Anjo caído -- Capítulo 21
O salão estava lotado e mesmo sendo um evento tão formal, os presentes optaram por trajes mais leves, devido a estarem em uma área litorânea onde o mar podia ser visto em todas as direções.
As pessoas pareciam entusiasmadas com a presença de Mattarelle. Isso não era de se estranhar, afinal, além de ter sido um dos melhores neuros do mundo, também fora inú meras vezes premiados por suas pesquisas na área, sem falar como sempre fora requisitado para lecionar nas melhores universidades.
Henri observou de soslaio a simpatia que Eduarda esbanjava ao tratar os convidados. Decerto, herdara essa caracterı́stica da Cecı́lia.
Disfarçou o sorriso, pois temia que as pessoas chegassem a pensar coisas malucas, ou até a jovem o fizesse por desconhecer toda a verdade.
Quando a viu naquela manhã, tivera um desejo intenso de falar tudo, desde o romance que tivera com a mãe da garota, a separação e o desconhecimento total de que seu amor dera um fruto tão bonito.
Fitou-a mais uma vez e voltou a notar uma nuvem de tristeza ofuscar o brilhante dos seus olhos. O que teria acontecido?
Pensou em perguntar, porém a menina, mesmo mostrando cordialidade, parecia um pouco resoluta. Ouviu o próprio nome ser anunciado, seguindo até o lugar que fora destinado para si.
Uma mesa estreita e cumprida fora elegantemente arrumada com uma toalha branca e algumas flores em belos arranjos.
Viu quando Duda se afastava, detendo-a delicadamente pelo braço.
-- A onde está indo? – Retirou um dos lindos exemplares da flora lhe entregando.
Lı́rio!
Eduarda sorriu ao se lembrar da mãe, era aquela sua flor preferida. Aceitou delicadamente o presente.
-- Não posso ficar nessa parte. – Encarou-o.
O médico afastou uma das cadeiras para que ela se acomodasse.
A jovem observou a simpatia dominar o semblante tranquilo do professor.
Mais uma vez teve a impressão de que o conhecia muito antes de tê-lo visto no apartamento da doutora Flávia. Havia algo naquele olhar...
-- Não haverá problemas? – Questionou insegura.
-- Jamais! – Apontou o assento. – Você é a minha convidada de honra.
Duda corou e mesmo relutante, acomodou-se, vendo-o em seguida fazer o mesmo. Um dos médicos presentes tomou a palavra para anunciar o famoso palestrante.
Ouvia com atenção cada sentença dita e precisou segurar o riso ao se recordar do dia que o encontrara na universidade e das coisas que falara sem saber que aquele era o inteligentı́ssimo doutor.
Mesmo tentando bloquear as próximas imagens que surgiram, não conseguira obter êxito.
Deixara o celular desligado e ao ligar o aparelho naquela manhã não houve alerta de ligação, apenas uma singela mensagem com os dizeres: “ Perdoe-me”.
Respirou fundo, sentindo o ar lhe faltar aos pulmões.
Estava muito triste com a forma que Angelina agira depois de tudo que viveram e talvez fosse melhor continuar mantendo essa distância.
Falara com a Ester, a amiga contara como a doutora Berlusconi aparecera transtornada no restaurante. Sua mente viajava naqueles fatos quando viu alguém acenar para si.
Bruno!
Não gostara muito de vê-lo por ali, pois mesmo que ele falasse que desejava apenas sua amizade, percebia muito mais do que isso em suas ações.
Deu um sorriso que lembrava mais uma careta, voltando sua atenção em seguida para Henri.
A sala de reuniões estava pronta.
As redes de hospitais pertencentes à famı́lia Berlusconi se afamava cada dia mais. Flávia assumira a presidência por tempo indeterminado, pois aquele cargo era da herdeira de Antônio que ainda não reclamara o poder que lhe fora destinado.
Uma enorme mesa com doze cadeiras ocupava o elegante espaço.
Todos os membros já estavam presentes, até mesmo a doutora Tavares que já ocupava seu lugar.
Os sócios foram escolhidos a dedo pelo brilhante médico. Sete homens e três mulheres com faixa etária dos sessenta anos.
A loira fitou os presentes e pediu forças para poder não perder a paciência, pois sempre era um desafio lidar com pessoas que exibiam um comportamento machista e antiquado, sem falar que inúmeras vezes tentaram tirá-la do lugar que ocupava.
-- Podemos começar? – Um impaciente senhor indagou. – Não temos todo o dia para ficarmos olhando uns para a cara dos outros.
Flávia assentiu.
-- Sim...
Porém mal a monossı́laba deixara seus lábios, a porta foi aberta atraindo a atenção de todos. Os olhares se voltaram para a figura arrogante que os encarava.
A loira pôde ver a surpresa tomar o rosto dos que ali estavam, o que era uma reação normal.
Angelina usava um vestido branco que se ajustava as suas formas, um cinto pendiam em sua cintura, combinando com o blazer elegante e preto que chegava ao meio das coxas, contrastando com o outro tecido.
-- Bom dia! – O som rouco e frio invadiu o espaço.
Aquela era a primeira vez que a herdeira de Antônio aparecia em uma reunião da diretoria.
A morena caminhou até Flávia, inclinando-se, depositou um beijo no topo de sua cabeça. Seguiu até a pomposa cadeira de couro marrom. Desde a morte do Berlusconi, ninguém ousara se apossar daquele objeto que representava total poder.
Imponente, Angelina sentou elegantemente.
-- Agora podemos começar? – Exibiu um meio sorriso.
-- Com certeza! – Flávia confirmou entusiasmada.
Uma torrencial chuva deixava as pessoas presas em suas casas ou nos seus locais de trabalho. A noite já se apresentava quando Angelina retornara à cobertura.
Não podia reclamar do dia que tivera, ainda mais depois da bendita reunião, cujo apoio de Flávia fora maravilhosos.
Naquela semana estava se empenhando na parte administrativa, pois sabia como a amiga se sacrificara para que tudo continuasse funcionando, mesmo depois da ausência de todos os Berlusconis.
Deixou a bolsa sobre o sofá, caminhando até o elegante bar.
Quando se isolara de tudo, em nenhum momento cogitara a possibilidade de afogar as dores no álcool. Na verdade, sabia que fizera isso porque desejava estar sempre sóbria para continuar se martirizando por tudo o que viveu.
Abriu um vinho, colocando-a na taça até a metade.
Seguiu até o aparelho de som, ligando-o, permitindo que os sons delicados invadissem o ambiente. Seguiu até a poltrona, sentando-se.
Mirou o lı́quido vermelho, inalou o aroma suave, levando-o aos lábios, bebericando lentamente.
Prestava atenção na letra da música...
“ You´re giving me a million reasons to let you go…” ( Million reasons) Retirou o celular da bolsa.
Não havia nada lá, apenas chamadas da Flávia.
Observou a última mensagem que mandara... Há dias e nenhuma resposta recebera. Bebeu mais um pouco, enquanto a melodia repetia.
Recordou dos olhos claros que pareciam sempre tão sinceros e travessos... Umedeceu os lábios com a lı́ngua ainda sentindo o sabor dela ali.
Inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos. Sim!
Reconhecia que tinha passado do limite, reconhecia que agira com a arrogância que lhe era caracterı́stica... Mas jamais reconhecia para qualquer um que fosse como aquela distância a estava deixando a ponto de um terrível desmoronamento.
Sim, fora sua culpa, mas já pedira perdão... Onde ela estava?
Tomou todo o conteúdo do copo.
Levantou-se, seguindo até o bar novamente, enchendo mais uma vez a taça. Fez a mú sica repetir novamente.
Já retornava para o mesmo lugar quando ouviu o som da campanhia. Quem poderia ser?
Decerto a Flávia.
Abriu, deparando-se com a provocante Patrı́cia a lhe sorrir.
Já voltava a fechar quando a outra colocou a perna para impedir.
-- Quero falar sobre o divórcio. – Conseguiu passar para o interior. Angelina a ignorou, voltando a se acomodar no sofá.
-- Fale logo antes que a coloque para fora como se faz com um lixo.
A loira usava um vestido vermelho curto, um decote provocante.
-- Convida-me para um drinque? – Sentou.
-- Não! – A morena tomou um gole. – Diga logo o que quer e saia daqui.
A psicóloga cruzou as pernas, deixando a mostra sua total falta de roupa ı́ntima. A herdeira de Antônio revirou os olhos, enojada.
-- Adorei a música. – Seguiu até onde estava a médica, ficando bem próxima a ela. – Você está ainda mais linda do que antes.
-- Dê-me o divórcio e suma da minha vida. – Retirou bruscamente a mão que pousava em sua coxa.
Patrı́cia gargalhou.
Ousada, seguiu até o bar, pegando a garrafa de vinho e outra taça.
Caminhou até a esposa, repondo mais uma vez o lı́quido, depois colocou para si. Acomodou-se mais uma vez ao lado da morena.
-- Está querendo me embebedar? – Angelina questionou. – Acredite, nem todo o álcool do mundo me faria te levar para a cama.
-- Por quê? – Mordeu o lábio inferior. – Lembro-me muito bem das vezes que transamos assim. – Pisocu. -- Não lembro como era gostoso quando me tomava...
-- Lembro sim... – Levantou-se. – E todas as vezes que lembro tomo um banho para tirar a sujeira da minha pele.
-- Mentira! – Esbravejou indo até ela. – Não acredito que tenha me esquecido. – Segurou-lhe o braço. – Só falta me dizer que está tendo realmente um caso com aquela idiota da afilhada do seu pai.
A Berlusconi se desvencilhou do toque.
-- Isso não é da sua conta! – Retrucou calmamente. O riso debochado da loira demonstrava raiva.
-- Aquela maldita só quer o seu dinheiro! – Gritou. – Em breve você terá a prova disso e eu vou estar aqui para aceitá-la.
Angelina foi até ela, tomando-a pelo braço, praticamente arrastando-a até a saı́da.
A médica ainda podia ouvir as batidas, mesmo assim retornou ao sofá, sentando-se e continuando a beber.
Ester olhou o relógio.
Em pouco tempo terminaria o expediente e só desejava voltar para casa e descansar. Estava preocupada, pois a chuva não cessara um ú nico instante.
Deixava o estabelecimento para atender alguns clientes quando seu olhar encontrou a loira de cabelo de ouro.
A doutora realmente tinha se tornado uma cliente assı́dua do estabelecimento e não podia negar que adorava vê-la ali com seu livro e tomando distraidamente um café ou se deliciando com uma sobremesa.
Aproximou-se.
-- Boa noite! – Cumprimentou-a com um sorriso.
Flávia deixou a brochura sobre a mesa, fitando a jovem.
Tinha se tornado hábito encontrá-la e trocarem algumas poucas palavras, mesmo assim gostava de vê-la. O brilho de entusiasmo nos olhos verdes lhe tirava o estresse do dia.
Naquela noite saı́ra um pouco tarde devido à chuva, chegou até a imaginar que não a veria, mesmo assim, arriscara.
-- Pensei que já tivesse ido embora. Não já passou da sua hora?
A moça suspirou com expressão cansada.
-- Na verdade hoje tive que fazer hora extra, pois precisarei de uma folga a mais essa semana.
-- Hun... Imagino que sairá com o namorado. – Voltou a atenção para o livro.
-- Na verdade precisarei ir até o hospital resolver questões sobre o internato. – Apressou-se em explicar.
A loira voltou a fitá-la.
-- Ah! – Pareceu meio sem graça. – Tinha me esquecido desse detalhe. – Pareceu pensativa. – Imagino que agora a Maria Eduarda aparecerá.
A garota fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Bem... – Guardou o bloco de anotações no bolso do avental. – Agora sim já poderia ir para a minha casa. – Sorriu.
–Boa noite, doutora Flávia.
-- Boa noite, Ester...
A Tavares a observou se afastar, em seguida retirou o celular da bolsa, ligando para Angelina.
Mesmo tendo a amiga cada vez mais ativa no hospital, também a percebia se fechar mais. Tentara falar com ela sobre a Duda, mas acabaram discutindo mais uma vez, sendo assim, decidiu não tocar mais no assunto.
Tentou várias vezes a chamada, mas o parelho não completava a ligação. Passou a mão pelos cabelos que estavam soltos.
O melhor a fazer era ir até o apartamento da Angel.
Fez sinal para outra garçonete que rapidamente se aproximou. Pediu a conta, pagando em seguida.
Guardou a carteira e o livro na bolsa, seguindo rapidamente até o estacionamento.
A chuva continuava.
Entrou no veı́culo e foi quando percebeu que a ruiva estava a alguns metros de si. Ela tentava se proteger do dilúvio sob um guarda-chuva que parecia a qualquer comento ser levado pela ventania.
Permaneceu lá, observando a jovem.
Ligou o rádio, ouvindo uma mú sica romântica que passava em uma das estações.
Nos últimos dias, depois de muitos anos, outra pessoa a entusiasmava sem que fosse a deusa de olhos negros.
Confessava que contava as horas para deixar o hospital e seguir até o shopping, isso só para ver aquele lindo sorriso doce.
Respirou fundo, soltando lentamente o ar. Sentia-se insegura, parecia uma adolescente...
Decidida, ligou o carro, seguindo até onde estava Ester.
A ruiva já estava entrando em desespero. A chuva ficava cada vez mais forte.
Arrependeu-se de não ter chamado um carro para levá-la em casa.
Começava a se assustar, pois não havia ninguém por ali, decerto todos se protegiam dentro do estabelecimento comercial.
Desajeitada tentou abrir a bolsa para pegar o celular. Praguejou alto ao ver que o aparelho estava descarregado. Observou o farol de um veı́culo vim em sua direção.
Já se preparava para seguir rapidamente quando o vidro baixou e com um alívio enorme viu a mulher de cabelo dourado.
-- Entra que eu te dou uma carona! – Flávia usou um tom mais alto para se fazer ouvir. A jovem ainda hesitou por alguns segundos.
Não sabia se era uma boa ideia ficar em um lugar tão fechado com a doutora. Achava-a demasiadamente bonita e sabia que aquilo poderia representar um problema.
Viu o olhar impaciente e acabou cedendo ao impulso.
Fechou a sombrinha, apressando-se os passos, adentrou o espaço que se mantinha bem aquecido.
Ambas se encararam por alguns segundos.
-- Não precisa me olhar com essa carinha de bebê assustado. – A loira tocou-lhe o queixo. – Pensei que já tinha te convencido que não sou uma ogra. – Deu partida. – Onde você mora? – Questionou sem fitá-la.
-- Hoje dormirei no apartamento da Duda.
-- Hunrum!
Seguiram em silêncio, tendo apenas a música suave como diálogo.
Ao parar no semáforo, a loira voltou a encará-la, flagrando a jovem lhe observando. Ester pareceu constrangida, baixando a cabeça.
Flávia sorriu.
-- Está pronta para enfrentar a Angelina lá no hospital?
A ruiva mirou os olhos azuis brilharem em provocação.
-- Você se tornou uma persona non grata para a minha amiga. – Voltou a colocar o carro em movimento. – Eu não gostaria de estar na sua linda e delicada pele.
Ester engoliu em seco.
-- Bem, ainda tem a chance de não ser aceita e é isso que espero de todo o meu coração. – Suspirou. – Isso foi ideia da Duda, eu nunca desejei estar lá.
-- Nossa! – A outra a fitou rapidamente. – Não acredito que estás a desdenhar de um dos melhores hospitais do paı́s. – Fitou-a. – Espero que a Angel jamais fique sabendo disso.
Observou o congestionamento que se seguia, parando o automóvel.
-- Que bom que sou boazinha, pois se não fosse, esse seria o momento de te jogar para fora do carro.
Ambas riram alto.
-- Eu não sei se posso acreditar muito nesse predicativo, afinal, lembro-me bem de um dia que uma certa doutora apareceu soltando fogo pelas lindas narinas lá no restaurante.
A loira virou-se para ela, depositando a mão sobre a coxa da jovem. Mesmo com o tecido grosso do jeans, sentiu-se arrepiar com o contato.
-- Quando receberei perdão por isso?
Ester fitou os lábios rosados tão pertos dos seus. Inconscientemente, umedeceu os próprios.
A médica inclinou sutilmente a cabeça, mas seu ato foi interrompido por motoristas que buzinavam impacientes atrás de si.
A loira resmungou baixinho, acelerando o carro. A ruiva decidiu prestar atenção à estrada.
Não era uma boa ideia se interessar por aquela mulher.
Há tempos não se encantava por alguém do mesmo sexo, até chegara a pensar que essa fase já tinha passado, mas agora percebia que não.
Fechou os olhos, encostando a cabeça na janela.
O resto do caminho fora feito em silêncio. A chuva já demonstrava perder a força.
Flávia estacionou em frente ao prédio e só naquele momento percebeu que sua passageira dormia como um anjinho.
Ficou lá, observando-a.
Os cabelos flamejantes estavam presos, mas alguns fios já se soltavam das amarras.
Estendeu o braço para tocá-la, mas hesitou, então os lindos olhos verdes se abriram, tendo um misto de confusão e sonolência.
-- Chegamos? – Observou o edifı́cio. – Perdoe-me, acabei dormindo.
-- Não se preocupe! – Aproximou-se para soltá-la do cinto. – Foi um prazer ouvi-la roncar. – Encarou-a. – Até desliguei o rádio, a música perdia para ti.
Ester exibiu um sorriso tı́mido, ficando totalmente encantada com o belo rosto a centı́metros do seu.
-- Não acredito que tenha roncado, doutora. – Mordiscou o lábio inferior.
-- Realmente o tempo não fora suficiente para esse privilégio.
A ruiva sentiu os lábios rosados posarem sobre os seus como o roçar de uma borboleta que retirava o néctar das flores.
-- Durma bem, linda senhorita.
-- Você também, linda doutora! – Disse corada.
Flávia deixou o veı́culo, dando a volta, abrindo a porta para que a jovem saı́sse.
Os corpos se roçaram acidentalmente e mais uma vez as bocas se uniram, mas dessa vez a carı́cia fora mais ousada, porém não durou muito.
Ester seguiu para dentro e a loira retornou para o carro. A médica esboçou um sorriso enorme.
Adoraria seguir a mocinha até o apartamento, porém precisava ir devagar, mesmo que seu corpo esteja totalmente em chamas naquele momento.
Esperou mais alguns segundos, até ver as luzes serem acesas e ver a silhueta da bonita ruivinha.
Ligou o carro, retornando para casa.
O resto da semana passou em total harmonia.
Naquele dia os novos internos seriam apresentados à equipe do hospital.
Um enorme auditório fora montado para que recebê-los, junto com membros e professores da universidade. Era tradição dos Berlusconis fazer uma recepção tão acalorada.
Eduarda estava inquieta sobre a cadeira, tendo ao seu lado a amiga Ester. A afilhada de Antônio chegara à noite anterior.
Sentia-se feliz pela viagem, por ter passado tão bons momentos ao lado de Henri Mattarelli. Ele era um homem muito divertido e fizera com que se distraı́sse de suas dores, fosse contando histórias de sua vida ou discorrendo sobre a medicina.
Viu o momento que a doutora Flávia seguiu até o microfone, dando as boas vindas a todos.
Imaginou que a loira falaria mais, porém a função dela foi anunciar a herdeira do dono de tudo aquilo.
Arrepiou-se!
Observou Angelina Berluconi aparecer em meio aos diretores, médicos e professores.
Sentiu as batidas do coração acelerar, ainda mais ao vê-la toda vestida de branco e ostentando o jaleco alvı́ssimo. Lembrou-se da vez que fora arrastada para tirar sangue... Recordou-se de vê-la usando um traje semelhante...
Como podia estar ainda mais linda!
Os cabelos negros pareciam maiores ou seria o corte que estava diferente? Fitou as luvas protegendo as mãos que foram tão machucadas.
Ouvia a voz forte, rouca...
Os olhares se encontraram... E pareceu que só existia elas naquele lugar...
Os olhos negros pareciam perdidos nos seus... Viu-a sorrir... Teria sido realmente isso? Não era deboche...
Não era a arrogância da médica que se mostrava naqueles dentes alvos... Seria saudade...? Era aquilo que conseguia ver naquele momento ou estava sendo traı́da por seu próprio coração mais uma vez?
Amei o capítulo!
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