Anjo caído -- Capítulo 15
A noite não fora tranquila na cobertura da doutora Flávia Tavares.
Angelina não conseguira dormir e ainda martelava em sua cabeça a rejeição de Eduarda.
Não negava que ficara muito brava pela forma como fora dispensada, mas a forma como fora criada não lhe permitia esbravejar por algo assim, deixando a ver sua indignação. Não era seu costume demonstrar como ficara sentida por não ter sido aceita de braços abertos.
A herdeira dos Berlusconis sempre fora uma criança cordata, não costumava fazer manhas, tinha os melhores modos, foi educada por uma mãe dedicada, fora as inú meras professoras que lhe ensinaram toda a etiqueta necessária para jamais decepcionar o multimilionário cirurgião que era seu pai. A jovem se tornara uma dama mais cedo do que poderı́amos imaginar.
Seguiu até a janela, apertando tão firme a tela de proteção que sentiu as mãos perderem as forças. Respirou fundo várias vezes, tentando manter o controle das emoções.
Observava o sol já começar a clarear a cidade bonita. Viu algumas pessoas correndo, praticando seus exercı́cios matinais, outras já seguiam em seus carros para mais um dia de trabalho.
O maxilar forte moveu-se.
Estava irritada, ainda mais por não ter feito a própria vontade reinar, como sempre fora de hábito. Ninguém se negava aos seus desejos.
Levou as mãos à cabeleira, sentindo os fios delicados e macios deslizarem por sua pele. Quem pensava ser Maria Eduarda Fercodini?
Não passava de uma garotinha estú pida que tivera a sorte de ser filha da amante de um homem muito poderoso, pois se não fosse isso, estaria mendigando em algum lugar.
Fitou as cicatrizes... Tocou-as distraidamente.
Lembrou-se da própria mãe, sentindo a dor alfinetar seu peito.
Sabia que Ângela era contra todo tipo de arrogância e supremacia, sempre a ensinara a ser generosa, humilde e gentil com as pessoas, porém agora estava a pensar se não fora isso que lhe deixara tão fraca a ponto de ser vı́tima da terrível traição que sofrera.
Seguiu até a enorme cama, sentando.
Não, jamais permitiria que qualquer um agisse com superioridade ou desafiasse o seu poder. Estava mais do que na hora de deixar de ser vı́tima naquela história e mostrar para todos quem era Angelina.
-- Maldita pirralha! – Falou por entre os dentes.
Sabia bem qual seria o destino que esperava a garotinha tagarela. Usaria-a para seu prazer quantas vezes fosse necessário, tomar-lhe-ia quando desejasse, quando sentisse vontade e não aceitaria sua rejeição. Pagaria o que fosse, daria um lugar de luxo como sua exclusiva amante, apenas isso, nada mais lhe cabia.
Não haveria amor nesse arranjo, realmente nem mesmo acreditava mais nesse sentimento. Não passava de uma ilusão que os poetas e escritores medı́ocres inventaram. Tudo mais uma forma de alienar o ser humano e com isso ganhar dinheiro com o sofrimento alheio.
Seguiu até o banheiro, desejava uma ducha rápida.
A água fria tocando sua pele lhe aliviava os músculos, além de fazê-la se livrar um pouco da tensão sexual.
Mordiscou o lábio inferior, recordando da forma que a tomara no chuveiro. Poderia ter tocado-a mais impetuosamente, pois não era ainda aquele jeito que desejava possuı́-la. Desejava muito mais do que uma simples carı́cia delicada e resoluta.
Lembrou-se dos olhos que traziam todo o prazer que fez os corpos tremerem, que a fez chamá-la... Chamar seu nome...
“ Doutora Angel”
Só em recordar da forma rouca que seu nome fora dito sentia os pelos da nuca se arrepiarem. Atrevida! Mil vezes atrevida!
Nunca alguém pronunciara daquele jeito, nunca sentira excitada só em ouvir alguém a chamando assim.
Ensaboou lentamente o abdome, depois subiu até os seios, mas evitou se demorar neles, pois estavam demasiadamente sensíveis, almejando certos lábios rosados...
Sabendo onde levaria seus pensamentos, apressou-se, finalizando a higiene. Pegou o roupão preto, cobrindo-se, deixou o cômodo.
Irritou-se ao perceber que não havia roupas para vestir. Flávia, decerto, levara para outro lugar, mas naquele momento essa informação não lhe interessava.
Deixou o quarto e foi em direção ao da Duda, mas ao chegar lá só encontrou o pequeno Pigmaleão brincando com seu bichinho de pelúcia.
Assim que a viu, o rechonchudo animal correu para ela, latindo e abanando o escasso rabinho. A médica sentou-se sobre os calcanhares para acariciá-lo.
O pug parecia feliz em vê-la. Como sempre, tentava inutilmente alcança-lhe a face.
A morena lhe acariciou a cabeça. Sorriu ao observar que ele usava fralda novamente como se fosse uma criança, além de uma camisetinha que ficara muito justa em seu corpo roliço.
-- Acho que você precisa fazer um regime. – Tomou-o nos braços, não resistindo a fofura. – Está igual a uma bolinha.
Pigmaleão estava afoito em estar no calo da intratável mulher.
-- Onde está sua dona? – Indagou fitando os olhinhos vivos e o nariz achatado. – Provavelmente deve ter ido tomar o desjejum. – Colocou-o novamente ao chão, levantando-se. – Comporte-se.
O pug apenas latiu, reclamando mais atenção.
A médica voltou ao próprio quarto, colocando as luvas, pois não se sentia à vontade tendo as cicatrizes à mostra, mesmo depois dos beijos que recebera de Duda em suas feridas.
Deixou os aposentos, seguindo em busca da estudante. Ao chegar ao topo da escada sentiu os músculos se retesarem, observando fixamente a cena que se passava abaixo de si.
Seus olhos pareciam focados apenas em uma imagem: A afilhada de Antônio sendo beijada por um jovem. Apertou demasiadamente os dentes, tentando controlar a ira que ameaçava lhe dominar.
Estreitou os olhos ameaçadoramente e foi quando o olhar assustado da moça voltou-se para si.
Era visível a surpresa presentes na expressão de Duda, mas Angelina não parecia ver nada a não ser a reprise de cenas que vivera anos atrás.
A jovem Fercodini se afastou de Bruno, dando alguns passos, tentando manter distância do rapaz.
Quando mandara mensagens para o namorado na noite anterior não imaginara que ele iria até ali. Fizera-o porque decidira terminar o relacionamento, porém dissera que o encontraria em uma lanchonete na hora do lanche.
-- Bom dia, Angel...
O som da voz de Patrı́cia lhe tirou de suas divagações, enquanto pela primeira vez Angelina notava a presença da esposa.
A médica encarou a loira, depois seus olhos negros retornaram para Eduarda. Lentamente descia as escadas, mirando a garota como se desejasse fuzila-la. Em determinando momento, a dona de Pigmaleão, desviou a visão, pois a força daquele olhar era demasiadamente intimidadora.
Patrı́cia notou a expressão da cirurgiã sobre a protegida de Antônio. Era experiente o suficiente para conhecer aquele jeito da morena. Viu o rosto corado da tal moça e algo começava a martelar em seu cérebro.
A Berlusconi caminhou até Duda, segurando-lhe o braço delicadamente, sussurrando algo em seu ouvido. Cada palavra fora dita lentamente, tendo o tom rouco recheado de arrogância.
-- Contigo eu acerto minhas contas depois. Prepare-se... – Saiu em passos largos, quase atropelando o Bruno.
A estudante sentiu os pelos da nunca se arrepiarem, enquanto via a amante apaixonada da noite passada seguir até a loira, tomando-a pelo ombro, saindo praticamente arrastando-a em direção ao escritório.
O rapaz tocou-lhe a face, tirando-a do transe.
-- Parece que o casalsinho vai se acertar. A jovem o fitou.
-- Por que veio aqui? – Indagou sem esconder a irritação. – Sabe que a doutora Flávia não o quer por perto.
-- Você disse que desejava me falar e eu estava louco para te ver, sem falar que a Paty desejava ver a doutorazinha. A Fercodini voltou a fitar o caminho seguido pelas mulheres.
Sentia o ciúme lhe queimar o peito. Respirou fundo!
-- Podemos tomar café? Estou morto de fome.
Angelina praticamente empurrou a esposa para dentro do cômodo.
-- O que quer aqui?
A loira se recompôs.
-- Onde você aprendeu essas indelicadezas? – Ajeitou a alça do vestido. – Sempre agira como uma dama. Parece um animal agora!
A médica seguiu até a escrivaninha, dando as costas para a psicóloga, tentando controlar a raiva.
O engraçado é que sua irritação não era devido à presença da mulher, mas seu descontrole estava voltado para a cena que presenciou.
A vontade que tinha era de apertar lentamente o pescoço da Duda e para evitar esse ato impensável, seguira para aquele escritório com a Patrı́cia, tentando canalizar a raiva nela.
-- Exijo que saia de uma vez por todas da minha vida. – Disse sem se voltar, usando o tom baixo. – Afaste-se de mim antes que eu faça algo que eu sei que não me arrependerei.
Patrı́cia observava-a com atenção.
Aquele novo jeito da doutora era muito excitante, pois antes só havia educação em sua forma de agir, sendo tedioso em muitos casos. Apenas na cama a morena exibia aquela selvageria.
Chegou mais perto.
Sentia o cheiro que ela exalava. Sentia uma enorme excitação só em mirá-la. Estava um milhão de vezes mais bela do que antes.
-- Se desejasse que eu saı́sse da sua vida, há tempos teria me pedido o divórcio... – Tocou-lhe o ombro sobre o tecido atoalhado. – Sei que ainda me quer e estou disposta a me submeter a qualquer coisa para tê-la novamente.
Angelina desvencilhou do toque, segurando-a firme pelos ombros, empurrando-a forte contra o concreto. Fitou os olhos claros. Enojou-se ao ver o desejo sexual neles.
-- Não há mais nada entre nós e nunca mais haverá. Ponha isso nesse seu cérebro atrofiado.
O vestido vermelho que Patrı́cia usava fora pensando em seduzir a esposa. Os seios praticamente pulavam para fora, uma arma que ela sempre usara para encantar a Berlusconi e manipulá-la.
-- Por que não? – Mordiscou o lábio inferior. – Você falara essas mesmas palavras e dez minutos depois estava me possuindo bem gostoso... Mesmo usando toda aquela violência.
Aquela cena sempre martirizara a cirurgiã. A fraqueza de ter cedido aos encantos da loira fora o maior motivo de se manter escondida, temendo não resistir à sedução que era usada para lhe atrair.
Soltou-a, afastando-se alguns centı́metros.
-- Angel... – A loira começava. – Eu juro que tudo que aconteceu não foi minha culpa. Seu pai abusou de mim, tenho provas que mostram isso. Se me deitei com ele foi porque ele ameaçou de me afastar de ti. – Chegou mais perto. – Ele dizia que iria destruir a sua carreira, que tomaria tudo e te deserdaria.
A máscara de frieza não abandonava a expressão da médica. Nem mesmo parecia se abalar ao ouvir a explicação.
-- Eu tenho provas. – Insistia a outra. – Não acredita em mim? Provarei que o que digo é verdade. – Soluçava sem lágrimas.
-- Não preciso que me prove nada. Eu tenho certeza que você se sacrificara para que eu não perdesse meus milhões, afinal, você não aguentaria viver sem eles.
-- Está sendo injusta comigo!
Angelina se afastou, seguindo até a porta.
-- Não me deixe falando sozinha ou me trate com indiferença. – Patrı́cia esbravejou, indo até a mulher, virando-a para si. – Estou aqui para resolver nossos problemas, para podermos refazer nossa vida juntas.
-- E eu quero resolver também. Mas só meu advogado fará isso. Dê-me o divórcio e seja boazinha sumindo das minhas vistas. – Retirou a mão que prendia seus braços.
-- Não darei... – Disse descontrolada. – Acha que não vi a forma como olhou para aquela idiota? Os olhos negros se estreitaram em advertência.
-- O que é? Acha que sou idiota? – Balançou a cabeça em deboche. – Verdadeiramente você tem o mesmo gosto do seu pai... Sempre fica com os rest...
Antes que a frase fosse terminada, a face bonita acolheu os cinco dedos protegidos pela luva.
Os olhos claros se arregalaram, pois mesmo depois de tudo que se passara entre ambas, aquela fora a primeira vez que a cirurgiã levantou a mão para agredi-la.
Nem pôde falar nada, pois Angelina se afastou, deixando-a sozinha.
Flávia já se aprontava para sair, quando a secretária avisou de uma visita.
Inicialmente, ficou irritada, mas ao ouvir o nome um enorme sorriso desenhou em seu rosto bonito. A porta abriu-se e lá estava seu grande professor.
Abraçou-o.
-- Não acredito que veio.
-- Ah, menina, tirei uma licença e decidi vim ver a minha pupila. Pode me levar até ela?
A médica ainda pensou em dizer o que tinha ocorrido, mas decidiu fazer uma surpresa ao antigo professor. Estendeu a mão.
-- Venha comigo!
Eduarda estava sentava à mesa, tendo ao seu lado o namorado tagarelando o tempo todo.
Seus pensamentos estavam bem distantes daquela realidade, imaginando o que se passava naquele escritório. Fazia um bom tempo que estavam lá.
Decerto se reconciliava entre beijos apaixonados e com certeza algo mais.
Começava a se irritar quando viu o furacão adentrar a sala, praticamente arrancando-a da cadeira. Nem teve como protestar, apenas se apressava para acompanhar os passos rápidos.
Subiram as escadas, e só pararam ao chegar aos aposentos da médica. Angelina girou a chave na porta.
Duda desvencilhou-se do toque, massageando o pulso que fora tocado com brutalidade.
-- Está louca? – Questionou-a, observando a expressão furiosa. – Quem pensa que é para me tratar assim? Angelina bateu tão forte na escrivaninha que derrubou uma pilha de livros que estavam sobre ela.
-- Explique-me o que aconteceu agora pouco. – Parecia medir as palavras. – Diga-me como ousou beijar aquele maldito miserável depois de tudo o que houve entre nós.
Eduarda viu os olhos parecerem inacreditavelmente mais negros.
-- Explique-se! – Gritou.
-- Não ouse usar esse tom comigo, doutora. Não sou obrigada a aguentar seus excessos.
-- Explique-se!
-- Ora, quem pensa que é para falar comigo dessa forma? – Apontou-lhe o indicador. – E não tenho que lhe explicar nada, mas o farei, pois é da minha vontade fazê-lo. – Respirou fundo. – Não sei se viu, mas fui surpreendida pelo beijo.
-- Por que não o empurrou? – Aproximou-se, tomando-a mais uma vez pelos ombros. – Não ouse brincar comigo. Não sabe do que sou capaz.
-- Não tenho medo da senhora! Angelina a apertou ainda mais forte.
A jovem fitou os lábios que formavam agora uma linha fina, denotando todo o descontentamento que não era difı́cil decifrar pela expressão do rosto bonito.
Fitou as mãos que a seguravam e lá estavam as luvas mais uma vez.
-- Se tivesse visto bem, saberia que não correspondi e imediatamente me afastei dele, ainda mais quando vi seu olhar assassino.
A cirurgiã parecia estar analisando cada palavra que fora dita.
Realmente fora aquilo que viu, mas havia muita coisa envolvida em tudo aquilo. Sentou-a sobre a escrivaninha.
A face parecia transparecer maior controle naquele momento, exibindo certa batalha para manter a consciência sobre os próprios atos.
-- O que você fez comigo? – Mirou-a. – Qual feitiço usou? – Encostou a cabeça no colo bem feito. – Não quero que fique perto daquele idiota.
Duda pensou em responder que ela sim estava totalmente enfeitiçada por aquela mulher. Que estava totalmente apaixonada e que sabia que por isso estaria amaldiçoada, pois tinha certeza que isso lhe traria muita dor.
Achava-a demasiadamente linda, ainda mais quando trazia aquela expressão de como se estivesse perdida, desenganada. Sentia vontade de tomá-la em seus braços, cuidando-a, protegendo-a... Amando-a mais e mais.
Segurou firme na lateral da madeira, contendo o desejo de tocá-la, acaricia-lhe a face.
-- E a sua esposa? -- Indagava buscando não demonstrar o ciú me. – Resolveu seus problemas com ela? Angelina a fitou.
-- Não tenho esposa. Há muito tempo me separei, só falta oficializar isso diante da sociedade. Eduarda sentia uma pontada de esperança em seu peito.
-- Ela não parece muito interessada em colocar um fim no enlace.
-- A mim não interessa o que ela quer. – Fitou os olhos verdes. – Só o que eu quero e o que desejo. – Falava em tom rouco, umedecendo os lábios.
A Fercodini percebia as mudanças na médica e tentava não ceder aos apelos do próprio corpo. Tentou sair de onde estava, mas foi impedida delicadamente.
Angelina se acomodou entre as pernas mal cobertas pelo vestido curto e de alças finas.
-- Doutora... – Espalmou as mãos para que não ficassem tão juntas. – Preciso ir, tenho algumas coisas para resolver. Arrumar minha mala, voltarei para o meu apartamento hoje mesmo.
-- Por quê? – Fitou os seios que repousavam sob o tecido de algodão, em seguida a encarou novamente. – Fique comigo. – Ordenou. – Não quero que fique longe.
-- Vai voltar para a mansão? – Arqueou a sobrancelha curiosa. Ela maneou negativamente a cabeça.
-- Não! Acho que passei tempos de mais escondida.
-- Onde ficará? Aqui?
-- Não! Irei para o apartamento que herdei da minha mãe. Ficarei lá e desejo que venha comigo.
-- Por quê?
-- Porque não permitirei que ninguém toque em ti. – Afastou a alça esquerda, desnudando o seio redondo. – Não quero que isso acabe... Quero que se submeta a mim e em troca lhe darei tudo o que desejar. – Tocou o mamilo. – Terá a vida que desejar, mas em troca será só minha.
-- Está me propondo o quê? – Indagou, já sabendo qual seria a resposta.
-- Seja a minha. – Beijou o colo. – Terá tudo o que quiser e pouco terá que me dá. – Passou a ponta da lı́ngua pelo bico rosado. – Apenas não me cobrará nada, aproveite apenas o que lhe darei que será mais do que o suficiente.
Eduarda não imaginou que doeria tanto ser tão insignificante na vida da médica. Sim, estava claro, era só sexo que ela desejava.
“Pouco terá que me dá.”
Essa frase parecia um eco em sua cabeça.
Recolocou o vestido no lugar. Afastou-a, descendo do móvel.
-- Sinto muito, doutora, mas não me interesso por seus arranjos. Do que tivemos só lhe restara as lembranças... – Seguiu até a porta. – Use-as para se tocar quando sentir vontade de transar comigo, pois será a única coisa que terá.
Tentou abrir a porta, mas a chave estava com a cirurgiã que a exibia no ar, balançando-a.
Permaneceu encostada à madeira, tentando não esbravejar, pois sabia que seria uma perda total de energia. Depois de alguns segundos, fitou-a.
A Berlusconi parecia pouco preocupada em ficar presa naquele lugar. Jazia no mesmo canto. Exibia um meio sorriso.
-- Abra!
A morena maneou a cabeça negativamente.
-- Eu exijo que abra! – Apontou-lhe o indicador. – A senhora não manda em mim e tampouco tem o direito de me prender aqui.
-- Eu tenho o que eu desejar e o que eu desejo é você. A estudante engoliu em seco.
Como um ser humano poderia ser tão arrogante a ponto de achar que poderia decidir pelos outros?
-- Volte para a sua esposinha, ela com certeza se sentira honrada com esse seu jeito de bárbara. A Berlusconi caminhou a passos largos até ela, parando poucos centı́metros.
-- Ela não me interessa há muito tempo... – Esticou o braço, tocando-lhe a face. – Você parece ser uma pessoa boa... —Falava pensativa. -- Daquelas que faz tudo para ajudar os outros, até mesmo se doando quando nada recebe em troca. – Mirava os olhos verdes intensamente. – Mas não pareço me enquadrar no perfil das pessoas que receberiam tal doação. Por quê?
Duda desviou o olhar, mirando as luvas.
Não gostava de vê-la com elas. Mas sabia que aquelas cicatrizes faziam parte de algo maior que desejava muito saber o que era.
Algumas coisas não se encaixavam naquela história, ainda mais quando se tratava do isolamento que a doutora impusera a si mesma.
Fitou-a.
Mesmo com o deboche que via no mar negro, também conseguia ver a dor que parecia fixa, mesmo quando sorria, podia perceber a tristeza que permanecia ali.
-- Ah... Doutora... – Respirou fundo. – Gosto de ti... Te gosto muito mesmo. – Abraçou-a forte.
Angelina pareceu surpresa com as palavras e com o gesto, em seguida retribuiu, sentindo o coração da jovem bater contra o seu.
Uma sensação de paz parecia tomar conta de si. Aconchegou-se mais, adorando as carı́cias que recebia nos cabelos. Inalou o cheiro floral.
Apertou-a mais forte.
-- Fique comigo. – Sussurrou em seu ouvido.
Eduarda segurou o rosto querido, em seguida tomou os lábios em um beijo delicado.
Inicialmente sentiu o toque macio, em seguida aprofundou ainda mais o contato. Sentindo-a corresponder com paixão à carı́cia.
Permitiu o acesso da lı́ngua e a exploração de cada canto, sugando-a, não resistindo ao modo delicioso que a boca se movia, a urgência que percebia naquele toque como se fosse sua tábua de salvação.
-- Por favor... – Pediu entre os lábios. – Deixe-me ir...
Angelina estreitou-a mais fortemente, parecendo não querer largá-la. Uma batalha acontecia dentro de si.
Por fim, afastou-se abrindo a porta, em seguida caminhou até a janela, permanecendo parada lá, o seu olhar parecia perdido.
Duda a fitou por infinitos segundos, até decidir deixar os aposentos.
Henri parecia surpreso ao chegar ao apartamento de Flávia.
Quando a loira dissera que o levaria até a pupila, imaginou a mansão isolada que muitas vezes fora descrita pela médica.
-- Ela está aqui? – Questionou surpreso.
-- Sim! – A médica tomou-lhe as mãos. – Houve alguns problemas e com isso a Angel fora praticamente obrigada a deixar seu isolamento.
A conversa de ambos fora interrompida pelos passos de Duda que descia as escadas, tendo nas costas a mochila e nos braços o pug.
Mattarelli pareceu surpreso ao ver a jovem, como se conhecesse, mesmo nunca ha tendo visto.
-- Aonde vai? – Flávia questionou ao fitá-la.
-- Estou voltando para o meu apartamento, acredito que não tenho mais nada o que fazer aqui.
-- Eu disse que a gente iria conversar.
-- E eu disse que não sou mais criança e que não me submeterei aos caprichos de ninguém.
A loira que era sempre muito paciente, não gostara muito da forma desafiadora que a garota lhe falara.
Eduarda observou o homem que a fitava atenciosamente e teve a impressão de já conhecê-lo, mas não recordava de que lugar.
-- Bem, já estou indo. – Fez um gesto de cabeça, cumprimentando-os, em seguida deixou o apartamento.
-- Quem é ela? – O professor indagou curioso. Flávia respirou fundo, voltando-se para o mestre.
-- Lembra-se da assistente de Antônio?
O homem assentiu como se estivesse relutante em ligar os fatos.
-- Pois bem, essa é a filha dela. A garota que a Angelina quase arrancou o braço para forçá-la a um D.N.A quando a menina chorava pela morte da mãe.
Henri se lembrava dessa história, mas só não imaginava quem era a tal assistente do pai da Angelina.
-- Algum problema?
-- Como era o nome da mãe da jovem?
Angelina chamou a empregada aos gritos.
Estava irritada, na verdade, sua raiva ficara maior ao saber que Eduarda realmente tinha se negado a ficar, depois de ter praticamente implorado.
Fora fraca e não impusera sua vontade, mas isso não ficaria assim. Não mesmo. Rapidamente a jovem trouxe umas roupas que a médica reconheceu como sendo suas.
-- Estava no armário da doutora Flávia. Ela disse que era para lhe entregar, mas como houve inúmeras coisas, acabei esquecendo.
A morena assentiu, apontando a porta para que a moça saı́sse.
Optou por uma calça branca, que se ajustava aos seus quadris, mas que era folgada nas pernas. Vestiu uma camiseta na mesma cor. Em seguida deixou o quarto.
Seguia para a sala quando parou ao ver olhares se voltarem para si.
Mais um capítulo perfeito!
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