Dolo ferox -- Capítulo 12



                      O dia amanheceu chuvoso e mesmo com as persianas abertas, a penumbra tomava conta do quarto. O vento frio adentrava nos aposentos pomposo e lá fora trazia sua música particular. O belíssimo transatlântico estava em águas mais tranquilas e naquele dia passaria algumas horas em um porto, deixando que os tripulantes pudessem aproveitar da beleza do lugar. 
                    Aquele cruzeiro era um dos mais requisitados e a maioria que estava nele, fazia parte dos casais que desejavam aproveitar o momento ao lado dos seus amores, outros preferiam declarar uma boa guerra.
                     Valentina abria os olhos lentamente.
                  Fitou o quarto e viu que estava sozinha. Estendeu a mão tocando o espaço vazio ao seu lado, intacto, ninguém estivera ali.
                   Sentia-se cansada e preguiçosa naquela manhã cinzenta, porém sentia-se feliz por não ser atacada por seus enjoos matinais. Seu bebê parecia dar uma trégua depois de alguns momentos de rebeldia.
                   Cobriu-se mais, enquanto depositava as mãos ao ventre. 
                   Logo poderia senti-lo mexer em seu interior.
               Por alguns segundos deixou que sua mente devaneasse e ficou a imaginar levando-o ao circo e mostrando Pepi vestido de palhaço, até arriscaria pintá-lo também.
                 De repente ficou a imaginar a Nathália com a criança… Seria tão lindo quanto ela?
                 Umedeceu os lábios, lembrando-se do que acontecera na noite anterior… Ainda tinha a impressão que estava lá, ainda fechava os olhos e via a bela mulher totalmente despida a se jogar na água fria… Teria ela ido até o fim?
               Ainda sentia em seu corpo o toque atrevido… O beijo molhado e exigente… Tinha a impressão que a ruiva parecia querer devorá-la… Engoli-la…
                    Engoliu em seco, tendo a impressão que havia algo secando sua garganta.
                    Levou o dedos indicador à boca e ficou mordiscando a unha.
                  Quando saíra correndo da área da piscina, fora direto em direção ao banheiro, trancando-se lá, temendo que a mulher tivesse ido ao seu encalço. Mas seus temores foram em vãos, a bela não apareceu, então tomou banho lentamente, limpando-se com cuidado e tentando não deixar nenhum vestígio do toque que recebera. Ainda recordava-se do próprio sexo escorregadio e de como fora difícil fazê-lo ficar normal novamente. Quando terminara a higiene, ficou parada diante do espelho durante longos segundos, observando-se e vendo o corado em suas bochechas... depois seguiu até o quarto, deitando-se.
              Cobriu-se, enquanto ouvia a chuva cair implacavelmente contra o navio. Os trovões e relâmpagos a assustaram, mas não chegava aos pés do temor que sentia pelas emoções que a dominava quando sentia o toque da Hanminton. Era como se tudo perdesse a importância, como se a única coisa que importasse era o desejo que queimava em seu ser de forma incontrolável.
                    Meneou a cabeça, sentindo uma pontada nas têmporas. 
                Não tivera uma boa noite de sono. Fora assolada por sonhos perturbadores com intensos olhos verdes. Ainda sentia em seu corpo os efeitos vividos.
                   Fechou os olhos e de repente todo aquele arroubo voltou a lhe perturbar.
           Não!
          Aquilo era uma verdadeira insanidade!
         Ficara aliviada quando a ruiva não retornar ao quarto, enquanto ainda estava desperta. Ela não dormira ali, então onde fora?
         Cerrou os dentes ao imaginar que teria retornado para a loira.
         E o que lhe interessava aquilo?
      Estava disposta a fugir assim que surgisse uma oportunidade e ela estaria atenta a esse momento.
          Seria impossível ficar com aquela mulher, quanto mais pensava, mais tinha certeza disso.
        Ouviu batidas na porta e seu coração disparou ao ver Nathália saindo do banheiro envolta em um roupão preto. Os cabelos avermelhados estavam úmidos e os pés descalços. Ela não lhe dirigiu o olhar. Caminhava cheia de arrogância, ostentando o nariz afilado e arrebitadamente orgulhoso.
         Fitou a perna onde jazia a cicatriz. Viu a muleta encostada do outro lado. Observou a mulher seguir até o closet e tirar de lá camiseta, calça jeans, jaqueta e lingeries na cor vermelha...
            Sentiu o aroma delicioso que se desprendia dela.
           Fitou-a, mas os olhos verdes passaram por si de forma desinteressada.
          Observou-a atender o camareiro e pôde ver que era mais uma cesta de café da manhã, igual ao da manhã anterior.
            Torceu a boca em desagrado ao ouvir o nome da tal mulher.
       Esperava que lhe desse uma dor de barriga ao ingerir aqueles alimentos! -- Desejou secretamente. 
                 Natasha fitou as coisas que lhe fora ofertadas e teve vontade de devolver. Sabia que naquele dia teria que ir atrás de Rebeka, deveria fazê-la falar e para isso seria necessário tomá-la para si. Por que aquela ideia parecia não tão atraente naquele momento?
                    Respirou fundo, enquanto permanecia parada com o presente nas mãos.
                    Sentia-se irritada, furiosa até. Dispensou o rapaz, fechando a porta em seguida.
                    Encarou Valentina!
                  Precisou contar até dez, pois sua vontade era de falar toda a verdade sobre o que realmente se passava.
             Seria interessante ver aqueles olhos inocentes saberem que andava desejando a irmã da mulher que um dia pensara que amara.
                 Jovem cabeça de vento!
                Essa era uma das razões de não se envolver com garotinhas que tinham acabado de deixar as fraldas. Não sabiam o que queriam e depois ainda assumiam o papel de vítima, coisa que irritava em demasia à arquiteta. Mas pensando bem, o melhor era tentar manter a tranquilidade e não perder a calma diante de tudo. Necessitava de frieza para vencer aquela árdua tarefa, não fracassaria, afinal, quantas vezes precisara enfrentar coisas piores e saíra vitoriosa. 
                  Mirava-a e via aquela expressão afetada.
               Por um triz não a perseguira até ali na noite anterior, mas manteve seu controle, enquanto aliviava o próprio desejo sozinha….
                Sentira-se uma adolescente quando sentia os hormônios gritar mais alto. Fizera três vezes e a cada momento sentia ainda mais a vontade de saciar a vontade no corpo dela.
             Estava cada vez mais convicta que Nathália não tinha realmente tocado na morena. Tinha quase certeza da natureza virginal. Mas um motivo para se manter longe, afinal, a garotinha não saberia como satisfazê-la… Seria uma decepção, isso sim!
              Decidida a continuar com seu plano, seguindo os conselhos de Leonardo, partiu para a simpatia: 
            -- Bom dia, senhorita! -- Cumprimentou-a com um sorriso que mesmo com todo esforço, ainda saiu sarcástico. -- Espero que não tenha pegado um resfriado!
             Se o que a Valerie desejava constranger a jovem, seu intuito fora conseguido com sucesso, pois a face da trapezista ficou totalmente rosada.
                Valentina a mirou demoradamente.
               Quem era aquela mulher?
               Não cansava de se fazer aquela mesma pergunta o tempo todo.
            Não, não… Havia algo ali que não se encaixava de forma alguma, havia algo que a fazia duvidar do ser que estava ali parado com um sorriso cheio de deboche a enfeitar seu rosto tão bonito.
                A jovem inclinou o corpo, sentando-se na cama, encostando as costas à cabeceira.
               Cruzou as mãos sobre os seios.
               Natasha não perdia um único movimento.
               -- Veja -- Estendeu-lhe a cesta -- Terá um reforçado desjejum para que recupere as forças. -- Colocou sobre a cama. -- Considere as bonitas palavras no cartão como se fossem minhas, pois acredite, minha oferta é de coração.
             A circense torceu a boca em total desagrado mais uma vez. Cerrou os dentes, enquanto desviava os olhos dos verdes.
                 Tinha um monte de palavras gritando para sairem da sua boca, mas sabia que se o fizesse, a bela duquesa apenas se divertiria ainda mais.
                   Começou a massagear as têmporas.
                  -- Olha, tem maçãs, bolos, frutas… Leites… 
                  Valentina a encarou cheia de raiva.
                  -- Você pode enfiar tudo isso você sabe onde! -- Disse irritada.
               -- Onde? -- Natasha se aproximou arqueando a sobrancelha esquerda. -- Essa mente é sujinha de mais pelo que percebo… -- Apoiou o joelho no colchão. -- Ainda está com ciuminho? -- Um riso apareceu no canto dos lábios. -- Ontem você fez um bom trabalho… Apenas precisa se especializar mais em alguns quesitos… Tem alguns sites que ajudam nisso… Se quiser faço um tutorial… -- Piscou ousada. -- Ou podemos usar o livro.
                   -- Você é uma desavergonhada, uma duquesa de araque!
                     Natasha gargalhou alto.
                    E se ela soubesse que estava diante da neta deserdada e amaldiçoada de Isadora?
                 -- Eu sou uma dama! -- Provocou-a. -- Não sabes disso não é? -- Jogou os cabelos para trás. -- Fui para as escolas de costuras, bordados… -- Relanceou os olhos. -- Sei me comportar a mesa…
                   Valentina a encarava e via os dentes alvos se desenhar em risos.
                   Viu as sardas na face e os olhos se estreitarem em humor.
               -- Ah, sim, você parece aquelas sinhazinhas da idade média… Bastava usar perucas e aqueles vestidos ostentosos.
                   -- Oh, não! -- Sentou-se sobre as pernas, enquanto a fitava. -- Sabes que aqueles romances de cavalarias e aqueles filmes são mentirosos, né? Cá para nós -- Chegou mais perto -- As mulheres nem banhos tomavam naquela época…
                  A trapezista sentia o cheiro de sabonete e a mirava tentando manter a tranquilidade.
                   -- Sim, já ouvi falar… -- Disse simplesmente.
                  -- Pois é, e todo mundo desejando viver naquela época que se jogava pinicos de fezes pelas janelas -- riu alto. -- Ou melhor, as noivas com seus buquês de laranjeiras para tentar esconder o cheiro mortal… Já pensou? Como se transava nessa época hein?
               Valentina voltou a desviar o olhar, pois mesmo que visse um traço de humor naquelas palavras, sentiu algo diferente quando ela se referira ao ato sexual.
                      -- Deixe-me em paz e leve daqui essa cesta! -- Falou aborrecida.
                      -- Estamos conversando como pessoas civilizadas!
                      -- Eu mesma não desejo papear contigo!
                      A arquiteta estendeu a mão para lhe tocar a face, mas recuou diante do olhar irado.
                 -- Um beijo, senhorita, infelizmente outras coisas requerem minha atenção, mas adorei nosso monólogo.
                Os olhos negros se estreitaram ameaçadoramente, enquanto sentia a face queimar mesclando indignação à ansiedade. 
                  Antes que a briga começasse, a ruiva seguiu pegando a roupa, depois retornou ao banheiro.





                       O convés estava bastante movimentado.
                     Havia pessoas se refrescando em algumas mesas que se estruturavam beneficamente ali.  Alguns bebiam chás, comiam sobremesas e pareciam felizes. A conversa era animada, o riso alto. Crianças corriam de um lado para outro. 
                  O sol tinha assumido o lugar das nuvens carragadas, fazendo assim, algumas pessoas se deitarem em espreguiçadeiras e aproveitarem para ganhar uma corzinha para o verão.
               Natasha estava sentada em uma das mesas, tendo ao seu lado a atrevida Rebeka, a loira parecia irritada, enquanto a ruiva não demonstrava importância com aquilo, pois seus pensamentos pareciam difusos e centrados em uma única pessoa.
              -- Preferes a companhia da trapezista a minha! -- Acusava. -- Não sabes como foi difícil dormir me lembrando dos seus beijos e seus toques em meu corpo… Mas você age como se fosse indiferente, parece que nada a atinge!
               A arquiteta ponderava e buscava não agir de forma a demonstrar sua falta de empatia com aquele dramalhão. Precisava descobrir mais coisas, porém enquanto não saciasse a fome da loira, seria quase impossível fazê-la falar.
               Tocou-lhe a mão.
          -- Você sabe que parei para que você não arrumasse problemas, óbvio que desejava que fôssemos até o fim, mas haveria riscos com seu acompanhante. -- Disse tentando evitar o descaso.
              -- Ah, não diga! -- Ironizou. -- Espero que não tenha ficado com a sonsa da morta de fome… Odeio-a, queria que despencasse daquele cabo e quebrasse o pescoço de uma vez por todas.
             -- Não esqueça que ela está esperando um bebê! -- Disse por entre os dentes.
             Rebeka arqueou a sobrancelha.
           -- E desde quando você se importa com isso? Nem a sua desprezada irmã se importaria com esse pirralho que a outra vai ter, e você que nem a mãe será, se importa!
            Natasha levou o copo aos lábios, bebericando lentamente o suco de laranja.
          -- Por que tens tanta certeza que minha irmã não gostaria? -- Indagou tentando mostrar a total frieza. 
          -- Porque a gostosa da ruiva das trevas não tem sentimentos… Mas pelo que ouvi, ela come muito gostoso… Dizem que nesse quesito ela é melhor… Deve ser… Afinal, a professora da universidade quase morre por conta dela.
             O maxilar da Valerie enrijeceu, enquanto mirava a mulher ali parada.
             O garçom se aproximou, trazendo alguns salgadinhos
              Levou um à boca, saboreando delicadamente, sentindo a maciez da massa.
              Melhor se manter ocupada que acabar respondendo de forma que já estava acostumada.
              De repente seus olhos fitaram a bela morena que estava um pouco mais adiante.
              Valentina!
              Por que se sentia tão diferente ao fitá-la?
             Quando deixou o quarto ela estava lá e aparentava ter voltado a dormir, mas agora a circense parecia bastante entusiasmada ao brincar com um bebê que pareceu se encantar com a sua beleza.
           Viu-a sorrir e foi como se fosse a primeira vez que a olhava. Não recordava de de vê-la fazendo algo assim naquele tempo que estavam juntas.
               Fitou-a totalmente encantada e desejosa de receber aquele gesto.
            As covinhas em sua bochecha esquerda eram encantadoras, sem falar no enorme sorriso que desenhava a face, deixando-a ainda mais atraente. Os olhos negros quase desapareciam… A boca grande e sensual parecia o desenho mais caro que a Monalisa. 
              Viu-a sentar no banco de madeira e colocar a criança de pé sobre suas pernas, enquanto lhe levantava e o pequeno gargalhava alto.
                Os olhos verdes pareciam fascinados e encantados com a cena e desejou se aproximar.
              Por um momento ficou a imaginar o próprio filho nos braços daquela mulher e algo pareceu se agitar em seu íntimo.
                Sentiu vontade de rir do trágico que tudo será quando ela ficar sabendo que não está lidando com a amada Nathália. Que fora enganada pela irmã rejeitada da futura duquesa. Lógico que nem para sua cara vai querer olhar.
                  Meneou a cabeça irritada com o rumo dos pensamentos.
                  Desde quando aquilo era tão importante para si?
                  Baixou os olhos por alguns segundos, o que chamou a atenção da loira.
                 -- Algum problema? -- Indagou com a sobrancelha arqueada.
                Natasha a fitou.
            Precisava parar de devanear e ser objetiva com suas ações. Precisava provar a própria inocência antes que fosse tarde de mais.
             -- Vamos para o meu quarto, quero terminar o que começamos ontem. -- Tomou o suco de uma vez.
                Rebeka esboçou um sorriso, assentindo cheia de felicidades.



         Valentina tinha deixado os aposentos, pois estava se sentindo sufocada, precisava ver outras pessoas, algo que a fizesse se distrair das coisas que estavam acontecendo nos últimos dias.
             A confusão de sentimentos conflitantes em seu íntimo a estava assustando.
           Passara horas dentro da banheira de hidromassagem, luxo que não a atraia, mas havia uma agonia em si, que imaginara que algo assim pudesse relaxar, era isso que via nos filmes e nas novelas quando os personagens pareciam estar com seu estado de espírito.
            Por que a Nathália fora tão cruel consigo e com os seus sentimentos? E por que agora agia daquela forma?
            Impaciente com todos aqueles pensamentos, vestiu-se e seguiu até o convés, sentando em um banco de madeira daquelas que tinham nas praças. Quando se acomodou ficou encantada com o filho de uma jovem mãe que passeava com o pequeno.
              Ela tinha saído para passear com o bebê e o garotinho gordinho de dois anos se encantou com a circense, dando-lhe os braços.
            -- Seu filho é muito lindo! -- Dizia, enquanto se encatava com a gargalhada que ele dava.
                      -- Eu acho que ele gostou de você, pois não costuma ir para os braços de estranhos.
         A moça devia ter uns trinta anos, tinha cabelos na altura dos ombros, um corpo com quadris largos e pernas grossas, exibia um sorriso simpático o que a deixava bonita.
           A morena pensou no bebê e desejou que o tempo passasse rápido para poder tê-lo em seus braços.
              -- Estou esperando uma criança também e não vejo a hora que nasça logo.
             A moça sentou ao lado da Rodrigues, parecia entusiasmada.
              -- Que legal… Dá trabalho, mas acredite, é a melhor sensação do mundo…
Continuaram a conversar durante uma hora e já estava o sol se pondo quando decidiu retornar para o quarto.
      
             Natasha tinha acabado de se vestir depois de tomar um banho.
             Rebeka ainda estava no banheiro se vestindo.
         Era uma mulher totalmente deliciosa em questão de se entregar e fazer as vontades da parceira. Sem falar que era insaciável, o que agradara muito a arquiteta que adorava se deliciar com sexo.
           Mirou-se no espelho do quarto.
           Viu a porta se abrir e a loira seguiu até ela, abraçando-a por trás e lhe beijando o pescoço.
         -- Quero mais… -- Colou os lábios no pescoço da arquiteta. -- Você nunca me comeu tão gostoso… Ainda estou com as pernas bambas… Acho que dizer que a sua irmã era melhor nesse quesito te fez agir assim… -- Circundou-lhe a cintura. -- Onde andou aprendendo essas coisas nova hein?
          A Valerie mordiscou o lábio inferior pensativa.
         -- Você fala muito na Natasha! -- Fitou-a.
        -- Você sabe que eu sempre achei um desperdício você e a duquesa quererem sumir com ela… Se você  tivesse me escolhido ao invés da sonsa da Verônica, eu teria conseguido fazer a bela bárbara comer na minha mão.
          Os olhos verdes escureceram ao ouvir aquilo. Como assim escolher?
       Quando abria a boca para questionar, ouviu a porta do apartamento abrindo e os olhos negros e acusadores lhe fitaram.
           Droga! -- Pensou. Era o que faltava!
           Manteve-se na mesma posição.
         Viu o sorriso da Rebeka e sua forma debochada ao se virar e mirar a morena, fê-lo de forma desdenhosa, de cima para baixo.
             Imaginou se a trapezista faria um escândalo? 
             -- Bem, amor, vou indo… -- A loira lhe beijou os lábios. -- Amei ta dar gostoso!
            Valentina permanecia no mesmo lugar, apenas observava a cena que se desenrolava. Viu a loira passar perto de si com o olhar de superioridade e cheio de sarcasmo. Respirou fundo, tendo a impressão que havia algo preso na sua garganta. Ainda abriu a boca para falar algo, mas acabou ficando calada, pois sabia que seria uma perda total de tempo. Decidiu deixar os aposentos porque havia um cheiro lá que a estava enojando, porém quando se aproximou da porta sentiu a mão da mulher segurando seu braço.
            Desvencilhou-se do toque.
           -- Não encoste sua sujeira em mim! -- Disse por entre os lábios, apontando o indicador em riste. -- Nunca mais na sua vida chegue perto de mim!
              Natasha umedeceu os lábios, enquanto encarava os olhos negros acusadores.
              Por que a incomodava o fato dela ter ficado sabendo do que se passou?
             -- Não leve para o lado pessoal, não tem nada a ver contigo… Comigo…
            A trapezista fitava as duas esmeraldas e novamente aquela forte impressão que não estava a falar com duquesa a assustava. Observou os lábios inchados e as marcas que estavam em seu pescoço.
            Odiou-a mais que tudo naquele momento, amaldiçoou o dia que a viu pela primeira vez!
         -- Eu desejo que você me deixe em paz, que saia de uma vez por todas da minha vida… Porque se em algum momento eu cheguei a sentir algo por ti, a sua canalhice e falta de respeito me tiraram… -- Voltou-se para sair, mas foi detida novamente. -- Solte-me! -- Esbravejou.
                  A arquiteta fez um gesto com as duas mãos como se temesse uma agressão.
        -- Valentina… -- Arrumou o cabelo atrás da orelha. -- Eu não quero brigar, não posso te explicar nada nesse momento, mas se você me permitir…
           -- Chega! -- A jovem a interrompeu. -- Não quero mais ouvir nada que venha de ti!
          Antes que a Valerie pudesse falar algo, fora deixada sozinha com suas palavras presas e explicações impossíveis.



            Leonardo estava no escritório.
             Havia inúmeros papéis a serem assinados, vários projetos que necessitavam de Natasha, porém ficariam para segundo plano, pois por enquanto era vista como morta.
                   Fez uma silenciosa prece em agradecimento por aquele plano não ter sido concretizado.
                   Nathália fora muito traiçoeira.
                  Aproximara-se da irmã, fingira ter interesse para poder criar a oportunidade perfeita.
                  Miserável!
                 Conhecera ambas, mas nunca em sua vida imaginara o quão terrível se tornaria a gêmea de cabelos negros.
                   Isadora era culpada de tudo aquilo. Fora ela que fomentara o ódio entre elas...
                  O telefone tocou e a secretária avisou sobre a visita do detetive.
               Fora uma boa interrupção, pois com certeza seus pensamentos já tinham elevado sua pressão arterial. 
                   Não demorou muito para a porta se abrir e o homem bem vestido entrar.
                   O mais velho se levantou, oferecendo a mão em cumprimento.
               -- Espero que traga boas notícias! -- Apontou para a poltrona de couro, enquanto puxava uma cadeira para perto dele. -- Recebi uma mensagem da Natasha e ela não está nada feliz. Estava muito irritada, furiosa na verdade…Tentei não pensar como a Valentina deve estar sendo tratada… -- Meneou a cabeça em desalento. 
                 Rick deu um longo suspiro, enquanto abriu a pasta preta que trazia.
               -- Sinto muito por isso, mas ela precisa ter calma para continuar, a menos que deseje ir para a cadeia. -- Entregou-lhe a intimação. -- A família de Verônica reabriu a investigação da morte da filha e mais uma vez aponta a Valerie como a principal suspeita do crime.
                Leonardo se levantou furioso.
              -- Eu não acredito que continuem com isso… Essa mulher desgraçou a vida da minha menina e no final ainda fez com que a culpa por sua covardia recaísse sobre ela.
                   Rick fez um gesto para que ele sentasse novamente.
             -- Por enquanto ela estará protegida… Teremos que fazer tudo por partes… Primeiro provamos que foi a Nathália a fazer todas essas coisas, depois provamos que Nat não assassinou a esposa.
                   O assistente sentou com um suspiro de impaciência.
                  -- Só veio aqui para me trazer essa notícia?
                 O detetive meneou a cabeça negativamente, enquanto sua face exibia preocupação.
              -- Infelizmente descobri algo que esclarece muita coisa… -- Entregou-lhe um relatório de três páginas.
                 Leonardo lia com atenção e seus olhos demonstravam total surpresa com tudo o que estava escrito.
                  Aquilo parecia enredo de uma complexa história de terror.
                 Como assim?
                  Seria possível as coisas se complicarem ainda mais que isso?
                   Alguns minutos se passaram até que ele encarasse o outro.
                  -- Valentina é sobrinha da Verônica? É isso?
                  Rick fez um gesto afirmativo com a cabeça.
               -- Sim… O irmão de Verônica teve um caso com uma jovem que trabalhava como dançarina, a família não aceitou, a jovem engravidou e fugiu para longe. Quando o amado a abandonou grávida, ela definhou aos poucos e a filha fora entregue para adoção. Na adolescência ela fugiu do lar e foi aí que encontrou o palhaço que a criou no circo.
                     Leonardo se levantou, passou a mão pelos cabelos.
               -- A Natasha não vai aceitar isso de forma alguma, se souber que Valentina é sobrinha de Verônica ela vai surtar literalmente e vai abandonar o plano… E pior será quando a trapezista ficar sabendo que fora enganada pela mulher que é acusada de assassinar a tia… 
                    O policial assentiu cheio de preocupação.
                     -- E o que faremos?
                    O assessor ponderava o que poderia ser feito.
                    -- Meu Deus! A Natasha nunca terá paz na vida!
                    Rick cerrou os dentes.
             -- Nathália sabia de tudo… Ela sabia, ela tinha o plano perfeito, simples… Seduziria e herdeira de milhões e de quebra a faria mãe do filho da Natasha… Toda a herança ficaria para ela, controlaria tudo.
                  -- Desgraçada!
                 O detetive foi até ele.
                  -- Precisamos ser cuidadosos… Isadora não irá sossegar… 
                  -- Não falaremos nada para a Nat! Primeiro vamos resolver tudo e provar a inocência dela, depois nós contamos essa parte da história.
                 Rick assentiu, pois sabia que se de alguma forma a ruiva descobrisse tudo aquilo, na mesma hora ela desistiria de se passar pela irmã.

Comentários

  1. Oi autora!
    Os mistérios estão se desvendando,e a Natacha cada vez mais envolvida no emaranhados de maldades da dupla que são piores que o demo.
    Que tenso,essas duas tem dá uma trégua,melhor, resolverem na cama,mas depois do que a Natacha fez levando a loira para o seu quarto.
    Amo demais seus enredos autora,e você nos prende a cada capítulo.
    Uma excelente semana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, meu bem, sim, aos poucos tudo está sendo colocado em seu lugar e logo teremos uma linha mais linear da narrativa, tendo essas três mulheres em um mesmo lugar.
      Um beijo grande e boa semana.

      Excluir
  2. Que capítulo maravilhoso !a cena que a Natasha fica olhando a Valentina brincando com o bebê e se imaginar ali com eles foi muito fofo😘

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim e é a primeira vez que ela percebe e como isso toca de alguma forma seu insensível coração.
      Um abraço.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A antagonista - Capítulo 25

A antagonista- Capítulo 22

A antagonista - Capítulo 21