Dolo ferox -- Capítulo 13


                Os corredores do navio estavam vazios.
            Valentina afastou-se o suficiente para poder dar vazão às lágrimas. Encostou-se ao quadro, sentindo o corpo ser invadido por espasmos.
                Cerrou os dentes, enquanto buscava controlar os soluços que lhe interrompiam o pranto.
               -- Miserável...
            O que mais deseja naquele momento era poder sair daquele lugar, fugir para bem longe e nunca mais ter o desprazer de ter em sua vida a presença daquela mulher. Nunca pensou que seu ódio poderia ser tão superior, jamais imaginou que desejaria com todo seu coração nunca mais encontrar a ruiva pelos restos dos seus dias. Nem mesmo quando ficara sabendo do casamento e que fora enganada, desejara isso, pois bem lá no fundo sempre quis que Nathália retornasse e dissesse que tudo aquilo passara de mentiras...
               Por que fora acreditar? Por que mais uma vez se deixou levar por um sentimento?
           Levou as costas da mão aos lábios, esfregando-os com rispidez, desejando limpar todos os resquícios do toque sujo dela.
              Fechou os olhos e flashes vieram a sua cabeça.
              Miseravelmente, recordou-se de uma dia que foram ao parque fazer um piquenique.
           Uma toalha fora forrada sob a sombra de uma árvore frondosa, arrumaram pães, bolos e frutas e ficaram horas deitadas olhando o céu e fazendo planos.
            -- Quero ter um cachorro! -- Valentina dizia. -- Adoro animais...
             Nathália a encarou, tocando-lhe a face.
            -- Vamos ter um bebê... É o que mais quero ao seu lado, meu anjo... Um filho nosso para cuidar e amar... Uma família, coisa que verdadeiramente nunca tive…
              Trincou os dentes ao sentir uma dor terrível no abdome.

           Alessandro se aproximava quando viu a moça que o intrigara tanto quando a viu naquele mesmo corredor. Pensou se seria uma boa ideia se aproximar, mas levando em conta que já presenciara a duquesa nos braços de uma loira, ela não deveria se importar com a aproximação.
               Ao chegar mais perto viu o rosto corado e o choro compulsivo.
               -- O que se passa, senhorita?
           A circense encarou o belo homem do dia anterior e logo sentiu insuportável desconforto aumentar, tão lancinante que desmaiou em seus braços.


                Natasha ficara lá parada apenas a pensar em tudo o que se passara.
           Sabia que precisava ir até a Rebeka e buscar descobrir mais coisas sobre o que ela falara, porém seu desejo não era esse. 
            Fitou a porta dos aposentos que ainda permanecia aberta depois de quase uma hora da saída da trapezista.
             Voltou a mirar o espelho.
           Viu os olhos verdes escurecidos e sombrios, os lábios entreabertos a sobrancelha franzida e a expressão inflexível.
             Nunca em sua vida se preocupara com a opinião de uma mulher sobre si.
           Lembrava-se que quando conhecera Verônica, sua intenção inicial era expandir os negócios, mas não negava que se encantara pela jovem e por essa razão não achou precipitado o casamento.                Quando a encontrou pela primeira vez fora para tocar em uma festa. Depois disso ficaram quase quatro anos sem ter contato e quando se reencontraram em uma boate, decidira que se casar com a filha de um conde seria interessante para sua empresa.
             Ela se mostrara interessada, mas…
            Seus pensamentos foram interrompidos.
            -- Senhorita Hanminton...
             A arquiteta observou a camareira sem se virar.
            -- O que se passa? -- Questionou impassível.
         A jovem pareceu acuada com a forma do mulher mirá-la através do cristal. Algo bastante normal com todos que conviviam com a arquiteta.
            -- Mandaram que a avisasse que a senhorita Rodrigues se encontra na enfermaria.
             A ruiva nem mesmo fez qualquer tipo de pergunta, saindo em disparada em direção ao lugar onde encontraria a trapezista.


            O médico tinha sedado Valentina, pois ela estava com os nervos abalados e não parava de chorar. Fora levada até lá pelo capitão que se mostrara bastante preocupado com o estado da jovem, tanto que só saíra do seu lado pela necessidade de voltar ao seu posto. O profissional da saúde até estranhou, pois todos conheciam a acompanhante da neta da duquesa.
              Ele a observava com atenção.
              Aproximou-se para aferir novamente a pressão e ajustou o soro, adicionando antibiótico.
             Lembrou-se de ter visto a bonita jovem no dia que fora atender a ruiva, então estavam juntas naquela viagem, mesmo que por todas as partes do navio alguns passageiros comentem que a Hanminton tinha uma amante que também estava acompanhada.
              Ouviu batidas na porta e logo a bela aristocrática apareceu.
              Observou os olhos verdes fitarem a moça por intermináveis segundos, parecia temerosa de se aproximar, conseguia ver a culpa que estava presente neles. O que acontecera entre as duas?
           Natasha ficou parada, havia uma frieza em seu estômago, algo que nunca experimentara antes, uma sensação de impotência e temor que parecia apertar seu peito.
            Fitou o homem que a entendera antes:
             -- O que se passou? O que ela tem? -- Indagou.
           -- O senhor Alessandro a trouxe desmaiada... Estava sangrando e quando acordou estava tão nervosa e só repetia que queria ir embora.
             Natasha engoliu em seco.
             Lembrou-se do olhar cheio de acusações.
             Será que aquilo a afetara tanto assim?
             Se assim o fosse, então ela ainda gostava da Nathália.
             Jogou os cabelos para trás.
            -- E a gravidez? -- Perguntou baixo. -- Como está?
             Aquela era a primeira vez que a Valerie pensava realmente no filho que a circense esperava como sendo seu também. Antes era como se estivesse a lidar apenas com a amante da irmã, agora era a mulher que seria mãe do seu bebê.
              -- Felizmente bem, conseguimos estabilizar, agora ela precisa descansar e ficar em repouso absoluto por alguns dias… Fiz alguns procedimentos e tudo está normal e temos que ser gratos por isso.
            Natasha passou a mão pelos cabelos em um gesto de nervosismo.
            -- Mas a Valentina corre algum risco? Como ela está? -- Voltou a fitar a moça deitada na cama.
           -- Ela é uma jovem forte, mas tenho a impressão que andou passando por momentos de estresses e isso fora a causa disso tudo.
                A ruiva cerrou os dentes, enquanto fazia um gesto de assentimento.
             -- Desejo ficar com ela!
              O homem a encarou como se aquilo fosse a coisa mais absurda a se dizer.
           O quarto era pequeno e havia apenas um leito desmontável e uma cortina branca que o separava dos outros. havia também uma cadeira de ferro que não parecia apresentar nenhum conforto.
           -- Não é muito confortável, mas não posso liberar a paciente ainda, prefiro que fique em observação. Está sedada e provavelmente só acordara lá pela madrugada, então não haveria necessidade que fique, porém se essa é a sua vontade, não a impedirei.
                A ruiva colocou as mãos nos bolsos da calça.
             Estava usando jeans preto e camiseta na mesma cor. Nos pés, calçava sapato fechados e de bico fino.
              -- Sim, eu desejo!
              -- Bem, eu tenho algumas coisas para fazer, depois volto para vê-la.
              Quando o médico saiu, Natasha continuou a fitar a mulher deitada sobre o leito.
            Estava tão pálida e parecia tão frágil que por um segundo em sua mente desejou protegê-la, cuidá-la para que nada a ferisse… Se nunca os caminhos de ambas tivessem se cruzados nada daquilo teria se passado.
            Aproximou-se e estendeu a mão para tocá-la, mas a fechou, recolhendo-a, pois sabia que não deveria se deixar levar por emoções, isso atrapalharia em seu objetivo.
           Viu os lábios entreabertos, a face bonita e relembrou o sorriso de covinhas que tinha visto naquela manhã.
              Seguiu até a cadeira e sentou.
            Mirou o rosto da trapezista mais uma vez, estava virado para si e recordou da felicidade que ela demonstrava a ter aquela criança nos braços.
             Começou a massagear as têmporas, fechando os olhos.
        Por que tudo aquilo tinha que acontecer logo consigo? O que ainda estava por vir naquela história toda?
            Voltou a fitar a Valentina e cogitou a possibilidade de contar tudo para ela. Explicar que estava se passando pela irmã para poder provar a inocência, poderia pedir que a ajudasse e ao final lhe daria algum tipo de recompensa. Seria o melhor a fazer, pois não deveria ser fácil para a jovem imaginar que a mulher que se apaixonara transara com outra, mesmo enquanto a tinha em sua companhia.
                Falaria com Rick e com Leonardo e exporia o desejo de contar a verdade para a circense.
                Meneou a cabeça irritada.
               O que estava se passando consigo? Desde quando se importava com outras pessoas a não ser consigo mesma?
             Nunca, em momento algum a situação alheia lhe importara. Aprendera duramente que não deveria se deixar manipular pelas pessoas como acontecera no início do casamento.
              Agoniada, levantou-se!
              Seguiu até a porta, segurou a maçaneta por longos segundos, hesitando enquanto em sua mente passava inúmeros flashes dos acontecimentos da sua vida, até mesmo quando vivia no convento e ficava isolada pelos cantos, pensando no pecado que cometera para que ninguém ousasse se aproximar de si.
             Engoliu em seco, recordando a madre superiora lhe mandando implorar pelo perdão de Deus, pois só assim poderia ter pessoas que a amassem.
            O maxilar enrijeceu, enquanto os olhos verdes ficavam ainda mais frio.
        Soltou a maçaneta, voltando a ocupar o assento, tentando varrer da sua mente toda aquela fraqueza que não fazia parte do seu caráter.
         Focou seus pensamentos no que fora dito por Rebeka antes de Valentina aparecer. O que ela quisera dizer com Nathália ter escolhido a Verônica?
           Umedeceu os lábios com a língua.
            Falaria com ela o mais breve possível e tentaria tirar mais coisas para ajudar a chegar às pistas que esclareceria aquelas lacunas.
          Ouviu o sussurrar da circense e seguiu até o leito, vendo-a mexer o braço e a cabeça como se estivesse em um sonho ruim.
            O rosto estava suado. Decerto resultado da febre que cedeu.
             Viu os lábios entreabertos e de leve colou os seus ao dela.
              Segurou-lhe a mão e aproximou a boca da orelha da enferma, sussurrando:
              -- Calma, meu amor, eu estou aqui... Não te deixarei sozinha... Prometo...
            Ela continuou a repetir aquelas frases até sentir a jovem relaxar, mas quem faria a arquiteta descansar dos demônios que a perseguiam?



               Leonardo estava em sua casa.
              Chegara cedo e dispensar o jantar com a esposa, indo direto para o escritório.
               Ligou o computador e ao abrir o e-mail, constatou que o que Rick tinha falado era verdade.
               Havia novamente um mandado judicial contra a arquiteta. 
              -- Malditos! -- Bateu com o punho fechado sobre a escrivaninha.
              Miseráveis!
              Depois de tudo que Verônica fizera Natasha passar, ainda morrera, deixando-a como principal suspeita do homicídio.
            Se pudesse mudar o tempo, colocaria todos os obstáculos para impedir que a ruiva se envolvesse com a filha do conde. 
             Recordava-se de todas as ocasiões que presenciara as grosserias da mulher diante da esposa que buscara todas as formas possíveis para que conseguissem conviver em paz.
          Os dedos longos começaram a tamborilar sobre o teclado e ele ficou a ponderar sobre a paternidade da Valentina. Aquilo era outro fato preocupante e que traria ainda mais problemas quando a Valerie ficasse sabendo. Sem pensar qual seria a reação da trapezista com tudo isso, afinal, além de estar sendo enganada, a pessoa que a enganava era a mulher odiada por toda sua família.
               Mais uma árdua batalha para ser travada.




          Valentina abriu os olhos lentamente, sentia-se cansada, envolvida em uma névoa que lhe ofuscava os sentidos.
               Inicialmente sua visão se mostrou turva, mas aos poucos percebeu onde estava.
             Fitou o soro e ao mirar a mão viu a agulha em sua carne. A cortina branca que fechava o local.
              Que horas seria?
              Onde estava o médico que a atendeu?
             Fechou os olhos e se recordou de tudo o que se passara. Da agonia que invadira seu peito e o desespero que lhe sacudia o corpo ininterruptamente. 
           Levou as mãos ao ventre e lembrou que o doutor  falara que seu bebê estava bem e fora isso que a deixou mais tranquila.
            Voltou a abrir os olhos e ao mirar ao lado, viu a cabeleira ruiva sobre o leito.
            Sentiu aquela agonia dentro do peito.
           Prendeu a respiração, soltando-a lentamente. Umedeceu os lábios demoradamente, sentindo-os secos.
             Por que a bela aristocrática não sumia de uma vez por todas da sua vida?
           Olhou ameaçadoramente para a figura que dormia, sentada em uma cadeira, enquanto tinha o tronco inclinado sobre a cama.
         Respirou fundo e sentiu o cheiro dela… A presença que parecia ocupar todo aquele pequeno espaço.
          O que estaria fazendo ali?
          De repente recordou de ter ouvido a voz rouca em seus sonhos a sussurrar, fazendo-a ficar calma. Fora aquilo fruto da realidade?
           Virou o rosto para o outro lado ao lembrar de vê-la com a loira em seu quarto.
          Odiava-se por ter permitido que aquilo lhe afetasse daquele jeito, odiava a dor que se apossara de si ao vê-las juntas.
          Agora as coisas estavam mais claras na sua cabeça e o que tinha total certeza era que jamais teria algum tipo de aproximação com aquela mulher. Não permtiria nenhum tipo de proximidade e se ela tentasse algo novamente, com certeza seu belo rosto se arrependeria disso.
            Voltou a fitá-la.
            Ouvia a respiração tranquila.
          A única coisa que lhe interessava agora era ficar bem para que seu filho pudesse estar bem também, nada mais tinha importância a partir de agora.
           Fechou os olhos e a sensação de sonolência relaxou seu corpo mais uma vez. Adormecendo. 


          Na manhã seguinte, o médico entrou no espaço e ficou a observar a neta da duquesa dormindo desconfortavelmente na cadeira.
Ficou a imaginar que tipo de relacionamento unia as duas. Conhecia Nathália, ela era uma passageira assídua daquela cruzeiro e jamais imaginou que ela pudesse ter um comportamento como aquele.
Viu-a despertar com o olhar confuso, bocejando e fitando a moça que ainda dormia.
-- Bom dia, senhorita! 
A ruiva fitou o homem demoradamente, parecendo ponderar por alguns segundos, enquanto levantava.
-- Bom dia, doutor. -- Respondeu por fim. -- Que horas são? -- Indagou arrumando os cabelos.
-- Já passa das sete! -- Foi verificar a pressão da jovem.
Não demorou muito para os olhos negros se abrirem, fitando o médico e em seguida a arquiteta.
Natasha a encarou e viu o desprezo naquele olhar.
Mordiscou o lábio inferior demoradamente sem deixar de fitá-la. Viu o estreitar, notava como havia raiva presentes ali.
Interessante que nunca aquilo fora problema para si e jamais lhe afetara como naquele momento.
O que se passava consigo diante da amante da irmã?
Cerrou os dentes tão forte que sentiu a dor no maxilar.
Sentiu vontade de acabar com aquela farsa naquele momento. Queria apenas se livrar de tudo aquilo. Havia um peso tão grande em seus ombros que temia não conseguir sustentar. 
Valentina não desviava o olhar, sustentava-o com toda sua indignação, seu desdém que chegava a correr rápido por seu sangue.
Desejou com todo coração ter o poder de um dia fazê-la sofrer o dobro para que pudesse sentir na pele o quão humilhante e dolorido fora presenciar aquela cena. 
A voz do médico a tirou das suas divagações:
-- Como se sente, senhorita? -- O homem questionou enquanto a examinava. -- Sua pressão está normal e acredito que logo estará esbanjando saúde.
A morena encarou o médico, pois sentia-se incomodada pelo olhar da outra.
-- Vou me sentir bem melhor quando essa mulher sair da minha vida de uma vez por todas.
A arquiteta ainda abriu a boca para retrucar, mas achou que não seria uma boa ideia, afinal, o que diria? Não havia defesa para si…
Encarou o médico.
-- Doutor, quando ela estiver bem, peça que alguém a acompanhe até as acomodações e qualquer coisa que for necessário, basta que mande me procurar. 
Antes de obter resposta, deixou o quarto pisando duro.
A circense respirou fundo, enquanto  inclinava a cabeça para o lado. Sentia-se tonta ainda.
Observou o médico trocar a medicação e viu o sangue quando o soro terminou.
Queria ir embora dali o mais rápido possível.
-- Eu não sei o que se passou entre vocês duas…-- O médico dizia, enquanto a furava de novo. --  Mas te garanto que é a primeira vez que a senhorita Hanminton age de forma tão atenciosa… Coitadinha passou a noite toda nessa cadeira… Estive aqui e ela dormia com a cabeça sobre a beira da cama.
Valentina apenas deu de ombros, enquanto voltava a fechar os olhos.
Não desejava ouvir nada sobre aquela mulher. Apenas queria esquecê-la de uma vez por todas. 



              Há dois dias Valentina não via Natasha.
            Ela imaginou que deveria ter arrumado uma boa distração com a loira. Enojava-se ao pensar nisso.
            Ao deixar a enfermaria retornara ao quarto e ficara surpresa quando uma cama nova fora colada no lugar da anterior.
             Não perguntara nada, sentindo-se aliviada por não ter que deitar no mesmo lugar que ela ficara com a loira, não bastava reviver a cena que viu sempre que fitava o quarto.
                 Respirou fundo, tentando controlar aquela sensação que se apoderava de si.
                Seguiu até a varanda, ficando parada diante da porta de vidro. Espalmou as mãos, sentindo-a fria e úmida.
               Olhava a chuva dali e tinha a impressão que as cenas de uma perturbadora noite continuava a acontecer.
               Fechou as mãos fortemente, aliviando-as quando percebeu que estava a se ferir.
              Na manhã seguinte esse cruzeiro encerraria e ela poderia ir embora…
              Cerrou os dentes!
              Não, não podia, pois continuaria sob o mesmo teto que aquela desavergonhada…
              Cruzou os braços, a noite estava fria.
              Por que tudo era tão diferente agora?
              Tentou durante aqueles dias barrar da sua mente as lembranças de outrora…
              Recordou a primeira vez que viu aqueles olhos tão intensos…
            Foi um dia de matinês, apresentava-se para crianças e lá estava a bela ruiva… O sorriso dela lhe fascinou… Depois da apresentação, Nathália lhe fora cumprimentar, elogiara sua performance e lhe convidara para tomar um sorvete…Apaixonara-se por ela instantaneamente e sentira que era correspondida… Viam-se quase todos os dias… Passeavam, passavam horas conversando e rindo…
Por que as coisas mudaram?
               Esboçou um sorriso amargo!
              Como pode ser tão tola?
              Nathália apenas a usara, mentira e agora queria confundi-la com todas aquelas histórias e que lhe passara algo ruim e isso era a explicação para tudo, mas depois de flagrá-la com a amante, sua máscara caiu.
             Mentirosa!
             Com certeza estava com a loira, divertindo-se e debochando da sua inocência.
            Meneou a cabeça tentando espantar aqueles pensamentos.
           Seguiu até a porta adjacente e ficou encantada ao ver o piano que ali estava.
            Era bonito, mas não tanto quanto o que viu no apartamento.
              Não sabia que a Nathália tocava tão bem. Na verdade nem sabia que ela tocava…
         Suspirou, enquanto sentava no banquinho e começava a observar detalhadamente o instrumento que chegava a brilhar com seu preto e branco.
          Tocou lentamente, observando os sons…
            Lembrou da música que a ruiva tocava… Era como se ela estivesse se traduzindo…
           Começou a tamborilar os dedos, tentando seguir o ritmo…


              Na manhã seguinte o transatlântico abarcava no porto.
            Natasha nem mesmo esperou pela acompanhante. Evitou-a durante os dias seguintes, sabendo que mesmo que a desejasse, essa era a melhor forma de agir para as duas.
               Não foi para o apartamento, decidindo seguir até a construtora.
              Passou sem cumprimentar ninguém e foi direto para seu escritório. Não passou despercebido o olhar assustado da sua secretária, mas deu de ombros enquanto sentava em sua mesa.
Abriu a gaveta e mais uma vez de debruçou sobre os relatórios da morte da esposa. Lia tudo com crescente atenção, buscando naquelas ínfimas palavras algo que pudesse esclarecer tudo o que acontecera naquela noite. Via os detalhes e nada parecia se encaixar… Não, ela não cometera aquele crime, essa era a única certeza que tinha e não descansaria enquanto não provasse a inocência. 
               Tamborilava as unhas bem feitas sobre o tampo de madeira.
             Impaciente, discou o número do detetive Rick, precisava falar com ele e tinha urgência nisso.


               O apartamento parecia vazio. 
               Valentina desceu as escadas.
                Passara a manhã toda descansando depois de retornar a sua gaiola luxuosa. Sentira-se feliz por não ter tido o desprazer de encontrar a acompanhante. Sentira-se satisfeita com isso.
                Seguiu até a porta, apurou os ouvidos e realmente percebeu que não havia ninguém.
                Caminhou até a porta e para sua surpresa constatou que estava aberta.
               Deus!
               Sentiu o coração acelerar diante daquela informação… Seria a oportunidade perfeita para ir embora.  Encostou-se à madeira. Passou as mãos pela barriga…
Ouviu a campanhia e se assustou.
Sabendo que seus planos precisariam ser adiados, abriu-a.
             Isadora entrou toda pomposa e não deixou de esboçar um sorriso quando o viu a jovem circense lhe fitar.
              Foi até a garota, abraçando-a em lágrimas.
        Valentina permaneceu com os braços inertes ao lado do corpo, enquanto ouvia os agradecimentos que a outra fazia.
           Desejou interrompê-la, mas acabou por permitindo o momento de euforia que ela demonstrava.
                 Alguns segundos se passaram, até que a duquesa se afastasse.
                Estreitou-lhe o rosto em suas mãos.
            -- Ela não te fez nenhum mal, não é, minha filha? -- Examinava-a. -- Não fora ferida nem machucada, não é mesmo?
                A morena parecia cada vez mais confusa.
                Afastou a mulher.
             -- Está falando da sua amada netinha? Aquela que a senhora me disse que era uma pessoa tão maravilhosa?
           A grande dama a fitou perplexa.
          -- De que fala, querida? -- acariciou-lhe a face. -- Está pálida e mais magra!
          Valentina se afastou.
         -- Da sua Nathália que me usou e depois foi embora… Agora que me aparece me obrigando a fazer o que deseja… -- Esbravejava. -- Então não me venha com essa história, pois tenho certeza de que a senhora sabe de tudo.
             Isadora mudou totalmente a expressão.
             -- Essa mulher que está contigo não é a minha neta! -- Enfatizou a última palavra.
            Os olhos negros se abriram e ceticismo. 
             Colocando as mãos nos quadris, aproximou-se.
           -- Por favor, senhora, com todo respeito por sua idade, mas agora só falta justificar as barbaridades da sua adorada dizendo que fora abduzida por um extraterrestre!
-- Ela não é a Nathália… -- Chegou mais perto. -- Diga-me se não notou algo diferente… -- Falava mais baixo. -- A minha neta é uma dama… Fora educada nas melhores escolas de Londres… Ela não tem nada a ver com aquela selvagem que você está convivendo nos últimos tempos…
Valentina meneava a cabeça mostrando total incredulidade.
-- Mentira! -- Falou um pouco mais alto. -- Óbvio que é ela… Não teria como ser diferente… -- Tentava ponderar o que podia ter acontecido. -- Por que está inventando isso? Que droga de plano é esse agora? Querem me enlouquecer?
-- Filha, eu não estou inventando… -- Chegou mais perto. -- Minha neta está desaparecida há muito tempo, por isso que ela sumiu sem te deixar pistas… -- Começou a chorar. -- Estou desesperada em busca de algo que me leve até ela…
Valentina franziu o cenho, enquanto a observava.
Que brincadeira era aquela? Que sadismo envolvia aquela história toda?
-- A senhora está brincando, só pode! -- Passou a mão pelos cabelos negros.
A morena se mostrava perplexa.
Certo que já passara inúmeras vezes por sua cabeça que estivesse a lidar com outra mulher, até verbalizou suas dúvidas, mas ouvindo aquilo da avó da Nathália seus questionamentos começavam a ganhar força.
Relembrou os tantos momentos que esteve com a ruiva, recordando-se da forma que ela tinha de agir, a forma de falar e de fitar de forma sempre tão sarcástica.
Não, a mulher por quem se apaixonara não se comportava daquele jeito tão ousado… Primitivo…
Umedeceu os lábios, recordando como o beijo era diferente… Atrevido...
Sentiu as faces queimar.
-- Se essa sua história realmente é verdadeira e a teoria de que estou lidando com um ser idêntico à Nathália não é uma ilusão da sua cabeça, quem é eesa que se diz a futura duquesa? -- Indagou com as mãos na cintura.
A face de Isadora demonstrava total desgosto ao responder:
-- A irmã gêmea dela… -- Torceu a boca em desagrado. -- Natasha Valerie… Um demônio em forma de gente que chegou mesmo a matar a própria esposa.
Os olhos negros ficaram ainda mais escurecidos diante de tal sentença.
Realmente poderia ser aquilo verdade? Irmã gêmea? Mas como? Nunca nada sobre aquilo fora dito!
Começou a massagear as têmporas. 
-- Está delirando… Só pode!
A duquesa lhe tomou o braço.
-- Não posso demorar… Mas você já sabe a verdade… Preciso que me ajude, imploro que me ajude para que possamos encontrar a Nath… Tenho medo que a Natasha tenha matado a irmã como fez com a Verônica…
-- Verônica? -- Questionou perplexa.
Fora esse nome que a ruiva chamara em seu delírio...
-- Sim, a esposa dela… Filha, não posso me demorar, tive sorte de te encontrar sozinha, mas nossa conversa deve ser mantida em segredo… Preciso que continue a fingir que acredita que ela seja Nathália e consiga reunir provas para desmascará-la, pois só assim teremos nossa amada de volta.
Antes que a trapezista pudesse falar mais alguma coisa, a duquesa deixou o apartamento.
Valentina desabou sobre o sofá com os olhos abertos em total perplexidade.
Verônica…
Fora aquele nome que ouvira ela chamar no sonho… Ela também chamava Nathália…
Meu Deus!
Seria aquilo verdade?
E se fosse?
Onde estaria a mulher que amava?
Então tudo não passava de uma mentira, um plano armado por Natasha…
Sua cabeça não parava de cogitar possibilidades…
Então estava a desejar a outra?

Comentários

  1. Simplesmente fascinada, encantada, com está história.

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  2. Onde aperta o avançar ??? Rsrs ......um pouco ausente, mas tudo por conta do nascimwnto de minha filha, porém sempre que posso corre aqui para apreciar sua escrita...super beijo e parabéns.

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    1. Olá, querida, parabéns pela filhinha, que felicidade grande deve sentir nesse momento com a sua bela família :)
      Curta muito a filhota viu e o seu amor também e quando lhe sobrar tempo, apareça rsrsrsrs
      Beijão grande.

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