A condessa bastarda -- Capítulo 30
Clara sentou na cama.
A carta estava direcionada à Vitória. Observou que estava lacrada.
O que seu avô poderia ter escrito ali? E por qual motivo estava direcionada a maior inimiga de sua famı́lia? Decidiu ver o que havia mais na embalagem. Eram documentos relacionados à fazenda. Promissórias de empréstimos... Havia outra carta e essa era para si. Abriu-a rapidamente. Reconheceu a caligrafia de Frederico.
Mais uma vez experimentou aquele aperto no peito, aquela saudade... Uma lágrima solitária pode ser vista...
“ Querida Clarinha...
Peço que me perdoe por ter sido covarde. Nesse momento já devo estar seguindo para longe, não direi para onde estou indo e não entrarei em contato por uns dias...
Então, as suspeitas da delegada estavam certas... Continuou a leitura.
... estou devendo a algumas pessoas e o prazo já está vencendo. Tentarei entrar em contato com alguns amigos, mas não acredito que terei êxito, ninguém atende minhas ligações.
Clara, quero que fique ao lado da condessa. Ela é a única pessoa que poderá lhe proteger. Confesso que não gosto dela, não suporto aquele nariz empinado, cheia de arrogância, como se não fosse a filha de uma empregada... Nem mesmo o idiota do advogado assume que é tio dela, deve ser porque tem vergonha por ela ser uma maldita bastarda.
Que advogado?
Miguel!
Ele era o tio da Vitória... Por isso da semelhança da criança com a ruiva...
Confesso que a persegui durante muitos anos, porém há alguns dias descobri que não fora ela a culpada do acidente que matou a sua tia, mas não a perdoarei por ela não ter dado a parte da herança que pertencia a Helena.
Desgraçada!
Mesmo assim, é a única que poderá lhe proteger nesse momento. Não escute o que sua mãe diz, ela não passa de uma marionete que não consegue caminhar com as próprias pernas, é uma estúpida, egocêntrica, frívola, nem sei como seu pai se casou com ela.
Esses documentos precisam ser entregues à Mattarazi, ela saberá o que fazer, saberá como resolver os problemas.
Mais uma vez, peço que me desculpe, não sou a melhor pessoa do mundo, mas tudo o que eu fiz foi pelo bem da nossa família.
Frederico Duomont”
Fitou o outro envelope...
Será que haveria mais revelações ali? Não desejava que a condessa descobrisse seu parentesco com o advogado de forma tão brusca.
O seu avô fora cruel em não revelar a todos que Vitória era inocente. Como deve ter sido terrível para ela viver sob o estigma de assassina e ainda mais da própria famı́lia.
Recordava do dia do funeral de sua tia, sabia que a ruiva fora tirada do cemitério pela polı́cia, mas minutos antes a viu lá, mesmo com aquela expressão forte, poderosa, era possível ver a dor em seus olhos.
Levantou-se.
Iria atrás da condessa, entregaria a carta e rezaria para que não houvesse nada que a ferisse naquele papel.
Batista levou Clara até a usina, pois Vitória poderia estar lá.
A mesa da secretária estava vazia, então o administrador disse para a jovem entrar e espera no escritório.
-- Vou ver se a encontro. – Sorriu. – Fique à vontade.
A bela Duomont assentiu, enquanto o bom senhor a deixava sozinha. O lugar era aconchegante e elegante. Havia um sofá grande, onde até poderia dormir, todo em veludo branco. Uma Porta na lateral lhe chamou a atenção. O carpete cobria todo o assoalho da enorme sala.
Caminhou até a mesa de mogno, onde havia um computador e inúmeros papéis. Deu a volta, observando a cadeira giratória, pomposa.
Sentou.
Fitou a mesinha e viu que havia um quadro com uma foto sua. Pegou-a e ficou a observá-la.
Lembrava-se daquele dia, fora um campeonato que aconteceu na Espanha. Ganhara o primeiro lugar. Deveria ter quase dois anos.
Onde ela tinha conseguido? Decerto tinha tirado de alguma rede social.
Notou que também havia uma imagem do Bastardo e também uma da Branca de Neve e por último a de um belo rapaz.
Vitor?
Ele era muito bonito, de certa forma lembrava a irmã, entretanto, ele exibia um sorriso doce, genuı́no, havia uma expressão de leveza, ao contrário da condessa. Não que a ruiva não fosse bonita, a verdade é que Vitória era a mulher mais linda que já viu em sua vida, mas não era só beleza, havia uma áurea diferente que ela esbanjava. Um poder que invadia o ambiente, uma arrogância...O sorriso dela sempre trazia algo a mais, era como se sempre estivesse a provocar, a desafiar... a seduzir...
Girou na cadeira e ficou a olhar pela enorme janela de vidro.
Conseguia ver as pessoas caminhando por aquela grande extensão de terras. Com certeza, Mattarazi era a maior fonte de rende daquela pequena cidade.
-- Que bom que voltou, amor!
Clara não reconheceu a voz.
Ao virar-se, deparou-se com uma bela morena. Parecia uma modela dessas revistas de beleza.
-- Desculpe-me, pensei que fosse a Vitória. – A jovem se justificou. – Sou Larissa, a engenheira. – Deu um meio sorriso. – Já nos encontramos aqui uma vez.
A Duomont a examinou bem e viu a decepção em sua face. Decerto, estava muito ansiosa para ver a patroa.
Aquele rosto não lhe parecia desconhecido... Mas não conseguia se lembrar...
Observou minuciosamente a mulher que ali estava parada. Ela não parecia em trajes de trabalho, na verdade, a saia era muito curta e justa, a blusa não conseguia cobrir o busto cheio que se mostrava ousado aos olhos de todos.
-- Bem, eu soube que a condessa estava aqui, então precisava tratar algo com ela... Eu cuido da produção da cachaça. – Parecia querer explicar sua presença.
Clara apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Ela já deve estar vindo... – Apontou a confortável poltrona. – Sente-se.
Larissa fez o que lhe fora dito.
Permaneceram em silêncio. A engenheira mexendo no celular e a outra tentava se recordar de onde a conhecia...
A porta se abriu mais uma vez e dessa vez lá estava a condessa. Examinou-a de baixo à cima.
Ela usava jeans, azul desbotado, delineando perfeitamente as pernas torneadas. As botas de coro marrom chegavam até o joelho, estava de camiseta preta, um cinto na mesma tonalidade dos calçados. Chegou até a face... O sorriso estava presente... Os cabelos ruivos estavam soltos...
Suspirou!
-- Olá, Vitória! – Larissa foi até ela, surpreendendo-a com um abraço.
Clara desviou o olhar.
Ela sentia uma adrenalina passar por suas veias, mas tentou manter a calma.
-- Larissa! – A ruiva parecia surpresa. – O que faz aqui? – Afastou-se, fitando a Duomont.
-- Eu trouxe isso. – Abriu a bolsa, tirando uma garrafa. – Essa está mais do que perfeita... – Sorriu sensual. – Vou esperar o convite para te acompanhar na degustação.
A doce Branca de Neve sentia as articulações dos dedos doerem de tanto apertar o braço da cadeira.
-- Bem, agora eu preciso ir. – Beijou o rosto dela, virou-se para a Clara. – Até outro dia. Vitória, pela primeira vez, parecia constrangida.
-- Algum problema? – Indagou hesitante quando ficaram sozinhas. – Aconteceu algo? – Sentou.
Nos últimos dias, a condessa tentara permanecer um pouco afastada, pois desde a última vez que explodiu se sentiu insegura. Não conseguira controlar as emoções e quase a tomara à força no dia que o avô dela estava sendo velado.
-- A sua lista não tem fim? – A veterinária indagou. – A psicóloga, a engenheira... Qual o critério de escolha? Curso superior? – Arqueou a sobrancelha direita em ironia.
-- Não tenho nada com nenhuma delas... – Mordeu o lábio inferior. – Só quero você... – Mirou os olhos negros. – Essas mulheres não exercem nenhum efeito em mim. -- Fitou o colo redondo coberto pelo decote. – Ao contrário de ti, sinto-me queimar só em te olhar.
A jovem Duomont sentiu a face arder.
-- Não quero ouvir... – Cobriu os ouvidos. – Você não passa de uma safada, de uma desavergonhada que tem uma amante em cada canto.
-- Não tenho amantes! – Retrucou calma. – Quanto a ser safada, não nego, mas sou contigo... – Piscou ousada. – Posso ser o que você quiser em sua cama, você pode fazer o que quiser comigo... A única condição é que seja bem gostoso. – Sorriu provocante.
Clara sentiu uma pressão em seu baixo ventre. Engoliu em seco.
-- Chega, por favor! – Pediu. – Não desejo falar sobre essas coisas.
-- Eu sei o motivo para desejar que eu pare... – Dizia rouca. – O que eu digo é que meu corpo está cada vez mais incontrolável, necessitando de ti... – Levantou-se, deu a volta na mesa, puxou uma cadeira para ficar de frente para ela.
Vitória observou o vestido que a amada usava, chegava aos joelhos... Tocou na alça fina, deliciando-se com a textura da pele sedosa.
-- Não vim aqui para isso... – A moça fitou a mão que a acariciava. – Preciso...Precisamos conversar...
-- Sim, com certeza, precisamos... – Desceu a mão até o busto, tocando-o sobre o vestido. – Você não tem ideia de como necessito de ti... – Segurou-lhe a mão, conduzindo-a até suas coxas. – Desde aquele dia que te toquei no banheiro estou em êxtase, louca para sentir seu corpo...
Clara parecia sem ação, com os olhos arregalados, viu a ruiva abrir a calça e levar sua mão sobre o tecido sedoso da calcinha.
-- Vê como estou úmida? – Aproximou-se mais. – Tenho a impressão que a qualquer momento irei enlouquecer de tanto vontade de fazer amor contigo.
A Duomont sentiu o sangue correr mais rápido por suas veias... Seus seios estavam doloridos, exigindo o toque, praticamente gritando para serem explorados, tomados por aquelas mãos...
Fitou os lábios vermelhos e os imaginou em seu busto... A lı́ngua desenhando os mamilos... Os dentes mordiscando-os...
A boca da ruiva tomou a sua... Dançando, seduzindo... Explorando... Atiçando ainda mais os seus sentidos, mas uma imagem interrompeu o momento apaixonado.
-- Para mim, você pode se deitar com quem quiser, isso não me interessa... – Disse baixinho. – Só não pense que deitará comigo novamente.
Ela viu o maxilar da condessa enrijecer.
-- Deito com ela e depois deitarei contigo... Quem garante que ontem eu não estive com a Larissa e depois com você? – Provocou-a.
A jovem afastou-a.
-- Não vim aqui para isso, já disse. – Sacudiu a cabeça tentando se livrar dos pensamentos perturbadores.
A condessa levantou-se, passando as mãos pelos cabelos, caminhando de um lado para o outro.
-- E o que você quer? -- Colocou as mãos nos quadris. – O que a traz aqui? – Respirou fundo tentando manter a calma. – Diga logo, tenho coisa para fazer.
-- Tipo o quê? – Clara a provocou. – Beber com a sua amiguinha?
-- E isso te importa? Você se importa se eu transar com a Larissa? Importa-se se eu transar com a Sofia? Importa-se? – Gritou alterada.
Clara cerrou os dentes.
-- Faça como quiser, condessa, afinal, que eu saiba não há nenhum compromisso formal que a impeça de fazer isso. Como se não fizesse parte de sua rotina dormir com elas, enquanto dormia comigo.
Mattarazi estreitou os olhos.
-- Eu juro que se não te amasse tanto... Já teria me jogado nos braços de qualquer uma, só para tentar aliviar esse desespero que me condena dia após dia.
-- Para a senhora, condessa, só o sexo importa, é vazia de qualquer outro sentimento. – A Duomont a acusou cruelmente.
Vitória a fitou por alguns segundos, sentindo a dor de ouvir cada sı́laba que fora dita. Umedeceu os lábios.
-- Diga logo o que deseja e saia daqui.
A neta de Frederico abriu a bolsa, retirando um envelope. Estendeu para ela.
-- Meu avô me deixou uma pasta e dentro dela havia isso direcionado a ti. – Entregou-lhe o pacote. – Disse que deveria te entregar.
A ruiva fitou a embalagem, hesitante.
-- Quando ele te deu isso?
-- Quando o vi, no mesmo dia... No dia que o mataram.
A condessa assentiu, recebendo a encomenda. Observou seu nome escrito e o do fazendeiro.
-- Ok, agora já pode ir. – Apontou a porta. – Peça ao Batista para te levar para a casa.
A veterinária pegou as muletas, levantando-se.
-- Irei almoçar com os meus pais. – Disse antes de sair.
Clara ainda permaneceu parada do lado de fora, encostada a porta. Queria ter ficado, mas a discussão que tiveram não lhe deu abertura para pedir para ficar presente.
Decidiu ligar para o Miguel, não sabia o que tinha naquele papel e temia que a condessa perdesse totalmente a cabeça.
A ruiva caminhou até o pequeno bar, preparou um drinque, bebendo de uma vez. Caminhou até a cadeira, sentando-se. Abriu o envelope...
Encontrou inúmeras promissórias...
O velho tinha vendido a alma ao diabo. Pegou a carta, sorriu ao ver a saudação.
“ Vitória Mattarazi, ou melhor, condessa bastarda...
Nesse momento eu estou bem longe, tive que fugir, não lhe darei explicações, pois não é de sua conta, porém desejo que proteja a minha neta, acredito que ela não está a salva sozinha.
Bem, decidi escrever para a senhora para lhe dar uma informação e assim em troca, você cuida da Clarinha e salva o que restou dos meus bens.
Eu sei que não foi você a culpada pelo acidente que causou a morte de todos de sua família, junto a minha amada Helena, se a acusei durante todos esses anos, foi porque não a perdoei por ter ficado com tudo que pertencia a minha filha por direito, mas isso não vem mais ao caso.
De brinde, te darei um conselho: cuidado com o Marcelo, ele está armando, como já armou antes quando se deitava com a sua cunhada enquanto ela era casada com o seu irmão...
Vitória bateu forte na mesa.
-- Maldita seja! – Sussurrou.
O seu irmão foi a melhor opção para abafar o escândalo, sem falar que o miserável do Vitório me fez acreditar que era muito rico, então achei a união perfeita. Ela já estava grávida quando contraiu matrimônio, só o fez porque eu ameacei deserdá-la.
A condessa se levantou, jogando tudo que estava sobre a mesa no chão, quebrando computador, jogando impressora contra a parede, chutando a cadeira.
-- Maldito seja, Marcelo, mil vezes maldita seja Helena, Maldito Frederico Duomont. – Gritava. -- Eles acabaram com a vida de Vitor.
Pegou a carta mais uma vez.
Imagino que deva estar uma fera nesse momento, mas isso não mudará o passado, não trará o seu amado irmão de volta. Esqueça e viva a sua vida.
Antes de encerrar, peço que mais uma vez mantenha a minha neta em segurança, ajude-a, acredito que de todos os Duomont ela é a melhor, não tem maldade em suas ações e nem ambições em seus sentidos. Não acredito que Marcos seja bom para ela, nesses últimos dias, acho que Marcelo mostrou que o que realmente deseja é apenas o poder. Eu também o quis, agora não posso mais me dá esse luxo, terei sorte de sair com vida dessa história. O meu leal aliado está me extorquindo, pois sabe que não permitirei que a vergonha manche a memória da minha amada Helena.
Adeus, Bastarda.
Frederico Duomont”
Vitória caminhou até a janela. Abriu-a.
Tentou inalar o ar campestre para tentar acalmar sua mente, pois temia fazer uma loucura. Seu desejo naquele momento era matar Marcelo e se o maldito do Duomont não estivesse morto, ela mesma daria cabo à vida miserável que ele tinha.
Nem sabia mais o que pensar da desgraçada da Helena, afinal, fora manipulada pelo pai como todos naquela maldita cidade.
Lembrou-se do irmão e da felicidade em ter o filho nos braços... Fora enganado, porém aquela criança foi a responsável pela curta felicidade que ele tivera em seu casamento amaldiçoado.
Passou a mão pelos cabelos.
Não podia se deixar guiar mais uma vez pelos impulsos e pela raiva, pois fora por isso que perdera o amor de sua vida e agora estava daquele jeito, sofrendo.
Precisaria resolver os problemas das promissórias, não podia deixar que Clara corresse risco de ser machucada por aquelas pessoas.
Seguiu até o envelope. Abrindo-o.. Era muito dinheiro...
Então, Frederico estava sendo chantageado pelo futuro sogro da neta, deveria ter muita coisa naquela história para ser descoberta. Iria falar com a Valentina. Seu sexto sentido dizia que os agiotas não foram responsáveis pela morte do velho, afinal, ainda havia tempo para a dıvida vencer.
Naquele momento o mais importante era manter a Branca de Neve em segurança.
Clara chegou à fazenda da famı́lia. Clarice veio rapidamente até ela.
-- Filha, que bom que veio, não quero ficar mais nesse lugar, está tudo uma bagunça, não tem empregados e eu mesma tenho que fazer comida, pois nem dinheiro para comer fora temos. – Dizia quase chorando.
-- Também não tenho dinheiro, mamãe. – Abraçou-a. – Tentarei arrumar um emprego, assim, poderemos viver melhor.
A mulher a fitou horrorizada, mas a jovem nem mesmo prestou atenção à expressão de choque.
Seguiram para dentro, encontrando Felipe examinando alguns papéis. Ao vê-la, foi até ela, beijando-lhe a face.
-- Como está?
-- Bem, papai. – Sentou-se. – E o senhor?
-- Estou bem também, estou tentando conseguir um emprego, quero poder ganhar meu dinheiro, desejo começar tudo do zero. – Falava entusiasmado.
-- Está vendo o absurdo que estamos vivendo? – Clarice ficou ainda mais indignada. – Seu pai era vereador, sem falar que é filho do ex-governador do estado, agora está procurando emprego de peão.
-- E de que você pensa em viver? – O homem a encarou. – Mendigando?
A mulher esbravejou mais uma vez, sentando.
-- Podemos vender o que seu pai deixou. Há muita coisa. Temos um grande patrimônio.
-- Infelizmente, tudo isso não nos pertence mais, mamãe. Papai está certo, temos que nos acostumar com nossa situação.
A nora de Frederico começou a caminhar de um lado para o outro com as mãos na cabeça.
-- Não, não e não! Você irá casar com Marcos, assim seu pai e eu poderemos viver com vocês. – Sorria. – Ele tem uma herança, seu noivo irá nos ajudar.
-- Mamãe... – A garota parecia relutante. – Não posso me casar só pensando no dinheiro dele, nem quero fazer isso para resolver nossa situação financeira...
-- Isso é um absurdo! – Felipe foi até ela, segurando-a pelo braço. – Quer vender a Clara para que sua vida de luxo continue?
-- Não! – Desvencilhou-se do toque do marido. – Estou apenas juntando o útil ao agradável, é simples, eles são noivos, desde sempre estão comprometidos, então basta que casem o mais rápido possível.
-- Você só pode ter enlouquecido!
-- Não, eu sou a única sã dessa famı́lia.
Clarice subiu as escadas correndo, tinha a determinação em seus olhos.
Felipe seguiu até a filha, ajoelhando-se diante dela, segurou-lhe as mãos.
-- Não permita que sua mãe a manipule, não ouse fazer nada que não seja o desejo do seu coração. – Encarou-a. – Não viva uma vida de infelicidade para fazer as vontades de outros.
A Duomont observou os olhos do pai e teve quase certeza de que ele sabia de muito mais do que dizia suas palavras. Será que seu romance com a condessa era de conhecimento dele? Só em imaginar aquilo, sentia seu sangue correr mais rápido em suas veias.
-- Pai... – Dizia hesitante. – O Miguel é tio da Vitória.
-- Quem te disse isso? – Perguntou surpreso.
-- O vovô deixou uma carta para mim, lá ela dizia que nem o advogado assumia ser tio da condessa. – Observou o pai se levantar. – O senhor sabia disso?
-- Sim... Há algum tempo...
-- E por que nunca me disse?
-- Na verdade, eu nunca me interessei em falar sobre isso... Não quero nem imaginar a reação da Mattarazi ao saber algo assim... – Dizia preocupado.
Clara assentiu, conhecia o orgulho da ruiva e temia que uma revelação assim a desestruturasse totalmente. Clarice à surdina ouvia tudo e já maquinava como usar uma informação tão valiosa.
Miguel ficou perplexo ao ver a bagunça do escritório de Vitória. Encontrou-a de costas, com o olhar perdido, encostado ao vidro da janela.
-- O que houve? – Indagou receoso.
Assim que recebeu a ligação de Clara, saiu rapidamente até ali e se sentiu aliviado em encontrá-la.
A condessa o encarou.
Era possível ver nos olhos verdes resquı́cios de lágrimas.
O advogado caminhou até ela, abraçando-a.
-- Calma, eu estou aqui e você sabe que sempre poderá contar comigo... – Acariciou-lhe os cabelos.
-- Por que tanta desgraça em minha vida? – Fitou-o. – Será que fui amaldiçoada por ser bastarda?
-- Nunca mais diga isso. – Repreendeu-a. – Você é uma mulher forte, conseguiu tudo diante de muito esforço, é alguém digno de admiração. Não se esqueça do imenso amor que unia você e o Vitor, ele seria capaz de dar a vida dele por ti... E eu faria o mesmo sem pensar duas vezes.
A ruiva o fitou profundamente.
-- Por que faz tanto por mim? – Afastou-se. – Sei que fez uma promessa ao meu irmão de sempre cuidar de mim, mas sinto que seu amor vai muito além disso... – Ponderou por alguns segundos. – Em alguns momentos tive medo que estivesse confundindo as coisas, que estivesse interassado em mim como um homem se interessa por uma mulher, mas com o tempo percebi que seu sentimento é paternal...
O advogado caminhou até o sofá, sentando-se. Seria aquele o melhor momento de falar a verdade?
Temia que aquela revelação a afasta-se de si e não poderia se arriscar naquele momento. Temia pela segurança da sobrinha, ainda mais com o assassinato de Frederico...
Esperaria que tudo se resolvesse para lhe contar toda a história.
-- Conheço-te há tanto tempo que a tenho como se fosse de minha famı́lia.
Vitória parecia pensativa, até que simplesmente assentiu.
Seguiu até o envelope, pegou-o, entregando-o ao advogado.
-- Veja o que o Duomont deixou. Quero que resolva tudo isso, não desejo que a Clara corra nenhum risco.
Miguel observava tudo com atenção.
-- Meu Deus! – Encarou-a perplexo. – Isso deixa claro que não foi os agiotas que o mataram, não o fariam, pelo menos não enquanto ainda restavam dois meses para pagar as dívidas. Preciso mostrar isso a Valentina.
A condessa retirou a carta do bolso.
-- Acho que ela também deva dar uma olhada nisso.
O advogado fitou o papel. Recebeu-o.
-- Posso ler?
-- Fique à vontade... – Pegou as chaves do carro. – Estou indo para casa, peça para alguém redecorar minha sala, na verdade, ela estava muito cafona, desejo algo mais agradável. – Piscou travessa.
-- Sei... Ah, já tenho o homem perfeito para cuidar de sua segurança.
-- Não quero que cuide da minha segurança, desejo que cuida da segurança da Duomont. – Protestou. – Eu sei me defender muito bem sozinha.
-- Não seja boba! – Repreendeu-a. – Enquanto não esclarecermos a morte de Frederico, você precisa tomar ainda mais cuidado, então não adianta esbravejar. Quanto à sua amada, nesse momento, ela já está sendo observada de perto.
Vitória suspirou, sentando ao lado do tio.
-- Vou mandá-la de volta para a capital, ela precisa ser acompanhada pela neurologista e também continuar as sessões de fisioterapia.
-- Irá com ela?
-- Não, acho melhor que mantenhamos distância, pelo menos até que ela recupere a memória.
-- Por que a está afastando?
A ruiva cobriu o rosto com as mãos.
-- Tenho medo de não resistir aos encantos dela, tenho medo... Medo de que em minhas veias tenham muito mais do que o sangue de Vitório Mattarazi.
-- Do que está falando?
-- Eu... – Fitou-o, mordendo o lábio inferior. – No dia do velório do Duomont, eu quase a ataquei... – Desviou o olhar. – Quase a tomei à força...
-- Com certeza isso aconteceu devido à pressão que está sendo submetida nos últimos dias. – Segurou-lhe a mão. – Não pense coisas assim, sei que não machucaria a mulher que ama.
-- Eu não sei... Às s vezes me assusto com a intensidade desse sentimento.
-- O amor é assim mesmo... Ainda mais quando ele se mescla poderosamente à paixão. O advogado observou o olhar perdido da jovem.
-- Quando ela recuperar a memória tudo vai se resolver.
-- E se ela não recuperar?
-- Você a conquista de novo, afina, quem resistiria ao poderoso charme de Vitória Mattarazi. – Gracejou.
A ruiva mesmo preocupada, acabou exibindo aquele sorriso presunçoso, cheio de mistérios.
Já era tarde da noite quando o motorista deixou Clara na fazenda Mattarazi. Tinha decidido jantar com os pais, mesmo tendo que escutar todas as reclamações de sua mãe durante a refeição.
Seguiu para o quarto, encontrando a condessa deitada, lendo um livro. Ambas se encararam por alguns segundos, mas nenhuma palavra foi dita.
Vitória voltou sua atenção para a leitura, enquanto a Duomont seguia até banheiro.
Alguns minutos se passaram até que a morena voltasse para os aposentos, deitando ao lado da fazendeira.
Aproveitou a distração da ruiva, para observá-la com atenção. Os óculos apoiado no nariz orgulhoso a deixava mais linda. Fitou os seios pelo decote da camisola. Apesar de apenas a luz da cabeceira está acesa para a leitura, era possível perceber que o traje de dormir da condessa era totalmente transparente, como todos que ela usava.
Jamais confessaria a alguém como sentia o corpo reagir diante de tão linda visão. Respirou fundo, virando-se de lado, dando as costas para a ruiva.
Fechou os olhos e de repente algumas cenas invadiram sua mente.
Jogou-a sobre o feno, encantada com a beleza que ela exibia.
A ruiva chegou a pensar que ela iria embora, mas quando a viu despir cada peça de roupa, seu sangue ficou ainda mais quente.
Mirava embevecida, desejava-a mais de que qualquer coisa que quisera em sua vida, mesmo que passassem mil anos, continuaria a aspirar por aquela jovem de rosto doce, mas que se mostrava cada vez mais determinada, mais dona de si, mais sedutora.
Ao vê-la totalmente despida, foi até ela, tentou tocá-la, mas não lhe foi permitido.
A neta de Frederico lhe pôs de costas, apoiando-a na cerca de madeira que separava a baia. Colou o corpo em suas costas, sentindo o próprio sexo roçar as nádegas bem feitas da fazendeira.
A ruiva apoiou a perna na madeira, abrindo-se mais, acolhendo a mão que lhe acariciava possessivamente.
Rebolou, sentindo lambuzar seu bumbum.
-- Então eu sou uma princesinha de contos de fadas? – Invadiu-a. – Então você não gostou de fazer amor comigo... – Meteu mais forte.
A condessa vibrava a cada estancada, ouvia as palavras e depois só os seus gemidos poderiam ser audíveis.
-- Então, é você a poderosa condessa... – Falava sem fôlego. – Não... – Tomou-a com força... – Você é minha... – Acelerou ainda mais. – E será sempre minha.
A ruiva sabia que não aguentaria por muito tempo, os impulsos e o menear dos seus quadris aos poucos foram substituídos por um grito de satisfação total.
Clara se encostou a ela tentando recuperar o fôlego, sentia que aos poucos o ar voltava aos seus pulmões. Vitória se virou, abraçando-a, sussurrando em seu ouvido.
-- Eu estou perdidamente apaixonada por ti e sinto que morrerei se não te ter ao meu lado.
Naquele momento apenas o relinchar do Bastardo cortou o silêncio profundo da noite de lua cheia.
Por favor continua, estou completamente apaixonada por essa história.
ResponderExcluirVou continuar, sim, meu bem.
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