A condessa bastarda -- Capítulo 28
Clara precisou se apoiar na divisória para que não viesse ao chão. Temia que seu coração saı́sse por sua boca de tanto que batia acelerado. Ainda conseguia sentir espasmos por todo. Mais uma vez ouviu a voz de Ana, porém ainda não teve forças para responder. Necessitava de tempo para
apaziguar as sensações avassaladoras que lhe intimidavam, mas que de alguma forma pareciam tão familiares e tão novas ao mesmo tempo.
Umedeceu os lábios com a lı́ngua e teve a impressão que o gosto dela estava ali.
-- Meu Deus, quem é Vitória Mattarazi? – Perguntou baixinho.
Seria verdade que eram amantes? Se aquilo fosse verdade, estava perdida.Como pode se envolver com a maior inimiga do seu avô? Como entrara em uma relação tão perigosa? Algo naquele momento a deixou ainda mais perturbada.Será que ainda era virgem?
Ana interrompeu mais uma vez seus pensamentos.
-- A senhorita está bem?
A Duomont fitou a empregada, fazendo um gesto afirmativo com a cabeça.
Já era noite quando Miguel e Valentina chegaram à cobertura da condessa. Ambos foram recepcionados por uma arrogante Clarice que se exibia na luxuosa sala.
-- O que fazem aqui?
O advogado ficou surpreso ao ver a repugnante mulher ainda presente na propriedade de Vitória.
-- Imagino que vieram ficar aqui, porém aviso que como a condessa não se encontra, é preferível que vocês saiam.
Queremos que nosso réveillon sejam em famı́lia.
Valentina estava pronta para responder, quando a voz de Clara foi ouvida.
-- Boa noite! – Sorriu simpática. – Que bom que vieram.
O pequeno herdeiro da delegada correu até a jovem Duomont, abraçando-lhe a perna.
-- Oh, garotão... – Caminhou até a poltrona, sentando-se, em seguida colocou Miguelzinho acomodado em seu colo. – Sentem-se.
Clarice não gostou das palavras da filha.
-- A Vitória viajou, teve uns problemas na companhia de Roma... Pelo menos foi isso que disse.
A jovem ainda se sentia incomodada ao imaginar que ela estaria com a loira.
-- Onde ela estava com a cabeça que não nos avisou. – Miguel seguiu até uma poltrona, tendo Valentina ao seu lado.
-- Pois é, como a sua “amiguinha” não está, não vejo motivos para que fiquem aqui.
-- A senhora se proclamou dona da casa? – A delegada a fuzilou com o olhar.
Clara fitou a mãe com ar de advertência.
-- Ao contrário, vocês podem ficar sim, não tenho certeza se a condessa retornará antes da virada do ano, porém desejo que fiquem.
Felipe adentrou ao ambiente, cumprimentando a todos.
-- E esse garoto tão lindo? – Sentou ao lado da filha. – Já é o seu?
-- Sim.
-- Já está grande... – Tocou-lhe a face. – Ele parece com a senhora Mattarazi. – Disse de forma inocente.
A neta de Frederico percebeu o olhar que a delegada trocou com o advogado e teve a impressão de que o comentário feito pelo pai tinha fundamento. Observou melhor o garoto e verdadeiramente o formato do rosto, dos lábios era familiar. Ao fitar Miguel, percebeu que ele também exibia os mesmos traços.
-- Crianças nunca parecem com ninguém... – Clarice torceu o nariz. – O Marcos me ligou avisando que já está aqui. – Desconversou. – Poderı́amos passar o réveillon com ele, pois eu não sei o que teremos de bom aqui.
Ana apareceu na sala.
-- Licença. – Parou diante de Clara. – Uma empresa de Buffet se encontra lá embaixo, disseram que foram contratados pela condessa, deixo-os subir?
A nora de Frederico se levantou prontamente.
-- Lógico, que menina lerda!
-- Sim, Ana, peçam que subam.
-- Essas empregadas de hoje em dia são terríveis! – Exclamava a mãe da jovem.
-- Eu acho melhor você parar de bancar a dona de tudo, Clarice. – O vereador a repreendeu irritado. – Você não tem que se meter em nada, só estamos aqui porque a condessa permitiu, então comporte-se.
A mulher não parece ter gostado do que ouviu, então, altiva seguiu para fora da sala. Felipe se desculpou e foi atrás dela.
-- Peço que desculpem a minha mãe. -- Clara disse constrangida.
Valentina assentiu.
Estava surpresa que a ruiva tenha permitido que a cobra da mãe da amada ficasse ali, será que não a via como uma ameaça? Em pensar que há alguns meses, a condessa jamais permitiria que um Duomont ficasse sob o seu teto, ainda mais a famı́lia quase toda...
-- Vou ligar para Vitória.
Miguel seguiu até o escritório para realizar a chamada, deixando as duas mulheres e a criança sozinhas.
-- O seu filho é realmente muito lindo. – Clara tentava quebrar o silêncio constrangedor. – Muito fofo.
-- Obrigada! – Sorriu. – Você está bem? Tenho a impressão que está mais acessível, mais receptiva.
Miguelzinho desceu do colo, sentando-se para brincar com um carrinho.
-- Talvez, seja o clima de ano novo.
-- Que bom, fico feliz, acho que a Vitória adoraria esse seu sorriso enorme.
Clara corou.
-- Eu não o daria para ela.
-- Por que não? – Arqueou a sobrancelha. – Acho que depois dela permitir que seus pais ficassem aqui contigo, ela merecia bem mais do que isso.
-- Você não gosta de mim não é, delegada? – Perguntou sincera.
-- Ao contrário, sempre a tive em alto conceito, mesmo não tenho muito contato contigo, a admiro muito.
-- Não é o que parece...
-- Só porque eu digo a verdade não significa que não gosto de ti.
A porta foi aberta e algumas pessoas entraram com algumas caixas.
-- Pena que a Vitória não passe o ano novo aqui... – Valentina dizia. – Ela merecia estar contigo.
-- Não precisa ficar com dozinha dela, decerto está bem acompanhada. – Falou exasperada.
A delegada observou ela tentar disfarçar o ciúmes e a reprovação que ficaram evidentes em seu tom de voz.
Decidiu provocá-la.
-- Bem, se ela está, faz bem, afinal, você a rechaça com unhas e dentes...
Clara estreitou os olhos ameaçadoramente.
-- Eu não tenho motivos para acolher a inimiga da minha famı́lia com rosas...
Valentina se acomodou melhor no sofá, cruzando as pernas.
-- Não foi isso que eu vi no dia que as encontrei no rio...
A Duomont engoliu em seco.
-- De que fala? – Indagou sentindo a face esfogueada, denotando surpresa.
Antes que a delegada respondesse, Miguel retornou.
-- Amanhã preciso retornar cedo para a cidade, pois terei que resolver o problema da posse.
-- Que posse? – Clara o fitou.
O advogado a encarou.
-- A da prefeitura, esqueci que você não se lembra de que a Vitória ganhou a eleição.
-- Ah, minha mãe me contou sobre isso, fico a pensar como alguém faz tanto esforço para conseguir algo e ao final aquilo nem ao menos lhe interessa. – Comentou irritada.
A delegada olhou para o marido, mas preferiu não falar nada.
O novo ano chegou com um requinte de coisas finas. Uma equipe de garçom serviu a pomposa ceia para os presentes na cobertura da condessa. Miguel e Valentina observavam a arrogância de Clarice que agia como se fosse a dona do lugar. Ela não se cansava de repreender os empregados e várias vezes Felipe lhe chamara a atenção.
Clara permanecia na enorme varanda, observando a noite com olhar perdido. Senti-a vazia, como se algo lhe faltasse...
Observava o show pirotécnico enfeitar o céu...
-- A Vitória está ao telefone e deseja falar contigo. – Miguel lhe estendeu o aparelho.
A jovem o fitou, relutante, surpresa.
-- O que ela quer? – Perguntou tentando controlar a ansiedade.
-- Não sei, pergunte a ela. – Colocou o telefone em sua mão, afastando-se.
A Duomont ficou parada, respirou fundo, então atendeu a chamada.
-- Alô! – Disse secamente.
-- Olá, Branca de Neve...
A neta de Frederico sentiu o coração acelerar ao ouvir o tom rouco.
-- O que deseja, condessa?
-- Desejo você...
Clara sentiu os pelos da nuca se arrepiar.
-- Diga o que deseja. – Insistia.
-- Apenas lhe desejar um feliz ano novo e dizer que estou com saudades.
A bela princesa não pode conter o sorriso que se desenhou em seus lábios.
-- Obrigada! Desejo o mesmo para a senhora.
Houve alguns segundos de silêncio, apenas a respiração de ambas podia ser ouvida.
-- Amanhã viajarei até a fazenda, haverá a solenidade de posse e quero que você esteja lá.
-- Por quê?
-- Porque eu quero te ver, estou morrendo de saudades.
-- Você viajou a menos de vinte quatro horas. – Provocou-a.
-- Eu sei, porém para mim, parece uma eternidade. Você vai?
-- É uma ordem ou um pedido?
-- Na verdade, eu estou implorando...
Clara sabia que se dissesse sim estaria mostrando o interesse que começava a crescer em seu ı́ntimo por aquela mulher, porém a vontade de aceitar chegava a gritar em seu peito.
-- Você está com a Sofia?
-- Não! Nesse momento estou na confraternização da empresa, entediada, quase bêbada, louca para voltar para casa e te ver... Doida para sentir sua boca na minha... Te abraçar bem forte e não te soltar nunca mais...
A Duomont respirou fundo, hesitando por alguns segundos.
-- Eu irei, desejo muito rever a minha cidade e o meu avô. – Falou, tentando não demonstrar a vontade de vê-la.
-- Ok, Branca de Neve! – Silenciou por alguns segundos. – Nos vemos em breve.
Ela ouviu o som do encerramento de chamadas e ficou ali, pensando como se sentia atraı́da por Vitória, porém havia uma enorme confusão em sua cabeça e em seu coração. Medos que a assombravam, imagens que a perturbavam cada vez mais.
Despediu-se de todos, seguindo para o quarto, mas não obtivera êxito em dormir, pois a ansiedade era bem maior do que qualquer outra coisa.
No dia seguinte a orgulhosa Vitória Mattarazi fora empossada prefeita. Em uma escola onde aconteceu a solenidade, havia muita gente, a maioria eram pessoas humildes que tinham estampados em seus rostos a esperança por dias melhores.
Otávio agia como se fosse ele o prefeito, exibia-se, conversava com os polı́ticos e não parecia interessado na população. Alex exibia um sorriso cortês e não perdia a chance de permanecer ao lado da ruiva.
-- Você está linda! – Sussurrou em seu ouvido. – Eu abriria mão da minha solteirice se você me dissesse um sim.
A ruiva usava um vestido preto, tubinho, chegava ao meio das coxas, o decote exibia renda, para completar o modelo, utilizava de um blazer ajustado as curvas magras. Os cabelos estavam soltos, uma maquiagem discreta realçava os olhos verdes e a boca sensual. A condessa o encarou.
-- Se depender de mim, você vai morrer solteiro. – Sorriu exasperada, se afastando.
Vitória já estava decidida a sair quando viu Miguel e Maria Clara chegando ao local.
O vestido florido que ela usava lhe dava uma expressão primaveril, as madeixas negras e brilhantes caiam sobre os ombros.
Observou as pessoas se aproximando para cumprimentá-las e ficou maravilhada, que mesmo estando desmemoriada, sorria e conversavam simpaticamente com todos. Notou quando Otávio se aproximou e teve certeza que o vice-prefeito fora rechaçado por Miguel.
Caminhou até eles.
O advogado a abraçou.
-- Parabéns, prefeita! – O homem disse.
-- Não tenho nenhum interesse em tudo isso. – Ela respondeu, mirando à amada. – Tem como ficar mais linda? – Disse galante.
-- Acho que você deveria se preocupar mais com essas pessoas, afinal, elas necessitam de sua assistência. – Repreendeu-a. – Acha que isso é brincadeira? A vida dessas pessoas é uma brincadeira para ti?
A condessa preferiu não retrucar, era possível ver nos olhos de Clara que havia determinação.
-- Miguel, eu não desejo ficar aqui! – A Duomont disse para o advogado. – Gostaria de ir ver o meu avô.
-- Não! – Vitória lhe segurou o braço. – Eu a levarei lá. – Chegou mais perto, sussurrando sem seu ouvido. – Não quero brigar contigo, fique mais um pouco...
Clara deu um passo para trás, o perfume daquela mulher a fez relembrar da manhã anterior.
Otávio discursou como se fosse ele o prefeito. Exibia uma postura orgulhosa, porém as propostas que fizeram parte da campanha tão rapidamente já pareciam ter sido esquecidas.
Mattarazi sabia que ele faria isso assim que estivesse eleito, apenas estranhava que essa atitude a incomodasse, com certeza era o olhar reprovador que via estampado na face da linda Branca de Neve.
Aos poucos, a população presente começou a ir embora, pareciam mais uma vez decepcionados.
-- E o problema da água? – Um homem gritou. – Nossos animais vão morrer de sede, condessa?
-- Nesse momento temos outras prioridades. – Otávio respondeu, voltando a discursar.
A condessa caminhou orgulhosa, até o palanque improvisado.
Os polı́ticos pareceram surpresos com a sua presença, mesmo assim, lhe fora ofertado o microfone.
-- Peço que me ouçam... – Começou.
As pessoas que já pareciam agitadas, retirando-se, fitaram-na curiosos.
-- Eu sei que vocês gostariam que outra pessoa ocupasse esse lugar, mas também sei que foram covardes em não lutar para que isso acontecesse...
Otávio fitou Alex.
-- ... Sei que muitas promessas foram feitas, sei que muitos dependem diretamente da minha propriedade... – Mirou os olhos negros que pareciam presos em si. – Na verdade, isso não tem importância para mim...
As pessoas começavam a balbuciar, alteradas.
-- ... Porém, farei o possível para que possamos ter melhorias nessa cidade que parece cada vez mais abandonada, tentarei ao máximo mudar esse panorama tão desgastante e miserável. – Mordeu o lábio inferior. – Eu sei por quais motivos me candidatei e sei que não houve nobrezas nele, mas me comprometo agora, diante de todos, em fazer algo que mude a história de cada um de vocês. – Sorriu, entregando o microfone ao vice.
Os aplausos sinceros e o nome da condessa foram gritados com entusiasmos.
O sorriso sutil no rosto da Duomont não passou despercebido pelos inimigos presentes.
Miguel sentiu os olhos marejados diante das palavras ouvidas, sentia-se orgulhoso da sobrinha.
Frederico Duomont estava cada vez mais encurralado. Mais uma vez fizera negócios com agiotas e para piorar nem mesmo conseguira juntar o dinheiro para pagar a condessa.
Colocou o telefone no gancho. A linha tinha sido cortada.
-- Vovô!
O velho polı́tico saia do escritório quando viu a neta se aproximar. Rapidamente, abraçou-a.
-- Pequena. – Segurou-lhe o rosto entre as mãos. – Como você está? Já recuperou a memória?
-- Não, mas estava com tanta saudade.
Os olhos negros denotavam a emoção de ver o amado patriarca.
O polı́tico observou por sobre o ombro, vendo a condessa de braços cruzados, encarando-o.
-- Já veio cobrar sua dıvida?
-- Ainda não. – Esboçou um sorriso cı́nico. – Ainda lhe restam três meses, decerto, já deve ter juntado uma boa parcela de tudo.
-- Estou providenciando! – O homem arqueou a sobrancelha. – Tenho os meus contatos. Vitória estreitou os olhos ameaçadoramente.
Ela sabia quais eram os contatos do poderoso Duomont e temia pelo bem estar da mulher que amava. Pediria para Miguel ficar de olho.
-- E seus pais?
-- Retornarão hoje.
Frederico a ajudou a sentar.
A condessa preferiu voltar e esperar no carro.
-- Ela está louca! – Otávio esbravejava. – Esse não foi o trato. – Bateu forte sobre a mesa quebrando as garrafas.
Estavam em um restaurante.
-- Calma! – Alex falava. – Ela deve ter feito isso por algum motivo.
-- Com certeza! A neta de Frederico é a razão disso. Você não viu o olhar dela? Marcos agora vai matá-la e com toda certeza.
-- Não, Vitória não é lésbica. – O parceiro dele retrucava. – Eu sei, ela é muito mulher para isso.
-- Já te disse mil vezes para esquecer a condessa, ela nunca vai se render aos seus encantos baratos. – Tomou todo o conteúdo do copo. – O melhor é que Marcelo se livre logo dela, assim, nos livramos mais dessa dor de cabeça.
Clara estava sentada em uma poltrona, esperava Frederico que fora buscar algo para ela.
-- Aqui está! – Entregou-lhe um envelope. – Guarde isso e não permita que ninguém veja. A jovem observou o pacote amarelo.
-- O que tem aqui?
-- Eu só desejo que guarde. – Segurou-lhe as mãos. – Faz isso por mim?
Ela meneou afirmativamente a cabeça.
-- Obrigada! – Abraçou-a, permanecendo ali. – Saiba que te amo muito e que tudo que fiz foi por seu bem... Nunca esqueça disso. -- Acariciou-lhe a face. -- Quero que seja feliz, que faça o que deseja... Você é a melhor de toda essa família.
A Duomont o encarou e viu as lágrimas em seus olhos.
-- Eu te amo muito, vovô!
Ele lhe acariciou as madeixas negras.
-- Eu desejo que você seja muito feliz e que nada e nem ninguém apague esse sorriso lindo que Deus lhe deu. – Estreitou-a em seus braços mais uma vez. – Não sofra por mim... – Sussurrou bem baixinho. – Agora vá, não quero que a condessa brigue por sua demora.
Clara pegou as muletas.
-- Fique com a Mattarazi, ela irá proteger você. – Beijou-lhe a testa.
Frederico a observou se afastar, deixando-se ficar ali. Sabia que não a veria mais, sabia que sua covardia e orgulho fazia seguir por caminhos escuros, mas pensara muito e não havia outra decisão a ser tomada.
Fitou cada canto daquela casa. Construı́ra do jeito que sempre sonhara e agora mais nada lhe pertencia. Apostara muito alto e agora não tinha nem para comprar comida.
Pensara muito, durante todos aqueles dias e tinha tomado a decisão para fugir de tudo aquilo.
Vitória observou Clara sentada ao seu lado no banco do passageiro. Parecia distraı́da, pensativa.
Não seguiu direto até a sede da fazenda, mas entrou por uma estrada lateral, estacionando próximo ao rio.
Clara fitou o lugar, pareceu encantada com a beleza do lugar.
A água era cristalina, havia algumas pedras grandes, árvores. Pareceu familiar a paisagem, mas não conseguia concatenar as lembranças.
-- Gostou?
A jovem Duomont a encarou.
-- Sim, é muito bonito aqui.
A condessa soltou o cinto de segurança, inclinando-se para ela, tocou-lhe a face com as costas das mãos.
-- Já te disse o quão linda estás? – Desenhou-lhe os lábios com as pontas dos dedos.
-- Não creio que a minha beleza chegue aos pés da sua. – Encarou os olhos verdes. – Posso te fazer uma pergunta?
A ruiva se aproximou mais dela, sentindo o hálito fresco...
-- Eu...Você... – Gaguejou. – Sou virgem?
Vitória teve vontade de rir ao ver o vermelho intenso lhe tingir o rosto bonito, mas não o fez.
Mordeu o lábio inferior ponderando.
-- Não! Você é minha mulher! – Disse lentamente. – Você se entregou a mim...
Clara desviou o olhar, porém a condessa segurou-lhe o queixo, colando os lábios aos dela.
A jovem Duomont sentiu a maciez do toque, porém não permitiu que fosse aprofundada a carı́cia.
-- Por que me rejeita? – Voltou a se encostar-se a seu banco, parecia decepcionada. – Você não tem ideia de comoestá sendo difı́cil pra mim essa situação? – Bateu forte na direção do carro. – Sinto-me culpada por tudo o que te aconteceu. – Cobriu os olhos com as mãos. – Se eu pudesse mudar o passado, o faria, daria tudo para fazer isso. Daria tudo para que você não tivesse montado no Bastardo...
A garota a viu ligar o carro, percebendo-a limpar as lágrimas sutilmente para que não fosse percebido seu pranto.
Colocou a mão sobre a sua e os olhares se cruzaram, o da poderosa arrogante mulher denotava toda a dor que sentia naquele momento... Os olhos estavam rasos de água.
O celular da condessa começou a tocar. Ela viu no painel do carro aparecer o nome de Miguel, ignorou-o, mas as chamadas continuavam insistentemente. Decidiu atender.
-- O que foi? – Perguntou aborrecida.
-- A Clara está contigo?
O som podia ser ouvido por sua acompanhante.
-- Sim!
-- Preciso falar contigo...
Vitória percebeu a preocupação na voz do advogado. Pegou o celular, ouvindo cada palavra dita por Miguel. Observava a expressão da amada, ela parecia preocupada. Encerrou a chamada.
-- O que houve? – A Duomont indagou hesitante.
A ruiva fitou as águas dos rios e percebeu como elas estavam agitadas. Pela primeira vez em sua vida, estava sem palavras.
Mirou-a.
-- Precisa ser forte... – Segurou-lhe as mãos.
-- O que houve? – Repetiu em um sussurro
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