Dolo Ferox -- Capítulo 16
Naquele dia o almoço fora servido no horário costumeiro.
A espaçosa e elegante sala tinha uma mesa de vidro e cadeira de encosto alto e assentos almofadados.
Havia uma variedade de comida sobre ela que seria capaz de servir um batalhão.
As luzes adentravam o ambiente pelas janelas abertas, trazendo a luz para o ambiente elegante e bem decorado.
A empregada servia tudo em silêncio, enquanto a morena lhe dirigia um simpático sorriso de agradecimento.
Tomou um pouco de água, enquanto colocava pequenas porções em seu prato.
Ultimamente vinha fazendo as refeições em seu quarto, mas estava se sentindo sufocada entre aquelas quatro paredes. Literalmente a sensação que estava vivendo presa se sobressaia a qualquer outra. Desde que ficara sabendo toda a verdade, a vigilância fora redobrada e havia sempre dois seguranças do lado de fora da porta da cobertura, também não podia se aproximar mais do telefone, tampouco da internet. Pelo menos ainda podia pegar os livros da biblioteca, o que a distraia bastante.
Ouviu passos na escada.
Levantou a cabeça, mirando a direção dos sons.
Já estava acostumada a fazer as refeições sozinhas e por isso ficou surpresa ao perceber que a ruiva não tinha saído ou que estava por ali. Há dias não se encontravam e desejou que tivesse permanecido assim por mais mil séculos.
Viu-a descer as escadas. Estava usando roupão preto e uma chinelo de dedo nos pés.
Sentiu o cheiro pós banho invadir o ambiente.
Voltou a atenção para os pratos, pois a aproximação da arquiteta a desconsertava sempre.
Natasha aproximou-se sentando-se.
-- Que cheiro gostoso… Estou faminta!
A empregada se aproximou, servindo-a diante do olhar perscrutador da circense que tentava disfarçar a todo custo o interesse.
O melhor seria levantar daquela cadeira e seguir de volta ao quarto, porém sabia que aquilo não funcionaria, então o melhor a fazer seria comer e ignorá-la.
Quando ficaram sozinhas, vez e outra sentia o olhar da ruiva cair sobre si. Senti-o, sabia que estava sendo analisada também.
-- O que você quer? -- Indagou cheia de irritação.
A neta desprezada de Isadora arqueou a sobrancelha esquerda em interrogação. Encheu a taça de vinho e depois voltou a fitá-la.
-- Não tem família?
A voz rouca e baixa questionou, enquanto levava o garfo à boca com o alimento.
A jovem a encarou por alguns segundos, mastigando lentamente, depois colocou os talheres ao lado do prato.
Observava o vinco entre as sobrancelhas avermelhadas.
-- Por que a pergunta? O que te interessa a minha vida?
-- Porque estou curiosa! -- Disse dando de ombros. -- É errado? Estamos almoçando juntas, então estou querendo ser sociável e agradável.
A circense mordiscou o lábio inferior demoradamente, parecia ponderar diante daquelas palavras e não dava sinais de estar acreditando, porém talvez fosse melhor não começar uma briga naquele momento.
Soltou um longo suspiro!
Não costumava falar de si, não se sentia bem, mas estava cansada de pelejar e já que era uma conversa trivial, o melhor era agir naturalmente.
-- Minha mãe morreu quando eu saia da infância. -- Disse com pesar.
Ainda recordava da mulher que a criou com tanto amor, de como era bela e como passava os dias e noites trabalhando para lhe dar sempre o melhor. Fora aquele o maior golpe que recebera na vida, fazendo-a se retrair, temendo perder os que amavam.
A ruiva mirava os olhos negros e via a dor neles.
Fitou a própria comida por alguns segundos. Lembrou-se da própria mãe e de como nunca tivera a chance de se aproximar de uma imagem dela. Nem mesmo sabia como era a genitora.
Meneou a cabeça para se livrar dos pensamentos que costumava deixar bem escondido em seu interior.
-- E você foi viver no circo depois disso? -- Questionou voltando a encará-la.
A morena negou com um gesto, tomando um pouco de água.
-- Primeiro me levaram para uma instituição onde se acolhia órfãos… Passei alguns meses e fugi. Fui morar na rua, virava-me de todo jeito, então um dia conheci o Pepi.
Natasha cortou um pedaço de carne, levando-a à boca.
-- Por isso gosta tanto dele… -- Disse pensativa. -- Quando tudo isso passar pretende fazer o quê? Vai voltar a voar pelos ares? Ser palhaça ou dançar para todos aqueles homens?
Os olhos negros pareciam confusos com o questionamento.
-- De que falas?
-- De tudo, afinal, assim que minha amada irmã aparecer, vamos esclarecer tudo e você estará livre para viver a sua vida… Ou dependendo da sua participação em tudo isso, pode ter um futuro castigante…
Os olhos negros se estreitaram em indignação.
-- Eu vou ter um filho e minha vida será pensada a partir dele! -- Disse levantando-se.
-- O filho que espera é meu… -- Falou calmamente.
-- Ainda não há provas disso!
A Valerie esboçou um sorriso, enquanto lhe apontava a cadeira.
-- Sente-se, ainda não acabamos a refeição… Sua companhia é agradável quando não está querendo arrancar pedaços da minha face.
-- Eu já acabei, senhorita.
Quando a morena passava por si, Natasha levantou, detendo-a pela mão.
-- Gostou do vestido? -- Indagou, encarando-a.
Valentina observou os dedos longos e unhas bem feitas pintadas na cor vermelha. Voltou a fitá-la e o fez de forma desafiadora.
-- Na verdade nem perdi tempo com isso!
Natasha esboçou um sorriso cujo o humor não parecia estar presente.
-- Eu quem o escolhi e tenho certeza que vai ficar lindo em você… A sua barriga ainda não aparece...Mas logo todos saberão que há um herdeiro da Valerie dentro de ti.
A trapezista sentiu um arrepio na espinha ao pensar naquilo. Um filho dela dentro de si. Teria também aquele ar tão arrogante?
-- Não esqueça do nosso compromisso… -- Arrumou-lhe uma mecha por trás da orelha. -- Vamos ao baile da aristocracia e depois te trago para casa como uma dama que sou.
-- Por que não leva a sua amante? -- Livrou-se do toque. -- Tenho certeza de que ela vai se sentir muito feliz em sua companhia… Aproveite enquanto ainda se passa pela Nathália… Depois talvez não consiga mais...
Mais uma vez o sorriso alvo brincou na face da arquiteta, ela parecia examinar aquele olhar desafiador que parecia gostar de guerrear consigo.
-- Ela vai estar lá, palhacinha, mas meu encontro com ela vai ser às escondidas… por exemplo, ela me chama pra retocar a maquiagem e aproveitamos dentro de um dos luxuosos banheiro mansão. -- Piscou ousada.
Valentina observou o humor debochado brilhar nos olhos verdes. Sabia que estava sendo provocada, mas o pior de tudo aquilo é que a ideia de imaginar mais uma vez a ruiva nos braços da loira lhe incomodava.
Respirou fundo, tentando manter a tranquilidade e se enganar que sua única preocupação era com a Nathália e com seu retorno.
-- Faça bom proveito, gêmea falsificada!
O som rouco do riso da empresária ecoava pela sala, os olhos se estreitaram, a face ficou ainda mais corada, enquanto lagrimava de tanto rir.
A trapezista sentia a raiva ficar ainda maior quando girou nos calcanhares, quase bateu de frente com a empregada que chegava com o telefone.
-- A senhorita Rebeka deseja lhe falar! -- A serviçal disse.
A morena pareceu ainda mais irritada quando seguiu em direção as escadas, pisando tão duro que seria possível afundar o assoalho.
Helena estacionou o carro diante do prédio de luxo onde Natasha morava.
Ficou durante alguns segundos segurando a direção, enquanto observava a construção espelhada.
Pegou o celular e viu as mensagens de Leonardo. Ele tinha mandado o rapaz para fazer a entrega, porém a mulher acabou por dispensá-lo.
Sabia que deveria ter mandado as jóias pelo mensageiro, porém preferiu ela mesma executar aquela ação, mesmo correndo o risco de arrumar problemas com a Valerie.
Conhecia muito bem a arquiteta, conhecia-a o suficiente para saber que não agradaria nenhum tipo de intromissão, mas diante de tudo o que ouvia do marido, percebia que era injusto o modo como estava sendo vista a ruiva pela moça do circo, mesmo tendo sido contra aquela farsa toda, sentia-se na obrigação de ajudar.
Deixou o veículo, seguindo para o interior do edifício.
Ao chegar a recepção, percebeu como a segurança tinha sido redobrada, tudo para evitar a aproximação de Isadora e a amada neta.
Parou diante da porta e logo a empregada atendeu.
-- Boa tarde, senhora! -- A moça cumprimentou com um gentil sorriso.
-- Querida, boa tarde, eu preciso falar com a Valentina. -- Disse já entrando. -- sei que a Nathália saiu para resolver uns problemas e aproveitei para vim até aqui.
A mais jovem assentiu.
-- Ela está no quarto. Deseja que a chame?
-- Não, eu mesma irei até lá! -- Olhou para a escada em caracol.
-- O primeiro quarto à esquerda. -- Informou.
-- Certo! -- Caminhou um pouco, apoiando-se no corrimão, virou-se para a serviçal. -- Não quero que fale isso nem pro meu marido nem para sua patroa.
A jovem assentiu, enquanto a esposa de Leonardo ia até o destino.
Valentina olhava com desgosto pro vestido que estava dentro do closet.
O tecido de seda dourado chegava aos joelhos. Era composto de cima abaixo por botões frontais de pérolas, não tinha alças e se ajustava ao corpo como uma segunda pele. Pelo menos havia um casaco que vestia por cima e se igualava ao seu cumprimento. Não o tiraria, ainda mais para não expor o decote. Os seios estavam maiores e mesmo que a barriga ainda não estivesse às vistas, o busto se sobressaia.
Colocou as mãos na cintura, enquanto respirava fundo.
Poderia ter se negado a ir ou poderia armar um escândalo diante da alta sociedade e desmascarar de uma vez por todas aquela cópia de quinta categoria, mas sabia que haveria riscos quanto a isso.
Natasha não verbalizara as ameaças, mas ela conhecia bem cada uma delas e a que mais a preocupava era que o bebê fosse tirado de si.
Sentou pesadamente sobre a cama.
Por que Nathália usara os genes da irmã para uma inseminação?
Onde ela estaria?
Cobriu o rosto com as mãos.
Sentia-se culpada por aquela pergunta não ser a preocupação que deveria ter o tempo todo… Mesmo que continuasse a desejar que ela retornasse e esclarecesse de uma vez por todas aquelas perguntas que a atormentavam a alma.
Ouviu batidas na porta, levantou-se e seguiu até ela para abrir. Tinha fechado na chave para evitar a incômoda visita da ruiva.
Ao abri-la, deparou-se com uma mulher de sorriso simpático. Deveria ter um pouco mais de sessenta anos. Era um pouco baixa, mas o corpo era proporcional a estatura, nem gorda, tampouco magra. Os cabelos estavam de um loiro escuro estavam amarrados no alto da cabeça num penteado sofisticado. O sorriso brincava fácil em seus lábios.
-- Boa tarde, meu bem! -- Disse ainda parada na porta. -- Sou Helena Antonini, esposa de Leonardo. -- Estendeu-lhe a mão em cumprimento.
A trapezista estreitou os olhos desconfiada, mas acabou aceitando o cumprimento.
-- O que a senhora deseja?
-- Posso entrar?
A morena pareceu ponderar por alguns segundos, mas por fim assentiu, enquanto abria caminho para ela e em seguida fechava a porta.
-- A Natasha pediu ao meu marido para trazer um colar para que você usasse no baile de hoje. -- Retirou da bolsa uma caixa retangular de veludo preta. -- ele não pôde vim, então resolvi fazer isso. -- Estendeu-lhe.
Valentina suspirou alto, mirando o que lhe era oferecido.
Era o que faltava! Uma coleira!
-- Não quero, agradeço a atenção, mas já não basta está indo a essa festa obrigada, ainda tenho que me enfeitar como árvore de Natal para agradar a Valerie?
Helena nada disse de imediato, apenas a observava, percebendo que havia algo mais por trás de toda aquela indignação.
Era uma bela jovem, não havia dúvidas e com certeza parecia ter mais caráter que a maioria que a Nathália se envolvera.
-- Eu entendo sua raiva, mas não acredito que a Nath a mereça.
A circense relanceou os olhos em pura irritação. Então fora aquele o motivo da mulher está ali, mas alguém para defendê-la.
-- Decerto, ela a mandou aqui para uma nova tese de defesa. Só aviso que está perdendo seu tempo, senhora. -- Deu-lhe as costas seguindo até a janela, mirando a rua.
A senhora Antonini entendia a indignação da jovem. Qualquer uma no lugar dela reagiria daquele jeito, mas não achava justo que a arquiteta fosse tão apedrejada.
Fitou as costas da morena.
-- Esse tempo que você convive com a Natasha, acredito que já percebeu como é forte a personalidade dela… achas que ela pediria para alguém interceder junto a ti?
A jovem permaneceu calada, tentava controlar a respiração.
Realmente a arrogância dela era gigantesca para fazer algo daquele tipo!
-- Querida, a Nath foi acusada injustamente pela morte da esposa e não esboçara uma única reação…
Valentina cerrou os dentes.
Recordava de Isadora falar que a arquiteta matara a mulher.
Apertou forte o batente da janela, sentindo dores nos dedos.
Seria aquilo verdade?
-- Aquela ruiva que você convive e que parece não exibir sentimentos fora criada assim… sozinha… Aprendera muito nova a não esperar nada de ninguém… fosse das freiras que a criaram com tanta frieza, como da avó que a desprezera desde o nascimento. -- Deu uma pausa, retomando a palavra. -- Eu entendo a seu descontentamento, compreendo, mas se o papel que você desempenha nessa história é difícil… Imagina o da Natasha que não tinha conhecimento de nada.
Valentina permaneceu calada, parecia completamente indiferente ao que era dito, mas em seu íntimo ela estava a pensar sobre tudo.
Sentiu uma enorme curiosidade de perguntar coisas sobre a mulher tão intrigante que a deixava tão furiosa na maioria das vezes, mas acabou por ignorar essa vontade, pois temia ouvir mais mentiras.
-- Bem, querida, sei que você é uma jovem inteligente e não demorará para achar a verdade de toda essa história.
A garota se virou e viu a senhora se afastar com um sorriso simpático, deixando-a sozinha.
Mirou a caixa que fora deixada sobre a cama e desejou jogar dentro do lixo.
Seguiu até o leito, deitando-se!
Às vezes só queria dormir e poder acordar daquele pesadelo que tinha se tornado sua vida.
Já era noite quando Natasha chegou ao apartamento.
Subiu diretamente para o quarto.
Observou sobre a cama o vestido passado e os sapatos que usaria naquela noite.
Soltou um longo suspiro, enquanto sentava no leito. Livrou-se da calça e lá estava o aparelho que usou depois de uma sessão demorada com a fisioterapeuta.
Começou a desencaixar as fivelas e logo a perna estava livre.
Terminou de se despir e seguiu até o banheiro.
A hidromassagem estava pronta para ser usada e ela seguiu delicadamente para o interior da banheira de porcelana branca.
Fechou os olhos ao contato com o líquido de aroma floral.
Inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos, respirando lentamente.
Saíra logo após o almoço. Tivera que resolver uns problemas e depois foi ao encontro de Rebeka.
A loira se mostrou ainda mais irritada por não ser ela a acompanhante da ruiva no baile.
Torceu a boca em desagrado.
Deixara a bela mulher reclamando e retornou para casa. Imaginou que o encontro lhe renderia algo proveitoso, mas a outra exibia uma possessividade irritante que a deixava sem paciência.
Pegou a esponja e começou a passar no pescoço.
Não estava nem um pouco entusiasmada para participar daquela festa, mas o faria para satisfazer a vontade do detetive que insistia que aquilo era preciso.
Começou a esfregar os seios e seus pensamentos seguiram até alguém que passara todo o dia a evitar.
E se a trapezista fizesse um escândalo e contasse a todos a verdade?
Era um risco grande e que ela pagaria caro se ousasse fazer.
Quando a esponja tocou os seios, sentiu-os eriçarem dolorosamente.
Umedeceu o lábio inferior demoradamente e teve a impressão que estava com a boca dela colada a sua. Estava com saudades dos beijos trocados, mesmo que começassem sempre com uma guerra.
Não podia negar que a desejava, que seu corpo sucumbia a vontade de tomá-la para si e ver aquele ar tão rebelde sendo domado por suas carícias. Tocaria-a de todas as formas imagináveis e inimagináveis…
Lembrou-se da irmã e ficou a pensar se em algum momento ela sentira o mesmo pela circense.
Cerrou os dentes.
Por que a incomodava tanto pensar nas duas juntas?
Valentina era mais uma peça naquele jogo difícil, partida que sairia vencedora, independente do que teria que pagar por isso.
Teria de recordar que teria um filho e de forma alguma, deixaria que o bebê ficasse com a irmã e com a amante.
Jogou a esponja longe, enquanto se levantava para terminar o banho debaixo do chuveiro e de preferência com uma água bem gelada para conter toda aquela excitação.
Valentina estava diante do espelho e por um momento não se reconhecia.
A maquiagem usada era leve, mas fizera com muito cuidado. Realçando os olhos grandes e puxados. Retocando a cor dos lábios, mas nada muito chamativo. A sombra azul nos olhos lhe dava um ar mais sexy. Porém o que a estava deixando intrigada era o vestido que estava usando.
Teve a impressão que estava com uma segunda pele.
Fitou os seios que se sobressaiam, deixando a vista alguns sinais que adornavam seu colo. O quadril arredondado, a barriga que quase nada ainda se via da gravidez e as longas pernas de fora, coberta por uma fina meia da cor da própria pele.
Apoiou as mãos na penteadeira, mirando-se demoradamente e pensando se aquele traje realmente era adequado para a ocasião.
Por que aceitara ir a um lugar que não deseja? Talvez porque intimamente quisesse torturar a irmã gêmea da Nathália, talvez desejasse fazê-la pensar que a denunciaria para todos… Mas teria coragem de fazê-lo?
Ouviu a porta abrir e já sabia de quem se tratava com aqueles modos de realeza falida.
Não se virou, pois sentiu o cheiro dela. Sabia quem estava ali, sentiu o costumeiro arrepio na nuca.
Continuo a fitar o próprio reflexo até seus olhos se depararem com os verdes tão intensos.
Ficou boquiaberta e ver a beleza da ruiva em um vestido preto que contrastava com o tom da pele. As alças finas adornava um profundo decote em V. Ele era justo até a cintura, mas nos quadris era solto, chegando aos joelhos.
Viu o cinto dourado cravejado de pérolas que utilizava…
Voltou a encará-la.
Como um ser humano poderia ser tão lindo e diabólico ao mesmo tempo?
Os cabelos flamejantes estavam soltos, as pontas tinham sido cacheadas. Observou os lábios tão vermelhos…
Perdeu o fôlego.
Natasha parecia ainda mais encantada diante da trapezista.
Deu alguns passos para frente, parando as suas costas.
-- Vai ser a mulher mais bela daquele festa… -- Falou baixinho.
Valentina desviou o olhar, pois sentia-se hipnotizada. Por que a presença dela era tão perturbadora?
Teve a impressão que uma corrente elétrica passava por sua espinha.
-- Não quero ir! -- Disse com a voz trêmula. -- Deixe-me ficar aqui… -- Pediu sem fôlego.
A arquiteta colocou ambas as mãos em seu quadril, trazendo-a para mais perto de si. Colou-se a ela, aspirando o delicioso aroma.
Sentiu o desejo de tocá-la parecer ainda maior naquele momento. Dia após dia era como se estivesse a lidar com uma tortura que lhe queimava a alma sempre que a tinha por perto.
-- Vai ser apenas uma noite… Não vai durar para sempre, então apenas aproveite. -- Sussurrava.
A circense fitou as mãos de unhas bem feitas em seu corpo e se sentiu sufocada pelo cheiro dela. Sentia-se atraída da mesma forma que a abelha pelo mel… Havia uma atmosfera que lhe borrava a visão e os sentidos, como se não houvesse nada em todo o mundo a não ser ela.
Os olhos negros voltaram a focar nos profundos e estreitos verdes. Analisava-os.
Via ali o desejo naquele rosto tão bonito e idêntico ao de Nathália, porém que expressava emoções tão distintas.
-- E se eu falar que irei falar pra todo mundo que você é na verdade a Valerie… -- Mordeu o lábio inferior ao sentir o toque na lateral dos seios. -- Que é uma impostora!
A arquiteta apertou o colo, amassando-os sobre o tecido. Sentiu as nádegas bem feitas e redondas fundida a si e desejou se livrar das roupas para senti-la melhor.
-- Fale… Grite para todos isso, realize sua vontade de expor a verdade, não se limite... Porém depois do seu feito, te possuirei de todas as formas, te devorarei de um jeito que nunca pensou ser possível… -- Afastou-lhe os cabelos da lateral do pescoço, depositando um beijo delicado. -- A sorte está lançada, minha linda palhacinha!
Valentina sentiu o corpo estremecer, enquanto se afastava, mirando-a de frente.
As bochechas estavam tão rosadas e os olhos tão abertos que parecia a estar a ver um fantasma.
Sentiu uma parte secreta do seu desejo latejar diante da ameaça.
Natasha exibiu um riso de canto de boca, enquanto se aproximava da penteadeira e retocava o penteado.
As bochechas estavam da cor dos cabelos.
Observou a trapezista parada e lhe olhando com aquele ar inquisidor.
Suspirou cheia de paixão.
Fitou o estojo de veludo preto, abriu e viu a joia.
-- Use-o! -- Ordenou.
-- Não o farei, não o quero! -- Cruzou os braços sobre os seios.
-- Não seja boba, se você usar poderá disfarçar esse decote! -- Disse com desdém.
-- Não tenho culpa se você me arrumou um vestido de vagabunda!
A ruiva exibiu um sorriso misterioso.
-- Esse traje faz parte da mais alta costura de Paris, então você deveria estar grata por isso.
-- Grata? -- Indagou com perplexidade. -- Eu estaria agradecida se não tivesse que te ver novamente. Por que não somes da minha vida de uma vez por todas? Seria tudo diferente se fosse a Nathália a estar aqui… Eu estaria radiante por acompanhá-la a qualquer lugar.
O maxilar da Valerie se retesou, enquanto uma máscara de arrogância assumia o lugar que já era sempre usado.
Virou-se para ela, praticamente jogando a caixa de veludo contra o colo da jovem.
-- Use antes que eu perca a minha paciência e te compre uma mordaça, assim fica caladinha! -- Afastou-se. -- Você tem cinco minutos para me encontrar no hall.
Valentina nada disse enquanto via a bela ruiva deixar os aposentos.
Odiava aquela prepotência e orgulho exacerbado, irritava-se quando ela exibia aquele ar cheio de superioridade, mesmo estando naquela posição de desvantagem.
Desejou poder falar a todos a verdade, assim estaria livre de toda aquela história, porém temia o que ela poderia fazer.
Viu a joia, mas não a colocou de imediato.Observou-a com cuidado e viu a pérola negra solitária que repousava.
Colocou-o no pescoço, tentando adiar a briga por enquanto.
Terminou de se arrumar, pegou a bolsa e deixou o quarto.
Natasha seguiu até o carro, encostando-se a ele com os braços cruzados.
Sentia a respiração acelerada devido a raiva que estava sentindo.
Às vezes tinha um desejo insano de fazer a maldita palhaça de circo pagar caro por sua petulância, assim, ela aprenderia quem mandava naquela história. Porém em outros momentos a queria com uma força tão superior que temia perder o controle das próprias emoções.
Viu o motorista abrir a porta para si e decidiu entrar.
Olhou o relógio e viu que a morena estava atrasada, mas não demorou a ver a jovem aparecer no estacionamento.
Virou a face, evitando algum tipo de contato com ela.
Estava irritada.
Valentina observava o perfil inflexível.
Viu o espaço que tinha entre elas. Conseguia ouvir a respiração lenta e o cheiro marcante que lhe dava vontade de chegar mais perto e ao mesmo tempo estrangular o belo pescoço.
Suspirou, fechando os olhos, desejando que aquela noite terminasse o mais rápido possível.
A mansão branca que contava três andares estava cheia de convidados ilustres.
Os grandes portões de ferro foram abertos e o caminho longo até o lugar onde a festa acontecia era adornado por grandes palmeiras imperiais.
Valentina observava tudo com olhar estupefato. Só em filmes tinha visto algo tão bonito.
O motorista estacionou e logo homens vestidos de brancos se aproximaram, abrindo a porta do carro e recepcionando as convidadas.
A trapezista esboçou um delicado sorriso, enquanto a arquiteta permanecia impassível.
Na grama verde havia mesas distribuídas com um verdadeiro banquete.
Luzes iluminavam o espaço.
Uma pista de dança fora montada e uma orquestra tocava maravilhosamente.
As pessoas usavam trajes pomposos, exibiam sorrisos delicados e gestos sutis.
Isadora estava ao lado de Nícolas. Até mesmo o conde Patrício estava presente. Ele se mantinha cabisbaixo e ignorava toda a conversa ao redor.
Alguns burburinhos podiam ser ouvido quando todos fitaram as convidadas que tinham acabado de chegar.
Valentina sentia-se trêmula diante de todos aqueles olhares dirigidos a si. Claro que deviam saber que ela não fazia parte daquele mundo tão sofisticado.
Surpreendeu-se ao sentir a mão de Natasha tocar a sua. O tato era quente, reconfortante.
Olhou-a de soslaio, surpresa, pois enquanto estavam vindo não trocaram uma única palavra, apenas via o olhar frio da ruiva.
-- Essa é aristocracia que sua amada Nathália faz parte. -- Sussurrou, enquanto sorria para todos. -- Ela brilharia se estivesse ao seu lado hoje.
A morena lhe fitou os olhos que não demonstravam nenhuma emoção.
-- E você não? Não é o seu mundo? -- A circense indagou mirando o perfil forte.
Viu o olhar dela focar em si e sentiu aquela velha emoção lhe dominar os sentidos.
-- Essa é a primeira vez que venho a uma recepção dessas, palhacinha de circo.
Os olhos negros traziam total espanto.
-- Como assim? Você é a neta de uma duquesa, deve ter crescido como a Nathália, frequentando esses bailes.
A arquiteta deu de ombros e viu quando os anfitriões vieram lhe cumprimentar.
-- Bela Hanminton, que honra a sua presença!
Um homem bem vestido, aparentando uns setenta anos, com trajes elegantes veio ao seu encontro com a esposa.
A Valerie o conhecia.
Era um grande empresário. Tinha intimidade com Leonardo, pois frequentaram a mesma universidade.
-- Eu que estou grata pelo convite! -- Disse sorridente. -- Gostaria de lhe apresentar Valentina Rodrigues!
O homem olhou a jovem encantado, analisando-a, talvez buscando saber a qual árvore da nobreza ela pertencia..
Delicadamente tomou a mão levando-a aos lábios.
-- Uma bela senhorita! -- Disse de forma cavalheira. -- Seja bem-vinda e aproveite, pois a noite é uma criança birrenta...
Continuaram a conversa, enquanto Nícolas e Isadora observavam tudo.
O irmão de Verônica olhava perplexo para a morena que estava de mãos dadas com a neta da duquesa. Parecia estar vendo um fantasma.
Levantou-se, porém a mais velha lhe segurou a mão.
-- Ainda não é hora de confrontarmos a Valerie. -- Sussurrou-lhe. -- Estou armando o momento certo.
Os olhos do homem demonstrava total confusão.
-- Quem é a garota que está com ela? -- Indagou ansioso. -- De quem se trata?
A lady o encarou e ficou a pensar se ele tinha reconhecido a jovem. Aquilo não seria bom para o plano. Decerto o distrairia do intuito original.
-- Aquela moça é a namorada da minha neta, mas essa desgraçada está a enganando, a miserável que matou a sua irmã e que temos que fazê-la pagar, não esqueça disso.
Nícolas ouvia o que era dito, porém olhava perplexo para a bela moça.
Depois de algum tempo de conversa, Natasha seguiu até a mesa onde estava a avó.
-- Boa noite! -- Cumprimentou a todos e fitou a duquesa com cinismo. -- Olá, vovozinha, que prazer encontrá-la por aqui!
Todos na mesa sorriram em simpatia para as recém-chegadas.
Isadora torceu a boca em desagrado. Não havia dúvidas que não estava a lidar com a neta preferida.
As duas mulheres se acomodaram.
As conversas corriam soltas, enquanto a orquestra tocava jazz.
Comentavam sobre tudo, sobre negócios, moda e política. A arquiteta se mantinha quieta, agia o tempo todo com futilidades, pois sabia que se agisse de outra forma, poderia se entregar.
Vez e outra seu olhar recaia sobre o conde e seu filho. Vê-los trazia lembranças da esposa e de tudo que passaram.
Levou a taça aos lábios bebendo lentamente. Percebia o olhar de Nícolas sobre a trapezista e isso a deixou intrigada.
Tomou um pouco de vinho e ao cruzar as pernas, sentiu-a tocar a da circense.
Maldição! -- Praguejou internamente.
A morena lhe encarou com a sobrancelha esquerda arqueada.
Antes que Natasha pudesse falar algo, viu a avó aproveitar o lugar que desocupou ao lado da circense para sentar.
Dirigiu um olhar de advertência a acompanhante que apenas deu de ombros com um olhar triunfante.
-- Querida, como você está? -- Isadora lhe tomou as mãos nas suas. -- Imagino que esteja cada vez pior ao lado desse monstro.
A música alta fazia com que a lady lhe falasse bem perto.
Valentina esboçou um meio sorriso, tentando manter a tranquilidade, pois já sentiu a ameaça da Valerie sobre si.
-- Estou bem, duquesa! -- Disse com um sorriso meigo.
A mais velha deu um sinal para Nícolas conversar com Natasha e quando isso aconteceu, começou a colocar o plano que vinha arquitetando em prática.
-- Hoje teremos a prova de que essa maldita não é a Nathália. -- Dizia cheia de raiva. -- Chame-a para dançar, eu mesma incentivarei e você insistirá se for preciso, quero que tire sua prova para que possa me ajudar.
Os olhos negros se estreitaram em confusão.
-- A Natasha não dança devido ao problema na perna e também nunca aprendeu, afinal, não faz parte da nobreza. -- Esboçou um sorriso cruel. -- Você vai descobrir que não está lidando com a minha neta querida… Filha, você está lidando com um verdadeiro demônio, digo isso porque a vi nascer e a maldição que carrega por todos esses anos...
A circense ouvia o que era dito e ficava a pensar como aquela mulher agia como se a ruiva não fosse seu sangue também.
Qual pecado a ruiva cometeu para ser tão odiada pela própria avó?
-- Se ela for àquela pista de dança todos saberão a verdade… -- Esboçou um sorriso maligno. -- Então ela será desmascarada e a Nathália voltará para nossa vida, ficará ao seu lado e junto com o seu filho. -- Tocou-lhe o ventre.
Valentina nem teve tempo de responder, pois a duquesa já voltava a ocupar o lugar ao lado do conde.
A morena suspirou lentamente e quando voltou a mirar a acompanhante, ela não estava mais ao seu lado. Ao inclinar a cabeça para trás viu a Valerie conversando praticamente colada à loira.
As duas mulheres sorriam, enquanto falavam ao pé do ouvido.
Voltou a fitar as pessoas presentes na grande mesa, tentando dissipar a raiva que voltava a sentir.
O que a oxigenada sentiria ao descobrir que estava indo para a cama com a mulher errada? -- Esse pensamento martelava o cérebro da trapezista.
Com certeza ficaria indignada ou quem sabe não…
Decerto devia gostar da selvageria que a usurpadora exibia… Será que não sentia a diferença?
Tomou um pouco do líquido que estava na taça.
Eram tão opostas quanto a chuva e o sol…
Quem provara a delicadeza de Nathália não confundiria com a brutalidade daquela mulher.
Voltou a inclinar a cabeça e observou que ambas tinham sumido.
Cerrou os punhos sob a mesa, desejando mais uma vez gritar a verdade para todos.
Desgraçada!
Odiava-a, desejava fazê-la sofrer, machucá-la, feri-la por tudo o que estava a fazer em sua vida, em suas emoções...
Sentiu uma mão em seu ombro, virando a cabeça e lá estava a mulher que fora lhe ver mais cedo.
-- Olá, querida! -- Cumprimentou-a com um sorriso. -- Está tudo bem?
Valentina se levantou e respondeu ao cumprimento.
-- Olá, senhora Helena!
-- Apenas me chame de Helena, meu bem. -- Disse cheia de simpatia. -- Tudo bem? Como está sendo a festa para ti? Está muito bonita, com certeza, deve ter encantado muitos olhos.
-- Na verdade não prestei muita atenção… -- Respondeu enquanto olhava ao redor.
-- Está procurando alguém? -- A senhora Antonini questionou curiosa.
Valentina soltou um longo suspiro.
-- Na verdade gostaria de ir ao banheiro, pode me dizer onde fica?
Helena fez um gesto de assentimento.
-- Te levarei lá.
Ambas saíram enquanto Isadora não perdia um único detalhe daquele encontro e parecia ainda mais desconfiada de tudo.
Valentina seguiu para o interior da mansão com a esposa de Leonardo a lhe guiar.
Quando chegavam em uma grande corredor, viu inúmeras portas.
-- Fica ali, querida! -- Apontou-lhe.
A jovem assentiu caminhando lentamente até lá.
O lugar era enorme. Estava vazio. Um grande espelho tomava toda a parede dos dois lados, enquanto o chão parecia um tabuleiro de xadrez.
Apoiou-se na pia em mármore preto.
Fitou-se demoradamente no espelho e desejou sumir daquele lugar.
Desejava apenas voltar para o circo, para sua vida, para aquelas pessoas que sempre lhe trataram como família.
Que mal cometeu para ser tão castigada?
Viu a porta se abrir e desejou voar sobre Natasha ao vê-la se aproximar.
A ruiva veio até ela e segurou-lhe o braço.
-- Convide-me para dançar para ver se não pagará caro por isso!
Os olhos negros se abriram em espanto.
Fitaram-se por intermináveis segundos. Ambas estavam furiosas.
-- Como sabe disso?
Os dentes alvos se abriram em um sorriso ameaçador.
-- No seu belo colar há uma escuta, ou achas mesmo que me arriscaria a sua vontade? Achas que confio em ti? Achas que confiaria na amante da minha maldita irmã?
Valentina se desvencilhou bruscamente. Apontando-lhe o indicador:
-- Você é uma maldita desgraçada! Agora mesmo eu voltarei para aquela festa e gritarei para todos o que sei, assim quem sabe não apodreces em uma prisão por seus crimes!
A circense se dirigia para a porta, mas Natasha a deteve pelos ombros, pressionando-a forte contra a madeira.
-- Solte-me, sua estúpida! -- Gritou, tentando arranhá-la.
-- Chega disso ou não respondo por mim! -- Segurou-lhe as mãos sobre a cabeça. -- Sim, vamos voltar para a festa e você vai se comportar como uma dama amorosa comigo, será cordata e atenciosa para que não gere burburinhos desnecessários.
A morena estreitou os olhos em fúria.
-- Se deseja alguém para fazer esse papel, vá atrás da sua loira de farmácia, pois eu sou capaz de vomitar se tivesse que assumir esse lugar.
-- Mentirosa! Sei que o seu corpo reage ao meu toque… Posso não ser a duquesinha que você ama, porém sei bem quem eu sou.
A circense observava a presunção naquele olhar e mais ainda, a mesma expressão que viu quando quase fora totalmente tocada no navio. O melhor era apenas se afastar e voltar para junto da multidão, só assim estaria segura.
-- Deixe-me! -- Tentou se soltar novamente.
A ruiva exibiu um sorriso preguiçoso, enquanto negava com um gesto de cabeça.
-- Acho melhor voltarmos, futura duquesa, afinal, há uma nata aristocrática requisitando sua presença. -- Ironizou.
A arquiteta arqueou a sobrancelha esquerda em deboche, enquanto passava a mão por sua face, descendo até o colo. Brincou com os botões diante do olhar afetado da garota.
-- Estão maiores e ainda mais bonitos… -- Introduziu dois dedos pelo decote grosseiramente. -- Diga-me, ainda lembra da sensação da minha boca neles?
Valentina mirava os olhos tão verdes e sentia a inquietação que não lhe abandonava, aquela dualidade entre o querer e o não querer; entre o se entregar e se afastar.
Nunca em sua vida estaria pronta para ela sem sucumbir à fúria e a paixão, mesmo nunca tendo sido passional.
Sentiu a boca seca e inconsciente, umedeceu os lábios com a língua diante do olhar estreitado da bela fêmea que a mantinha cativa.
Sentiu os dedos lhe tocando os mamilos, apertando-os delicadamente.
-- Deixe-me, Natasha… -- Pediu com a voz rouca. -- Prometo me comportar na festa… -- Disse em desespero.
A arquiteta aproximou os lábios dos dela, praticamente colando-os.
-- Sim, eu gosto do meu nome sendo pronunciado por ti…
Os olhos negros focaram nos verdes e viu-os brilhar como duas esmeraldas raras.
Sabia que deveria rechaçá-la, mas quando viu a boca vindo em direção a sua, apenas a acolheu em um beijo cheio de paixão e saudade.
A arquiteta tomou-lhe os braços, circundando-lhe o próprio pescoço.
Colou-se a ela, enquanto sentia a língua da jovem se encontrar com a sua. O delicioso sabor daqueles lábios era uma distração grande para as suas preocupações.
Gemeu baixinho ao senti-la mordiscar sua língua… Sentia os dentes morder seus lábios e adorou a sensação.
Abraçou-a pela cintura, pressionando-a contra si.
Valentina sentia aquele névoa que lhe entontecia os sentidos. Beijava-a com fúria, chupava-a com sofreguidão, desejando de uma vez por todas matar aquele desejo que crescia dentro de si a cada dia mais, quem sabe assim pudesse ter paz ao final de tudo aquilo.
Natasha a conduziu lentamente até a elegante pia de mármore, pressionando-a contra ela, moldando os corpos em perfeição. Esfregou-se a jovem… Desejando tomá-la para si naquele momento e se livrar daquele fogo que ardia em seu interior.
Sentou-a sobre a pedra negra, sem lhe abandonar os lábios. Lentamente, abriu os botões do vestido até a cintura, deixando a mostra os seios redondos.
A morena reclamou quando o beijo em seus lábios cessou, mas gemeu alto ao contato da língua a circundar seu mamilo esquerdo.
Os olhos verdes não abandonavam sua face, enquanto brincava com a auréola e logo abocanhava todo, chupando em uma controlada ânsia que seguia entre o delicado ao ríspido… A língua incitava-os sem trégua e logo voltava a mamá-los.
Valentina inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos, enquanto dava maior acesso ao colo.
-- Ain...
O corpo estava em brasas e tinha a impressão que não havia forças para resistir àquele intenso desejo.
A Valerie afagava o seio com a mão, amassando-o, apertando-o e logo descia até as coxas, afagando-as sobre a meia.
-- São lindos…
A trapezista mordiscou o lábio inferior, sentia a face corar. Ardiam em brasas...
Natasha esboçou um sorriso.
Tinha ido até ali de forma planejada. Deixara Helena na porta para que ninguém se aproximasse, enquanto usava da sedução para a circense. Não confiava nela e desde que ouvira o plano escroto de Isadora, ficara possessa, pois pensara que Valentina se negaria, mas a moça ficou a ponderar e isso era algo perigoso.
Sem abandonar os seios, abriu o resto dos botões, deparando-se com uma minúscula calcinha.
Cerrou os dentes!
Não podia sucumbir ao desejo, apenas deveria subjugar a bela moça, assim a manteria cativa de si.
Valentina sentiu o toque sobre o tecido da lingerie e com o olhar estrangulado seguia os movimentos dos dedos sobre o tecido delicado. Algo começou alarmar em sua cabeça, deteve-lhe o toque.
Natasha a encarou e via nos olhos negros a agonia.
Sim, sabia que ela a queria, sabia como enlouquecê-la e isso era uma arma que usaria naquele momento.
-- Não podemos… -- A trapezista tentou sair, mas foi detida.
-- Calma… -- Segurou-lhe a nuca, trazendo-a para mais perto de si. -- Não irei deflorar sua pureza… Apenas desejo aliviar a tensão… Quero te aliviar...
Antes que a jovem voltasse a protestar, a ruiva tomou mais a uma vez a boca na sua.
Valentina fechou os olhos, perdida naquele sabor de vinho envelhecido da aristocracia e primitividade dos primeiros habitantes da terra…
Natasha voltou a lhe afagar as coxas, enquanto sentia a boca de garota lhe chupar a língua com avidez. Não havia delicadeza na carícia, apenas a vontade que as dominavam.
Os dedos voltaram a tocar ao tecido de seda. Pressionou mais e a ouviu abafar um gemido contra os seus lábios.
Baixou a peça até os calcanhares.
Estremeceu ao sentir a pele delicada do sexo. Usou o polegar para incitá-la… Estava molhada, liguenta, escorregadia… Lisa…
A jovem Rodrigues colocou a mão sobre a dela, detendo-lhe o acesso.
Encararam-se por intermináveis segundos. Era possível ver o temor na face da trapezista, mas também havia a paixão.
-- Prometo que só haverá prazer… -- Disse contra a boca dela, voltando a beijá-la.
A arquiteta sentia a vontade que buscava dominar sair do controle. Em seu cérebro repetia a si mesma que nada daquilo lhe interessava, que não se importava se estava ali a Rebeka, a Valentina ou outra qualquer, pois aquele era mais meio para chegar ao fim que desejava, porém seu desejo começava a ser torturante…
A circense gemeu contra sua boca, interrompendo o beijo, afastou um pouco a cabeça para assim poder encará-la. Os olhos negros brilhavam com uma intensidade nunca vista antes.
Baixou a cabeça curiosa e viu os dedos longos lhe inspecionarem.
Sentia os movimentos em seu sexo e teve a impressão que morreria de tanto prazer se ela continuasse…
Tentou balbuciar algo, mas havia algo travando sua fala.
Os olhos verdes lhe sustentavam o olhar…
-- Abra um pouco mais… -- Pediu.
Valentina parecia hipnotizada pelos movimentos e de forma inconsciente fez o que fora dito.
Observava tudo com olhar cheio de prazer... Via as carícias aumentarem... Viu-a fazendo-a com os nós dos dedos, enquanto continuava a mirá-la.
-- Diga-me se gosta disso... -- Natasha pediu, enquanto usava um pouco mais de força.
A jovem engoliu em seco e com um gesto de cabeça assentiu.
A arquiteta esboçou um misterioso sorriso.
A Rodrigues já estava pronta a protestar, quando sentiu os lábios pousarem em seu pescoço, mordiscando-o, descendo lentamente por seu colo, enchendo de beijos.
A morena fechou os olhos quando mais uma vez teve os seios devorados. As mãos seguravam na fria pedra de mármore e chegou a ter a impressão que morreria a qualquer momento.
Segurou-lhe a cabeça para mantê-la cativa, enquanto rebolava no ritmo dos dedos em seu sexo…
Sabia que precisava gritar alto para que ela parasse, mas não havia mais forças para aquilo.
Nunca em sua vida imaginara que haveria tanto prazer em um toque como acontecia quando Natasha a tocava.
Sentiu os beijos na barriga e com ansiedade e temor, percebeu-a aproximar das coxas.
Com uma curiosidade crescente, observou-a com os olhos negros estreitados a nova proeza e tentou detê-la, mas a neta de Isadora continuou.
Sentiu-a lamber toda a extremidade da parte interna, mordiscando-as e não demorou muito para chegar a virilha.
Valentina desejou protestar novamente para que parasse, mas havia algo a mais a conduzir naquele momento.
Fitou a porta e ficou a imaginar o que se passaria se alguém entrasse naquele momento e as pegasse em flagrante. Seria um escândalo!
-- Natasha… -- Chamou-a com voz rouca. -- Por favor… eu não aguento mais...
A ruiva a fitou por intermináveis segundos, então colou os lábios em outros ainda mais delicados. Uniu-se a eles em um beijo aterrador e torturante. Sob o olhar assustado da namorada da irmã, usou a língua para tomar para si todo o delicioso líquido que ensopava o pequeno vale desconhecido, sugando-o, bebendo do seu vinho raro.
Lambeu-a do início ao fim... Lambia-a lenta e quando a percebia desesperada, aumentava ainda mais a pressão.
Prendeu a pequena cereja, deliciando-se com ela...
Chupou-a forte.
Valentina inclinou a cabeça para trás gemendo alto... Os olhos negros estavam fechados e ela se apoiava com os braços para não cair.
-- Natasha... -- Chamava-a debilmente. -- Natasha...
A arquiteta sugou cm força...
Esfregou o nariz firme, depois o queixo, lambuzando-se e enlouquecendo a jovem em seus braços...
Abriu-a mais, enquanto levantava a cabeça para mirá-la.
-- Apenas sinta e se aposse da pequena fração do prazer que reservei para ti... Olhe, meu amor, veja quem sou...
Valentina mirou-a e abriu os lábios para falar algo, mas logo sentiu a boca vermelha tão próxima de si.
Viu os olhos verdes não lhe abandonar a face. Sentiu-se corada… Envergonhada… Perdida… Parecia mais perigoso que voar pelos ares no trapézio.
Quando os lábios tocaram tão intimamente sua carne novamente, a trapezista levou o braço aos olhos cobrindo-os.
A arquiteta esboçou um sorriso, mas logo sua atenção se voltou para aquela parte da anatomia feminina daquela jovem que a deixava enlouquecida.
Voltou a passar a língua por toda a extremidade, massageando devagar, sentindo o sabor único. Golpeou a pequena fruta avermelhada e inchada, prendendo-a entre os lábios, chupando como se fosse uma deliciosa bala cítrica.
A morena mordeu a língua para não gritar alto, pensou que fosse morrer naquele momento. Mas os movimentos continuaram. Sentia a boca da Natasha devorar sua carne, fazendo-o de forma que beirava o precipício. Ouvia o som que imitava os beijos que já trocaram várias vezes mesclados com a respiração acelerada de ambas.
A Valerie sentia o próprio corpo implorar por satisfação…
Chupou com mais força, ouvindo daquela vez o gemido alto que saia da garganta da mulher que a tentava como mil demônios.
Usou o polegar para pressionar a entrada e naquele momento percebeu que realmente estava a lidar com uma virgem. Mesmo que desejasse invadi-la, não o fez. Algo dentro de si a impedia de ir tão longe.
Dobrou-lhe a perna direita, deixando-a ainda mais exposta.
Valentina tento impedir, mais foi contida.
-- Entregue-se… Dê-me o que tanto quero...
A morena ficou parada, enquanto sentia a língua passear de um lado a outro. Sentiu os dentes mordendo-lhe a carne…
De repente era como se não estivesse mais em seu corpo, como se uma força se apossasse de si.
Moveu os quadris contra ela e só parou quando um indescritível prazer tomar conta de todo seu ser.
Natasha se levantou, puxando-a para si em um beijo apaixonado, enquanto a leva ao clímax com o toque dos dedos.
Sentiu-a lhe morder forte e o sabor de sangue misturou-se ao amentoado. Debatendo-se, invadida pelo prazer supremo...
Abraçou-a forte, sentindo em seu próprio corpo os espasmos que dominava o corpo.
Permaneceram naquela posição por inúmeros segundos, apenas ouvindo as batidas aceleradas do coração, enquanto o oxigênio voltava a ser aspirado normalmente.
Helena permanecia do lado de fora e tentava manter o banheiro inacessível.
Fitou o relógio dourado que trazia no pulso e imaginou quanto tempo tudo ainda demoraria.
Sabia que Natasha estava possessa e estranhou aquele descontrole diante da situação para uma mulher que sempre se mostrara bastante fria em sua forma de agir.
-- Use o banheiro do outro lado, esse está interditado! -- Disse a Isadora que se aproximava.
Caramba! Autora que final de capítulo!
ResponderExcluirA Valentia agora sentiu de fato o que é uma paixão,a entrega total de uma atração sem limites.
Estava ansiosa por esse contato mais profundo de ambas.
Já está na hora da trapezista dá um chega pra lá e desconfiar do porque de tanto ódio dessa doente da Isadora,velha demônio.
Só quero ver como irá reagir a Valentina depois dessa noite.
Forte abraço autora.
A Valentina está perdida entre a paixão pela Natasha e as dúvidas que são muitas diante de tudo o que andou ocorrendo, porém é visível como a jovem está afetada pela ruiva e como isso a amedronta.
ExcluirBeijão grande.
SENSACIONAL!!! A PAIXÃO EXPLODIU!!!! Mal sabem elas que agora tudo pode mudar kkk ansiosa pelo próximo pois quem sabe as duas se rendam e parem de brigar , não é mesmo?! Parabéns autora !
ResponderExcluirAh, sim, elas precisam dessa trégua, que aproveitem essa paixão enquanto podem, pois tudo começa a se complicar.
ExcluirBeijos!
Estou me tornando repetitiva, mas fazer o quê? Eu amei o capítulo! O que foi esse cena das duas no banheiro meu pai amado😍😍😍
ResponderExcluirA paixão entre as duas começa a explodir e vai ser difícil segurar essa vontade toda de se entregarem.
ExcluirBeijos e boa noite.
Putz que capítulo foi esse.
ResponderExcluirAgora elas podem ir se conhecendo e se entregando a paixão que sentem uma pela outra.
E juntas conseguir descobrir tudo que precisam pra ser felizes e longe das cobras.
Ah, sim, elas necessitam desse momento, necessitam dessa felicidade, mas precisam se unir fora do sexo para que possam enfrentar o que ainda estar por vir.
ExcluirBeijos e boa noite.
Uhuhlllll que explosão!!!! Amei!!! Será q ambas ficarão menos brava uma c a outra!!!! Ohhh paixão!!! Já quero um novo capítulo!!!!
ResponderExcluirkkkkkkk esperemos que elas consigam aproveitar esses momentos de paixão, que se entreguem ao prazer e ao desejo que sentem cada vez mais intensos.
ExcluirBeijos e boa noite.
Agora não tem jeito a palhacita entregou a alma ao diabo......a partir de agora não tem Nathalia certa e muito mesmo paixão a moda antiga rs......que maravilha de capítulo parabéns, como sempre arrazando na escrita. Bjs ........PS: agora que o circo vai pegar fogo entre as duas kkkkkkkkkkk....me corrija se eu estiver errada......digo no sentido de brigas e ciumes ...o costumeiro entre tapas e beijos ódio e desejo kkkk....bjssssss
ResponderExcluirRealmente a palhacinha está perdida, depois do charme da Natasha com seus gesto bruscos e paixão dominante, será difícil para que a pobre garota se recupere e ainda pense em uma relação com a Nathália. Agora sim as coisa começam entrar em seus eixos e sair também rsrsrsrs
ExcluirBeijão, linda, boa noite.