ruiva nada disse, apenas ficou a encarar, via a expressão fechada focar apenas no ferimento e logo o olhar seguia até a coxa avariada. 
Sem pensar, a arquiteta lhe segurou a mão.
-- Eu não sou a Nathália! -- Disse por entre os dentes. -- Acho que ela quem precisa dos seus dotes de enfermeira.
-- Apenas não quis que a senhora morresse com uma hemorragia, porque eu acredito que devemos ajudar até a quem não merece… -- Arqueou a sobrancelha.
Afastava-se, mas Natasha se levantou, detendo-a pelo braço.
-- Cuidado, palhacinha de circo, não sabes ainda com quem estás a lidar!
-- Ah, sim, eu tinha esquecido do manual, ainda não cheguei nessa parte… -- Encarou-a. -- Mas já vi suas mentiras todas… -- Puxou o braço. -- Não é, titia?! -- Provocou-a.
Antes que Natasha pudesse falar alguma coisa, Valentina seguiu pelas escadas.
A arquiteta continuou no lugar por longos segundos, mas logo saiu atrás dela, mesmo depois de jurar que não faria novamente. 



Comentários

  1. Ahhhh como assim???Quero maisssss!!!! 😍😍😍

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  2. Este capítulo que faz a gente não dormir de noite,pensando em como vai ser esse round entre Valentina e natasha. aguardo ansiosa pelo próximo capítulo.

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  3. Ola autora ...volta logo!! porque tá dificil esperar o proximo capitulo ...rsrsrsr....esse embate vai ser foda.

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  4. Que perfeição minha querida....que maestria vc desenvolve toda essa trama .....sempre leio suas históriaa e me encanto com cada uma delas e essa está me deixando sem folêgo. Maravilhosamente perfeita. Parabéns

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  5. Até quando irão se agredirem verbalmente? Pois esse amor entre elas,que é tão visível,tem que vencer las.
    Beijos autora.

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