A condessa bastarda -- Capítulo 17


               A condessa fitou a porta por onde Clara tinha saı́do.
              Mordeu o lateral do lábio inferior, maneou a cabeça negativamente e sorriu. Por que permitia àquela garotinha estúpida tais liberdades?
             Ninguém nunca a enfrentara daquele jeito, ninguém nunca ousara tanto.
            Encostou-se a cadeira, passou as mãos pelos cabelos. Umedeceu os lábios com a lı́ngua e teve a impressão que o gosto dela ainda estava lá. Seu corpo ainda estava em chamas, poderia tê-la tomado novamente, possuı́do-a ali, em seu escritório.
            -- Ah, Branca de Neve... – Sussurrou. – Você vai acabar me deixando louca...
        Quem diria que por trás daquele sorriso meigo havia uma personalidade tão forte e tão passional? Precisava esquecê-la, mas como faria isso? Mesmo que nunca pudesse admitir, adorava tê-la por perto, mesmo quando era enfrentada, mesmo quando estavam brigando, desejava-a para si...
               Seus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta.
               -- Entre! – Falou exasperada.
               O advogado caminhou e parou diante da mesa.
          -- O que quer agora? Será que não basta aquela pirralha idiota? Não já me encheram o suficiente por hoje?
           -- Só vim dizer que amanhã trarei todos os documentos para que entregue ao seu novo representante legal. 
                 Vitória relanceou os olhos, entediada.
           -- Não precisa, você continua sendo meu advogado, afinal, não tenho tempo para ficar procurando um novo.
             -- Só ficarei se todos os outros ficarem. – Sentou. – Você não pode demitir todo mundo, Vitória, eles não tiveram culpa, o Bastardo é muito esperto, ele fugiu.
                 -- Ninguém será demitido, agora me deixe em paz.
               Miguel pareceu surpreso com as palavras. Conhecia muito bem a ruiva e sabia que ela não voltava atrás quando dizia algo, então se surpreendia com o que acabava de ouvir, ainda pensou em questionar, porém era melhor não afrontá-la ainda mais.
                 Levantou-se e foi embora, era melhor não brincar com a sorte.


                 Maria Clara seguia pelo caminho da fazenda.
             O celular tocava, era o seu pai, decerto, já estava preocupado com sua saı́da. Preferiu não atender, seguiria direto para a casa e lá falaria com ele.
            Sabia que não deveria ter ido à fazenda Mattarazi, mas quando Miguel lhe contara sobre o problema, não resistira ao desejo de ir. Lógico que não sabia que encontraria a condessa, não imaginou que a veria tão rapidamente, não estava pronta para aquilo. Seu corpo ainda tremia ao recordar do seu toque, das suas carı́cias ousadas, seus beijos exigentes.
              Estava apaixonada... Completamente louca por aquela mulher...
           Precisava acabar com aquilo, estava noiva e em breve casaria com o Marcos, porém não o amava. Tinha certeza disso, estava convicta que não desejava aquele relacionamento, porém como colocaria um fim assim?
             -- Vitória... Feiticeira...


           Otávio caminhava de um lado para o outro na enorme sala de sua casa. Alex estava sentado e observava tudo com calma.
           -- Não entendes que vamos perder essa campanha por causa da irresponsabilidade dessa maldita condessa. – Esbravejava. – Como tive a louca ideia de convidá-la para ser a candidata à prefeita.
             -- Relaxe! – O jornalista levantou e preparou um drinque. – Como já disse, a maioria dessas pessoas trabalham para Vitória, estamos indo pelo caminho certo, eles não se voltarão contra a maior empregadora da região.
               -- Como pode ter tanta certeza?
              -- Eu tenho meus contatos. – Entregou-lhe o copo. – Hoje mesmo percorreremos essas casas, basta uma sutil ameaça e a nossa bela ruiva será a vencedora.
              -- Eu serei o vencedor. – Corrigiu, brindando. – Serei eu o prefeito. – Sorriu.


            A morena seguiu direto para o quarto, teve a sorte de não encontrar ninguém na sala.
            -- Onde você estava, Maria Clara?
            A jovem assustou-se ao ver o pai sentado sobre sua cama.
            -- O que faz aqui? – Indagou.
            -- Estava a sua procura e soube que saiu cedo e não avisou a ninguém.
          A jovem tentou controlar a respiração, há tempos não tinha aquela sensação de lhe faltar o ar nos pulmões. Felipe levantou e imediatamente pegou a bombinha na gaveta e entregou à garota.
            Ela sentou e aos poucos foi recuperando a respiração.
            -- Está melhor? – Ele perguntou preocupado. 
             Clara fez um gesto afirmativo.
            -- Agora me diga onde você estava?
            A moça sabia que não poderia mentir para o pai, na verdade, jamais mentia, mas nos últimos dias o fazia com frequência.
             -- Estava na fazenda Mattarazi! – Disse de supetão.
          -- O que você estava fazendo lá? – Ajoelhou-se diante dela. – Não sabe que aquela mulher pode lhe fazer mal?
             -- Fui cuidar do cavalo. – Levantou-se. – Papai, eu desejo exercer a minha profissão. – Falava entusiasmada. – Não sabe como me sinto feliz em fazer isso, não tenho outro desejo, adoro estar em contato com os animais.
              Felipe sabia disso, via os olhos da jovem brilhar. Desde muito novo aquele fora o desejo dela e era injusto que não tivesse permissão para fazê-lo.
              Seguiu até ela, abraçando-a.
           Ele fora manipulado durante toda a vida, sempre seguira à risca às ordens de Frederico. Perdera a mãe quando ainda era um adolescente, mas sempre esteve preso as vontades do pai e não desejava que filha passasse por aquilo.
            -- Quando você ganhar a eleição terá independência para fazer o que desejar. – Segurou o rosto querido entre as mãos.
                – Poderá ser a veterinária, será a melhor de todas.
                -- E se eu não ganhar? – Indagou temerosa.
               Clara temia. Não tinha a segurança de Frederico, tampouco a do noivo e do sogro. Apesar de tudo, de todo o apoio recebido, tinha medo dos resultados.
            -- Mesmo que não ganhe, eu ainda estarei aqui para lhe apoiar, vamos montar o seu consultório e você vai se encher de bichos, menos a condessa.
                   Ambos riram.
               -- Clara, não quero que se aproxime da Vitória. – Disse sério. – Não desejo que ela lhe faça nenhum mal. 
                A jovem apenas concordou com um gesto de cabeça.
              -- Vitória Matarazi é uma mulher misteriosa e mesmo que não exista provas sobre as coisas de que ela foi acusada, temos provas suficiente do caráter perturbador que ela apresenta.
             Maria pensou em retrucar, mas sabia que seu pai estava certo. O Melhor a ser feito era não permitir essa aproximação da condessa.


              O tempo passava de forma agitada. Clara se dedicava dia após dia para que conseguisse sair vencedora do pleito. Todos estavam confiantes de sua vitória, enquanto isso a condessa não fazia nenhum esforço para agradar ao eleitorado, nem mesmo se pronunciara durante toda a campanha, apenas se deixara ver em alguns raros momentos ao lado de Otávio.
               Dentro de dois dias seria a tão esperada eleição e o destino daquela cidade estava em jogo.
              A noite estava fria. A condessa não se sentia bem, estava agitada, irritada, impaciente mais do que o de costume.
             Caminhou até o estábulo e sentiu os olhos do garanhão negro voltados para si. Ele continuava rebelde, exibindo o comportamento possessivo, mas não a jogou da última vez que ela o montou. Lógico, que isso só acontecera depois que Vitória não tinha voltado a montar a Branca de Neve.
               Ela lhe entregou uma cenoura e lhe acariciou as orelhas.
               -- Vamos dar uma volta, campeão? Que tal? Nós dois cavalgando por essa noite negra?
              Bastardo pareceu gosta da ideia e se comportou, enquanto sua dona lhe preparava para o passeio. Alguns minutos depois, saı́ram por entre a escuridão, cavalgando... galopando...

                Clara ouvia as palavras do avô.
               Aquele era o último comı́cio. Aquela seria a última vez que ela falaria com aquelas pessoas antes das eleições. Estava nervosa. Observava os olhares voltados para si, conseguia visualizar a esperança brilhar naqueles olhos que a fitavam.
             Cada dia que passava tinha mais certeza dos propósitos de estar ali, de ter entrado naquela disputa. Não, jamais permitiria que suas promessas fossem esquecidas, concretizaria tudo, mesmo que tivesse que ir contra todos.
                Frederico a convidou para assumir o seu lugar ao microfone. Marcos lhe beijou a mão e a levou até lá.
                Todos aplaudiram o gesto galante do rapaz e pareceram mais entusiasmados quando o futuro vice-prefeito a beijou nos lábios.
                    A condessa acabou seguindo até a cidade e ficou surpresa ao ver o aglomerado de pessoas em praça pública, então percebeu o palco montado.
                       Os Duomont!
                      Praguejou ao ouvir as palavras de Frederico. 
                    Dissimulado!
                 Aproximou-se pela lateral, onde podia ter uma ótima visão do que se passava lá. Seus olhos foram atraı́dos por uma figura que jazia um pouco mais atrás, então ouviu o nome dela ser anunciado. Sentiu o estômago embrulhar quando o filho do prefeito em um gesto galante, beijar-lhe a mão e depois os lábios.
               Teve um desejo enorme de ir até lá e falar um monte de coisas para aquela garota que adorava exibir aquele rostinho de anjo, aquela expressão doce, mas que no fundo ela era igualzinha à tia.
                 Decidiu ir embora, antes que fizesse uma loucura, mas as palavras de Maria Clara a deteve.
               -- Eu sei que tudo o que eu falar aqui hoje pode soar falso, oportunista, afinal, eu desejo sim ganhar a eleição. – Deu uma pausa. – Mas, não é apenas vencer, isso aqui não é uma competição, a eleição que ocorrerá dentro de dois dias é o futuro de todos e dos que ainda estão por vir. – Aproximou-se mais. – Confesso que tenho medo de não ser a escolhida, porém isso não vai me fazer parar. Continuarei lutando por vocês e para tornar esse lugar onde nasci mais feliz. Obrigada a todos e saibam que cada um ocupam um espaço em meu coração.
                Vitória ouvia os aplausos e os gritos entusiasmados das pessoas. Sabia que eles acreditavam em cada palavra dita pela neta de Frederico, mas ela não! Tinha certeza que aquela garota mimada só desejava assumir o poder e depois nem se lembraria de nenhuma daqueles rostos esperançosos que estavam ali.
             A condessa a observou descer do palco que fora montado, enquanto o noivo assumia seu lugar com palavras fúteis e promessas ainda mais vazias.
                -- Fique aqui, Bastardo, eu já volto!
             Mattarazi usava uma capa preta e se utilizava do capuz para não ser reconhecida. Deixou o garanhão um pouco afastado e seguiu por entre a multidão.


               Maria Clara recebeu o abraço da mãe, Clarice parecia emocionada com as palavras da filha.
              -- Tenho tanto orgulho de você, minha pequena. – Beijou-lhe a face.
            -- Obrigada, mamãe. – Sorriu. – Volto rapidinho, preciso respirar um pouco, estou me sentindo sufocada.
             -- Quer que eu vá contigo?
             -- Não, volto rápido.
             Frederico se aproximou da nora.
             -- O que houve com a Clarinha?
            -- Foi tomar um pouco de ar, sabe como ela fica quando está em meio a tanta gente. O polı́tico apenas assentiu.
               Observava o povo presente ali e tinha certeza que a neta seria eleita.


             Maria Clara se apoiou nas armações do palco. Sorte sua que não havia ninguém naquele lugar. Sentia aos poucos o ar retornar aos pulmões. Estava muito emocionada, feliz, satisfeita com a aceitação e carinho que recebeu.
                Ela sentiu um cheiro que sempre mexia com seus sentidos.
                Ao se virar, a jovem se deparou com alguém vestido de preto. O lugar estava na penumbra.
            Os olhos dela brilharam ao ver a condessa retirar o capuz e os cabelos vermelhos brilharem diante de seu olhar assustado.
               Há dias não se viam, há dias evitavam até os pensamentos...
              -- O que faz aqui, condessa? – Indagou empertigada Mattarazi se aproximou mais,
          -- Estava passeando e vi o circo que tinham montado e fiquei curiosa para ver de perto. –                         Esboçou um meio sorriso debochado.
            -- Não tenho tempo para os seus sarcasmos.
             Clara tentou se afastar, mas Vitória a deteve pelo braço.
            -- Sua consciência não dói ao iludir essas pessoas?
            -- Não estou iludindo ninguém!
         Os olhos se fitavam e pareciam que estavam a falar de outra coisa. Passaram-se alguns segundos.
            -- Você não vai ganhar a eleição e esse seu mundinho de fantasias vai vir abaixo rapidinho.
             -- Se você ganhar o que fará por essas pessoas? 
             A ruiva gargalhou.
             -- Para mim essas pessoas podem ir para o inferno. 
             Maria se desvencilhou do toque da outra.
           -- Como pode ser tão insensível? Não se importa com nada, além de si mesma. – Maneou a cabeça com desgosto. – As pessoas temem a condessa e elas têm razão para isso. – Constatou triste.
              -- Você teme a condessa? – Arqueou a sobrancelha.
              -- Não! Eu tenho pena do que você é.
              Clara viu o maxilar de Vitória contrair, mas não recuou.
           -- Você não passa de uma garota mimada. Acha que pode ser melhor do que todo mundo, pensa que todos irão te obedecer ou mesmo serem seus brinquedos nesse joguinho de dona do mundo.
              A Duomont não se intimidou quando Vitória partiu para cima dela, segurando-a pelos ombros e a pressionando rusticamente contra o veı́culo.
               -- Você não passa de uma idiota. – Pressionou-a mais. – Uma garotinha estúpida que vive em um mundo de contos de fadas. Uma menininha que corre para debaixo das asas da famı́lia quando as coisas não estão bem. – Mirou-lhe os lábios. – É uma sonsa que exibe esse sorriso meigo para manipular as pessoas.
            -- Manipular, condessa? O seu tom está ficando muito pessoal, espero que não esteja se referindo a si mesma. – Provocou-a com um sorriso doce.
                Vitória afastou-se, foi como se sua pele tivesse sido queimada.
            -- Você vai perder a eleição! – Apontou-lhe o indicador. – Os Duomont perderão tudo, aı́ vamos ver se você ainda levantará esse nariz para me enfrentar.
               Clara a viu se afastar e só naquele momento percebeu que estava prendendo a respiração.
            Era impressionante o poder que emanava daquela mulher, a arrogância e o sarcasmo. Chegava a pensar se realmente existia a Vitória a quem se entregara de corpo e alma dias atrás ou era apenas invenção de sua cabeça.


               Dias depois...

           A pequena cidade estava em uma agitação só. Todos entusiasmados para ver quem seria o novo gestor daquele municı́pio. Marcos acompanhou a amada até o seu local de votação e ambos foram recebidos com carinho por todos que encontravam ao caminho. Os rostos esperançosos faziam questão de dizer a Maria Clara que acreditavam nela e depositaram na jovem a sua total confiança.
Marcelo já comemorava junto com Frederico.
             A fazenda do velho polı́tico estava lotada de amigos, fossem eles polı́ticos ou empresários que aderiram à campanha.
              Havia bebidas e muito churrasco.
             Clara jazia na varanda a observar a imensidão de terra que pertencia a sua famı́lia.
          Sentiu mãos lhe enlaçar a cintura e o beijo na nuca não teve nenhum poder em seu corpo.                     Permaneceu ereta, tensa.
             -- O que estás a pensar, minha linda prefeita? Ela virou-se para fitar o belo rapaz.
             -- Ainda não sou a prefeita, ainda temos uma hora para saber o resultado.
        -- Lógico que serás a escolhida. – Sorriu. – Quem em sã consciência escolheria Vitória Mattarazi? Quem escolheria para administrar um municı́pio à assassina da própria famı́lia?
               Aquelas palavras incomodaram intensamente a jovem.
              -- Nunca se provou isso, então acho que não se deve sair por aı́ falando.
              -- Não se provou porque ela é muito rica e conseguiu comprar a justiça. – Rebateu com ódio.
             -- Não acho que ela tenha feito isso, apesar de tudo, acredito que a condessa não seria capaz de algo assim.
          -- Você é muito ingênua, minha noiva. – Acariciou-lhe a face. – Acho que todo mundo é bonzinho. Não se esqueça de que ela atirou em mim, não se esqueça de que ela quase te pisoteou com aquele cavalo amaldiçoado.
           Por um momento em sua mente pode reviver aquele momento. Aquela poderosa mulher montada em seu garanhão lhe encarando com aqueles lindos olhos verdes. Recordou da fúria que viu naquele rosto lindo, os cabelos acobreados ao vento.
               -- Você vem?
             Ela fitou o namorado e viu a impaciência presente nele, decerto aquela não fora a primeira vez que falara com ela.
                -- Não! – Apressou-se a dizer. – Ficarei aqui um pouco mais.


           A condessa permanecia em seu escritório. 
         Saı́ra cedo para votar e não falara com ninguém, nem ao menos aceitou o convite de Otávio para passar o dia em sua casa. Odiava ficar em meio a tanta gente. Não suporta a hipocrisia e ela sabia o seu lugar em tudo aquilo.
             Ouviu batidas na porta e ordenou que entrasse. Miguel a cumprimentou, sentando-se.
            Fora chamado por Vitória ainda ao amanhecer, mas só naquela hora tivera tempo de chegar até ali.
            -- Pensei que só viria no próximo ano. – A mulher o provocou.
           -- A Valentina está de plantão e precisei resolver algumas coisas antes de vir. – Defendeu-se.                 Ele viu a garrafa de cachaça quase vazia sobre a mesa.
            -- Não deveria estar mais composta? Afinal, você é a candidata à prefeita. – Provocou-a. 
             A condessa gargalhou alto.
            -- Só falta dizer que votou em mim.
          -- Não, não votei. – Respondeu altivo. – Sabe do grande carinho que tenho por ti, porém sei que você não se importa com nada que se passe nessa cidade, então não acho que você ser eleita é uma coisa boa, afinal, Otávio irá assumir o seu lugar e já imagino o desastre.
              Vitória levou o copo à boca e bebeu lentamente o conteúdo.
             -- Então você acha que a idiota da Maria Clara Duomont é melhor do que eu? – Exibiu aquele sorriso de canto. – Não esqueça que quem paga a você, sou eu. – Ficou a observar o lı́quido transparente. – Fez o que eu pedi?
              -- Sim! – O advogado maneou a cabeça. – Só não sei se fiz bem em fazê-lo. – Abriu a pasta e lhe entregou um documento.
               Mattarazi abriu o envelope e ficou a observar o conteúdo que estava em suas mãos.
               -- O que fará com isso?
          -- De acordo com esse papel, Frederico deixou de pagar a hipoteca. – Balançou a cabeça negativamente. – Eu resgatei as promissórias e agora ele deve a minha pessoa.
              -- E você acha que isso é certo?
              A condessa levantou e bateu forte na mesa.
             -- E você acha que ele está certo ao se envolver com agiotas e dá a neta como garantia das dívidas? Você acha que ele conseguiria pagar tudo isso? Diga-me se acha.
               -- Só acho que você não fez isso por sentimentos nobres.
               -- Digamos que estou salvando a Maria Clara de um destino nada agradável.
               -- Só falta você dizer que faz isso por ter um bom coração. – Ironizou.
               -- Não! Faço isso porque se alguém vai destruir os Duomont esse alguém serei eu.
            Miguel apenas assentiu e saiu do escritório. Não conseguia aceitar a forma como a sobrinha agia, nada justificava aquele ódio pela neta de Frederico.
              Entendia que ela sentia raiva por tudo que passou, ainda mais com o fato de ter sido acusada injustamente da morte da pessoa que mais amava no mundo, entretanto isso não era a solução para o seu sofrimento.


             A pequena cidade estava eufórica com os resultados que ainda não tinha sido divulgado, mas ao anoitecer a população pareceu surpresa quando a condessa Vitória Mattarazi fora eleita à prefeita do municı́pio. Não vencera com grande diferença, porém ela ganhara deixando boa parte das pessoas assustadas, afinal, todos temiam àquela mulher.
              -- É mentira! – Frederico esbravejava. – Aquela maldita roubou, não tinha como ela vencer. 
              Todos estavam reunidos no grande salão.
         -- Amanhã mesmo entraremos com um processo para impugnar essa eleição! – Marcelo intrometeu-se. – Aquela mulher não irá governar!
               -- Isso mesmo, papai! – Intrometeu-se Marcos. – Com certeza teve fraude.
               -- Maldita condessa! – Praguejou Clarice.
             Enquanto a discussão parecia não ter fim, Maria Clara jazia sentada em uma poltrona. Ela parecia aérea, sem acreditar no que estava acontecendo. Apesar de receosa, ela acreditara que ganharia. Não seria hipócrita, desejara muito aquela vitória, sonhara com o momento em que assumiria a administração do municı́pio e com todas as coisas que iria fazer para melhorar a vida de cada pessoa que morava ali.
                Felipe se ajoelhou diante dela, tomando-lhe as mãos nas suas.
            -- Minha linda princesa, não haveria melhor prefeita para essa cidade do que você, porém disputas sempre nos surpreendem e dessa vez, infelizmente não foi o seu momento, porém, nós sabemos que você foi a grande vencedora dessa eleição, pois deu seu próprio coração a todos que lhe apoiaram.
              Os olhos da linda Duomont brilhavam, até uma solitária lágrima molhar sua face, trazendo tantas outras que foram consoladas por um carinhoso abraço do único que parecia se importar com sua dor.


               Vitória não pareceu se importar em ter sido eleita, nem mesmo permitira a entrada de Otávio e Alex em sua fazenda, deixara ordens expressas que ninguém tinha permissão de entrar em sua propriedade.
              A comitiva do partido parecera chocada, mas o vice-prefeito sabia que a condessa não se interessava por aquele cargo, fato mais do perfeito para si, pois ele assumiria sozinho a administração daquela cidade.
                 Batista observou a patroa pegar o carro e sair.
                -- Será que ela foi comemorar por ter ganhado? – Maria se aproximou.
                Ambos observavam tudo da grande escadaria que dava acesso à mansão.
              -- Eu não votei nela. – Confessou a senhora. – Não acho que a menina seria uma boa escolha. 
                 O administrador circundou-lhe os ombros com o braço.
                 -- Fico a pensar o que acontecerá agora. – Suspirou. – Vitória Mattarazi precisa ser salvo de si mesma.
                   -- E quem fará isso, meu velho? Essa menina parece que não tem alma. Batista a abraçou.
                   -- Pobre poderosa condessa, pobre poderosa condessa...


                  Frederico continuava inconformado.
             Todos estavam na sala, menos Maria Clara que seguira para o quarto. O velho polı́tico gritava, enquanto Marcelo e Marcos se despediam, sabiam que naquele momento não podiam fazer nada, mas no dia seguinte, eles contatariam os advogados para anular o pleito.
               -- O senhor precisa se acalmar, meu pai, entenda que a condessa ganhou. – Felipe se intrometia. – Engraçado que o senhor só pensa em si e em nenhum momento se preocupou com a sua neta.
                   -- Eu estou lutando para ela assumir o lugar que é dela! – Esbravejava. – Não posso perder tempo com sentimentalismo...
                 Clarice se preparava para interceder, pois seu marido se levantou para enfrentar o pai, quando um empregado entrou esbaforido na sala.
                        -- Como ousa? – A mulher começava indignada.
                        -- Perdão, senhora, mas a condessa está aqui. – Falava e gesticulava nervoso.
                        -- Como? – Gritou O chefe da famı́lia. Ouviram alguns protestos, até Vitória entrar.
                  Não havia seguranças, os empregados que sobraram não tinham como deter aquela mulher.
                        -- Boa noite! – Mattarazi cumprimentou com um enorme e sarcástico sorriso.

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