A condessa bastarda -- Capítulo 27

               Vitória fechou os olhos e aproveitou ao máximo a sensação maravilhosa de ter a Maria Clara em seus braços. Inalou o delicioso cheiro de rosas que se depreendia de seus cabelos. Acariciou as madeixas longas e macias...Poderia passar a vida toda ali, com sua amada princesa em seu colo.                          Respirou fundo, soltando lentamente o ar.
                  Sentia-se culpada por tudo o que acontecera com a jovem, não fora capaz de controlar seus demônios e o pior sucedeu. Infelizmente não tinha como mudar o passado, mas tentaria ajustar os fatos em seu presente. Seria capaz de fazer qualquer coisa por aquela mulher, daria a própria vida para salvar a dela. Hoje, tinha certeza de que tudo só começara a fazer sentido quando seus olhos se cruzaram com os negros mais misteriosos e doces que um dia pode ver. Quantas vezes tentara fugir? Tentara negar o que estava a sentir? Até que o sentimento se tornou tão forte que acabou se entregando, mesmo relutante, a ele.
              -- Ah, Branca de Neve, como posso te amar tanto... – Falou baixinho. – Ah, Deus, até quando aguentarei tanto desprezo?
              Temia que sua paciência chegasse ao limite e acabasse explodindo, ferindo ainda mais a linda Duomont. Já pensou em mandá-la de volta para a casa de sua famı́lia, porém quando se lembrava dos momentos que passaram juntas não tinhas forças suficientes para isso. Sabia que mais uma vez estava sendo egoı́sta, do mesmo jeito que fora quando a obrigou ir morar em sua fazenda só para tê-la ao seu lado.
          Abraçou-a mais forte, ouvindo-a resmungar em um protesto inconsciente. Até quando aguentaria aquela situação?
                  Antes não havia desprezo em seu olhar de princesa, mas agora via o desdém estampado em sua face tão linda... 
                 Maldita Clarice!
                 Sabia que ela tinha envenenado a filha contra si.
             Mesmo sabendo que a maioria das coisas que foram ditas eram verdadeiras, também sabia que ela mentira muito e para piorar sua palavra não tinha força suficiente para ir contra ao da respeitada senhora Duomont.
                 Sorriu quando a sentiu se aconchegar mais a si.
                 E se essa amnésia não passasse? E se ela nunca recuperasse as lembranças que viveram?
               Isso a inquietava terrivelmente, pois nem mesmo sabia como fizera para que a bela Branca de Neve se apaixonasse por alguém tão terrivelmente arrogante e orgulhosa como sempre demonstrava ser... Como poderia conquistá-la novamente? Como? Nunca precisara conquistar ninguém, na verdade, pensando bem, nunca se interessara realmente por alguém, sempre fora apenas sexo.
              Beijou-lhe o topo da cabeça e se deixou ficar ali, aproveitando aquele momento único em sua vida, enquanto pensamentos lhe tiravam a paz.
           

           As primeiras luzes do amanhecer invadiam os aposentos quando Maria Clara despertou. Tentou se mexer, mas algo a prendia por sua cintura.
            Virando-se, deparou-se com a bela condessa dormindo tranquilamente ao seu lado. Aos poucos sua mente clareou, fazendo-a recordar do que se passara na noite passada, porém não imaginou que ela ficaria consigo, acho que ela iria embora depois de um tempo.
                Curiosa, observou-a com atenção.
               O nariz empinado denotava a arrogância e o orgulho que faziam parte de sua personalidade forte e inflexível; Os lábios eram vermelhos, lembravam uma maçã pronta para ser mordida, o superior era um pouco mais cheio... Observou que havia algumas sardas enfeitando o belo rosto... Não havia dúvidas que era uma mulher muito linda...
               Lembrou-se do dia do enterro de sua tia, fora a primeira vez que a viu, recordava-se bem do olhar forte, implacável, agindo como se fosse a dona e a senhora do mundo.
              Pensou nas coisas que sua mãe lhe disse, nas barbaridades que aquela mulher fizera consigo... Agora ficou a pensar que Lúcifer deveria ter aquela mesma aparência.
                Vitória se mexeu e a coberta deslizou um pouco, deixando a mostra o decote provocante da camisola preta. Clara não conseguiu não fitar aquela parte exposta... Havia algumas pintas nele também... Eram redondos... Sentiu o rosto em chamas.
                 Lembrou-se de que ela falara sobre ambas terem um relacionamento. 
                  Mentira!
                 Jamais se envolveria com uma mulher, ainda mais sendo, essa, a herdeira dos Mattarazis. Tinha um noivo e o amava muito, jamais o trairia de forma tão vil, ainda mais com a inimiga de sua famı́lia. 
                  Viu os olhos da condessa se abrindo lentamente.
                  Eles eram tão penetrantes, intensos, atrevidos, pareciam querer desnudar sua alma. Mirou o sorriso a deixar ainda mais bonita.
                  -- Bom dia, Branca de Neve... – Espreguiçou-se, passando as mãos pelo rosto.
                  -- O que faz aqui? – Indagou em tom acusador, ignorando o cumprimento.
                  -- Pensei que tinha sido eu que tinha bebido ontem. – Arqueou a sobrancelha divertida.
                 -- Lembro-me do que aconteceu, só não pensei que ficaria a noite toda. 
                  Vitória se apoiou no cotovelo, observando-a minuciosamente.
                 Ela ficava ainda mais linda com aquele jeito arredio.
             -- Como eu poderia me negar ao prazer de desfrutar de sua companhia. – Não resistiu ao prazer de provocá-la.
                 Clara estreitou os olhos ameaçadoramente, mas não falou nada. Sentou na cama, pegou as muletas que estavam apoiadas, levantando-se.
               -- Saia! – Apontou a porta. – Estou esperando a Ana para que ela me ajude a tomar banho e não quero que ela te encontre aqui.
             -- Mas por quê? – Fez um gesto dramático levando a mão ao peito como se tivesse sido ferida. – Eu não poderia ser simplesmente sua amiga? Quais os requesitos para ocupar esse cargo? Eu posso te ajudar a banhar? – Piscou o olho. – Podemos ser amiguinhas?
                 Clara corou violentamente.
                -- Saia! – Repetiu.
                 A ruiva se levantou e foi até ela, ficando a alguns centı́metros de distância.
                -- Posso te ajudar a banhar?
                -- Como pode ser tão descarada? – Indagou indignada.
                -- Eu só quero te ajudar. – Sorriu meiga. – Como um monstro pode se tornar um cordeiro se não lhe dão uma oportunidade para isso?
                 A Duomont observou o olhar safado que a mulher exibia.
               -- Não necessito de sua ajuda. – Fitou-a, examinando os olhos verdes. – O que está querendo com tudo isso hein? Acha que o Marcos não me disse que você está perseguindo a famı́lia dele, não consegue deixar as pessoas em paz? – Mudou de assunto.
                A neta de Frederico se sentia atraı́da inexplicavelmente por a bela condessa, mas tentava justificar em sua mente que qualquer um ficaria, afinal, era a ruiva mais linda que já deve ter existido em todo o mundo.
                  Era possível ver a tensão no maxilar da empresária.
           -- Eu não sei onde estou com a cabeça que ainda permito que fale com esse desgraçado. – Falou por entre os dentes.
               -- Não pode me proibir disso... – Ela retrucou altiva.
             Na noite anterior ao falar com o pretendente, ele contara o episódio em que a Mattarazi atirara covardemente contra sua pessoa.
              A condessa respirou fundo, tentou se lembrar de que a jovem que lhe enfrentava e acusava estava doente e que seu julgamento era de terceiros.
             -- Não irei discutir contigo sobre nada, nego-me a falar com alguém que não recorda nem mesmo que está apaixonada por mim.
                -- Mentira! – Disse baixinho. – Não acredito em ti.
               Vitória sorriu, caminhando até a porta, abriu-a, mas não resistiu ao desejo de provocá-la mais uma vez.
               -- Amo o sinal que você tem na lateral do seio esquerdo...
             Clara teve vontade de matá-la ao ouvir a risada rouca que preencheu o ambiente, antes que a comunicação fosse cerrada.
              Engoliu em seco.
              Só alguém que a viu nua poderia saber daquela marca de nascença... Não, não, não!
              Ela deveria ter visto...
              Sentou pesadamente sobre o colchão.
             Ela sabia que aquilo era mentira, jamais teria intimidade com aquela mulher, ainda mais para ficar despida diante dela.
             -- Não, não e não. – Bateu forte na cama. – Ela está querendo me confundir, está querendo me perturbar, mas por Vingança!? Por quê?
            Sua mãe falou sobre o desejo que a condessa sempre demonstrara de destruı́-las, e as inúmeras tentativas feitas por ela.
                  Levantou-se.
               Com certeza, na noite anterior, ela deveria ter visto o tal sinal e estava usando esse detalhe para irritá-la. 
                 Ouviu batidas e Ana entrou.
             -- Bom dia, senhorita. – Cumprimentou-a com um enorme sorriso. – Dormiu bem?
             Clara a fitou com simpatia.
             -- Sim, estou ótima!
             -- Vamos ao banho?
              A Duomont assentiu, mas antes lhe perguntou algo.
            -- Ana... – Começou hesitante. – Você falou algo sobre o sinal que tenho na lateral do meu seio para a condessa?
              -- Não, senhorita. – Negou veemente. – Não comento sobre isso com ninguém, nem mesmo a senhora Vitória me perguntou.
                 A neta de Frederico sorriu tentando amenizar as indagações.




             Valentina tomava café na presença do marido e do filho, estavam em casa, a delegada se preparava para ir ao trabalho.
               -- Você tem certeza disso? – O advogado a fitou surpreso.
              -- Sim, pedi que um dos meus agentes ficasse de olho e ele me disse que Marcelo esteve na fazenda de Otávio.
               -- Maldito! – Bateu forte na mesa com o punho.
               Miguelzinho se assustou e Valentina fuzilou o marido com o olhar mortal.
            -- Desculpe, filho. – Miguel colocou o garoto em seu colo. – Eu sabia que a Vitória não deveria ter confiado naquele crápula, mas ela não me escuta.
             -- Bem, eu estarei de olho, o prefeito acha que escapará ileso de tudo isso, mas eu provarei que ele está muito enganado.
                A criança desceu dos braços do pai e correu para sala.
             -- Faça o possível para a sua sobrinha se manter distante, não desejo que ela acabe querendo fazer justiça com as próprias mãos.
             -- Você sabe como ela está? Você foi testemunha de como ela está arrasada com a amnésia de Maria Clara, só não veio aqui ainda para matar o Marcelo porque não deseja se afastar da Duomont.
           -- A Clara jamais a perdoaria se ela fizesse isso. – Suspirou. – Não basta a raiva que ela tá da condessa, Clarice a envenenou muito bem. – Torceu a boca.
               -- Estou rezando para que ela recupere a memória.
           -- E se isso não acontecer? – Valentina indagou pesarosa. – Você acha que a poderosa Mattarazi reconquistaria a amada novamente?
                 O advogado não respondeu.
                Temia que Vitória perdesse mais uma vez alguém que amava.



                Três dias depois...
                Clara estava na sala de estar.
              Descansava depois de mais uma longa sessão de fisioterapia. Desejava ficar boa logo, assim, teria mais liberdade.
               Não viu a condessa desde aquela manhã que discutiram, mas sabia quando ela estava em seu quarto, sempre chegava bem tarde da noite, pois sentia o seu cheiro do outro lado da parede.
                Precisava ligar para Marcos.
              Da última vez que se falaram ele disse que já tinha pegado alguns documentos e começaria a dar entrada nos papéis do casamento, não sabia o motivo, mas isso a inquietou. Preferiria esperar mais um pouco, pelo menos até se recuperar totalmente, mesmo que só fisicamente.
              Pegou o celular para ligar quando ouviu a campanhia, estava quase indo abrir a porta, quando Ana se adiantou.
              A Duomont discava o número quando ouviu a voz que não lhe parecia desconhecida, então, a elegante loira se materializou diante dos seus olhos.
            -- Olá, boa tarde. – Disse sorridente. – Desejo falar com a condessa. 
              Ana saiu rapidamente avisar a patroa.
               Clara ficou surpresa, pois não sabia que Vitória estava em casa.
             -- Como você está? – Sofia indagou simpática.
             -- Bem, obrigada. – Respondeu seca.
           Não sabia o motivo, mas não simpatizava com aquela mulher. Era como se algo a irritasse profundamente. 
                A neta de Frederico a inspecionou durante alguns segundos.
             -- Nos conhecemos? – Perguntou confusa.
             -- Não, nunca nos vimos, a não ser no dia lá em meu consultório, bem, pelo menos eu não me lembro de outra ocasião.
              A conversa não se desenvolveu, pois a bela Mattarazi adentrou a sala.
             A Duomont não conseguiu desgrudar os olhos da mais bela ruiva que vestia apenas um minúsculo biquı́ni branco e uma canga preta que deixava a mostra suas belas pernas torneáveis.
              Os cabelos estavam presos em um coque, os óculos de sol descansavam no topo da cabeça.
             Ficou irritada com o olhar faminto que a tal psicóloga a fitava, era como se desejasse devorá-la ali mesmo, sem se importar com os presentes.
            -- Nossa, como pode ser ainda mais linda. – Sofia a cumprimentou com um beijo rápido.
             -- Que surpresa! – Vitória pareceu constrangida. – Como soube que eu estava em casa?
             -- Liguei para sua empresa e me avisaram.
           A condessa tinha jantado com a psicóloga na noite anterior, era uma boa companhia, até saı́ram para dançar, porém percebia que a loira tinha outros interesses e a ruiva sabia que aquilo não era uma boa ideia, ainda mais quando estava apaixonada por outra pessoa.
             -- Vamos para a piscina, tomamos um suco e conversamos.
          Maria Clara as observou se afastar e sentiu uma agonia em seu peito. Era como se algo segurasse seu coração nas mãos e apertasse fortemente, espremendo-o. 
               Sentiu o ar faltar aos seus pulmões.
               Rapidamente, tirou a bombinha que trazia em seu bolso, buscando controlar a respiração.                     De repente flashes vieram a sua mente.
              O lugar parecia um restaurante, conseguia ver claramente a imagem da condessa sentada em uma mesa junto com a loira.
               Então, a cena muda drasticamente e agora Clara está nos braços da ruiva... Nuas.
             Sentiu uma pontada tão forte na cabeça que seu estridente grito poderia ser ouvido em todas as partes da cobertura.


                A condessa ouviu o som de dor e rapidamente saiu correndo em direção a ele.
               Encontrou Clara com os olhos arregalados, com as mãos na cabeça, a expressão em seu rosto era de puro choque. 
                Ajoelhou-se diante dela.
             -- Clara! – Chamou-a. – Clara! – Insistiu até que os olhos negros a fitaram. 
             A jovem Duomont mirou as duas esmeraldas que a fitavam preocupadas.
              -- O que você tem?
              Sofia se aproximou.
              -- O que houve? Ela está bem?
              -- Quero ir para o meu quarto. – Pegou as muletas, levantando-se.
              -- Eu irei contigo! – Vitória se adiantou. – Desculpe-me, Sofia, mas eu preciso... – Tentava se justificar.
             -- Eu entendo... – A jovem disse sem graça. – Te ligo. – Beijou-lhe os lábios rapidamente.
           Clara andou o mais rápido que sua perna machucada permitia, ao chegar aos aposentos, sentou-se. Sua cabeça não doía mais, porém estava pesada, como se existisse uma bagunça lá dentro.
               -- Vou chamar a doutora Jane. – Vitória disse pegando o telefone.
               -- Não! – Fitou-a. – Eu estou bem.
               A ruiva então deixou o aparelho de lado, ajoelhando-se diante dela.
             -- O que está sentindo, meu amor? – Segurou-lhe as mãos. – Deixe-me te levar ao hospital. – Dizia preocupada. – Deixe-me cuidar de você.
           A neta de Frederico a encarou e mesmo que não desejasse sentia a sinceridade naquelas palavras.
                  -- Responda-me algo... – Pediu. Mattarazi assentiu prontamente.
                  -- Eu conheço a Sofia? Eu já a vi?
              A condessa pareceu confusa com a pergunta. Ponderou por alguns segundos, até que falou:
            -- Você a viu comigo uma noite, estávamos jantando em um hotel, por quê? Lembrou-se disso? – Perguntou entusiasmada. – Lembrou-se disso? – Repetia. – De que você lembrou mais? Lembrou-se de mim?
                 O vermelho tingiu a linda face da jovem. Desviou o olhar.
               -- Não! – Fez um gesto de cabeça. – Não te vi, só a sua amante.
               A ruiva se levantou, passando os dedos entre os fios dos cabelos em uma gesto de decepção.
            -- Bem, já é um começo. Vou te lavar ao hospital para falar com a neurologista, talvez ela possa ajudar.
             -- Não! Não irei lá, eu estou bem, ela disse que esses flashes seriam normais. – Levantou-se. – Agora pode retornar para os braços da sua psicóloga.
              Vitória foi até ela, segurando-a delicadamente por seus ombros.
            -- Eu não quero ir para os braços de ninguém, desejo apenas ficar contigo. – Tocou-lhe a face com as costas da mão. – Você não tem ideia de como eu te amo, não tem ideia de como preciso de ti... Eu daria qualquer coisa para que você estivesse bem, para que não tivesse caı́do do cavalo...
              Clara pareceu hipnotizada quando sentiu o hálito fresco se aproximar. Não reagiu ao sentir os lábios ficarem estáticos, colados aos seus.
              A condessa parecia esperar pelo esbravejamento, mas ao perceber que não viria, beijou-a. O fez como se temesse feri-la, lentamente, sentindo a maciez, o sabor... Implorando para que a amada a aceitasse, então os lábios da bela Duomont entreabriu e essa foi a resposta para as preces da ruiva.
             A neta de Frederico acolheu a boca rosada, sentindo-a saborear cada pedacinho da sua. Sufocou um gemido quando a lı́ngua da empresária a invadiu, preenchendo-a, brincando, seduzindo... Chupou... Sugou-a... Sentindo que aquela carı́cia era muito mais do que familiar...
                 Sentiu as mãos por baixo de sua camiseta, nem percebeu o clique do sutiã, apenas o toque em seu colo que reagiu imediatamente ao tato da inimiga... Seu corpo parecia em chamas.
               Desejando-a mais próxima a si, soltou as muletas uma a uma, envolvendo o pescoço esguio com seus braços... A pele dela era quente e o cheiro a estava deixando inebriada...
               -- Senhorita...
               Ambas se afastaram tão rapidamente que Clara caiu sentada na cama.
               -- A... A porta estava aberta... – Ana tentava se explicar. – Perdão...
               -- O que você quer? – Vitória perguntou com expressão frustrada.
               -- É que... Os pais da senhorita Duomont estão aqui.
               A ruiva fez um gesto para que a empregada saı́sse, depois fitou a amada.
           Sentiu vontade de rir ao ver o rosto totalmente corado, mas na verdade, queria amá-la loucamente naquele momento. Sentia saudades, seu corpo estava em brasas
                 -- O que eles estão fazendo aqui? – Vitória recolheu as muletas, entregando-lhes.
                 -- Não sei. – Levantou-se. – Irei até eles.
                 A ruiva a deteve gentilmente pelo braço.
                 -- E quando continuamos? -- Perguntou umedecendo os lábios.
                 A garota a fitou com irritação e constrangimento.
                 -- Vou ver o que os mais pais desejam!
               Uma desconsertada condessa observava Maria Clara deixar os aposentos. Pensou em ir atrás, mas estava tão irritada por seu desejo ter sido cortado bruscamente, que temia uma explosão junto ao casal Duomont.
               Seguiu para os próprios aposentos, direto para o chuveiro, precisava esfriar a cabeça e o fogo que parecia queimaro corpo.
                  Sorriu ao sentir a água gelada lhe retesar os músculos.
Apesar da interrupção, sentia-se feliz, pois sentira a paixão nos braços da amada, senti-a desejosa, excitada... Um ótimo sinal para o seu desespero.


                Felipe abraçou a filha, enquanto Clarice olhava deslumbrada a luxuosa cobertura. Sabia que a condessa era muito rica, porém jamais imaginara algo tão pomposo.
               -- O que fazem aqui? – Clara indagou ainda com o braço do pai em seu ombro. -- Estou morrendo de saudades.
                 -- Vim vê-la, afinal, não nos vimos no Natal, então vim e trouxe um presente. – O homem dizia. – Miguel me deu o endereço e garantiu que não haveria problemas.
                  -- Verdade, filha. – A mãe a abraçou. – Estávamos com saudades. -- Observava com atenção o luxo do lugar. 
                      -- Tome! – Felipe lhe entregou um pequeno pacote.
                    -- E o meu avô? Como ele está? Por que não veio com vocês?
              -- Ele jamais pisaria no mesmo lugar onde os pés da condessa pisam. – A matriarca se adiantou. – Nós viemos somente por você.
            -- Eu não te chamei pra vir comigo. – Felipe disse irritado. – Poderia ter ficado lá. – O vereador a abraçou mais uma vez. – Acho melhor irmos, não quero que a senhora Mattarazi se irrite com a nossa presença, ainda mais porque não avisamos que virı́amos.
            -- Não! Não quero que vá tão rápido. – A jovem disse tristemente. 
               Clarice nem mesmo esperou um convite, sentando-se.
            -- Como disse, não desejo que você tenha problemas.
            -- Não terá problemas, Felipe.
            Os presentes miraram em direção à voz.
            A ruiva entrou na sala usando apenas um roupão preto.
           Clara sentiu um arrepio percorrer a espinha ao vê-la, recordando do que tinha feito há pouco no quarto. Tinha certeza que a face estava em chamas.
           -- Convido-os para ficar, se desejarem, podem passar o ano novo junto com a sua filha. – Sentou-se, cruzando as pernas. – Se acomode. – Apontou a poltrona para o pai da amada.
               -- Eu peço que me perdoe por ter vindo sem avisar. – Acomodou-se tendo a filha ao seu lado. – Mas eu não aguentava de saudades da minha pequena.
             -- Não se preocupe. – A condessa deu de ombros. – Fique à vontade e como já disse antes, fiquem e passem o ano novo com a Clara.
              --  Eu  só  ficarei  porque  imagino  como  deve  ser  terrível  para  a  minha  filha  passar  uma  data  tão  importante  com alguém que não gosta. – Clarice disse esnobe.
                  A condessa se levantou, esboçando um sorriso cı́nico.
            -- Ah, não diga! – Debochou. – Fique, Felipe, eu viajarei, então a Clara vai precisar de sua companhia. – Mirou a senhora Duomont. – Quanto a senhora, meu helicóptero estará a sua disposição para deixá-la na fazenda.
               A ruiva se afastou, seguindo para o quarto.
              Clara a observou sumir e se sentiu incomodada, até mesmo triste, por saber que a Mattarazi viajaria, decerto ficaria com Sofia.
               -- Vamos ficar contigo. – Clarice começou. – Farei esse sacrifı́cio pelo amor que tenho por ti. 
                 Felipe relanceou os olhos, irritado com a postura da esposa.
          Não queria tê-la trazido consigo, estava cansado do jeito mesquinho que a mulher se comportava.
                Ouvia-a conversar com Clara e percebia que a filha parecia aérea, distraı́da, sempre fitando a porta por onde a ruiva se fora.
                   -- Marcos está louco pra te ver. Amanhã ele vem para a capital.
              -- E você não irá vê-lo, pois não quero que tenha problemas com a condessa. – O senhor Duomont repreendeu a esposa com o olhar. – E você, Clarice, será que não é melhor que volte para a fazenda?
                  -- Ficarei com a minha filha. – A mulher a fuzilou com um olhar mortal.
                  O papo continuou até que Ana apareceu a mando de Vitória para acomodar os Duomonts.



                No dia seguinte, a condessa se aprontou para viajar a Roma, mas antes foi até o quarto de Clara, pois durante todo o dia ela não tivera mais chance de falar com a jovem, porque Clarice não a deixava sozinha.
               A mulher era odiosa ao extremo. Sabia que ela estava envenenando ainda mais a filha contra si, via em seu olhar isso. Sentira ganas de expulsá-la, mas não o fizera porque tinha certeza que seria mais um motivo para ser odiada por sua princesa.
               Em parte estava feliz por ter surgido um problema em uma de suas empresas, assim, ficaria distante, pois sua vontade era tomar sua amada em seus braços.
             Ao entrar nos aposentos, ouviu-a chamar por Ana, porém percebeu que a empregada não estava ali. Seguiu até o banheiro, encontrando sua Branca de Neve totalmente despida, encostada ao box.
       Clara arregalou os olhos quando viu Vitória parada, fitando-a despudoradamente. Instintivamente, cobriu os seios com uma mão, enquanto a outra pousava em seu sexo, numa atitude inútil de se esconder do olhar faminto da Mattarazi.
               -- O que faz...? – Disse com o rosto em chamas. – Como... Como ousou entrar aqui? 
               A ruiva desviou os olhos dos seios redondos, encarando-a.
            -- Vim me despedir... – Umedeceu os lábios. – Estou indo a Roma e provavelmente não estarei aqui... No reveillon.
                 -- Imagino que vá aproveitar o ano novo com a sua amante – Afirmou incomodada com a ideia.
                  Vitória deu mais um passo, parecia imersa diante de tão linda imagem.
              O diafragma da jovem Duomont estava em ritmo acelerado. Era possível ouvir o som pesado de sua respiração. 
               Os olhos da empresária estavam tão escuros que era impossível pensar que ali repousavam duas esmeraldas.
                -- Que amante? – Indagou distraı́da.
              A condessa pousou a mão sobre a que protegia o colo inutilmente. Sentiu-a trêmula... Levou a outra mão a tocar os dedos que abertos tentavam proteger a sexualidade latente... Estava quente...
               -- A... So... Sofia... – Gaguejou. – A sua amante Sofia. – Recuperou a firmeza na voz.
              Clara sentiu a pressão delicada, porém não havia se dado conta que não era mais seu tato que lhe resguarda a pureza, que há tempos não existia, agora era o toque da condessa que se mantinha inerte, mesmo que tão provocante.
               A Duomont mirou os lábios tão próximos aos seus...
              -- Se desejar estar ao meu lado hoje, eu deixarei os compromissos de lado e ficarei contigo. – Fitava-a. – Diga que deseja a minha presença...
                A jovem morena engoliu em seco.
              Sentia um arrepio percorrer toda a região da espinha... Os mamilos estavam doloridos, eretos, exigente, atrevidos...
                Havia uma umidade entre suas coxas e rezava para que fosse do banho...
               -- Não... – Falou baixinho. – Deixe-me...
                A ruiva inclinou a cabeça até ficar com a boca colada em sua orelha.
            -- Eu sei que seu corpo está me reconhecendo... – Sussurrava. – Eu sinto... Não precisa ter medo, você é minha mulher... Ainda sinto a barreira que ultrapassei...
               A neta de Frederico tinhas os olhos bem abertos e apresentava uma expressão incrédula.
               -- Mentira...
            A ousada Mattarazi desejava provar-lhe suas palavras, então deslizou os dedos por entre suas pernas, vibrando com o desejo que se encontrava ali... Comoçou com movimentos lentos, usando o polegar para inflamá-la, sentindo-a receptiva...
               A Duomont a deteve, mirando-a, vendo os lábios entreabertos. Algo mais forte parecia aprisioná-la.
                   A empresária continuou a tocá-la e a mão da morena pendeu ao lado do corpo, ela sentia a mente embaralhada, conturbada, como se não houvesse formas de se defender. Como se não pudesse controlar as sensações que a invadiam.
              Encostou a cabeça em seu ombro, permanecendo quieta enquanto a pressão em seu ventre ficava cada vez maior.
            -- Apenas sinta... Não a invadirei, pelo menos não enquanto não senti-la pronta para o que irá descobrir, porém darei ao seu corpo o alıvio que o meu grita para ter...
         As carı́cias se intensificavam, percebeu-a abrindo-se mais... Entregue... Usou mais um dedo para que a pressão fosse maior... Não a penetraria, mesmo que estivesse desejosa disso...
           A Duomont cerrou os lábios para não gritar... Mexeu os quadris para acelerar os movimentos... Sua respiração estava acelerada... Rebolava no toque exigente, ao mesmo tempo delicado...
          Sabia que não deveria estar fazendo aquilo, mas não tinha como controlar as sensações poderosas que lhe dominavam... Pensaria naquele problema em outro momento, agora só desejava muito mais do que ela lhe dava, só desejava muito mais do que sua mente confusa imaginava...
              As fricções ficaram tão rápidas que poderiam ser ouvidas como fundo musical, junto com os gemidos abafados da princesa desmemoriada...
          Então o prazer supremo chegou para ela... enquanto seu grito era sufocado por seus dentes sendo cravados no ombro de sua inimiga...
             A condessa sentiu o próprio corpo mergulhar nesse êxtase, mesmo não tendo sido tocada.
           Segurou-lhe o rosto entre as mãos, fazendo-a encara-lhe. Mirou os olhos assustados, rasos de água, mas que refletiam o prazer intenso que tivera há pouco.
            Os lábios se encontraram em um beijo apaixonado, sofrido, doı́do... As lı́nguas digladiavam... Ouvia-se os ruı́dos de raiva que vinha da boca de Clara... Fora vencida... Vencida por desejos que permaneciam vivos, mesmos que esquecidos...
             -- Senhorita... – Ana chamou resoluta do quarto. 
             Vitória se afastou, mas não a soltou.
               -- Feliz ano novo, Branca de Neve...
            Clara nem mesmo pode responder, pois a ruiva já se afastava, seguindo seu caminho.

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