Anjo caído -- Capítulo 18


          A hora já estava avançada.
         A sala que fora decorada para a doutora Berlusconi jazia no escuro, tendo apenas uma luminária a clarear a parte da escrivaninha.
          Angelina jazia com a carta suspensa em sua mão.
        Observava a caligrafia presente naquele papel. Não havia dúvidas de quem era aquelas letras. Ao final da missiva, descansava o nome de Antônio.
          Fechou os olhos, tentando não dar vazão às lágrimas.
         Resistira durante vários dias, mas acabara sucumbindo à curiosidade. Fitou a pilha de cartas que estavam sobre a mesa.
        Nem sabia o motivo de está lendo-as, escolhendo a de data mais antiga para acompanhar a narrativa.
           O assunto presente era a filha e a esposa. Ele se queixava pela atenção que Ângela dispensava à jovem, além de deixar claro sua insatisfação pela esposa ter abandonado a carreira brilhante para se tornar apenas mãe.
          “ Eu não tenho filha! Por causa dessa arrogante de olhos negros e nariz arrebitado, eu perdi todas as chances de ter um varão para perpetuar o meu nome.”
           Antônio nunca escondera de ninguém a insatisfação por não ter sido pai de um menino, sem falar o fato de odiar o fato da única herdeira não ter herdado os olhos claros que era caracterı́stica de sua ilustre famı́lia. Amassou lentamente a folha, como se aquele simples ato pudesse lhe aliviar a dor.
             Encostou-se a enorme e elegante cadeira giratória de couro. Movimentando-se devagar.
            Sempre soubera que o pai não nutria nenhum amor por si. Apenas raiva e desprezo, porém ver suas suposições confirmadas em cada uma daquelas linhas era algo terrível.
       Lembrava-se da mãe lhe dizendo que ela estava enganada e que apenas o poderoso neurocirurgião não era bom em demonstrar o que sentia, mas que a amava, afinal, ela era sua filha. Seu bem mais precioso.
               Observou o relógio que descansava ao lado do porta- retrato.
             O sorriso bonito de Ângela expressava a pessoa incrível que ela sempre fora. Tomou-o em sua mão, delineando a imagem com seus dedos.
               -- Mamãe!
               O despertador lhe tirou dos seus pensamentos. Quase sete horas!
               Precisava chamar um táxi e ir para o apartamento.
               Naquele dia Flávia ficaria de plantão devido a um problema que acontecera.
           Tirou o telefone do gancho, pensando em chamá-la, conversar um pouco, pois depois da última discussão que tiveram, pouco estavam se falando, ainda mais porque ela não gostara do fato de Angelina ter se mudado.
             Observou as teclas e percebeu que inconscientemente discara um número que já estava decorado em sua mente. Depois de chamar infinitas vezes, ouviu o som doce, a voz melodiosa daquela menina-mulher.
                Não falou nada, apenas recolou o aparelho ao local.
          Teria Duda voltado para o namorado como Patrı́cia tinha falado? Passou os dedos pelas madeixas sedosas.
                Levantou-se bruscamente, derrubando a cadeira. Seguiu até a janela, abrindo-a.
               Inspirou o ar da noite, observou as luzes artificiais iluminando a rua movimentada. Respirou fundo, soltando lentamente o gás carbônico.
              Fitou as próprias mãos que não estavam com a proteção das luvas naquele momento. Negara-se ao ver o tal especialista, pois o que desejava ele não podia lhe devolver.
           Impaciente, como um tigre enjaulado, retornou ao mesmo lugar, dessa vez, escorando-se à escrivaninha. Pegou outra carta, abrindo-a de forma tão indelicada que quase a rasgou.
               A médica engoliu em seco.
          Seu próprio pai debochava do sentimento da filha, vangloriando-se por ter um caso com Patrı́cia! Como alguém podia ser tão miserável?
          Mordiscou tão forte o lábio inferior que sentiu o gosto de sangue. Mais uma vez ama vez amassou a folha, deixando a sala rapidamente.



              José se preparava para ir embora. Fora apenas deixar uma muda de roupa para a patroa.
           Ao seguir para buscar o veı́culo que estacionara à frente o prédio, seus olhos foram atraı́dos por uma figura conhecida.
          A única herdeira do império de Antônio estava sentada no primeiro degrau da enorme escadaria que dava para a rua.
             As pessoas passavam e observavam a imagem solitária e intrigante. Ficou parado, fitando-a sem ser visto. Quem daqueles simples mortais já tiveram a chance de ver uma mulher tão importante e imponente em um momento tão fragilizado?
            Pensou em avisar à Flávia, mas acabou decidindo se aproximar. Caminhou, parando diante dela.
              -- A senhora precisa de alguma coisa? – Indagou hesitante.
           Ele teve a impressão que a médica não ouviu, mesmo tendo certeza de ter falado em som audível. Angelina permanecia de cabeça baixa, olhando para os próprios pés.
            José estava pronto para repetir a pergunta, já imaginando o esbravejar da milionária, porém surpreendeu-se ao ver o rosto bonito banhado de lágrimas.
              Deus!
              Será que a bonita jovem nunca deixaria de sofrer?
          Condoeu-se por ela, condoeu-se por ver como os bonitos olhos estavam ainda mais sombreados pela dor e pelo desespero.
               Estendeu a mão.
             -- Venha comigo. – Pediu gentilmente.
              A morena, inicialmente, pareceu confusa. Apenas o observava com o olhar vago.
           Infinitos segundo se passaram até que surpreendentemente, ela segurou a mão do bom homem. José deu um sorriso tı́mido, guiando-a até o carro.
             Cortês, abriu a porta de trás para que ela se acomodasse, em seguida assumiu o seu lugar, ligou o rádio em uma melodia suave, dando partida.
            Conduzia pela avenida da grande cidade e sempre observava pelo espelho sua triste passageira. Ela permanecia de olhos fechados e chegou a pensar se a neurocirurgiã tinha adormecido.
Não sabia se estava fazendo o certo, porém tinha certeza que se alguém podia ajudar a doutora naquele momento, essa pessoa era a jovem Fercodini.
             Tinha certeza que ambas se gostavam e que bastava apenas uma boa conversa para que se acertassem.
            Sentia-se triste pela patroa, mas acreditava que cada coisa acontecia por uma razão muito forte, então o melhor era ter paciência e acreditar em dias melhores.
                Meia hora depois...
                Angelina abriu os olhos ao perceber a falta de movimento do automóvel.
          Observou que estavam parados em frente a um prédio verde de quatro andares. As luzes iluminavam as janelas dos apartamentos.
               Ao olhar para o outro lado viu uma pequena praça. Muita gente estava lá.
             Havia carrinhos de cachorro quente, churrasquinhos e várias outras coisas. Não reconheceu o lugar.
              Viu um monte de crianças correrem para o escorrego, enquanto outras usavam os balanços ou as gangorras. A porta se abriu e José lhe estendeu a mão.
                -- Onde estamos? – A morena questionou.
                Quando aceitara ir com o motorista pensara que ele a levaria para a casa.
                -- No apartamento 401 mora a menina Fercodini. – Apontou para uma das janelas.
             Os olhos negros se arregalaram. Não só traziam surpresa, mas algo parecido com um lampejar de esperança aparecera, sendo rapidamente sufocado por um brilho orgulhoso.
                 -- Ela não deseja me ver! – Falou por entre os dentes. – Leve-me daqui!
          -- Tem certeza? – O motorista arqueou a sobrancelha esquerda. – Já pensou em pedir desculpas? – Sorriu. – Sabe que ainda lembro-me de uma garotinha travessa que sempre era gentil com todos e que ninguém resistia a ela. – Deu uma pausa. -- Acha que a Maria Eduarda não sucumbiria ao charme daquela menininha?
                 Angelina fechou a porta do veı́culo.
                Fechou os olhos, parecendo ponderar sobre o que fora dito.
             Na verdade estava magoada por não ter sido procurada e por não ter sido atendida em suas inúmeras tentativas.
           Não havia palavras suficientes para demonstrar a falta que aquela garota lhe fazia. Tinha a impressão que seu mundo ficara ainda pior sem a presença dela. Antes pelo menos era apenas a sua dor, agora precisava lidar com aquela ansiedade que lhe tirava o sono.
          Passara toda aquela semana esperando por uma ligação, em nenhum momento foram retornados seus recados.
             Apertou os olhos fortemente, tentando resistir ao desejo de vê-la, porém naquele momento era a menina Fercodini que poderia lhe fazer esquecer suas angustias, como tantas vezes já fizera.
              Voltou a abrir a porta e José continuava lá com a mãe estendida.
               -- Vai comigo? – A médica aceitou a ajuda.
          -- Não! – Levou-a até a entrada. – Ficarei aqui, esperarei pacientemente. 
               A Berlusconi observou o edifı́cio, em seguida caminhou até lá.


           Eduarda seguia irritada pelas ruas, pois o ônibus demorara demasiadamente e só agora chegava a sua casa.
              Precisava urgentemente resolver o problema da suspensão da habilitação. Pensou em ligar para Flávia, mas não tivera coragem para isso, ainda mais porque não desejava ter contato com a Angelina.
                 Acelerou mais o passo.
               Saı́ra cedo do trabalho, mas precisara passar na universidade e só agora conseguira chegar ao destino. Que bom que deixara comida suficiente para o pug.
               Ofegante, entrou no prédio, subindo os degraus de dois em dois. Ao seguir pelo corredor, viu alguém encostada a sua porta.
             Pensou em dar meia volta, mas os olhos negros a fitaram e foi como se aqueles dias não tivessem passados. 
                 Angelina Berlusconi!
              Ela usava um vestido preto até os joelhos, colado ao corpo, um cinto dourado e fino em sua cintura e um blazer escuro, aberto.
                 Parou a alguns centı́metros da morena.
            -- Eu não quero brigar, doutora, tampouco desejo lhe falar, pois sabemos que isso não vai terminar bem. Então percebeu os olhos úmidos, sentindo-se arrependida por ter sido tão dura.
               -- Posso ficar apenas abraçada a ti? – Perguntou com voz rouca. – Ou preciso confessar que não consigo viver sem tê-la por perto? Ou preciso falar que estou ficando louca por sua causa?
             Duda abriu a boca para falar algo, mas apenas se jogou nos braços do seu anjo caı́do... Apertou-a forte contra si.
                Foi sacudida pelos espasmos que a dominavam, ouviu o choro baixo se transformar em um soluçar alto. O que teria se passado?
               -- Calma, meu amor, estou aqui. – Sussurrou em seu ouvido. – Xiiiii. – Embalava-a como a uma criança. Acariciou-lhe os cabelos, esperando pacientemente que a agonia que ela demonstrava passasse.
                Segurou-lhe o rosto, fitando-a intensamente.
                 Lembrou-se do dia que a encontrara na chuva e de tê-la beijado.
               Tocou os olhos molhados com os lábios, secando-lhe as lágrimas, em seguida depositou um beijou na boca rosada. Na verdade, foram vários selinhos, até que a médica aprofundasse mais o contato, buscando desesperadamente o sabor dela.
            Duda sentia o gosto, tocando-a com a lı́ngua, mas não com urgência, apenas de forma paciente. Sentiu o sabor do choro... Sentiu o sabor da saudade...
                  Ouviram o latir do lado de dentro. Ambas se encararam.
                  -- Vem comigo. – Eduarda lhe segurou a mão, enquanto abria a porta.
               As duas mulheres foram recepcionadas por um Pigmaleão agitado, sem saber a qual das duas deveria devotar sua atenção.
                   A Fercodini o tomou nos braços.
                    -- Acho que alguém deseja falar com você, doutora.
             O rosto triste se iluminou em um enorme sorriso ao ver os olhos do animal parecerem emocionados. Tomou-o para si.
                  -- Nossa, como você tá fofinho. 
                   A estudante sorriu.
                 -- Sabe que eu tenho a impressão de que você é a Galateia dele. – Fitou-a, encantada com a beleza da médica. – Acho que não só dele... – Falou baixinho.
              Ela pensou que Angelina não tivesse ouvido, mas a forma que os olhos negros a fitaram mostravam o contrário. A jovem corou, umedecendo o lábio superior.
           -- Senta! – Retirou uns livros que estavam sobre a poltrona. – Perdoe-me a bagunça. 
                A neurologista se acomodou tendo o pug em seus braços.
             Fitou a garota que vestia calça jeans desbotada e com alguns rasgos no joelho, camiseta. Tudo ajustado ao corpo bonito. 
                 Angelina voltou a encará-la.
              -- O que houve? – Duda questionou. – Como veio parar aqui? – Cruzou os braços sobre os seios porque o olhar da morena fez com que os mamilos se eriçassem.
              A médica percebeu e voltou sua atenção para o filhote que jazia em seu colo. Acariciou os pelos ralos. Ele usava apenas uma camisetinha.
                  Encarou a jovem novamente, vendo-a sentar no sofá a sua frente.
                -- O José me trouxe. – Disse em um fio de voz. – Na verdade me surpreendia quando ele me falou que você morava aqui.
                  -- Por que ele te trouxe? Você pediu? – Indagou esperançosa.
                Mesmo que negasse, desejara muito vê-la e só Deus sabia como fora difı́cil não atender suas chamadas, porém ficara magoada com as últimas palavras que ouvira dela, ainda mais depois de terem se entregado de forma tão intensa.
                  A morena fez um gesto negativo com a cabeça.
                  Eduarda notou os olhos negros ficarem rasos de água novamente.
                  -- Está com fome? – Levantou-se. – Posso preparar algo pra gente.
               -- Não quero incomodá-la. – Desviou o rosto para escapar de uma lambida na boca. – Por que não pedimos? Posso descer e ir comprar algo em umas barraquinhas que tem na pracinha aqui de frente.
              -- Não acredito que a poderosa e conhecida internacionalmente Angelina Berlusconi comeria cachorro quente e churrasquinho. – Provocou-a com um sorriso travesso.
             -- Bem, eu não sou cheia de frescuras assim e estou faminta. – Levantou-se, fitando os seios, percebendo os botões excitados.
               A Fercodini pigarreou.
               Teve a impressão que todos os pelos do corpo se manifestaram.
            -- Sobre a escrivaninha tem o número, eles trazem aqui em cima. – Tomou o cachorro dos braços da médica. – Vou cuidar desse rapaz e tomar um banho, porque estou fedida.
              As mãos se tocaram e mais uma vez os olhares se encontraram. Duda observou o mar negro, sedutores, atrativo como imã.
               -- E o que devo pedir para você? – Angelina chegou mais perto.
               Os corpos estavam praticamente colados, tendo apenas o filhote entre elas.
               -- Tudo! – Gargalhou nervosa. – Também estou com muita fome.
               A médica aproveitou o sorriso enorme para lhe dar um beijo rápido.
             -- Irei lá! – Pegou a bolsa. – Preciso fazer algo. Pode-me emprestar as chaves? – Estendeu a mão enluvada. 
              Duda pegou no bolso, entregando-lhe.
           -- Por favor, tome cuidado. Esse bairro não é muito seguro e as pessoas não estão acostumadas a ver uma mulher tão bonita e elegante.
             A Berlusconi lhe tocou a face.
             -- Sou bonita? – Arqueou a sobrancelha. – Acha? 
             Mais uma vez a Fercodini corou.
             Angelina sorriu.
             -- Estou indo comprar e volto logo.
          Antes que Eduarda pudesse falar algo, a outra deixou o apartamento. A garota apertou o cãozinho contra o peito.
              Ouvia o som do próprio coração. Respirou fundo!
          Aquela mulher tinha o poder de desmontar todas as barreiras que ela fazia para se proteger. Bastava fitar aqueles olhos que sua vontade caia por terra.
              O que tinha acontecido com ela naquele dia?
            Deveria mandá-la embora, porém não conseguia fazer isso, mesmo que soubesse que corria um grande risco tendo-a ali, tão perto.
               -- Por que fui me apaixonar por essa Galateia? 
               Pigmaleão latiu.
           -- Eu sei que você também a ama. – Beijou o filhote. – Nossa estátua de mármore sem coração. – Suspirou desanimada.



                José ouvia música pacientemente no interior do veı́culo quando viu alguém bater no vidro. Tinha visto quando a Fercodini chegou e pensou que pelo tempo que ficaram lá dentro, tinham se acertado. Saiu do carro.
              -- O que houve? – Questionou. – Pensei que demoraria mais.
              O motorista observou que o semblante da médica estava melhor.
              -- Venha comigo até aquelas barraquinhas.
              -- Para quê? – Questionou surpreso.
              -- Comprar algo para comer.
             Seguiu a passos largos, enquanto José tentava acompanhá-la.
          -- Quem vai comer isso? – Perguntou enquanto via a morena pedir um monte de coisa.                            Angelina deu de ombros.
               Alguns minutos depois estavam caminhando até o carro.
             -- Coma! – Entregou-lhe uma bolsa. – E vá embora, pegarei um táxi.
             -- Tem certeza? – O homem indagou. 
             A médica deu um beijo em sua face.
             -- Obrigada!
           José a viu se afastar e ficou parada lá, sem nenhuma reação. Depois de um tempo exibiu um sorriso enorme.
             -- Que Deus a abençoe, menina!




           Flávia estava vendo alguns papéis em seu consultório e viu a papelada de alguns estudantes que estagiariam no hospital naquele semestre.
             Viu a foto de Eduarda e coincidentemente a da ruiva.
             A Fercodini era obrigada ao internato ali, mesmo que ela se negasse. Mas e a outra?
           Não gostara da forma como a Ester lhe tratara quando estivera no apartamento de Duda e muito menos gostaria da presença das duas ali.
             Sabia que estava sendo imatura, mas não conseguia evitar sentir ciúmes de Angelina.
           Aqueles dias não foram bons. Tentara manter uma distância, mas não era fácil, pois sabia que ela não andava muito bem.
          Sabia como era difı́cil tudo o que ela passou, percebia como ela sofria por não pode estar exercendo sua profissão. Pediu para Henri tentar convencê-la a se submeter à cirurgia, mas o professor tinha viajado e só voltaria ao final daquela semana.
          Pegou o celular discando o número do apartamento da amiga, mas ninguém atendeu. Levantou-se.
       Iria até a recepção para ver como estava o atendimento, depois tentaria falar com a Angel novamente.




           Eduarda saiu do banho e ficou em dúvida se deveria vestir uma camisola como era de costume. Prendeu os cabelos em um coque, decidindo ficar com o roupão rosa.
                Seguiu até a sala e encontrou Angelina com várias sacolas.
                -- Nossa! – Exclamou. – Muita coisa.
                -- Onde eu coloco?
                Duda foi até ela, ajudando-a. Seguiram até a minúscula cozinha.
                -- Posso tirar o blazer? – A médica indagou. – Está um pouco quente aqui.
                -- Se você quiser, pode tomar banho.
                -- E o que vestiria? – Fitou-a. – Posso ficar nua? 
                A Fercodini desviou o olhar, constrangida.
                -- Pode vestir um roupão. – Disse por fim.
                 -- Realmente eu ficaria feliz em banhar, passei todo o dia sem ver água.
           -- Primeira porta à esquerda. – Apontou. – Pode ir, vai encontrar tudo o que precisa lá.                                Angelina deu um sorriso.
                 -- Obrigada, senhorita.
                 O pug correu até a dona, sentindo o cheiro dos alimentos.
               -- Não! Sua comida está ali. – Apontou para o prato. – Não quero que fique doente. 
               Seguiu até o armário, pegando pratos e copos.
               O espaço não era grande, mas havia tudo o que era necessário.
             A pequena mesa de quatro cadeiras, o fogão, micro-ondas, armário, geladeira, todos na cor branca.





               Angelina observou o quarto bem arrumado e a enorme cama. Sentiu o cheiro dela ali.
Viu sobre uma cômoda, inúmeros perfumes, maquiagens e também alguns quadros com várias fotografias. Aproximou-se.
              Cecı́lia!
              Ela era uma mulher bonita, mas Eduarda não era tão parecida com ela.
             Observou inúmeras fotos de uma menina de cabelo castanho claro, o sorriso e olhar travesso continuavam o mesmo.
               Sorriu!
               Uma em especial lhe chamara a atenção. 
                Linda, deliciosamente linda!
                Decidiu seguir até o banheiro.
               Não era grande, na verdade tudo era bem compacto por ali, ainda mais para alguém que fora criada em uma enorme mansão, porém era muito acolhedor, igual à dona.
             O banheiro era todo decorado em verde e branco. Tudo em seus devidos lugares. Despiu-se, em seguida retirou os sapatos de salto.
          Caminhou até o box, ligou o registro, deliciando-se com o lı́quido aliviando as tensões. Levantou a cabeça, deixando que os cabelos fossem molhados.



           Eduarda terminou de arrumar a refeição, então, lembrou-se de que não dissera para a médica onde encontrar o roupão. 
          Impaciente, seguiu até o quarto, como a porta estava aberta, adentrou apressadamente, mas parou de forma brusca.  Angelina jazia parada, próximo à cama. Estava totalmente nua, enquanto secava os cabelos com a toalha. Ambas se fitaram surpresas.
             A médica não fez menção em esconder a nudez, enquanto Duda parecia hipnotizada pelas formas da morena.
            A Fercodini sabia que deveria dar meia volta e deixar os aposentos, mas em sua mente o filme da última vez que se entregaram àquela paixão sacudiu todo seu interior.
         Fitou os seios redondos, observou os mamilos excitados... O abdome liso e o maravilhoso triângulo... Sentiu água na boca.
             Encarou-a novamente.
         -- Deixe-me ajudá-la. – Falou instintivamente, aproximando-se, colocando-se as suas costas. Pegou a toalha, começando a secá-la.
          Angelina levou a mão até os cabelos, levantando-os para que a jovem pudesse executar a função que se propusera a fazer.
              Deu alguns passos para trás, sentindo o tecido do roupão roçar sua pele.
              Duda observou a tatuagem e não resistiu ao desejo de tocá-la. O primeiro contato foi como se levasse um choque. Observou o pescoço esguio e não resistiu ao desejo, encostando os lábios neles.
              -- Eu gosto da sua pele... O aroma que se depreende... A médica sentiu reagir imediatamente.
              Umedeceu os lábios.
            -- Gosta? – Fechou os olhos sentindo a carı́cia. – Gosto quando seu corpo cola ao meu... O calor que emana... 
             Angelina percebeu que ela tinha se afastado, mas antes que virasse para ver o que se passava, sentiu-a colar em si, moldando-se por trás.
             Cerrou os dentes, fechou os olhos, extasiada.
            -- Assim? – Tocou os ombros, massageando-os, descendo até os braços, até depositar as mãos sobre os seios. – Não há mais nada entre nós...
          A neurologista observou os dedos longos explorando o colo com maestria. Sentia o sexo úmido roçar em seu bumbum, ousada, empinou ainda mais, sutilmente rebolando.
           Sentia as carı́cias em suas costas, o mordiscar em sua orelha... A respiração ofegante.
       Afastou as pernas quando percebeu a carı́cia nas coxas e depois sobre seu intenso desejo latejante.
          -- Meu corpo queima por ti... – A estudante confidenciou contra o ouvido. – Não resisto... – Usou o indicador para tocar o sexo pulsante. – Eu sei que não deveria... Mas eu não consigo... – Fez movimentos circulares.
           -- Não lute... então... Ain... Não lute...
         -- Mas... – Invadiu-a lentamente. – Sente? – Passou a lı́ngua pelo lóbulo da orelha. – Sente como seu bumbum está lambuzado com o meu mel?
          Angelina gemeu mais uma vez, fazendo movimentos de vai e vem, encaixando-se sobre o desejo da estudante.
             -- Está me deixando louca... – A médica falou com a respiração acelerada. – Não sabe o poder que tem sobre mim... – Disse baixinho.
             Eduarda beijou as asas que repousavam majestosas...Seguindo as formas com a própria lı́ngua. Depois virou a amante para si.
                 Viu o mesmo fogo que sentia refletido naquele olhar.
             Sentiu a boca tomada e não protestou em momento algum, mesmo tendo os lábios esmagados em uma carı́cia tão dominadora.
              Abraçou-lhe a cintura, desejando senti-la fundida a si.
             O contato entre os seios a estava deixando perdida... Sentia-os doloridos, implorando por ela, gritando por atenção. Os mamilos se roçavam, vibrando com o encontro.
              Choramingou contra os lábios da Berlusconi.
         Observou o sorriso charmoso nos lábios dela e antes que pudesse falar algo, estava sendo conduzida até a enorme cama.
             Foi deitada delicadamente, enquanto sentia aqueles olhos perscrutarem seu rosto.
          Afastou as pernas para acolhê-la, deliciando-se com os lábios que lhe tocavam por toda extensão, até chegar aos montes redondos.
          Sentiu a ponta da lı́ngua brincar com um, enquanto o outro era afagado pelas mãos experientes.
         -- Chupa... – Pediu. – Chupa bem gostoso... – Mordiscou o lábio inferior. – Adoro quando mama meus seios... 
             A médica obedeceu prontamente.
             Mamando, faminta... Mordiscando e exigindo mais e mais do que era lhe oferecido.
     Sentia as costas serem arranhadas, mexia sobre o sexo escorregadio... Acelerando os movimentos... Duda ofegava... Segurando-lhe a cabeça, detendo-lhe os movimentos que a estava deixando louca.
             Beijou os lábios...
             -- Lembra-se do que falara da ú ltima vez que nos amamos? Angelina a fitou, confusa.
             -- Falou que da próxima vez eu ficaria por cima...
           Os olhos negros se estreitaram, mas ela fez o que fora dito, deitando-se, abriu os braços para recebê-la. A Fercodini exibiu aquele ar travesso, enquanto montava o quadril, colando os sexos.
            -- Diga-me, doutora, andou usando sua imaginação... – Acariciou o abdome, indo até os seios.
            A Berlusconi mordiscou o lábio inferior, depois começou a tocar o sexo que se mostrava diante de si com as costas da mão.
          -- Sim... – Penetrou-a com o indicador, fazendo movimentos circulares dentro dela. 
          Os olhos verdes se escureceram...
          Duda inclinou a cabeça para trás, adorando a carı́cia possessiva.
          -- Por que quer saber disso... – Meteu mais, sentindo-a se abrir para acolher. – Fez o mesmo?
          -- Não... – Rebolou... – Mas sonhei...
       A jovem deteve os movimentos, enquanto depositava um beijo em sua boca, depois ajoelhou diante das pernas dela.
          Afastou-as.
          Angelina trincou os dentes ao ter o contato da lı́ngua com a virilha. Apoiou-se no cotovelo para vê-la melhor.
        Viu-a usar o polegar para massagear o centro do seu prazer, o mordiscar em sua coxa, esperando ansiosamente por algo que não demorou para chegar.
        Os lábios se encontraram com outros... Em um beijo intimo, cuja lı́ngua passeava por toda extensão, lambendo... Chupando...
          Mirou os olhos que a acompanhavam, viu a expressão de puro deleite... Penetrou-a, então sentiu o poder em dominar a poderosa Berlusconi... Viu o rosto forte e de olhar duro se transformar em paixão.
           Ouviu-a gritar, sentiu-a totalmente entregue... Sentia o gosto dela e desejava cada vez mais tomá-la só para si. Ousou mais, metendo mais impetuosamente... Imitando-a, levou o dedo a seguir o mesmo percurso da lı́ngua...
        A médica aumentava os movimentos, gemendo, sentindo o corpo aos poucos se render totalmente... Duda sabia que ela não demoraria a atingir o ápice daquela escalada.
             De repente sentiu-se puxada.
            Inicialmente não entendeu o que se passava, até Angelina a fazer sentar bem perto de sua face. Tentou sair, mas foi detida.
            -- Calma, você ainda continua por cima... – Observou o sexo aberto e intensamente molhado. – Mas eu quero que seja na minha boca dessa vez... Ajoelhe-se...
           A Fercodini pareceu constrangida diante da exposição, mas a olhar para a Berlusconi, acabou cedendo ao apelo.
            -- Abra para mim. – A morena pediu.
            Eduarda usou as mãos para fazê-lo, mostrando-se despudoradamente entregue.
            -- Aproxime-se mais...
          A garota fez o que fora dito e quase desfaleceu ao posar o sexo sobre os lábios da atrevida mulher.
          Experimentou esfregar-se, sujando-a com seu pegajoso lı́quido... Sentindo a lı́ngua lambe-la mais rapidamente, então aumentou os movimentos.
         -- Toque-se também! – A voz rouca ordenou. – Deixe-me ver seus dedos executarem junto comigo.
            Duda levou a mão ao sexo e enquanto a lı́ngua a penetrava, mexendo gostoso em seu interior, ela massageava o clitóris. Seguindo a impetuosidade imposta pela morena.
          Angelina passou um dos braços por baixo da perna de Duda, chegando ao próprio centro do prazer, tocando-se, enquanto a sentia dançar sobre seu rosto.
          Ouviu-a falar palavras desconexas, mas distinguiu o próprio nome em meio às sı́labas enroladas.
             Aumentou as investidas com a lı́ngua... Sentiu-a tremer... Fitou os olhos que permaneciam fechados... Totalmente entregue...
               -- Goze para mim... – Pediu. – Derrame... Derrame seu mel na minha boca... Ah...
               -- Angel... Angel... Minha... Assim... Ain... hun...ah...
             Os movimentos ficaram mais frenéticos, até ambas gritarem juntos ao serem tomadas por um poderoso orgasmo... Sacudindo-as...
            Duda a sentiu sugar cada gota que saia do seu corpo, até quase desfalecer... Mas Angelina a ajudou a deitar, trazendo-a sobre seu peito.
            Ouviu a respiração acelerada da jovem, acolhendo-a em seus braços, sentindo a tensão dos últimos dias se dissiparem totalmente.
              Amava-a...
              Fora esse pensamento que teve antes de adormecer ...

Comentários

  1. Olá Geh.
    Saindo da moita, ou melhor, da floresta, local da última aventura rsrs deixaste saudades viu.
    Fiquei super feliz em receber a notícia do seu retorno, valeu Bruna!
    Amo Anjo Caído, e é sempre um prazer reler.
    Já, já voltaremos a tricotar por aqui.
    Bjs.

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    Respostas
    1. Olá, querida, seja muito bem vinda por aqui e desculpe a demora para responder, porém ando meio ocupada, uma correria que eu mesma procurei rsrsrsrs mas estou muito feliz com sua chegada e é sempre um prazer reencontrá-la na minha nova casa.
      Um beijão e boa noite.

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