Anjo caído -- Capítulo 13

           Flávia não seguiu imediatamente para o apartamento, antes disso, decidiu conversar com o motorista, desejando esclarecer algumas dúvidas.
           Até aquele momento não acreditava no que tinha se passado. Nem em todos os seus sonhos imaginara que Angelina iria salvá-la. Lógico que da amiga de antes esperaria muito mais do que isso, porém daquela mulher que só demonstrava frieza esse ato ultrapassara todas as expectativas.
            José sabia que sobraria para ele, por esse motivo se mantinha encostado ao veı́culo, esperando pacientemente. O que falaria?
        Ficara tão espantado quanto à patroa ao ver o fantasma de cabelos pretos descendo do automóvel.
            -- Eu disse para não fazer nada! – Repreendeu-o. – Por que agiu contra as minhas ordens?
        O motorista não costumava mentir, mas realmente não desejava entregar a jovem Duda. Admirava muito a atitude corajosa que ela teve e ainda estava pasmo pelo fato de ela ter conseguido convencer a Angelina ir até lá.
          -- Como a convenceu? – Passou a mão pelos cabelos dourados. – Ainda estou perplexa por tê-la visto fora da mansão.
           José baixou a cabeça.
           -- Eu não fiz nada...
          -- Como assim? – Tomou-o pelo queixo, fitando-o. – Quem foi responsável por isso? – Os olhos claros brilhavam. – Como ela soube?
              Após alguns segundos de silêncio, o homem respondeu.
              -- A menina Eduarda!
         -- O quê? – Praticamente gritou. – Isso só pode ser brincadeira! 
              O motorista fez um gesto negativo com a cabeça.
           -- Ela estava disposta a fazer qualquer coisa para te ajudar... Então pegou as chaves do carro e foi em busca da sua amiga.
            -- Eu não acredito que você permitiu algo assim! – Caminhava de um lado para o outro. – Lembra-se de que a carta dela foi retirada? Imagina o problema que nos meterı́amos se ela fosse pega dirigindo? – Respirou fundo. – Como ela convenceu a Angel de vir com ela? E se a Angel tivesse feito uma loucura contra a Patrı́cia?
             Antes que José pudesse falar algo, a médica já se afastava rapidamente.
           Entendia em parte a irritação da patroa, porém ela deveria estar grata por estar livre graças à menina Fercodini. Tirou do bolso uma flanela, limpando a maçaneta do carro. Poderia até estar enganado, mas quando dirigia, trazendo-as para casa, observou discretamente a expressão triste de Eduarda.
          Inicialmente, imaginou que se devesse a alguma discussão que tivera com a médica, mas ao acompanhar o olhar da garota, viu quando a loira consolava apaixonadamente a bela Berlusconi.
          Poderia estar enganado com suas conjecturas, na verdade, torcia para estar equivocado, pois sabia que seria terrível se seus pensamentos fossem verdadeiros.




              A luxuosa cobertura não fora mudada em nenhum aspecto em todos aqueles anos.
          Angelina reconhecia cada detalhe, cada um daqueles móveis, até o cheiro era o mesmo. Estivera ali quando o corretor apresentara o imóvel para a amiga.
          Quantos dias da sua vida passara naquele lugar? Ainda mais quando deixara o hospital. Inicialmente, fora seu refúgio.
               O branco imperava em cada canto...
             Seguiu até um centro suspenso todo de vidro. Havia inúmeras fotos suas... Observou uma das imagens onde a mãe aparecia sorridente.
          Segurou a moldura dourada, tocando a proteção fria que prendera em seu papel um dia inesquecível.
             Respirou fundo!
         De repente sentiu uma fúria... Como se apenas naquele momento se tocasse que tivera no mesmo espaço que a esposa e não torcera seu pescoço até vê-la dar o último suspiro.
        Por que não a matou, assim poderia também matar seus demônios de uma vez por todas. Inconscientemente apertou o quadro da fotografia.
          Viajava em suas recordações quando um latido conhecido chegou até si. Baixou a cabeça e lá estava o pequeno pug, encarando-a com aqueles olhos expressivos.
           Deixou o objeto de lado, distraindo-se com a presença ilustre que implorava atenção. Gostava dele...
           -- Olá, pulguento. – Agachou. – O que você anda aprontando por aqui hein? Por isso senti um cheiro que não combinava muito com o aroma da Flávia. – Observou a fralda que ele usava.
               Sorriu!
               Estranho como o pequeno animal aliviara sua angustia.
         O filhote pulava tentando alcança-lhe o rosto, mas era tão pequeno que eram inúteis suas tentativas.
             -- Fique quietinho. – Tocou-lhe a cabeça. – Deixe esses carinhos para sua dona, sabe que não curto muito essas demonstrações. – Tocou-lhe o focinho achatado. – Não diga que estava com saudades de mim?
              Naquele momento imaginou onde estava a Duda.
            Fora pega de surpresa com as últimas palavras usadas por ela e fora isso que a impedira de tomá-la novamente ali mesmo.
          Levantou-se, seguindo até o enorme sofá que formava um cı́rculo em meio a enorme sala. Sentou-se!
          Só agora conseguia pensar em Patrı́cia e em como ela tinha se tornado um ser repugnante e insignificante em sua vida.
           Surpreendeu-se quando estavam na delegacia, na qual única que lhe chamava a atenção, lhe prendendo totalmente era a tagarela de olhos verdes.
             Desejava-a, na por ser a única que tivera contato em seu recluso, mas porque havia algo mais que a prendia e isso sim a assustava.
          Tinha certeza que ela queria o mesmo, então nada a impedia de satisfazer seus instintos mais primitivos. Assim, tirá-la-ia de uma vez por todas de sua cabeça.
            A porta se abriu e pareceu decepcionada ao ver que era a Flávia. A loira caminhou até onde ela estava, sentando-se ao seu lado.
             -- Perdoe-me por ter feito você passar por isso. – Tomou-lhe a mão enluvada. – Juro que tinha proibido a Duda de se meter, mas aquela menina é muito rebelde.
             Angelina fitou os olhos claros.
            Eram sempre tão sinceros, amorosos...
           --  Acho  que  seria  impossível  controlá-la.  –  Desvencilhou-se  do  toque.  –  Preciso  que  entre  em  contato  com  meus advogados. Quero me divorciar da Patrı́cia o mais rápido possível.
            A loira a observava, tentando ver algum tipo de emoção na face bonita ou até um tom diferente em sua voz ao se referir à  esposa. Era como se fosse insensível a todos.
          -- O que sentiu quando a viu? – Questionou. – Sempre achei que ela teria poder sobre ti novamente, ainda mais quando se fala... em sexo. – Mirou os lábios cerrados. – Desculpe-me dizer isso, mas sabemos como ela te dominou por tanto tempo... Mesmo depois de toda a tragédia, tomou-a para si mais uma vez.
               Angelina se levantou.
         Por alguns segundos permaneceu mergulhada em suas lembranças. Recordando como fora fraca, cedendo aos apelos do corpo.
              Flávia observava o olhar implacável, perdido no vazio, até virasse para si.
            -- O mesmo que senti quando a vi no hospital... – Passou as mãos pelos cabelos. – Não se tem como negar a beleza e a sensualidade dela, ou fingir que não vi... – Respirou fundo. – Fui refém por muito tempo, mas preciso seguir em frente e tentar me livrar de tudo isso que ainda fere aqui. – Apontou para o peito. – Eu juro que quando a vi senti uma vontade enorme de matá-la, de fazê-la sentir uma dor terrível, como um dia ela me fez, mas consegui me controlar. Queria puni-la por minha fraqueza.
          A loira foi até ela, tocando-lhe a face.
       -- Às vezes te olho e não consigo ver nada da minha doce Angel. A sua frieza me assusta. – Tocou-lhe o peito. – Como se não batesse mais um coração, como se estivesse totalmente congelada. – Fitou os olhos negros. – Teria sido melhor pra mim ver você explodindo, voando sobre a Patrı́cia do que essa sua indiferença.
           O latido de Pigmaleão denunciou a presença de alguém conhecido. Eduarda observava a cena.
Pareciam tão unidas, compenetradas, mesmo que não desejasse admitir, sentira ciú mes de vê-las assim, ainda mais porque quando se tratava de si, havia apenas ofensas, gritos e ameaças.
            As duas mulheres se voltaram para ela.
       Notou o ar irônico presente nos olhos negros, mas tentou não se importar com isso. Já se acostumava com o jeito irritante da médica.
           Agachou-se pegando o pug nos braços. Sorriu ao ter o rosto lambido freneticamente.
           -- Temos que conversar, Eduarda! – Flávia avisou-a. – Acho que contrariou as minhas ordens.
         -- Fiz o que era preciso! – Arqueou o nariz desafiadoramente. – Acho que agora eu já posso retornar para o meu apartamento.
           Angelina voltou a sentar no sofá, cruzando as pernas e encarando insistentemente a garota.
          Mirou a camiseta onde os seios que tocara alguns minutos atrás repousavam, o pequeno short que deixava as pernas longas e torneadas de fora... Sentiu vontade de rir ao ver que os cabelos ainda estavam em desalinhos.
             Ao fitar os olhos verdes, conseguiu ver chispas em sua direção.
            Duda corou ao ver o olhar despudorado da Berlusconi, então voltou sua atenção para Flávia.
       -- Bem, isso ainda vamos ver, afinal, tirou boas notas nas provas, mas continua a agir tempestuosamente, como se não entendesse o que é certo ou errado. Age por instintos e isso pode trazer muitos problemas. – A loira a repreendia.
              Eduarda fitou a morena e viu como ela parecia se divertir com a situação.
           -- Acho que você esquece que não sou criança e nem tenho motivos para obedecer a suas regras. Fiz o que pediu e agora não vejo razões para me manter cativa.
              Antes que Flávia pudesse dizer alguma coisa, a Fercodini passou como um furacão por ela.
              -- Atrevida! – Angelina falou baixinho.
              A loira pareceu não ter ouvido, pois voltou a sentar ao lado da amiga.
          -- Depois resolvo com ela. – Suspirou. – Inicialmente a mantive distante, porque além de ela fazer um monte de loucura, também começou namorar o Bruno, uma ponte para você.
              Angelina cerrou os olhos.
           -- Não a quero com ele, ainda mais porque tenho certeza que ele é tão desgraçado como os pais.
            -- Também penso assim, porém não há como proibi-la de fazer o que quiser. Ela já tem idade para tomar as próprias decisões.
           -- Se ela continuar com ele vai ter que se virar sem a ajuda de custa que sempre recebeu. – Vociferou furiosa. – Não verá um único centavo!
             -- Bem, isso ela já dispensou há tempos e foi devido a tal ação que ela começou a se envolver em corridas ilegais e a questão das drogas.
               -- Maldita pirralha! – Exclamou irritada, batendo as mãos sobre a poltrona.
          -- Não precisa ficar assim. – Tomou-lhe a mão novamente. – Fique aqui hoje. – Pediu. – Descanse, pois amanhã pedirei ao advogado para vir lhe falar.
             A Berlusconi ainda pensou em protestar, mas era o melhor a fazer naquele dia. Não demoraria a anoitecer. Assentiu com um gesto de cabeça.
            -- Sabe onde fica o seu quarto ainda? – Perguntou com um enorme sorriso. 
               Angel se levantou.
              -- Sim!
            Flávia, mesmo assim, caminhou ao lado dela pelo luxuoso apartamento. Fizeram o percurso em silêncio, até chegarem à porta.
          -- Terei que ir ao hospital ainda hoje, preciso resolver algumas coisas. Deseja ir comigo?
             A morena a fitou por alguns segundos, até responder.
            -- Não!
          A bela Tavares beijou-lhe a face, em seguida se afastou. Angelina ainda permaneceu ali, parada.
          Não desejava voltar ao lugar onde tivera tantos sonhos, onde salvara inúmeras vidas, mas acabara perdendo a mãe e o dom que ostentara por tanto tempo.
              Retirou as luvas, colocando-as no bolso do casaco.
             Observou-as, em seguida iniciou o exercı́cio, abrindo-as e fechando-as. Não estavam doendo, mas as sentia rı́gidas, enferrujadas.
             Ainda lembrava-se do olhar de asco de Patrı́cia ao ver as feridas pela primeira vez.
           Quase perdera os dedos e fora preciso uma cirurgia para reconstruı́-los, mas outras intervenções deveriam ser feitas para tentar recuperar a estética das mãos que antes eram bonitas e delicadas.
          Chegara a pensar em uma operação, mas como ela não devolveria totalmente sua coordenação motora, não lhe interessara fazê-la.
           Ouviu latidos do outro lado da porta em frente aos seus aposentos. Então ela ocupava o quarto em frente ao seu...
           Não suportava a forma atrevida e desafiadora que a menina agia. Parecia se achar superior ou até mais importante do que todos, quando não passava da filha da amante de Antônio.
             Antipatizava com ela, mesmo tendo o corpo dominado por um desejo insano.
            Pensou em ir até lá, mas preferiu entrar em seu quarto. Outra hora resolveria o problema com a jovem rebelde.


           Duda jazia jogada na luxuosa cama, estava irritada com todos, pois parecia que tudo o que fazia era errado.
             Não ficaria naquele lugar eternamente, não permitiria que outras pessoas decidissem sua vida ou o que deveria fazer ou não.
          Estava começando a odiar Angelina Berlusconi. Odiando sentir seu coração acelerar só a menção dela.
           Precisava ir para longe, manter distância daqueles olhos negros que pareciam debochar dos seus sentimentos. Ela brincava consigo, percebia a maldade naquela face que exprimia frieza, mesmo no calor da paixão.
             -- Psicopata!
          Pegou o celular, discando o número da melhor amiga. Após chamar por alguns segundos, ouviu a voz da ruiva.
         -- Duda! – Gritou entusiasmada. – Nem acredito que entrou em contato comigo, pensei que tinha me esquecido.
            -- Tá podendo falar?
            -- Tenho dez minutos ainda, antes de voltar ao batente.
          -- Eu preciso te ver, preciso muito conversar contigo. – Mordiscou o lábio inferior. – Aconteceu tantas coisas nesse tempo que fiquei ausente. – Dizia com voz embargada.
           -- Oh, meu pequeno bebê, onde você está? Diga, irei até aı́. – O tom era preocupado. A ruiva conhecia bem a jovem e percebia que ela não estava realmente bem.
             -- Não... Não venha aqui. Encontre-me na boate hoje, estarei lá por volta das nove horas.
              -- Certo, estarei lá te esperando.
              Falaram por mais alguns minutos, até se despedirem carinhosamente.


           Flávia só desejava retornar para o apartamento, mas alguns problemas surgiram no hospital e provavelmente teria que passar a noite lá.
            Irritada seguiu para a própria sala.Entrou, sentando-se em sua cadeira pesadamente.
        Logo quando tinha a oportunidade de ficar um pouco com a Angelina, surgia esses contratempos, mas o que podia fazer?
           Tornara-se a única responsável por todo aquele patrimônio e desejava com todo o coração que a herdeira pudesse
              assumir o papel que lhe cabia naquela história, reinando como a Berlusconi que era.
               Observou a foto que repousava sobre a escrivaninha. Doutora Angel!
         Tentaria convencê-la a se submeter a mais uma cirurgia. Contaria com a ajuda do amigo professor para incentivá-la.
              Sorriu!
            Quem sabe se ela pudesse a voltar a ativa tudo voltasse a ser como antes. Observou o sorriso grande, os olhos brilhantes.
             Colocou a imagem de volta ao lugar.
             Sentiu um desânimo, como se tudo aquilo que fazia continuasse sendo inútil.
            Angelina tinha mudado muito, verdadeiramente não conseguia ver a jovem de antes naquela postura fria e arrogante.
            Seria possível alguém sofrer uma transformação tão grande? Era como se outra mulher tivesse assumido o lugar da melhor amiga.




          Eduarda conseguira sair sem ser notada, na verdade não havia sinal de que tivesse alguém no apartamento, então aproveitou para ir ao encontro da amiga.
            Pediu ao porteiro que chamasse um táxi.
         Felizmente não demorou em o carro chegar, seguindo imediatamente para a casa de show. Sempre encontrava os amigos naquele lugar, era o ponto preferido de todos. Tinha música alta, muita dança e gente que não acabava mais. Podia ter pensado em algo mais reservado, porém além de conversar com a Ester desejava também espairecer, relaxar a mente.
            Observou o enorme número de carros que ainda rodavam por ali.
            Decidiu mandar uma mensagem para a ruiva, pois sabia que não chegaria no horário.
       O motorista ligou aparelho de som e uma música a fez pensar em alguém que deveria simplesmente evitar pelas próximas mil reencarnações.
            Fechou os olhos e flashes daquela manhã vieram a sua mente.
           Ainda estava vivo as formas sensuais em seu cérebro. O jeito que explorara o próprio corpo... E quando gemera chamando seu nome...
            Sentiu uma pressão no abdome só em recordar do som baixo e rouco. Respirou fundo!
           Angelina Berlusconi só podia ser uma manı́aca sexual...
           Meneou a cabeça para tentar se livrar desses pensamentos. Precisava esquecer-se de tudo.


             Mesmo sendo um dia de semana, o local escolhido para o encontro das amigas estava cheio de jovens que arriscavam os mais mirabolantes passos de dança.
         A boate, mesmo na penumbra, trazia o jogo de luzes que parecia deixar todos ainda mais animados. O espaço era grande. Uma pista para as pessoas balançarem as cadeiras, um primeiro andar onde havia algumas mesas, e um bar onde um habilidoso barman fazia os mais variados drinques.
          O lugar estava localizado na periferia, mas a sua popularidade era tão grande que era frequentada por pessoas de todas as classes sociais.
               Sentada em uma dos altos bancos, estava uma bela ruiva que olhava de um lado para o outro. Seu olhar denotava impaciência e preocupação.
                Abriu a bolsa em busca do celular, mas percebeu que estava descarregado.
           Praguejou baixinho, levando aos lábios a latinha de refrigerante, tomando avidamente o lı́quido refrescante.
          -- Posso te pagar uma bebida? – Um homem alto, bonito e cheio de músculos, sentou no assento ao lado do seu.
            -- Não, ela não quer! – Uma voz conhecida se intrometeu na conversa. – Licença que esse lugar é reservado para mim.
               Ester sorriu!
              O rapaz pareceu não gostar de intromissão, mas ao fitar a garota, interessou-se.
            -- O convite pode ser para ti. – Levantou-se. – Estarei dançando, esperando um sinal para me aproximar. Eduarda relanceou os olhos demonstrando o tédio.
              -- Quando o inferno congelar... – Murmurou. A ruiva abraçou a amiga demoradamente.
           -- Estava morrendo de saudades de ti! – Apertou-a mais. – Não acredito que você está aqui!                  Cumprimentaram-se por alguns segundos, sentando-se em seguida.
             -- Conte-me tudo!
             Duda fez sinal para o garçom, pedindo um coquetel.
            -- Vai acabar se embebedando. – A amiga a advertiu. – Não esqueça que você não tem muita tolerância ao álcool. 
             A garota pareceu não dar muita importância a essa informação.
             -- Como você está, Ester?
             -- Estou bem, trabalhando muito, mas isso faz parte.
             -- E a faculdade?
              A ruiva fazia enfermagem.
            -- Vai bem, hoje eu deveria estar em aula, mas estava tão ansiosa para te ver que aceitei sem lembrar desse detalhe. Eduarda sorriu, segurando-lhe a mão, levando-a aos lábios.
            -- Obrigada! Sabe que você é a única amiga que tenho. O garçom trouxe a bebida que fora pedida.
             A jovem levou aos lábios, tomando um bom gole.
          Ester a fitava, percebia que havia algo errado, o olhar brincalhão parecia perdido ao fitar o copo.
            -- O que houve? Algum problema com o Bruno? Ou com aquela doutora Flávia? 
             A ruiva sabia de toda a história, menos da Angelina.
             Eduarda bebeu mais um pouco.
            -- Tudo se complicou ainda mais... Ester se levantou irritada.
            -- Eu disse que aquela ideia de corridas era uma loucura, pior, tudo culpa do Bruno, ainda mais o assunto das drogas. – Colocou as mãos na cintura. – Por que não o denunciou? Por que simplesmente não permitiu que ele fosse preso?
              Duda respirou fundo, apontando o lugar para que ela sentasse novamente. A outra suspirou, voltando a se acomodar.
                -- Isso não vem ao caso...
                -- E o que vem?
               A Fercodini tomou toda bebida, colocando o copo ruidosamente sobre o balcão.
-- Vamos dançar?
              Ester nem teve tempo de responder, pois a amiga já seguia para a pista.


              A empregada batia no quarto de Eduarda, mas não recebia respostas.
              Angelina saia do banheiro amarrava o roupão quando seguiu até a porta, presenciando a cena.
                -- O que houve? Que escândalo é esse? 
                A jovem baixou a cabeça constrangida.
             -- Perdoe-me, mas tem ligação para menina Fercodini. Estou chamando-a, mas ninguém responde. 
                 A morena estreitou os olhos, entrando no quarto da garota.
                 Observou que estava vazio.
               Pigmaleão veio até si, abanando o rabinho. Tomou-o nos braços, colocando-o sobre a cama. Seguiu até o banheiro e não havia ninguém.
               -- Chame o José! – Ordenou.
               A moça saiu em disparada.
            A médica inspirou, sentindo o cheiro da jovem. Fitou alguns livros sobre a mesinha. O leito estava arrumada. Viu a mochila sobre a cadeira.
               O motorista apareceu à porta.
               -- Pois não, senhora.
               A Berlusconi se voltou para ele.
               -- Onde está a Fercodini?
             O homem baixou a cabeça.
          Ficara sabendo pelo porteiro da saı́da da menina e rezara para que isso continuasse em segredo. Ainda pensou em falar com a empregada, mas estava resolvendo algumas coisas e acabou se esquecendo.
            -- Onde ela está? – Repetiu a indagação. José observou os olhos cerrados.
        -- Eu não acho que ela fez nada de errado, apenas saiu um pouco. Não acho que ela seja prisioneira aqui.
        -- Onde ela está? – Aproximou-se dele. – Não repetirei novamente, pois tenho certeza que entendeu muito bem a minha pergunta.
            -- O porteiro disse que o táxi a levou para uma casa de shows que fica na periferia.
            -- Ela foi se encontrar com o namorado? – Perguntou.
         O motorista observava os olhos negros, pareciam irritados, sombrios, como se estivessem se controlando para não explodir.


             O tom baixo que a médica usava não o iludia.
             -- Eu não sei!
          Ela perscrutava-o em busca de algo que pudesse denunciar como mentira o que ele dizia. Por fim, respirou fundo.
            -- Arrume o carro, estarei pronta em dez minutos. Os olhos de José quase pularam para fora.
           -- A senhora vai?
            -- Sim!
            Agora sim seria um problema e tanto.
            -- Bem... Bem... A dona Flávia saiu com o carro e apenas a limusine está na garagem.
            -- Não tem problema, vamos nela mesmo. – Falou, seguindo para os próprios aposentos.
           O motorista ainda permaneceu lá. Pensava em como fazer para não ir até a boate com a morena. Pensou em ligar para Flávia, mas não desejava aborrecê-la ou preocupá-la.
           Passou as mãos pelos escassos fios de cabelo, seguindo desanimado para cumprir as ordens que recebera.




                A música alta era convidativa.
            Ester e Duda dançavam todos os ritmos, às vezes acompanhadas, mas a maioria das músicas faziam sozinhas, pois não gostavam do assédio de alguns rapazes.
               A ruiva lhe segurou o braço, sussurrando em seu ouvido.
             -- Estou morta. Vamos sentar um pouco? 
              Eduarda sorriu assentindo.
            Estava feliz por estar ali, pois naquelas horas sua mente parecia ter se libertado da sombra que a perseguia, a confundia e irritava ao extremo.
              -- Vamos tomar um coquetel? – A Fercodini chamou o garçom, fazendo o pedido sem a outra aceitar. – Só um pouco. Veja... – Apontou para si mesma. – Não estou bêbada, apenas cheia de energia.
               Ambas sorriram.
          -- Bem, se você ficar bêbada não conseguirei te carregar. – Observou alguns rapazes encarando-as. – Mas me diga, por que o Bruno não foi convidado para o nosso encontro?
               Mais uma vez percebeu o olhar perdido da amiga. Segurou-lhe a mão.
               -- Diga-me o que se passa. – Pediu, encarando as lindas esmeraldas.
               -- Eu não sei... – Desviou o olhar. – Acho que terminarei minha relação com ele.
               -- A tal doutora Flávia está te obrigando a isso?
                Eduarda meneou a cabeça negativamente.
               -- Tem muita coisa envolvida... – Mordiscou o lábio inferior.
               -- O quê?
               Duda a fitou intensamente.
                -- Você já sentiu tanta raiva de alguém ao mesmo tempo que seu corpo queima de desejo por essa pessoa? 
                 O garçom trouxe as bebidas.
               -- Esse desejo, decerto, não é por seu namorado? A outra assentiu, levando o canudo à boca.
Sentia o álcool queimar a garganta, mas isso não incomodou.
                -- Quem é essa pessoa?
              -- Não posso falar, na verdade, prefiro não tocar nesse assunto, pois só mencioná-la sinto um aperto no meu estômago.
               Ester segurou-lhe a mão mais uma vez.
               -- Sabe que pode contar comigo para qualquer coisa...
            Antes que a jovem pudesse responder, alguém parou ao seu lado. Assustou-se ao ver o motorista.
                -- O que faz aqui?
             José não pode dissuadir a morena de ir até lá, apenas conseguiu convencê-la a esperá-los no carro.
              -- Preciso que venha comigo. – Disse em tom de sú plica.
               A ruiva o viu algumas vezes e sabia que ele trabalhava para a loira.
              -- Por que ela precisa ir com o senhor? Não estamos fazendo nada de mal.
              Eduarda observava a expressão de pesar do motorista.
              -- O que houve? – Indagou preocupada.
              -- Venha comigo e tudo vai ficar bem.
            A garota ainda pensou em se negar a tal pedido, mas percebia que José parecia mais assustado do que ela, isso significava que a Angelina estava envolvida naquilo.
              Retirou o dinheiro da bolsa colocando sobre a mesa.
             -- Pague a conta e pegue um táxi para retornar a sua casa. – Levantou-se, abraçando a amiga. – Falo contigo depois. – Sussurrou em seu ouvido. – Não se preocupe.
            Antes que Ester pudesse falar algo, seguiu abrindo passagem em meio às pessoas, tendo o homem a seguindo de perto.


              O caminho fora feito em total silêncio, seguiram até onde estava estacionado o carro.
Já abria a boca para colocar para fora todas as indagações que formulou quando viu quem estava parada do lado de fora do enorme veı́culo.
              Angelina.
          Ela usava uma calça preta, apertando as pernas longas bonitas, uma bota até os joelhos no mesmo tom, camiseta e jaqueta de couro tudo em cores escuras.
              Os cabelos como de costume soltos.
              Fitou-lhe o rosto bonito que demonstrava aquela expressão impenetrável.
              A médica abriu a porta para que ela entrasse sem que uma única palavra fosse dita.
         Ainda pensou em ir com o motorista na frente, mas preferiu não criar problemas, pois não saberia como explicar o que se passava a José.
              Entrou, ficando maravilhada com o interior do carro.
            Os bancos eram de couros, o cinza predominava em todos os detalhes. Observou o vidro que separava o motorista daquela parte.
             Arrependia-se de ter se acomodado ali, mesmo não estando ao lado da médica, pior era ficar de frente, fitando o semblante que trazia sarcasmo.
               As luzes se mantinham acesas.
               -- Olha, você pode deixar de me olhar? – Duda falou impaciente. – Se soubesse que estava aqui não teria aceitado vir.
               Notou o meio sorriso da médica.
             -- E se eu fosse você  não fugiria assim... Espero que o seu namoradinho não tenha estado  naquele antro junto contigo.
              -- Isso não é da sua conta! – Apontou-lhe o indicador. -- Na verdade, a minha vida não lhe diz respeito, que eu saiba apenas a Flávia se mete em meus passos.
               -- O Bruno estava contigo? – Perguntou, ignorando o que fora dito.
               Duda respirou fundo, fechou os olhos, não respondendo o que fora questionado.
                -- O Bruno estava contigo? – Repetiu.
            Eduarda não respondeu, mas foi puxada violentamente. Tentou se soltar, mas acabou sendo obrigada a sentar no colo da médica.
              Sentiu a tontura do álcool, a cabeça girou.
              -- Custava você me responder? – Sussurrou em seu ouvido. – Gosta de me desafiar?
             A Fercodini sentia uma das mãos dominá-la pelo abdome, enquanto a outra descansava em sua coxa. Como vestia short, sentia o contato do látex.
              -- Deixe-me voltar para o meu canto.
              De repente as luzes apagaram, deixando-as na penumbra.
             -- Vamos conversar? – Sussurrou novamente de encontro a orelha. – Assim, a gente não briga.
                A jovem sentiu os pelos da nuca se arrepiarem.
             -- Então, deixe-me retornar ao meu lugar. – Segurou-lhe o pulso. – Não vejo necessidades de ficar aqui...
           -- Não, essa posição está ótima. – Acariciou a pele da perna. – Quem lhe deu permissão para deixar o apartamento? O tom era baixo e rouco, suficiente para mexer com o controle da garota.
               -- Queria apenas relaxar um pouco.
               Os lábios de Angelina depositavam alguns beijos em seu pescoço.
            Eduarda tentou afastá-la, mas acabou sendo vencida pela insistência e pelas sensações deliciosas da carı́cia.
              -- Conheço uma forma melhor de relaxar. – Subiu as mãos até tocar os seios redondos sobre a blusa. – Não viu a forma que usei para relaxar hoje de manhã? Não quer experimentar?
                    As imagens invadiram a mente da Fercodini.
              O corpo pareceu ganhar vida própria. Partes de si pareciam implorar pelo toque...Seu baixo ventre doı́a... O sutiã parecia ter diminuı́do o número.
               Virou-se para ela, continuando sobre o colo, mas agora de frente, montando-a com as pernas afastadas.
              -- Diga-me o que estava fazendo... Quero que me explique... – Questionou curiosa. – Chamou meu nome... Por quê? 
                    Mesmo com a meia-luz, era possível ver os dentes brancos se abrirem em um sorriso.
                A morena começou a desabotoa-lhe a vestimenta do tronco. Fazia-o pacientemente, soltando cada um dos botões.
            -- Eu estava me tocando pensando em ti... – Abri-o delicadamente. – Sentia seu cheiro... Imaginava seu corpo ali... – Observou o corpete alojar os montes redondos. – Sabe que eu desejo possuı́-la... – Abriu o fecho, libertando-os. – Não aguentei a vontade e usei a minha imaginação... Por que não foi lá?
                   Duda parecia hipnotizada ouvindo cada frase, entorpecida.
             -- Não sabia como agir. -- Atrevida, retirou as luvas da cirurgiã, desejando senti-la. Percebeu-a se retrair, mas levou as mãos ao colo, cobrindo-os. -- Assim fica melhor... Gosto de sentir suas mãos... Deixa? – Pediu.
              Angelina mordiscou o lábio inferior, hesitante, mas o olhar que recebeu fora encorajador. Os dedos começaram a brincar com o mamilo que se mostrava como um botão de flor. Apertou-os... Amassou-os...
             -- São tão macios... – Puxou-a para mais perto de si. – O sabor deles é divino. – Lambeu o biquinho, circundando-o. Eduarda inclinou a cabeça, deliciando-se com o toque.
             Nunca em sua vida imaginara que existia uma sensação tão prazerosa, perigosa e dominante. Mordeu o lábio inferior para não gemer alto.
                Ela chupou forte... Puxando-o... Mordendo... Protestou quando a médica interrompeu o ato.
Sentiu o beijo na face, depois a boca foi dominada peritamente. Ela lhe beijava como se tivessem todo o tempo do mundo. Explorando minuciosamente cada canto, brincando com sua lı́ngua, ora chupando-a, ora mordendo-a.
              -- O seu gosto é delicioso... – Sussurrava em seu ouvido. – Mas há outro paladar que desejo experimentar... Há outro gosto que almejo sentir... Salivo só em pensar...
              Duda percebeu o rosto pegar fogo, pois sabia do que ela falava e verdadeiramente também desejava que Angelina provasse da sua essência.
           Observou as mãos, que denotava muita segurança, abrir-lhe a bermuda. A carı́cia sobre a calcinha foi uma verdadeira tortura.
                Estava molhada... Muito molhada...
            -- Eu vi... – A voz falhou. – Vi como seus dedos acariciavam... Como eles pareciam ser engolidos,,, Devorados...
                 -- Dispa-se para mim... – Ordenou. – Mostrarei como se faz...
              -- Mas... Devemos está chegando a casa... – Relutava. Angelina sorriu. Suas ordens foram claras.
                O motorista deveria dirigir pelas ruas da cidade, até que recebesse a ordem para seguir até o edifı́cio.
            -- Não vai... – Mordiscou o lóbulo da orelha. – Tira... Conseguiu ver o brilho dos olhos negros...
               Pensou em se negar, ainda mais pela forma que sempre era tratada, porém suas forças eram poucas para resistir aos apelos do corpo.
             Fez como fora ordenado e podia sentir sobre si a força daquele olhar... Fitou-a enquanto executava o ato, examinando o rosto bonito. Terminando, voltou a ocupar a mesma posição de antes.
              -- Fiz como me pediu... – Falou contra os lábios carnudos. – E agora?
             A morena tocou-lhe os fios sedosos, observando como a franja lhe dava uma aparência infantil.
               -- Sabe qual é a minha vontade... ? 
               Duda meneou negativamente a cabeça.
          -- Possuı́-la furiosamente... Machucando-a... Ferindo-a... Rasgando-a... – Fitou o olhar assustado. – Mas não o farei... – Desceu a mão, sentindo os pelos ralos. – Dessa vez lhe darei algo memorável...
             A médica percebeu que toda a parte externa estava demasiadamente úmida. Brincou com o escorregadio, até sentir o pequeno botão excitado.
                Esfregou-o com o polegar, fazendo movimentos circulares. Brincando com sua rigidez.
           A Fercodini levou a mão à boca, mordendo a pele, tentando conter os gritos que estavam presos em sua garganta.
            Angelina aumentou à iluminação do lugar, querendo ver a expressão da garota. Em seguida, levou os dedos molhados até os lábios, chupando-os... Lambuzando-se...
                Os olhos verdes estavam mais escuros... As maçãs do rosto traziam o vermelho...
                -- Qual o sabor? – Questionou. 
                  A morena sorriu.
                 -- Prove-o nos meus lábios...
             A Berlusconi beijou-a mais uma vez, enquanto explorava a sexualidade latente... Massageava o clitóris enquanto buscava a entrada para tomá-la totalmente para si...
            Duda rebolava... Impaciente, buscou os seios da cirurgiã, levantando o sutiã para ter contato com a pele sedosa. A médica era experiente... Sentiu-a fechada... Com o indicador tentou invadi-la...
              Virgem!
            Ficou ainda mais excitada com a constatação. Fê-la sentar no banco, enquanto ajoelhava diante dela. Flexionou-lhe uma das pernas sobre o assento, assim, tinha melhor acesso e uma ótima visão.
              A jovem pareceu constrangida, tentou se encolher, mas a morena não permitiu.
            -- Você é tão linda que lembra o próprio pecado... – Tocou a parte interna das coxas. – Meu pecado.
               Eduarda tremeu ao ouvi-la.
          Sentiu a lı́ngua percorrer sua virilha... Fazia em gestos lentos... Angustiante... Fechou os olhos... Então a percebeu abri-lhe ainda mais o centro do prazer... O beijo fora dado demoradamente... Até a lı́ngua assumir o controle... Lambendo-a... Chupando-lhe... Prendendo-a nos lábios... A boca delicada fazia maravilhas... Dominando o ato, levando-a a loucura.
                Cravou os dentes na mão para não gritar alto.
            Sentia os quadris se movimentando e não se dava conta que ela mesma fazia os movimentos... Indo contra a lı́ngua... Contra os dedos que tentavam invadi-la... Não recuou... Desejava engoli-los... Perder-se... Fazê-la ir até o fim... Mexeu mais forte, sentindo-se dolorida... Mas não desistiu... Desejava ser fundida... Fundida pela doutora Angel...
             A Berlusconi já perdia todo o controle... Então, enquanto chupava deliciosamente o sexo molhado... Tomou-a para si... Escorregando para dentro do espaço minú sculo que desabrochava em cada estancada... Experimentou fazer com a lı́ngua... Sentiu-a prendê-la, mas não cessou... Aumentou os movimentos... Até ouvi-la choramingar... Observou as lágrimas lha banharem a face rosada... O som doce dos seus gemidos lhe trazia a realidade... Uma nova realidade para seus olhos cansados...
             Foi até ela, sentando-a mais uma vez em seu colo, tomando os lábios em uma carı́cia apaixonada.

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