Anjo caído -- Capítulo 17




              As respirações aos poucos voltavam ao normal.
          Os corações que antes batiam descompassados, agora já pareciam retornar ao seu bombear costumeiro. Eduarda abraçou o corpo que descansava sobre o seu, sentindo o suor das costas lhe molhar a pele.
              Acariciou-as.
            O rosto de Angelina se encontrava sobre a lateral do seu pescoço. Sentia o ar quente contra si.
           Permaneceu quieta, desejando apenas tê-la em seus braços, mesmo sabendo que se entregar àquela mulher não fora uma boa ideia, pois seu desejo fora ainda mais alimentado, mais atiçado, quando deveria estar mantendo-a longe de si.
             Mas quem resistiria à doutora Angelina Berlusconi?
           Ela exibia todo aquele ar grosseiro, mas era a persuasão reencarnada... Aqueles olhos negros exibiam aquele jeito provocante, meio que despudorado... Seu toque... A voz rouca sussurrando.
             Ouviu um grunhido, despertando de suas divagações. Tocou-lhe a face, fazendo-a lhe encarar.
Viu a expressão de dor.
             -- O que houve? – Indagou preocupada.
             Lentamente, a morena retirou-se de cima do corpo esbelto, permanecendo de lado.
           Duda a viu abrir e fechar as mãos, então percebeu o que se passava. Tomou-as nas suas, mesmo diante dos protestos desenhando naqueles lábios, começou a massageá-las.
         Viu Angelina desviar o olhar, sabia que aquilo a incomodava demasiadamente. Os dedos estavam rı́gidos, cãibra!
               Continuou executando a ação até senti-la aliviar.
            -- Está melhor? – Questionou, tentando ver os olhos negros que miravam um ponto fixo na porta. A médica a fitou, perscrutando algo naquele mar intenso e verde.
          -- Próxima vez você fica em cima. – Disse por fim, exibindo um sorriso torto. Eduarda a repreendeu com o olhar, mas acabou rindo também.
          A Berlusconi se aproximou mais, colando os corpos... Em seguida lhe segurou pela nuca, beijando os lábios rosados. Não encontrou qualquer tipo de resistência, ao contrário, fora acolhida de bom grado, com delicadeza e paixão.
             -- Eu já disse como te acho linda? – Tocou-lhe a franja. – Mesmo tendo esse rostinho de bebê.
              -- Eu não sou um bebê... Sou uma mulher. – Arqueou o queixo de forma orgulhosa.
                Ouviram batidas na porta.
              Duda pareceu apreensiva, Angelina não pareceu se preocupar com o fato.
              -- Acho melhor sairmos daqui. – Tentou levantar, mas foi detida, voltando a deitar. – Imagina se alguém descobre o que estávamos fazendo aqui? E se olharem as câmeras? – Apontou para os objetos que vigiavam tudo.
              -- Elas não conseguirão captar nossa imagem. Não se preocupe.
              A Fercodini percebeu como tudo ocorrera em pontos estratégicos da sala.
              -- Imagino que deve ter muita experiência em fazer... Fazer essas coisas em sala de aula.
              -- Que coisas? – Delineou o lábio da jovem com o polegar. – Qual o nome que você dá para o que fizemos aqui? – Sorriu. – Por que cora tão rápido?
               A estudante sentia a face em chamas.
              -- Preciso ir. – Levantou-se.
         Angelina permaneceu deitada, observando-a procurar as vestes. Depois de algum tempo, decidiu fazer o mesmo.
           Colocaram as roupas em silêncio, mas a médica não permitiu que ela saı́sse, ao contrário, voltou a sentar na cadeira com ela no colo.
               -- Não vamos começar com isso de novo, doutora. – Tentou se desvencilhar.
              -- Por quê? Só falta dizer que não gostou. – Gargalhou. – Não fique brava. Agora realmente desejo conversar contigo, ao menos que queira algo mais gostoso. – Disse em seu ouvido.
          Duda a empurrou, irritada. Permanecendo de pé, encostada à escrivaninha, tendo as mãos cruzadas sobre os seios. Ficou mais brava ao ouvir o riso alto e debochado da morena.
              -- Espero que esteja se divertindo as minhas custas.
            -- Só falta bater o pé para se tornar uma verdadeira criança birrenta. – Seguiu até ela. – Senti sua falta... – Passou as costas da mão na lateral do rosto.
           A Fercodini pareceu tocada pelas palavras, pois sabia como devia ser difı́cil para aquela mulher orgulhosa dizer algo assim.
                Fitou os olhos negros e pôde ver a sinceridade presente neles.
                -- Por que não me procurou? – Questionou.
                -- Eu liguei... Quer dizer... Usei o celular da Flávia para fazê-lo, mas não me atendeu.
                -- Foi você? – Indagou surpresa.
                A morena colou o corpo mais ao da estudante.
            -- Três vezes te liguei... O resto foi a doutora Tavares. – Abraçou-a pela cintura. – Aceita jantar comigo em sua casa?
               -- Ainda está morando com a doutora Flávia? – Perguntou um pouco incomodada.
          Percebia o olhar da loira sobre a amiga e tinha quase certeza que ela sentia algo pela Berlusconi. A herdeira de Antônio fez um festo afirmativo com a cabeça.
             -- Mas estou para ir morar no meu apartamento. – Deu um beijo rápido nos lábios rosados. – Vai me visitar? 
               Eduarda não conseguiu evitar um enorme sorriso.
           Não estava acostumada a ver tanto charme, pois o humor daquela mulher nunca era tão estável.
            -- Preciso ir, doutora Angel. – Tentou se desvencilhar do abraço. – Minha amiga me espera.                 Angelina a segurou pelo pulso, trazendo-a para si.
             -- Quero te ver novamente. – Pediu.
             Eduarda estranhou o ato, pois não combinava muito com a personalidade da médica.
             -- E sua esposa?
             -- Já te disse que não tenho esposa e não vai demorar muito para isso ser oficial.
             -- Mesmo assim continua sendo uma mulher comprometida e não desejo ser sua amante.
           -- Por que não? Pensei que isso fosse comum em sua famı́lia. 
              Eduarda a empurrou, seguindo para fora da sala.
              A médica voltou a si, saindo rapidamente em busca da jovem.



             Ester estava sentada em um banco.
         Seu olhar percorria de um lado para o outro, tentando encontrar em meio às pessoas que passava por ali a sua amiga.
           Já fazia um bom tempo que ela seguira com a senhora Berlusconi e não havia sinal de nenhuma das duas. Pegou o celular e já começava a discar para Duda quando uma voz suave se fez ouvir.
              -- Olá.
            A ruiva levantou a cabeça e se deparou com a bela loira e ao seu lado o professor Mattarelli. Levantou rapidamente.
              -- Pois não, doutora Flávia.
            A médica observou a garota de bonitos olhos e cabelos flamejantes. Lembrava-se bem dela, era amiga da Eduarda e fora contra aquela amizade por pensar que a moça era má influência para a jovem.
             Viu as duas durante a palestra, mas quando buscou por ambas, já tinham sumido. Henri sorriu simpático.
           -- Você viu a Angel? – Indagou depois de algum tempo. – Onde está a Duda? – Questionou desconfiada. Ester pensou se seria uma boa ideia responder a pergunta.
             Para seu alıvio, viu as duas mulheres se aproximarem.
        Henri observou-as e teve a impressão que traziam algo mais em seus olhares. Conseguia perceber a face um pouco afogueada da mais jovem.
          -- Onde estava? – A loira questionou. – Procurei-te por toda parte. 
           Henri observou quando Duda baixou o olhar, fitando os próprios pés. Tinha certeza que algo se passara entre elas.
       -- Encontrei um velho conhecido e passei algum tempo conversando com ele. – A voz de Angelina era controlada.
         Flávia a encarou e parecia não acreditar muito na desculpa, porém apenas fez um gesto de assentimento com a cabeça. Sua atenção voltou-se para Eduarda.
             -- Fico feliz em vê-la e espero que esteja bem.
            -- Estou... Estou sim. – Voltou-se para Ester. – Estamos atrasadas. Vamos? – Disse com olhar de súplica.
           -- Não deseja se juntar a nós? – Mattarelli se aproximou. – Estou querendo levar as minhas duas pupilas para um lanche. Seria uma honra tê-las também ao meu lado.
           Eduarda encarou o médico. Simpatizava com ele, algo naquela expressão forte lhe fazia se sentir acolhida.
            -- Agradecemos, mas temos outras coisas para fazer. – Segurou-lhe a mão. – Adorei a palestra e estou muito grata por ter conseguido que minha amiga entrasse.
            -- Eu fiquei muito feliz pela presença das duas.
            -- Bem, agora precisamos ir. – Fitou Angelina. – Até outro momento.
          A poderosa herdeira pôde ver no rosto bonito a mágoa contra sua pessoa e sentiu vontade de falar algo, mas permaneceu calada.
            Os três permaneceram parados, enquanto as jovens se afastavam.
          A Berlusconi observava a estudante se afastar e ainda sentia no corpo as marcas do amor que fizeram há pouco tempo.
           Como podia estar tão entregue àquele sentimento?
           Seus pensamentos foram interrompidos pelo abraço do professor.
           -- Se saiu muito bem e eu estou muito feliz por isso.
           -- Verdade, Angel, foi maravilhosa.
          A morena sorriu, mas seus pensamentos não pareciam presentes naquele momento, pois apenas desejava seguir atrás da jovem de olhos verdes e tomá-la novamente para si.




             O caminho de volta para casa fora feito em silêncio. Ester seguiu até o apartamento da amiga.
Pigmaleão recebeu as duas, entusiasmado.
            Eduarda seguiu até a cozinha, pegou suco para ambas e retornou à sala. Sentou-se no sofá com o pug em seu colo.
            -- Preciso de te dizer que fui miseravelmente seduzida pela doutora Berlusconi? – Falou por entre os dentes. 
              A ruiva a fitou.
              Observou os olhos claros úmidos. Sentou-se mais perto.
              -- Não precisa falar sobre isso se não desejar. – Tocou-lhe a face.
            -- Você não entende! – Mordiscou o lábio inferior. – Não consigo resistir a ela. Sinto-me fraca diante daquela mulher arrogante.
          O pequeno cachorro observava a dona com seus olhos vivos e parecia querer entender o que deixava sua guardiãtão triste.
             -- Bem, ela é uma mulher muito bonita. Imagino como deve ser persuasiva. 
             Duda mirou a companheira e fiel amiga.
             -- Se fosse apenas isso seria muito fácil, porém você sabe que não é. Sim, Ester sabia.
             -- Você a ama... – Constatou por fim. – Apaixonou-se por ela. Duda assentiu com um gesto de cabeça.
            -- Sim, eu a amo. Nem sei como aconteceu, mas sei que sinto esse sentimento queimar dentro do meu peito. Quando a vejo sinto uma força tão grande me puxando... Um poder que me domina... – Cobriu o rosto com as mãos. – Estou desesperada.
            -- Por quê? Não acha que ela sente o mesmo?
            -- Não... E' apena sexo para a poderosa milionária. Só deseja me submeter aos seus caprichos.
            -- Tem certeza? Não foi isso que ma passou quando a vi te olhar.
            Eduarda pareceu ponderar sobre aquilo, mas ao final demonstrou incredulidade.
            -- Não!
            -- Como pode ter tanta certeza? Não conheço a doutora Berlusconi, porém tive a impressão de ver muito mais do que desejo na forma que ela te encarava.
           -- Por favor, Ester, isso seria impossível. – Irritou-se, levantando-se com o pig nos braços. – Lembra-se do episódio que ela tirou meu sangue à força para saber se eu era filha do meu padrinho?
              A outra assentiu.
              -- Pois é isso que ela continua fazendo... Mas é outra coisa que ela vem tirando de mim.
              -- E o que pretende fazer para evitar que isso ocorra?
          -- Preciso me manter distante dela, pois meu maldito corpo me trai e responde ao mı́nimo apela que ela faz. 
               A ruiva se aproximou, abraçando-a, acolhendo-a e consolando-a.





              Patrı́cia pedira ao advogado uma conciliação.
            Desejava falar com Angelina, mas não conseguia se aproximar, pois Flávia fechava todos os acessos. Observou Bruno sair da enorme piscina e sentar ao seu lado.
             -- Preciso que fale com sua namorada. – Insistia quando o rapaz sentou. – Tente fazê-la voltar para ti. 
             O jovem levou um copo com um lı́quido transparente aos lábios.
             -- O que posso fazer? Ela deixou claro que não quer mais nada comigo.
           A loira sabia o motivo disso, mas ainda não falara para ele, pois temia uma reação que acabasse por destruindo seus planos de retornar para a esposa. Teria que ser muito esperta e pensar os passos que teria que dar. A sua dúvida maior era saber se a Angelina já tinha se relacionado com a tal Eduarda.
               Só em pensar nessa hipótese sentia a raiva aumentar.
             -- Ah, deixa eu te dizer uma coisa. – Bruno a fitou. – A Berlusconi participou de uma palestra na universidade.
             -- Quando? – Indagou perplexa.
          -- Ontem! Eu soube por um amigo e também fiquei sabendo que a minha adorável Dudinha estava lá. – Tomou mais um gole.
           -- Vá atrás dela. – Insistiu. – Vai deixar essa garotinha morta de fome te rejeitar? 
              Bruno se levantou, empertigando-se.
            -- Não, não mesmo!
          O jovem saiu em passos largos, não vendo o sorriso que se desenhou nos lábios da psicóloga. Uma nova batalha começava e ela não se permitiria ser derrotada.



             Angelina seguiu até o escritório, encontrando Flávia sentada. Esperando-a.
            Já era noite e a Tavares pedira para que a Berlusconi fosse vê-la, pois tinha algo para lhe falar. A neurologista sentou, cruzando as pernas.
            Usava camiseta colado ao corpo esbelto e uma calça folgada que se ajustava aos quadris.
          -- O que se passa? Pensei que não tivesse chegado do hospital. 
          A loira sorriu, entregando-lhe um envelope.
           A morena relutou, mas recebeu. Abrindo-o.
          Flávia observava a expressão ficar imediatamente alterada. Fazia parte, mesmo imaginando que ela reagiria da melhor forma possível àquilo.
           Viu-a levantar, batendo forte sobre o tampo da mesa.
           -- Quantas vezes já disse que não me submeterei a nenhuma cirurgia?!
           -- Por que não? – Tentou manter a calma. – Já saiu daquele isolamento, então não vejo motivos para que fique tão chateada com a ideia dessa intervenção.
           A Berlusconi estreitou os olhos ameaçadoramente.
          Aquele não era um bom dia, ainda mais quando ligara inúmeras vezes para Maria Eduarda e não fora atendida, pior, quando ela se dignou a falar, deixara claro que não desejava conversar consigo.
          Seguiu a passos largos até a enorme janela. Apoiou as mãos sobre o vidro, tentava manter a calma. A loira a observava.
           Desde o dia da palestra percebera mudanças no comportamento da amiga. Primeiro, a sentiu mais à vontade, até animada, porém naquela manhã observou que uma mudança se passara.
              Levantou-se, seguindo até ela. Tocou-lhe o ombro.
             -- Não custa nada tentar e mesmo que não consiga recuperar o total controle dos movimentos, poderá se livrar do incômodo das dores que sei que sente e com mais frequência.
          Angelina nada respondeu, apenas permaneceu parada, enquanto sentia a massagem em seus ombros.
             -- Está muito tensa, o que está acontecendo? O que a perturba?
           A outra continuou em silêncio enquanto sentia as mãos delicadas ousando mais. Voltou-se para ela, vendo os olhos claros brilharem.
         -- Flávia! – Repreendeu-a. – O fato de não querer ferir seus sentimentos não significa que sou de ferro. Você é uma mulher linda e qualquer mortal se sentiria tentado a ficar contigo.
            A loira tocou-lhe a face.
         -- Não acredito que fique comigo, ainda mais quando seus pensamentos estão voltados para a Fercodini. 
            A Berlusconi pareceu surpresa com o que ouvia.
         -- Eu não sou boba, não mesmo. – Fitou os olhos negros. – Achas que não percebi o que se passou no dia da palestra? Tudo bem que você não aparenta nada, mas a Duda, estava escrito na face dela.
           -- O que estava escrito?
           -- Diga-me você, o que se passa entre vocês? – Exigiu. Angelina hesitou, passou as mãos pelos cabelos.
        -- Não há nada! – Desviou a vista. – Não há nada e não desejo falar sobre isso. 
            Ela já se afastava quando a Tavares a segurou pelo braço.
         -- Agora sim eu vi a sua expressão mudar, agora sim você me respondeu.
          -- Odeio quando tenta me analisar. – Desvencilhou-se. – E sim, estive com a filha da amante do meu pai, até mesmo transei com ela, mas não se preocupe, nada de importante, apenas sexo.
           -- Como pode falar assim? – Indagou horrorizada.
          -- E como pôde mandá-la para mim? – Questionou com o tom de voz alterado. – Quem mandou a maldita tagarela para mim foi você. – Apontou-lhe o dedo de forma acusadora.
         -- Eu sou a culpada então? – Indagou tristemente. – Eu te amo, Angelina, mas realmente percebo que esse sentimento só tem atrasado a minha vida.
           -- Nunca pedi que me amasse! – Tomou-a pelos ombros. – Acha que não sofri sabendo do que sentia? Acha que não doía saber que a minha melhor amiga, a pessoa que eu mais confiava sofria por eu não ser capaz de correspondê-la?
          -- E agora? Ainda sente dor? – Fitou-a. – Eu acho que não, tenho a impressão que você está certa quando diz que não é mais a Angel que conheci, acho que você está certa quando fala que se transformou em um ser sem coração.
             Angelina a pressionou contra a parede.
         -- Fico feliz que já me veja assim, quem sabe esse amor não morre de uma vez. – Disse bem próximo dos lábios rosados.
           Flávia tentou se afastar, mas a outra a pressionou mais forte.
          -- Seu interrogatório já terminou? – A Berlusconi questionou com os dentes cerrados. – Não vai continuar sua análise? Não vai continuar me irritando com os seus absurdos?
            A loira estreitou os olhos, sentindo realmente muita raiva pela forma que estava sendo tratada.
        -- Ainda tenho uma pergunta. – Mirou-a profundamente. -- Como você se sente por estar sofrendo por uma mulher que não é a Patrı́cia? Melhor, como você se sente por estar sendo desafiada por uma garotinha? Ou como você se sente em perceber que pela primeira vez em sua vida, uma mulher não cede totalmente aos seus caprichos?
             Angelina a soltou, dando-lhe as costas. A loira observou a tensão nos ombros.
            Observou o desenho de asas que se deixa à mostra. Anjo?
         Não desejara que aquela discussão ocorresse. Na verdade, só desejara convencê-la a ir ao especialista, porém desde que suspeitara do que estava acontecendo entre a melhor amiga e a Eduarda, sentia que precisava colocar aquilo para fora, sentia que necessitava esclarecer os fatos que pareciam tão claros em sua mente.
             Não mentiria, fingindo que tal constatação não lhe feriu, ainda mais porque tinha certeza que a Berlusconi sentia muito mais do que desejava aparentar.
              Deu a volta, ficando de frente para ela. Viu os punhos fechados o olhar neutro.
Sabia que ela sofria, pois não conseguia lidar com o que estava sentindo.
            Pensou em falar algo, porém tinha certeza que tudo que viesse a dizer naquele momento iria deixá-la mais irritada. Caminhou até ela, abraçando-lhe rapidamente, deixando-a sozinha.
             Angelina a observou se afastar, continuando no mesmo lugar.
             Sua mente estava perturbada e ainda martelava em sua mente as últimas indagações feitas por Flávia. Pressionou demasiadamente os dentes, sentindo o maxilar doer, porém mesmo assim não aliviou a ação. Estava apaixonada?
              Não!
             Aquilo era um absurdo, apenas se encantara pela forma que a menina lhe desafiava, sem falar que sentia desejo, ainda mais quando recordava de como era maravilhoso tocá-la, senti-la...
           O que precisava era tentar manter a mente ocupada, pois assim não passaria o tempo todo pensando na preferida do seu pai.




               Flávia dirigia pela cidade.
               Depois de deixar Angelina no escritório decidira falar com Eduarda.
             Ligou inúmeras vezes e nenhuma resposta obteve, então decidira ir até ela, mesmo não sendo horário adequando.
            Subiu rapidamente pelas escadas até o apartamento. Apertou a campânia e depois de um longo tempo, a porta se abriu, mas não era Duda que a fitava, mas sim a sua fiel escudeira.
              Ficou um pouco desconsertada ao vê-la com um minúsculo roupão e os cabelos molhados.
              -- Boa noite, doutora, o que deseja? 
               A loira pareceu sair do transe.
             -- O que faz aqui? – Entrou irritada. – Desejo falar com a Duda. – Observou a casa que estava arrumada, mas não havia sinal da Fercodini. – Onde ela está?
           -- Nossa, quanta educação... – A ruiva comentou baixinho, antes de se virar para ela. – A minha amiga não está.
            -- Como não? – Colocou as mãos nos quadris. – O que ela está aprontando uma hora dessas para não está aqui? 
             Ester não gostou da forma como a médica falou.
           -- Olhe, eu não sei o que a trouxe a esse apartamento, porém deveria baixar o seu tom e não ficar insinuando coisas que não sabe.
         -- Ah, por favor! – Desdenhou. – Não esqueça que conheço bem as aventuras que as duas costumam se meter. 
             A ruiva a encarou.
           A loira usava jeans, camiseta e uma jaqueta de couro, era uma mulher muito bonita e até chegou a penas que era alguém agradável, mas ouvindo-a naquele momento, percebia que ela se igualava a tal Berlusconi.
            -- Olha, senhora, como disse a Duda não está, então acho melhor que vá embora, porque eu acho que sua educação e respeito não lhe acompanharam a essa visita.
              A Tavares ainda abriu a boca para argumentar, mas acabou desistindo, seguindo até a porta.
            -- Diga a Eduarda para me procurar e diga a ela que use o dinheiro que foi depositado na conta dela.
             -- Ela não quer esse dinheiro, na verdade, ela não deseja nada de vocês. 
             Flávia respirou fundo, voltando-se para a garota.
            -- O dinheiro faz parte da herança que o senhor Antônio deixou para ela. – Tentava manter a calma. – Peça para que ela entre em contato comigo.
             Ester apenas fez um gesto afirmativo, fechando a porta assim que a viu sair.




              No dia seguinte, Angelina surpreendeu Flávia ao chegar ao hospital.
             Os funcionários ficaram surpresos com a presença da médica, enquanto havia alguns novatos que nem sabia quem era a mulher bonita e com olhar duro que seguia pelos corredores do elegante centro de saúde, outros a reconheceram imediatamente, mas não ousaram se aproximar.
             -- O que faz aqui? – A loira perguntou surpresa.
             A Tavares seguia para a própria sala quando ouviu os passos fortes.
             -- Bem, acredito que eu também precise voltar para a minha vida real.
             Flávia observou o olhar de algumas enfermeiras e enfermeiros, pareciam curiosos.
             -- Vamos para a minha sala.
             A Berlusconi assentiu, seguindo a frente. A loira parecia chocada com a visita.
           Observou-a caminhar e seguiu imediatamente até ela, seguindo até o elevador. Não disse nada, apenas a observou com atenção.
            Angelina usava calça social preta que se ajustava ao corpo bem feito, camisa branca de botões, deixando os dois   últimos entreabertos e um blazer preto, elegante que jazia totalmente aberto, dando a herdeira de Antônio aquele ar selvagem e elegante.
            Ao chegar ao andar, seguiram em direção à sala. Flávia sentou, esperando que ela fizesse o mesmo.
           -- Estou surpresa. – A loira disse, fitando-a. – Insisti inúmeras vezes para que viesse e agora me aparece sem avisar.
           -- Bem, estou aqui e isso é o que importa. – Observou os quadros com várias fotos das duas, pegando um em especial. Lá sua mãe estava presente.
             A loira a olhou com atenção, vendo a tristeza lhe marcar o rosto bonito.
            -- Peça para que aprontem uma das salas para mim, desejo cuidar do maior patrimônio que minha mãe tinha e que amava. – Levantou-se, colocando a imagem no lugar. – Irei dar uma olhada em todas as áreas. – Estendeu a mão que trazia a luva. – Vem comigo?
                A jovem sorriu, segurando-lhe a mão.
                -- Será um enorme prazer pra mim.




           Henri fora até o shopping comprar alguns livros, quando decidiu passar na praça de alimentação para comer algo. Então seus olhos se voltaram para uma figura conhecida, seguiu até ela.
Sentou-se em uma mesa e esperou que a moça terminasse de atender os clientes ao lado. Observou bem a garota que parecia atenciosa.
                Conseguira descobrir que aquela menina que o deixara tão abalado era a filha da sua amada Cecı́lia. Conhecera a bela jovem quando enfrentava uma crise horrível em seu casamento.
             Anos atrás, ele fora convidado para palestrar para alguns estudantes de enfermagem e sua atenção fora imediatamente tomada pela bonita moça que observava tudo como muita atenção.
              Apesar de ela ser bem mais jovem, apaixonaram-se imediatamente, porém ele não falara para a garota de sua condição de casado.
               Infelizmente,  ela  descobrira  da  pior  forma  possível  e  desde  aquele  fatı́dico  dia  não  soubera  mais  nada  da  sua adorável Ceci.
             -- Bom dia, senhor Mattarelli. – Eduarda o cumprimentou com um enorme sorriso. – O que deseja? 
               O médico sorriu.
               -- Não sabia que trabalhava aqui, fiquei surpreso em vê-la.
           -- Bem, eu comecei há pouco tempo. – Disse usando o celular para digitar. – Então, o que deseja?
               -- Eu acho que suco e uma fatia da sua melhor torta?
               -- O senhor não vai se arrepender. – Piscou-lhe.
             Henri a viu se afastar, permanecendo lá, pensando na pequena de olhos verdes. Quem era o pai dela?
              Pelo que ficara sabendo a Angelina suspeitara que a garota fosse filha de Antônio, mas o teste de DNA deixou claro não haver nenhum parentesco entre eles.
               Quantos anos teria?
           Arrependia-se por não ter contado a verdade a Cecı́lia. Cometera um grave erro e quando tentou explicar a situação, nunca mais tivera notı́cia da amada.
         Irônico, pois Antônio sabia daquela história e não falara sobre a assistente. Será que ele conseguira ligar as informações? Se sim, porque não falara nada para si?
             -- Aqui está, senhor! – Eduarda colocou a bandeja sobre a mesa. – Espero que goste, ah e não precisa pagar.
              -- Como não preciso pagar? – Questionou com a sobrancelha arqueada.
            -- Bem, veja-o como um agradecimento e um pedido de desculpas pelas coisas que disse no dia da palestra. – Falou corando.
              O professor se levantou, puxando uma cadeira para a jovem.
              -- Sente-se. – Pediu.
              Ela fez um gesto negativo.
              -- Eu não posso, estou em horário de trabalho.
            -- Então, faça o seguinte. – Retirou um cartão do bolso, entregando-lhe. – Ligue-me quando puder, gostaria de lhe falar.
             Duda hesitou, imaginando se a Angelina poderia estar por trás daquilo, mas decidiu não ser grosseira como da última, aceitou, vendo o nome e telefone presentes ali.
               Guardou no avental, afastando-se.




              Patrı́cia ficou sabendo da presença da esposa no hospital e imediatamente seguiu até lá. Ficou surpresa quando ao se anunciar, uma secretária jovem e bonita a levou até a sala. Encontrou-a sentada.
               -- Imaginei que hoje mesmo eu a veria. – Apontou a cadeira.
            -- Bem, a sua amiguinha não me permitiu chegar mais perto. – Acomodou-se, cruzando as pernas.
              O vestido preto chegava um pouco acima dos joelhos, exibindo as pernas torneadas e um belo decote.
                -- Por que se nega a assinar o divórcio?
             -- Porque não desejo me separar de ti. – Retirou algumas cartas de dentro da bolsa, deixando-as sobre a escrivaninha.
               -- O que é isso? – Fitou-a desconfiada.
            -- São as provas que disse. Pode mandar analisar as letras, seu pai me escrevia e me ameaçava para te deixar.
            -- Já disse que não me interessa nada disso, apenas quero que assine o divórcio e me deixe em paz.
          -- Assinarei quando você me der uma chance para explicar o que passou. 
            A Berlusconi se levantou, apoiando as mãos sobre a madeira.
             -- Não quero explicações, não me interessa nada que me disser.
           -- Por quê? – A loira também se levantou. – Porque está dormindo com a filha da amante do seu pai? – Debochou. – Sabia que o Antônio desejava que a Maria Eduarda fosse filha dele? Sabia que ele preferia aquela estúpida ao invés de ti? – Observou os olhos negros se estreitarem. – Não acredito que vai cair de amores pela garotinha que tirou seu de pai de você e da sua amada mãe?
                Angelina foi até ela, segurando-a pelos ombros.
            -- Não ouse abrir sua boca suja para falar sobre a minha mãe. – Gritou.
          -- Eu nunca tive nada contra ela, na verdade eu também fui vı́tima, sua mãe, você e eu fomos vı́timas da mente diabólica do poderoso Berlusconi, enquanto a Cecı́lia gozava de todos os benefı́cios ao lado da filhinha. Leia as cartas, você verá o nome da sua namoradinha aparecer inúmeras vezes nas sentenças que aparecem lá.
            -- Assine o divórcio e saia da minha vida. – Disse por entre os dentes. 
              Patrı́cia tocou a face da esposa, acariciando-a lentamente.
          -- Sabia que a sua garotinha está fazendo jogo duplo? Bruno e você estão revezando, que menina fogosa!
             A morena a empurrou.
          -- Saia daqui! – Ordenou. – E saiba que esse divórcio vai sair por bem ou por mal, é apenas questão de tempo.
            -- Muito tempo! – A psicóloga soprou-lhe um beijo, deixando o local.
          Angelina caminhou até a enorme janela de vidro, permanecendo lá, tentando recuperar a calma, tentando não sair quebrando tudo o que se encontrava naquela sala bem arrumada.
           Caminhou até o telefone, discou o número que já decorara, mas não recebeu respostas, apenas chamava e ninguém atendia.


          Bruno seguira o conselho de Patrı́cia e tentava se aproximar da ex-namorada. Ele usava o discurso de querer a amizade da jovem e isso fora suficiente para que Duda o aceitasse por perto.
         Os dias passavam tranquilos e mesmo recebendo o recado de Ester sobre Flávia, não a procurou, nem mesmo ligou.
               Não desejava se aproximar de nenhuma das duas e estava muito feliz como estava.
               Chegou ao prédio e já era um pouco tarde.
               Ao seguir pelo corredor, viu alguém encostada a sua porta.
          Pensou em dar meia volta, mas os olhos negros a fitaram e foi como se aqueles dias não tivessem passados. Angelina Berlusconi!
            Ela usava um vestido preto até os joelhos, colado ao corpo, um cinto dourado e fino em sua cintura e um blazer escuro, aberto.
             Parou a alguns centı́metros da morena.
         -- Eu não quero brigar, doutora, tampouco desejo lhe falar, pois sabemos que isso não vai terminar bem. 
              Então percebeu os olhos úmidos, sentindo-se arrependida por ter sido tão dura.
           -- Posso ficar apenas abraçada a ti? – Perguntou com voz rouca. – Ou preciso confessar que não consigo viver sem tê-la por perto? Ou preciso falar que estou ficando louca por sua causa?
             Duda abriu a boca para falar algo, mas apenas se jogou nos braços do seu anjo caı́do...

Comentários

  1. Estou apaixonada pela história. Muito apaixonada mesmo. Muito boa, Geh!

    ResponderExcluir
  2. É mesmo uma história fascinante. Eu entendo a Angelina, confiar de novo parece muito difícil e se entregar também, mas ela já percebeu que ama a Eduarda. Tudo que queremos é ter algum pra contar quando tudo desaba e Eduarda não diria não a quem ela ama e já deixou claro. Estou amando cada história sua, parabéns.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A antagonista - Capítulo 25

A antagonista- Capítulo 22

A antagonista - Capítulo 21