Dolo Ferox -- Capítulo 11
O reservado restaurante em uma rua estreita e de prédios comerciais estava com alguns clientes no final da tarde. Uns tomavam chá, outros café com alguma das deliciosas guloseimas que eram exposta nos balcões. Homens e mulheres usavam roupas casuais, mas caras, mostrando o requinte do espaço.
Nícolas ocupava uma mesa no canto.
Tomava o chá gelado quando viu passar pelas portas a espevitada duquesa de Hanminton.
Não queria ter ido até ali, ainda mais por ter que deixar o pai enfermo com os empregados, mas a mulher insistiu tanto que acabou aceitando. Esperava que não tivesse que perder muito tempo.
Levantou-se quando ela parou diante de si. Puxou-lhe uma cadeira e quando a viu se acomodar, fez o mesmo.
-- Um imenso prazer vê-lo, Nícolas! -- Ela disse com um sorriso. -- agradeço que tenha tirado um pouco de tempo do seu trabalho para aceitar meu convite.
Um garçom se aproximou trazendo uma bandeja com chás e bolos, servindo-os.
-- Papai não está bem, então não posso me demorar. -- Falou quando voltaram a ficar sozinhos.
-- Sim, eu sei, pobre Patrício, seu mundo acabou quando perdeu a única filha…
O maxilar do filho do conde enrijeceu, enquanto ele fitava a própria xícara.
Passaram-se alguns segundos até que ele falasse:
-- A desgraçada da Natasha não pagou o que nos deve ainda!
Isadora deus uns tapinhas reconfortantes na mão do homem.
-- Eu estou aqui para isso, ajudá-lo a fazê-la pagar pelo crime bárbaro que cometeu… Eu sempre soube que ela era uma miserável. Quando a deixei naquele convento fiquei a pensar que Deus a purificaria, que a tornaria livre dos pecados, mas ela fugiu e assim toda a desgraça começou… -- Tomou um pouco de chá. -- Eu disse a Nathália para aconselhar a Verônica a se afastar, eu falava isso o tempo todo, mas você sabe como são os jovens…
-- Isso não vem mais o caso, apenas esperar… Porque se a miserável da Valerie não estiver morta, eu a mandarei de volta para a cadeia.
-- Mas ela não está! -- Negou com convicção.
Nícolas a olhou surpreso.
-- Como pode ter tanta certeza?
-- Porque não é a Nathália que está andando por aí e sim a desgraçada da Natasha!
-- Está brincando não é? -- Indagou perplexo.
-- Longe de mim fazer algo assim! Tenho certeza que se trata dela, como eu poderia confundi-las? Estamos falando da luz e da treva!
O homem fechou a mão ao lado do corpo.
-- Se isso é verdade, agora mesmo vou entrar com um pedido de prisão para ela!
Isadora sorriu, mas sabia que precisava ir com calma.
-- Não se precipite, pois ainda não temos como provar… Mas eu só quero que fique sabendo disso e que estou investigando para poder pegá-la!
Nícolas tamborilava os dedos sobre a mesa.
Estaria aquela senhora mesmo falando a verdade ou a idade confundira sua cabeça?
-- Irei até ela, quero vê-la com meus olhos para ter certeza do que falas.
-- Sim, eu acho apropriado, vamos juntos. Planejarei o momento certo para isso… Mas desejo que me dê a sua promessa que me ajudará a herdar tudo o que ela tem. -- Secou os olhos com um lenço. -- Ela tirou tudo de mim e eu quero de volta.
-- Farei qualquer coisa para vê-la morrer na prisão, disso não tenha dúvidas.
-- Pois vamos fazer isso, Natasha Valerie pagará por tudo que nos fez!
Natasha fitou a Valentina por intermináveis segundos…
Passou a mão pelas madeixas ruivas. Cerrou os dentes tão forte que precisou aliviar, pois o maxilar reclamou da pressão.
Tinha noção das palavras que proferira, sabia que agira por um impulso que raramente lhe dominava, mas não conseguiu evitar. Sempre que se referia à Verônica tudo mudava…
Passara um ano dentro de uma penitenciária sendo acusada de um crime que nem mesmo sabia como ocorrera, porém tinha certeza de que não o cometeu.Tudo o que se passara com a esposa ainda continuava sendo um terreno bastante delicado. Ainda perdia horas de sono recordando dos anos que vivera com ela… Ainda recordava do desprezo em seu olhar bonito depois da noite de núpcias…
Suspirou pesadamente, enquanto seguia em direção ao banheiro.
Ao entrar, fechou a porta, encostando-se a ela, enquanto encarava seu reflexo no espelho.
O rosto corado... A expressão de dor e de desespero.
Apoiou as mãos sobre a bancada de mármore, esboçou um sorriso amargurado.
Fechou os olhos como se aquela visão fosse dolorosa demais para si…
Não imaginou que fazer aquele papel seria tão difícil…
Nathália tinha todos os defeitos do mundo, mas ela era cordata em toda sua essência…
Abrindo os olhos, jogou a muleta que estava encostada ali no chão.
Livrou-se do robe, fitou a hidromassagem, mas não era uma boa ideia deitar ali. Seguiu até a ducha, ajustou a temperatura e logo o líquido frio lhe enrijecia os músculos. Apoiou as mãos na parede e se permitiu ficar ali demoradamente, tentando varrer da sua mente as imagens ainda viva do pesadelo que a perseguia.
Realmente estava cada vez mais segura do que a avó sempre dizia sobre si.
Era amaldiçoada…
Deveria ter ficado no convento… Por que fora tão teimosa e fora contra as evidências?
Isadora estava certa…
Bateu com a mão aberta na cerâmica…
Por que não podia simplesmente desistir de tudo aquilo? O que interessava passar o resto dos seus miseráveis dias em uma prisão? O que teria a perder?
Valentina passou o resto do dia evitando encontrar a ruiva, algo que não fora difícil, pois Nathália mais uma vez deixou o quarto logo que tomou banho, sumindo sem deixar uma única pista.
Não trocaram uma única palavra, mas vez e outra flagrara o olhar dela em sua direção, mas ignorou.
Viu-a se seguir até o quarto adjacente onde estava o piano e sair com um vestido de noite.
Continuou a ler o livro que tinha trazido da biblioteca e não demorou para a ruiva deixar o quarto.
A trapezista deixou a brochura de lado, enquanto tentava respirar, algo que parecia difícil quando tinha que estar no mesmo lugar que aquela mulher.
A morena seguiu até a varanda, abriu as portas de vidro e seguiu até a área particular.
Deitou na espreguiçadeira e ficou observando o céu estrelado.
O ar do entardecer estava frio, mas não incomodava.
Fitou a enorme piscina…
Não havia dúvidas que era um lugar bastante luxuoso aquele, porém nem toda aquela pompa se comparava a paz que tinha em seu trailer desarrumado.
Passou a mão no ventre. Seu bebê estava a crescer.
Sorriu!
Naquela história toda havia algo que a fazia feliz imensamente. Adorava crianças e a sua seria muito amada.
Recordou-se quando a duquesa que se apaixonara um dia falara sobre terem um bebê. Naquele momento teve a impressão que sua vida mudaria radicalmente.
Sempre se sentira sozinha e seu maior desejo fora participar de uma família e em breve teria a sua. Não deixaria que ninguém tirasse o filho de si. A única coisa boa de tudo aquilo era saber que havia uma pessoinha crescendo em seu interior.
Precisava começar a se organizar. Assim que retornasse, iria começar a comprar o enxoval. Tinha dinheiro guardado.
De repente a imagem da ruiva pairou em sua mente.
Herdaria aqueles olhos verdes e cabelos flamejantes? Teria o mesmo gênio? A arrogância?
Fechou os olhos demoradamente…
Desejando controlar o que se passava em sua mente…
Ainda sentia a mão coçar por não ter batido na cara dela quando começara a falar aquelas coisas.
Respirou fundo, tentando manter a tranquilidade.
Natasha sentia o toque de Rebeka em suas mãos e sabia quais eram as intenções da bela mulher.
Aceitara jantar com a loira e com o seu acompanhante, um homem já idoso que deveria beirar os oitenta anos. Era empresário no ramo do petróleo e parecia gostar de ostentar seus bilhões para todos.
-- Fiquei feliz que a Beka encontrou uma amiga na viagem… -- ele dizia, enquanto servia o melhor champanhe para a Valerie. -- E também fiquei encantada com tamanha beleza da neta da duquesa.
A arquiteta apenas esboçou um sorriso de simpatia, pois percebia nas palavras e olhares do bilionário que estava a flertar abertamente consigo.
Estava tentando ser gentil, enquanto via de esguelha o olhar da loira quase lhe devorando. Não havia dúvida que o único interesse da bela beldade era os milhões que o velho possuía.
Novidade!
A irmã sempre se envolvia com esse tipo de gente…
Tomou um pouco da bebida, enquanto sorria sutilmente.
Nesse quesito não tinha muito que criticar a futura duquesa, afinal, a ruiva ultimamente mantinha relações apenas sexuais e sempre era bastante generosa pelos serviços prestados. A única diferença era que suas amantes não davam uma de virgem consagrada e não tinham pretensão de usar seu nome como adorno.
Lembrou-se de olhos negros furiosos lhe encarando. Recordou da bela morena tão concentrada em seu livro, ignorando-a totalmente. Ainda pensou em falar algo, mas sabia que não seria uma boa ideia, pois ainda estava irritada com tudo.
Bebeu mais um pouco.
O líquido não era forte suficiente para amenizar sua culpa...
De repente sua atenção fora chamada por um homem que gritava impropérios por ter perdido uma rodada de poker.
O restaurante luxuoso do navio também contava com mesas de jogos. Pessoas bem vestidas e elegantes ostentavam suas caríssimas joias e finezas em suas roupas. Pareciam desesperados em busca de ganhar sempre mais e mais.
-- Nath, vamos ao toalete comigo? Preciso retocar a maquiagem!
A voz sensual lhe chamou a atenção.
A Valerie sentiu o roçar das coxas nas suas por baixo da mesa…
Com um sorriso, assentiu, levantando-se. Pegou a muleta, enquanto via a loira se despedir do acompanhante com um beijo em sua face.
Seguiram em silêncio, mas antes que chegassem ao destino, a acompanhante tomou a mão da ruiva, entrando em uma porta lateral.
O lugar estava pouco iluminado, tendo apenas uma luz amarelada a clarear, havia caixas empilhadas. Parecia um depósito.
Rebeka não perdeu tempo, tomou as mãos de Natasha, colocando sobre o decote.
-- Desde que a vi no navio, não consigo pensar em outra coisa a não ser em seu toque em mim… Em dá pra você gostosamente...
A ruiva sentiu a maciez do colo e não se fez de rogada quando baixou as alças do bonito traje, deixando de fora os seios grandes.
Com o polegar e o indicador maltratava deliciosamente os mamilo rosados…
Sentou a jovem em uma das caixas, acomodando-se em meio as pernas dela.
-- Nossa… Assim você me enlouquece… -- Dizia a loira.
-- É? -- Natasha começou a acariciar as coxas, subindo, sentiu o tecido da minúscula calcinha.
Encarou a mulher que já se desmanchava…
-- Pensei que tínhamos terminado… -- Usou o polegar para esfregar a intimidade. -- Afinal, me aparece com esse velho… -- Encarou-a. -- Qual o seu jogo? Deseja me fazer ciúmes. -- Forçou mais a entrada.
Viu a revolta presente nos olhos claros mescladas ao prazer.
A loira mirava os olhos verdes e parecia surpresa com o tratamento.
-- O que queria? Que ficasse apenas esperando o momento que me procurasse? -- Projetou o quadril para frente. -- Estava com seus planos mirabolantes e mal me dava atenção… Ain… -- Gemeu diante da estocada.
A ruiva acariciou-a mais forte, não agia com delicadezas, apenas escorregava para o interior molhado.
Planos?
Do que ela estava falando?
Aumentou mais a pressão das carícias. Usou o indicador para invadi-la, enquanto sussurrava em seu ouvido.
-- Besteiras… Deveria ter me esperado… Não acredito que esse idoso possa fazer se sentir assim. -- Meteu mais um. -- Faz? É comigo que você age como vagabunda!
A loira gemeu como uma gata no cio, desejando mais.
-- Esperado? -- A bela dizia entre suspiros. -- Você estava obcecada com a ideia de destruir a sua irmã… Eu não aguentava mais… Agora pra completar traz a trapezistazinha no cruzeiro… Não acredito que está comendo aquela insossa!
Então ela realmente sabia… Mas o que mais?
Começou a lhe beijar o pescoço… Mordiscou-o, chupando-o...
Mesmo que precisasse se concentrar no objetivo que tinha, as bebidas que tomara acentuaram ainda mais a necessidade que ultimamente vinha a sentir… Há quantos anos seu corpo não era acariciado com tanta perícia? Sentia as mãos de unhas bem feitas lhe tocar as nádegas, trazendo-a mais para perto.
As bocas se encontraram em um beijo apressado e lânguido. Capturou a língua, chupando-a, aceitando-a sem resistência.
Sentiu o cheiro dela, mas de repente sua mente foi muito além…
Encarou a loira e viu os olhos negros desafiadores de Valentina…
Batidas na porta tiraram-nas do interlúdio.
Natasha se afastou, arrumando as roupas.
Rebeka a fitou chateada. Não escondia em sua face a irritação por ter sido parada.
-- O que houve? -- Questionou enquanto arrumava os cabelos. -- Vai parar assim?
A ruiva mordiscou o lábio inferior.
-- Quer que as suas férias nesse navio termine antes da metade do cruzeiro é? -- Fitou-a. -- Aqui é muito arriscado e tenho certeza que você e seu acompanhante são bastantes conhecidos por aqui.
A loira ponderava, mas seu desejo pela mulher ali parada parecia ainda maior. Ela estava diferente. Menos racional e mais ousada em seu toque. Desejou ir até o fim, saber como terminariam...
-- Então dispense a sua garota de circo e me coloque no lugar, futura duquesa! -- Abraçou-a pelo pescoço. -- Tenho mais classe… Venho de uma família importante… Não acredito que encontre alguém superior...
A arquiteta colocou as mãos em sua cintura, depois lhe tomou a boca mais uma vez em um beijo mais delicado.
Era bastante presunçosa…
Precisava tomar cuidado, pois se falasse algo indevido poderia fazer a mulher ficar furiosa.
-- Ela me serve em um plano… Então preciso continuar… -- Tomou-lhe a mão, levando aos lábios, beijando. -- Mas quero muito continuar… Só não aqui!
A face bonita da loira ficou sombreada de raiva, livrando-se do toque.
-- Que plano? Sua irmã está morta, o que mais precisa? Ah, sim, do filho que ela está esperando! -- Espalmou as mãos em seu peito. -- Não entendo porque não fez a inseminação em mim! -- Passou a unha pelo lábio inferior da ruiva. -- Diga-me que a fulana ainda fica te resistindo e dizendo que só vai se entregar quando casarem. -- Disse em tom de deboche. -- Eu jamais acreditaria nisso… Mas depois que ouvi a conversa eu soube que não estava mentindo. -- Riu. -- Acho que ela não deseja você… Mas eu desejo… -- Começou a esfregar o corpo no dela. -- Eu sei que você já a levou para cama… Você não passaria todo esse tempo sem desfrutar… -- Passou a língua pelo lábio superior da arquiteta. -- Você comeu aquela vagabunda né? -- Indagou com raiva.
Natasha segurou-lhe as mãos, afastando o contato.
Não havia dúvidas sobre a exasperação ao ouvir aquelas palavras.
-- Vamos embora!
A loira nem teve tempo de protestar, pois Natasha já se afastava deixando a outra boquiaberta.
O céu estrelado e a lua majestosa reinava ocupando parte do céu com sua forma cheia. O som das ondas e o cheiro do mar era calmante.
Apenas uma luz estava acesa na varanda do apartamento ocupado por Natasha e Valentina, a que refletia a piscina.
A circense acabou se rendendo a água que saia morna, distraindo-se em nadar de um lado para o outro.
Sabia que já era bem tarde, porém ainda não se cansou. Mais uma vez seguiu atravessando. Buscando esquecer da mente tudo que a perturbava.
Não queria voltar para o quarto e tampouco encontrar a ruiva, mas era capaz dela não dormir nos aposentos. Decerto fora ao encontro da loira.
Parou no meio da piscina, enquanto batia as duas mãos contra a água, parecia desejar dissipar a irritação.
Natasha deixou o restaurante e seguiu para o quarto.
Bebera um pouco mais da conta, mas não se sentia embriagada, apenas ainda mais elétrica.
Ao entrar, seguiu até o quarto e logo viu que a morena não estava no leito.
Suspirou, enquanto se livrava do vestido ali mesmo, ficando totalmente pelada, pegou o roupão no banheiro, vestindo-o.
Deixou a muleta de lado. Depois, seguiu até a porta lateral e viu o piano que tinha sido colocado lá.
Sorriu!
Aproximou-se…
Tocou nas teclas com o dedo do meio, produzindo sons aleatórios.
Queria tocar, mas precisava tomar cuidado, pois Valentina já a viu uma vez fazendo, essa informação seria perfeita para a Isadora, afinal, Nathália era péssima com música.
Ouviu o som de água…
Deixou de lado o instrumento, seguindo curiosa em direção à piscina.
Ao passar pelas portas de vidro, viu a bela morena mergulhando dentro no recanto cristalina.
Ficou parada lá, apenas olhando… Sentia o vento frio da noite lhe desarrumar os cabelos. Continuou lá, mordiscando a lateral do lábio, observando-a.
Viu-a sair depois de algumas braçadas e não demorou muito para seu corpo reagir à bela vista.
Cerrou os dentes!
Tinha certeza que não teria parado se fosse ela em seus braços dentro do depósito.
Mesmo sabendo que não deveria, aproximou-se. Ao chegar na borda da piscina sua presença foi notada. Encarou-a demoradamente.
Valentina estava espremendo os cabelos e ao levantar a cabeça deparou-se com a ruiva em seu roupão, fitando-a.
Os cabelos afogueados estavam soltos, a face rosada e os lábios vermelhos entreabertos deixando os dentes brancos à mostra.
Fitou-a, mas seu desejo era sair de perto o mais rápido possível, porém sabia que seria muita infantilidade.
-- Não sabia que gostava tanto de água… Parecia um peixinho…
A morena observou a boca bonita e sensual.
Cruzou os braços sobre os seios e se arrependeu na mesma hora, pois chamou a atenção dos olhos verdes.
-- Sim, eu gosto de água! -- Disse com um suspiro impaciente. -- Boa noite!
Antes que ela girasse nos calcanhares, Natasha lhe segurou delicadamente o braço, detendo-a.
Voltaram a se encarar.
Pareciam mergulhar um olhar no outro...
-- Está cedo… -- Falou baixo. -- Aproveite… -- Falou sem deixar de fitá-la. Pode me fazer companhia...
Valentina observou a mão de dedos longos e unhas bem cuidadas queimando sua pele.
Engraçado que a olhando agora não via apenas a elegância de quem nasceu em berço de ouro, mas via algo mais, havia algo de primitivo de mais em sua personalidade.
-- Não para mim! -- Desvencilhou-se.
Odiava a fraqueza que sentia quando sentia seu toque.
A ruiva a deteve de novo, tomando-lhe a mão nas suas. Acariciou… Estavam frias… Virou-a para cima, traçando as linhas com o indicador, enquanto a observava.
Precisou segurar o riso diante da carranca que a outra expressava.
-- Quero conversar contigo… Precisamos nos entender de uma vez por todas… Acho desnecessário essas nossas brigas.
Valentina estava com raiva, ainda lembrava das ofensas de mais cedo. Inspirou e sentiu o mesmo perfume da noite que saíram para jantar. Era o aroma forte que se desprendia do corpo da loira. Então estavam juntas!
-- Eu não quero! -- Tentou se soltar, mas foi inútil. -- Agora vai me obrigar novamente? Só consegue as coisas a base da força? Não cansa disso?
Natasha chegou mais perto. Colocou as mãos nos ombros da jovem, aproximando-se ainda mais.
-- Precisamos nos entender… Está grávida… Vamos ter um filho, então precisamos agir como pessoas civilizadas…
-- Civilizada? -- Arqueou a sobrancelha esquerda. -- Você? -- Esboçou um sorriso cheio de ironia. -- Acho que deveria se olhar no espelho quando fala algo assim.
A neta rejeitada de Isadora umedeceu o lábio superior com a língua, enquanto tentava não cair na gargalhada diante do olhar cheio de acusações.
-- Estou querendo ser… -- Tocou-lhe a face. -- Por nós, meu amor...
A circense mirava os olhos verdes e tinha a impressão que estava sendo hipnotizada.
O que se passava consigo quando se aproximava dela? Qual poder tinha aquele ser que ora se mostrava um demônio e ora desgraçadamente uma sedutora que parecia saber bem como usar esse poder.
Engoliu em seco.
-- Não tenho interesse, duquesa! Use seu charme com outra!
Natasha fitou os seios redondos mal cobertos pelo biquíni, os ombros bem feitos, o pescoço esguio, depois a encarou.
Havia algo naquela garota que a desconsertava, que a provocava e a confundia.
Viu os belos lábios entreabertos e desejou tomá-los mais uma vez para si. Adorava o sabor deles, a maciez…
-- Por que não? -- Chegou mais perto. -- Seria mais fácil se você agisse de bom grado, não haveria mais brigas e essas coisas desnecessárias que causam estresse… Não há escapatória, deve ficar comigo…
-- Mesmo sem eu querer? -- Questionou irritada. -- Vai me obrigar a vida toda?
-- Eu sei que você quer! -- Afirmou presunçosa.
A trapezista sentia o hálito fresco mesclado ao álcool… Engraçado como aquele aroma nela parecia tão delicioso…
-- Volte para onde estava, tenho certeza de que a sua amiga está interessada nos seus acordos, não há dúvidas que ela vai adorar suas atenções.
Natasha abriu um enorme sorriso, enquanto arqueava as sobrancelhas.
-- Está com ciúmes? -- Umedeceu os lábios. -- E se eu falar que só desejo você, senhorita… -- Colou o corpo ao dela. -- Que é por você que enlouqueço...
A morena cerrou os dentes, espalmando as mãos sobre o peito da outra, tentando mantê-la longe.
-- Eu jamais sentiria ciúmes de você… Acredite, Nathália, passou o tempo que eu sentia algo por ti… Dou-te um conselho até… Se a loira deseja dar pra ti, receba o presente de bom grado, pois de mim, você nunca terá nada… Nada!
A ruiva continuou a exibir o sorriso cheio de presunção.
-- Se eu fosse de apostar diria que… Vai chegar um momento que você vai implorar para eu receber o seu presente… -- Piscou. -- Vai querer dar pra mim… Implorar para eu receber...
Antes que Valentina pudesse retrucar, a Valerie caminhou lentamente até perto da piscina, livrou-se do roupão, mergulhando na água.
Nua!
A morena estava com os olhos arregalados e a face rubra…
Fitou todos os lados, parecia estar buscando a presença de alguém ou apenas se certificando que ninguém tinha visto.Ficou lá parada durante intermináveis segundos, parecia impossível sair daquele lugar… E respirar ao mesmo tempo.
Viu-a atravessar a nado e de forma ágil e elegante.
Cruzou os braços sobre os seios, enquanto o pé batia impacientemente no chão.
Sabia que deveria seguir para o interior das acomodações, tomar uma ducha e deitar, porém uma irritação dominava seu íntimo.
Exigiria que ela lhe deixasse em paz, que a deixasse desembarcar no próximo porto e depois retornaria para juntos dos seus. Não aguentava mais ficar com ela, tinha a impressão que logo iria explodir e temia as consequências catastróficas de algo assim.
Mirou o céu e notou que as estrelas que antes o adornavam junto com a lua tinham sido encobertas por nuvens negras.
Ouvia as ondas do mar mais furiosas a bater na proa. Preocupou-se com aquilo…
De repente seus pensamentos foram interrompidos pela bela ruiva saindo da piscina pela escada.
Quando ela pulou na água fora tão rápido que apenas conseguia ver a sombra despida, mas agora era diferente.
A mulher que sempre fora tão cordata, sempre tão atenciosa, cheia de pudor e delicadeza estava caminhando em sua direção totalmente em pelo e parecia não se incomodar.
Valentina evitava a todo custo olhar para o corpo sensual, encarando os olhos verdes… Mas chegou a duvidar se fitar aquele sorriso sarcástico era uma boa ideia…
-- Realmente a água estava maravilhosa… -- Natasha disse quando chegou a alguns centímetros dela. -- Sempre prefiro nadar sem roupa, acho desnecessário usar trajes para isso. -- Agachou, enquanto massageava a perna.
A morena olhava-a com olhar espantado, parecia ter perdido a voz, mas logo sua indignação voltou a se manifestar:
-- A mim não interessa seu despudor, só desejo que peça ao capitão para me deixar em um porto para que eu retorne para casa.
Os dentes alvos da Valerie continuavam a se mostrar, mas não havia humor ao se levantar. Ela a fitava com expressão sarcástica.
-- O trailer? -- Questionou com deboche enquanto arqueava a sobrancelha. -- Fico a pensar como não se cortou e perdeu um membro diante de tanto ferrugem naquela lataria.
Valentina levantou a cabeça em posição de orgulho.
-- Sim, senhora, e pode acreditar que prefiro ele ao seu luxo sujo… No seu apartamento e nesse lugar só há vazio, talvez seja reflexo do seu interior.
Fitavam-se em uma briga interna, em uma guerra fria e quente…
As primeiras gotas de chuva começaram a cair, porém não pareceu incomodá-las. O vento chicoteavam-lhes as faces, desarrumando-lhe os cabelos. Ouvia-se o barulho do mar que parecia revolto, esbravejando contra os invasores.
A arquiteta fechou as mãos ao lado do corpo, parecia ponderar diante das últimas palavras da jovem que lhe olhava cheia de exasperação.
-- Valentina…
Começava a falar quando a outra vociferava, interrompendo-a com voz estremecida:
-- Vai me manter ao seu lado por ameaças até quando? Seu amor próprio é tão pouco que a única forma de manter alguém contigo é através de chantagem? -- Dizia com a respiração acelerada.. -- Achas que acredito que deseja essa criança que cresce dentro de mim? Não vejo nenhum tipo de manifestação maternal sobre esse bebê… Então tenha dignidade pelo menos uma vez na sua miserável vida e fala o que realmente deseja de mim!
A neta rejeitada de Isadora via a expressão fechada e ouvia as acusações com crescente impaciência. Seria que a mulher parada ali a sua frente agiria da mesma forma se estivesse diante da verdadeira Nathália. Agora ficou a pensar nas palavras de Rebeka… Teria finalmente levado a garotinha ridícula para a cama?
Passou a mão pelas madeixas molhadas.
-- Já chega de bobagens, estou ficando cansada dos seus dramas e desse discurso idiota de querer ir embora.
-- Então continue a me manter ao seu lado e saiba que a única coisa que terá de mim é o meu total desprezo!
-- E seu desejo de se entregar para mim? -- Caçoou.
-- Prefiro a morte a isso! -- Avisou com o dedo em riste.
Natasha cerrou os dentes, enquanto falava:
-- Suas palavras não me atingem… Acredite… Sou acostumada a pagar por isso que você tem entre as pernas… -- Chegou mais perto. -- Diga-me, trapezista de circo, qual o número que devo colocar em um cheque para que dê para mim sua deliciosa…
Antes que pudesse terminar a frase, fora atingida em cheio pelos cinco dedos da morena.
Valentina o fez com tanta força que a própria mão doeu.
Natasha cambaleou alguns passos para trás, mas voltou com total fúria, agarrando a jovem pelo pulso, prendendo-a em seus braços em um abraço que lhe detia os movimentos.
Da garganta da ruiva saia sons roucos, enquanto a mantinha cativa, buscava os lábios da moça que desviava a cabeça para não receber o "castigo".
Valentina conseguiu rasgá-la no ombro, mas fora detida novamente, gritava impropérios, tentava chutá-la, feri-la em toda sua indignação por seus ultrajes, enquanto a arquiteta se defendia dos ataques.
Naquele momento a chuva já caia forte e até trovões eram ouvidos, mas nada daquilo parecia perturbar Natasha que só se interessava com sua raiva interna…
-- Solte-me, sua louca! -- Valentina lutava. -- Solte-me ou vou gritar tão alto que vão imaginar que estás a me matar...!
Em um deslize, a Valerie conseguiu colar os lábios aos da sua vítima, segurou-lhe a nuca, prendendo-a pelos cabelos, forçando-a.
A trapezista mordeu-a, mas não pareceu ser suficiente, pois à medida que sentia o sabor de sangue, também sentia maior insistência... Sentiu os lábios esmagados e a língua incansável buscando dominá-la, contornando-lhe, acariciando com total perícia, sentiu as forças lhe faltarem e logo sua boca que antes era subjugada cruelmente, era acariciada com uma paciência infinita…
Permaneceu quieta, cessou a luta, apenas sentia os movimentos, a língua que se enroscava a sua em provocação… Buscava forças para manter total indiferença diante do ataque. Mantinha os olhos abertos, mirando de perto a face arrogante… Sentia a chuva molhando seus corpos, unindo-as mais e mais...
A maciez do toque agora era uma tortura…
A bela duquesa mantinha os olhos fechados, parecia mergulhada em sua labuta.
Valentina tentou empurrá-la novamente, mas parecia ter perdido as forças...Com um suspiro cedeu ao rompante…
Sentiu a forma deliciosa que sua língua era sugada… Tomou para si a dela, prendendo-a, domando-a… Sugando-a-a furiosamente, adorando aquele contato das bocas.
Natasha afrouxou os braços, depositando as mãos na cintura da circense, fazendo-a colar os quadris aos seus… Os dedos longos acariciavam-na, alisava e tocavam o cordão da parte de baixo do biquíni.
As peles nuas se roçavam arrepiadas.
Ouviu o som da respiração acelerada e isso a deixou ainda mais em puro fogo…
Seu corpo desejava por fim acabar com aquele jejum extenso e era ela que despertava essa fera que estivera presa durante tanto tempo…
Colocou uma das pernas entre as dela, fazendo-a se apoiar em si…
Tomou-lhe as mãos que estavam caídas ao lado do corpo, colocando-a sobre seus seios…Gemeu contra a boca dela ao sentir o tato quente e áspero…
Valentina tinha a impressão que uma droga conduzia suas ações… Tinha a impressão que estava embriagada.
Sentiu os montes redondos… Macios… Duros… Delicados… Sentia os mamilos se eriçarem… Usou o polegar para manipulá-lo e ouviu o gemido rouco que a duquesinha soltou...
Afastou os lábios por alguns segundos para fitá-la, encarando-a como se estivesse a lidar com uma pessoa totalmente diferente.
Os olhos verdes estavam cerrados, mas se abriram lentamente, fitando-a…
Mesmo que a morena desejasse resistir, seu corpo pareceu vencer aquela batalha.
Tomou-lhe o rosto corado entre as mãos, voltando a colar a boca a dela, sentindo o sabor do álcool e água da chuva…Sentiu a coxa entre as suas pernas e de forma inconsciente percebia que seu quadril se movimentava ali… Roçando, montando-a e adorando a sensação que chegava a lhe tirar o fôlego.
Espalmou sobre os seios, amassando-os. Apertando-os. Desejou senti-los com os lábios, saboreá-los.
Recordou das imagens que viu no livro proibido que encontrara, da ousadia e dos gestos que as mulheres faziam.
Sentia uma pressão dolorosa abaixo do estômago, uma vontade de ir até o fim.
Roçou a unha no biquinho intusmecido…Ouviu o gemido que se mesclava a dor e prazer…Aquilo a deixou ainda mais perdida…
Seu sexo latejava…
Aquilo nunca se passara consigo…
Sempre imaginara o amor como algo sublime, por isso nunca se preocupou com o fato de não sentir desejo tão intenso pela namorada.
Lembrava de Nathália falando que a relação delas era de alma e que estava muito acima dos desejos da carne. Mas e agora? O que se passava?
Sentiu a mão atrevida pousar em suas nádegas, apertando-a, arranhando-a, pressionando-a mais contra si.
Sentiu os dedos adentrarem a parte de baixo do seu biquíni e aquilo a assustou.
Um estrondo alto foi ouvido…
A fúria de Thor caia sobre a terra e trazia a Valentina o juízo de volta…
A morena empurrou a ruiva, seguindo correndo para o interior dos aposentos. Natasha ainda fez menção de ir atrás dela, mas acabou ficando onde estava… Parada, olhava para o céu e sentia os pingos da tempestade chicotear seu rosto.
Passou a mão pelos cabelos molhados e não pareceu se importar em ficar ali…Pressionou os dentes…Sentia o corpo queimar…Sentia espasmos… Estava trêmula! Desejava saciar aquela agonia… Ir até ela e fazê-la terminar o que começaram…
Olhou para o quarto escuro e pensou em segui-la, sabia que poderia convencê-la a finalizar o que tinham começado…
Sim, poderia… Era visível que a morena ainda estava apaixonada pela Nathália…
Mas ela não era a irmã…E a única coisa que desejava era sexo… Queria sentir o corpo ser consumido por aquele fogo de puro desejo… Queria possuí-la com a fúria que era próprio de si…
A chuva ficava cada vez mais forte e Natasha permanecia no mesmo lugar, parecendo que a tempestade não a incomodava.
A Natacha vai demora a atender o que sente pela Valentina é amor. Ela nunca recebeu nenhum demonstração do que é o amor por parte da falecida esposa e seus familiares.
ResponderExcluirSim, é verdade, é um sentimento novo e até mesmo perigoso para ela e com certeza vai lutar muito para resistir a ele.
ExcluirQue luta...amor e vingança! Jajá ela percebe que está apaixonada...tô doida p ver ela de 4 pela Valentina! 🥰
ResponderExcluirUma luta difícil de ser lutada e com certeza uma difícil de ser vencida, mas a ruiva não vai se render tão fácil.
ExcluirBeijão grande.
Olá autora!
ResponderExcluirA Natasha vai conseguir o que quer,pois a Valentina aos poucos está cedendo,e não é só pelo desejo.
O que as unem não é a paixão que a Valentina sentia por sua irmã,mas simplesmente algo maior que nem elas mesmas ainda não perceberam.
Rançoooo,muito, dessa velha tenebrosa, espero que logo terá seu castigo.
Até mais autora.
Isadora é um ser terrível e sem um pingo de decência, pois agira de forma terrível com uma criança, imagina o que faria com um adulto.
ExcluirBeijão grande!