Anjo caído -- Capítulo 8

          O apartamento luxuoso em Nova York fora a única coisa que Patrı́cia ainda tentava manter. Vendera a maioria de todos os bens que ganhara de Berlusconi.
             Deitou-se no sofá, tendo um cálice de vinho em uma das mãos.
            Sabia desde o inı́cio que o jogo que se prestara a jogar era muito perigoso, mas tivera a ilusão que jamais seria descoberto, na verdade, sempre planejara por um fim com o romance com a linda morena, mas ao passar do tempo aquela hipótese se tornava mais e mais difı́cil.
             Passou os dedos pelos lábios.
          Ainda sentia a pele queimar ao recordar da forma como era amada por Angel. A médica era deliciosamente passional e dominadora quando se tratava de sexo. Seu toque era firme, poderoso... Atrevido como jamais provara com outra pessoa.
            Tomou um pouco mais do lı́quido.
          Porém aquilo não fora suficiente, sua ambição sempre fora maior do que tudo e sabia que o dinheiro pertencia a Antônio e não a jovem que ainda trilhava seu caminho orgulhosamente, não desejando receber nenhum centavo do neurocirurgião.
        Querer apenas ter uma vida boa, tendo suas vontades atendidas prontamente, não se preocupando como o futuro, com dívidas. Seria isso um erro tão terrível?
             Fitou a aliança que ainda permanecia em seu anelar.
          Fechando os olhos, recordou o dia do enlace e de ter sido tocada pelo sogro, alguns minutos depois de ter dito sim e assinado aquele papel que deveria uni-las para sempre.
            Sentou-se!
           Não, não desistiria da doutora Angel. Sabia que o que tiveram fora intenso, ú nico para ambas e jamais abriria mão daquilo. Quando tivesse a oportunidade de vê-la usaria de todo o poder que sempre teve para toná-la sua novamente e dessa vez não a deixaria escapar.



           Angelina permanecia sentada na enorme poltrona. Esperava que Eduarda terminasse o banho. Fizera-o antes e agora estava com um roupão quentinho diante da lareira que fora acesa.
           Inspirou e sentiu o cheiro dela naquele tecido.
          Não sabia o motivo de estar ali, de não ter retornado aos próprios aposentos, mas algo a prendia, fazendo-a cativa...
            Talvez fosse a presença dela que lhe distraia dos seus tormentos.
         Fitou o outro sofá e viu o pequeno animal que descansava embrulhado em um lençol. Ele dormia, mas parecia agitado... Teria ele também alguns traumas em sua tenra idade?
           -- Nossa, estou morrendo de frio!
         A médica observou Duda se aproximar, usava um roupão verde que combinava com os olhos brilhantes. O sorriso doce estava sempre presente.
        -- Fiz chocolate quente. – Entregou-lhe uma xı́cara, em seguida sentou, pondo o cachorrinho sobre o colo. – O bom é que a energia ainda não foi embora.
         Angelina aceitou a bebida, tomando lentamente, sentindo o aromar lhe embriagar os sentidos. Há quanto tempo não provava algo assim?
           Algumas recordações de sua época de criança invadiram sua mente.
        Eduarda sabia que era falta de educação fitar as pessoas tão insistentemente, mas não conseguia evitar, como se desejasse desvendar todos os segredos daquela mulher, descobrir suas dores, pois sabia que elas existiam em sua maioria.
          Vê-la vestindo branco lhe dava um pouco de luz, mesmo que soubesse como as trevas pareciam presentes em seus olhos.
            -- Por que tem medo do Pigmaleão? – Indagou, acariciando os pelos macios do cachorro que dormia pesadamente. 
             A Berlusconi arqueou a sobrancelha, parecia distraı́da.
             -- Estou falando dele. – Apontou para o filhote.
             -- Ah! – Encarou-a. – Não gosto apenas.
             -- Não foi isso que vi em seu olhar. Vi pânico, temor... – Disse pensativa.
           A médica não respondeu, apenas voltou sua atenção para as chamas que queimava na lareira. Fechou os olhos, presas em suas lembranças.
           A Fercodini observava o perfil forte, implacável. Viu o maxilar mover-se sutilmente.
           Tinha tantas perguntas, mas sabia que não receberia as respostas que necessitava. Tinha certeza que seria quase impossível obtê-las dela.
             -- Doutora... – Chamou baixinho.
          Chegou a pensar que ela tivesse dormindo devido a demora para responder, mas após alguns segundos, ouviu a voz rouca.
               -- Diga... – Falou sem fitá-la.
           -- Perdoe-me pelos problemas que lhe causei desde que cheguei aqui. – Mordiscou o lábio inferior. – Sei que sou muito tagarela e fico me metendo onde não sou chamada e isso a deixa muito brava. Não sei o motivo de ser assim, acho que a minha mãe colocou um papagaio na minha boca quando eu era criança. – Gracejou.—Eu falo muito não é?
          Duda não estava pronta para o lindo sorriso que se desenhou naquele rosto costumeiramente irritado. Seu coração pareceu bater mais rápido ao ver os dentes alvos se mostrarem, tirando um pouco daquela expressão que sempre estava presente.
             Os olhos negros a fitaram demoradamente.
             -- Até se justificando você tagarela demasiadamente. Eduarda gargalhou com o comentário.
             -- Enquanto isso a senhora pouco fala... Nem parece que tem conhecimento da nossa lı́ngua. – Mirou-a intensamente. – Deveria sorrir mais vezes...
              A Berlusconi baixou a cabeça, mirando as próprias mãos que estavam sem as luvas.
               -- Não conheço todas as lı́nguas... Mas provei de algumas... 
                 Eduarda corou ao perceber a ambiguidade das palavras.
               -- Acho melhor retornar ao meu quarto. – Angelina se levantou.
             -- Por que não fica? Ainda está cedo. Posso preparar algo para você comer. – Deixou o animal na cama, retornando até ela. – Fique, não gosto muito de tempestades e a de hoje parece ainda mais implacável que as outras.
           Ela viu a hesitação no olhar da anfitriã, mas não entendia o que a assustava tanto. Seria a proximidade entre ambas?
           Sabia que deveria agir de forma sutil, pois quem estava ali diante de si era um animal selvagem que a qualquer momento poderia se rebelar.
            -- Está bem. – Disse depois de alguns segundos. – Esperarei que a chuva passe e assim retorno aos meus aposentos.
            -- Ótimo! – Disse aliviada. – Irei preparar algo para comer. Tem alguma preferência?
            -- Não sabia que além de estudante de Medicina, também era chef de cozinha.
             -- Acredite, senhora, eu me garanto no que faço.
             -- Esperarei ansiosa para provar do seu talento.
              -- Não demorarei. Fique à vontade. Sinta-se em sua casa. – Piscou divertida.
           Angelina viu-a se afastar e continuou ali, parada naquele apartamento bem arrumado e que tinha o aroma dela, o toque e o jeito dela.
          Caminhou até mesa de estudos e ficou lá folheando os volumes raros que jaziam bem arrumados. Recordou-se da época que era apenas uma menina e passava horas mergulhadas naquelas leituras.
             Não se arrependia do caminho que escolhera, era tudo o que sempre desejara ser... Mas doı́a não poder fazê-lo mais...
               Teve um sobressalto ao ter algo roçando em sua perna.
            O pequeno cachorro brincava com a barra do seu roupão, parecendo se divertir, enquanto a médica entrava em pânico.
              -- Você não deveria estar dormindo?
           Pigmaleão imaginou que a morena estivesse brigando, então começou a puxar ainda mais o tecido de sua veste. Angelina se levantou, mas o filhote não soltou, ficando suspenso.
              -- Solta...
              Eduarda retornou com uma bandeja, tinha feito sanduı́ches e suco.
            Observava a cena a ficou vendo como era hilário ver uma mulher daquele tamanho parecer tão temerosa de um minúsculo animal.
              A médica a viu.
             -- Por favor, tire esse bicho de mim. – Pediu assustada.
          Duda deixou o lanche sobre a mesa e foi ao socorro da Berlusconi. Conseguiu pegar o cachorro.
             -- Ele estava querendo apenas brincar.
           Angelina pareceu irritada. Ajeitou o roupão, amarrando-o porque quase ficara pelada devido ao “ataque” do pequeno.
             -- Não desejo brincar com ele.
             A Fercodini segurou Pigmaleão como se fosse um bebê, levando a barriguinha fofa aos lábios.
            -- Você deveria tá dormindo, garotinho. – Sentou com o filhote. – Venha comer. 
            Angelina ficou parada lá, até que acabou fazendo o que fora dito.
            -- Coma!
          -- Sua especialidade? – Arqueou a sobrancelha, observando o pão recheado com algumas coisas.
            -- Sim! Mas essa é uma de tantas. – Disse orgulhosa.
           -- Você é muito presunçosa para tão pouca idade. – Mordeu o lanche, deliciando-se com o sabor.
              -- E então?
              A médica ponderou por alguns segundos, até responder.
             -- Bem, se você não se der bem na medicina, poderá se sustentar com uma barraca de lanches. Eduarda riu alto.
               -- Eu seria um problema e tanto para os cardiologistas e nutricionistas.
               O resto da refeição fora feita em silêncio. De certa forma, uma trégua parecia ter sido criada entre elas, mesmo que tais palavras não tivessem sido pronunciadas, nem sobre o beijo nada ainda fora dito, mesmo assim, ambas estavam abaladas pelo que ocorrera.
              Duda a fitou de soslaio, recordando da carı́cia que trocaram. Mirou o lábio superior e sentiu novamente um enorme desejo de tê-lo novamente colado aos seus. Provocantes, deliciosos em todos os seus recantos.
             Quando a beijara, fizera para tirá-la do transe que parecia estar mergulhada sob a tempestade. Poderia tê-la deixado lá ou ignorado-a, mas aquele olhar transfigurado pela dor lhe tocara profundamente.
               -- Acho que o pulguento também quer comida.
            A Fercodini pareceu confusa, então a baixar a cabeça viu o cachorro querendo morder o sanduı́che.
            -- Não pode comer essas coisas e você já se alimentou. – Repreendeu-o. – Não o chame assim, ele é super limpinho e não tem pulgas.
            Angelina deu uma olhada no pequeno. Realmente era bem bonitinho, todo roliço e com o focinho achatada e os minúsculos olhos.
              -- Não acha que ele vai crescer traumatizado com esse nome? Pigmaleão... 
              O filhote ficou afoito ao ouvir o nome.
          -- Ele gostou! – Aproximou mais a cadeira da de Angelina, ficando praticamente coladas lateralmente. – Veja, Pigmaleão. – Colocou sobre as duas patas em seu colo. – Esta é a doutora. Doutora, esse é o Pig. – Estendeu a “mão” do cachorro para cumprimentar a anfitriã.
                 Angelina permaneceu estática.
                -- Está com medo? – Desafiou-a.
                -- Não temo mais nada nesse mundo, senhorita. – Segurou a patinha, fitando-a, empinando o nariz fino e arrebitado.
          -- Caramba! – Duda beijou o filhote. – Você está no topo, já foi até cumprimentada pela poderosa Berlusconi, comigo, desde que cheguei só recebi gritos.
                A morena ficou a observando brincar com o animal.
            Os cabelos soltos e a franja que lhe caia na face, deixava-a com a aparência ainda mais infantil. Era muito bonita. O pescoço esguio. A abertura do roupão que deixava ver a curva dos seios redondos.
                 Mirou os lábios rosados e cheios.
             Não podia negar que a desejava. Seu corpo reagia à proximidade e desejava muito mais. Sabia que se tratava apenas de sexo, da solidão que seu corpo reclamava depois de tantos anos recluso.
            Duda levantou a cabeça, deparando-se com os penetrantes olhos negros lhe examinando. Corou ao se lembrar de ter tocado aquela boca sem permissão.
              -- Doutora... – Começou relutante. – Perdoe-me por tê-la... Beijado... O fiz por que... Porque não sabia como tirá-la do transe que estava mergulhada.
           A médica estreitou os olhos ameaçadoramente, mas antes que pudesse falar algo, um relâmpago acompanhado de um forte trovão pôde ser ouvido e sentido dentro da ala norte, levando consigo a energia.
               Eduarda deu um grito, assustada, tomando as mãos de Angelina nas suas, apertando-as. Pig também choramingou.
             -- Calma! – Falou baixinho. – As tempestades nessas áreas costumar ser assim. – Levantou-se, mas Duda não a largou.
              -- Meu Deus! Parecia uma explosão! Nunca tinha ouvido isso.
             -- Onde está o celular? Assim usaremos a lanterna.
             -- Eu não sei onde o deixei.
          -- Certo, não precisa ter medo. Deixarei você e o pulguento na cama e vou buscar algumas velas.
        Eduarda não respondeu, apenas se deixou guiar pela médica. Angelina não parecia ter dificuldades em se locomover na escuridão.
               Em silêncio seguiram até o leito.
             -- Fique aı́, retorno o mais rápido possível... Outro trovão ainda mais alto se fez ouvir.
           -- Fique, por favor. – A Fercodini pediu, tomando-lhe a mão mais uma vez. – Não precisa de velas. Durma com a gente.
         Angelina não podia vê-la, mas conseguia sentir a agonia e o medo nas palavras. Poderia ir embora, na verdade, era o que deveria fazer, mas não foi isso que disse.
           -- Está bem! – Retirou-lhe a mão. – Deite-se e farei o mesmo.
            Duda não respondeu, apenas fez o que fora dito, esperando que a morena fizesse o mesmo.
         Sabia que estava exagerando, mas não desejava mesmo passar aquela noite sozinha. Estava assustada com os trovões que realmente nunca mostrara nenhum tipo de encanto por eles e isso não parecia ter mudado.
            Permaneceram caladas, apenas o cachorro expressava seu medo, exigindo a proteção de sua dona. A Berlusconi fechou os olhos.
           Em quatro anos, aquela fora a primeira vez que acabara se distraindo de sua perda. Não significava que o sofrimento tinha passado, mas que fora mais sustentável, de certa forma.
            Manteve as mãos cruzadas sob a cabeça, evitando assim alguma forma de contato com a intrigante hóspede que parecia não medir suas ações ou pensar o que elas poderiam provocar nos outros.
              Conseguia ouvir o som da chuva. O vento que parecia querer arrancar as raı́zes daquela antiga construção. Aquilo não a assustava há muito tempo. Tinha a impressão que não havia mais vida dentro de si, pois era como se tudo ao seu redor não fizesse sentido.
                   Pensou em levantar e seguir para o próprio quarto, porém não o fez.
                   Aos poucos o sono se apossava de si, adormecendo-a até de suas agonias.



                  Naquele dia, Flávia tivera mais um encontro com um famoso cirurgião.
                 Falara  com  ele  sobre  a  amiga,  buscando  descobrir  as  alternativas  e  o  sucesso  para  uma  possível  intervenção cirúrgica.
            Infelizmente, o que fora dito pelo médico não foi muito animador, pois o tempo era um inimigo a mais para a recuperação de Angelina. Se tivesse sido feito antes, as chances de uma boa recuperação seriam de até quarenta por cento, porém agora não era possível se animar tanto.
                A loira retornara ao hotel muito triste, pois aquela viagem também era para poder ter uma boa notı́cia quando retornasse ao paı́s.
                 Deitou no sofá.
            Pensou em ligar para Duda, pedir para que ela desse uma olhada na médica, mas acabou desistindo, pois não queria que por esse motivo a Angelina explodisse mais uma vez.
                Rezava sempre para que ela tivesse forças e não sucumbisse totalmente ao desespero.
            Lembrava-se de que fora totalmente contra a amiga quando ela decidira se isolar naquele lugar, mas não havia ser humano que fizesse a doutora Angel mudar de ideia. Inicialmente, temera que ela cometesse suicı́dio, devido ao desespero e culpa que parecia estar mergulhada, porém o respeito pela vida que ela adquirira na profissão impedira que um ato tão drástico fosse executado.




            Eduarda despertou ouvindo um respirar na lateral do seu pescoço. Um delicioso aroma invadia suas narinas, deixando-a embriagada. Aquele cheiro suave se depreendia do corpo que estava confortavelmente aconchegada em si.
                Fez o máximo para não se mover ou fazer algo que pudesse despertá-la do sono. O braço e a perna esquerda de Angelina estavam sobre seu corpo.
              Inclinou a cabeça lentamente para poder observá-la. O perfil se mostrava mais suavizado.  Mordiscou a lateral do lábio inferior.
               O amanhecer já trazia suas luzes, dando aos aposentos um aspecto ainda mais aconchegante.
Sutilmente tocou os cabelos sedosos. Observou as pernas seminuas que se sobressaiam do roupão. Desejou tocá-la.
             Nunca em sua vida sentira uma sensação tão poderosa, uma vontade tão devastadora que chegava a dominar suas forças. Desejava aquela mulher como nunca desejara alguém.
            Inspirou, soltando lentamente o ar. Aquela constatação era assustadora. Decerto, era culpa daquele isolamento.
               Essa era a explicação mais racional para sua loucura...
               Não!
           Aquilo estava totalmente errado. Não tinha preconceitos, mas também jamais se imaginara interessada por alguém do mesmo sexo. Ao todo se relacionara com três rapazes e em nenhum momento da vida sentira interesse por mulheres.
           Examinou os traços mais uma vez. Fitou a cicatriz, os lábios estavam entreabertos. Tomou a mão que pendia sobre si. Sentiu-a ásperas devido aos inúmeros machucados.
         A Berlusconi se moveu, aconchegando-se ainda mais, então os lindos olhos se abriram lentamente, deparando-se com as brilhantes esmeraldas que a espreitava. Inicialmente a médica parecia não ter noção da realidade, talvez pensasse se tratar de um sonho, mas o calor exalado por      Duda pareceu despertá-la.
               -- Bom dia, doutora!
             Angelina parecia chocada ao se dar conta da forma que se encontrava. Tentou se afastar, mas Eduarda a manteve cativa pela mão.
            -- Dormiu bem? – Indagou, acariciando os dedos longos. – A minha cama é muito confortável, não é? Mas nada se compara ao meu colo. – Gracejou ao perceber como a morena parecia constrangida. – Você é muito linda... Ainda mais com esses olhos arregalados. – Sorriu.
             A médica desvencilhou-se do toque, afastando-se, mas não se levantou, permanecendo deitada de lado, Duda a encarou, apoiando a cabeça no braço.
              Pigmaleão despertou, seguindo por cima da dona, ficando entre as duas.
Angelina se afastou um pouco, mas diante do olhar divertido da Fercodini, permaneceu parada.
            -- Ele não vai atacá-la...
           -- Eu acho bom, pois se ele fizer isso, o jogarei na masmorra para que os ratos o comam. Duda gargalhou alto.
             A Berlusconi percebia que aquele som era mú sica para seus ouvidos.
            -- Doutora... A senhora já gosta de mim um pouquinho não é?
           Angelina fitou os lábios rosados e a cara de traquina que a jovem exibia.
          -- Realmente... Nenhum pouco... Na verdade, não vejo a hora de me livrar de ti... Até já pensei em te jogar do poço, mas seria muito holofotes sobre mim...
         -- Ah não diga! – Relanceou os olhos. – Isso significa que a senhora não tem bom gosto. – Acariciou a barriga do cachorrinho que parecia querer dormir mais um pouco. – Todo mundo gosta de mim.
            -- Eu não sou todo mundo, garotinha.
           -- Sei... Bem, eu também não gosto da senhora... Acho-a muito brava... Irritada de mais... Sem falar nesse olhar de Medusa que sempre me direciona.
          Pela segunda vez em menos de vinte quatro horas, o sorriso de Angelina pôde ser visto mais uma vez. A morena levantou-se, fechando bem o roupão.
            -- Voltarei para o meu quarto... Você fica aqui e não ultrapasse os limites que já foram estipulados. – Seguiu até a porta.
Eduarda se levantou indo até ela, impedindo-a que deixasse a ala.
             -- O que foi agora? – A médica perguntou impaciente. – A chuva já passou, você já está segura.
                -- Eu sei... Mas...
          Duda não desejava que a barreira entre elas continuasse. Não sabia o motivo, porém desejava ajudar aquela mulher, fazê-la ficar bem... Ver aquele sorriso inú meras vezes... Poderia passar todo o tempo olhando para ele.
              -- Diga logo!
              -- Bem, você deseja que eu vá  embora o mais rápido possıv́  el não é?
              -- Sim, com certeza, de preferência agora.
           -- Então, ajude-me a estudar para as minhas provas, assim, me sairei bem e irei muito mais rápido. Angelina estreitou os olhos.
             -- Eu não sou professora!
            -- Eu sei, mas também sei que a senhora sempre fora brilhante, a melhor de todas e isso vai ser de muita ajuda.
             -- Ah, por favor. – Começava a se irritar. – É sua obrigação se sair bem nessas provas, assim quem sabe deixa de ser irresponsável e cabeça de vento.
               A Fercodini respirou fundo.
          -- Está bem, então, vou tirar notas baixas e a sua querida amiga Flávia vai me deixar aqui eternamente lhe fazendo companhia.
           A Berlusconi levou a mão aos cabelos em um gesto que já se tornava conhecido para a hóspede. Parecia ponderar, até que pareceu ter tomado uma decisão.
             -- Ok! Teremos duas horas de aulas, mas não será todos os dias. A cada três dias estarei aqui e não aceitarei suas brincadeiras ou palhaçadas.
             -- Certo, comandante! – Falou prestando continência.
             Diante do olhar irado, mordiscou o lábio para não desatar a rir.
             -- Disse que eu não poderia brincar nos dias das aulas, ou seja, daqui a três dias.
            Angelina ainda pareceu querer retrucar, mas acabou virando nos calcanhares, seguindo para fora do quarto, mas ainda pôde ouvir o som da risada rouca de Duda.

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