A condessa bastarda -- Penúltimo capítulo


             Clara já seguia para o estacionamento quando encontrou um garotinho que veio até si. Ele parecia esbaforido.
                -- Senhorita Duomont, a condessa está te procurando.
                -- Onde ela está? – Procurou entre a grande multidão. – Onde ela está?
                -- Não sei. – Disse simplesmente. – Ela me disse para lhe dizer isso. 
                O advogado segurou o garoto pelos ombros.
                -- Quem?
                -- A mulher... – Disse temeroso. – Não a conheço.
                A jovem seguiu ainda mais apressada até onde estavam os veı́culos, mas não teria como sair, o carro estava preso. Bateu forte no capô.
                 -- Vou pegar a Branca de Neve. – Saiu em disparada.
                 Miguel seguiu em busca de alguém para lhe ajudar a tirar o automóvel.


                Vitória sentiu um forte dor na cabeça. Tentou levantar, mas percebeu que estava presa em um dos troncos que sustentava o estábulo.
                As mãos estavam amarradas a suas costas, tentou forçar, mas não conseguia se livrar.      Tentou mais uma vez, porém, os nós não pareciam ceder.
                 -- Vitória... Linda Vitória...
                 Ela levantou a cabeça e se deparou com Alex.
             -- Se tivesse me aceitado nada disso aconteceria. – Agachou-se. – Você é muito linda. – Tocou-lhe a face com as costas da mão. – Linda condessa...
                 A ruiva se desvencilhou do toque, encarando-o.
                -- Por que me prendeu aqui? – Indagou confusa. – O que está pretendendo com isso?
                -- Bem, tudo tem uma explicação... – Deu um sorriso de canto de boca.
                -- Não estou entendendo...
                Alex a fitava com olhar fascinado.
             -- Infelizmente, seu fim está próximo... Se tivesse me aceitado nada disso teria acontecido.                     Mattarazi estreitou os olhos verdes.
              -- Pois é, tudo foi armado com maestria... – Tocou-lhe os fios soltos dos cabelos afogueados, colocando-os por trás de sua orelha. – Dei o que a Valentina queria, dei todas as respostas... Pela metade... – Piscou. – Como ela foi idiota... Até você... Eu, o salvador da pátria.
               -- Por que está fazendo isso?
             -- Você me forçou... – Falou bem colada aos seus lábios.—E' sua culpa... – Puxou-lhe os cabelos. – Quantas vezes te dei a oportunidade de ficar comigo? Quantas vezes quis ficar ao teu lado... – Alterou a voz. – Mas lógico, teve que se interessar pela maldita Clara. – Levantou-se. – Quando cortei a sela no dia do campeonato ou quando atirei no Marcos, pior, quando tramei para que atirassem em ti, fiz para afastá-la da Duomont... – Bateu com o punho fechado na madeira. – Mas você não entendeu... Por que teve que ser tão teimosa... – gritou. – Eu machuquei o Bastardo... Tudo para que os Duomonts fossem responsabilizados, porém o que você fez? – Gritou. – Encantou-se pelo olhar de princesa...
                  -- Foi você... – Ela tentou levantar, tentou se soltar para atacá-lo. – Miserável!
                 Vitória ouviu passos e teve a falsa ilusão que algum trabalhador estivesse ali para ajudá-la, mas deparou-se com Marcos que imediatamente seguiu até ela, chutando-lhe o abdome.
                  -- Maldita seja! – Depositou sua bota sobre a coxa da empresária. – Achou que ficaria com a minha noiva e eu aceitaria tudo como um mártir?
               A ruiva sentiu dificuldade para respirar, mas tentou manter a calma, pois sabia que a qualquer momento alguém viria a sua procura. Tinha que tomar tempo, assim poderia ter uma chance.
                   Fitou-o.
                  -- Olá, engomadinho! – Provocou-o, tentando disfarçar a dor. – Decidiu virar o antagonista da história. – Exibiu um sorriso debochado. – Pobre filhinho de papai...
O rapaz agachou, segurando-lhe o queixo firme.
                     -- Você acha que é a dona de tudo, acha que é uma poderosa condessa... – Debochou. – Mas no fundo é uma idiota. – Fitou os olhos verdes que pareciam desafiá-los. – Fico a pensar porque você também não estava naquele carro no dia do acidente... – Sentou no feno. – Aquele fora o dia marcado para todos os Mattarazis morrerem, junto com a prostituta da Helena...
                    -- Do que está falando? – Perguntou perplexa. O jovem exibiu um sorriso macabro.
                -- Eu mexi no carro naquele dia... Papai queria que o ajudasse a me livrar de Vitor, do conde, e da linda condessa... Eu estava de férias... – Tirou a maçã do bolso, comendo tranquilamente.                   – Ele queria deixar a minha mãe para ficar com a meretriz, mas eu não a avisei, como ele mandara... Pena você não ter ido junto... – Pegou uma faca que ficava em sua bota.
                   -- Como pode ser capaz de algo assim? Havia uma criança naquele carro...
                  -- Pois é... Um crime que você sempre levou a culpa... PERFEITO... – Passou a lâmina por sua face. – Acho que vou te deixar ainda mais bonita.
                   Bastardo começou a relinchar, interrompendo-o. Ele seguiu até o animal com a arma em punho.
                -- Vamos terminar logo com isso... – Alex se aproximou. – Clarice ligou dizendo que a Clara está querendo vir atrás da condessa, mas parece que conseguiu dar um jeito.
                   Marcos voltou-se mais uma vez para a ruiva.
                -- A minha querida sogrinha está se saindo muito bem... – Aproximou-se, encostando o cano do revólver em sua cabeça.
                   A condessa não imaginou que a mãe de Clara pudesse chegar tão longe. Sempre a achara terrível, mas nem em seus sonhos poderia pensar que ela agiria daquele jeito.
                    -- Bem, já que você vai morrer, vou te confessar algo... – Passou o metal frio pelo rosto da empresária. – Fora com essa arma que matei Frederico... Gargalhou. – O velho desgraçado quis me impedir de casar com a neta e ainda estava ameaçando o meu pai, chantageando-o com o caso de Helena... Eu estive lá naquele dia... Por pouco vocês não o encontraram morto... – Dizia pensativo... – Não imaginei que a Clara estaria contigo... Você seria acusada... Tudo estava pronto...
                      -- Você é um miserável... Não vai ficar impune...
                      Ele a esbofeteou tão forte que lhe cortou a lateral da boca.
                   -- Vou ficar sim... Mais uma vez não haverá pistas... – Apontou para o jornalista. – Alex está acima de qualquer suspeita...Ele entregou o Otávio e o meu pai... – Riu alto.-- Eu... Bem, aceitei a anulação do casamento e nesse momento meu álibi já está sendo construı́do... A Clarice está em sua festa... Que irônico...
                     O garanhão se rebelou mais uma vez. Marcos engatilhou a arma, mirando o cavalo.
                     -- Esse demônio vai ter o mesmo fim que você.
                    A condessa tentou se desamarrar, porém fora mais uma vez agredida pelo jovem.
              -- Calminha aı́... Não vou matá-lo agora, na verdade, ele vai morrer junto contigo... Queimadinhos... – Gargalhou mais uma vez. – Eu fico imaginando a sua agonia em ver o Bastardinho sendo assado e você sem poder fazer nada, afinal, o seu fim também será trágico... Mas não se preocupe, eu irei consolar a sua amada e a ajudarei a desfrutar do seu dinheiro... – Caminhou até Alex, colocando a mão em seu ombro. – Mesmo você ainda não tendo casado com a Clarinha, eu aposto a minha vida que o nome dela aparece lindo em seu testamento.
                -- Se tivesse me aceitado nada disso teria acontecido, Vitória... – O jornalista a fitou pesaroso. – Teve tanta chance, mas acabou se interessando pela Duomont. – Foi até ela, ajoelhando-se. – Eu te amava... – Limpou o sangue que escorria na lateral da boca rosada. – Infelizmente, você me descartou como se fosse um móvel velho.
                       Vitória virou a cabeça, evitando o contato.
                    -- Eu nunca quis nada contigo... Sempre senti desprezo por ti, pois sabia que no fundo era um canalha... 
                        Alex pareceu chocado com as palavras, afastando-se.
               -- Quanto a você, seu miserável, pode me matar, mas vai viver o resto da sua vida carregando em sua consciência que foste a última opção, pois foi em meus braços que a Clara se entregou, foi por mim que ela se apaixonou e é por mim que ela suspira, que sonha, que se entregou durante todo esse tempo...
                       Marcos a chutou mais uma vez no abdome. A condessa gemeu alto.
                  -- Vai morrer, maldita, vai morrer... – Fez um sinal com a cabeça para o jornalista. – Mande lembrança para seu irmãozinho.
                   Mattarazi viu o fogo tomar rapidamente as baias e tinha certeza que não demoraria chegar a si. Observou os dois homens se afastando.
                 Tentou se soltar, mas seus esforços não davam resultados... Seu corpo estava terrivelmente dolorido. Bastardo estava preso dentro de uma das baias, ele levantou as patas dianteiras, relinchando.
                   A ruiva sentia a fumaça começar a sufocá-la.
                    Encolheu-se mais, pois as chamas já chegavam perto de si.
               Sentiu um alıvio se apossar do seu peito, quando viu seu garanhão conseguir se soltar, pulando a porta, saindo em disparada.




                    Clara fora atrasada pela mãe.
                   Clarice dissera que estava com Marcos do outro lado e tinha visto quando a condessa tinha chegado, mesmo assim, a jovem Duomont pareceu não aceitar a explicação, pois sabia que se Vitória estivesse ali, teria ido rapidamente atrás dela.
                   -- Acho que ela deve ter esquecido algo, pois parecia procurar... Assim retornou em direção à fazenda. – Dizia, detendo-a pelo braço.
                       A jovem se desvencilhou do toque.
                       -- Então, eu mesma irei me certificar que está tudo bem com ela e a trarei comigo. Montou em Branca de Neve e saiu cavalgando velozmente.

                     Valentina observava a festa, quando Miguel correu até ela.
                       -- Precisamos ir até a fazenda. – O advogado falou esbaforido.
                       -- O que houve?
                    -- Não sei, mas os pneus do meu carro foram furados e o da Clara ficou preso. Ela saiu há algum tempo, podemos encontrá-la no caminho, temos que ir.
                   A delegada saiu abrindo espaço entre os presentes, rapidamente ligou pedindo que os policiais a acompanhassem.


                  Vitória sabia que não resistiria por muito tempo. Não tinha mais forças para tentar se soltar, pelo menos o Bastardo estaria salvo.
                   Fechou os olhos e a imagem de olhos negros tão sinceros preencheram seus pensamentos, era a sua amada Branca de Neve que levaria em sua mente e em seu coração.
                    Tentou mais uma vez se soltar, mas seu ato fora em vão. Gritou por ajuda.
                    Engraçado como as coisas se encaixavam.
                    Pena não poder fazer os miseráveis pagar pelo que fizeram com seu irmão.


                    Clara viu as luzes do carro lhe seguindo.
               De longe pode ver o fogo que vinha do estábulo, esporeou Branca de Neve para que o animal fosse mais rápido. Sentia o vento noturno emaranhando os fios, sentia a pele arrepiar enquanto se aproximava.
                   Não deveria ter ido para festa sem a empresária. Deveria ter esperado por ela, mas achara que tudo estava bem e que não havia mais riscos.
               Fora uma idiota, baixara a guarda quando deveria ter ficado atenta a tudo que acontecia. Desmontou e viu o Bastardo vir até ela.
             O garanhão parecia nervoso, agitado. Ele seguiu até o estábulo, levantando as patas dianteiras.
                    -- Ela está lá dentro. – Constatou em pânico.
                     A Duomont já corria, quando sentiu braços lhe segurando pela cintura.
                  -- Você não pode ir lá, vai morrer. – Valentina a detinha. 
                  Clara empurrou-a forte, saindo em disparada.
                  -- Mas morrerei com o amor da minha vida.
                  Miguel tentou ir atrás, mas a delegada não permitiu, segurava-o com toda sua força.
                   -- Ela vai morrer... Não vá, não quero te perder...


                   O fogo estava alto, a quentura feria a pele, mesmo não tocando-a.
                A jovem tirou a camiseta, cobrindo a boca e o nariz, tentando não respirar a fumaça.                            Gritava pela condessa, a visibilidade estava terrível e não se conseguia visualizar nada. Uma madeira caiu perto dela, assustando-a.
                    Em pouco tempo tudo desmoronaria.
                   Fez uma prece, tentando se concentrar, temia que não aguentasse por muito tempo, então quando já estava quase desistindo, avistou-a.
                    Ajoelhou-se diante dela, tentou levantá-la, mas percebeu que estava presa.
                    -- Vitória! – Gritou seu nome, mas ela não respondia. – Amor...
               Não podia pedir ajuda, pois sabia que havia pouco tempo e não poderia perder um único segundo.
               Pegou uma madeira, tentando não tocar nas chamas, porém ainda sentia ferir-lhe, deu a volta, queimou as amarras, conseguindo partir a corda.
             -- Vitória, por favor, meu amor, aguente... Vou tirar a gente daqui. – Sussurrou em seu ouvido. Abraçou-a por trás, tentando sustentar-lhe o peso.
               Observou em todas as direções, tentando recordar por onde tinha vindo, mas percebeu que seria impossível passar por lá que já tinha sido tomado pelas labaredas.
                 O fogo queimava todas as partes do grande estábulo.
                 Carregou-a até a porta, mas não conseguiriam passar por lá sem serem queimadas.


                  Valentina ligava para o corpo de bombeiros.
                  -- Eu vou lá...
               Dessa vez a delegada não conseguiu deter o marido que deu a volta por trás, seguindo em busca das jovens.
                  -- Miguel... – Gritou, indo atrás dele.
                  Viu com desespero a parte frontal desabar.
            Era inútil, se a condessa tivesse ali dentro já estava morta e temia que Clara tivesse encontrado o mesmo fim. Então, ouviu-se um estouro e milagrosamente os três saiam daquele inferno.
                   A delegada sentiu lágrimas molharem a face. Saiu correndo imediatamente até eles.
               Miguel tentava reanimar a condessa, enquanto Clara estava deitada na grama, parecia não conseguir levar o oxigênio aos pulmões.
                   Imediatamente foi até ela, ajudando-a a sentar, fazendo-a respirar aos poucos.
                 O advogado tentava incansavelmente, ouvia o choro de Maria Clara e sabia que não deveria desistir, do mesmo jeito que a jovem valentemente não desistira, enfrentando aquele incêndio.
Rezou silenciosamente... Pediu a irmã que estivesse vendo naquele momento os ajudassem. Então o milagre aconteceu e pode ouvi-la tossir, buscando respirar.
                -- Precisamos levá-la ao hospital urgentemente. 
                 Valentina assentiu, seguindo até o carro.



                Alex e Marcos caminhavam pela festa.
                 Eles estavam certos que o trabalho sujo tinha sido concluı́do.
           -- Agora basta que Clarice confirme nossa presença. – O jornalista sorriu. – As fotos que tiramos antes estão em seu celular?
              -- Sim, com certeza, depois incluirei o horário. – Sorriu. – Sinto o cheiro de condessa assada.
            -- Amanhã teremos que sair nas manchetes como pessoas que prestigiavam o evento sem imaginar que algo horrível acontecia na fazenda Mattarai. – Foi até a barraca de tiro, comprando umas fichas.




               A condessa foi levada até o hospital de uma cidade vizinha, encaminhada imediatamente para a urgência, enquanto Clara era atendida devido às queimaduras que tivera, principalmente nas mãos.
                  -- Quero ver a Vitória. – Ela dizia para Valentina.
              A delegada fitou as mãos da jovem e percebeu como aquela menina fora corajosa ao arriscar a própria vida para salvar a amada.
                 Abraçou-a pelos ombros.
               -- Calma, ela está sendo atendida e você também precisa ser cuidada. – Beijou-lhe o topo da cabeça. – Ela vai ficar bem e você também.
               -- Quero ficar ao lado dela... Preciso ficar perto... Sentir que ela está bem...
               -- Ela vai ficar bem, porém você precisa se cuidar também.


               Miguel andava de um lado para o outro, ansioso por notı́cias da sobrinha.              
           Quando pensava que por muito pouco, a ruiva teria morrido e junto a ela Clara, sentia um aperto no peito. Deveria ter ido antes, não deveria ter permitido que a Valentina lhe segurasse.
              Passou a mão pelos cabelos ralos.
              Se acontecesse algo grave com Vitória não se perdoaria nunca.
              -- Alguma notı́cia? – Valentina se aproximou. Ele fez um gesto negativo com a cabeça.
               -- E a Clara?
              A delegada conduziu-o até o sofá.
           -- As mãos delas estão muito machucadas... – Engoliu em seco. – Ela arriscou a vida pela condessa... Como é grande esse amor que ambas sentem... Como ele nasceu de tanto ódio?
            -- Eu não sei... Só desejo que a Vitória fique bem e possa viver esse sentimento com a sua princesa. 
                Valentina se levantou.
            -- Necessito de algo... Clara disse que encontrou a ruiva amarrada dentro do estábulo... Alguém fez isso e pareceu tomar todas as precauções para que não chegássemos. – Agachou, segurando o joelho do marido. – A Clarice sabia, ela tentou deter a filha, tentou atrasá-la. – Abaixou o tom de voz. – Vou pegá-los dessa vez, devo isso a Vitória por tudo que ela passou.
              -- Precisa tomar cuidado, pois quem fez isso não está para brincadeira. – Abraçou-a. – Tome cuidado, por favor.


               Naquela mesma noite o helicóptero fora chamado para transferir a condessa para a capital. Clara e Miguel acompanharam-na.
                 A cidade pareceu chocada com o acontecido.
              Valentina espalhara a notı́cia de que a condessa estava em coma e que não havia chances de sobreviver. Aquela não era só uma medida de segurança, mas também um meio para chegar aos culpados.
               Quem cometeu o crime acharia que ficaria livre, porém as coisas seriam diferentes dessa vez.


                  Apesar de todo o clima triste, ficou impressionada com a dor que viu nos olhos das pessoas que ali habitavam. Sempre a ruiva fora vista como a assassina da própria famı́lia, odiada, apontada por todos, porém não era isso que via naquele momento.
                   A igreja estava cheia, crianças, idosos, jovens sofriam com a tragédia que se abateu na vida da empresária.




                  -- Ela não está morta! – Marcos gritava em seu escritório. – Vamos ser presos se a desgraçada sobreviver. 
                          Clarice entrou, encontrando os dois homens.
                    -- Está sim. – Sentou-se cruzando as pernas. – Acabei de ouvir o Felipe consolando a Clara. – Sorriu cruel. – Vitória Mattarazi não resistiu às queimaduras e veio a óbito.
                        Alex saiu rapidamente, em seguida trouxe champanhe e três taças.
                       -- Um brinde a condessa, então?
                    -- Com certeza. – Clarice levou o lı́quido à boca. – Mas não posso demorar. Tenho que escolher o modelito para o velório, preciso estar à altura, pois em poucos dias serei milionária.
                   O trio comemorava com as melhores bebidas, felizes porque sairiam ilesos do crime que cometeram.




                     O médico constatou que a condessa teve inúmeras costelas quebradas, mas felizmente as queimaduras foram superficiais e não havia risco de morte.
             Depois de uma noite e um dia agonizante, Clara fora permitida entrar no quarto. A enfermeira trocava o soro.
                   A Duomont parecia temerosa, mas quando viu os olhos verdes encarando-a, sentiu que seu coração voltava a bater.
                    Ela quedou-se ali, diante da cama, apenas observando-a, vendo os arranhões em sua face, o machucado no canto da boca.
                  -- Eu não conseguiria viver sem ti... – Falou com lágrimas nos olhos. 
                   Vitória estendeu a mão, tomando a da amada.
                   Observou as ataduras que protegia as queimaduras da Duomont.
                Desde que acordara, ouvira das enfermeiras como a sua princesa fora corajosa, como ela fora destemida ao entrar no estábulo, enquanto este estava em chamas.
             -- Nunca mais faça isso... Não se arrisque desse jeito, jamais me perdoaria se algo te ocorresse. – Levou os curativos a boca. – Oh, minha Branca de Neve... – Umedeceu o lábio superior. – Eu pensei que não te veria mais... – Soluçou. – Em meus pensamentos estavam seus olhos...
                    Clara a abraçou.
                   Os soluços de ambas não era mais de desespero, mas de felicidade, de contentamento por estarem ali, unidas, mesmo diante de tudo que aconteceu.
                   -- Amo-te tanto, meu amor, amo-te mais do que a mim mesma...
                  -- Ah, minha condessa, eu amo você... – Fitou-a. – Me arriscaria um milhão de vezes para que nada te acontecesse. 
                   O sorriso da ruiva não tinha preço.
                  A porta se abriu e lá estava Miguel.
                -- Ah, não, mais um chorão, ninguém merece. – Mattarazi debochou do tio. 
                O advogado não se preocupou com isso, abraçando-a.
               -- Estou chorando de felicidade por ter voltado a ver esse sarcasmo de olhos verdes... 
                 A ruiva depositou um beijo em seu rosto.
                  -- Preciso ver a Valentina... – Fitou a Clara.
              -- Quem fez isso? – A Duomont se aproximou. – Você sabe? – Sua voz denotava preocupação. – Temos que nos assegurar que você fique segura.
                   -- Princesa... – Começou hesitante. – Não quero que se envolva nessa história.
               A empresária não desejava contar a jovem que a própria mãe estava envolvida em tudo aquilo.
                  -- Diga, eu desejo saber, eu preciso saber.
                  A condessa fitou o tio e depois voltou a olhar a jovem.
               -- Eu levei uma forte pancada na cabeça enquanto selava o Bastardo. – Deu uma pausa. – Quando acordei estava amarrada e Alex estava lá...
                 Miguel praguejou alto.
                -- Nunca confiei naquele miserável!
                -- Mas ele tinha denunciado... – Clara parecia incrédula.
                -- Foi um plano para desviar a atenção...
                 A Duomont a mirou, sentiu uma dor em seu peito ao ver os machucados em sua face.
               -- Temos que avisar a Valentina... – A jovem já seguia até a porta, quando hesitou. – Ele quem te bateu?
                 -- Ainda tem mais...—Relutou. -- Marcos estava lá... Ele me espancou... Estava fora de si...
                 -- Como? Minha mãe disse que estava com ele na festa... 
                A ruiva assentiu afirmativamente.
                -- Era o álibi dele... A Clarice daria o mesmo álibi que deu quando seu avô foi assassinado... 
                   A veterinária seguiu até ela.
                  -- Do que está falando?
                 -- Marcos matou Frederico Duomont e estava certo que faria o mesmo comigo e ficaria impune... – O maxilar enrijeceu. – Do mesmo jeito que ficou impune o assassinato do meu irmão... O desgraçado mexeu no carro... Marcelo mandou fazê-lo... Só que ele pediu para avisar a Helena não ir junto, mas Marcos decidiu colocar um fim de uma vez por todas no caso que sua tia tinha com o pai dele.
                -- O que a minha mãe tem a ver com tudo isso? – Pronunciou pausadamente cada sı́laba. – Fala!
                 -- Ela sabia de tudo... Mentiu no depoimento quando disse que Marcos estava com ela... Ela sabia o que eles estavam fazendo comigo no estábulo...
                  Clara saiu do quarto.
               Vitória tentou levantar, gritando de dor ao fazer o esforço.
                   -- Fique quieta, não deve se mexer. – O advogado repreendeu-a.
                   -- Preciso ficar com ela... – Insistia.
                  -- Deixe-a sozinha, ela necessita disso.
                   -- Não. Vá  lá com ela, fique ao seu lado.


                  Miguel não encontrou Clara, mas fora informado por umas das enfermeiras que ela tinha seguido até a capela. Tranquilo, decidiu ligar para a esposa.
                 Relatou tudo e com todos os detalhes, mas a delegada só se surpreendera quando o nome de Alex foi mencionado.
                   -- Temos que fazer algo.
              -- Não se preocupe! – A delegada falava com segurança. – Felipe está me ajudando. Fizemos-nos pensar que a Vitória está morta. Fui autorizada a usar uma escuta e grampear os celulares. Hoje mesmo já terei uma confissão.


               Daquela vez, Marcos, Alex e Clarice não tiveram chances de fugir. Uma semana depois do ocorrido, Valentina levou os três até a delegacia.
             A delegada estava sentada e observava a soberba e confiança no olhar dos que ali se encontravam.
             -- Vou processá-la, delegada, isso é um absurdo. – O jornalista protestava. – Como ousa nos trazer aqui sob acusações infundadas.
             -- Quais provas tens de que tivemos algo a ver com o que aconteceu com a condessa? – Indagava Clarice espevitada.
               – Não esqueça que minha filha será a herdeira da Mattarazi, posso muito bem falar com seus superiores para que você seja punida por isso.
                 Marcos se levantou impaciente.
                 -- Não farei parte dessa palhaçada! Não há testemunhas para as suas acusações... 
                 A porta se abriu interrompendo-o.
                 -- Boa tarde, senhores... – Vitória Sorriu sarcástica, encarando-os. – Olá, sogrinha...


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A antagonista - Capítulo 25

A antagonista- Capítulo 22

A antagonista - Capítulo 21