Dolo ferox -- Capítulo 21
O gemido de Valentina ainda ecoava pelo quarto quando ela desabou, caindo de pernas abertas sobre o colo da ruiva.
Natasha inclinou a cabeça para trás, enquanto lhe abraçava a cintura.
A circense estava de costas para a amante e mantinha os olhos fechados, ainda inundada pela dominação dos seus sentidos, pela intensidade dos toques que lhe invadiram. Estava trêmula, fora de si, perdida sem saber nem mesmo onde estava. Seu sexo ainda estava vacilante das investidas que pareceram querer chegar a sua alma… Ao âmago do seu ser.
Não foi ali para aquilo, nem mesmo passou por sua cabeça se entregar novamente a Valerie, porém subestimou a arquiteta e seu poder de persuasão… E sua própria vontade de amá-la infinitas vezes, afinal, a culpa também era sua.
Sentiu o hálito vinoso sobre sua nuca e a pele arrepiou.
-- Eu disse para ir embora… -- A voz rouca dizia. -- Foi petulante a ponto de me enfrentar e olha como terminamos. -- A ruiva dizia em total agonia.
A morena observou as mãos de dedos longos sobre suas coxas. Não conseguia ainda falar, apenas tentava controlar a respiração que não tinha voltado ao normal. Seu coração batia descompassado, parecia a ponto de deixar o peito e seguir para o exterior.
Levou as mãos da amada a seu ventre, pondo por cima a sua, apertou-a forte, apertando-a como se necessitasse daquilo.
Aquela era a primeira vez que sentia e reconhecia a arrogante Valerie como a mãe daquela criança que crescia dentro de si, aquela era a primeira vez que aceitava aquele fato e não se desesperava, mesmo sabendo que não ficariam juntas...
Desejou permanecer ali para todo sempre, mesmo sabendo que seria uma realidade impossível.
Sentiu as lágrimas lhe banharem a face, inicialmente chorou baixinho, sentindo o peso de todos aqueles meses, as dúvidas que não a deixavam pensar claramente e o medo de conhecer a verdade e para que lugar aquela verdade levaria.
Tentou controlar as emoções, mas não demorou para que soluços lhe sacudissem os ombros e logo o pranto que começava tranquilo dava sinais de descontrole.
Natasha ouviu a exsudação baixa e pensou que não saberia lidar com algo assim, jamais se importara com aquele tipo de ação, nem mesmo se dava a esse luxo. Aprendera quando era apenas uma garotinha que lágrimas não resolveriam nada, nem valeria para achar soluções, entretanto não estava lidando com com qualquer pessoa, aquela mulher tinha o poder de tocá-la o mais fundo inimaginável e mesmo que jamais tivesse coragem de admitir, desejava tê-la para todo o sempre.
Tentou virá-la para si, mas a jovem resistiu, negando-se em primeiro momento, então fê-lo com mais delicadeza, sussurrando em seu ouvido como se estivesse a lidar com uma criança que tinha um machucado e não permitia que alguém curasse:
-- Calma, meu amor, não vou machucá-la, prometo, quero apenas cuidar de ti… -- Voltou a conduzi-la e daquela vez, ela cedeu.
A Valerie a sentou de lado, ninando-a, dizia palavras para acalmá-la.
Valentina começou a esmurrar seu peito e Natasha apenas aceitou, esperando que o desespero terminasse.
Sabia que merecia, tinha noção de quão difícil era sua personalidade e como ainda seria responsável pela dor da circense.
Quando ficara sabendo do parentesco da morena com a própria esposa fora como o golpe final que recebera da vida.
Voltou a lhe murmurar ao ouvido e mesmo que aquelas palavras não fizessem sentido, conseguiu tranquilizá-la.
Depois de algum tempo, a morena lhe abraçou pelo pescoço, escondendo a face ali.
-- Te odeio… Te odeio… Te odeio… -- Dizia entre soluços.
A arquiteta ficou quieta, pois sabia que ela tinha razão.
Beijou-lhe os cabelos demoradamente, inalando o cheiro delicado dos fios.
Sabia que quando ela soubesse de toda a verdade, teria ainda mais motivos para odiá-la, mesmo que não fosse culpada, ficara presa por muito tempo e enquanto não descobrisse quem cometeu o homicídio, sempre seria a assassina.
Os segundos passaram e depois um bom tempo os olhos negros se voltaram para si.
-- Não vim aqui para isso… Não saí daquele hospital para que me dominasse da forma que desejasse, humilhando-me e mostrando sua superioridade.
-- Eu sei… -- Disse em um fio de voz. -- Queria que você tivesse saído, que tivesse me escutado… Mas sei que isso não justifica minha atitude… -- Segurou-lhe a mão, acariciando-a como se fosse uma joia delicada. -- Vou pedir que o motorista a leve de volta, que a afaste de mim.
-- Não, só irei quando conversar contigo… -- Falou cheia de convicção.
A ruiva assentiu, enquanto se encostava mais a porta.
Encarou-a e sentiu o ar lhe faltar aos pulmões com tanta beleza.
Não havia nada que lembrasse a esposa, apenas os olhos tão negros que era marca da família do conde. Porém o nariz, os lábios e os buraquinhos na bochecha quando sorria eram únicos.
-- Diga o que deseja,bela senhorita…
Valentina fitou os olhos tão verdes, agora não estavam mais escurecidos como há alguns minutos. Observou as bochechas rosadas, os lábios vermelhos… Umedeceu os próprios ao recordar que não permitiu que a boca dela colasse a sua, mas que estava sedenta por aqueles beijos.
Meneou a cabeça tentando se livrar daqueles pensamentos, tentando manter a frieza dos próprios atos questionou:
-- Natasha, por qual razão tomou o lugar da Nathália? O que se passa entre vocês duas? É verdade tudo o que Isadora fala de ti?
A ruiva sentiu um nó preso em sua garganta como se não conseguisse colocar em palavras tudo que estava preso dentro de si. Sentia-se como um barco à deriva, como se não houvesse um rumo para seguir, como se mais uma vez tivesse total certeza de que em sua vida não havia saída, então por que negaria as acusações para Valentina? Cedo ou tarde ela a odiaria por toda aquela história sórdida, que o fizesse logo, pois depois doeria mais ainda dentro de si.
Bem, no fundo não era tudo mentira. Fizera tudo para destruir a avó e agora mais que nunca ansiava por sua vingança.
Fez um gesto de assentimento com a cabeça.
-- Sim, Valentina… A Isadora está certa em suas acusações, sou o demônio que ela fala.
A circense mirou tão fundo no mar verde que chegou a se ver neles. Sua face, sua vida, seus sentimentos.
-- Mentira! -- Negou com veemência. -- Por que está mentindo? -- Tomou-lhe o rosto nas mãos. -- O que se passa? Estou desejando que me esclareça as coisas, é só o que te peço.
O maxilar da ruiva enrijeceu, enquanto tentava manter a calma, pois as batidas do seu coração começava a acelerar diante daquele olhar.
-- Diga-me, qual o motivo de desejar saber disso? Sua amada já retornou, está de volta para ficar contigo, então por que é importante saber a verdade? -- Questionou exasperada.
-- Talvez porque exista uma criança nessa história e eu desejo com todo meu coração que meu filho tenha mais que sua arrogância.
Natasha voltou a lhe tocar o ventre, acariciando demoradamente, parecendo ser a coisa mais natural a fazer.
-- Valentina…-- Hesitou por alguns segundos. -- A Isadora e a Nathália não vão sossegar até que consigam me destruir. -- Mirou-a. -- Você não está pronta para o que está por vir. Logo, você acreditará em tudo o que elas dizem,então prefiro que seja agora.
Ouviram batidas na porta.
-- Natasha, está tudo bem? -- Leonardo perguntou.
A trapezista se levantou assustadas, a arquiteta a imitou, mas seu semblante continuava inflexível.
-- Está tudo bem! -- Disse friamente.
Leonardo se preocupou com a demora da circense e temeu que algo ruim pudesse ter acontecido.
-- Precisa de alguma coisa? -- Indagou hesitante por trás da porta.
A arquiteta observou o estado de Valentina. Os cabelos estavam despenteados, o vestido amassado.
-- Vou mandar ele te levar de volta. -- Falou baixo para a jovem.
A garota nada disse, apenas acenou afirmativamente com a cabeça, dava-se por vencida.
Sabia que seria impossível conversar com aquela mulher, estava claro que Natasha não tinha nenhum interesse em esclarecer as coisas.
A ruiva se aproximou, abraçando-a pela cintura.
-- Eu prefiro que me odeie agora… -- Aproximou-se dos lábios dela. -- Prefiro que nossa guerra comece aqui porque depois não sei se terei forças para resistir.
-- OK, Valerie! -- Concordou secamente, desvencilhando-se do toque.
A arquiteta a viu deixar o quarto sem nem ao menos olhar para trás.
Natasha suspirou, encostando-se à porta.
Observou a calcinha destruída no chão, caminhou até ela, pegou a peça, sentindo o tecido delicado em seus dedos.
Cerrou os dentes!
Isadora chegou ao hospital e foi direto para o quarto da neta.
Encontrou-a sentada na cama com expressão furiosa.
-- O que se passa? Não deveria estar deitada descansando? Precisa mostrar um semblante mais enfermo!
-- Estou cansada de ficar aqui! -- Livrou-se do soro. -- Esse papel já está me dando depressão.
A duquesa lhe enviou um olhar de advertência.
-- A Valentina e a polícia precisam pensar que você ainda está muito mal. -- Observou o local. -- Onde está a trapezista?
Nathália estreitou os olhos em raiva.
-- Eu não sei, perguntei a enfermeira e fiquei sabendo que ela deixou o hospital há um bom tempo.
-- Precisamos que ela fique, eu tenho a impressão que a sua namoradinha está encantada pela Natasha, vi os olhares que trocaram, percebi como ela ficou com ciúmes da Rebeka.
A mais jovem deixou a cama, enquanto olhava de um lado para o outro.
-- Falou com o conde? Contou para ele o que te mandei?
-- Sim, essa semente já foi plantada e o próximo passo será ele contar a verdade a filhinha querida. -- Sentou na poltrona. -- A amaldiçoada da ruiva também já está sabendo… -- Riu alto. -- Imagino que agora ela vai se manter distante da circense, não acho que ela aguente o desprezo dela, vai ser igual o da Verônica. -- Caçoou. -- Como as histórias podem se repetir…
Nathália parou perto da avó.
-- Não vai demorar para que o Afonso me livre de tudo isso… Infelizmente terei que assumir que estive no lugar da minha irmanzinha, mas é apenas um passo para trás, logo eu terei tudo o que sempre quis: A fortuna do conde e os bilhões da filha rejeitada da minha querida mãezinha! -- Os olhos verdes brilhavam em triunfo. -- Nunca pensei que as coisas sairiam tão bem… Todas as peças estão se encaixando perfeitamente.
-- Sim, sim, mas para isso terá que convencer a Valentina a se casar contigo, será necessário. Ela leva um bebê que vale ouro em seu ventre.
-- Bem, isso será muito fácil! -- Disse com um sorriso triunfante. -- A Natasha é uma ogra, grosseira, jamais seduziria a minha namoradinha, decerto, ela fora bem enganada. -- Voltou a se deitar na cama. -- Preciso que a encontre e a traga pra mim! -- Voltou a colocar o soro no lugar. -- Traga ela, preciso que a princesinha esteja aqui quando começar o show.
Leonardo vez e outra olhava para a jovem que estava sentada no banco do carona.
Valentina observava a paisagem pela janela e era como se não estivesse vendo nada.
O que a fez fazer aquele papel ridículo? Envergonhava-se da forma que agiu, pois a única coisa que recebera fora a arrogância que raramente abandonava a face da arquiteta.
Nunca mais ousaria se aproximar da ruiva, pois mesmo que Isadora estivesse mentindo sobre tantas acusações, estava claro que a bela Valerie era tão destrutiva quanto a bomba de Hiroshima.
-- Deixe-me te levar a um hotel? -- Falou enquanto parava diante do terreno vazio onde o circo ficava.
Valentina ficou calada apenas observando.
Passara os melhores anos da sua vida naquele lugar,
Fechou os olhos e por um segundo pôde se ver ainda adolescente com o rosto todo pintado, enquanto esperava ansiosa para entrar no picadeiro ao lado de Papi para fazer palhaçadas.
Uma solitária lágrima desceu por sua face.
Antonini lhe segurou a mão na sua:
-- Filha, vou te levar para minha casa e não aceitarei um não como resposta.
A morena o fitava demoradamente, parecia perdida em seus próprios sentimentos.
-- Como posso ir para sua casa? -- Questionou espantada.
-- Filha, a minha esposa vai cuidar bem de você e não acho uma boa ideia que fique com a Isadora.
-- Por quê? -- Indagou irritada. -- Ela é tão ruim como a Valerie? -- Questionou em desafio.
Antonini não respondeu, pois sabia que seria inútil fazê-lo naquele momento.
Deu ré no veículo, tomando a direção da sua casa.
Sabia que não demoraria para Nícolas reivindicar a prole, conhecia bem a duquesa para saber que isso já tinha sido dito.
Os corredores do hospital estavam vazios. Apenas na porta do quarto de Nathália tinha um policial parado.
Aquele horário era de troca de guarda e por isso parecia mais tranquilo.
Só dentro de trinta minutos os médicos seguiriam até o quarto para examinar a paciente.
Isadora se aproximou pomposamente.
Caminhava lentamente até levar a mão ao peito. A expressão de dor substituiu a de lady orgulhosa e logo se apoiava nos braços do agente da lei.
-- Ajude-me! -- Pedia com voz fraca. -- Ajude-me!
O homem a segurou, olhando para os lados em busca de auxílio, sabendo que não deveria abandonar seu posto, mas ciente que deveria prestar assistência a idosa.
Cogitou buscar ajuda em outra área, mas temendo que o pior acontecesse, tomou-a nos braços seguindo em direção as portas, buscando alguém que os amparasse o mais rápido possível.
Do lado oposto, o elevador se abriu e um homem alto, vestindo roupas de médico em cirurgia, seguiu rapidamente até a porta onde estava a Hanminton, adentrando-a.
Foram nove horas de negociação e toda a rede de TV cobrindo o drama que a neta da duquesa estava passando. A opinião pública estava entristecida ao perceber que Nathália mal tinha saído de um cativeiro e já estava sendo vítima de outra emboscada novamente.
Valentina tinha chegado ao local acompanhada da esposa de Leonardo.
Assim que ficara sabendo não sossegou até chegar ali.
Havia carros de polícia cercando toda área. Havia uma cordão que mantinha os curiosos afastados para que nada os ferissem ou atrapalhasse.
Até agora a única coisa que se sabia era que um homem vestido de médico tinha invadido o quarto da enferma e a mantinha cativa sob um revólver apontado para sua cabeça.
Já era noite e ainda nada fora resolvido.
A trapezista olhava para os andares, fitando a janela do quarto que a bela mulher ocupava. Sentia-se culpada por ter deixado o hospital, culpada por não ter se preocupado ao ficar ao lado dela e mais culpada ainda por ter corrido para os braços da ruiva. Pensou em Natasha e ficou a imaginar se ela apareceria ali, afinal, havia um laço sanguíneo entre elas.
Sentiu a mão pousar em seu ombro.
-- Calma, querida, tudo vai acabar bem! -- Helena tentava tranquilizá-la.
A esposa de Antonini olhava para tudo e ficava a pensar se aquilo realmente fazia parte de um fato verídico ou seria mais uma armação da duquesa com a neta preferida.
Nícolas tinha ficado sabendo sobre o acontecido pela TV e imediatamente seguiu até o local, não por ter tanta preocupação pela herdeira amada dos Hanmintons, mas pela jovem que despertara seu interesse.
Observou-a junto com a esposa de Leonardo e aquilo o deixou curioso. Chegou a pensar que ela pudesse estar ao lado de Isadora naquele momento.
Fitou-a com atenção.
Uma Vallares!
Esboçou um sorriso.
Um fruto do seu amor com Eva. Sabia que o conde exigiria para que um exame de DNA fosse feito, porém Nícolas não necessitava daquilo. Olhava para a bela mulher e tinha a impressão que estava a ver a imagem da sua amada mesclado ao orgulho da aristocracia.
De repente os olhos tão negros que fazia parte do legado do conde, encararam-no intensamente.
Desejou se aproximar, mas simplesmente colocou as mãos nos bolsos e ficou a esperar.
Aquele não era o momento certo, mas logo assumiria sua paternidade e a protegeria de tudo e de todos, principalmente da maldita Valerie.
A desgraçada da Natasha não se aproximaria, pois seria capaz de matá-la como deveria ter feito quando a desgraçada ousou se interessar por Verônica.
Natasha estava no biblioteca. Sentada diante do piano antigo, brincando com as teclas como uma criança curiosa.
Os cabelos estavam úmidos do banho recém tomado.
Usava camiseta preta justa e short curto na mesma tonalidade.
Desde que Valentina foi embora, ela seguiu até ali, permanecendo envolvida em seus pensamentos.
Leonardo tinha chegado há algum tempo e permanecia apenas calado.
Recebera mensagens da esposa avisando como se encontrava a situação no hospital.
-- Onde está o Rick? -- A Valerie indagou depois de longos segundos de silêncio. -- Está participando do grande circo? -- Indagou com sarcasmo.
-- Está no hospital, está acompanhando tudo de perto, pois não acredita naquele teatro igual a nós.
A arquiteta exibiu um sorriso cheio de deboche.
-- A minha avozinha e minha maninha me surpreendem, são muito boas em criar enredos dramáticos. -- Virou-se para o amigo. -- Imagino que a palhaça de circo esteja lá se derramando em lágrimas.
Leonardo fez um gesto de assentimento, mas nada disse sobre ter hospedado a morena em sua casa.
-- Eu não a julgo, está envolvida em uma teia de enganações e arrogâncias. -- O mais velho disse. -- Você mesma levanta esse nariz e age como se fosse inatingível!
Natasha não pareceu se importar com o que fora dito. Trazia no semblante a imparcialidade.
-- Você é muito iludido, Antonini, ignora que logo a palhacinha vai saber que é herdeira dos Vallares e nossa guerra ficará ainda mais acirrada… -- Mordiscou a lateral do lábio inferior. -- A Nathália está de olho na fortuna do conde e na minha, ambiciosa essa minha irmã!
-- E o que vai fazer quanto à criança? Vai deixar que a duquesa a eduque como fez contigo? -- Provocou-a.
A ruiva estreitou os olhos de forma ameaçadora.
Em sua mente passava todos os momentos que vivera ao lado de Isadora e como aprendera como um ser humano poderia ser cruel, enquanto esbanjava para toda a sociedade a misericórdia para os pedintes da igreja.
-- Essa criança é minha! -- Afirmou com veemência. -- Valentina é apenas uma barriga de aluguel e eu não permitirei que fique com meu filho!
-- Você quer esse bebê? -- Aproximou-se dela. -- Quer mesmo?
Natasha desviou o olhar e de repente lembrou de tocar o ventre que não demoraria a aparecer para todos.
-- Não abrirei mão do meu filho! -- Disse por entre os dentes. -- E moverei céus e terras para isso.
-- E a Valentina? -- Questionou preocupado. -- Não pensa nela? Sabemos que ela não vai ceder…
O maxilar da arquiteta enrijeceu.
-- Nem eu!
Já era madrugada quando o bandido se entregou.
Ele tinha confessado que fora cúmplice do marido de Nathália e desejava apenas se vingar dela, pois os planos ficaram incompletos.
De acordo com o depoimento prestado, a neta de Isadora fora obrigada a cometer crimes milionários ao ocupar o lugar da irmã, tendo como ameaça principal, matar a jovem trapezista que tinha se tornado mais importante que tudo para a Hanminton.
Valentina estava no quarto e tinha a mão da namorada entra as suas.
Nathália ainda estava em choque pelo que se passou. Chorava o tempo todo e pouco falava.
Isadora também tinha sido medicada e se encontrava em observação.
-- Vai ficar tudo bem! -- A circense dizia. -- Já passou… Já passou.
A enferma encarou a jovem demoradamente.
-- Eu sei que estou errada pelo que fiz… E estou disposta a ir para cadeia pagar pelos crimes que cometi, mas eu faria tudo de novo se fosse para salvar a sua vida.
A trapezista viu as lágrimas rolarem em sua face, então abraçou-a, tentando consolá-la depois de tudo o que viveu.
Observou o curativo no braço da bala que pegou de raspão, sentiu-se destruída por seus sentimentos tortuosos.
-- Quando te vi pela primeira vez ainda estava casada, mas já queria me separar porque meu marido era muito violento -- dizia entre soluços -- Fiz tudo para ele não saber de ti e fiz tudo para não me apaixonar por você… -- Encarou-a -- Mas foi impossível.
Valentina mirou os olhos tão claros e mais uma vez fora traída por seus pensamentos ao se recordar da ruiva.
Sabia que aquele não era o momento, mas seus lábios se moveram sem o seu controle.
-- Então a sua irmã é inocente? -- Questionou ansiosa. -- A Valerie é inocente? -- Repetiu.
Nathália observava o brilho nos olhos negros e pareceu desconfiada.
Mordiscou o lábio inferior demoradamente, tendo em seu rosto a expressão de puro pesar.
-- Não, eu não tenho provas, mas sei que ela era cúmplice! -- Disse com furor. -- Amor, preciso que se mantenha o mais distante possível dela, a mensagem no seu celular foi mandada por eles, tenho certeza que tem o dedo dela nisso tudo… Desgraçada não vai sossegar até que consiga nos destruir!
A morena encarava incrédula a outra.
-- E qual o interesse dela nisso tudo? -- Afastou-se. -- Ela nem mesmo me conhecia, não vejo razões para culpá-la.
Nathália suspirou alto.
-- Há uma coisa que você não sabe, algo que fiquei sabendo um dia antes de sumir… Eu estava pronta para te contar, mas aconteceu tudo aquilo… -- Passou a mão pelos cabelos em um gesto nervoso.
-- De que falas? -- Estreitou os olhos em desconfiança. -- fale! -- Exigiu.
A neta da duquesa estava pronta para destilar todo o veneno possível, mas aquele não era o momento.
Fechou os olhos levando a mão a cabeça.
-- Eu não estou me sentindo bem… -- Deitou-se. -- Chame o médico por favor…
A circense ainda abriu a boca para protestar, mas ao ver a expressão de dor de irmã de Natasha, decidiu fazer o que ela disse.
Na manhã seguinte, a Valerie tinha seguido até a construtora.
Não ficaria esperando até a polícia bater novamente em sua porta, voltaria a preencher seu tempo com coisas objetivas, pois nos últimos dias sua cabeça estava bastante subjetiva.
Observou a fachada do prédio elegante ainda dentro do carro.
Suspirou, enquanto deixava o veículo.
Os empregados a olhavam com surpresa, mas não ousavam falar nada, decerto estavam a questionar de qual das irmãs se tratava, afinal, ambas fizeram uma verdadeira confusão.
Entrou no escritório e ficou parada observando a decoração com indiferença.
A poltrona grande de couro preto, a escrivaninha de tampo de vidro também escuro. A cadeira giratória grande do mesmo material que estofado. Também havia uma mesa retangular com um banco alto que era utilizada para seus desenhos.
Seguiu até ela e ficou vendo os rascunhos que tinha feito.
Inclinou sobre as plantas, observando tudo detalhadamente, mas parecia distraída a ponto de não conseguir nem mesmo decifrar os riscos.
Em sua mente outras coisas a perturbavam.
Ouviu o telefone tocar, mas permaneceu no mesmo lugar, indiferente ao apelo da secretária.
Não demorou muito para a porta ser aberta escandalosamente e a sua assistente acompanhar Rebeka.
Encarou as duas.
-- Perdão, senhora, mas essa mulher se aproveitou de uma distração minha e entrou aqui. -- Falou se recompondo. -- Vou chamar a segurança.
Natasha apenas fez um gesto de assentimento com a cabeça.
-- Deixe-a, preciso conversar com essa senhorita! -- Falou com um sorriso indecifrável.
A secretária concordou, deixando a sala, fechando a porta.
A ruiva se encostou na mesa, cruzando os braços sobre os seios.
-- Pois então, o que deseja?
A loira se aproximou com expressão irritada.
-- Então eu estava transando com a neta rejeitada da importante duquesa! -- Desdenhou. -- Eu deveria te processar! -- Apontou-lhe o indicador em riste.
A arquiteta mordiscou o lábio inferior demoradamente, parecia pouco preocupada com aquilo.
-- Vai dizer que não gostou? -- Arqueou a sobrancelha em provocação. -- Porque pelo que percebi você nem parecia se importar com qual das gêmeas estava se deitando.
Rebeka suspirou, passando a mão pelas madeixas douradas.
Isadora fora até ela no dia anterior para desmascara a ruiva e a alertou sobre o fato de não se envolver com a bela amaldiçoada. Mas pensando bem, Nathália não chegava aos pés daquela mulher. Havia uma aura de perigo que cercava a Valerie, algo que a excitava cada vez mais.
Tocou-lhe os ombros, observando a forma elegante que a bela se vestia.
Calças justas nas pernas na cor preta, camisa de seda de mangas longas branca e um colete na cor da calça. Os cabelos estavam soltos e olhar exibia total desinteresse.
-- Sim, mas não gosto de ser enganada… Poderia ter me falado!
Natasha estreitou os olhos, observando-a com cuidado. Sabia que não poderia confiar nela, mas era uma distração muito boa.
Observou o vestido curto de decote chamativo.
Encarou-a e logo ouviu a voz baixa e sensual.
-- Sabia que eu seria a sua esposa? -- Passou a unha de esmalte vermelho sobre o lábio inferior. -- Eu teria me saído melhor nesse papel!
-- O que mais sabe sobre isso? -- A ruiva segurou-lhe o braço. -- Conte-me! -- Ordenou.
-- Só sei que a sua avozinha e sua maninha buscaram uma esposa para desfrutar dos seus milhões… Verônica com aquela carinha de mocinha delicada foi a aposta delas…
O maxilar da arquiteta enrijeceu.
-- Conte-me mais! -- Apertou-a mais forte.
A loira se desvencilhou da mão que a prendia, massageando o local.
-- Já te disse tudo o que sei! Depois do seu casamento fui embora do país e quando retornei sua amada já tinha morrido… Então voltei para os braços da Nathália!
Natasha lhe segurou o pulso, prendendo-a mais uma vez.
-- Você me falou de um plano, que plano é esse?
Rebeka tentou se livrar mais uma vez do toque, mas foi em vão.
-- Gosto da sua violência na hora do sexo, não no diálogo… -- Respirou fundo. -- Ficar com tudo o que é seu, esse é o plano, até a criança que sua esposa disse desejar fazia parte do plano, mas eu juro que não sei mais de nada!
-- Quem matou a Verônica? -- Indagou pausadamente. -- Quem a matou?
-- Bem que eu saiba foi você!
Natasha a empurrou, afastando-se. Caminhou até a janela, apoiando as mãos na janela panorâmica, mas nada parecia estar vendo.
Então tudo fora uma armação.
Óbvio!
Como fora idiota!
Claro que a filha de um conde que frequentara as melhores escolas e fora educada para a aristocracia aceitaria ter algo com a filha de um simples marinheiro.
Cerrou os dentes fortemente, sentindo a raiva tentar lhe dominar os sentidos.
Sentiu o toque em seu ombro, virou-se para a loira.
-- Saia daqui! -- Ordenou baixinho.
A loira não fez menção de se afastar.
-- Não precisa disso… Estou aqui para dizer que desejo continuar com nosso caso, quero ser sua amante oficial… -- Aproximou a boca da dela. -- Queimo por você e sei que nossos encontros foram deliciosos.
Natasha nada respondeu e logo teve os lábios tomados pela loira.
Leonardo encontrara com Rick em uma cafeteria perto da construtora.
-- Eu não acredito que aquilo fora real! -- O arquiteto dizia. -- Decerto a maldita Nathália armara tudo com Isadora para livrá-la da culpa.
-- Sim, sim, eu não tenho dúvidas quanto a isso! -- Bateu com o punho sobre a mesa. -- A desgraçada sabe jogar muito bem. -- Dizia irritado. -- É uma grande atriz e está manipulando os fatos a seu favor.
-- Pelo menos a acusação de fraude não será mais colocada sobre os ombros da Nath… -- Tomou um pouco do líquido preto. -- Mas sei que ela vai voltar a atacar… E tenho medo que ela faça algo contra a vida da irmã.
Rick assentiu.
-- Redobrarei as vigilâncias, mesmo a Natasha se negando, farei isso, pois agora ela tem a Valentina, em breve terá um filho que será herdeiro da Valerie, então uma morte seria ótimo para fazê-la dona de tudo.
O arquiteto meneou a cabeça.
-- Precisamos desmascarar a Nathália, pois essa será a única forma para Natasha viver em paz… Pense em algo. Fale com esse homem que invadiu o hospital, ele está sendo bem pago para assumir tudo isso!
-- Eu estou investigando… Mas garanto que a Hanminton está tão envolvida com a máfia que o maridinho dela trabalhava e que são eles que estão por trás de tudo… Tudo pelo dinheiro e poder. A trapezista é neta de um dos homens mais poderosos do país, sem falar na Valerie.
-- Tentarei convencer a Natasha para que tome mais cuidado.
O detetive assentiu apreensivo, pois não confiava nos Hanmintons.
Valentina andava de um lado para o outro no quarto do hospital.
Passara a noite ali e esperava ansiosa que Nathália despertasse para que pudesse continuar a conversa que tiveram de madrugada.
Pelo que o médico falara, ela demoraria para despertar, pois tinha tomado vários calmante.
Suspirando, pegou a bolsa e deixou os aposentos.
Caminhava lentamente, desejando não encontrar com Isadora, pois não suportava a duquesa com seus tagarelar infinito contra Natasha.
Chegou a lanchonete, ocupando a primeira mesa que encontrou.
A jovem que sempre a atendia se aproximou com um sorriso.
-- Um sanduíche e uma vitamina! -- Pediu educadamente.
A moça assentiu, afastando-se.
Valentina pegou o celular que Leonardo lhe entregou e pensou em ligar para o arquiteto para saber como estava a Valerie, mas acabou desistindo ao recordar do último encontro.
Suspirou ao lembrar das acusações de Nathália contra a irmã.
Estava cada vez mais confusa, cada vez mais dúvidas surgiam e pareciam não ter explicações, suas perguntas não tinham respostas.
Estava de cabeça baixa e notou um tronco vestido em um minúsculo vestido parar a sua frente e ao levantar a cabeça se deparou com Rebeka.
-- Olá, Valentina, que surpresa te encontrar aqui! -- Falou sentando. -- Espero que não guarde ressentimentos, ainda mais que você já sabe que estava lidando com a gêmea errada.
A morena odiava a loira, mas sabia que não deveria perder a calma.
Pensou em se levantar e deixar o local, mas acabou ficando.
Exibiu um sorriso.
-- E você não se importa de ter transado com a Valerie, ao invés da Nathália? -- Provocou-a. -- Afinal, você foi ainda mais enganada.
A loira sorriu cheia de deboche.
-- Vou te confessar algo, baby, eu sempre soube que estava com a gostosa da Natasha… Querida, aquela forma de fazer sexo não existe em lugar nenhum, Nathália não chega nem perto!
Por baixo da mesa, a morena fechou os punhos com tanta força que sentiu as unhas ferindo as palmas da mão.
Imaginou-se como aquele rosto bem cuidado ficaria com seus cinco dedos estampados como uma tatuagem.
Rebeka levantou, mas antes de sair, entendeu a mão em cumprimento.
-- Não quero que exista problema entre nós! Você fica com a Nathália e eu com a Natasha… -- Piscou. -- Depois do encontro delicioso que tive no escritório dela, não troco a ruiva por nada nesse mundo!
Valentina sentiu o sangue subir à cabeça, nem mesmo esperou pelo pedido que fez para a garçonete. Levantou-se, deixando o lugar.
A loira estreitou os olhos.
-- Parece que não era só eu que sabia que estava sendo comida pela irmã errada!
Nathália despertou.
Procurou Valentina, mas não a encontrou. Onde podia ter ido novamente?
Ouviu batidas na porta e logo Nícolas Vallares adentrava.
-- Perdoe-me entrar assim, mas desde que Isadora falou comigo não consigo me segurar. -- Aproximou-se da cama. -- Entendo que passou por uma situação terrível ontem, sem contar os fatos anteriores. Sei que estou sendo insensível, mas preciso que me diga se é verdade o que a duquesa disse.
-- E o que a vovó falou? -- Questionou, enquanto sentava na cama.
-- Que Valentina Rodrigues é minha filha!
Os olhos da Hanminton fitaram por sobre os ombros do homem e Nícolas ao se virar se deparou com a circense encarando os dois com os olhos arregalados.
Capítulo mto interessante! Começamos a descobrir quem é quem !!! Adorei a cena da Trapezista com a Rebeka ....mais ciúmes impossível, mais amor vindo por aí ....Natasha é incrível talvez sua melhor protagonista, Geh ...ansiosa por mais kkkkkk obrigadaa!
ResponderExcluirPerfeito como sempre!! Será que Valentina observou que rebeka deu a enterder que ela tinha um caso com Natália. Acho tão fofinho quando a Natasha chama a Valentina de meu amor 😍😍😍😍
ResponderExcluirComo essas duas são maquiavélicas!Mas já está na hora desses fios irem deixando pontas,e alguém descobrir todas as safadezas dessas cretinas.
ResponderExcluirSerá que a Rebeka vai ser uma das peças chave? Esse detetive precisa logo provar as mentiras das bruxas , coloca las na cadeia.
Um pequena sugestão autora,as bruxas tem que ter uma morte bem terrível,pois elas merecem por tudo que vêm fazendo.
A Natasha não merece ter essas duas como parentes.
Até o próximo capítulo.
Parabéns essa história tão bem arquitetada.