A condessa bastarda -- Capítulo 19
Miguel ouvia, horrorizado, cada palavra proferida pela condessa.
Ele estava em seu escritório, atendendo a um cliente quando foi informado pela secretária que Vitória desejava vê- lo e não parecia muito disposta a esperar.
Imediatamente, livrou-se do homem, prometendo uma ligação o mais breve possıv́el, em seguida, ordenou que permitissem a entrada da sobrinha.
Ela nem ao mesmo o cumprimentou e já veio dizendo a barbaridade que deveria ser feito.
-- Isso é um absurdo! – O advogado falava indignado. – Eu me nego a participar de algo tão sujo, nego-me a compartilhar disso.
Mattarazi estreitou os olhos ameaçadoramente, depois suspirou e começou a caminhar de um lado para o outro na pequena sala.
-- Eles me obrigaram a fazer isso! – Passou a mão pelos cabelos. – Eu só queria que eles saı́ssem da minha fazenda, só desejava rebaixá-los. – Sentou.
Miguel apesar de conhecê-la tão bem, ficava confuso com aquelas explosões, pois percebia que havia mais do que raiva e frieza naqueles olhos verdes, havia calor, havia aquele tormento que não lhe era natural.
O homem puxou uma cadeira, sentando de frente para a cliente.
-- Por que vai submeter a Maria Clara a tanta humilhação? Você pode não reconhecer, mas bem lá no fundo, eu sei que você sabe que ela não merece isso, ela não merece sua raiva.
Por uma fração de segundo, a condessa desviou o olhar, porém depois voltou a encará-lo e trazia a determinação em sua face.
-- Faça o contrato! – Sentenciou. – Ninguém está sendo obrigado a assinar.
Miguel maneou a cabeça, decepcionado.
-- Você está sendo cruel, pois sabe que se existir esse contrato, ele será assinado.
A ruiva se levantou altiva, arrogante.
-- Bem, aı́ já não é problema meu! – Com um gesto de cabeça, ela se afastou.
Maria Clara seguiu para o quarto.
Precisara ouvir acusações feitas pelo noivo e ainda tivera que presenciar a discussão acalorado entre o pai e o avô.
Deitou-se.
Se a condessa estava pensando que se regozijaria com a sua dor, ela estava muito enganada. Não baixaria a cabeça diante dela, jamais.
Ouviu a porta se abrir e Felipe entrar esbaforido, tendo Clarice bem atrás de si.
-- Eu te proı́bo de se submeter a essa sujeira proposta por seu avô e por aquela mulher.
Clara o fitou confusa. Aquela era a primeira vez em toda sua vida que o viu enfrentar o próprio pai. Ele sempre era tão quieto, tão obediente às regras ditadas por Frederico.
Sentou-se.
-- Papai, isso é o que deve ser feito agora.
-- Eu disse a ele, minha filha. – Clarice se adiantou. – Afinal, é pouco tempo e antes do esperado seu avô arrumará o dinheiro e pagará a dívida.
Felipe fuzilou a esposa com o olhar.
-- Você é igualzinha ao meu pai. Uma egoı́sta que só pensa em si e em sua maldita comodidade.
A nora do polı́tico pareceu chocada com as palavras que o marido lhe dirigia, nunca fora tratada assim por ele.
-- Por que não vai você lá servir de escrava para Mattarazi? – Provocou-a.
A jovem decidiu tomar a frente, pois temia que o pai fosse violento.
-- Por favor, a mamãe está certa, isso vai passar logo.
Felipe gargalhou, estava histérico.
-- O seu avô não tem como arrumar tanto dinheiro. – Constatou tristemente.
As duas mulheres observaram o homem se retirar do quarto.
Clara desejou ir atrás dele, porém sabia que não teria como acalmá-lo, pelo menos, não naquele momento.
-- O seu pai só pode ter ficado louco. – Dizia a outra escandalizada, chorosa.
A garota a fitou e depois a acolheu em um abraço.
Sabia que Clarice não tinha culpa de ser assim e não tinha nada do que reclamar dela, afinal, sempre lhe fora dado o melhor do melhor, excesso de cuidados, de mimos, tudo o que uma criança desejava ter.
Vitória estava em seu quarto, fazia tempo que tinha chegado.
Almoçou e depois foi ver alguns papéis referentes à sua cachaça, em seguida subiu, tomou um banho e agora estava vestindo a roupa de montaria.
Abriu a gaveta e algo caiu de dentro.
A rosa branca!
Agachou, pegando-a. Estava murcha, mas ainda exibia a beleza de outrora. Por um momento, ficou ali, recordando daquele dia, lembrando-se dos momentos mais maravilhosos que já tivera em sua vida.
Levantou-se e guardou a rosa dentro de um livro que tinha na cabeceira da cama.
Não podia se deixar levar por essas fraquezas, nem mesmo deveria ter se envolvido com aquela garota e o que deveria fazer era manter uma boa distância dela, coisa que não aconteceria se ela aceitasse realmente o que fora proposto.
Acabou de calçar as botas, quando ouviu batidas na porta.
-- Condessa!
Respirou fundo antes de explodir mais uma vez com a empregada. Nem sabia o motivo de Maria ter contratado tanta gente, odiava ter que lidar com aquelas pessoas.
Abriu a porta.
A mulher ficou rubra. Deveria ter uns quarenta anos e parecia assustada sempre que a via.
-- O que foi agora?
-- O senhor Felipe Duomont deseja vê-la. – Disse rapidamente.
-- E quem permitiu que ele entrasse em minhas terras?
Nem permitiu que a mulher respondesse e já saiu furiosa dos aposentos.
Encontrou o filho de Frederico esperando-a no topo da escada.
-- Quem permitiu a sua entrada? – Indagou enquanto descia. – Nenhum Duomont é bem vindo em minha casa.
Felipe a fitou por alguns segundos.
-- Vim me oferecer para ficar no lugar da Maria Clara. – Falou corajoso. –Faça o que quiser comigo, pode me humilhar, limparei seu estábulo, qualquer coisa para que sua sede de vingança seja aplacada, porém deixe minha filha fora disso.
Vitória o encarou, parecia confusa com o que acabava de ouvir, pois sempre achara que nenhum daquela famı́lia prestava, mas ao ver aquele homem que sempre era tão calado, tão capacho de Frederico se oferecer para ficar no lugar da jovem, deixou-a surpresa.
-- Ela pediu? – Arqueou a sobrancelha desconfiada.
-- Não! Ela jamais pediria algo assim, a Clara está sempre disposta a se sacrificar por todo mundo e dessa vez não seria diferente.
-- Bem, então eu não posso fazer nada. – Disse dando as costas.
-- Por que odeia tanto a minha filha? O que ela lhe fez?
A ruiva parou e voltou-se mais uma vez para ele.
-- Convença-a a não aceitar, afinal, não estou obrigando.
-- Ela vai aceitar, por isso desejo que a sua exigência se volte para mim, acredite, eu posso fazer o que a senhora desejar, não me importarei.
A condessa o fitava, parecia querer decifrar se aquilo que ele dizia era verdadeiro, afinal, jamais imaginara que Felipe Duomont se sacrificaria tanto, sempre o viu como um fraco, alguém que fazia tudo que Frederico ordenava.
-- Deixe a Maria Clara decidir. – Disse cruelmente.
O homem a viu se afastar, encostou-se ao corrimão e sentiu as lágrimas banharem o rosto.
Sentia-se culpado por tudo aquilo, afinal, ele fora culpado, pois sempre permanecera omisso a todas as decisões que se referiam a sua famı́lia. Jamais enfrentara o pai, mesmo quando o via fazendo coisas reprováveis. Agora o seu maior tesouro seria entregue as mãos de uma mulher cruel e que não parecia ter coração.
Miguel chegou à casa dos Duomonts e pediu para falar em particular com Maria Clara. Tentaria dissuadi-la de aceitar aquela loucura, faria o possıv́ el para isso, pois desejava salvá-la das garras da condessa.
-- Boa tarde! – A jovem estendeu a mão em cumprimento.
-- Boa tarde! – Ele sorriu. – Preciso falar contigo, posso?
-- Sim, com certeza. Vamos para o escritório, lá teremos mais privacidade.
Ele a seguiu, sentando no lugar que ela indicou, mas só o fez quando ele executou a ação de se acomodar ao seu lado.
-- Eu trouxe o documento que a Vitória mandou. – Observou os olhos da garota brilharem. – Mas eu venho lhe pedir como alguém que aprendeu a lhe admirar muito, alguém que tem o maior respeito por sua pessoa. – Segurou-lhe as mãos entre as suas. – Não aceite o que está sendo proposto, não permita que isso seja levando a diante. Eu não sou rico, mas posso lhe ajudar a conseguir um bom emprego e você poderá se sustentar.
Clara sorriu e mesmo com tudo que se passava, seu semblante demonstrava paz e felicidade.
-- Não sabe como me sinto grata por lhe ouvir, porém não poderia fazer isso, não poderia virar as costas para a minha famı́lia.
-- Sabe que Vitória fará tudo para destruı́-la, humilhá-la...
-- Não se preocupe, eu sei o que esperar dela.
-- Sabe mesmo? – Miguel insistia. – A condessa pode ser pior do que você imagina.
-- A condessa ainda não me conhece, ao contrário de mim, pois sei o que esperar dela, porém ela não sabe o que esperar de mim.
O advogado ainda pensou em insistir, mas percebia que seria inútil, pois aquelas duas mulheres tinham algo em comum: A teimosia!
Então, um Frederico sorridente assinou o contrato, sem se importar de que entregaria a sua neta a maior inimiga.
Naquela noite, a condessa recebeu o telefonema do advogado dizendo que tudo tinha sido feito segundo sua Ela não falara nada, simplesmente desligou depois de ouvir o que Miguel tinha dito.
Caminhou até o estábulo e seguiu direto para a baia da Branca de Neve. A égua estava inquieta, provavelmente por estar por muito tempo presa e sem fazer exercı́cios. Na verdade, não havia ninguém que pudesse exercitar o animal que era tão arisco e para completar o Bastardo não era muito amigável.
O melhor seria vendê-la, quem sabe tivesse alguém que pudesse cuidar dela.
-- Branca de Neve... – Acariciou-lhe o flanco. – O Bastardo deveria gostar de ti, você é uma boa menina, apesar dessa rebeldia. – Sorriu. – Acho que ele tem medo de eu deixar de amá-lo...
Seguiu até a baia de Bastardo e lhe fez um carinho, em seguida caminhou para fora.
Mais a frente podia ver as luzes das pequenas casinhas onde alguns empregados viviam com suas famı́lias, voltou para a própria casa e ficou sentada em um dos muitos degraus que dava acesso à mansão Mattarazi.
Ficou a observar o céu estrelado, a pompa que cercava sua propriedade. Trabalhara muito para recuperar tudo o que fora perdido pelo pai, empenhara-se dia e noite para que conseguisse reerguer aquele lugar e conseguira fazê-lo prosperar.
A sua maior dor era seu irmão não estar ali para desfrutar de tudo aquilo.
Às vezes ficava a pensar que deveria ter sido ela a morrer naquele acidente, teria sido tão mais fácil. Victor merecia viver, merecia ter sido feliz, algo que ela sabia que jamais seria.
Fechou os olhos e se recordou da última conversa que teve com o irmão, fora na manhã do fatı́dico acidente.
-- Vamos conseguir fazer essas terras prosperar. – Dizia ele ao encontrá-la no estábulo. – E eu quero que você fique ao meu lado, quero seja não só a minha irmã, mas a pessoa que irá cuidar de tudo em minha ausência.
Lembrou-se do abraço que ele lhe dera naquele dia. Em sua vida toda, fora o único a abraçá-la, o único que se importara consigo...
Sentiu uma mão em seu ombro e se voltou.
-- Não é melhor entrar, menina? Já está tarde e está frio aqui fora.
Só naquele momento ela percebeu quão frio estava, mas nem se comparava a frieza que repousava em seu peito. Simplesmente assentiu e entrou.
Na manhã seguinte, Miguel foi à fazenda dos Duomonts. Ao chegar lá, Maria Clara já estava pronta para o destino que lhe esperava.
Observou-a se despedir da famı́lia e pode perceber que o ú nico que realmente demonstrava estar abalado com o que se passava, era Felipe. Conseguia ver em sua expressão a dor e o medo pelo que poderia ocorrer.
O trajeto até as terras da condessa fora feita em total silêncio.
Clara observava o caminho e via que não demoraria a chegar. Não sabia o que aconteceria ou o que Vitória faria consigo, porém esperava o pior. Lembrou-se do noivo, ele estivera em sua casa na noite anterior, pedira que antecipassem o casamento, porém ela não aceitara e o rapaz ficara muito nervoso, indo embora sem ao menos se despedir.
Encostou a cabeça na janela do carro.
Quase meia hora depois veı́culo estacionava em frente a imponente casa dos Mattarazis.
Vitória tinha acordado cedo e saı́do para cavalgar. Nem mesmo conseguira dormir direito, fora uma noite difı́cil, pesadelos lhe assombraram mais do que já era de costume.
Retornava quando viu o advogado descer do automóvel e em seguida seus olhos se encontraram com a jovem Duomont.
Bastardo levantou as patas dianteiras, relinchando, parecia dar as boas vindas. Seguiu bem perto dela, ainda montada no animal.
-- Bom dia! – Retirou o chapéu. – Seja bem vinda, Branca de Neve.
Clara a fitou e a condessa conseguiu ver a determinação naquele belo rosto.
-- Bem, Vitória, qual o próximo passo? – O advogado interviu.
-- O próximo passo é você ir embora. – Desmontou. – Seu trabalho já está encerrado, agora eu assumo.
Miguel ainda abriu a boca para retrucar, mas foi o olhar de Clara que o impediu de fazê-lo.
Ele abraçou a jovem e entrou no veı́culo indo embora.
A condessa estendeu a mão para tocá-la, mas a garota desviou do toque.
-- Diga quais são as minhas funções de escrava, pois estou ansiosa para começar.
A ruiva não pareceu gostar muito do tom que fora usado consigo, mas tentou não perder a paciência.
-- Por que não experimenta ser mais cordata? – Provocou-a. – Não esqueça que agora sua vida me pertence.
Maria observou aquele sorriso de canto de boca que ela sempre exibia, viu a ironia brilhar naqueles olhos de verdes tão intensos.
-- Quais as minhas funções, senhora condessa? – Insistiu, enfrentando-a.
Vitória deu um passo, praticamente colando-se a ela.
A neta de Frederico amaldiçoou o próprio corpo por reagir àquela proximidade
-- Servir-me da forma que eu desejar, princesinha.
Clara sentiu a pele arrepiar ao ouvir o tom baixo e rouco.
-- Farei qualquer coisa... Menos servi-la em sua cama...
A condessa estreitou os olhos ameaçadoramente. Não gostara do tom usado pela moça, nem mesmo o desafio que via em seu olhar.
Só Deus sabia como era difı́cil resistir aos sentimentos, o desejo de tomar aquela mulher para si era cada vez maior e ouvir e ver a rejeição tão explicita lhe feria.
-- E quem disse que a desejo em minha cama? – Gargalhou. – Já a tive e acredite, não foi tão bom assim... Você é muito... – Hesitou, se deliciando com a expressão de fúria que surgia no rosto da jovem. – Princesinha de contos de fadas.
Clara fechou as mãos ao lado do corpo, sentiu as unhas lhe ferindo a palma, sentia o sangue correr mais rápido em suas veias...
-- Precisa de alguma coisa, patroa?
Batista chegou ao momento exato, pois a tensão entre as duas mulheres aumentando demasiadamente.
-- Leve-a para o estábulo e a faça cuidar da Branca de Neve. – Caminhou para a casa, mas parou. – Leve o Bastardo para a baia dele e peça para alguém vir buscar a mala da princesinha.
O administrador assentiu, mas se voltou para a condessa novamente.
-- Mas a égua é muito selvagem, senhora. – Falou preocupado.
-- Ah, então se darão muito bem! – Ironizou subindo os degraus.
Batista balançou a cabeça, preocupado. Ele já tinha sido informado sobre o fato da jovem Duomont ir morar na fazenda e trabalhar, porém não imaginou que a ruiva fosse tão longe.
-- Eu vou matar Vitória Mattarazi. – Marcos falou ao entrar no escritório do pai. – Vou matar aquela maldita com as minhas mãos.
Marcelo foi até ele.
-- Não seja idiota, não podemos agir assim. – Repreendeu-o. – Frederico quem aceitou o acordo.
-- Ele está vendendo a Maria Clara como fez com a Helena. – Esbravejou. – E mais uma vez para um maldito Mattarazi.
O prefeito ficou quieto, mas em sua cabeça a imagem de uma bela mulher surgia, alguém que se apaixonara logo que viu, alguém que quase destruı́ra seu casamento e que lhe dera um filho... A esposa de Victor fora sua muito antes do casamento...
Clara agradeceu a preocupação demonstrada por Batista, mas não se amedrontou diante do lindo animal que estava a lhe encarar.
Era a égua do dia do leilão, aquela que lhe fascinara demasiadamente, que lhe deixara totalmente apaixonada. Seus pelos brilhavam, a crina cheia, o olhar assustado parecia examiná-la.
-- Você é muito linda! – Tentou tocá-la, mas o bicho se afastou. – Calma. – Falou baixo. – Não irei machucá-la. – Sorriu. – Pelo menos o meu trabalho é cuidar dos animais.
Vitória precisou passar todo o dia na usina. Teve que falar com alguns empresários, depois precisou ir até uma cidade vizinha para comprar uma peça da máquina da produção da cachaça.
Quando retornou para a fazenda já era noite e estava exausta. Estacionou o carro em frente a casa e seguiu para dentro.
-- A menina chegou! – Batista entrou na cozinha apressado.
Clara estava sentada na mesa da cozinha, mesmo tendo insistido, Maria não permitira que ela fizesse nenhum tipo de trabalho.
-- E como está o humor dela? – A mulher indagou, mexendo a comida que estava no fogo. – Ultimamente ela está cada vez pior. – Fitou a neta de Frederico. – Não me conformo com o que ela está fazendo com a senhorita.
A jovem Duomont preferia não falar sobre isso. Sentia-se feliz, pois Batista e Maria estavam a tratando muito bem.
Ele a ajudara a cuidar do estábulo.
-- Deve se manter longe dela, viu.
Batista adiantou-se.
-- Bem, eu não sei se ela vai conseguir, pois a patroa mandou que você fosse até o quarto dela.
Clara observou o rosto dos dois, principalmente o da boa senhora que denotava temor.
-- Não se preocupem. – Levantou-se. – Não tenho medo dela. – Sorriu. -- Onde fica o quarto?
-- O primeiro à direita. – Batista informou.
Vitória ouviu batidas na porta, então amarrou o roupão na cintura e abriu. Afastou-se para dar passagem a jovem.
-- Boa noite, senhora condessa! – Cumprimentou-a friamente.
A ruiva sorriu, observando-a detalhadamente. O short jeans e a camiseta deixavam seu corpo ainda mais atraente. Balançou a cabeça para espantar os pensamentos.
-- E como foi o seu dia?
-- Bem. – Respondeu simplesmente.
Clara a observou caminhar até a enorme janela e aproveitou para dar uma olhada no quarto. Era grande, tinha uma enorme cama, alguns quadros e tinha uma porta que com certeza dava para varanda e outra que decerto era um adjacente dos aposentos.
-- Quero que se responsabilize por cuidar dos animais.
-- Hoje limpei o estábulo.
A ruiva se virou para ela, sorrindo.
-- Não sabia desse seu talento extra. – Debochou. – Na verdade, estou falando em você ser a veterinária.
A neta de Frederico tentou não demonstrar o entusiasmo que sentia com as palavras que ouvia.
-- Eu não tenho os materiais para exercer a profissão.
-- Não seja por isso. Amanhã mesmo irei mandar trazer tudo o que for necessário e também pedirei para que construam um espaço para que os atendimentos possam ser feitos. Tenho muitos animais e desejo que eles sejam bem cuidados.
-- Certo! – Clara respondeu.
Na verdade, estava com vontade de gritar de tanta felicidade, pois apesar de tudo, estava imensamente feliz, afinal, não havia um desejo maior em seu coração do que exercer a sua profissão.
A condessa sentou-se em uma poltrona, cruzando as pernas longas.
A Duomont desviou o olhar ao ver as lindas coxas aparecerem pela abertura do roupão.
Os cabelos dela estavam molhados, a pele branca estava corada. Observou os lábios vermelhos e aquela expressão de sarcasmo que sempre estavam presentes neles.
-- E então? – Arqueou a sobrancelha esquerda. – O que achou da minha égua?
-- É um animal esplêndido! – Não conseguiu conter a alegria. – Nunca vi um espécime tão maravilhoso, decerto, se for bem treinada, ele vai se igualar ao seu Bastardo.
-- Bem, é uma pena, mas não ficarei com ela. – Fitou-a. – O que você acha de eu vendê-la? Vitória conseguia visualizar e decepção presente em seu olhar.
-- Bem, você é a dona, então deve saber o que é melhor.
-- Gostaria de ficar com ela?
-- Está brincando? – Indagou surpresa. – Não tenho dinheiro para comprá-la.
-- Se você conseguir domá-la, ela será sua.
Clara mirou os olhos verdes e buscou desvendar se havia deboche presente neles, porém pareciam sinceros.
-- E então, você aceita?
-- Sim! – Maneou a cabeça afirmativamente. – Agora posso ir?
-- Para onde?
-- Acho que já está um pouco tarde, gostaria de me recolher ao mau quarto e descansar.
A condessa deu aquele sorriso enorme que chegava a seduzir até o mais cético mortal.
-- Esse será o seu quarto... E será a minha cama que irá ocupar. – Disse cada palavra pausadamente.
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